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i CAPITULO 7 Projeto e Processo de Projeto Tim McGinty eS Este capitulo, o primeiro de vérios que cobrem 0 projeto arquitetdnico, apresenta uma vista geral do projeto e do processo de projeto sem advogar qualquer ponto de vista em particular. So revistas numerosas atitudes contra 0 projeto e o processo de projeto, incluindo o formato bésico da entrega dos servicos sugerido pelo Instituto Americano de Arquitetos. Finalmente é inclufda uma pequena seco de técnicas aplicéveis. O cap{tulo é apresentado com pleno reconhecimento de que a arquitetura acontece dentro de um largo contexto social, ambiental, econdmico e de comportamento, e de que 0 projeto e 0 processo de projeto respondem a esse contexto. Projeto Projeto, no contexto da arquitetura, é simplesmente a atividade de criar propostas que transformem alguma coisa jé existente em algo melhor. (0 projeto pode ser visto com um processo de trés partes que consiste de um estado inicial, um método ou processo de transformagao e um estado. futuro imaginado. Essas trés componentes também definem as funcdes do projetista arquitetonico — identificar problemas, identificar métodos de conseguir solucdes e implementar essas solucdes. Em termos mais praticos, essas fungdes so programar, gerar projetos alternatives de construcdo @ implementar os planos." Projeto na Instrugao Embora 0 projeto uma atividade de bases amplas abrangendo tudo desde as artes visuais a engenharia, a geréncia de negocios e ao estudo da légica, continua desatendido 0 potencial para uma introdu¢o unificada 160 20 projeto. A maioria das escolas de artes dé aulas do que chamam de es projeto basico que so ministradas a todos ~ pintores, ceramistas & c pscultores. Essas aulas bésicas introduzem uma série de experiéncias visuals i fundamentais e solugdes de problema. Em algumas escoles, arquitetos, 1 urbanistas, projetistas industriais ou de produtos e projetistas de interior ths juntam-se aos estudantes de arte no mesmo programa de projeto. M tipicamente, contudo, os cursos bésicos de projeto para arquitetos séo ensinados em escolas de arquitetura. ‘© modelo para uma instrueSo integrads de projeto foi a escola THT i | Le ‘alemé de Bauhaus, antes da 22 Guerra Mundial. Os professores da Bauhaus conduziam uma Oficina inicial e um programa de estudos visuais para todas ‘ag artes, Estudantes de arquitetura, de pintura, de danca ede teatro compartilhavam a experiéncia do projeto bésico. Os professores @ 0 ‘currieulo tiveram uma tremenda influéncia nos Estados Unidos com a imigragdo da faculdade para os Estados Unidos durante e depois da ‘28 Guerra Mundial. Ironicamente, enquanto Frank Lloyd Wright, o grande arquiteto americano, tinha pouca influéncia na educaedo arquiteténica nos Estados Unidos, a publicacdo de sua obra na Europa influenciou grandemente muitos projetistas europeus que haviam comecado na Bauhaus, Néo obstante, os padrdes e as diretrizes de educacéo arquitetdnica nos Estados Unidos, a partir da 22 Guerra Mundial até recentemente, foram claramente influenciados pela Bauhaus. ‘A Bauhaus foi, em parte, uma reacdo a orientacdo tradicional de - © processo do projets instrugao arquitetnica oferecida pelo sistema dé Belas-Artes da Franca, O sistema de Belas-Artes, com seus estudos iniciais de estilos classicos, teve sua origem no século XIX e continuou na Franca e nos Estados Unidos como uma forma predominante na instrucdo arquitetonica até cerca de 1955. O sistema de Belas-Artes diferia dramaticamente porque enfatizava o estudo da arquitetura histérica como um padrao’para a arquitetura do futuro, a0 invés de um estudo de prinefpios abstratos como base para o projeto arquitetonico. A Escola de Belas-Artes tentava preservar e garantir a autoridade das formas historicamente comprovadas, fenquanto a Bauhaus promovia uma pesquisa para formas e soluedes Unicas que refletissem tanto 0 tipo do edificio projetado como os materiais @ métodos de construgdo. O estudante t/pico das Belas-Artes projeta construcdes que devem ser levantadas em pedra, enquanto os projetos dé, estudantes da Bauhaus so para concreto, aco e vidro. Ambas as escolas R= ESTADO REAL influenciaram a arquitetura nos Estados Unidos, mas a Bauhaus 3 = ESTADO IMAGINADO influenciou mais nitidamente a instrugao de arquitetura de meados dos ‘ anos 50 aos primeiros da década de 60. sss = PROCESSO \Varias alteracdes adicionais influenciaram a instruc nos tltimos | ; quinze anos. Primeiro, passou-se a dar menos énfase aos aspectosde = tengenharia da arquitetura como conseqiiéncie da necessidade de uma 6 instruco mais ampla de artes e ciéncias e & prética extensa da arquiteture, {que agora inclui projeto e planejamento urbano, gerenciamento de negécios, gerenciamento de construgio,marketing e outras coisas mais. ‘A instrugio de arquitetura, como a prépria profisséo, expandiuse, incluindo uma base mais ampla de conhecimentos e especializac6es; agora ndo se espera mais que todos os estudantes de arquitetura venham a ser projetistas arquitetonicos. Conseqiientemente, hé menos énfase na tecnologia, nas estruturas e nos projetos de ediicios como se fossem @ Unica alma da formaco de um arquiteto. Certamente, alguns estudantes {talvez até a maioria) podem e se especializam nessas areas, mas ndo com a exclusdo de ume formacdo mais ampla, 161 Uma segunda grande mudanga nos dltimos anos tem sido 0 surgimento do estudo do comportamento humano como base para o inicio de instrucdo de arquitetura. Tradicionalmente os arquitetos tinham que fazer varias suposig6es sobre o relacionamento entre suas construgdes € 0 comportamento humano. Agora eles podem dispor de algumas ~ informagées comprovadas que apdiam ou desafiam essas suposicdes. Assim, esto integrados na maioria dos curriculos de arquitetura os cursos bésicos de psicologia, sociologia e antropologia e cursos aplicados de comportamento ambiental.) = Uma tercetra inovaco, embora menos generalizada, na formagéo inicial de projeto aconselha uma imersdo total num problema de projeto de editicio para um contsto inicial-do estudante com o projeto: arquiteténico, |sso é um contraste com a maioria dos curriculos introdutérios, os quais separam os varios assuntos que os arquitetos manipulam — social, visual e técnico — em cursos e experiéncias introdutérias separades. O currfculo tradicional tenta garantir que cada princ{pio seja compreendido antes do estudante tentar integré-los. A finalidade da imersdo total é exatamente o oposto: os estudantes primeiro ‘aprendem pela experiéncia a apreciar os problemas e 0 desafio de uma experiéncia integrada para preparé-los para os cursos subseqtientes nos ‘quais os princfpios thes sdo ensinados, Finalmente, hé uma tendéncia para iniciar a instrucao de projeto pela instrugdo do processo de projeto comrio uma experiéncia abstrata, X énfase estd na solugdo do problema criativo como s¢ énsina nos cursos de légica ou em cursos introdutorios de resolucao de problemas na engenharia, muitas vezes chamados projetos de sistemas. A meta é fazer do estudo de projeto e de soluedo de problemas a base da atividade intelectual da profisso. Essa estratégia foi estimulada por mudancas na pratica profissional nos anos 60, quando os arquitetos se viram contratados para resolver problemas de gerenciamento, programacao e outros _ problemas no diretamente relacionadas com o projeto e a construcdo de edificios. Contudo, o estudo em estiidio, onde o estudante se concentra no projeto de um nico tipo de edificio para uma regio especifica, aindaéa modalidade dominante de ensino empregada para desenvolver as habilidades do estudante para o projeto. Teoria do Proceso de Projeto Embora um grande niimero de disciplinas, tals como projeto de sistemas, logistica, planejamento e engenharia, tenha influenciado a profissao de arquitetura, 0 processo de projeto, como uma érea distinta de estudo, nao recebeu a devide atenc&o até os anos 50. Mais tarde, o Design Methods, de, J.C. Jones (1972), identificou 0 estudo do processo de projeto como uma pesquisa de métodos que viessem melhorar a qualidade do projeto? A maioria das atividades subseqientes nessa érea de métodos de projeto tem sido feita na Inglaterra, Escécia, Austrélia, Checoslovaquia, Poldnia ¢ Estados Unidos. Os métodos e a estratégia racional nos Estados Unidos podem ser atribufdos a Christopher Alexander; As suas Notes on the Synthesis of Form (1964) tiveram um grande impacto sobre as atitudes dos professores e sobre os estudantes. As palavras-chave na visio que Alexander tinha do processo de projeto séo.atomnéstica e ajustagem. Assim como todas as coisas materiais do universo so formadas de blocos bésicos de construsgo (étomos), também a arquitetura 6 composta de 162 OOOO OSHC HSSOHHHEHHHHHHEHESCHHHHCHHHHOSHBOECO eo | componentes bésicos. As exigéncias de um ediffcio podem ser atomizadas corvecuzides aos elementos mais simples. As solucBes podem ser obtidas ou ce stru(das de combinacdes apropriadas desses pequenos elementos. A ‘ela de que os problemas poderiam ser reduzidos a uma longa lista de ie nosculas part/culas de informacdo criou um interesse crescente do papel Jp programacdo de projetos. Programas que inicialmente eram simples fists do salas e tamanhos de salas tornaram-se descrigBes extensas de sHementos funciona, relacdes e necessidade de desempenho, Esse Jesenvolvimento ocorreu tanto nas escolas como na prética da arquitetura vAjustagem foi o termo usado para descrever a montagem apropriadé das partes atomizadas de modo a preencher as necessidades prescritas do ‘problema, O.casamento entre uma atividade e um meio ambiente é 0 que © pode chamar de ajustagem, Em Community and Privacy (1963), escrito Srparceria com Serge Chermayeft, Alexander descreve um processo de procura de combinac6es entre grupos de exigéncias chamades econstelagées”. A meta desse processo é desenvolver uma hierarquia adequada de entrosamentos entre exigéncias e solucdo tisicat ‘A mais recente obra de Alexander e seus colegas também focaliza as combinacBes chamadas “padr6es”, os quais sfo mais ou menos andlogos $s moléculas, Um padrdo é uma coleedo de ajustagens num s6 grupo que apdie uma atividade ou um comportamento especffico. O produto de recentes estudos nesse sentido 6 chamado de linguagem-padréo*. A linquagem.padréo 6 geral no sentido de que se relaciona com uma variedade de situacdes, e no com um determinado tipo de construcdo. Contuido, também é especffica no sentido de que sugere solucBes formais para fungées particulares. Embora possa parecer a alguns que a linguagem padrdo infringe a capacidade inovadora do projetista, ela resume informagdes tteis sobre o comportamento das pessoas em grupos especificos de atividade funcional. Certamente vai bem alm dos padrées tradicionais da erquitetura, jé que introduz uma informago de apoio além do fato de advogar uma recomendacdo espectfica, ‘Varios outros pontos de vista e novos valores tém dominado também co enfoque do ensino de projeto arquitetonico nas dltimas décades..O primeiro é 0 de dar forma ao projeto. Grandes arquitetos como Frank Lioyd Wright, Le Corbusier, Mies Van der Rohe e outros sf0 admirados por suas contribuieées criativas. O trabalho deles é visto como 0 produto Go génio pessoal, e 0 papel da escola é visto como sendo o de ensinar os prine(pios gerais de suas obras e o de cultivar qualquer semente de genialidade que possa existir dentro de cada estudante. Os estudantes, por sua vez, devem absorver esses principios de projeto, desenvolver 0 seu ‘énio e dar contribuigdes subseatientes de forma & arquitetura. ‘A segunda tradicSo é incorporada ao termo “atquitetura funcional”. | ‘Aqui parte-se do principio de que hé uma eficiente e funcional configuracdo para qualquer programa proposto. A configuracdo de um projeto é baseada em atividades que devern ser acomodadas ¢ 0 Telacionamento entre essas atividades. Um projeto de sucesso erruma esses elementos, alistados ou retirados do programa ¢ contexto num arranjo : eficiente. ‘Uma terceira atitude que afeta o ensino de projeto é chamada 0 ‘'dom inio da arquitetura’”. Essa atitude sustenta que 0s aspectos funciona ‘de um projeto sdo relativamente féceis de resolver e devem ser ee subordinados as questées mais diffcels, As caracteristicas especficas ou atributos que transformam uma proposta de projeto em “arquitetura”” variam de escola para escola. Dois temas tipicos mas diferentes nessa 163 28 4 2 2b 15 249 26 zo 16 24 26 a 26 6 2S W A. CAOS APARENTE: PROBLEMA NAO-EsTeUTURADO «© B. CONSTELAGAO: Constelagdo: estruturanio de problema tradig&o sGo "ediffcios como s{mbolos” e a “satisfagdo do usuério”. Os edificios podem ser apreciados como importantes artefatos que satisfazem ses usuérios porque simbolizam algo que os usuarios valorizam. Monumentos como o Lincoln Memorial, em Washington, s8o valorizados ido porque eles funcionem bem mas porque simbolizam importantes valores do povo. Outros edificios também podem ser simbolos, ou ter significado simbélico, e podem ser projetados de tal modo que apresentem uma imagem apropriada e encerrem um significado especial para 0 publico, Da mesma forma, o projeto de edificios pode focalizar formas que ‘acomodem apropriadamente as necessidades imediatas dos usudrios, Infelizmente, muitos ediffcios fracassaram sob esse aspecto, ¢ o fracasso de muitos edificios financiados com recursos publicos — de residéncias a prises ~ é em parte atribuido a impropriedade de seu aspecto e do que ‘esse aspecto simboliza, bem como a capacidade de satisfazer 0 comportamento e as necessidades das pessoas que Ié habitam, Todas essas tradicdes e atitudes de projeto muitas vezes existem dentro de uma determinada escola de arquitetura, especialmente se a escola est4 ligada a ou inclui planejamento urbano, arquitetura paisagista, projetos de meio ambiente ou psicologia ambiental. Embora essa variedade de pontos de énfase possa apresentar alguma confusdo para o estudante iniciante, é claro que 0 campo da arquitetura é muito amplo e complexo para ser englobado num Gnico enfoque. 164 PROBLEMA ESTRUTURADO Uma variagio final do ensino de projeto envolve uma atitude do corpo docente sobre 0 papel do projeto dentro do contexto mais amplo da prética de arquitetura, Algumas escolas podem ver o projeto como.o foco _ central da pratica da arquitetura, esperando-se que cada estudante se torne tum projetista “afites de mais nada’. Outros assuntos do currfcuto passarn a ser subservientes ao projeto. Algumas escolas véem 0 projeto como uma atividade mais geral para resolver problemas e aconselham os estudantes a se concentrarem simultaneamente em vérias reas, inclusive em estruturas, sistemas ambientais, projeto urbano, economia e comportamento humano ‘tanto quanto nos projetos, Outras escolas ainda vem o projeto e os métodos de projeto como apenas uma dentre vérias éreas especializadas do estudo, permitindo que os estudantes (especialmente a nivel de pés- gradugdo) omitam completamente o projeto de edificios em beneficio de ‘outras areas académicas, como a hist6ria da arquitetura, a critica e os métodos de pesquisa. Dada a ampliacSo da arquitetura, é 6timo existir tal variedade, mas os estudantes deve estar atentos ao tipo de escola que selecionam. PROCESSO DE PROJETO ‘A descri¢ao do processo de projeto como indo do estado inicial para um estado futuro imaginado nao explica completamente a8 atividades elaboradas 20 longo do caminho. Essas atividades so descritas nas secBes seguintes, primeiro como um proceso de cinco passos_¢ depois como um arranjo contratual e finalmente como uma lista de perguntas aos estudantes, ae ‘Os Cinco Passos do Processo de Projeto O processo de projeto, como ensinado e conceitualizado nas escoles de arquitetura, inclui um mero de passos para resolver os problemas em seqiiéncia, Basicamente, os passos sS0: iniciaco, preparacdo, confec¢do da proposta, avaliacdo e ago. As variacées tipicas de um certo nimero de fontes podem ser vistas na Tabela 7-1. Iniciagdo. A iniciagéo envolve 0 reconhecimento-e-a.definiglo.do— problema a ser resolvido, Embora se julgue que os arquitetos devam identificar os problemas e as oportunidades, a tradicdo 6 o cliente trazer 0 problema ao arquiteto, Como sugere Jane Holtz Kay, “um cavalheiro espera ser consultado”’ A imagem tradicional é o cliente entrando sem ser anunciado no escrit6rio para dizer aos arquitetos que eles foram os escolhidos porque o cliente admira 0 trabalho deles. Tanto o cliente quanto 0 arquiteto sabem que esse ndo é 0 processo usual. Os projetos so : uase sempre escolhidos apés uma entrevista competitiva. Algumas vezes as entrevistas so abertas a qualquer um que preencha qualificacdes minimas, e algunas vezes o cliente limita as entevistas a trés ou quatro firmas previamente selecionadas. Os arquitetos também tém comecado a tomar mais iniciativas fazendo contatos com clientes em potencial, ¢ muitos constitu‘ram associagdes de trabalho com incorporadoras, principalmente nos campos comercial e habitacional. Embora pouca promogao tenha sido aprovada recentemente pela AIA, uma variedade de 165

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