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PROCEDIMENTOS
Neste capítulo procuraremos tratar dos procedimentos aplicáveis à tutela dos
interesses metaindividuais de uma maneira geral.
2.1.2.1 Instauração
É instaurado, mediante portaria ou despacho ministerial a acolher
requerimento ou representação. O promotor pode baixá-la de ofício ou mediante
provocação de alguém, que represente ao Ministério Público pedindo
instauração de inquérito civil.
Caso não haja portaria para instauração do inquérito civil, não haverá
conseqüência grave, pois o inquérito civil é administrativo, não comporta o
princípio do rigor das formas ou o princípio da legalidade restrita. Trata-se de
mera irregularidade e não de nulidade capaz de inviabilizar o procedimento.
2.1.2.2. Instrução
Refere-se à coleta de provas, oitiva de testemunhas, juntada de
documentos, realização de vistorias, exames, perícias, enfim, a qualquer
elemento indiciário.
Existem dois instrumentos fundamentais para a instrução:
1) Notificação: trata-se de uma espécie de intimação. É uma ordem de
comparecimento para oitiva. Qualquer pessoa (obedecidas as garantias e
prerrogativas) pode ser notificada para comparecimento em inquérito civil, sendo
possível, inclusive, a condução coercitiva.
2) Requisição: é uma ordem legal de apresentação ou de realização de laudo
pericial, de diligências, de documentos, de objetos, enfim daquilo que for
necessário para a informação do feito. Qualquer pessoa está sujeita à
requisição, respeitados, evidentemente, os sigilos legais e as garantias
constitucionais.
Em resumo, se a notificação se refere a pessoas, a requisição se refere a
documentos.
O princípio da publicidade na Administração é a regra geral, mas devemos
observar a exceção feita no que tange a matérias sigilosas.
Há discussão sobre a quebra do sigilo bancário. Para a doutrina não há
óbice em quebra do sigilo bancário pelo Ministério Público, pois o sigilo seria
defeso aos particulares e não ao Ministério Público.
No entanto, para a jurisprudência, amplamente majoritária, o Ministério
Público não pode quebrar diretamente o sigilo bancário, uma vez que este só
poderá ser quebrado por meio de requisição judicial. As decisões dos tribunais
de São Paulo têm sido unânimes em exigir que a quebra do sigilo bancário seja
feita pela via judicial. São decisões de natureza cautelar.
A jurisprudência tem entendido que o sigilo bancário é protegido
constitucionalmente por pertencer ao direito de intimidade do indivíduo.
Por exceção, o Superior Tribunal de Justiça1 e o Supremo Tribunal
Federal2 admitiram, a possibilidade de quebra do sigilo bancário pelo Ministério
Público na hipótese de investigação de dano ao patrimônio público, sob o
fundamento de que não pode haver sigilo para patrimônio público, pois o dinheiro
é público.
O sigilo fiscal não tem a mesma garantia do sigilo bancário, assim, o
Ministério Público poderá quebrar o sigilo fiscal, por meio de requisição, em
qualquer situação.
Se a pessoa se recusar a entregar o documento que foi requisitado pelo
Ministério Público, a medida judicial cabível é a busca e apreensão, ou mandado
de segurança no caso de recusa feita por autoridade pública.
1
Superior Tribunal de Justiça, 4.ª Câmara, HC 302.111 - 3/0, rel. Des. Passos de Freitas, j. 7.12.1999.
Superior Tribunal de Justiça, 1.ª Turma, ROMS 8.716/GO, rel. Min. Milton Luiz Pereira, j. 31.3.1998.
Superior Tribunal de Justiça, 5.ª Turma, HC 5.287/DF, rel. Min. Edson Vidigal, j. 4.3.1997. Superior
Tribunal de Justiça, 1.ª Turma, ROMS 12.131/RR, rel. Min. José Delgado, j. 21.6.2001.
2
Supremo Tribunal Federal, AgRg em Inq. 897-5-DF, T. Pleno, rel. Min. Francisco Rezek, j. 23.11.94,
DJU 24.3.95, RT 715/ 547
Existe, ainda, a forma mediata de encerramento, que engloba a
possibilidade de “transação” no curso do inquérito civil. Ocorre da seguinte
forma: primeiramente é feito o “Compromisso de Ajustamento e Conduta” no
inquérito civil entre o promotor e o investigado, que deve ser encaminhado para
o Conselho Superior do Ministério Público para homologação. Se houver
homologação, o acordo está feito e o inquérito civil poderá ser arquivado. O
promotor acompanhará apenas o cumprimento do acordo firmado. Se não
cumprido, o promotor deverá executar o compromisso (que é título executivo
extrajudicial). É uma forma de encerramento do inquérito civil também, mas
nunca imediata.
Vale lembrar que o compromisso de ajustamento de conduta em matéria
de danos a interesses transindividuais é uma espécie de transação que foi criada
pelo Código de Defesa do Consumidor, cujo artigo 113 introduziu o parágrafo §
6º ao artigo 5º da Lei Ação Civil Pública, não obstante se trate de questão
controvertida na jurisprudência e na doutrina em razão do veto ao § 3º do artigo
81 do Código de Defesa do Consumidor que previa o compromisso de
ajustamento em matéria de interesses transindividuais de consumidores.
Em que pese argumentos contrários, o veto foi totalmente descabido de
razão, pois como vimos, o artigo 113 do próprio Código de Defesa do
Consumidor inseriu o § 6º no artigo 5º da Lei de Ação Civil Pública, prevendo o
compromisso de ajustamento, antes vetado pelo artigo 81 do Código de Defesa
do Consumidor. Este parágrafo 6º tem aplicação subsidiária até mesmo em
matéria de defesa do consumidor, com mais razão aplicá-lo aqui. Fortalecendo
os argumentos: o artigo 113 do Código de Defesa do Consumidor não foi vetado.
Diversas leis subseqüentes também admitem a composição.
O compromisso de ajustamento é para a adequação da conduta aos
rigores da lei, ou seja, nele não há disposição, renúncia de direitos. O autor da
lesão reconhece a sua conduta e assume o compromisso de adequá-la à lei.
Não há possibilidade legal de transação, acordo ou conciliação nas ações
civis de improbidade administrativa, como ordena a Lei 8429/92.