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Cristiano Caves De Farias € NeLson ROSENVALD - Tutela monitéria e ago monitéria. Lei n. 9.079-95. 2. ed. Sio Paulo: RT, 2001 TARTUCE, Flavio. Direito civil - Direito das obrigagdes e responsabilidade civil. Sio Paulo: Método, \, ed, 2006. TEPEDINO, Gustavo; BARBOZA, Heloisa Helena; Moraes, Maria Interpretado conforme a Constituigéo da Reptiblica, Rio de Jane 1a Bodin de, et alii, Cédigo Civgy Renovar, 2004. ‘THEODORO JUNIOR, Humberto. Tutela especifica das obrigagdes de fazer endo fazer. Revista de Direity Civil ¢ Processual Civil. Porto Alegre: Sintese, n° 15, jan.-fev./2002. VELOSO, ZENO. Invalidade do negécio juridico. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. VIANA, Marco Aurélio. Curso de direito civil — direito das obrigagdes. Rio de Janeiro: Forense, 2008. WALD, Amoldo. Curso de direito civil brasileiro — obrigagdes e contratos, 13. ed. Sao Paulo: Revista dog Tribunais, 1998, WAMBIER, Luiz Rodrigues e WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Anotagdes sobre a efetividade do proces. so. Revista Juridica. Porto Alegre: Notadez, n° 324 - Outubro/2004. 230 Carituto TI MOobALIDADES DE OsriGAcoss IT — CLASSIFICACAO QUANTO AOS ELEMENTOS Sumério: 1, Obrigagdes Alternativas. 1.1. Nogdes Preliminares. 1.2, Concentragiio, 1.3. A obrigagio Altemativa como Processo. 1.4. lmpossibilidade das Prestagdes. 2. Obrigagdes Facultativas. 3, Obrigagdes Cumulativas. 4. Obrigagbes Fra- arias (Conjuntas). 5. Obrigagdes Divisiveis e Indivisiveis. 5.1. Introdugao. 5.2. Nogdes Gerais sobre a Indivisibilidade. 53.A Indivisibilidade e as Modalidades de Obrigagdes. 5.4, Efeitos da Indivisibilidade das Obrigagdes. 6. ObrigagSes Solidérias. 6.1. Noges Gerais. 6.2. Disting&es entre a Solidariedade e a Indivisibilidade. 6.3. Solidariedade Ativa. 6.4, Solidariedade Passiva, 6.4.1. Nodes Gerais. 6.4.2. Remiss2o e Reniincia i Solidariedade. 6.4.3. A Expansto da Solidarie- dade Passiva na Reparagdo de Danos Injustos. 6.4.4, A Solidariedade Passiva e o Débito Alimentar, 6.4.5. Solidariedade Cambiria, 6.4.6. A Solidariedade Passiva e o Chamamento ao Processo. 7. Referéncias ~ Modalidades de Obrigagdes I. “No sertdo da minha terra: Fazenda o camarailr que ao chido se dew, fez a obrigagao tom forga, parece até que mdo aguilo ali é seu.” (Miron Nascimento) 1, OBRIGACOES ALTERNATIVAS Dois caninhos, Uma chave Umvestranho Nene porta errada njgtie pensei que estava Aum passo do amor (ois Caminhos - Babao Novo). 1.1. Nogdes preliminares Arelagdo obrigacional podéra abranger um tinico objeto ou uma pluralidade deles. A mais singela das classificagdes quanto a presenga dos elementos obrigacionais concerne as obrigagSes simples. Sio assim nomeadas, pois ostentam apenas um credor, um devedor e uma prestacdio. Uma obrigagiio minimalista por esséncia, categoria das obrigagées plurais ou compostas (coletivas ou miiltiplas) é objetiva- mente formada pelas obrigagdes cumulativas, facultativas e alternativas e subjetivamente composta pelas obrigagées fraciondrias, solidarias e indivisiveis. Diferenciam-se das obrigagées simples, munidas de apenas uma prestagdo, um sujeito ativo e um passive. No estudo das obrigages compostas objetivas a énfase reside na multiplicidade de objetos. As obrigagGes cumulativas (conjuntivas) apresentam mais de uma prestagao, vinculando-se o devedor a presta-las em conjunto, em fungao de um tnico titulo e fato juridico. pe Cristiano Chaves o€ Fantas © Neison RostnvaL Porém, a particularidade das obrigagdes alternativas reside no fato de que, apesar da pluralidade de prestagdes possiveis e distintas, estas se excluem no pressuposto de que apenas uma delas deveré ser satisfeita. Na classica lig&io de CLovis BEVILAQUA, “Siig duas prestagdes distintas, independentes, das quais uma tem de ser cumprida, ficando q escolha ao arbitrio do devedor, ou, anormalmente do credor”.! O devedor se liberta da obrigagdo com o cumprimento de apenas uma das prestagées. Por isto € facil identificar a obrigacao alternativa pela conjungdo disjuntiva ov. Exemplificando, A pagar a divida perante B, mediante a entrega de R$200.000,00 ou de um apartamento nesse valor. Enfim, 0 devedor exonera-se do débito, quando oferece uma das prestagées. Em decorréncia da autonomia das prestag6es, veda o § 1° do art. 252 do Cédigo Civil que o credor seja compelido a receber parceladamente a prestagao devida integralmente, Assim, nao pode ser imposto ao credor receber parte de uma prestagao e outra parte de uma outra prestagdo, fragmentando o adimplemento obrigacional. Prevalece, aqui, a identidade fisica e imaterial das prestac6es. Ilustrativamente, as seguradoras cumprem a sua obrigagéio quando entregam ao segurado, em-substitui¢ao a um automével furtado, outro da mesma espécie ou o valor equivalénte, mas ndo podem obrigd-lo a receber um carro mais simples do que o que estava'segurado, complementado o valor em dinheiro? Flavio Tartuce bem lembra que.a previsdio esta em total sintonia com as regras dos artigos 313 e 314 do Cédigo Civil, pois 0 erédcr niio pode receber a'ptestagaio de forma fragmentada, 0 que-atentaria contra o principio da identidade fisica ¢ material das pres- tagdes na obrigagdo alternativa.> Definir a naturezajuridica.da obrigago alternativa nao é uma tarefa singela. Afinal, como preceitua-GiseLa SAMPAIO DA Cruz,)“é a concentragao que‘vai definir qual é a natureza da,prestagdo a ser cumprida; Com.excegdo do'caso,em que todas as prestagdes postas como alternativas tém idéntica.natureza, ndo ¢ possivel saber, até o momento em que se dé a concentrago da obrigagao altetnativa, se a prestacdo a ser cumprida consiste em um dar ou um fazer, se é divisivel ou indivisivel, especifica ou genérica, envolvendo, assim, esta espécie de obrigacao uma-grande variedade de hipdteses”.* De fato, as varias prestacdes se apresentam de maniira disjuntiva e podem consistir em coisas, fatos ou abstengdes. Ou seja, nada impede que uma prestagdio de dar concorra com uma de fazer, ou mesmo com um nilo-fazer. Alids, as obrigagSes alternativas podem mesmo compre- ender trés ou mais prestagdes. Assim, assiste razio a WASHINGTON DE BARRos MONTEIRO, quando adverte que estas obrigagdes demonstram dupla vantagem: “aumentam, por parte 1. In Direito das Obrigagdes, cit, p. 86 2, Exemplo dado por Hamid Charaf Bdine Jr. Cédigo Civil Comentado, PELUSO, César (coord), cit, p. 204. 3. Contudo, o autor assevera que “essa regra nio se aplica ao contrato estimatério, pois € da propria natureza desse negécio a possibilidade de cumprimento em partes da obrigagdo, ou seja, 0 consignatirio pode pagar parte do prego de estima e devolver parte das coisas consignadas”. In Direito Civil, v. 2 ~ Direito das Obrigagbes © Responsabilidade Civil, cit, p. 93. 4, CRUZ, Gisela Sampaio da, cf. Obrigagdes alternativas e com faculdade alternativa. Obrigagdes de meio ¢ de resultado, In Obrigagdes ~ Estudos na Perspectiva Civil-Constitucional, TEPEDINO, Gustavo (coord.), cit, p. 150. 2B2 Mopauoanes De OsnicacO4s Il — CLASSIFICAGAO QUANTO AOS ELEMENTOS do devedor, as perspectivas de cumprimento e diminuem os riscos a que os contratantes se acham expostos”.$ Se na obrigagao alternativa varias coisas esto submetidas ao vinculo obrigacional, porém sé uma delas serd objeto de pagamento, indaga-se: Como ¢ possivel harmonizar aideia de um debito de varios objetos, dentre os quais apenas um sera pago? Serra Lo- PES resume 0 ponto de vista majoritario na doutrina, consistente no carater unitério das obrigagées alternativas. Nao obstante a pactuagdo de mais de uma prestagdo, singular- mente determinadas, siio elas devidas disjuntivamente, quer dizer, nao sao efetivamente devidas, nem devem todas ser dadas ou exigidas, sendo suficiente 0 pagamento de uma s6 coisa para que a obrigagiio seja integralmente extinta.° Enfim, apesar do objeto plural temporariamente indeterminado, o devedor deve uma ou outra prestagaio ¢ no ambas as prestagdes ou nenhuma das prestagées. Desta forma conseguimos destacar qualquer aproximagao entre a obrigagao al- ternativa e a teoria das condigdes. Aquela é uma obrigagao cuja eficacia nao é condi- cionada ou subordinada a qualquer evento futuro, operando efeitos imediatos, com a peculiaridade de consubstanciar objeto plural determinavel.ao tempo da escolha, Quer dizer, ha incerteza quanto a concentragado da prestagdo, Em contrapartida, a obrigagao condicional possui eficdcia sustida, sendo o credor mero titular de direito expectativo quanto a propria existéncia da obrigacio, ‘submetida a evento futuro e incerto. Na definig&o de Zeno Veloso,’ a condig&o “éayclausula que deriva exclusivamente da vontade do disporiente ou das-partes, que subordina o,efeito do negécio juridico a evento futuro e incerto”..Semelhante a este foi o,conceito-adotado pelo art. 121 do Codigo Civil de 2002:8 No negocio juridico,condicionado o que depende do futuro é a sua eficacia,'aaptiddo pata produzir os efeitosnormais para os quais foi projetada a autonomia das partes. O evento, futuro ¢-incerto.ndo condiciona a existéncia ou a validade do negécio juridico. Havendo uma unidade de.viriculo,mesmo com 4 pluralidade de prestagdes possiveis e auténomas entré'si, seré vedado Cogitar de obriga¢ao alternativa quando uma aparente hipotese de alternatividade nao Se relacionar com a incidéncia de duas ou mais prestagdes independentes. Portanto, concordamos com CLovis po Couto & Siva quando aparta das obrigagdes alternativas, determinadas possibilidades legais (concorréncias eletivas), tais como a opgao do art. 475 do Cédigo Civil entre a tutela especifica do adimplemento ¢ a resolugdo do negécio juridico ou aquela do art. 442 do Codigo Civil que defere a esco- tha entre a rescisiio do negécio marcado pelo vicio redibitério ou o abatimento no prego (quanti minoris), afinal, as obrigagGes alternativas “supdem proviséria indeterminagao do contetido do que se vai prestar, e, por esse motivo, nao se podem, também, haver como MONTEIRO, Washington de Barros, ef. Curso de Direito Civil - Obrigagdes, cit. p. 110. LOPES, Serpa, ef. Curso de Direito Civil ~ v. II - Obrigagdes em Geral, cit. p. 80. Zeno Veloso, Condigdo, termo e encargo, Sto Paulo: Malheitos, 1999, p. 18. Art. 121: “Considera-se condigto a cléusula que, derivando exclusivamente da vontade das partes, subordina 0 efeito do negécio juridico a evento futuro e incerto”. BB ‘Crsmiano Craves be FARIAS © NELSON RosewvaLD tais aquelas obrigagdes em que se reservou a uma das partes a fixagiio do momento dg entrega, ou do tipo de transporte a ser utilizado, ou do modo de pagamento etc. Essag particularidades nao dizem respeito ao contetido, mas, somente, as circunstancias dg prestagao”? As obrigagées alternativas no se aproximam ao modelo da dagao em pagamenty, Aquelas so obrigagdes com pluralidade e independéncia de prestagées, definidos desdg 0 inicio, A concentragao se verifica apenas ao tempo do pagamento. Ja a dagdo em paga. mento € modo extintivo de obrigagdes simples, através da substituigéo do objeto de uma obrigagao por outro objeto, ao tempo do pagamento. Seria o caso de uma obrigagio ery que o devedor est incumbido de entregar um automével ao credor (obrigagao simples) ¢ ao tempo do adimplemento sugere a alterago do objeto para uma motocicleta. Havendy anuéncia do credor em receber prestagdio diversa da que lhe é devida, o pagamento produy efeito exonerativo ao devedor (art. 356 do CC). Igualmente nao despontara a obrigagiiy alternativa quando sao exteriorizadas duas prestagdes, sendo, contudo, uma delas posta em cardter subsidiério, Afinal, as obrigagdes alternativas se encontram no mesmo grav, inexistindo hierarquia em abstrato entre uma ou outra prestagao. A outro vértice, nao hd como confundir.as obrigagdes alternativas com a obrigagiiy de dar coisa incerta, também conhecida’como obrigag&o'genérica (art. 243 do CC). Em comum a ambas incide a relativa indeterminagdo'do objeto. Nada obstante, as dividas de género sio obrigagdes simples, em que hé apenas um objeto em sita génese. Ocorre que a prestagiio & determinivel, pois.a'sua identificactio completa s6.se processard ay tempo da coneret (0 da prestagaio. Diversamente, as obrigacéesalternativas ja nascem perfeitamente individualizadas, possuindo grau de indéterminagdo mefor que as dividas de género, pois s6 ha.incerteza‘quanto a qual das prestagdes serd’eleita para a satisfagap da obrigagdo. Fundamental é compreender que,a-concenttagiio, nas obrigagdes de dar coisa incetta nao importa alternatividade de opgdes; mas apenas individualizagao de uma tinica prestagiio através da definigao de sua qualidade Dai a perfeita observagaio de Ponres pr Miranpa: “ora, $¢ho que’conceme as obrigagées alternativas, se pode falar de concentragio, e de escolha, no é que ocorre coi as obrigagdes genéricas. Quem escolhe internamente (= dentro:do génerd) nao. concentra, concretiza”.'” Acentua-se ainda mais a proximidade entre as obrigages alternativas e as obrigagdes genéricas de tipo restrito, Trata-se de uma espécie ainda mais retraida de obrigagdes de dar coisa incerta, Melhor explicando: nas obrigagdes puramente genéricas, a relagao juridica admite que o objeto exista livremente no planeta e possa ser encontrado em qualquer lugar. Porém, nas obrigages genéricas restritas as partes concentram a escolha do bem em um espago fisico delimitado. Seria o caso de opgao constrita a animais localizados na fazenda X ou peas de automével situadas no depésito da fabrica Y. Estas hipéteses nfo so to raras, afinal o alienante (devedor) normalmente se vincula em fungao da- quilo que possui ou detém. Apesar da aproximagao dos modelos juridicos, frise-se que 9. SILVA, Clovis do Couto e, ef. A obrigagdo como processo, p. 157. 10, MIRANDA, Pontes de, ef. Tratado de Direito Privado, Tomo 24, p. 140. 2B4 Mopatioanes bt Osricagoes Il ~ CLASSIFICAGAO QUANTO AOS ELEMENTOS nas obrigagées alternativas ja existem, ab initio, no minimo duas prestagdes de natureza distinta como possiveis. Outrossim, apesar da excepcionalidade, sera perfeitamente plausivel a contratagiio de obrigagao alternativa sobre divida de coisa incerta. Isto é, no Ambito de uma obriga- go alternativa ocorre indicagio genérica de cada uma das prestagdes. Assim, se A e B ajustam que 0 primeiro entregara ao segundo trés vacas ou trés cavalos, teremos duas escolhas: a primeira determinard se a tradigfio recaird sobre as vacas ou os cavalos, ¢ a segunda determinaré a qualidade dos animais escolhidos."" Outra relevante distingdo remete as obrigagées soliddrias. Delas também demarca- mos as obrigagGes alternativas. Se ha alguma incerteza no cumprimento das obrigagdes solidarias, concerne no fato de que nao se sabe qual dos devedores efetuara o pagamento (solidariedade passiva) ou qual dos credores o realizara (solidariedade ativa). A prestagdo & simplesmente uma, centrando-se a indeterminagiio na vertente subjetiva da relagdo obrigacional. J nas obrigagdes alternativas é a complexidade prestacional que demanda singularizagao. Enfim, certo quanto 4s duas modalidades é a pluralidade subjetiva (na solidariedade) e a pluralidade objetiva (na obrigagio alternativa). Por derradeiro, a obrigagio alternativa possui.como fonte a autonomia negocial. Ela se constitui como tal pof-efeito imediato.da°vontade das partes, ao declararem a possibilidade do pagamtento por vias autoriomias, porém equivalentés, sem_a incidéncia de subordinagao entreas prestagdes-Em regra, a liberdade contratual concebe negécios juridicos bilaterais consubstanciando clausulas com estipulagio de obrigagdes.alternativas, Eventualmente, a obrigagdo disjuntiva sera fruto de‘um negécio juridico unilateral, tal como uma promessadé recompensa ou um testamento, Preceitua o art, 1,932 do Codigo Civil que “No.legado alternativo, presumé-se deixada ao herdeiro-a opcao”. Exemplifi- cando, surgiré o legado alternatiyo quando 0 .festador dispusefque recaird sobre um ou outro objeto a ser escolhido apés a abertura da sucesstio..Poderd o disponente arbitrar que 0 legado recaira sobre uma obra de arte ou um determinado bem imével, deixando-se a escolha ao herdeiro-onerado quando silente o-testador. Excelente exemplo de obrigacdo alternativa pode ser deduzido do modelo juridico do contrato estimatorio, introduzido no art. 534 do Cédigo Civil. A figura é bem definida no Enunciado n. 32 do Conselho de Justica Federal: “No contrato estimatdrio o consignante transfere ao consignatario, temporariamente, o poder de alienagao da coisa consignada com opgaio de pagamento do prego de estima ou a sua restituigao ao final do prazo ajus- tado”. Como tivemos oportunidade de enfatizar em outra obra: “Vé-se que surge uma espécie de obrigagao alternativa cuja op¢io é concedida ao consignatario. Podera vender II. Clovis do Couto ¢ Silva demonstra que “o desenvolvimento deste tipo de divida operar-se- pela escolha que representara, de um lado, a coneretizagdo da divida genérica e, de outro, a concentragdo propria das obrigagbes alternativas. Sio atos que se mesclam, mas que possuem categorias dogméticas ¢ requisitos que ndo se equiparam, visto como a escolha nas obrigagdes altemnativas & exercicio de direito formativo modificativo, que se constitui em ato em sentido estrito, o que no sucede na concretizacao das obrigagées genéricas, mero ato-fato”, In A obrigaciio como processo, cit. pp. 158-9. 235 Cristiano Chaves 0& Farias € Netson RosENVALO a coisa e repassar 0 prego ao consignante ou, entio, simplesmente restitui-la. Caso deli- bere por pagar 0 preco ao consignante, nfio necessariamente o valor deve ser obtido em uma venda a terceiros, pois nada impede ao consignatirio ficar com a coisa para si ou presented-la a terceiros, arcando com 0 prego devido ao consignante”.'? Parece-nos equivocado entender que obrigagdo disjuntiva possa emanar diretamente de preceito normativo. A titulo ilustrativo, art. 1701 do Cédigo Civil sugere uma obriga- ao alternativa imposta por lei: “A pessoa obrigada a suprir alimentos podera pensionar © alimentando, ou dar-Ihe hospedagem e sustento, sem prejuizo do dever de prestar o necessirio 4 sua educagiio, quando menor”. Como assevera MILTON PAULO DE CARVALHO FILHO, “o artigo trata das formas pelas quais é possivel satisfazer a obrigagao alimentar. Sao elas: a) prépria ou em espécie: aquela em que o alimentante cumpre a prestacdio alimenticia fornecendo em casa, hospedagem ou sustento; b) impropria ou em dinheiro: aquele em que o credor paga uma pensio periddica (pecuniaria) para que o alimentando Possa adquirir o necessrio a sua subsisténcia”."? A prestagao aqui é uma so: alimentos, Aaparente alternatividade das obrigagdes nao passa apenas de uma .op¢ao conferida pelo legislador como forma de pagamento destes alimentos. "* 1.2. Concentragiio As obrigagGes altefativas possuem nina fasé’que lhes é fundamental: a da concen- tracdo. Tal fase Gatacteriza-se pela‘conversio da obrigacdo.alternativa, originariamente plural, em obrigacdo simples, pela determinagao do objeto a ser prestado;A concentragaio podera ser convencionada para fins de escolha pelo credor, devedor ou por outras vias, auténomas a yontade das partes. No momento da concentragao sera definida a natureza juridica da obrigaciio — quanto ao objeto, elementos, contetido e exigibilidade -, posto assente a prestagao cuja eficdcia consistira na extingao da relagio juridica. 12, Nelson Rosenvald,in-Cédigo. Civil Comentddo, PELUSO, César (coord.), cit, p $57, 13. CARVALHO FILHO, Milton Paulo de, cf: Cécigo Civil Comentado, PELUSO, César (coord), cit, p. 1700, 14, No Informativo n. 416, de 20/11/2009, a 3Turma do Superior Tribunal de Justica assim decidiu: “Constata-se dos autos que o agravante tem obrigagdo aimentar para com a ex-companheira e seus filhos, que foi fixada de forma proviséria para pagamento em pectinia. Alega ter adimplido a obrigago pelo pagamento direto das despesas dos alimentandos, valores sobre os quais divergem as partes, ndo tendo sequer 0 Tribunal a quo os quantificado. Quanto a isso, vé-se que, apesar de exist julgados nos quais se decidiu que, em certas circunstincias, pode ser permitida 4 prestagiio de alimentos mediante pagamento direto de contas, essa modalidade é excepcional, diante dos nitidos efeitos prejudiciais aos alimentandos. Em regra, a prestagdo de alimentos deve ser feita em peciinia, para evitar indevida intromissio do alimentante na administragdo das finangas dos alimentandos. E certo que a excego a essa regra vem claramente definida no art. 1.701 do CC/2002, que permite a prestagao de alimentos de forma altemati- vva, mas em cifeunstincias totalmente diversas dos autos. Nem mesmo o pardgrafo tinico desse artigo di suporte prestagio de alimentos que se alega adotar, pois ¢ uma faculdade do julgador, e nao do alimentante, determinar a forma altemativa de prestagdo. Mostra-se inadmissivel, ademais, pela légica, interpretar o referido pardgrafo para possibilitar 0 controle pelo alimentante dos atos praticados pelo alimentando. Dessarte, afasta-se a justificativa apresentada para 0 inadimplemento do alimentante, seja pela indefinigo dos valores que alega quitados em forma alternativa de prestagio de alimentos, 0 que ¢ impossivel de revisto na via de habeas corpus, seja pela improprie- dade do meio que se alega utilizado para saldar o débito alimentar.” AgRg no EDel no HC 149.618-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 19/11/2008. 236 Mopauoabes 0€ OsnicacOes I~ CLAssiFicaG Ao QUANTO AOS ELEMENTOS A concentragao é um ato juridico stricto sensu, haja vista que a sua eficacia € pre- determinada pela norma em cardter invaridvel, qual seja, a de cessar com o estado de indeterminagao da prestagdo. Nao ha liberdade para a parte estruturar 0 contetido da concentragao ou inovar em suas consequéncias juridicas, submetendo-a, v.g., a um termo, condig&o ou clausula restritiva.'> Inexiste poder de escolha sobre a categoria juridica. O direito de escolha atribuido pela convengao ou pela lei é um direito potestativo — direito formativo modificativo —, que implica a necessaria sujeigao do outro contratante ao exercicio do poder de quem operou a concentragao. Apesar do siléncio do art. 252, do Cédigo Civil, mesmo os direitos potestativos se submetem ao principio da boa-fé objetiva, devendo a escolha ser realizada de forma razoavel e legitima, a fim de nao incidir a parte em abuso do direito (art. 187 do CC). Neste sentido, ndo podemos ignorar a adverténcia de Mato JULio pe ALMEIDA Costa. Quando a lei se refere a palavra “direito” no art. 334 do Cédigo Civil de Portugal (cuja redacdo é praticamente igual a do art, 187 do Cédigo Civil de 2002), abrange ndo apenas os verdadeiros direitos subjetivos, como também outras situagdes que, impliquem poderes, liberdades e faculdades, incluindo-se ai os direitos potestativos.'® Via de consequéncia, mesmo que a concentragao seja realizada'de modo formalmente correto, sem lesio a qual- quer regra, haverd censura por parte do ordenamento juridico quando o comportamento antijuridico do titular do dirgito'da escolha deriyar de uma conduta desproporcional, posto materialmente contraria a principios e limites ético’s do ordenamento juridico. Tal como dcotre no direito.comparado, nao havendo.estipulagao, no siléncio cabera a opsdio ao devedor (art.252 do CC); O nucleo da noritia € a facilitagagdo cumprimento da obrigagdo, na mesma indoledo art. 327 do Codigo Civil ao dispor sobre a regra geral do pagamentono domicilio do devedor- (divida quesivel).!* Nada ‘inais natural que a concentragao seja de iniciativa do devedor, pois, como’adverté Renan Loturo, “como éaesfera de liberdade do devedor que sofre a catga da obrigagio, em geral cabe a este aescolha”. Por isto, o culto Professor adverte que havendo divida na identificagao de quem realizar a escotha, pela dubiedade das clduisulas, a obscuridade sera resolvida em favor do devedor, pelo.citado principio de que sua esfera de liberdade devera ser menos onerada,'® Este fundamento valorativo do proprio significado do vinculo obrigacional impede que a atribuigao do direito de escolha ao credor possa ocorrer de maneira tacita. A outro Angulo, como etapa obrigatéria desta relagao obrigacional, com a morte ea passagem das situagdes subjetivas patrimoniais, 0 direito potestativo de escolha é 15. Marcos Bemardes de Mello insere a concentragio no rol de atos juridicos stricto sensu comunicativos, “constitui- dos por comunicagdes de vontade, que, de regra, tém a finalidade de dar ciéncia a alguém, figurante de uma relago Juridica, do querer de quem faz a comunicagio ~ a essa categoria pertencem, por exemplo, a comunicago da es- ‘colha da prestago, a permissio para sublocar (quando exigida no contrato)”, In Teoria do fato juridico ~ plano da existéncia, cit., p. 159. 16. COSTA, Mario Jilio de Almeida, cf. Direito das Obrigagdes, cit, p. 74. 17. Com o mesmo sentido a norma do art. 1.932 do Cédigo Civil: “No legado altemativo, prestme-se deixada ao her- deiro a op¢io”, Afinal, serd o herdeiro 0 onerado com o pagamento do legado. 18, LOTUFO, Renan, cf. Cédigo Civil Comentado, v. Il, eit, p. 56 reug Cristiano Chaves 0€ Farias € Netson Rosenvat transferivel aos herdeiros do titular da op¢ao, sendo objeto ainda de cessio de crédito ou de assungiio de débito em carter acessorio ao negécio juridico transmitido, conforme a escolha couber ao credor ou ao devedor. Portanto, invidvel por completo a tentativa de destaque do direito de escolha da relagao juridica que Ihe dé suporte para fins de cessiio auténoma. Apenas mediante novo acordo entre as partes se viabilizaré a transmissiio do direito de opgao a um terceiro, quando 0 acordo apenas tenha facultado esta posicao juridica a uma das partes. Sendo as partes reciprocamente devedoras uma da outra, como se aplicard o art. 252 do Cédigo Civil, eis que dois sujeitos so simultaneamente qualificados como devedo- res? Filiamo-nos ao pensamento de GistLa SaMpato DA Cruz: “Se as partes estipularam qual delas deveria entregar em primeiro lugar sua prestagao, ambas siio devedoras, mas uma delas ha de solver seu débito antes, e, para os fins do art, 252 do Cédigo Civil, deve esta ter o direito de opgdo. Idéntica solugdo deve ser aplicada quando o ordenamento estabeleca a precedéncia na entrega da prestacao”." Feita a escolha, resta irrevogavel quando a individuagao do objeto chega ao conheci- mento do outro contratante. Consistindo a escolha em uma deglaraciio de vontade a sua eficéicia resulta da recepeao pela contraparte. Apesar de inexistir especifico dispositivo na Lei Civil quanto As obrigagées alternativas, pode-se aplicar extensivamente 0 art. 245, do Estatuto Civil, situado no estudo das obrigagdes de dar coisa incerta: “cientificado da escolha, o credor vigoraré:6 disposto na. se¢ao antecedente”. A regra é aplicdvel igual- mente a cientificagdio pélo devedor quando da\escolha pelo credor e ainda, a hipdtese da obrigagao alternativa, afinal a declaragiio de vontade ¢ recépticia eStia eficacia demanda © conhecimento da escolha‘pelo destinatario. Electa una via, altera rion datur, vale dizer, eleita uma via nio hé'tetorno. Os efeitos da concentragiio retroagem & data da-constituigdo da obrigagiio, como se simples fosse desde o inicio. Em carater expresso, poderio, todavia, as partes formular uma clausula de Tetratagdo — pactum variatione — deferindo-sé aos contratantes a op¢tio de desconstituir a eficacia da escolha anterior, Nao se-confunda;'contudo, a eficacia da irretratabilidade, com 0 plano de validade do negocio juridico, pois certamente caberd a anulagiio da op- ao, provado que cla\se deu-com base em vicio de consentimento, como no caso do erro escusivel do devedor que supuniha ser a obrigacio simples sem qualquer possibilidade de escolha. Sitvio Ropricues narra interessante exemplo de uma acai trabalhista no bojo da qual o empregador é condenado ao cumprimento de obrigagiio alternativa, consistente em pagar salarios ao reclamante até a sua aposentadoria ou readmiti-lo. Tendo escolhido a primeira opgao, jé na fase da execugao propés a readmissfio do empregado, que se insurgiu contra a proposta, tendo sido acolhida a sua pretensiio em fungao da regra ora mencionada.”” 19. CRUZ, Gisela Sampaio da, cf. Obrigagdes alternativas ¢ com faculdade alternativa. Obrigagdes de meio ¢ de resultado, in Obrigagdes ~ Estudos na Perspectiva Civil-Constitucional, TEPEDINO, Gustavo (coord.), cit. p. 160, 20, RODRIGUES, Silvio, cf. Direito Civil - Obrigagées, cit, p. 48. Mopatioabes 0¢ OsricagOes II — CLASSIFICAGhO QUANTO AOS ELEMENTOS Caso a obrigaciio alternativa deva ser satisfeita de forma periddica (de més em més, ano e ano...), ou seja, obrigagdo de execugio continuada ou de trato sucessivo, a cada periodo o titular do direito A op¢do — seja ele o credor ou o devedor — poderd exercer 0 jus variandi, realizando uma escolha distinta. Gustavo TePEDINO nomeia este fendmeno de “balanceamento da concentragio nas prestagdes periddicas”.”' Portanto, se couber ao credor A se defere a escolha mensal entre Ikg de arroz ou Ikg de feijéio, a cada més poderd pleitear do devedor B a entrega de uma opgdo nova (art. 252, § 2°, do CC). Inovando substancialmente, permite o Codigo Civil que a escolha seja deferida a um terceiro. Isto é, credor e devedor poderdo delegar a op¢iio da prestagdo a outra pessoa, que atuara como uma espécie de representante ou mandatdrio das partes. Caso 0 terceiro negue-se a escolher, ou nao lhe seja possivel tal tarefa (v. g. morte, recusa em optar), a impossibilidade nao acarretara a nulidade da obrigagdo. As partes alcangario a escolha pela via consensual ou ao juizo arbitral se houver cléusula compromisséria, caso contratio, a concentragio ficaré a cargo do magistrado, que velar pela manutengio do equilibrio negocial (art. 252, § 4°, do CC). Idéntica determinagio judicial sera efetivada para cessar a indeterminagao relativa da obrigagao, caso 0 acordo tenha estipulado que a escolha seja de responsabilidade de uma pluralidade de pessoas ¢ estas nao alcancem o consenso dentro do prazo pactuado (art. 252, § 3°, do CC). Cuida-se de-outra novidade'do CC/2002, com vocagio prospectiva a diretriz da operabilidade, que sera aplicada nas:hipoteses de pluralidade de pessoas em cada polo da relagao obrigacional (u.g., seis devedores solidarios deyerao escolher) ou quando o contrato deferir a,escolha-a‘um ajuste entre credor ¢ devedor,,ou as partes ¢ um terceiro, Cuidando-sé. de concentragiio pelo magistrado; ja nao mais se trata de um direito, mas de umdever de‘escolha. 1.3. A obrigagao alternativa como processo Em uma perspectiva fuficional das ubrigagées ¢ razodvel entender que aalternatividade das prestages propisia finalidades individuaise socialmente tteis. Por um lado, confere ao devedor maiores possibilidades de se libertar da obrigacao; por outro, defere ao credor garantias mais amplas quanto ao seu‘cumprimento. Na concretude do caso poderemos perceber qual das duas hipéteses prevalecerd, conforme a aferi¢do de a favor de qual das partes fora institufda a alternatividade. De qualquer forma, sendo 0 desiderato natural da obrigacdo alternativa a converséo em uma obrigagao simples, robustece-se a ldgica desta obrigag3o como um processo polarizado ao adimplemento, lembrando-se que mesmo um terceiro designado pelas partes podera efetivar a escolha. O Cédigo Civil nao estipulou qual seria 0 momento para a escolha na hipdtese de siléncio do negocio juridico, CLovis Do Couto E SILvA considera que a concentragao & fase do processo obrigacional e seu exercicio se condiciona ao fluxo do prazo em que sera satisfeita a obrigagio. Partindo-se da premissa que o adimplemento demanda a 21. TEPEDINO, Gustavo, ef. Cédigo Civil Interpretado, v. 1, p. 529. 39 ‘Cristiano Cuaves pe Farias © Ne.son Rosenvato prévia determinagio do objeto da prestag4o, ocorrerd o exercicio da opgdo antes go prazo fixado para o adimplemento. Nao havendo termo convencional, torna-se exi; isivel de imediato. Cuidando-se a escolha de direito potestativo, nao surgira um dever Paty a parte desidiosa. A demora do devedor em escolher nao constitui mora do exercicio do direito de escolha, mas de nao ofertar a prestagdio dentro do prazo da relagaio juridicy 2 Resta a parte inocente a adogao do disposto no art. 288 do Cédigo de Processo Civil: “O pedido sera alternativo, quando, pela natureza da obrigagiio, 0 devedor puder cumptiy a Prestacdo de mais de um modo”. O pedido mediato correspondera a uma prestago go téu que pode assumir mais de uma forma. O que se exige do rgao jurisdicional é ujpa sentenga de contetido processual nico, que é uma condenag&o do réu a cumprir ya Obrigagio cujo objeto é uma prestagdo indefinida.” O autor pleiteard a condenag4o go réu, de forma alternativa, como previsto na convensiio, Porém, ainda que nao 0 faca, 0 julgar procedente a pretensiio, o juiz facultaré ao réu o cumprimento da obrigag&o da forma alternativa, j4 que a alternatividade concerne & sua pessoa. A inércia da parte ao exercicio do direito de escolha no prazo contratual ou em interpelagdo transmitird 4 outra parte o direito de’escolha. Na. forma do art. 571 do Cédigo de Processo Civil, o devedor nao:perdera automati¢amente o direito de eSto- tha, porém abre-se ao credor uma ago Condenatoria para 0 exercicio da opgaio. Caso 0 devedor nao efetive a escolhasnio prazo decadencial de 10 (dez) dias, contados da Citagaio, a opgao seri devolvida em caratet definitivo ao credor, para que conduza o Processo obrigaciotial-ao adimplemento, para tanto convertendo a obrigagao plural em simples. Se a escolha coubet ao credor € este se omitir no exerciciondo direito potestativo, incidindo em mora‘em receber a prestag’o-(¢ nao em escolher, Tepita-se), ha de incidiy 9 art. 342 do. Cédigo Civil. O devedor ajuizara ago para compelir 0 credor a fazer a opgito, Permitindo-Ihe que cumpra a prostagao devida, Se, nao, Obstante citado, negligenciar a indicagao da prestagio, ser'6 direito'de op¢ao transferido ao devedor. A referida norma foi desenhada para.asobrigag6es genérivas, mas é inegavel que a mens legis alcanga a mora do credor no exercicio da-opgao em sede de obrigagées alternativas. Frise-se que 0 art. 894 do Cédigo de Processo Civil corrobora o contetido do preceito de direito material, 1.4. Impossibilidade das prestagées Existem algumas regras aplicdveis especialmente ao cumprimento das obriga- ¢6es alternativas, que se encontram nos artigos 253 a 256 do Cédigo Civil. Todos os dispositivos cuidam da impossibilidade superveniente da prestagiio, relacionada a acontecimentos que sucedem antes da concentragao, acarretando o inadimplemento da obrigacdo. Com efeito, verificando-se a impossibilidade em momento posterior ———___ 22. SILVA, Clovis do Couto e, A obrigagdo como processo, cit. p. 159-160. 23. MACHADO, Anténio Cliudio da Costa, Cédigo de Processo Civil Interpretado, cit. p. 302. 240 Mopauoanes De Oxnicacoes Il ~ CLASsIFiCAGAO QUANTO ADS ELEMENTOS A escolha, o risco sera regulado conforme as regras pertinentes As obrigagées de dar coisa certa, se for o caso. Lado outro, na hipotese de impossibilidade originaria de qualquer uma das prestagées, a obrigagdo ja sera simples em seu momento genético. Ao enunciar 0 art. 253 do Cédigo Civil que “se uma das prestagdes ndo puder ser objeto da obrigagao...”, vé-se que a primeira parte da norma alude A invalidade do negécio juridico, seja por impossibilidade origindria ou ilicitude do objeto. Esclarega-se que se desde o tempo da contratagao houver impossibilidade material ou juridica de uma das prestagGes, a alternatividade das obriga- Ges é meramente aparente, nao se aplicando as normas em comento. Trata-se certamente de caso de nulidade parcial do negécio juridico a teor do art. 166, II, do Cédigo Civil. ‘Aduz ANTUNES VARELA que “sendo uma ou algumas das prestagdes contrarias a lei, ordem ptiblica ou aos bons costumes, cumpre, todavia, averiguar previamente se 0 vicio contamina ou afecta todo o objeto do negécio. Se assim for, o negécio é inteiramente nulo; de contrario, cair-se-4 na nulidade parcial”. Em sentido inverso, se estivermos diante de negécio juridico ineficaz —em fungaio da aposigao de condigao suspensiva ou termo-inicial — e, posteriotmente, incidir o evento futuro (certo ou incerto), ficara restabelevida a alternatividade nos termos em que foi pactuada, A hipotese é exatamente'inversa 4 da impossibilidade originaria: esta transmuda a obrigacao de plural em siniples; ja a eficdcia)superveniente converte -a'obrigagio de simples em plural.2° Tornando-se. todas as prestagdes inexequiveis por evento no imputavel as partes, extinguir-se-A a obrigagaio (art. 256 do CC). A resolugaio‘do pacto pela perda superveniente do objeto é consequente'a um fato posterior, desvinculado 6 dano,de-qualquer comporta- mento do credor-6u devedor; afinal incidiu.um evento.cuja causa pode ser atribuida a um fato extertio‘ao desempenho das partes-(fortuito-ou fato de terceiro). Portanto, as partes retommam ao estado origindrio..Rorém, encontrando-se o devedor em mora ao tempo da impossibilidade supervenienite, nao s6 sera responsabilizado por prejuizos perante o credor durante a mora (art..395, CC), como também incidiré a perpetuagao da obrigagdio, arcando com a impossibilidade.da prestagao mesmo'que ela tenha decorrido do fortuito externo (art. 399, CC), exceto se comprovar que o fato danoso ocorreria de qualquer forma, mesmo se houvesse cumprido a prestac&o tempestivamente. Outrossim, independente da mora, havendo previsiio contratual, a parte responderd mesmo pelo fortuito. Se to somente uma das prestagées torna-se materialmente inexequivel, sem culpa do devedor e antes do momento da concentragAo, o débito sobejara automaticamente con- centrado na prestag&o remanescente. Nesta situagiio de mitigagao do objeto obrigacional, aplica-se a segunda parte do art. 253 do Cédigo Civil: “Se uma das duas prestagées nao 24, SILVA, Clovis do Couto e, A obrigagdo como proceso, cit., p. 161. 25, ANTUNES VARELA, Joao de Matos, cf. Das Obrigagdes em Geral, v. 1, 10. ed, cit., p. 838. 26. CRUZ, Gisela Sampaio da, in Obrigagdes alternativas e com faculdade alternativa, Obrigagbes de meio ¢ de te- sultado, in Obrigagdes — Estudos na Perspectiva Civil-Constitucional, TEPEDINO, Gustavo (coord), cit. p. 163, 241 CCrustiano Caves 0€ Farias & NeLson RoseNvato puder ser objeto da obrigag’io ou se tornada inexequivel, subsistira 0 débito quanto a outra”. Temos, portanto, hipdtese de impossibilidade superveniente de uma das prestagdes enao de invalidade do negécio juridico. Assim, se incumbe ao devedor prestar um porco ou uma vaca, e 0 suino falece em razio do fortuito, sobejara a prestagdo concentrada no bovino. Nao mais havera uma obrigagdo plural, porém simples. 5 imperioso ressaltar que sendo a alternatividade da esséncia da obrigacao o desaparecimento de uma das alterna- tivas poderd conduzir a resolugaio do negécio juridico. Hamp Cuarar Bone exemplifica narrando a hipdtese de um viajante que “contrate prestagGes alternativas consistentes em ter 4 sua escolha, em determinado local de seu percurso, um barco ou avidio para pros- seguir viagem. Essas alternativas Ihe s&io essenciais, pois somente desse modo podera prosseguir a viagem aventureira a que se comprometeu. No entanto, nesse local isolado, 0 barco que era uma de suas alternativas sofre uma pane que o impossibilita de navegar. A consolidagao da obrigagao na entrega do avitio nao atenderd As suas necessidades, pois condigdes climaticas inesperadas poderao acarretar sua inutilidade. Desse modo, antes mesmo de chegar ao local de entrega da prestagaio, podera dar por desfeito o negécio, na medida em que a existéncia das alternativas é, por si mesma, fundamental ao resultado visado pelo credor. No exemplo dado, a propria-alternatividade desaparece, de modo que 0 que se verificara serd uma clausula resolutiva — ou seja, desaparecendo uma das alternativas, resolve-se a obrigagao”?” Anote-se, por necessério, que eventual jmpossibilidade superveniente de uma das Prestagdes nao imputavel as partes serd indiferente, caso a perda do objeto diga respeito A prestagiio que nao foi a escolhida’em momento anterior, A’obrigagao mantém a sua eficdcia. Todavia, se a perda sedeu ap6s’a éscolha, recaindo justamente sobre a prestagao cleita, naturalmente ocorréré a resolagao do negdcio juridico, tal contd ocorreria em uma Obrigagao simples. Caso o:negécio juridico seja validamente, constituido, mas.uma das prestagdes tome- ~se inexequivel por culpa do.devedor,-a solugo poderd-variar conforme a titularidade da escolha: a) se couber a‘concentragdio ao étedor, teré este o direito potestativo de optar entre a prestagaio. subsistente-ou'o valor correspondente Aquela que pereceu, acrescida de perdas e danos (art. 255,\1* parte;ido CC), Desta maneira, tutela-se o poder de escolha do credor, sancionando-se o.dévedor pélo seu comportamento negligente. Se o credor optar pela prestacdo subsistente, nao-sofreu qualquer espécie de prejuizo, sendo impréprio se cogitar de pretensio conjunta as perdas ¢ danos, néio obstante uma apressada leitura do dispositive possa induzir a tal entendimento; * b) sendo a opgiio delegada ao préprio devedor, aplicar-se~4 a regra do art, 253 do Cédigo Civil, remanescendo 0 débito sobre a Prestagao subsistente, sem qualquer acréscimo pecuniario. Veda-se ao devedor a faculdade de pagar ao credor quantia equivalente a prestacdo que impossibilitou, isto seria um prémio 27. In Cédigo Civil Comentado, cit., p. 205. 28. Com opiniao divergente da nossa, J. M, Leoni Lopes de Oliveira, aduz.que “se a impossibilidade de uma das presta- ges se dew por culpa do devedor e cabe a escolha ao credor, o artigo the faculta duas ops@es: a) ter’ direcito a exigit 4 prestagdo subsistente, com as perdas e danos; b) terd o direito de exigir 0 valor da outra, com perdas e danos”. In Novo Cédigo Civil Anotado, v. Il, cit, p. 35. 242 ‘Mopauanes 0€ OsricacOis I~ CLASsFicaGAo QUANTO AOS ELEMENTOS Asua desidia, Aqui é importante destacar que a solugdio sera a mesma para as hipoteses de perecimento pelo fortuito ou por irresponsabilidade do devedor, sendo bastante a impossi- bilidade superveniente de uma das prestagSes para que a obrigacdio se tome pura e simples. Se todas as prestagdes tornam-se sucessivamente inexequiveis por culpa do devedor, tudo dependera a cargo de qual dos contratantes for a titularidade da escolha. Cabendo ao devedor originariamente a escolha, ficara este obrigado a pagar o valor da que por ultimo impossibilitou-se, acrescido das perdas e danos determinados na hipotese, sobre aquilo que o credor efetivamente perdeu, além do que razoavelmente deixou de auferir em fungao da entrega extempordnea da prestagdo (art. 254 do CC). A norma exercita finalidade pedagégica, afinal constrange o devedor a agir com prudéncia para preservar a prestagdo ainda intacta, sob pena de entregar soma que ultrapassa o valor da prestagio. Mas se ambas as prestagdes se perdem simultaneamente por culpa do devedor? GiseLa Sampaio DA Cruz acertadamente propGe que se recorra a analogia para concluir que, cabendo a escolha ao devedor, pagara ele o valor de qualquer uma das prestagdes, acrescida das perdas e danos. Afinal, estava ele.obrigado ao valor-de uma ou outra pres- taco por um direito potestativo que lhe fora.outorgado.” Nada se infere da leitura dos dispositivos legais.quanto as hipoteses de perecimento ou perda do objeto por culpa'do ¢redor. Sendo, culpa pela impossibilidade de uma das prestagoes a ele atribuida, quando detinha-o direito\de escolha, serd.responsabilizado por perdas ¢ danos, exceto se escolher aprestagdo que no se impossibilitou: Incumbindo-se aescolha ao devedor, realizaraa-prestagao subsistente ¢,exigird perdas e danos — caso a prestacdo seja mais onerosa‘do que aquela que se impossibilitou.? Mas, se todas-as prestagdes se tornaram impossiveis por culpa do\credor, extingue- -se a obrigagio, podendo o devedorexigir 0 valor de qualquer uma delas, acrescida de perdas e danos. Contudo, se a ¢scolha,couber ac-credor, poder cle escolher qual das duas prestagées inutilizadas indenizara. De acordo com EVERALDO CAMBLER, CartoS Roperto GoncALves E MAIRAN Mala, se ambas as prestacdes:perecem, umia por culpa do devedor e outra do credor, “a solugio para a obrigagao alternativa dependera da precedéncia de culpas: se do devedor, estara liberado do vinculo, pois o credor fez perecer a prestagdo na qual ocorreu a concentragao na segunda prestag%o; se do credor, 0 devedor responderd pelo valor da coisa que fez perecer, mas conservara o direito a exigir do credor o valor da primeira”. O Cédigo Civil igualmente nao oferece resposta para a hipétese em que o devedor deu causa ao perecimento da primeira coisa ¢ a segunda pereceu em razio do fortuito. Incumbindo a escolha ao credor, podera este reclamar o valor de qualquer das duas, tenha 29, In Obrigagdes alternativas e com faculdade alternativa. Obrigagdes de meio e de resultado, in Obrigagdes ~ Estu- dos na Perspectiva Civil-Constinucional, TEPEDINO, Gustavo (coord), cit, p. 165/6. 30. Paulo Luiz Netto Lobo. In Teoria Geral das Obrigacédes, cit. p. 138 31. In Comentérios ao Cédigo Civil Brasiteiro, Vol. Ill, p. 122. 243 CCaisTiaNo Cuaves of Farias € Netson RoseNvaio sido o perecimento simulténeo ou sucessivo, além da indenizagdo por perdas e danog (art. 255, segunda parte, do CC). Na hipdtese inversa, ou seja, se uma das coisas perecer, m primeiro lugar, por motivo alheio 4 vontade do devedor e a segunda por culpa sua, distinta é a solugao obtida, pois o fortuito tornou simples a obrigacdo e o inadimplemento correspondera a efetiva extensao do dano (art. 944 do CC). Ha de esclarecer-se que o novo Cédigo Civil nada determinou quanto a impossibj- lidade de uma ou de todas as prestagdes por fato imputavel as partes, quando a escolha couber ao terceiro, para tanto designado. No direito portugués também nao ha solugiio, MAnio JULIo DE ALMEIDA Cost assim sugere: “caso a impossibilidade seja imputavel ao devedor, o terceiro pode optar por uma das prestagdes possiveis ou pela indemnizagao dos danos resultantes do ndo cumprimento da prestagao que se tornou impossivel. Se a impossibilidade é imputavel ao credor, considera-se cumprida a obrigagao. Ressalva-se, todavia, a faculdade de o terceiro optar pela prestagiio possivel, com a indemnizagiio dos danos que o devedor tenha sofrido”.*> Certamente, sendo a culpa de terceiro estranho as Partes, arcard ele por todos os prejuizos. 2. OBRIGACOES FACULTATIVAS Outra interessante espécie de modelo juridico que‘merece exame quando do estudo das obrigagdes compostas objetivas ¢ a obrigagae facultativa. A doutrina aceita @ terminologia, mas preféte identifica-las Como obrigagées com faculdade alternativa de cumprimento, pois'a designacio.obrigacées facultativas pode induzir a erro, por supor um modelo jutidico no qual a subsisténcia da relagdio dependeria exclusivamente da vontade do.devédor, que teria’o direito potestativo de descumprir a obrigacao, se assini entendésse. ARNoLDo, WALD bém expli¢a que ém uma estrutura Parecida comas obrigagdes alternativas as obrigagdes com faculdade de solugao ou com faculdade de substituigao, erradamente chamadas obrigagées facultativas. Nao poderia haver obrigages facultativas, pois 0 que é facultative nao é obrigatério e o que é obri- gatorio nao é facultative” Assim como no diploma revopadd, 6 CC/2002 niio faz referéncia a este modelo juri- dico, AGostinio Atvim esélarecenu que nao houve preocupacio do legislador de introduzir as obrigagdes facultativas no Codigo Civil, pois sempre foram consideradas como objeto de convengao inominada.> Em verdade, consiste a obrigagao facultativa na possibilidade conferida ao devedor de substituir 0 objeto inicialmente prestado por outro, de cardter subsidiario, mas ja especificado na relagéio obrigacional. A prestagdo devida é uma sé, incidindo unidade 32, CAMBLI aldo; GONCALVES, Carlos Roberto; MAIA, Mairan, in Comentérios ao Cédigo Civil Brasilei- vo, vol. ML, p. 121, 33. COSTA, Mitio Jilio de Almeida, ef: Direito das Obrigacdes, 9. ed., cit, p. 680. 34, WALD, Arnoldo, ef. Obrigagdes ¢ Contratos, cit. p. 51. 35. Apud LOTUPO, Renan, Cédigo Civil Comentado, v. 2, p. 57. 244 Mopatioanes De OsaicAcOEs Il = CLASSIFICAGAO QUANTO Aos ELEMENTOS de objeto quando da celebragao do contrato, pois a obrigacao facultativa é um direito potestativo concedido ao devedor de adimplir 0 débito de uma forma diversa ao estabe- lecido com o credor. As obrigagées com faculdade alternativa sio obrigagdes simples. Diferem, portanto, das obrigagées alternativas, nas quais ha uma obrigagiio complexa, com pluralidade de prestagdes, caracterizada por uma relativa indeterminagio do objeto, cuja futura escolha caberd ao credor ou ao devedor, conforme o pactuado (art. 252 do CC). Na obrigagao facultativa, nao existe o ato de escolha (concentragao), fundamental na obrigagio alter- nativa. Ao contrario, ela j4 nasce pronta para ser cumprida, pois ha um unico vinculo obrigacional e uma so prestagao, cujo objeto ¢ imediatamente determinado. Ao devedor € oportunizada a faculdade de, no momento do pagamento, substituir a prestagdo por outra, previamente consignada no contrato. A obrigagao substitutiva nao podera jamais ser exigida ou reclamada pelo credor, pois ela se encontra no ambito juridico do devedor. Enfim, a prestagao supletiva nao se contrapée correlato direito de crédito. O devedor possui a liberdade de consagrat‘a faculdade alterfiativa. Ao tempo do adimplemento, unilateralmente, determinara sua opgdo entré)a prestagio principal e a supletiva, inserindo o credor em posigao de submissiio, por estar sujeito a aquiescer & escolha da outra parte. Se ndo aceitar, incorrerd o éfedor em mora. Exemplificando; 4 Convenciona o pagatiento’a B da quantia de R$3.000,00 em no- vembro, com a obriga¢ao facultativa de transferir uma motocieleta. Consequentemente, facilita-se 0 pagamento pelo devedor, pasando ele a contar Com unid opgdo.a mais para exonerar-se da obrigagao,‘sem para tanto depender-da aquiescéncia do credor. Vé-se, nitidamente, que’o exercicio.da faculdade de substituigio nao se situa no plano de désenvolvimento da obriga¢ao, mas no do adimplemento: Na dicgao de CLovis po Couto E SILVA, constitui o.inicid do:cumprimento do.débito, pois “como privilégio do devedor, a impossibilidade da,prestacao substitutiva nao interfere no processo da obrigagio; a impossibilidade- da prestagtio ‘devida} por sua vez, extingue o vinculo, no cabendo ao credor, portanto, pretensio.a-haver a prestaZo suscetivel de substituigao, acaso ainda existente”.”° Enfim, como brilhantemente expde Serra Lopes, nas obrigagdes facultativas o de- vedor nao deve a outra coisa, a qual ndo pode ser pedida pelo credor. Cabera ao devedor © direito de pagar coisa diversa da efetivamente representativa do objeto da divida.” Decorre da distingao entre as obrigagdes facultativas ¢ as alternativas duas repercus- sdes priticas: a) se a prestago principal na obrigago facultativa padecer de impossibili- dade origindria, invalida sobejara toda a obrigacdo em face da perda do objeto. Porém nas obrigagdes alternativas, subsistird a obrigagdo na outra prestagao, que nao sera atingida (art, 253, 1. parte, CC); b) nas obrigagées alternativas, a perda superveniente de uma das 36. SILVA, Clovis do Couto e, ef A obrigagdo como Processo., cit, p. 163. 37. LOPES, Serpa, ef. Curso de Direito Civil — Obrigacdes em Geral, v. I, p. 88. 245 ‘Cristiano Cuaves o€ Fanias & Ne.son RoseNvALD coisas concentrard 0 débito na subsistente (art. 253, 2. parte, CC). Todavia, ocorrentg a impossibilidade posterior da coisa principal sem culpa do devedor, a obrigagiio fact. tativa extingue-se, a despeito de subsistir 0 objeto supletivo, pois 0 objeto € tinico, NY podendo a coisa acesséria subsistente ser exigida pelo credor. Acresga-se que a perda ta coisa acesséria em nada repercute no cumprimento da obrigagiio facultativa, pois ela era uma opgiio exclusiva do devedor. Tomando por base o artigo 648 do Cédigo Civil argentino, sendo imputavel ao devedor a responsabilidade pela perda da coisa principal, o credor poder pleitear valor correspondente a prestagaio que pereceu, acrescida de perdas e danos, ou arg mesmo a coisa que era objeto da prestago facultativa. De fato, cuida-se de solugio equitativa, que impede o exercicio desequilibrado do direito potestativo do devedor, Nada que nao possa ser inferido da clausula geral do abuso do direito, inserta no att, 187 do Cédigo Civil. De todo o exposto, tem-se atualmente que a ideia de facultatividade nao pode ser ampliada discricionariamente para capturar situagdes outras de-substituiga0 de formas de satisfagdo de débitos que nao se relacionam com a faculdade negocial de substituigao do objeto da prestagao. Assim, nao é pértinente inserir como modalidade de facultas alterna- tiva a opgao do titular do direito subjetivo de exercitar uma ou outra pretensio, tal como © credor que pode deliberar entre a rescisdo do negécio e o abatimento do prego — quanti minoris — (art. 442,-CC), ou a eleigao entre)a resolugao contratual’¢-a tutela especifica da obrigagao (att. 475, CC). As sobréditas pretensdes so apenas vias-concedidas pelo ordenamento para a exigibilidade de situagdes juridicas-Violadas pelo devedor. Também:sé apartam as obrigagdes facultativas da, dagéio-eim’ pagamento por dois motivos: a) na dagdio em pagamento sé havera substituigdio da prestago com a anuéncia do credor, jamais Ihe podendo ser imposta a extingae-da obrigagiio; b) na dacdo em paga- mento, ao tempo da contrataco, nao hé qualquer referéncia a faculdade de substituigao da Prestagao por uma outra subsididria, sendo-a substituigao um fato que se verifica apenas a0 tempo do adimplemento; Em outra obra® tivemos a oportunidade de ressaltar que, apesar de ordinariamente 0 ordenamento tratar da faculdade de escolha como um direito potestativo do devedor, nada impede que a obrigacdo facultativa seja de opgaio do credor. Nas palavras de MARIO JoLIo DE AtMetDA Costa, “concebe-se, todavia, que a faculdade alternativa exista em 38. Maria Helena Diniz defende posigio idéntica, mesmo que com fundamento normative diverso, ao recomendat que “se a impossibilidade da prestagdo devida resultar de causa imputivel ao devedor, © credor poderd exigit 0 equivalente mais perdas ¢ danos, aplicando-se, por analogia, o disposto no cédigo civil, art. 234, 2. parte, ou 0 cum primento da obrigagto supletéria”. In Curso de direito civil brasileiro ~ 2. volume ~ Teoria Geral das obrigagdes cit, p. 129, 39. ROSENVALD, Nelson, d eldusula Penal como Pena Privada, ct. p. 37. 40. COSTA, Mario Jilio de Almeida, Direito das obrigacdes, cit., p. 675. 246 ‘Mop auoanes 0 Osnrancbes Il — CLassificagho QUANTO Ads Exs¥entos beneficio do credor, também derivada de estipulagao das partes ou de preceito legal.*! ya Cabe-lhe entdo a possibilidade de exigir, em vez da prestagdo devida, uma outra”. Ora, a clausula penal se amolda perfeitamente ao perfil da obrigagdio com faculdade alternativa em favor do credor. O devedor nao deve outra coisa, a nao ser a prestagao, mas o descumprimento por causa a ele imputivel concederd ao credor o poder de deter- minar a pena, ao invés da prestagéio. O devedor se coloca em estado de sujeicio, pois se submeterd & opgdo do credor. Com Larenz," “si hace uso de este derecho, se coloca otra prestacién en el lugar de la hasta ahora debida”. Segundo ANTONIO Pinto Monteiro, “o inadimplemento por causa imputavel ao devedor confere ao credor 0 direito de optar pela exigéncia da pena convencionada em lugar da prestagdio devida, que aquela substitui. E 0 devedor nao pode, feita essa op¢ao, opor-se a ela com oferecimento da prestagio inicial. Tal como niio pode impedir o credor de continuar a exigir 0 cumprimento desta, oferecendo-se a prestar a pena, se nao for essa a vontade do primeiro”.* 3. OBRIGACOES CUMULATIVAS Dentre as obrigagdes éompostas por pluralidade Objetiva, aquelas qué menores difi- culdades oferecem.ao operador do Direito sio-as obrigagdes cumulativas ouconjuntivas. De fato, tratando-se da.adogao da conjungao aditiva:E, caracteriza-se'a obrigagdo conjuntiva pela incidéncia de duas ou mais prestagdes cumulativarnente exigiveis por um tnico titulo.e,um tinico fato juridico na-origem.'O devedor apenas se exoneraré quando prestar as duas ou mais prestagdes de forma conjunta, pois; enquanto uma delas nao tiver sido adimplida, poderé. credorexigi-las na totalidade do devedor, sendo-the licita a recusa da oferta parcial. O-descumprimento de uma das prestagdes significa 0 inadimplemento total: ¢ Exemplificando, sea obrigagdo.de‘um marceneiro consiste na entrega de uma mesa, um armario e uma cémoda, pelo. valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), a relagao obri- gacional apenas sera satisfeita com 0 cumprimento conjuntivo de todas as prestagdes pactuadas. Da mesma forma, a obrigagao do ofensor pela reparagio por danos morais € estéticos decorrentes de um tinico fato ilicito. 41. No art. 419 do Cédigo Civil de 2002, hi um interessante exemplo de obrigagiio facultativa com escolha do ere dor: “A parte inocente pode pedir indenizagdo suplementar, se provar maior prejuizo, valendo as arras como taxa ima. Pode também a parte inocente exigir a execugio do contrato, com perdas e danos. Valendo as arras como imo da indenizago”, 42. Dieter Medicus também admite que a faculdade de escolha poderd pertencer a0 credor, exemplificando com 0 § 249, 2 do BGB, no qual a vitima de um dano, ao invés do restabelecimento da situagao anterior, poder pleitear ressarcimento em dinheiro - Tratado de las relaciones obligacionales, ct. p. 100. 43, LARENZ, Karl, Derecho de obligaciones, cit, p. 172. 44, MONTEIRO, Anténio Pinto, Clausula penal e indemmizagdo, itp. 104. 7 Cristiano Cuaves o¢ Farias € NELSON ROSENVALO. O Cédigo Civil de 2002 — assim como 0 Cédigo Civil/1916 — nao regulamentou a matéria — mesmo em fungiio de sua similitude com as obrigagdes simples no aspecto do adimplemento —, devendo o intérprete buscar a sua inserg&o no regime aplicgvel genericamente as obrigagées de dar. Vé-se que, nas obrigagdes alternativas, também se concentram prestagdes plurais, mas a sua solugao demanda apenas a realizag4o de uma delas, eis que fundamentada pela conjungio OU. Antunes VaRELA observa que nem sempre serd ficil distinguir entre as obtigagoes cumulativas, com varias prestagdes ligadas entre si por um nexo que as reduz a uma unidade incindivel, e os casos de obrigagdes distintas, apenas acidentalmente reunidas por constarem do mesmo instrumento juridico. Tratando-se de obrigagdes distintas, 0 credor n&o poderd recusar uma delas sob o argumento de ainda nao terem sido as demais Prestagdes cumpridas. A opgao por uma ou outra figura dependerd da integracgo da vontade das partes. Assim, 0 fato de “tratando-se de um contrato oneroso de alienagio, a prestaco miltipla de um dos contraentes corresponder a um prego global ou a uma contraprestacdo unitaria, nfio discriminada, por parte do outro, constitui um indicio importante, sério, de que o primeiro contraiu uma obrigaciio cumulativa e nao duas ou mais obrigagées distintas” > No mesmo sentido, sinaliza OrvANDo Gomes, ao'advertir sobre a impropriedade de se confundir pluralidade de'prestagdes com¢pluralidade de obrigagées, pois, se as diversas prestagdes correspondem a obrigagdes .com causas diversas, nao se verificara a pluralidade no objeto'da obrigagaio.na medida ‘em que cada qual tera. objeto simples.** Consequentemente, se um contrato retire diversas obrigagées.simples, distintas uma das outras, todavia coligadds, apenas haverd aparéneia de obrigagdo cumulativa, j4 que niio oriundas do mesmo titulg2Se no mesmo cofittato A’aliena a'B uma motocicleta por RS 8.000,00 e um‘automovel por R$ 15,000,00, cuidam-se-de duas-alienagdes distintas, duas obrigagées simples, pois, como eoloca GUILUERME CALMON Nocueira pa Gama, 86 haverd obrigagiio cumulativa quando “o-interéss¢ ‘do.credor esta no conjunto, por isso que o devedor somente seexoneraf se satisfizer todas as prestagdes. O raciocinio a ser adotado aqui tem bastante semelhanga ‘comas modalidades de disposi¢des conjuntivas previstas no Ambito do\Direitodas Sucessdes para fins de gerar (ou nao) o direito de acrescer, ainda qué haja, por dbyig, algumas diferencas importantes” “7 4. OBRIGACOES FRACIONARIAS (CONJUNTAS) Amarca registrada das relagdes obrigacionais ¢ a indispensavel presenga de um credor eum devedor coma necessidade, respectivamente, de receber e de cumprir a prestagdo. Este fendmeno nao se verifica nos direitos reais, setor do direito privado cujas situagdes juridicas sao exercitadas tio somente pelo titular do direito real sobre 0 objeto ao qual submete de forma direta e imediata ao seu poder, sem que se demande um comportamento 45. ANTUNES VARELA, Jotio de Matos, ef. Das Obrigacdes em Geral, v. 1, 10. ed. cit. p. 828, 46. GOMES, Orlando, ef, Obrigacdes, cit, p. 94, 47. GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da, ef, Direito Civil, Obrigagdes. cit., p. 155. 248 Mooauionoes 0 Osnicacoes Il ~ CLASSINCAGAO QUANTO AOS ELEMENTOS de um sujeito passivo determinado ou determinavel. Porém, a movimentagilo dos direitos obrigacionais niio se opera sem essas duas pegas vitais, ea singularidade de cada um desses elementos — isto é, um sé credor e um 6 devedor ~ nenhuma influéncia exerce no curso normal das relagdes creditérias e debitdrias e, nem mesmo com essa dupla singularida- de, é possivel pensar na questo da indivisibilidade da obrigagtio ou da solidariedade.** O fenémeno da pluralidade de sujeitos na obriga¢io impele a doutrina a criar clas- sificagdes capazes de exprimir uma ampla gama de situagées juridicas especiais. As obrigagdes sfio qualificadas como simples, quando a relagio € convencionada entre um credor e um devedor, incidindo sobre apenas um objeto - v. g., 4 deve pagar R$100,00 a B (obrigagio de dar simples). Serio plurais, todavia, se houver pluralidade de partes (credores, devedores ou ambos) ou de objetos em uma relagao juridica obrigacional. Se objetivamente plurais, ha de perquirirem-se as obrigagdes cumulativas, alternativas e facultativas. Quando subjetivamente plurais, cogitamos das obrigagdes fraciondrias, so- lidarias e do fendmeno da indivisibilidade, envolvendo varios contratantes. A pluralidade subjetiva em regra se instala no momento genético'da-obrigagaio, no exato momento da constituigao da relagao juridica. Nada obstante, ‘a multiplicidade ‘ativa ou passiva po- derd vicejar em momento sucessivo, seja por um fendmeno' inter vivos (vg., cessio de crédito, novacao subjetiva) ou causa mortis, assumindo mais de um herdeiro a posigao obrigacional originariamente singular do de cujus. Havendo pluralidade de credores-dt devedores em obrigagad de naturéza divisivel ¢ inexistindo sdlidariedade legal, ou contratual, cada um¢dos titulares portar-se-A de forma auténoma, com relagao a-setis direitos e deveres, fracionando-se a obrigagdo em partes iguais (art..257 do GC). Em outras,palavras, cuida-se de regra-que emana da natureza das coisas: cada ctedor s6 pede'a’sta parte e cada devedor 86 se obriga por sua parte, ineidindo diversos vinculos juridicos entre os sujeitos ativos e passivos da relagiio juridica” Assim, se A, B e Cobrigamse a pagar R$90,00 a D, Ee F, podera A adimplir com 0 simples pagamento de R$30,00, enprol de qualquer um dos devedores. Em contrapartida, a D nio seré licito exigir mais'do qué R$30,00 de cada um dos devedores. Do Cédigo Civil de 2002 extraimos exemplos de incidéncia das obrigagdes conjuntas: a) Art. 1317 — quando todos os condéminos contraem dividas, sem se discriminar a parte de cada um, nem se estipular solidariedade; b) art. 1380 — quando a servidao pertencer a mais de um prédio, os donos ratear&o as despesas; c) art. 1934 —se 0 testamento nao 48. Serpa Lopes, in Curso de Direito Civil, v.11 ~ Obrigag®es em Geral, p. 98 49. Resp, 868.566/MS ~ Rel, Min, Nancy Andrighi, DJ 18.11.08 “A solidariedade no se presume (art. 265, CC/2002). Ao contririo, havendo mais de um eredot, ou devedor, em obrigagiio divisivel, esta se divide entre tantas obri- gages, iguais e distintas, quanto os credores ou devedores. ~ O devedor de obrigagdo divisivel, nfo havendo solidariedade, deve cuidar para que o pagamento seja feito a todos os eredores. Feito a apenas um deles, deve ser verificado se este tem poderes para dar quitagiio em nome dos demais. ~Se o pagamento € feito a quem no é eredor \inico nem tem poderes para representar os demais credores, hd negligéncia do devedor, podendo haver resolugdo do negécio juridico com o retorno das partes ao ‘status quo ante’, 249 CChisrano Chaves De Fanias & Neison Rosenvatp determinar 0 cumprimento do legado aos herdeiros, incumbird esta atividade aos lega- tarios, na proporgiio do que herdaram. Enfim, prevalece nas obrigagdes conjuntas a fundamental regra: concursu partes fiunt —no concurso de credores ou devedores a obriga¢ao fraciona-se. Todos os participes da relagdo juridica repartem necessariamente os bonus € os dnus da obrigagio. Essa tegra é excepcionalmente derrogada quando as obrigagdes complexas por multiplicidade de partes revestem-se de indivisibilidade (art. 258 do CC) ou solidariedade (art. 264 do Cc), 5. OBRIGACOES DIVISIVEIS E INDIVISIVEIS Triste época! E mais facil desintegrar um dtomo do que um preconceito. (Avert Ernstein) 5.1. Introdugio Sabemos que na tradicional classificagao das-obrigagdes quanto aos seus elementos, sao elas divididas em simples e compostas (plurais), conforme a sua estrutura consubs- tancie apenas um sujeito ativo, passivo. eum objeto, owenit%io englobe uma multiplicidade de sujeitos (complexidade subjetiva) ou de presta¢des (complexidade objetiva) em uma 86 relacdio obrigacional, A importincia ‘do estudo da matétia se vinicula as obrigagées com pluralidade de su- Jeitos. $6 quando houver na.rélag4o-obrigacional uma tnultipli¢idade.de credores ou de devedores prevalecerd a regra do'fracionamento.em obrigages auténomas, conforme o numero de participes, de modo a permitir que cada.um dos varios credores ou devedores possa pagar oti receber a sua parte. A teor do artigo 257 do Cédigo Civil, sendo divisivel a prestagao, aplica-se 0 brocardo'concursu partes firnt, ou seja, as partes se satisfazem pelo concurso, conservand6:se indepénderites as obrigagdes de cada uma. Haver 0 rateio entre credores edevedores daquilo que sera adimplido ou recebido. A obrigaco sera composta ow miltipla: A divisibilidade das obrigagdés, como regra geral a que alude o art, 257 do Cédigo Civil, sera excepcionada erm casos de solidariedade (art. 264, CC) ou de indivisibilidade (art. 259, CC). Nas duas situagdes, excepcionar-se-A 0 principio concursu partes fiunt. Em ambas as hipéteses 0 credor poderd exigir 0 pagamento integral de cada um dos devedores, embora cada qual s6 deva a sua frag&o. Por outro lado, o devedor poderd efetuar pagamento integral a um dos credores — exonerando-se do débito, mesmo que existam outros credores. Portanto, solidariedade e indivisibilidade sao dois modelos juridicos que nao apenas excepcionam a regra geral do fracionamento das obrigagdes, mas exercem relevante fungao econdmica, eis que conferem ao credor garantias mais amplas quanto ao adim- plemento da obrigagiio. Com efeito, duas vantagens sao evidentes: a uma, quando houver pluralidade de devedores, poderd 0 sujeito ativo optar contra qual demandaré, ampliando 250 Mopauibabes be OsricagOes Il ~ CLASsiFICAGAO QUANTO AOS ELEMENTOS as chances de efetividade da demanda; a duas, niio se resignard o credor a receber de cada devedor apenas aquilo a que ele est obrigado, mas sim o valor integral. Fard sentido pratico distinguir a divisibilidade da indivisibilidade da prestagao ¢ estas da solidariedade, quando evidenciada a pluralidade subjetiva. Contudo, havendo apenas um tinico credor e um tinico devedor na relagao juridica, sera despiciendo precisar se 0 objeto da prestacio é coisa divisivel ou indivisivel. Afinal, a obrigagio sera simples e a prestac&o sempre cumprida por inteiro, mesmo sendo o seu objeto divisivel, presumindo-se aindivisibilidade, salvo convengao em contrario (art. 314 do CC). O dispositivo enaltece a precedéncia do pagamento integral, a no ser que de comum acordo os contratantes deliberem pelo parcelamento. Ctovis po Couto E SILva ensina que o processo de desenvolvimento da obrigagio com prestagiio divistvel nao oferece maiores dificuldades, pois “o débito se extinguira por partes, restando, apés o adimplemento de uma fragao, 0 ‘saldo’, que poder ser exigido, se se manifestar infracao contratual ou mora”.*! Sendo divisiveis, as obrigagdes se fracionam em tantas.partes quanto forem os credores e devedores, conservando-se inidependentes, cormnoum feixe de relagdes justa- postas, iguais e distintas, cada credor'com direito a.uma fragdo e cada devedor também respondendo pela sua fragio.** Portanto, havendo obrigagiio divisivel com pluralidade de devedores, com 0 adimplemento realizado em partes, divide-seem -tantas obrigagdes iguais e distintas quanto os devedores (art. 257'do CC) - v. g.;'A, B e Cdevem R$90,00 a D; cada um pagara R$30,00Em yerdade, sao obrigagdes fracionarias., No caso de obrigacao divisivel com: plwralidade de credores~.o devedor comum pagara a cada credor uma parte iguab da divida (art. 257 do.CC) — 4°g:, A deve’ R$90,00 a B, Ce D; pagara R$30,00para cada um. 5.2. Nogées gerais sobre a indivisibilidade O CC/1916 nao.conceituowas obrigagées.divisiveis ou indivisiveis, mas apenas pontuou os seus ‘efeitos, Porém a.doutrina ja se encarregava deste mister. PonTES DE Miranba assevera qué “a divisibilidade ou indivisibilidade da obrigacao em geral con- siste na possibilidade ou impossibilidade de se fracionar o objeto da prestagiio, isto é, a prestacdio mesma”. Em contrapartida, em caminho proficuo, o legislador de 2002 conceitua a indivisi- bilidade da prestagdio nos termos do art. 258 do Cédigo Civil: “A obrigagiio ¢ indivisivel quando a prestagiio tem por objeto uma coisa ou um fato néio suscetiveis de divisio, por sua natureza, por motivo de ordem econémica, ou dada a razdo determinante do negécio juridico”, 50. Portal razdo Orlando Gomes explica que “alguns tratadistas incluem as obrigagbes divisiveis ¢ indivisiveis entre as modalidades que se classificam pelo sujeito”, In Obrigagdes, cit. p. 95. 51. SILVA, Clivis do Couto e, ef. A obrigagdo como Pracesso, cit., p. 164. 52. Cf. TEPEDINO, Gustavo et alii. Cédigo Civil Inerpretado, cit, p. 535. 53, MIRANDA, Pontes de, ef, Tratado de Diveito Privado, Tomo 22, cit, p. 152. 251 CCrisriano Craves De Farias € Neison Rosenvatn Como bem esclarece 0 supracitado dispositivo, 0 objeto da prestagio consistira em bem divisivel ou indivisivel. Trata-se de esclarecimento fundamental, pois nao é cotreto cogitar da indivisibilidade da obrigagao, e sim da prestagao.** Dai que nas obrigagdes pautadas pela indivisibilidade da prestagiio 0 credor terd 0 arbi- trio de exigir a prestagdo em sua totalidade*, bem como sera proporcionada ao devedor a opgiio de liberacdio com o adimplemento efetuado apenas perante a totalidade de credores, O conceito de indivisibilidade nao é material ou fisico; muito antes, é juridico-eco- némico. Qualquer bem na natureza é materialmente partivel, mesmo um dtomo.* Pela diego do art, 87 do Cédigo Civil, bens divisiveis sao os que se pode partir em porgses reais e distintas, formando cada qual um todo perfeito, sem alteragdo na sua substancia, diminuigao considerdvel de valor ou prejuizo do uso a que se destinem. Com propriedade, FLAVIA Maria ZANGEROLAME ensina que “a contrario sensu, um bem é considerado indi- visivel se, apés o fracionamento houver vulneragio na substancia que, de acordo, coma sistematica atual, possui o significado de descaracterizagiio da parte real ou essencial de uma coisa, que perde as caracteristicas essenciais que possuia. Desta forma, as fragdes resultantes deverdo reunir caracteristicas ou.qualidades essenciais do todo, pois, caso contrario, serd o bem tido por indivisivel”:*” Por isto, adverte Caio MAitio que a obrigagdio é materialmente divisivel quando fracionadas as partes “nao‘perdem as caracteristicas essenciais do'todo nem sofrem depreciagao acentuada; e, indivisivel, em caso contrario”, *Trata-se do critério da economicidade; Destarte, a obrigacdoindivisivel ndo,comporta'ciséo mediante cum- primento parcial, eis que haveria‘prejuizo 4 substancia,da-coisa,com perda de sua utilidade e fangao, Mas.niio € apenas isto. A indivisibilidade’é motivada por pardmetros diferenciados que exorbitam do aspecto material da coisa (a obrigagdode entregar um automével para diversos credores) ou pela natureza do diteito (a-obrigac%io de suportar uma servidio de transito). Bens\fisicamente divisiveis eventualmente se qualificam pela indivisibi- lidade por detetminag&o normativa = empregando-se o artigo 88 do Cédigo Civil -,° 54. Apesar de que o emprego de um tiome por outro foi adotado no Capitulo V, que cuida da mat 55, STJ. Informativo n. 504, de 10 a 19 de setembro de 2012. QUARTA TURMA. PRISO CIVIL. PAGAMENTO PARCIAL DA OBRIGAGAO ALIMENTICIA. A Turma reafirmou que 0 pagamento parcial da obrigagdo alimentar no afasta a regularidade da prisdo civil. Destacou-se que este Superior Tribunal entende ser legitima a pristo civil do devedor de alimentos, quando fundamentada na falta de pagamento de prestages vencidas nos trés meses anteriores & propositura da execuedo ou daquelas vencidas no decorrer do processo (Stim. n. 309/STI). Ademais, eventuais alegagdes quanto a incapacidade material do recorrente de satisfuzer a prestagdo alimenticia devem ser discutidas nos autos da agdio de alimentos, ndo no dimbito estreito do writ, cujo trdmite ndio comporta dilagao probatéria, RHC 31.302-RJ, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 18/9/2012. 56, Ha muito ja dizia ALoexr Emseiw: “Triste época! £ mais facil desintegrar um dtomo de que um preconceito” 51. Obrigacées divisiveis e indivisiveis e obrigagées solidérias. In ObrigagBes — Estudos na Perspectiva Civil-Consti- tucional, TEPEDINO, Gustavo (coord,), eit, p. 186. 58. PEREIRA, Caio Mario da Silva, ef, Instiuigdes de Direito Civil - Obrigagdes, 59. Art. 88 do Cédigo Civil, “Os bens naturalmente divisiveis podem tornar-se i vontade das partes", it, p. 70. isiveis por determinagdo da Ieiow 252 Mopauioaoes 0: Osticacoes II ~ CLASSIFICAGRO QUANTO AOS ELEMENTOS ou artificialmente pela vontade das partes. Como exemplo de indivisibilidade legal poderiamos cogitar da impossibilidade de disposicio de lote urbano com menos de 125 m? — Lei n° 6766/79, ou a fundamental indivisibilidade dos direitos reais de garantia, significando tanto a adesiio do bem onerado por inteiro, em todas as suas partes, como também a persisténcia integral da garantia real sobre 0 bem em caso de pagamento parcial do débito (art. 1421, CC).6' Em sede de indivisibilidade contratual, cite-se a convenciio pela qual os condéminos deliberam em nao dividir imével, mantendo-o em estado de indivisao por cinco anos ~ art. 1.320 do CC. Evidentemente, esta modalidade de indivisibilidade ¢ fluida, podendo cessar em raziio de acordo posterior entre as partes pelo qual se passa a aceitar o cumprimento fracionado da prestagiio. E operativo o art. 258 do Codigo Civil, por apartar a indivisibilidade material da juri- dica. Conceitua as obrigacées indivisiveis, como aquelas néio-suscetiveis de divisio, por sua natureza, por motivo de ordem econémica, ou dada a razao determinante do negécio juridico. Essa regra deve ser trabalhada conjuntamente com o citado art. 87 do Codigo Civil, mas com as suas especificidades. Em interessante sintese, MENEZES CoRDEIRO es- tabelece ser o critério distintivo das prestagdes divisiveis ¢ indivisiveis (art. 258) distinto daquele que enuncia a divisto das coisas ‘em ‘divisiveis ¢ indivisiveis nos direitos reais (art. 87), “pois nestas 0 critério de divisibilidade é ditado-pela natureza da coisa ou pela respeitabilidade da sua fungi econémico-social;nas prestagdes, impera um critério de satisfag%io do credor. Assitn) a prestagao é divisivelquando possa ser, fraccionada sem prejuizo para o interéssedo credor; na hipotes¢ inversa, é indivisivel”.?.: Por isto, o grande mérito do art. 258;do Codigo Civil; @'insetira indivisibilidade “por motivo econémico”, implicando a impossibilidade de divisioda prestagao naqueles casos em que haveria redugao substancial do valor da coisa objeto da prestagdo; inviabilizando a propria obrigagao. Com base neste critérioutilitario; tem-séque a indivisibilidade poder recair sobre determinados bens qué.s6 posstiem valor éconémico quando vendidos em grande quantidade (». g., grampos), No'mesmo dispositivo da legistagiio civil, na parte final, avulta a indivisibilidade como razdo.determinante do negécio juridico. Cuida da relagio juridica que culmina'por perder as suas qualidades essenciais em razio das espe- cificidades do contratg, firmado, aso seja entregue de forma fracionada. Hamip CHARAF Boing exemplifica de forma didaticaesta hipotese: “haverd indivisibilidade se determinado conjunto musical for contratado para um espetaculo e decidir realiza-lo apenas com dois ou trés de um total de seis musicos, na medida em que havera considervel redugao de seu valor em decorréncia da alteragiio das caracteristicas fundamentais da exibigiio”.® Discussao de grande atualidade nos dominios da indivisibilidade concerne 4 venda fracionada de medicamentos, atualmente uma faculdade do fornecedor destes produtos. 60, Orlando Gomes apropriadamente nomeia como “conversio intelectual” o fendmeno pelo qual o legislador ou as partes transformam prestagdes materialmente divisiveis em indivisiveis. In, Introducdio ao direito civil, p. 225. 61. Porém o artigo 1.488 do Cédigo Civil eria relevante excecdo ao prinefpio da indivisibilidade, tratando-se de imé- veis loteados, ou sobre os quais seja instituido condominio edilicio. 62, CORDEIRO, Anténio Manuel da Rocha e Menezes, ef, Direito das Obrigagdes, p. 339. 63, In Cédigo Civil Comentado, cit, p. 207. 253 CCastiano Craves 0 Farias & NeLson RoseNvaLD Fracionar é um processo de manipulagéio de produtos farmacéuticos acabados que tem por objetivo principal otimizar a distribuigado de medicamentos por dose individual unitdria devidamente embalados e identificados, garantindo a qualidade do produto atg administracdo ao paciente. A nosso viso a venda fracionada deve ser obrigatéria em cagog de venda de medicamentos de primeira necessidade e medicamentos toxicos, seja pela tutela do minimo existencial (no 1. caso) e da protegao da satide de sujeitos vulneraveis (no 2. caso) — criangas e portadores de transtornos mentais-, prestigiando-se nas duas hipoteses a salvaguarda do principio da dignidade da pessoa humana. Em sintese, em uma interpretacao do artigo 258 do Cédigo Civil conforme 4 Cons- tituigo Federal, a eventual alegagao do fornecedor de medicamentos quanto 4 impos- sibilidade de fracionamento na venda por “motivos de ordem econémica” cederé em face do acautelamento de situagGes juridicas existenciais. Trata-se de uma tensdo entre principio da ordem econémica e a defesa da inviolabilidade da pessoa humana em que © balanceamento de bens indicara a preponderancia da tutela dos consumidores, 4 luz do inciso V do art. 170 da Constituigao Federal. 5.3. A indivisibilidade e as modalidades de obrigagdes Sendo os conceitos de divisibilidade e indivisibilidade hauridos da Teoria Geral do Direito Civil, culminam por receber aplicacdo indiscriminada em todos os tipos de telagdes obrigacionais, i A obrigagiio de dar pode ser divisivel ou indivisivel.. Sera ela sempre divisivel na transmissio de direito de propriedade— mesmo que indivisivel oobjeto da transmissao -, pois a propriedade é suscétivel de’ fracionamento, ém cotas abstratas, Mas sera indivisi- vel a obrigagtio que'tiver por objeto a transmissio. dé um difeito real indivisivel, como a servidtio, As obrigagdes genéricas de dar-¢oisa incerta —podem ser divisiveis ou indivisiveis; no primeiro caso, quando tiverem por objeto coisa quantitativamente deter- minada (uma tonelada de arroz ou trés bois de\determinada espécie), no segundo caso, se 0 objeto consistir em coisa genericamente designtada (v.g., um cavalo).** As obrigagdes altemnativas também sio.indivisiveis. Ateor do § 1° do art. 252, “Nao pode o devedor obrigar 0 credor areceber parte em-uima prestacao e parte em outra”. Ja as obrigagdes de restituir so normalmente indivisiveis, mesmo porque o credor nao podera receber nada distinto daquilo que emprestou, conforme o convencionado. 64, A CAmara analisa o Projeto de Lei 396/11, que toma obrigatério o fracionamento de medicamentos, conforme 1 receita médica. A proposta define como aptas para fracionamento as substincias apresentadas sob a forma de drageas, comprimidos, cépsulas, pastilha, supositério e évulos. Para evitar dividas, a proposta acrescenta @ lei @ definigdo das formas possiveis de apresentago de medicamentos. Atualmente, a legislago sobre o controle dé comércio de medicamentos (Decreto 74.170/74) permite o fracionamento de determinados medicamentos, se torné-lo obrigat6rio, Existe uma lista de quase 800 medicamentos que podem ser fracionados editada e atualizada pela Agéncia Nacional de Vigildncia Sanitaria (Anvisa). Podem ser fracionados hoje medicamentos acondicionados em frasco-ampola, ampola, seringa preenchida, flaconete, saché, envelope, blister e strip. Também esto na lista de fracionamento os apresentados nas formas de comprimidos, capsulas, 6vulos vaginais, dréigeas, adesivos transdér- micos e supositérios. 65, SERPA LOPES, Miguel Maria de, ef. Curso de Direito Civil - vol, II. ~ Das Obrigagdes em Geral, p. 105. 254 Mopauaoes b€ OxricacOes Il ~ CLASsIFICAGAO QUANTO AOS ELEMENTOS Assim, segundo exemplos de Maria Heena Diniz, “o comodatario tem 0 dever de de- volver na integra o que foi emprestado, nao podendo reter uma parte, salvo com anuéncia. do comodante. O mesmo ocorre no contrato de miituo e de depdsito, pois 0 credor nao pode ser forgado a receber pro parte o objeto que se encontrava na posse de outrem, a no ser que o permita”.% Ainda no exame do artigo 258 do Cédigo Civil, dessume-se de sua parte introdutoria —“A obrigacao é indivisivel quando a prestagiio tem por objeto uma coisa ou wm fato...” —que a indivisibilidade é pertinente nao apenas para as obrigagdes de dar, como também para as de fazer (como no exemplo do conjunto musical), pois a obrigagao consistente em um comportamento do devedor requer que toda a tarefa seja cumprida, alcangando-se 0 desiderato econémico, sob pena de inadimplemento. Entretanto, obtempera Serra Lopes que, se em regra nas obrigagdes de fazer o adimplemento parcial nao proporcionaria ao credor a utilidade pretendida na obrigagdo, excepcionalmente pode nelas caracterizar-se a divisibilidade quando se trate de desempenhar uma atividade de natureza nao homogé- nea, em que se leve mais em conta a quantidade do.que a qualidade, a exemplo do que sucede na obrigacaio de prestar determinados. dias de trabalho.” Anorma obviamente nao menciona a8 obrigagdes de ni fazer, pois pela sua propria esséncia a abstengao ¢ indivisivel: Nao hé como fracionar um “ndo agir”, cis que qualquer conduta contraria ao pactuado atitomaticamente implicara em inadimplemento, Nada obstante, como sintetiza ‘CLAupIo Gopoy; pode-se configurar uma dessas, obrigacdes negativas que seja indivisivel. Exemplificativamente, quandoé contratado um bloco de omissdes nao relacionadas (v.2', niio cagar ¢ no pescar):® 5.4, Efeitos da indivisibilidade das obrigagées A indivisibilidade ¢ excepcional no direitodas obriga¢6es. Nao sé excepcional, mas inconveniente, como de forma aguda percebe Caio MArto'DA Siva Pereira. Afinal, ao contrario da divisibilidade<‘que possuti a vantagem dé repartir encargos entre as partes, proporcionando solugdés equanites -, @indivisibilidade ¢ foco constante de conflitos.” Partindo da ja exarninada-premissa da’ irrelevancia desta discussaio no dmbito das obrigacdes simples, na medida em:que as consequéncias juridicas da indivisibilidade so assumem tonalidades vivas em face da pluralidade subjetiva, a situagio de mais singela solugdo sera aquela em que varios credores ou devedores assumem prestagio divisivel, cada um sendo responsabilizado pela sua cota, 4 luz do brocardo concursu partes fiunt. WASHINGTON DE BARROS Monteiro trata das sete consequéncias ligadas a pluralidade de sujeitos nas obrigagées divisiveis: “a) cada um dos credores s6 tem direito de exigir a sua fragao no crédito; b) de modo idéntico, cada um dos devedores sé tem de pagar 66. DINIZ, Maria Helena, ef, Direito Civil Brasileiro ~ Teoria Geral das Obrigagdes, cit, p. 151 67. SERPA LOPES, Miguel Maria de, ef. Curso de Direito Civil - Obrigagdes em Geral - vol. Il, p. 105. 68. GODOY, Cliudio, ef. A parte Geral do Direito das Obrigagaes no Novo Cédigo Civil, in Atualidades Juridicas, Coordenagdo Maria Helena Diniz, p. 39. 69. PEREIRA, Caio Mario da Silva, ef. Instituigdes de Direito Civil, .2, p. 139. 255 Cristiano Caves De FARIAS & NELSON ROSENVALD a propria quota no débito; ¢) se o devedor solver integralmente a divida a um s6 gos varios credores, niio se desobrigaré com relagao aos demais cocredores; d) 0 credor que recusar o recebimento de sua quota, por pretender solugo integral, pode ser constitujdo em mora; e) a insolvéncia de um dos codevedores nao aumentara a quota dos demais; f) a suspensiio da prescrigdo especial a um dos devedores nao aproveita aos demaig; g) a interrupgao da prescrigdo por um dos credores nao beneficia os outros, operada contra um dos devedores nao prejudica os demais”.” Os artigos 259 e 260 do Cédigo Civil cuidam da forma de pagamento nas obrigagges indivisiveis com pluralidade de credores ou devedores. 4) obrigagdo indivisivel com pluralidade de devedores — cada devedor obriga-se pela divida toda, ele nfio poderd solver pro parte, pois ante a impossibilidade de fracio- namento a prestagao é exigivel por inteiro por qualquer credor, Despiciendo saber se a indivisibilidade resulta da natureza do objeto, da lei ou da vontade das partes. Em qualquer caso, para manter a proporcionalidade, o devedor que pagar ficara sub- -rogado em todos os direitos do credor, assumindo a sua posigdo juridica origi em relagaio aos demais coobrigados (pardgrafo tinico, art. 259 do CC). V.g., 4, BeC devem entregar um cio fila a D; este podera reclamard-coisa de quem escolher, De acordo com o parigrafo tinica do’art. 259, se A efetuar a entrega do animal, ficard sub-rogado em face dos démais, contando“com acao regressiva pelo equivalente pecunidrio. Alids, a propria instituigo:da sub-togagao corrobora a afirmagaio de que cada devedor s6'deve uma parte (abstrata) do débito, mas/que, enrrazao da indivisi- bilidade, deverd presta-la por inteito.” Caso um dos devedores'se. torne insolvente, gerd licito ao’eredor cobrar a integrali- dade da divida dos demais'devedores. Certamente.a escolha recaira’sobre o devedor que apresentar melhores condiges para solucionar 0 débito. A resposta seria diferente na obriga¢ao divisivel: 0 credor nao poderia onerar um devedor em fungao da insolvéncia de outro, pois cada qual &6-responderia por sua cota’e nada mais. Em sede deinterrupgao de prescric’o;tratando-se de prestagao divisivel, a paralisa- gio do prazo com relacio asm dos:devedores em nada influencia a contagem do prazo para o exercicio da pretensdo'do credor comum em relagaio aos demais devedores. Mas, se a prescrigdo for objeto de interrupgfio em face de devedor de prestagdo de cunho indivisivel, tal fato prejudicara os demais devedores, pois é da indole da indivisibilidade que a prestagiio seja recebida por inteiro. Esta é a inteligéncia da parte derradeira do § 2° do art. 204 do Cédigo Civil: “A interrupgao operada contra um dos herdeiros do devedor solidario n&o prejudica os outros herdeiros ou devedores, sendo quando se trata de obrigagées e direitos indivisiveis”. O mesmo raciocinio sera aplicado perante as causas suspensivas da prescrigdo, estampadas nos artigos 197 a 201 do Cédigo Civil. 70. MONTEIRO, Washington de Barros, cf. Curso de Direito Civil, v.4, eit. p. 139. 71. ZANGEROLAME, Flavia Maria, Obrigacdes divisiveis e indivisiveis e obrigagdes solidérias, in Obrigagses -Es- tudos na Perspectiva Civil-Constitucional, TEPEDINO, Gustavo (coord,),cit., p. 191. 256 MopaDADES DE OerucAacOes Il ~ CLASSIFICAGAO QUANTO AOS ELEMENTOS. b) obrigagao indivisivel com pluralidade de credores — infere-se da leitura do artigo 260 do Cédigo Civil que cada credor tem direito de reclamar a prestagdo por inteiro e 0 devedor desobriga-se, pagando a um ou a todos. Adimplindo em favor de todos, conjuntamente, exonera-se da responsabilidade. Contudo, pagando somente a um credor, deste recebera caugdo de ratificagdo, que o desobrigaré quanto aos demais credores, sendo eficaz a quitagio (art. 260, IL, do CC). A referida caugtio é um docu- mento no qual se insere uma garantia de aprovagao da quitacdo unilateral por parte dos outros credores. Se nao obtiver a caugiio, nao poder ser compelido o devedor a pagar, caracterizando-se como legitima a sua recusa. Todavia, se mesmo sem a caugiio prestar apenas a cota relativa a este credor, poderé mais tarde vir a ser compelido a pagar aos outros credores — evidentemente descontada a cota que pagou -, pois nao existe a solidariedade entre eles. Nessas situagdes, como ensina Maria HeLena Din, é de cautela que o devedor constitua os credores em mora ¢ promova a consignagao em pagamento pelo depésito da coisa em juizo.” O credor que agiu com celeridade e recebeu.o pagamento integral na prestagdo in- divisivel sera premiado ao ficar com o bem, poré reembolsara os demais (art. 261 do CC), pois recebeu o que lhe pertencia e-tainbém aquilo que ¢ompetia aos outros credores. Em razio da natureza da prestagao, nao sendo possivel’a restituig’o in natura do paga- mento, esta se dard em espécie,como expressaiiente-consagra a normasA nosso viso, © mais equanime seria-que qualquer dos.eredores pudesse exercer,a.sua co-titularidade sobre o bem e ndovapénas aquele que’sé precipitou em obter-o pagamento.” Assim, ha- vendo trés credores, tendo um'recebido'um cavalo de raga, deveré reembolsar a quantia correspondente a cota decada um, sob pena de expetimentar enriquecimento sem causa. Se houver recusa de alguns dos credores, caberd'aquelé credor qué recebet promover a. ago de consignagao em pagamento. DispGe o art. 291, do Codigo ‘de Processo Civil que ‘na’ obrigagdo indivisivel com pluralidade de credores, agitele qué nto participou do processo receberé a sua parte, deduzidas as despesas‘na proporedo,déséu crédito”. ANvoNto CLAUDIO DA Costa Ma- cHADO enfatiza que; para‘o exercicio desté’direito processual de intervencao anémala pelo credor que nio foi partes bastardque ingresse nos autos devidamente representado e prove a sua condigao para que 6 juiz lhe defira o levantamento de sua cota-parte, rateadas as despesas processuais, como custas ¢ honorarios.”* Havendo pluralidade de credores em relagiio juridica pautada pela indivisibilidade da prestagio, o fato da suspensiio da prescrigdo em favor de um dos credores aproveitard aos demais cocredores, pois nao se pode extinguir por partes um direito insuscetivel de fracionamento. A inviabilidade de separagao entre uma parte prescrita ¢ outra nao prescrita 72. DINIZ, Maria Helena, ef. Curso de Direito Civil Brasileiro, v. Il, p. 149, 73. Hamid Charaf Bdine considera que “em maior conformidade com a igualdade de direitos dos diversos eredores, solucionar a questio aplicando-se a0 caso 0 disposto no art, 1.322 deste e6digo, por analogia, isto &, mediante venda € partilha do prego”. In Cédigo Civil Comentade, cit. p. 207. 74, MACHADO, Ant6nio Cléudio da Costa, cf. Cédigo de Processo Civil Interpretado, p. 401.» 257 Cristiano Ciaves D¢ Farias & NELSON RoseNvALD 6 objeto de exame pelo art, 201 do Cédigo Civil: “Suspensa a prescrig&o em favor de ym dos credores solidarios, s6 aproveitam aos outros se a obrigagao for indivisivel”. Caso um dos credores delibere pela remisstio do débito, o perdiio nao produzira efeitos perante os demais credores, podendo qualquer deles exigir do devedor o pagamento, desde que abatida do valor total a cota do credor que efetuou a remissio. EverALDo CaMBLgR ilustra o art. 262 do Cédigo Civil com o seguinte exemplo: “o objeto da obrigacao € dar um cavalo a trés credores, sendo que um deles remite a divida. Os outros dois exigem pagamento que sé poder ser feito mediante a entrega, pelo devedor, do cavalo devido, Assim, se o animal vale R$30.000,00, a quota do credor remitente é de R$10.000,00. Os outros dois somente poderdo exigir a entrega daquele se pagarem R$10.000,00 ao devedor. Pois, se nao o fizerem, locupletar-se-4o com 0 alheio. A parte do credor que perdoou a divida deve, portanto, ser oportunamente descontada”.”* Apesar do dispositivo apenas tratar da remissao, aplica-se extensivamente as demais modalidades de extingao do débito, para compreendermos que a novagiio, a compensagao, a transagao e a confy- so do débito em relagio a um dos credores sao intercorréncias insuscetiveis de gerara extingao da obrigagao indivisivel. No mais, a perda do objeto nas obrigagdes indivisiveis acarreta a sua extingdo, em face da conversio da prestagio originaria no equivalente pecuniario das perdas e danos (obrigacao divisivel — art. 263 ‘do CC). Se a catisa da indivisibilidade repousar em Sua natureza, o perecimento do bem juridico reativara o principio genérico do fracionamento da obrigagao, ficando cada devedor responsabilizado tao somente por sua cota. Porém, provando-se a.culpa de‘tmy ou todos os.dévedores pela conversio da pres- tagdio indivisivel em petdas e danos, a solugao séré distinta, conforme preceituam 0s §§ 1° ¢ 2° do artigo 263 do Cédigo Civil. Sedo todos ‘os devedores,euilpados, sera o valor fracionado.entte todos, em partes iguais, provata. Mas se a culpa for debitada a apenas um dos devedores, apenas ele aféara com a pena privada, exonerando-se os demais das perdas e danos, respondendo apenis pelo, pagamento de suas cotas na formula geral do art, 234 do Cédigo Givil. Neste sentido, aponta © Enunciado 540 do Conselho de Justia Federal: “Havendo perécimento do objeto da prestagiio indivisivel por culpa de apenas um dos devedores, todos.respondem, de maneira divisivel, pelo equivalente e sé 0 cul- pado, pelas perdas e danos”: 6. OBRIGAGOES SOLIDARIAS Um por todos, todos por um 6.1. Nogdes gerais No exame das modalidades das obrigagdes o fendmeno da solidariedade se reveste de notavel repercussao, tedrica e pratica, Podemos extrair interessante conceito a partit da dicgao do art. 264 do Cédigo Civil: “Ha solidariedade, quando na mesma obriga¢40 75. CAMBLER, Everaldo, ef. Comentirios ao Cédigo Civil Brasileiro, v. Ill, cit. p. 139. 258

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