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Marcel Martin A Linguagem Cinematografica ‘Tradugao Lauro Anténio ‘Maria Bdvarda Colares Bratoro ‘Dial 205 Le ton Ca 1985, 185 « 200) ‘iol rigna: Le Lang Cininataraphiue ‘inked Lingegen emarrae ‘hur ane Mar ‘Trg Lar tne Maria ara Clae op: Cri Desien apna Mra Fi Aree Ges ism srs 54k Dept bea 2355805 Dads Der 2005 apoio atest Ieee “ao itor enced preguntas por ‘anon Oto Ramos 1 Tone Lisboa PORTUGAL ‘tan 20a 1874 na nena UMA LINGUAGEM CINEMATOGRAFICA 0 mo pip tras Hat dCs mito aie de prance.) Too preamp oar ea Prima ia dum ott digg a oso rsederexeplat leona cnr clinton de inmates Foi em 1971 que apareces em Portugal a primeira edigio tradurida para portugus de Linguagem Cinematogrifea, de Marcel Martin. Bea uma ed {0 da Prelo,com teadupio conjunt, minha e do meu querido amigo Vasco Granja ness altura teabalhévamos muito em equpa, sbretud na organize ‘0 dos Cielo Cinematgrafcns da Casa da Imprens, que acnteiam anv ‘mente na salas dos cinemas Alvalae e So Luis, psteriormente, no Impéro, ‘Aprimeia ego francesa desta obra sorgira em 1955, esgotara com rpide, ‘ consttuira obviamente um éxito editorial, ma fora sobretudo um grande triunfo junto de umn pilin einflojovem, qv ferompi com a frea de um ‘leo um poueo por todo o mundo, soretudona Europe patiularmente em Franga, com o eparecimento da nowele vague (que iia ter repecusses im ‘portantisimas por todas os continentes, om o eeladir e movimento de -nov0 ‘nema do Brasil as Repiblicasditas Demorétcas de Leste, do Canad e dos BUA Asia Esta obra tranformen-se um pouco na Biblia: dessa juventude ‘vida de compreender cinema e do o eonceber crativamente Por essa altura ndo abundavam as ecolas de cinema ainda que o IDHEC, em Paris, fosoe uma referéncia internacional, como ora igualente a Cine: ‘mateea Francesa, livres como ete de Maroc! Martin tinham e dom de en ‘Sins eros flmes, que ea por ess altura (ainda hj) a melhor forma " Antimneah aprcie am sta pertgsn,pi sl 196, de se aprender» a gostar de cinema e, por arrastamento, de fazer cinemas uitas grades de ovens apronera a amar o cinema lndo obras como esta vendo os filmes que ea esta refere Durante muitos anos edo portuguesa estoveengtada era impossivel ‘ncontéla, nem sequer em elfarrabistas. Quem tinha umn exemplar guards ‘ao cnsament (eu nem por sso, dado que emprestl hi mito ome aalguém ‘que a reclven guardar ciosamente ~ que Ihe tenha feito bom proveit, ¢ 0 ‘que desea. Foam surgindo muita egos em Franga, até ser publiada, em 1955, ume edigto revista e aumentada, eom a claboraga de Olivier Barro, ainda eserapre pela Eitions du Cart E esta edigdo que agora dada Aestamy ‘a pela Dinalivr, numa nova tradugo revista e aumentade, novamente em calaborapo, desta feta entre mim ea Maria Bduarda Caares ‘Marcel Martin foi um dos grandes eric, ensaistase hstriadoes de ‘inema de Franca, ombnesndo com nomes como os de George Sadoul, Henry ‘Ago etantos outros seus contmporineos. Este seu lv, tl om todas ‘bras referents aexclasesttiasenarrativas, tendo a desoctualiar-e, mas no a ser ultapassada.Desacturliza-e porque vo surgindo novos movitnen- tos, correntes autres. Ea li da vida. Mas o que fia ecrita sobre tudo 0 que ocorreu at & eclosto da nowslle vague nto perde a sua rario de ser, or ‘muitos ingulos novos sub os quais possa ver vst. Ness aspecto, a lige de Marcel Martin mantém toda a su actusldade vigor Osea trabalho de ‘anélise de muitas obras da épaca do cinoma mudo énotéel e mantérn toda a forga da sua argumentaioe intlgéncn. Camo é sade, durante esta epoca langaram-se os alieres de uma linguagem cinematogrifia que ainda hoje base deta a linguagem audiovisual, artcularmente de todo o cinema. Por isso, acompanar as ligds do Mareel Marin &acompankar 0 labornso ‘aminbo da cisco cinematogréica, da instivuionalizapio do regras eda sua ‘ultrapassagem crativaerevluionria * ra Sorin i sated ri ra ed 3c ot ul dar ‘ua Ohare Opin Vin Le Cine Pree, Le Cn Sue de ‘ircht¢Oarche Pris anne sg peta ora on in Sec nim narnia Ft ‘ean rset Pa [Agora que apareceram tantas escola de cinema e ainvisual, agora que 1h tants formas de prosseguir uma earreira lgada ao cinema e ao audio visual agra que o interesse pelo cinema eos nawes mis de eomunicasdo audiovisual suscita tanto entusasno, quanto mais nose entre o publica ‘que e quer eada vez mais informado eric, uma obra como esta tr toda a ‘ano para ser para se reditada dae rela, eatudadae dieu inclusive alguns aspects que podem ser polémicos nae nossa das hi, por exemslo ‘uma excessva tendnca para valorzaro cinema de Late, da URSS e Estados satdites que os tempos se encarregaram de reporno seu devo Inga LAURO ANTONIO PREFACIO [Nao so certamente muito mumerosas as obras sabre cinema que meio sé cul depois da sua primeira publiog, continua ager reeitadas Eo eato de ‘A Linguagem Cinematogrfic, de Mares! Martin, que se tranformou, eam © decurso dos anos, numa eepécie de gramitiea da 7 arte, na qual se aprendem ‘as proprias bases da sua excita, Para dizer a verdade,explorar je esta obra ‘conaitair, quer para eter prparado, quer para aqule que vai desabrir pila primeira vex eee texto, um mergulbo refescane no amor love pelo cine- ‘ma, Quando o livro saa, Marcel Martin no inka sindatrnta anos eo olhar ‘moderno, 0 noes, sobre os mes, mal completara os dex anos de exstncia Data do pis guerra, na epoca ainda recente, @epargdo em Franga do camen ‘rio simultaneamente estticn etcnivo de umm Andeé Besin sabe a pofun dlidade de campo, por exempla- a dein de uma abordagem quase moral 8s ‘ras de Roger Lenhart, orelee de um estilo de Alexandre Astruc(acaméra slo om 0 eboge imperfeito de uma metoelagi histvien de Georges Sadoul ‘edean Mitr. Mas em breve iro surgir as posiges demareads, injustas © tstimulantes dos olaboradores dos Cahiers du Cinéma, futorosanimadores da Nova Vaga. ‘Marcel Martin situa-se & margem desta referencias. Divoriad do mate- ialismo em flea, apaixona-se pels mes ants de os diseear esfrya-se por expicar a lio a sua estrutua, composi elinhas defrgaesttcas. ‘Mais prximo de Pierre Franeastel do que de Elie Faure, ele repraxima, ds se, reerda, mais emo ein do que coma erudit, spesar de «sua curio ‘dade no conhooer limites, Ao ls, apreendemas a medida da infinita com " plexidade da eserita einematogréfca, que se sprende ler, de uma forma til ‘coma wen Tinguagen descodifeada. E Marel Martin soube parr a tompo no ‘decive perigoso que conduzia na andlise ds flmes &tentaio do centismo, ‘esbogado na Sorbonne a partir dos anos cinquenta e formalizado depois de 1988 po Christian Metz eos seu epigonos ‘Dos Irmoe Lumiere a Wim Weaders, um séeulo de cinema € percrvido estas pginas,O seu autor viveu uma sede instil de imagens, um desejo amas satiseito de deserts, De bloo de natas na mio eal nafronte, ‘ssou a vontae ts quatro doinis da sue vida dentro das aala ecuras, rangois Traut em -Fahrenbeit 45, inspirado por Ray Bradbury, imaging- ‘a chomens-livros, Marl Martin um shomem filmes Ougamoo Olivier BARROT ADVERTENCIA DO AUTOR Desde a sue primeira edigo, em 1955, est Livro conbeceu um sucesso conetante porque correspond ix necssiades daqules para quem fai cone ido, os einéfilas todos os amantes do cinema que pretendem fundamentar 0 ‘sea inereseo aprofundar of seus cnhecimentos, Fi tradusid em dezasete Tnguase servi de manual em varias esclas de einema. Constitui ohalango do mais d trinta anos de frequénca asidua da Cinemateca Francess, dos ‘inches, das alae publicase da tclevsio eo prodato de indmerasnotas reciidas no dovorer das projepes: tendo saprendido- cinema unicamente ‘endo flies, quis fazer deste livo sintese de uma experinea paties de ‘inlo eum instrumenta de trabalho para dos ox que se queem insiae na tsticn do cinema e simultaneamente na sua histria. ‘Axlicando © principio sensato de Piere Larousse, para quem sum dizi rio sem exemplos ¢ um eagle, Haste @ discurs -pedagégio~ com ‘numerosas cities de mes desriasrigoosamente de modo a evidencar sen signin, na sequécia de ots eres, dentro de uma peapestiva ‘estética que ft, nomeadamente, a de André Basin, que eu eonsidero um dos ous meses eepirtuis, tl com Georges Sadol no que se refere ao mtodo historic. Nao cansidere relevante repeir aqui as conlusbes perks mente formuladas pelo semilogs, porque tentativa de aplicer uma disc plinacentifea,alinguisties, a uma actividade de eragdo artistic revelou sor ‘uma taefasedutora mas arrseads, na medida em que a farmulario das es a produ eda transmissao do sentido nao elimina omistéro eo milage da «riago individual o pipro Christian Metz reeonheceu os imites da investi go semioligia neste domina por isso que me limita afornecer wo ior, fm anexo, uma breve aordagem de questio. 8 Vericando o sbandono progressive de um bom mimero de procestos da linguagem cinemstogréfca, somos de inicio tntados a pensar que osu inven tari consttiri 0 diggnistin de uma espéeie de deny nfl eorrespon dente aos balbacios da Sétima Arte, ants que esta se conseguiss libertar ‘de alguns dos meioe de expressto que podem, com efit, parecer um pooco ‘etcoleresna sua vontadedeaplisar an cinema ets de linguagem que no «io mutes vers mais do que equivalentes misou menos apreximados dos proces- tos ais oa esritos, Maso desprendimento progressive da especfidade da Tinguagem filmic fi obviamente aeserado pela influéncia da televsio, que represent aquilo que me snto tentado a designar,parafraseando Roland Bar- thes, por ogra reo da ecrita filmica. Esta contaminacio tra conigo uma ‘banalizagio e uma uniformizagio que traduzem mais a negapio da linguagem do que a su eligi: cinema comercial égeralmente uma simples Ftodpia ta realidad, em vex da eriogio original de um univers especfin. ‘a liberlizagindeelichs esilitnse dramatirgicos que traduz a grande expos ds inci dos noe 6, a de virias nals wags e do cna diet, Imovimentoscenstivtioe de um novo cinema earactorzado po abandoaa da naira dos arcs tradcionis desert. Assim, a linguager cinematgré fea moderna, alimentada pela contrituio do relism em orl edo neo realisno em particle, tingia um etl detitudo de todas as imitapes que pderiam ‘onstituir os componentes do arsenal expressivo da inguagum trafic ' yor sso que omeu trabalho, para além do su ojctiv incl de elenear todos os procesoedeesritura filmes, deriva numa anise hisrica dos con iioalismosténicos, nteletuaiseheopitos da evel da linguagem: 56 ‘os fenmenoslinguistine funciona, aums certa medida, independentemente das circunstncias materiae temporais da ralizpio dos mes, ees ndo podem er delas separados sob pena dese ear numa arbitrariedade formalist, Porque eal da cinema, que 60 obectoessencial dest stud, se insereve no ‘inema do rel, isto 6, no conjunto das determinismos histricos e ideckgins dos qusis os fles soo espelho ou o motu. portanin, ete enquadraments ntelectaal quo mu trabao se Stun, tra- ‘lh ese qe temo objctie, antes de tad de fernecer ns cinfilos uma anise sitemiticaenrmtiva ds processns de expresso da lnguagem cinematogrifca “ Nota dos editores franceses A primmira edn dest obra, aparece em 1953 obteve um éxito Tisonge- row eegtou-se rapidamente,¢ mesmo scatecendo com as traduses pubic das em espanol, ponds, rasa e portugués” ‘Tendo em vsia 0 pblico que se destina essencalmente, ode amadares ¢ de cariosos de einem, os inéfilas, autor no quis reimprimir, exactamente ‘gal, um lvro que no pretendera aparecer como defini e que queria ser, primero do qe bdo, um instumento de trabalho ( presente volume ndo ¢, portant, uma simples rimpresso, mas uma nova eign, inleramente remedelada em fangaode cinco anos de expriécias ‘aquisigns ndditas que reforam ainda mais ocaricter do informagio cone ‘we de sintee orginal aque obra fou dvendoo sou éxito. "Ants ig ng prague ete he Se a deve Lia ia ‘ura Pee we ao ep au ti Apres et os ‘Revs rar ead ara inion ctl oie 87 1s Nota dos tradutores portugueses (O critrio adoptao par a tradago ds tus de filmes aber 0s 6 guintes prints: ~Procurimos dar o tu orginal do filme entre aspass titulo portugus sem axpasl significa quo fle teveexibigoem Por- toga como tuo refed, m0 ilo portuguts (entre aspas) epreenta a tradveo literal do titulo original, quando lingua de arigem ndo 6 fcilmentecompreensive pel itor portugués casos de rato, japonds inguas nirdcas, ete: Na maior parte dos ‘aan tats de filmes no exbidos em Portugal eontad, nesta dassifcasio ‘contra tituls exibidoscomercalmente ene ns, ou na elev, mas (qe ignortsmaso ilo da vero portugues. ‘Ar omitotese o¢ casos que no conaeguimas resolver, apsar dos nossos sfirgoe, eam em stapensn, até uma eventual nova edo da presente obra & ‘para a qual saiitemosaelaborago benéol do tor no sentido demo in ‘as inexactdescometias. Acaaoscouesros "A Pedro Barzos, que facitow & Dinalivr a primeira edigto de A Lingua gem Cinemategrifica, um objeto rar e precios, esonhou desde srmpre com ‘reed deste Tero 6 INTRODUGAO, _ No pi csr dir air i a vel amar, eriaent, or 0 Gena io una are Ser ene posto etna qu nati do cic, de sngt lice a recs coe sds, Pitto, «Capa Stn, «Gra ns Nora Sc traiemp mi atin i evecare humanidde? Sim, ale, pre atl argo parece Sac ages gue perience cnn one nae ‘ena de its Geng shane fl pend a guys cra ont sepa cena, treo aun ks ean satin, éabacitamest racnal ter per dope unmet ae 6 ‘ene land aint infested an Morir ip a ss re sn O enema 6 glade aru Tigao sum spore material ete sme dle ur saa presage pores mo Snermet sanins do cacaa eran denn nesen Sete Se vLablancie "=a Marta Adtran a ei amie oa ‘Tetons e's pain emt one rs pss Ge Non Croan ne Thess Bostic 181 poco tempo é que se enconta proteido pelo depssito legal e porque o dreito Toeral do cides qin no 6 rocabield;pirgoe 6 cineiderade arkes 8 td, ua mereadria,e porque oposuidr tem odireta de destear es flex coro muito bem entender; porque ets submetio aos imperativos dos coma ditéros ¢ porque em nenhuma das outras artes as contngéneias materiis téen tanta infltncia sobre a liberdade dos riadores 0 cinema ¢ futilidade porque 6 a mais jovern de todas as artes, nascida de uma vulgar tenia de reprodusio mecinica da reaidade, porque ¢ con siderado pela igwensa malaria do pico camo um simples divertimento onde eval sem eerinniay porque a censua, os produtores, os distibuiares eo cvibidres cortam os filmes sua vntade; porque a eondigbes do espectéeulo ‘Ho to lamentveis que no sistema de sesstesconinuas ae pode ver of an tes do comes, proectado numa tela que no eorrespande a formato do fle porque em nenhuma aura arte a concordinca critica ¢ tio dif deatngir ‘© porgue todas as pessoas se julgam suterzadae,tratando-s de cinema, ase consdererem jules. 0 cinema ¢facilidade porque se apresenta,« maiora das vere, sob as ayartncias do melodrama, do erotsmo ou davilénia; porque consagra, em srande port da sua produto, o triunfo da imbeciidade; porque é, ns moe das poténcias econimicas que o dominam, um instrumento de enbrutecimen- rca de sonbo> (Iya Bhrenburs, ro fuga desbobinendo& fara auildmetres d pia optics (Audibert Deste modo, vcie profundas contrariam o desenvlvimento etio d cinema; e, para alm so um pecado original vergonhoco pes sobre o UMA INDUSTRIA E UMA ARTE, FE conhecida a oiebre frm inl de -Eaqusse dune Peychal ima, de André mux: -De resto cinema 6 uma indistria.»O que 6 para Malraux, aparentemente verifcag de um evidincia,torna-s,noesprto de alguns afimagao do um vii redititri videotemente que cinema ¢ umn india, mas c consteugio das ctedeas foi quase tambem, materialmente flan, uma i ‘lstrin pela vos os meine tn tal facto nao impedia a ascensdn destes menuments no sentido da beler Mais do que o seu carécer industrial éo carter comercial que constitu um inconvenient para o cinema, pois a importinca do investments de ‘que necesita torn-ntibutrio dos forges econmicas para as quai dn regra de acy to do pbc, em virtue de ums hipottca lei de oferta e procure ‘a rntabilidadee que aredtam poder falar em nome faleado na medida em que «ora inflenca a procura a seu belo pret de serum indstrin pea gravemente sabe o cinema, moras deste conceit de indstia mais do que as materia, aq ao responses por Resumindo, x0 Felizmente qu tal facto nio impede «rua instauragio estticae que na avid ainda curt, o cinema prods suficientes obra-primas para que se tim arte, ma arte que conguisou s eeus me fos de expresso, e que ests completamente ive de infuénciae das para desenvlver as suas posbldadespréprias artes lem especial dott UMA ARTE E UMA LINGUAGEM Verdadeiramente cinema fi uma arte desde o princi It 6 viente na ‘ir de Matis para quem ocnema fi o mia, de recursos prodigoment i mitaos, de prssegui as sus expersncas de isnismo ede prestiitagio teatro Robert Hun: este arve desde que exit era original mesmo insinea a portird lernentosprimérioe nt expects, «Malo, ome inventor dh especticulcincmataran, tem dro o Wal de criadar da Stim Arte "Noa de mre, otto po original do cine, «evidncia 6 meno nda mas alee mais demonstrativa. Ao fara “Eire dun Train en Gare de La Cintat- (A Chega do Combo) ou -La Sortie des Usinge (A Saida da mente de reprodusir a reliade: contd esses paquens fe vstos hoe s0 Surpreendentementefotgénins. Ocarétar quake magico da imagem filmica ‘aparece com perfeita laren aelmara era uma esa muito diferente de uma simples oipia da realdade.Acontoceu 0 mesmo nas origens da hamaniade: te homens que exectaram as gravurasrupestres de Altamira eLascaux no tinham eanscéncia de fazer obra de arte eo sea in ers puramente uit, ‘ois tratave-se de assegurarem uma expie de dominio mgio sabre os ani- tna selvagens que eonsituiem a aus subsstncia. Tdavia as suas crages fazem hoje porte do ptriménioartistco mais precinso da humanidede, Paortanto a arte etev,no inicio, ao servigo da magia eda religto, antes de se torn uma atvidde especie criadora de beleza, Iniialmente expe ‘ela filmado ou simples eproduao do rel, cinema tarnan-poucn a pouro ‘oma linguage, isto 6, um proceso de conduzi uma narratvae de veielar eis: os nomos de Griffith de Eisenstein oo prinspais marcos desea evo lpi que se fe pela descobertaprogrestiva de processus de expresso Mimica cada vez mais elaboradose,sobretue, pelo apefegosmento do mais expetico de todos es: montagem. UMA LINGUAGEM E UM SER ‘Tornado lnguagem gragasa uma escrita propria, que se incarn em cada realizar sob forma de um estilo o cinema tansformou-se, po ese mative, ‘num meio de cmunieagt, de informa, de propaganda, oque nao consti, tvidetemente, uma contradiio da sua qualidade de ar, ‘Que o cinema & uma linguagem, eso que esta obra pretende demonstra, “analisando os inumeros rocesos de expres qu si uilizados por ele com ‘uma maleablidade e uma ein compurveiss da inguagem fads. Noen- tant, esta afirmago io foge&controvési. Clare que, ab diversas formas, ‘iris ators contribuiram para isso. Assim, para Jean Cocteau, cum filme {uma eserta em imagens, enquanto que Alexandre Arnoux eonsiera que “ocnema & uma linguagem de imagens com o seu voabulérn proprio, sua olan exes, elipees, convenes, gramatien; Jean patein v8 nele oa lin 2 ‘gua universal, Louis Dll firma que sm bom ime é ur bom teorema> Por outro lado, viras obras fram consagradas, om titulos expos ono, ‘Tinguager imi Mas poer-se- verdadeiamente considera que o cinema seja uma ingua- ‘em dctada da malesilidde edo simbolsmo questa ng imple? Chen Seat lo parece aereditar nisso quando exrove: Desde qu e trate de reencontear 0 rasto da dsiplinas da inguagem convecional na agit transbordante das imagens flmiese,sbretudo, se 4 tenta procurar qualquer mei de secundar ‘estas disiplnas de secundar o su estabelecimento, &necessirio admit, pri nei do que tudo, evidentemete, que a flmograia snda no ulrapassoy uma ‘ra de harmonias imitativas Os nose fmespertenceram, por assim dizer, dade das nomstopeas visualise vnoras, das primitivas evveagies directs, sae sigoosingémooe seam chamadoe para uma oganizagio mais labora 4, por eonsoquincia, ara echo institirneles précis uma espécie de ‘aovenconalismo.. convenient aeresentar, claro, que ocarieterprimitvo quer der, no fndado na ments im, a passagem da afetvidde & dela € muito menos cert e muito menos evident Quantosespectadores no permaneceram neste nl sensorial e en ‘imental perante o cinema? O cinema, repto-o, 6 ums linguagem ques tora nocesari deifar muitos espectadres, glues dticnse passives, nunca conseguem digeri sentido das imagens Por outro lad, esta attude sensorial epassiva no é uma atitade exit, pesardeeu jt te defini este segundo nivel de vealidade da imagem come sendoo gra esti da sua apo, Porque ainstauracioestéie supe a cone ‘linen clara do poder de persuasioafetiv da imagem. Para qu exist ati tade estétin 6 ncessrio que aespectador mantenha uma certa distancing, ‘que no areditena reaidade material eobjectva daguilo que aparece na tel, ‘ue saibaconsientomente que ests diane de uma imagen, de um reflex, do 36 ‘um espectculo®. No se deve deixar conduzir &passvidde total perante 0 fascinio sensorial exerido pea imagem, nem deve allenar a consiéeia que tem deve enentrar diante de uma reaidadeem segundo grax: com esta nica ndiio, «de salvaguarda da literdads na partipagd, a imagem 6 verda ‘diramente aprceida com uma reslidade esttiae o cinema surge na su sfirmagio de arte e no de io® * oni qu enn tm tn et ‘Seaham ns tl arp & prema as nt ~Shanae esa cine ae rina agar ssn © tempeh rem a is pt ns SRENNaa tart te Cds owns apna pp 91182 6 2. O PAPEL CRIADOR DA CAMARA eps dete defini oe caractresgeris da imagem, ¢ agora necesério tstudar as mndaldades da sua eriago, sto ¢, papel da cimara na soa fan- 4 de agente activo dorogiet da realidade material ede eragio da realidade fica. Alexandre Astruc eccroveue este respeita: «A histirin da denice cine- ‘matogrfica poe ser cnsierada no seu conunto como a hstria da iberta- soda cimaras.”B, com efeito, exact qu eemancpasio da cimara teve ume ‘importénei extrema na histria do cinema. O nascimento do cinema cma arte data do dia em que os realizadorestveram aideia de desloaro parelha de filmar no decurso de uma ena: as mudanges de panos, dos quae oe mov ‘mentos do aparelb nio costtuem sendo um easo particular (notemne qe 1a base de qualquer mudanga de plano ha sempre um movimento de eimara, tfectivo ou mantdo virtualmente) estavam iventadase, por consequénca, 2 ‘montagem, fundamento da arte cnematogafc, Baseiosme em Georges Sodoul pera dar algumas informegies ténicas «que permitam esborar uma histéra sumdria desta ibertato, Durante muita temo manteve-se cémara fix, ima imobildade que crrespondia ao ponto evista doespectador da plate que asite a uma representa eatral. Eis ‘raga subentendida, ada unidade de onto de vista, que guiou Melis, erie doe ecundoe genial, long da su carreira. "Lan Pen n° 1,3 Jah e186 a [Nii obstante, desde 1896 que ofr tum operador de Lumitre ao cloear a elimara numa gindola em Venes fm 1905, em sLa Passion: (A Paixio de Cristo, de Zeea, uma panorimica ‘guia © movimento dos Reis Magos chgando ao estabulo de Bolém. Mas 6a um ings, G.A. Smith, reprsentante daguilo que Sadoul denomina a Escala ‘de Brightom, qu abe o mrt de ter, em 1909, bert a car do se imo- Diismo, modeando © port devsta na mesma cena ao pasar de um plano para ost Num certo mero dees relists desta paca, Smith passa ‘muito lvremente do plano gral eo primeiro plano, sndo ese ultimo, de rst, apresentado timidament, como se fsse umn trugue, vst através de uma lente tu de un mondeula, Smith, esereveu Sado, -ompleton uma evel de: ‘va o einem, Superoa a dptin de Edison, que 6a do tatripi o do teatro de marionetas, de Lire, que 6 do graf amadcr snimando uma das ‘suns provas,a de Malt, que ado eepetadar da plata. Achmara tornow-st ‘mével como ole humano, como o ola do eepectador ou como o obo do her do filme. Amara 6 entao uma eitura em movimento, etiva, uma persona ‘gm do drama, O realizado impte os diverospontot de vista ao espoctado Abandons-o0 paleo tela de Melis, -O espectador da plata sabe num tapete vader." 1 fora inventad espontaneamente ‘Daim dante a cimaratransfarmou se no aparaho fexivel de rgisto que ‘onhovemos hae rimeiramente i cloead wo servgo de um estod cbjetve da acy odo conor reordamo-nos dos travelling qu explora os pales do -Cabiria- (Cabra), ox do eee traveling de Intolerance ntlerancil, onde a cimara do Grifith, edaeada num bal, percorriaogigantst cenrio de Babin. Mas em seguida exprimiu patos de vista cada vez mais -subje tivos através de movimento cada vet mais sudaioos, Assim,em-DerLette Mann Ultimo ds omens, cimara.irompendo ram vertiginono traning para frente, materalizn no espa a trajetria das palovrns de uma eriada que cone ama viiniha as novidades do prio, Alguns anos mais tarde, em La Chute dela Maison Usher-(A Queda da Casa Usher a cdmara de Jean Epstein parece arastad, untamente cm oa fthas alas ao sabor de um vent Frise, enquanto Risenstein, com wr feroso ng paras frente, conferia ao seu aparebo o pont de vista de um touro ‘recipitando-se para uma vaea Staruye i Nowayes~ «A Lina Geral). Quanto ‘Abel Gance, nfo eontente em utilizar para a fmagens de -Napoons (Ns ‘edo mara miniatura encerradas em bos de futebol eprojctadas no ar ‘oma a fssem balas de canhi,e pretendendo conseguir o porto de vista de ‘uma bla de neve, orden, pelo que diem, que se lagassem cimaras parts tei através destin, Ox comarairins,ingietos, pretenderam amortacer 0 choguewestenderam redes, bel Gance pretest:

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