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CENSUPEG

GESTÃO EMPRESARIAL COM ÊNFASE EM GESTÃO SOCIOAMBIENTAL


DISCIPLINA: TÓPICOS ESPECIAIS EM LEITURA E ESCRITA
PROFESSORA: ELAINE CRISTINA ROSA
ALUNO: RENATO CARLOS MACIEL

Análise do filme: Narradores de Javé

O filme conta a história de uma pequena comunidade constituída de pessoas


analfabetas e que em determinado momento precisam produzir um documento escrito que
servirá para salvar a comunidade do impacto causado por um grande empreendimento.
Para a tarefa de produzir o documento escrito, a história do povo de Javé, a
comunidade escolhe uma pessoa, a única alfabetizada dentre eles, para exercer o papel de
escriba.
O escriba era a pessoa responsável por colocar de forma escrita as histórias
acontecidas, efetuar o registro dos relatos orais, documentar os fatos, ou seja, transformar em
documento escrito a história do povo de Javé, contada pelas pessoas da comunidade.
A história do povo do Vale de Javé não havia sido até então escrita mas existia através
da oralidade das pessoas da comunidade.
A oralidade precede a escrita, é de domínio de todos, é a forma com que os mais
simples tinham para construir e guardar sua história, sua memória, suas tradições. Vemos isso
ilustrado no filme no relato de como as terras eram tomadas e “escrituradas” em forma de
versos declamados no alto dos morros de onde se avistavam as divisas.
Ao relatar suas versões da história, as pessoas revelam possuir uma oralidade muito
rica, cheia de detalhes, fantasias que permitem ao interlocutor criar imagens mentais e
cenários relacionadas à história contada. Estes aspectos revelam que, apesar de analfabetos,
as pessoas eram letradas.
A criação de expressões e vocabulários próprios, a composição, memória e repasse de
sua história através da oralidade, são práticas que constroem o conjunto de características que
formam a cultura da comunidade e por isso podem ser consideradas práticas de letramento.
Ao tentar passar para a escrita as histórias contadas pelos narradores, o personagem
que faz o papel de escriba apresenta um processo de construção da escrita muito peculiar e
que o revela não apenas como um indivíduo alfabetizado mas também letrado.
Pode-se ilustrar isto, com a afirmação dele ao argumentar com um dos narradores a
necessidade de fantasiar a história contada: “a gente tem que aumentar o que aconteceu para
que quem leia possa acreditar no que aconteceu”. Tanto é assim que ele se vê impossibilitado
de transformar as narrativas orais ricas em fantasias e fatos heróicos em um documento
histórico, formal.
Claro que, além disso, outros fatores o impediram de escrever a história narrada como
a diversidade de versões ocasionada pela diversidade de leituras resultante das peculiaridades
de cada narrador e também a preguiça e irreverência do personagem Antônio Biá.
Podemos afirmar então que, no contexto do filme, a relação entre ser alfabetizado e
ser letrado está no domínio da técnica de ler e escrever, ou seja, todos eram letrados e
somente o escriba alfabetizado.
A escrita era técnica dominada apenas pelo personagem escolhido para o papel de
escriba e sendo técnica dominada por poucos, consequentemente representa uma forma de
poder e de domínio. Tanto que foi através da tarefa de escrever a história do povo que o
escriba, que estava isolado da comunidade devido a atos ofensivos, recebeu o indulto e a
oportunidade de redimir seus erros.
Ao relacionarmos o filme com a realidade contemporânea, podemos traçar alguns
paralelos: o fato de um indivíduo ser alfabetizado não o habilita a usufruir plenamente da
escrita, ou seja, não basta dominar a técnica de ler e escrever. Nossa sociedade
contemporânea demanda, além do alfabetismo, o letramento.
Para a pessoa buscar maior liberdade é necessário, além de saber ler e escrever, saber
também interpretar, analisar de maneira crítica, interagir com sua cultura e assim exercer seu
papel de cidadão com mais plenitude.

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