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Antonio Padoa Schioppa Histéria do direito na Europa Da Idade Média a Idade Contemporanea i wmfmartinsfontes 11 ap rod Iles 2p BsIO Our OFU 2 C e ‘osnue o sassou y 049s :sassvj9 sy *T vorpunt BANIIND B 9 souMISOd SE *¢ 46 HISTORIA DO DIREITO NA EUROPA A tripartigao entre “quem combate, quem reza e quem trabalha” (Duby, riormente fracionada no interior de cada uma das trés categorias de homens, era subdividida em mais camadas distintas. A mais alta e mais poderosa nobre; costuma confiar o cargo de conde e, Eo cea © minus €piscopal, 4 gt dos bispos ja se dava nos circulos dos membros d t cal He a catedrais, depois erg ae pelos figis ¢ confirmada pela sé metropolitana. A escolha do candidato regta, sobre os expoentes da aristocracia local Muitos entre os grandes senhores alcangaram, entre os séculos IX e X1, um pp nada inferior ao do re, especialmente no territ6rio do Reino de Franca. Por sa yet Zaloeal menor vinculada&nobreza maior peo lag da fidetidade feudal etularda ea senhoriais auténomos, fortaeceu amplamente as pr6prias prerrogativas quando ax ong, incursdes dos hiingaros ¢ dos sarracenos provocaram em grande parte da Europa q consthy Go de milhares de castelos munidos de muralhas para se defender das plhagens.A pop Confiou-se aos senhores dos castelos nao s6 por questdes de defesa, mas também ata oes cicio de importantes funcdes publicas, a comecar pela administragao da justica Eo poder julgar (distritus), que jé era aribuicao dos condes, estendeu-se para os senhoreslaaises Je um acontecimento de grande importineia,porge marca o limite extremo da privatizacao dos poderes publicos na Alta Idade Média, Os sen rios rurais, eclesidsticos e leigos tornaram-se tao fortes que passaram a dispor, em via defy 1984) ¢ A ais za, O re. Cala, quase ie disseminou pelo territério. Trata-se dos poderes de plena jurisdicao civil e penal - poderes que os diplomas soberanos, requetidg ¢ obtidos, frequentemente confirmaram -, arrc dade de alienar a ndo-se ainda, sempre em via de fato, afigl rceiros esses mesmos poderes e direitos: a esse respeito, chegou-se afl de “alodialidade do poder” (Tabacco, 1970]. Os senhorios sobreviveram em muitas regibesd Europa até o final do século XVIII Nessa época, é muito rek a génes¢ ulo X, de uma série deptin cipados territoriais, formade onqui rescente autonomia de duquest de condes diante do poder régic s (Saxénia, Francdai Baviera, Suabia) formaram-s« ite sobre bases étnicas, como seus proprios nome indicam, mas por vezes também sot < como ocorreu na Austria; em 1156 ela foi constituida co | » por meio da concessio imperial ao duque de exercer afi digao ciyil e penal, de autorizar ¢ 5 das justicas inferiores, at incluiiaatt nian transferir esses poderes livremeni Na Franga, um complexo de cerca de 50 entre ducidts e condados (Flandres, Normandia, Bretanha, Anjou, Toulouse, Auvergne, Borgonha, efi outros) modificou completamente a geografia institucional do Reino pos-carolingio, Um pit: cesso que indica, de um lado, a fragilidade do poder régio, mas que, de outro, teve o efeitae femover as guerras privadas do interior dos principados [Fossier, 1987] Desse arranjo € que partira a monarquia capetiana para conquistar, em um empreeti mento de séculos, o controle do territério 2. Os costumes locais edo ditt dural cor Mencionamos muito suMariamente al dos séculos IX ao XI para enfatizar come séculos sobre a Europa da Idade reram essencialmente por meio Com efeito, © costume nao é, como geralmente se imagina, um fendm um fenomeno dinamico e plastico, isto é, suscetivel, em longo prazo, de transforma fundas e as vezes imprevistas. Ha costumes que refletem estruturas sociais, interess® Iguns desenvolvimentos da sociedade 9 essas transformacoes, destinadas a pesa! a Média tardia e até dos primérdios da Idade Modem’ dos costumes. : io eno estitico, &* oes Pl 5, yl! © Privilegium minus, in MGH Constitutiones, vol. I,m. 159, p.221 DARA ANTIGATARDIA A ALTAIDADE MEDIA SECULOS XD 47 eeeeeieice difundern oe eeP° & determinado lugar, outros que se transformam, outros mais que se difundem rapidamente até lugares remotos com relagio a seu ponto de origem. Hi outros costumes que, por assim dizer, abrem caminho por forca propria a partir de baixo, rare Tec nPOStOs ese instalam pela itrsistivel pressdo dos poderes exstentes. dade Media gue tanisDl°s #8Pectos sio bem visiveis na experiéncia do direito da Alta Se cee suum Por essa raz20, pode ser qualificada como a era dos costumes. 0 século IX ao XT a Europa conheceu a crise do sistema da pessoalidade do direito. O adensamento das relacdes entre individuos de diferentes estirpes suscitou complexos proble- mas de conflito entre leis, que foram em parte solucionados com a adogio de regras especifi- cas por via legislativa. Mencionemos o édito de Liutprando, que permitia abandonar nos contratos a lei de estirpe e adotar a lei do outro contraente. Para o direito penal, Pepino sancionou 0 critério de fazer pagar a multa com base na lei pessoal do ofendido'™. E repetidas vezes os carolingios reiteraram o principio da pessoalid Radlett da lei!**, Mas, em muitos campos, o problema de identificar a lei ou o costume aplicdvel & questao permanecia irresoluto e de nao simples decisao. E célebre o texto de Agobardo, bispo de Lyon, no qual, no século IX, ele lamentava o fato de que “cinco homens se sent i m juntos e nenhum deles tem em comum com os demais a lei desse mundo, enquanto nas coisas perenes esto todos ligados a tinica lei de Cristo’ Por vezes, as diferencas entre varias leis podiam ser simplesmente de forma: como nos modbs previstos para a transmissio da coisa no ato da venda, que variavam na lei romana, na lombarda, na silica (segundo a lei silica, por exemplo, a fraditio era efetuada pela entrega simbélica ao comprador de uma faca ou de uma luva)'”, Contudo, em outras matérias, as di ferencas eram de substancia, como acontecia que no direito lombardo reque riam, para se tornarem irrevogaveis, a entre imento, o launegild, diferente mente do direito romano; ou no caso da s que era mais favorecida pelo direito romano do que pelo direito lombardo; ou no caso do sistema das penas, que pu diferentemente, por exemplo. s de furto de estirpe romana s de furto de estirpe lombarda"”". Foi quando se difundiu, em muitas regides, a pratica de declarar, nos negécios, a prépria lei a que o individ tencia (profissio de lei), para estabelecer previamente qual direito se prete Mas a questio principal, o conflito entre leis pess ou a uma solugao por um ca- minho novo. Justame a ce énci: a lado, no mesmo territério e no mesmo lugar, de niicleos populacionais perten 1 estirpes diferentes provocou, em longo prazo, o fend meno da formacio di tum: ais cc ns a todos aqueles que viviam no lugar. Nos cor tratos agrarios, nas praticas d ao por mot Je mor nas $ or atos ilicitos e tes e depois do em muitos outros ano Mil, numerosos documentos que atestam costum ulados a uma tinica aldeia, as ve zes até mesmo a uma tinica parcela de terra (“usus terrae”). A determinacio do modo com que cada um desses costumes se formou as permanece na obscuridade, também pela lacunosidade dos documentos. Mas F uficientemente claro que o teor dos costumes Liutpr. 91 Capitulere Pippin, c.4 ( I jo anc Ut unusquisque homo suam legem pl at conservata” (a | onan ae in Capitularia requ Francorum, 1,n.25 m dso, 0 cp id Caro Magna a ta, que prescreve a aplicacic i ri cum Kar. M143, in MC Tore Bowes p51. a a A 3,4 (MGH, Epistolae V, Karolini Aevi Ill, Berlim, 18 5 Aa Ee iio venditionis (rg. Bluhme, in MGH Leges IV, p. 61 Para o direito romano, a pena era respect : a fom wr to lombardo, o édito de Rotatio estabelecia para o autor de um furto em niio manifesto (Inst. 4. 1. 5); para o direit hae lca para autor de un lagtante a pena do nénuplo, a que se acrescentava uma multa d Tage RO i oeucnen es or dificadas, primeiramente por Liutprando, depois pelos carolingios. em seguida, as sanges f m repetidam A HHRLOA re tanita pea HUME reflete parelalmente n direita da etnia prepanciersnit portanto, ele esté geraln cog] do direica romana nas rogides de prepe mderane ia | latina, proximo da tradigéo Jomo sty Aeveltdriog mais intenmamente Jambardizados ~ e, em parte, por outco lado, refler, dang, «da normativa consuetudindria feudal gy © ex . " vimmas ne AR xg pe © tealislacles nav, came vines | lierenciacla dle un lugar para autre e ver da Co que linparia 6 0 fata cle ques durante enres tres séculos, do IX a0 XI, emg igualmente especificos, que tupiam todos no mesmo hu nine fora ae farmanda eoaturnes fv rma de erg formule notary dos gua lacemogsagee at 1 Beene races a pals por vezes também das possiveis inhas de cond gual mo Alternatives a praxis, No cana cla Franga, Hina pag gem do Formulario de Marculfg finpia’” «costume dos francos, assimilado pela Lei Sahat ‘ monte aa aceulo VIL, declara avces em detrimento da filhas mulheres, ge” Ie) 12 Vist, ucessio os filhos winiag, de favarecer ma 8 Ea eave ae cutay io win dom de Deus!” Na Tilia, © Cartularium Langit Mae Bee aati farmlas = de compra 6 vende, divisio, compromisso de pagamento.e oun 19 i enon que vivern reguncl a lel romana ou segundo a Jet lombarda!, Eye me Bm ite a falta cavos de contaminagio entre as duas lei; em um ato de 1050,q aa zor ae e declarade cantare & lek romana, mas 0 doador recsbe 0 laxnegild, 0 dom tigen sur (radio lombarda co pot Nesee process de formagio dos costumes locals, que se situa entre os mats desta re fen ees re hatla zeit ca Alta Tdade Média és aspectos devem ser sublide a Foes aaa rcla, leve-se observar que nessa época o pluralismo atingiu na Bugg, par aivel iui inten, preeisamente em virtude da extrema fragmentagio dos costumes le Ee Hae ara ntacie nao re refere aos tragos fundamentals do direto: nos conus Wi 4 agnirios, mudan de acordo com o lugar algumas clausulas sobre as prestages a pagar see Ee iaeisraligaes da locagi, sobre as obrigagdes do colono para com o proprietario; nas doa ae por motive de morte, yvariam o requisitos formais e substanciais da cess; no process, yay papel e 0 modo «le juramento das partes ¢ das testemunhas;e assim por diante, Masa iy tdncia juridiea nie muda 3. Deve-ae ena uniformidade fundamental a duas raz6es convergentes: de um lado, sec dade curopela da Alta Idade Média é fundamentalmente unida por uma fé religiosa comm portanta, por valores comuns, do quais se proclama portadora uma Igreja que também éus | $30 : {dria na douteina © na estrutura organizacional € pastoral, por outro lado, a sociedade esi op unida durante esses séculos por uma economia que também é substancialmente homogéna nal, porque preponderantemente camponesa (Duby, 1972], nao citadina (as cidades em alguns ee : Fepldes curopelns quae desapareceram, ¢ onde se mantiveram, como na Italia, diminuiranes | 122 comparagilo com a era antiga tardia), Por todos os lugares, encontramos uma economia ns co io artesanal, nem comercial, Essas silo caracteristicas que induziram a afirmar [Lupoi, 19% me que essa 6 crt na qual a Europa conheceu verdadeiramente um direito comum consi oe Ho, Inclusive a Inglaterra que, no século XII, destacat-se-d do modelo juridico do contines a ne ‘in segundo lugar, o principio da pessoalidade da lei nao desaparece, porque os cost : ‘operam essenclalmente ali onde os textos das leis - romanas, lombardas, carolingias ¢ # par por diante = nilo dispoem. A preponderincia da lei sobre os costumes (que fora, entre out thi Coisas, aflrmada por Isidoro de Sevilha') foi, em varias ocasiGes, reafirmada pelos seb" oy 1! "Diuturna sed impia inter nos consuetudo tenetur ut de terra paterna sorores cum fratribus porcine . ‘habeant; sed (,..] sleut mihi a Deo aequales donati ests filli, ita et ame setis aequaliter diligendi et de res” Cap ‘youn discessum acqualiter geatuletis" (Formularium Mareulfi, 2. 12. Org. Uddholm, Uppsala, 1960) "™ Curtularium Langobardicum, MGHL, Leges IV, org. Boretius, p. 600: a 1% Codes diplomaticus cavensis, Millio, 187341879, vol. Vy. 828 i 4 Isidoro, Etymologiae, 2.10, org. Lindsay, Oxford, 1962; “Consuetudo autem est ius quoddam mare pe tutu, quod pro lege suscipitur cum deficit lex.” Oton condena o mos detestabilis do pesibtis vols 1, Constitutiones, “© ay hipdteses em que as causas deviam ser decididas por meio do duelo (in MGE ao 7). creme selctieiadiieeaaaaiie DA ERA ANTIGA TARDIA A ALTA IDADEAUHDIA SECULOSNND 49 desse tempo; entre outros, por Pepino e Oton I's, Uma enérgica tomada de posigiio contra 0s costumes que estivessem €m contraste com os ditames da ética e da religiiio remontava até mesmo a Tertuliano ¢ foi varias vezes retomada na Idade Média: Cristo afirmou: “Eu sou a verdade”, nao “eu sou 0 costume”!”, Mas a prépria insisténcia de quem reafirma o primado da lei mostra que opor-se a um costume arraigado era frequentemente impassivel, Com efeito, até o periodo comunal, estario copresentes mais leis ¢ mais sistemas normativos em uti Mes: mo territ6rio: por exemplo, em Milo, ainda nos séculos XII e XIII, as fontes confirmam a coexisténcia de leis romanas, lombardo-francas e de costumes municipais. Enfim, 0 processo de formagio dos costumes locais, dotados, como dissemos, de valor territorial e nao mais pessoal, fez-se acompanhar de uma subte mas nem por isso me nos relevante, reafirmagao de regras e de institutos préprios da tradi¢ao romana [Calasso, 1954]. Foi justamente observado que, nesses séculos, 0 proprio direito romano sé conservou junto as populacdes latinas, mais pela via consuetudiniria do que por meio da lei eserita (Pit zorno, 1934]. O exame dos atos da pritica — por exemplo, no tema de sucessdes, com 0 Tes surgimento do testamento unilateral ao lado da doagio por razio de morte que prevalecera por séculos; ou na formula da permuta [Vismara, 1987], assim como em outros contratos Mostra em muitos casos essa tendéncia romanizante. Desse modo, mesmo no procedimento judiciario surgem derivados da tradigao romanistica instrumentos novos, testemunhados a partir do século X, como a investitura salva querela, um meio processual muito eficaz, que petmitia ao proprietdrio a recuperagao temporaria da posse de um imével que tivesse perdido em caso de contumicia do acordo'”®. inea, , da tradigio juridica latina, provavelmente nao teria sido possivel o grande e quase enascimento do direito romano por obra dos doutos juristas do século XII 3. Notarios, jutzes, formularios Se os séculos da Alta Idade Média foram dominados pelo costume ¢, em menor propor a0, mas decerto nio irrelevante, pelas leis dos povos germanicos e pelas leis romanas, qual foi 0 papel da cultura juridica? A resposta é simples, visto que esse papel foi seguramente margi- nal, ainda que nao tenha sido inexistente. A sociedade e a economia eram tipicas de um modo preponderantemente rural, as florescentes cidades antigas tinham se reduzido a poucas cen- tenas e, as vezes, a poucas dezenas de habitantes, o articulado sistema de poderes do Império tardio se despedacara. © poder civil era exercido por festritas oligarquias pertencentes is etnias dominantes. Os clérigos e os monges eram quase sempre os tinicos que sabiam let € escrever. Em um mundo assim, nao € de surpreender que nao houvesse espaco para um direi- to articulado e complexo como era o direito transmitido pelos textos da Antiguidade tardia, nem para uma elaboragao teorica das normas legais. Na enciclopédia do saber da Alta Idade Média, o direito nao tinha autonomia. Ele fazia parte do complexo das artes liberais: quanto a0 contetido, constitufa uma parte da ética; Guanto as técnicas, ligava-se & retorica e a dialética, segundo modelos culturais detectiveis, por exemplo, em Isidoro de Sevilha"” que remontam & cultura antiga. Nem mesmo a funda- “Ubi lex deest pracellat consuetudo, Er nulla consuetudo superponatur legi” (Pippini Capitudare, . 10, in aera la felons, \ Gn PL 2 889). Quase mil anos depois, encontramos a expressio no De- ret de Consens (D. 8 5), por meio de uma extensa série de autores intermedhios. E depois nos canonistas do Pr eed Lengobardicum, 20-21, “quater sit noticia salvae quaerelae", in MGH, Leges IV, org, Bluhme, . m hidoro, Exymologjae, 224, org. Lindsay, Oxford, 1962. uROPA 5 pinsrt0 NAF 50 iusroniA DOD! ada em 825 por Lotirigitt in, determin act t ng acto a0 diteto enosjygt , formagio destin 1 compilagao justiniana limitam-ge tnt re hao sem OMISSGES € LOS bey aM vi amada Summa Pepys a chamaca Swrema Perini escolas de € fo de escolas de est iin 1979], consept! » interpretag’ de ince primitivOs orre, Por exemplo, com ba r central, que Exper em ew proposigdes o cong Jana praxis judicidria das abina até o inicio dos Glosas as Instituigdes'™ ¢ as Novelas, sendoayi uilo VI pelo jurista Juliano, Profs SO ty implificados € vias leis, Ls 0 que & Ville a teil sno e que foi utiliza ‘ainda com as ompostit no sé et, que remonta do Cédigo justini XI, Isso € 0 que S€ PI velas conhecidas nat Constantinopla"™ Todavia, as leis germ eee near sod gom os documentos PENAGDS EET A sito que se pratica por melo ai ani um drt a Fo, cata juricn desaes sulon 668 af hancelaras leigas ¢eclesidsticas ¢, sobretudo, dos notiosropatitios pra-venda, doagdes em caso de morte, permutas, enfiteuse, alos ¢ i a assim por diay minados por pessoas fisicas. Exatamente por meio do notariado foram conservadis y As vezes com anacronismos impress proprios do direito antigo Pave eatintas!® — € aquelas que aplicavam as normas disk efundiram para a praxis os costumes juridico iy verrtos, A esse tespeito, Sao particularmente indicativos os for mularios notariais que, no cay da Gilia, atingem um bom numero", a comegar pelo de Marculfo, que remonta ao séeus VIP", Para a Italia lombarda, € fundamental uma coletanea de formulas pouco posteti (talvez do século XI), 0 chamado Cartularium Langobardicum'™. ‘As atas negociais e processuais, mesmo redigidas em um latim corrompido, préximod vulgar, nao sio frequentemente, de modo algum, destituidas de substincia juridiea, Nasps mutas, por exemplo, desde o século VIII, figuram nas atas formulas de derivagao roman ht exemplo, quando a permuta é qualificada como contrato “de boa-fé” [Vismara, 1987]!".E que acontece também nos processos da era carolingia, nos quais se percebe claramente ts cessiio dos procedimentos prescritos por leis e costum ‘0 a justica, apresentagio ds garantias (vadie) por parte dos ltigantes, exame dos documentos e das testemunhas ded vio os sant, juramentos prestados pels partes pelas testemunhas, pronunciamentod ube 2 varios casos, nao falta nem mesmo referéncia direta ou indireta as normas d tee seuss ayanies ox an locw sad do reino italico normalmente pertencem As Bier eee cccnd elmente, juizes profissionais, qualificados como “juizes do Saat Pere inal oupecior do reino, Tanabe imperial e estarem ligados ao Palatiume debe ‘ambém para os noté ass dagio latina das quais ja falamos, eram escritas; & esc ritas em latin, 0 as atas judiciais que chegaram até nds, leixar de conter elementos de tty, &a cultura dos juizes, dos esctlyy rogatirios dos negécias gy finicas, det formulas dos atos juridicos nantes, quase achados fdsseis ¢ germinicas. Por obra delas também se tr (0s, a qualificagao “notitios do» % Capitulare Olonnense,c. 6 (C L nse, c. 6 (Capitularia regum Fran 1" OmissGes ¢ erros sao indicios importantes err pert a Pe cto sblinpasa os hisocadore porque frequentemente permitem coms 8 Adnotationes Codicum domini lustiniani (Summa Perusina), oo Pistoia contém glosas a0 Cédigo: La Glossa pittoieve al C cade del Scienze Torn, 788) “La Glossa torinese, org. A. Alberti, Tur La Glo 10 erti, Tarim, 19 Taian Epitome Latina Novllrun org eens Bair um testamento provindo de Ravena, do ano 690, 0s testemunhas do ato (Die nichiliterarsche lteinische Papyn tahoe ren 8 seca a Le 1959, Assn em alguns documentos de Piacenza, datados doaedke gee oot 45 700; 088: J. O vont apo Justiniano dois scuos antes (Calasso, 1954] século VIL, que ainda menclonam a mete °® Formlse on. K. Zeus, in MGH, Legum seco V, Hy 8P-Marculf formulary, or. Udahol, Uppal, 1960," M886 Cartularivm Langobardicum, org. Blubme, in MGH 1 1 Aum em dns ates eraser asin en Bras gees Hannover, 1868, p. 600-10 771, com rel as glosas foram escritas. he fe on F; Patetta, Roma, 1900, Um mans al Codice giustinianeo, org, L. Chiappelli, in “Memorie © in sci Bile ‘asamuari, org, A. Alberti, Milito, 1957 aenel, reimpressiio Osnabriick, 1965. ee ae AERA ANTIGA TARDIA A ALTA TDADE MEDIA tSECULOS 0) nu cro Palacio” foi conferida pela autoridade imperial, lk ocleeicledelehett través da delegacio atribuida durante séculos aos condes mello. 4, Os uizes de Pavia e a Expositio Por volta do final do século XI, 0 quadro muda. Depois de cinco séculos de silencio, manifesta-se na Italia, quase repentinamente, a presenga de uma nova cultura juridica voltada para 0 estudo dos textos legais. Um texto que chegou até nds por meio de um tinico manus- Frito feito em escrita beneventana do século XIII oferece um testemunho de valor excepcio- nal: o autor desconhecido, atuante na Itélia setentrional, escreveu por volta de 1070 um co- mentario analitico & coletinea dos éditos lombardos e dos capitulares destinados Italia’. E, : ao fazer isso, registra, entre outras coisas, as opinides de um grupo de juristas ¢ de juizes dos quais, as vezes, cita também o nome. Alguns deles — por exemplo, Bonfiglio — encontram snfirmacao nos documentos da mesma época como juizes do Sacro Palacio, o Palatium de Pavia, capital e sede do supremo tribunal do Reino italico. A leitura das sentencas subscritas F por esses mesmos juizes, algumas das quais chegadas até nés, demonstra que elas estao atrela- : | tc rigidamente ao Formulério tradicional e nao permite suspeitar a posse da refinada cultura i \ E | b t t juridica que, a0 contrario, o texto da Expositio documenta ‘A Expositio ad Librum Papiensem examina centenas de capitulos de Rotario, Liutprando, Carlos Magno, Pepino e dos demais reis itélicos, até Oron I. E empenha-se nao apenas <9 explicitar 0 alcance juridico de cada capitulo, mas também e sobretudo em juntar conteado ‘com 0 dos outros capitulos que tratam da mesma matéria, com a finalidade de estabelecer qual é a disciplina a ser aplicada, considerando por isso a coletanea como um Ginico texto le- tal, Frequentemente o autor do comentario limita-se a declarar que a norma posterior revoga (*rampit”) a anterior, ou que esta fica revogada (“rumpitur”) por uma norma subsequente: a {ual se remete. Mas, em muitos outros casos, a argumentacio € muito mais sutil. Por exemplo, em tema de furto, o édito de Rotario estabelecera a pena do nénuplo e ainda uma multa’”’, enquanto um capitular posterior de Carlos Magno prescrevera contra © Jadrao uma série de penas corporais!™. A esse respeito, refere o autor do comentario, alguns juizes consideravam que a disciplina carolingia substituira a disciplina lombarda, ao pass que 0 jurista Hugo (que aparentemente também era juiz) era da opinifio de que as penas decretadas pelo soberano carolingio sé eram apliciveis se o ladrao nao tivesse condicoes de pagar”. Os exemplos de tal procedimento sao realmente numerosos [Radding, 1988]. TE mais: na Expositio, encontram-se centenas de referéncias especificas aos textos da com- pilacio de Justiniano: ao Cédigo, as Instituig6es, as Novelas, talvez também ao Digesto [Diur- fi, 1976]. O autor recorre & lei romana quando uma questo nao encontra solucao nas leis Jombardo-francas, ou seja, em caso de lacuna do Liber Papiensis que as contém. Como na . passagem em que a justificagao da remissao € expressa assim: “Devemos acreditar mais na autoridade da lei romana do que na retérica”™. Aqui, pela primeira vez, a fonte romana € 1 Exposto ad librum Papiensem, 018, Bets, in MGH Leges 1, Hannowe, 1868, Pp, 290-989, ™ Roth. 253. 1 Comte Haritallente, 12 (Capitlaria regu Francorum, ia MGH, wo. In.20, p49) = Captulare italia Kar. M. 44 (org. Boretius, MGH Leges IV, p. 494). iO epee od Libnum Papiensems, alRoth, 292 $9 (ore, Boren p. 364), Eiogo fundamentara saa te na fe ‘mulagio do capitular carolingio (nota anterior), que dispunha “ut pro prima culpa [latro} non moriatur”, de modo che os unten segundo Fiuga;apenesaipare(isal do.csitula 237 da Hottio/ ine euabeleaa aban bt Hythe pate gases ne pudesse pugs, o nbauplo 6 ania Arguments sl iy Hib iellasEte ger area fato de que Carlos Magno ditara seu capitular no contexto do feino franco. "* Expositio a Oton I, 3 § 14 (org. Boretius, P- 573). Notemos que, no caso em questo, o apelo lei romana é ealizado pelo autor da Expostio para sustentar a possibilidade do recurs 29 duelo (portanto a respeito de um ins- ttuo tipitamente gennanico) em umn caso no qual ojurstae juin Sigeredo considerava 0 contritio. jtaria em relacao a argumentos mer = NG i a jade” considerada priorit foaa = come aout ‘casos, essas remis 2 aos pods justinianos so motivad : severando que a lei romana é “lei geral det cd : (“lex Lip jis omnium’ tang nic giode importancia impar, que én nduzida pelo autor aos a ou seja, a08 juizes ¢ ih tas do tribunal supremo, & portanto remonta a primeira metade do século XI. Sabem jue coutras fontes que, n@ Lombardia, estudavam-se as eis seculares: isso € atestado pela bj Py de Lanfranco (1010-1089), nascido em Pavia, mais tarde nomeado abade do moste ogra, mando de Bec € arcebispo de Cantuaria’®®. cine > Cant de interpretaglo textual das qua Tmo: ind My Devemos observar que a velmente novas no context da cultura da Alta Idade Média, sao empregadas pele : Ap ; re Os paveses exclusivamente para @ anilise e a aplicagao dos éditos lombardos e dos capit Hig . 8 Capitulares que, porém, eles mesmos conber - ian Liber Papiensis), sem referéncia aos textos romano’sy Resta, todavia, 0 fato de que no proprio coragao, da Lombardia o direito jus Serra no séclo XI cst subsiiio velagio as leis lombardo-fran ee cans det um seeulo antes de, em Bolonba, surgit 8 & Be ee Ah centro de seu novo método de estudo.

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