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PAULA MAGESTE
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Nos últimos cinco anos, Oliveira e Moll avançaram nesse mapeamento. Os dois
classificaram os principais tipos de agressividade encontrados em 279 pessoas com
distúrbios neuropsiquiátricos. Por meio de um teste desenvolvido por Moll, batizado de
Bateria de Emoções Morais (BEM), e com a tecnologia da ressonância magnética
funcional, concluíram que o cérebro de alguns indivíduos responde de forma diferente
da de uma pessoa normal quando levado a fazer julgamentos morais, que envolvem
emoções sociais, como arrependimento, culpa e compaixão. Diferentes das emoções
primárias, como o medo, que dividimos com os animais, as sociais são mais
sofisticadas, exclusivas dos humanos - têm a ver com nossa interação com os outros. Os
resultados preliminares do estudo sugerem que os psicopatas têm muito pouca pena ou
culpa, dois alicerces da capacidade de cooperação humana. Mas sentem desprezo e
desejo de vingança. 'As imagens mostram que há pouca atividade nas estruturas
cerebrais ligadas às emoções morais e às primárias e um aumento da atividade nos
circuitos cognitivos. Ou seja: os psicopatas comunitários, assim como os clássicos,
funcionam com muita razão e pouca emoção', traduz Oliveira.
LISTA DE SINTOMAS
Elaborada pelo canadense Robert Hare, ela é um instrumento importante de diagnóstico (seu
uso isolado, no entanto, não basta para determinar se alguém é psicopata ou não)
Desembaraço/charme superficial
Sentimentos insuflados de importância pessoal
Busca por estimulação/sensibilidade à monotonia
Mentira patológica
Manipulação e chantagem
Ausência de remorso ou culpa
Emoções superficiais
Ausência de empatia com os outros
Estilo de vida parasita
Controles comportamentais precários
Promiscuidade sexual
Problemas graves de comportamento na infância
Ausência de objetivos de longo prazo
Impulsividade
Irresponsabilidade
Incapacidade de se responsabilizar por suas ações
Casamentos/relacionamentos de curta duração
Delinqüência juvenil
Violação de condicional
Versatilidade criminal
É claro que todo mundo tem seu dia de fúria e um pecado para esconder - uma trapaça
no jogo, uma mentira, uma baixaria no trânsito. Estar agressivo e violento é muito
diferente de ser agressivo e violento ou, em última análise, um psicopata. A doença se
caracteriza pela repetição, desde a infância ou há pelo menos dois anos, de atos anti-
sociais que lesam os outros, sem remorso nem culpa. 'O psicopata assassino é frio e
calculista, mas o comunitário é afável, agradável, sedutor, carinhoso. A gente consegue
reconhecê-lo quando algo dá errado e ele fica agressivo', destaca Oliveira.
Essa ampliação do conceito de psicopatia para além dos muros das prisões leva a uma
conta pouco animadora. Se a doença, em sua forma mais crônica, afeta 3% da
população masculina e cerca de 1% da feminina (mais que o diabetes, com 1% a 2%),
os psicopatas comunitários devem ser bem mais numerosos. Além disso, eles passam
muito bem por cidadãos comuns com pequenos problemas de conduta ou falhas de
caráter. Principalmente em sociedades mais permissivas, como a do Brasil, que, não por
acaso, durante muito tempo foi a terra do jeitinho. 'Não acredito que existam mais
psicopatas comunitários aqui do que nos Estados Unidos, mas, num sistema que reprime
a violência, eles vão ter menos oportunidades', pondera Oliveira. 'Eles fazem a festa
justamente onde a estrutura social não é muito definida: em mudanças de regime, como
paladinos da justiça; nas igrejas, como sedutores líderes religiosos; na política, nos
ambientes ligados ao misticismo.'
O conhecimento é bom, mas o cenário que ele desenha lembra momentos pouco
inspirados da História, como os primórdios da Psiquiatria, com a onda de lobotomias e a
política de higienização dos nazistas. Lembra também Minority Report, livro de ficção
científica de Philip K. Dick, transformado em filme por Steven Spielberg, em que se
prendia o assassino antes de ele cometer o delito. 'Vai haver uma grande polêmica, uma
discussão ideológica com argumentos de nazismo para baixo', reconhece Oliveira. 'Mas
a possibilidade de identificar precocemente um psicopata é reconfortante para o cidadão
normal, que sai para trabalhar e quer voltar vivo para casa.'
Todo o mundo sente raiva, é agressivo ou perde o controle de vez em quando. O que diferencia a
pessoa normal da psicopata são a intensidade e a freqüência das crises, a desproporção entre o
motivo da explosão e a violência da reação. Os comportamentos ao lado são síndromes (conjuntos
de sintomas) que podem ter diversas causas - de uma simples noite maldormida a depressão. Mas,
nos casos extremos, indicam psicopatia
1) Síndrome de descontrole episódico: o sujeito tem pavio curto, rompantes que podem ser motivados
por coisas tão irrelevantes quanto uma colher que cai no chão. Durante o surto, ele perde o controle,
grita, ofende, vai na ferida, é mordaz. É capaz de agressão física e até de matar alguém. Depois da crise
fica cansado, envergonhado, moralmente arrasado. No caso das mulheres, há um subtipo, o descontrole
verbal episódico: elas falam sem parar, de forma agressiva. Também chamado de distúrbio exclusivo
intermitente, antes era conhecido como embriaguez patológica, porque a crise pode ser deflagrada por
pequenas doses de álcool. Há tratamento com inibidores de recaptação de serotonina (drogas da família
do Prozac).
Exemplos: Renato Mendes, vivido por Fábio Assunção, em Celebridade; pitboys, que não
necessariamente procuram briga, mas reagem violentamente por muito pouco
2) Indivíduo continuamente agressivo: encrenqueiro, tende a reagir
com agressão a tudo. É um perigo no trânsito, porque procura confusão,
provoca, pode até matar. Esse tipo e o descontrolado episódico são
passionais: seus atos são profundamente carregados de ódio e ira.
Exemplos: skinheads (foto) e integrantes de gangues, que saem
procurando briga