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Servigo Social brasileiro nos anos 2000: cenétios, pelejas ¢ desafios 9, Democratizagao, politica econdmica e politica social determinagGes fundamentais pata o debate dos espagos conselhistas Maria Liicia Duriguetto" Rodrigo de Songa Filho? Introdugao Nosso objetivo é desenvolver uma anilise que no se} dia duas posturas tedricas e pratico-politicas comumente evidenciadas no entendimento dos espacos conselhistas: uma que dota estes espacos de potencialidades para a expansio € ou aprimoramento da democracia dada pelos e nos elementos enddgenos que estes espacos sao dota- dos (patticipagio paritéria, atribuigdes de delibesagio e fiscalizagio das politicas puiblicas setoriais); uma segunda que, a0 ater-s¢ as dificulda- des ¢ obstéculos enfrentados pelos mesmos, tende a imputar-lhes uma $40 construtos hegeménicos de interes- teriam ocupado a ovimentos sociais, campo das lutas contribuigao que si, ou seja, NAO a ja reduzi- Perspectiva negativa, de que ‘do capital conduzidos através do Estado € que — das lutas e das organizagées e dos m eXtra-in, a enfraquecendo ou inibindo, portanto, o Reece Nossa intengao é oferecer uma Pettit dos oad da criagdo dos conselhos no per si, 01 Se) 2 : lementos enddgenos de sua novidade politico-institucion: = Servigo Social da Universidade Fed ‘tal d la al de cae Soc UFR), Professor de Faculdade de a Hora. f 6m Servigo Social /UFRJ, Professor da Faculdade de Servis? Social da Universidade Joie de Fore, , 227 rlizabere Mota e Angela Amaral |Orgs.| ‘Ana Blizabete § na atuagio nas politicas sociais, mas 7 relagao do seu Construto com a expansio dos processos de — articulados as Organizacses ¢ movimentos que tepresentam os Interesses das classes subalternas no campo da sociedade civil e suas relages com as politicas sociais, Pa, tanto, € condigao sine qua non ‘entender os espagos conselhistas NO con. texto maior que os determina: a relacao dos conselhos com os oe sos de participagio, mobilizacio € organizacio das classes subaiternas eas orientacées politico-econémicas presentes no campo das pol Ticas sociais (espaco de intervencio conselhista). Com esta petspectiva nig caimos em posturas epistemoldgicas de conceber e entender a tealida- de social como uma colegao de partes, fragmentos ou “ordens institu. cionais”, cada uma das quais compreensivel em si mesma e suscetivel a constituir-se num objeto de reflexdo especifica, isolada do contexto no qual esta inserida, Relacionar os conselhos com n processos de demo- cratizagio, como o leitor vera nas paginas seguintes, obrigatoriamente “nos coloca na perspectiva da apreensio das categorias e determinagdes econémico-politicas que engendram e na qual se desenvolvem estes espagos, a saber: Estado e sociedade civil, democracia/democratizacio, politica econémica/politica social e projeto societario. — 1. Democratizagao e Direitos: Lutas sociais e Politicas Sociais Entendemos que, de forma geral, um processo de democrati- _zacho se efetiva a partir de processos de lutas sociais oriundos da diat- mica prdpria da sociedade civil, impactando, por um lado, a dinimica das relacdes sociais ie, por outro, 0 objetivo e a forma de intervenga0 estatal na sociedade. Somente a partir do entendimento desses proces Sos sociais e das relagdes sociais daf decorrentes € possivel ae der seus desdobramentos enquanto dindmica que pode vis, 0 os fortalecer a universalizagio € 0 aprofundamento de direitos, end componentes da expansao da emancipagao politica. sates Set Fille J 228 Maria Liicia Durige Servigo Social brasileito nos ano, ’s 2000: cenatios, Pelejas e desafios A emancipacao politica, enquanto Process; ; ireitos (civiss politicos e sociais) no ambito da ae Hi tealizagio de ato sepresenta um grande progresso; nao chega a = “ basguesa, “de yada emancipagao humana em geral, mas constitui 7 forma defini ( a emancipa¢ao humana dentro da ordem mundial ae definitiva (MARX, 2010: 41, grifo Rosso). Na formulacio pine até eat acto politica € a emancipacio humana possivel dentro da siden dk : capital. A hipotese de interpretacao aqui esbogada nos leva 20 ate mento de que a expansio da emancipacio politi eee a constru¢ao de uma sociedade Certamene Sar palavras, esta perspectiva nos leva a concepcio de que a sree politica enquanto uma das mediacdes para a construgio da emancipa- cio humana se expressa como espaco societal particular que pode ser objeto de interven¢ao, com possibilidade de provocar tensionamentos na ordem estabelecida. Se esta interpretacio parece plausivel do ponto de vista légico-dedutivo, a partir de uma leitura do texto marxiano, isto é insuficiente pata resolver a questio substantiva e efetiva: pode a expansio da emancipac4o politica contribuir concretamente com a cons- trucao de uma‘sociedade emancipada? Se sim, sua materialidade? Parece-nos que as tespostas As questdes Jevantadas encontram- ~se nas potencialidades das diferentes lutas € organizacdes das classes de direitos, o que impl- subalternas pela defesa, conquista € ampliagao 0 jais como instrumento de pee igni das politicas social 0 SS an aaa 4 dinimica da produgio ¢ em que termos ¢ qual a materializagao de direitos sociais em relacio oe ail c -dimensa' a leit _Teprodugao do capitalismo. Nesta dimensio, a partir 7 ca da economia politica, sugetimos ser ro fone es Central a ser considerada. Para refletir acerca ¢0 ee a icp - as i 30 zac4o em sua expressao relacionada 20s process se Pano ane bilizagio ¢ organizagio das classes subalternas € ism . desenvolvimento das politicas sociais no marco a 29 span ite a oe . 9.De emocratari, politica ecomimica «politi [ ‘Ana Elizabete Mota e Angela Amaral | Orgs. | necessario, em primeiro lugar, expressar as de: i termina 5 : . Ges d; gio acerca do Estado e da sociedade civil. 4 concep. 1.1 Estado e sociedade civil: determinacées fundamentai s O postulado de Hegel, segundo o qual a sociedade civil seria a esfera das relagdes econdmicas e dos interesses particularistas ¢ oEsta. do como a esfera da universaliza¢ao, constitui o ponto de partida para o desenvolvimento dos estudos de Marx acerca da natureza do Estado moderno e de sua relacao com a sociedade civil. Marx define a socie- dade civil, enquanto sociedade burguesa, como a esfera da produsio é da reproducao da vida material - ou como afirmara com Engels na Ideologia Alema: “a sociedade civil abrange todo o intercambio material dos individuos [...]. Abrange toda a vida comercial e industrial de uma dada fase” (MARX; ENGELS, 1984, p.53). Ou seja, soviedade avile es. trutura econémica sio, pata Marx, a mesma coisa, Para ele, € na sociedade civil que se fundamenta a natureza estatal, e nio o contrario, como ‘supunha Hegel. Ou seja, 0 Estado é um produto da sociedade civil expressa suas contradi¢es e as perpetua, € no como pensava Hegel, uma esfera independente, com racionalidade propria. Marx afirma que para Hegel o swjeito é 0 Estado e o predicado é a sociedade civil. S6 que na tealidade, demonstra o autor em sua Critica a Filosofia do Direito de Hegel, que isso ocorte de forma inversa (MARX, 2005, p. 32-3). Quer dizer: o Estado é produto, é consequéncia, é uma construgao de que s¢ vale uma dada sociedade para se organizar como tal. Como diz Engels, “o Estado, o regime politico, é 0 elemento subordinado, ¢ (-.) 4 rela des econémicas, € o elemento dominante” (MARX; ENGELS, 1975 p-111). Gramsci, partindo da concepgao marxiana da relago O° entre estrutura econémica e superestrutura, desenvolvera reflexoes a bre o fendmeno estatal enquanto “todo o complexo de atividades a _ticas e tedticas com 0 qual a classe dirigente nio s6 justifica © mae 10 existent Filbe Somes = ‘Maria Lica Dariqueto® Rodri@ ati seu dominio, mas consegue obter o con: : on 2000, p.331). Nesta conce; a $0 ativo dos Bovernados” a nogio de que ele é formado por “apne Estado esta implica: : ” (associagoes, Sindicatos, pattidos, —S Ptivados de hegemo. eae rofissionais, atividades culturais, meios on Socizis, organiza. educacional, patlamentos, igrejas etc) © comunicacio, sistema do Estado” (constituido pelas eae os “apuchos repress militar). Para Gramsci, os “aparelhos Ptivados pete e policial poem o que ele denomina de “sociedade civil ey ‘com das esferas sociais em que as classes organizam e defendem aa a resses, em que se confrontam projetos societirios, na qual as classes e suas fragdes lutam pata conservat ou conquistar a hegemonia, E uma das arenas de disputa hegemGnica travada por diferentes “aparelhos privados de hegemonia”, vinculados a diferentes projetos de socieda- de, tendo a questo de classe como elemento central, na medida em que a sociedade civil expressa as contradigdes existentes na estrutura econémica da sociedade. A outra esfera que compée a superestrutura ), onde se encontram 0s apa" éa “sociedade politica” (Estado-coer¢ao) : : 1s quais se exerce “uma domi- relhos repressivos do Estado pot meio do: id n . Jas instituigdes burocraticas © nacio fundada na coer¢a0”, controlada pel ; ’ de civil e sociedade politica formam_ policial-militares. Portanto, socieda dizer que Estado 5 r-se-ia dizer qu 0 “Estado integral”, “(.) neste sentido, pe oni revestida de = sociedade politica + sociedade civil, ist 6 _Coer¢io” (GRAMSCI, 2000, a de Estado & Poulantzas parte da conceps20 ociedade politica & Po tindo novas determinag6es 4 esfesa esenvolviment a exa- sequéncia, 4 definigao dos espagos PA mo “uma seagios entre hegeménica, O autor define stad ona reed meer tamente como a condensag0 oe -“ classes e fragdes de classes tal a especifica no seio do Estade 231 m Gramsci confe- con- isputa oy os 1985, p14 Est DS Be te te Ana Elizabete Mota ¢ Angela Amaral | Orgs. | “condensagao material de forcas”, ou Seja, 0 Estado, « ganiza 0 interesse politico a longo Prazo do bloco no : "ePresenta, os varias fragdes de classe butguesas [--] constitui = OMPosto ge politica das classes dominantes” (POULANTZ, AS one 2 unidade A concepgao poulantziana advém do entendimen Ms) quanto “condensagao material de uma relacio de fotcas me ue, en. fragdes de classe” o Estado, ou melhor, a politica de Sra considerada como o resultante das contradicdes de classe pt = propria estrutura do Estado” (POULANTZAS, 1985, p. 152) Ee tras palavras, a politica de classe é atravessada e Constituida pelas = tradigdes existentes entre as frages da classe dominante ¢ entre esta ea classe dominada. Como nos esclarece 0 autor, o Estado expressa tanto a relagao entre as fragGes das classes dominantes quanto entre estas e as classes dominadas. Portanto, a politica de Estado nio apresenta apenas os interesses dos dominantes, ela incorpora, também, interesses dos dominados até o limite da manutengao da dominagio, Neste sentido, o Estado, em sentido estrito, passa a set considerado, também, como um “campo estratégico” para a disputa hegeménica. A partir dessas concepgdes de Estado e sociedade civil, desenvolveremos a seguir nossa perspectiva sobre o processo de democratizacio. cettos 1.2 Capitalismo e Democracia A democracia moderna no pode ser compreendida sem 48 ideias da tradigio democritico-socialista e das lutas da classe trabalha- dora (LOSURDO, 1992, p. 3). Os direitos politicos e sociais foram sen- do progressivamente impostos aos regimes liberais e 4 classe burgues* pela luta dos trabalhadores (pela extensio do sufragio universal, pela fixacao legal da jornada de trabalho, pela criacio de sindicatos € pela formacio de partidos politicos de massa). A incorporagio desses dite tos — que resultam de demandas de naturexa democrética - & que dao forma # universo dos regimes liberal-democraticos hoje existentes. Para Boro? 232 Maria Leia Dariqutto Rodrig Some? ~ ~— Servigo Social bra: silei0 nos a 203 2000: cen itios, Pelejas © desafiog (2007, P- 29) a maneira mais precisa de denomi . we = linar as sgealmente existentes” € como Capitalismos democrati \craticos”, me aponta Netto (1990, p. 72) © sistema Capitalist, pode conviver com distintos regimes Politicos, de: a : » des com a estrutura econém: € S democracias hoje + Confor. ‘™_produzido e pativels a2) : nica € Os interesses Sens a democracia € aceita € promovida pelos grupos hiegenaae oie “que permita a manutencao dos interesses do capital, le, in ae estruturas dominantes. Dessa forma, a ordem capitalista a ak eu ‘do regimes politicos diversos, compativeis com sua diodes i estratégia da classe hegemGnica a partir das necessidades evontmicas e das lutas de classes dos diferentes periodos. Isso exige ao sistema capitalista € a (fracdo de) classe hegeménica, controlar e limitar o de- senvolvimento ilimitado da democracia do protagonismo popular nas _decisées sistémicas. Ou seja, conforme Netto, “a estrutura econdmica que lhes é prépria [aos regimes politicos democraticos] pde 4 democra- cia um dimite absolute” (NETTO, 1990, p. 72) que imp: a igualdade formal em ig a passem a controlar os meios de producio e as decisdes sistémicas. As- sim, continua Netto: “isto significa que quando a democracia politica se torna obstdculo para a manutengio (ou reconversio) do sistema, 08 seus beneficidrios [a fracao de classe hegemdénica] articulam respostas | testauradoras e/ou reacionarias” (NETTO, 1990, P. 78). : Esse fato, com inimeros exemplos hist6ricos, mostra uma re- lagio claramente instrumental da. democracia em ‘Como vimos, ora ela é aceita e promovida (form desde que permita a reprodugio das relagoes ba Pliada de capital, a manuten¢a0 da hegemonia ¢ sg Ae da, ora é combatida e substituida pela auocraat are m0 (0 chamado “populismo”), gas ee ee direitos sociais wae Ordem. A ofensiva neoliberal contra a ampliagt? politica tituidos nos Estados de Bem-Estar € relagio 20 capitalismo. rmal € Jimitadamente) a.acumulacao am- ropriedade paivar a) ou bongparkis to ameaga 2 tambem uma respos 233 ans phate dos espares 9. Demecratizagao, politica econémica ¢ politica (.-] Paré ® . ‘Ana Elizabete Mota e Angela Amaral | Orgs. | restritiva 4 ampliagdo da democracia. E essa ofensiva “que permis neoliberalismo converter-se em concepgio ideal do pensamento iu ap -democratico contemporaneo” (NETTO, 1995, p. 194-1 95), Anti. 1.2.1 Democracia formal-institucional e democracia substanting Na tradicao marxista opera-se oma clara diferenciacio de dois niveis da democracia: a democracia formal institucional (ou democracig método) a democracia substantiva (ou democracia condigao social), A democracia 1 formal. institucional remete 20 conjunto de mecanismos institucionais que per- mitem a liberdade e€ os direitos civis, politicos e sociais. Sio nos pro- cessos da “democracia-método” que se torna possivel a organizacio politico-social das classes e grupos sociais interessados na superacio da estrutura politica capitalista. A democracia substantiva amplia, para além de instituigGes formais, a democracia, visando um ordenamento so- cietario que consolida a socializardo do poder politico e da riqueza socialnenie produzida, Para Netto (1990, p. 95), “a democracia-método, possivel no marco do sistema capitalista, surge como um pressuposto que viabiliza a otganizacao do proletatiado para a tomada do poder, a partir do qual a classe operaria pode transformar a estrutura econémica de forma a criar as condigGes da democracia-condicio social”. A nogio de hegemonia (que para as classes subalternas seria uma contra-hegemonia) tal como a formulara o marxista italiano An- tonio Gramsci assume relevancia central nas estratégia e thticas da de- mocratizacao. O conceito se tefere tanto ao processo em que uma classe torna-se dirigente, quanto 4 direcao que uma classe no poder Can sobre 0 conjunto da sociedade. A conquista progressiva de uma side politico-ideoligica ~ de uma diregdo de classe ~ requet a articulacio dos in tesses e necessidades das classes subalternas e de suas onganizases || Superacao do seu corporativismo, na dire¢ao da formacio da ee da classe em si & classe para si. E com este fio analitico que apreenderem " as potencialidades das lutas sociais no campo das politicas cae Sone Maria Licia DuriguettosBodre? de Serviso Social brasileiro nos anos 2000: ce ios, pelejas e desafios ico Social brasilei cena ! Cenatios, pelejas e desatic e 13 Capitalismo, politica econémica e politica so ial ci As politicas sociais surgem a partir da segund: aa 4 qusttial (Ultimo quartel do século XIX), como conse ie revolugio in- aplzacio operada pelo Estado para responder faremanrohe capitalismo. Esta fase caractetiza-se pela tendéncia a oe do dos mercados [ cartéis, oligopolios, trustes - que passam a = _ gales vgs dos capitalistas para forcarem a clevagio de pregos e reusirem os processos de concorréncia, visando a producio de superlucros. Esse arranjo econdmico-produtivo produziu uma nova dinamica as crises estruturais do capitalismo, geradas pela combinagio de desemprego, devido 4 economia de trabalho vivo, alta producio de bens, como con- sequéncia da introdugao de novas tecnologias, e queda da taxa média de lucro. Esses processos transcorreram num quadro politico em que a classe trabalhadora consolidou seu patamar de organizagao, desen- cadeando lutas sociais seja com o objetivo de superar os limites do capital, seja como perspectiva de alcancar melhoria das condicées de vida dos trabalhadores dentro da ordem, Em relagio 4 esse aspecto, Mandel (1982, p. 338) destaca a ampliacio da legislacio social, vin: ;culando-a, por um lado, 4 necessidade de salvaguardar a dominacio | do capital frente a0 crescimento da “tuta de classe do proletariado” ¢,. | por outro, visando garantir a reprodugao geral capitalista, assegurando | a teproducio fisica da forga de trabalho. Dessa forma, no marco do ‘capitalismo monopolista, as politicas sociais, a partir de seu objetivo imediato de garantir a reprodugio da’ forca de trabalho, atua em deter- minadas expresses da “questo social” como forma de construir uma base ampla de legitimidade e consenso social, através do srendimene “auntieis de denrandas e necessidades da classe eabalhadors. 82 amente relacionadas as ‘anto, as politicas soci -se intrinsec: ° icas sociais encontram-s' : 7 : io da logica maonopélica de Politicas econdmicas e estas visam 4 realiza Maximizacio dos lucros. 235 9D, conselbistas emsatizrin, police eon «poi [n] pare bee St °P ‘Ana Blizabete Mota e Angela Amaral | Orgs.| ‘A mediagio objetiva que estabelece a relagao entre g da politica econmica e a configuracto da politica social é rea através do fimnde piblice. O cenério de expansio das politicas sociaic a armyina, asim, “uma redistribuicio consideravel do valor soeaig criado em favor do orcamento ptiblico, que tinha de absorver uma = centagem cada vez maior de rendimentos sociais a fim de pees uma base material adequada 4 escala ampliada do Estado do capital monopolista” (MANDEL, 1982, p. 339). O processo de expansio do fundo publico getou, na interpretagio de Oliveira (1998), a constitui- gio de uma esfera publica em torno do or¢amento do Estado, produ- zindo mais um espaco onde se realiza a luta de classes. As disputas tan- to no campo da arrecadaco quanto na definigao dos gastos piblicos expressam as Jutas entre as classes e fragdes de classes na sociedade, Obviamente, isténcia dessas lutas nao retira o carater objetivo da necessidade estrutural do fundo publico_para a reproducao ampliada do capital no quadro do capitalismo monopolist. Contudo, as acées das classes, neste processo, podem produzir, em determinadas conjun- turas, uma retracio da exploragao. Neste cenatio, “a fracao do traba- lho nao pago, fonte da mais-valia, se reduz socialmente” (OLIVEIRA, 1998, p.26).? Em decorréncia, 0 aspecto mais imediato que expressa 0 limite e a possibilidade da intervencao junto 4 politica social diz res- peito 4 sua relacio com a politica econdmica. Portanto, uma politica Onentacig > Entendemos que se encontra, nesta possibilidade, a mediagio objetiva entre a emancipagio politica e a emancipagio humana, indicada anteriormente A hipdtese da mediagio objetiva entre a emancipagio politica e a emancipagio humana se manifestar na dinimica do fundo aan “ tema de estudo e pesquisa cootdenado pelo Prof. Rodrigo de Souza Filho, apa suet = Pesquisa Servico Social, Movimentos Sociais e Politicas Publicas da Iasi 2011 es shad € encontra-se em fase de desenvolvimento. A anise de - ee com a hipétese mencionada na medida em que o autor afirrma qué teeeedecmte morse chocar com a desigualdade fundante e necessaria 4 acumu- ee pets o le entre 0 capitalista ¢ o trabalhador assalariado ¢, mais que isso, Gent Ne | iqueza entre o fundo de acumulagio privada e a riqueza publica Politicas sociais ¢ as estruturas garantidoras de direitos sociais”. 236 Maria Licia DuriguettosRadrigo de Sou Filbo Servigo Social brasil Icio NOs anos 2000: cenisio, peleas ed PS, Pelejas e desafios ccondmica que reforca as desigualdades socia ise a i most enfrentamento determina a impossibi een ilidade de construcio de Ss das classes subalternas, que sejam orientadas para nao viabilizario um enfren- r fren- : to mais amplo das expresses da “questo social”, o que det ' er mina, pot sua vez, a impossibilidade de debitarmos as politicas sociais os condicionantes Necessatios a Teversio do quadrto de desigualdade e pauperismo. Ou seja, uma politica social voltada para o atendimento das necessidades das classes subalternas exige uma politica econémi- ca que privilegie as demandas pela universalizacio e aprofundamento de direitos, pretende-se que seu desenvolvimento obtenha éxitos na reducio da desigualdade. De outta forma, a politica social enfrentara entraves estruturais vinculados 4 politica econémica, nao viabilizando a expansio de direitos sociais, apenas agindo compensatoriamente, inde- pendentemente de sua configuracio institucional. Essas caracteristicas mostram as afticulagGes necessdrias que devem existir entre politica social e politica econémica, no marco do capitalismo, para produzir ampliagao e universalizagio de direitos. E neste entendimento da poli- tica social como disputa do fundo publico que est4 uma das mediagdes ama politica social voltada para os interesse; Nesses termos, as politicas sociais, por mais qefetivacao de objetivos democriticos' entre emancipacio politica e humana e, por conseguinte, da contribui- Glo das lutas no espaco da politica social para 0 proceso de democra- wag. has qualificando como democritica a politica social de “padsio eee ae De eae rs pao utes de aces aamplagho © ee Por parte do Estado, da protecio e da promogio social através da org Sociais de cardter publico. sistas 23 9 Demoeratizao, politica condmica ¢ politica [..] para 0 debate anne ‘Ana Elizabete Mota e Angela Amaral | Orgs.| 2, Politicas sociais e os espagos conselhistas no Brasil 2.1 As politicas sociais no Brasil pés anos 1990 No Brasil, os principios da Carta de 1988 relativos a ¢ um sistema de protegio social piblica universalistae da ctiagio ae pagos institucionais democriticos no ambito das politicas Ptiblicas ge. toriais deram-se, em concomitancia, ao contexto de crise ede Teatranjo mundial do capitalismo a partir dos finais da década de 70: a Passagem para um novo padrio de acumulagio @ chamada acumulacio flexivel) e para um novo regime de regulacao social (as politicas estatais devetiam seguir as politicas de ajuste neoliberais impostas pelos organismos in- ternacionais). A nova agenda politica nacional inaugurada com a Carta de 1988 nao poderia ser implementada - dada a nossa condicio de pais de capitalismo periférico e dependente ~ face a um pensamento tini- zo mundial que enunciava uma politica de ajuste dominada por temas como refluxo do Estado e primazia do mercado, desregulamentagio € pri izagio, reducio dos fundos piublicos para o financiamento das politicas sociais - e a consequente substituicao da universalidade pelo binémio focalizacio/assistencializagao - enfim, uma agenda que s6 podia ser conduzida contra as conquistas de 1988. A politica econdmica dos dois governos de Cardoso se carac- terizou pela dominancia ortodoxo-monetarista, supervalorizando a es- tabilizagio e 0 controle inflacionario e a reducio do papel do Estado na area social (FIORI, 1995; SOARES, 2001). Os Governos do Partido dos Trabalhadores (PT) de Lula da Silva, em 2003-2006 e 2007-2010, € Dilma Rousseff, em 2011 até o momento, mantiveram, no geral, a Politica econémica e social do Governo Cardoso*. Em relacio aos governos do PT, cabe de forma breve, destacat ele Sane : : Mentos que mostram a continuidade da perspectiva neoli- tiacdo de alguns oe Goncalves e Filgueiras (200 (2012, 2013, 20135): Car ann eoetck ¢ Filgueiras (2007); Fgueiras e al, 2010; Gonealves holo (2010), 238 Maria Licia Duriguetto»Rodrigo de Sowa Filo Setvico Social brasilei FO NOs anos 2000: cenit 19S, pelejas ¢ desafios peral como eixo condutor das intervencdes econ gatado 20 longo do periodo 2003-2013, apesar da manne cis do ras em diferentes indicadores sociais (BRASIL, 2013) see” jnvelectuais vinculados a0 PT tém difu "deg BOvetmO € 0s indido a idei; ie ia de que ocor; avangos sociais porque o modelo econdmico-social exon des ae oe er neoli- beral, passando para uma perspectiva “pés-neoliberal” de cunho o desenvolvimentista” (SADER, 2013). No entanto, a questio eee set analisada refere-se a como se explicam as melhoras de tais indicados res. Em outras palavras, os avancos sociais estio vinculados, realmente, / a uma alteracio estrutural do modelo econdmico e social beacienoren sio avangos decorrentes da conjuntura mundial de crescimento eco nomico que favoreceu a economia brasileira e aos ajustes realizados na | “ gestio de politicas e programas sociais? =~ Carcanholo (2010, p. 115) demonstra que os governos Lula da Silva mantiveram os “dois pilares da estratégia neoliberal do Consenso de Washington, isto é, a estabilizago macroeconémica como precon- digo e as reformas pré-mercado para a retomada dos investimentos privados”, Além disso, a andlise do autor mostra a manutengio da po- litica econdmica ortodoxa através das seguintes medidas: manuten¢ao dos megassuperdvits primérios; manutengio do regime de metas inflacio- nérias; politica cambial flutuante; manutengio da politica comercial® “Goncalves (2012, p.7) organizaré sua anilise a partir do levantamento de dados empiricos que evidenciam oito dimensdes: estrutura produtiva; padrio de comércio; progresso tecnicos origem de propriedade; competitividade internacional; vulnerabilidade externa; concentracio de capital; ¢ dinimica financeira, Em relacio a estrutura produtiva ¢ 20 padrio de comércioy © economista mostra 0 processo de reprimarizagio de nossa economia implemenad 2 passe da “desindustrializagio”e “dessubstituigio de importacio” Ceeaes pela sae a comercial. Os dados relativos ao progtesso técnico explicitam 2 consi eee dkncia tecnolégica frente aos paises centrais. Os dados empiricos desvelaia ® ANT = 2atio da propriedade no Brasil; a perda de compettividade internacOWs ® Tt Vulnerablidade externa estrutural, a partir do crescimento do passiv9 aes es de capital e a politica econdmica hegemonizada pelo setor financsire, ee *Presentados pelo autor indicam a nao alteracio do modelo de desenvo! “ocial implementados pelos governos do PT. 239 : 5s conselbistas Democratiacio, politica ecomimicae politica [..] para o debate dos espagos ‘Ana Flizabete Mota ¢ Angels Amaral | Orgs.| Relacionado a est das contas externas OC! evi ae vorivel 4 economia brasicia, fandada nos seguintesfatores: ay no ciclo de liquidez internacional, que produziu a reducio das tayse de juros € viabilizou um crescimento da economia ay a Ultima medida, o economista analisa que am, lh i i e orren devido a uma conjuntura econdmies mun. internacionais 4 ; dial; forte crescimento da economia chinesa, elevando a ae de produtos brasileiros (commodities); € crescimento do preco das com. te (CARCANHOLO, 2010, p. 122). Para Carcanholo, neniuma destas razdes deve-se a acao do governo brasileiro e sim a um “cenftio externo extremamente favoravel, que ptopiciou o forte crescimento das exportagdes, 4 reversio no défidt da balanga comercial € de transa- goes correntes € O acumulo de reservas internacionais que permitiram, dentre outras coisas, © pagamento antecipado de um montante da di- vida com organismos internacionais” (CARCANHOLO, 2010, p. 122). Asituagio econémica mundial potencializou o crescimento econdémico nacional, favorecendo, assim, 0 afrouxamento da politica monetaria, produzindo a redugao dos jutos, disponibilizando, desta forma, mais recursos pata investimentos e programas sociais, principalmente, de recuperacao do salario minimo e de transferéncia de renda, voltado para o combate 4 pobreza (FILGUEIRAS ¢f al, 2010). Portanto, as causas que ptoduziram a melhora dos indicadores sociais no estio relacionadas 4 alteracio do modelo econémico € social, mas sim a uma conjuntura externa favordvel 4 economia brasileira. Na tea social, a permanéncia do modelo neoliberal esta na manutengio da légica que privilegia politicas sociais focalizadas de transferéncia de renda em detrimento da expansao € qualificacao das politicas o qualidade e universais. Os dados do orgamento publico =. Aaa previdéncia social e assisténcia social, assim do modelo vigente. Os panacea explicitam a niio alteraio Pacto no combate as desigualdades¢ — a aoa S = les € 4 pobreza, como satide, educa¢ao, 240 Maria Licia Driquesto™ Rodhigo de Sou Fill Servigo Social brasileiro nos anos 2000: ceni : cenatios, pel 08, pelejas e desafios jo € saneamento, perdem participacg an suck: FILGUEIRAS, "2007 930, — No orcgamento soci a a assistencializagio das polticas de pro fanha centralidade a a por Mota (1995) no inicio da década de Gage esbo- a aati (MOT, 2008). Esse proceso se expen a ee iad expansio da politica de assisténcia social em Seas oe ocessO de restrigao € orientacio privatizante das politicas de sade, previdéncia e educacio. / : Os quadros abaixo expressam com preciséo a manutengio da tendéncia @ assistencializacao das politica sociais. O Quadro I mostra aqueda das despesas com as fungdes da area social (assisténcia social, saude, previdéncia social e educag4o) em relacio a despesa total anual eo crescimento das despesas com o pagamento de juros, amortizagio etefinanciamento da divida publica. Por outro lado, o Quadro II ex- plicita que o crescimento nominal das despesas de cada func’o da area social, no periodo 2011-2013, € menor do que o crescimento total das despesas. Além disso, podemos observar que o crescimento das despe- sas com 4 fungao assisténcia social € maior que 0 crescimento das de- mais fungdes da Area social. Outro dado relevante refere-se ao fato de ocrescimento das despesas com pagamento dos juros, refinanciamento eamortizagao da divida publica, ser 0 maior de todos os crescimentos indicados. Ou seja, permanece a ampliaga0 do gasto para o pagamento dos juros ¢ servigos da divida publica com reducio dos gastos da area social, garantindo a expansao dos gastos com assisténcia social. —_ Em relagio ao PIB, entre 2008 e 2009 a diva piblica chegou a samen ASI91T bes marendo um erescimento em 5,62 p.p do PIB, que saltou de 37.54%0 ch denembro de P242,96% no final de 2009, A previdencia coacou com wma vrai ees 9.3%, ere os anos de 2008 ¢ 2009, respectvamente. Jaa poiea de saei0NE sc oon Por uma evolucio no oxgamento da Unio 20 longo do periodo 2005-2009, rn *olugio de 15,8 a 33,3 bilhdes de reais, correspondendo a uma ‘evolugio de 0,7% do 5 para 1,1% em 2009 (TCU, 2010). pages consists 241 3.De etna, poiticaeconimicae pot .] para 0 debate ds la Amaral [Orgs | suyabere Mota ¢ Angela Amaral | Orgs Ana Elizabere \ 2 Ore: Ja Uniio. Percentual das Despesas po, Quadro I: Orcgamento d 1 Por funcag an relagio a despe “Fungées VAno 2 20128 aye ca 265 ~ 3,96 Previdéncia Social 21,47 isan Educagio 349 a7 Total das despesas na Area social 31,99 33,74 24,22 Jaros / Amortizacao / Refinanciamento 42,25 435 45,09 Os dados relaavos a 2011 ¢ 2012 foram levantados com base nas informagoes sobre despesas liquide das, Os dados de 2013 tiveram como referéncia 0 orgamento autorizado. Fonte: SIGA Brasil ~ Senado Federal hutp://www8a.senadagov.br/dwweb /abreloc html?locld=2195976 acessado em 30/03/2013, Eborasio propria, Quadro HI: Orcamento da Unido. Crescimento nominal das despesas por fungées entre 2011-2013. Fungées \ Ano 2011* 2013+ % do (valores nominais) (valores nominais) crescimento Assisténcia Social 45.570.866.178,00 __61.777.273.509,00 __35,6% Sade 72.241.422.575,00 __92,296.122.428,00 27,8% Previdéncia Social 360.039.850.624,00 _ 429.532.519.508,00_ 19,3% Educagio 58.453.900.963,00 _73.797.302.949,00 __26,3% Jutos/Amortizacio/ Refinement 708.461.670.828,00 _1.050.127.541.189,00 _48,2% e5 > = foal 1.676.831.326.892,00 _2.329.134,054.650,00 389% ean fos #2011 foram levantados com base aas informacdes sobre despesas liquidadas. Os e/a semdo gente © orsamento autorizado. Fonte: SIGA Brasil ~ Senado Federal 0 Propra */abreDoc htmi?docld=2195976 acessado em 30/03/2013. Elabora- Podemos Concluir, Salves 2012, p24) qe wn CoFOborando com a afirmagio de Gon- Boverno ), de tendéncia, = que dent er PT] nio se eng Te 8 méritos ou pontos fortes [dos ‘reversio de ‘Ontram § = sou M ‘grandes transformagées’, Politicas desenvolvimentistas” 242 Mar 74 I dicta Duriguettos Roding dp 65,4 Filho Service Sonal brewerre pet ann eee (0 que tratamos nos itens anteriores ~ dete oes da estera CAs SOX rocesso de democratizacio ¢ das cat 40 P Go € das px s- confi ey perspectiva teorico-metodologica agar adotada para uma apre peccio dos espacos conselhistas q ¢ possa ev1 casio € PPOs aqucias goas posturas que esbogamos na introdugio deste artigo: a ve g nf dos co tado (€, co), em Felaga0 a0 processo de implementagao de tais polincas E a0 ansta sta) ¢a fatalista (determinista). Ao contrano da primeira posta jo poriemos estabelecer uma relacio diteta entre o funcionamento aselhos € a garantia de direitos, nem subestimar 0 papel do F's portanto, da politica econmica, da disputa pelo fundo publi enuririo da segunda postura, nio podemos desconsiierar os espasos ceaselhistas para o fortalecimento do processo de democratiracio no Brasil Ena direcio de contnbuir com esta apreensio dos conselhos gue se orienta 0 contesido das linhas que se seguer. gdes € problematizasdes Como exphicitado, a partir da década de 1990 temos uma con- 2.2 Conselhos: natureza, atrib' jentura antagonica 4 implementacio do projeto demoeritico de const tuigio de politicas sociais publicas ¢ uniwersass, F no contexto daquclas macro-determinagdes que s40 enunciados € crados 0» espagos Conse: thstas no campo das politicas sociais na realudade brasileira. A tuncio- naldade destes espacos, sua natureza, atnbuigGes € ay senvolveram ¢ se desenvolvem nos marcos das imposigdes economicas ¢ polticas dessa agenda, Os Conselhos gestores de polincas publicas iuinia entre Estado € jo politica se de setoriais sio espagos de composigao numenca par iS S sociedade civil, de natureza deliberanva, com competéncia le; Jizagio da sua execugio.* > gal para Seat osccumuacae de politicas € na fiscal 0 —— sio obngatonos por lei federal em diversas P s weg, asi cmanca ¢ adolescente, asssténca socul ¢ trabalho Também sio crados con Sete Coe Reena plane estadual quanto municipal em qe s€

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