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SEPARATA DAS VOZES, ANO 64, N° 5, JUNHO-JULHO DE 1970 y ( = Alex Viany Quem E’ Quem no Cinema Névo Brasileiro quem é QUEM no cinema novo brasileiro ALEX VIANY A titulo de informagéo e de consulta, Alex Viany organizou para a Revista VOZES um “Quem é quem’ das mais destacadas personalidades do movimento do Cinema Névo (realizadores, fotégrafos e montadores). DURANTE a década de 1950, principal- mente de 1955 para a frente, um movi- mento de renovacdo comegou a tomar cor- po no cinema brasileiro, nfo sé em uns poucos filmes de longa metragem — ¢€ em uns tantos curtos que em muitos ea- sos ficaram inacabados e/ou inéditos —, mas também na critica e nos cineclubes, dispondo-se seus participantes, desordena~ damente, a provocar o surgimento de um cinema agressivo, inquieto, mais preocupa- do com 0s problemas do povo brasilei- ro, em particular, e com a sorte do homem no mundo, no geral, do que com quais- Quer questdes formais ou técnicas “Mas o que queriamos?” — indagava Glauber Rocha, que, passando da critica A. pratiea, faria em Barravento e Deus e 0 Diabo na Terra do Sol uma espécie de manifesto, depois de diversas ameacas de manifesto, orais e escritas, do movi- mento, numa das quais Miguel Borges cla- mava por um cinema-cinenia. Durante as filmagens de Mardacara Ver- metho, do precursor Nelson Pereira dos Santos, Miguel Torres mandou uma_car- ta em que proclamava, nos idos de 1960: “Num pais como éste (...), onde tudo € de Paulo Afonso e Amazonas para ci- ma, ainda existe quem queira fazer filme A Sueca, a francesa ou & italiana. Resul- fado: nao fazem filmes sérios; fazem {il- mes chatos. Nossa verdade esta aqui no Brasil, num pais subdesenvolvido, tecen- 342 temente saido da pré-histéria, onde todo © mundo age emocionalmente’ (...) Nés precisamos matar, violentar, inclusive com Tequintes de perversidade. Essa € a nos- sa barbara verdade”. O espirito do Cinema Noyo tomou conta do cinema brasileiro, transformando-o qua- litativa e quantitativamente. “O que a gen- te pode ver hoje”, disse Nelson Pereira dos Santos num balango do movimento, “€ que resultado principal do Cinema Novo foi a afirmacao cultural do cinema brasileiro”, dando-lhe “essa categoria de manifestagao, de expressdo de nossa cul- tura. Hoje, ‘o diretor de cinema esta no mesmo nivel de qualquer outro intelectual integrado no processo cultural brasileiro, © que nao acontecia antigamente, ou mes- mo ha dez anos”, Carlos Diegues é mais radical: “O Cine- ma_brasileiro (...) passou a adotar uma visio antropolgica do homem brasileiro. G..) Eu acho, de fato, que o Cinema Novo nao se integra na’ cultura brasilei- ra; eu acho que, neste momento, 0 Cine- ma Névo é como que o espirito. universal da cultura brasileira, € aquéle instrumen- to cultural que detém hoje o maior indi- ce de representatividade de uma antropo- logia brasileira”. Humberto Mauro, com seu Ciclo de Ca- taguases, foi uma inspiracdo; Nelson Pe- reira dos Santos foi o exemplo; e entre os findadores estiveram Joaquim Pedro de Andrade, Miguel Borges, Mario Carneiro, Carlos Diegues, Marcos Farias, Leon Hirsz~ man, David Neves, Linduarte Noronha, Ro- berto Pires, Glauber Rocha, Paulo César Saraceni. Situando-se na fronteira entre o velho e 0 névo, havia ainda Anselmo Duar- te, Roberto Farias e Alex Viany. E novos nomes foram sutgindo, a cada ano, to- mando 0s mais diversos rumos, realizan- do as mais ousadas experiéncias. Neste momento, Jiilio Bressane, André Luis de Oliveira e Rogério Sganzerla investem contra o que véem de errado ou detur- pado na obra dos vethos do Cinema No- vo. E serio logo desafiados pelos no- vissimos. Seja_ como f6r, torna-se cada vez mais eS eo eee eee nema Novo. Por isso mesmo, na elabo- racdo_déste cadastro, que tem a simples intencao de informar, fui muito mais aber- to do que fechado; e, se alguém ficou de fora, que reclame. Inicialmente feito para_a imprensa estran- geira, éste cadastro foi mais tarde am- Pliado para a Cinemateca do MAM (Rio); agora, € novamente ampliado, com a aju- da dos préprios interessados ¢ da Cinema- teca, para a Revista de Cultura VOZES. Quase certamente, haverd outras edicdes, revistas e aumentadas. Portanto, que me mandem correcies e adigées para a Ci- nemateca, d’ALMEIDA —— @ALMEIDA, Neville Nasceu em Belo Horizonte (MI- nas Gerais) em 1941. Comecou como cineclubista no Centro de Estudos Cinematograficos de sua cldade natal, freqientando. tai bem 0 Teatro Universitario de Midas Qerals. Fez um curso de produce cinematogratica no Cl- fy College de Nova lorque, 20 flim do qual trabaltiou como di retor de producto e assistente de direcao num filmezinho de tres minutos, Blackmall.. Ao. sair da escola, “co-dirigit’ im filme de Gezoitd minutos, That Night on the Bowery (1965). Voltando a0 Brasit, esereveu © dirigiy, em Belo Horizonte um filme em 16 mm, O Bem-Aventurado (1906). Outta ver nos BUA, atuou co” mo, diretor de produgao das se- qiiencias, nova-iorquinas de Fo- me de Amor, de Nelson Pereira dos Santos. ‘Seu primeiro filme de fonga metragem, Jardim de Guerra (1908), teve enormes di- flouldades comm a censura. No Plano imediato, pretende atacar inca projetos:’ Guard, 0 Ret da Zona, Piranhes do Asfaito, Amar For Minha Ruing, Fogo’ Selva- gem ¢O Bem-Aventurado (re- fomando neste ditimo, em tonga metragem, 0 fema de seu filme de 1966). AMICO, Gianni Nasceu em Loan (Itélla) em 1033, Eo Gnico estrangelro do radicado no Brasil que conse- guiu fazer um filme cl {te filiado a0 movimento nema Novo. Foi como dicetor da Rassegna del Cinema Latino- americano, entre 1900 e 1963, sob os auspicios do Columb num de GBnova, que tosiou cor facto com 0 pessoal do cinema bracilelro, organizando entio 0 livro Cinema Brasittano. Co- mo diretor de cinema, seu_pri- melro filme de curta” metragem data de 1962: If Sogno det Vin— ff, Fez depois Nol Insistiamo! (i964), Appuntt per un Film sut Jazz (1964), Le Rabble dell’ Ani- ma_ (1985), Paola (1056) e, em 1967-1968, ‘sob 0 titulo gerat de Al Yer’ 0. Samba, uma sérle de filmes sobre a misiea popu far brasiteica para a, televisdo Htallana. Com ‘Bernardo Berto- Weel, colaborou nos. rotetros de Prima della Rivoluztone (1903) © Partner (1968), atuando ain- da_ no primero" como ator © assistente de direodo. Seu pri+ melro filme de longa metragem € Tropici (1968), uma comoven- 344 te homenagem de amigo ao mo- yimento do Cinema Novo, No Brasil, também fez a montagem de A’ Vida Provisoria, de Mau- ricio Gomes Leite. ‘Seu primeiro Tonga-metragem italiano tem co- mo. protagonist. 0 brasileiro Joel Barcelos, ja utilizado em Tropic. ANDRADE, Jodo Batista de Nasceu em fulutaba (Minas Ge- rals) em 1939, Cursou até 0 4? ano de Engenharia da Po- ltgentea de Sia Paulo, mas tei minou por abandoné-lo em f vor da ‘literatura e do cinema, Kinda na "Politfenen, “182 com um grupo de colegas 9. time experimental Lixo (1963). Pro= fissionalizando-se, f@z uma sé rie de documentarios, destacan- Go-se Liberdade de’ Imprensa (1901) © Candido Portinari, Pin~ for de Brodosqui (1968). Em 1069, passou a. longa-metragem de ficgio com Gartal, dirigindo também 0 epls6dio © Filho da Teleyisdo. para, Em Cada Cora- a0 um Pankal, cabendo os ot fros a Rubens Siquelra © Sebas tito de Sousa. ANDRADE, Joaquim P. de Nasceu no Rio de Janciro em 12, B bacharel em ie Sorin “interessando-se" bem, ceo pelo’ cinema, fol um dos fundac Boros do. movimento. do. Cinema Novo, ‘Em 1058, trabalon como Bsolsiente’ de diregto de. Gera do a Renato, Santos. Percira fRebetido em. Vil Rica. Em 1958, featlzou dols documentarios cul: faraiey Mestre de Apipucos. GO poeta do Castelo, “respective: heute, s0bre, Gilberto Eteyre -e Manoel ‘Bandelra, Em 1050, f8 teu primeira. cavtacmetragem de iiceao, Coro de. Galo, véncedor dein grande prémio interns: ional’ ¢ ‘mais tarde incluldo. em Cincy Yezes Favela (1902). Bm Garrincha, “Alegria. do. Povo, de Tot, fatou da obsessao\ do. brae sileiro pelo futebol; a partir de historia’de am dow aidtes. mais Tabuosos “que o° pals. Ji. teve, Depots aesse docimentario. de fonua metragem, também premiac do ntenacloainente,tieaimen fe dina sea peimeizo. longa: metragem de. fiegio, 0 Padre ¢ a fidea, paseado "nim poema de Gatios Drummond de Rnira: ds (1000). tm" seguide, fer um ocumentério em ores! Initulan do Brasiar Contradipdee de uma Cidade Nova ¢, para a, televi- so alemd, um documentario s0- Bre 0 proprio Cinema Novo, 17. provistert und Zielbewusst. 1 Nou mais de dois anos a pre- parare filmar uma adaptacto do romance Macunaima, de Mae rio de Andrade, lancada em 1960 Com enorme siicesso, € que vl ria a ganhar 0 Condor de Ou: to no Festival de Mar del Pia ta de 1970. Atualmente, hesita entre trés 1déias, uma das quais em’ torno da Inconfidencia Mi- nelra, ARONOVICH, Ricardo Nasceu ent Buenos Aires (Argen- tina) em 1937, Talver o mais talentoso dos diretores de foto- grafla da nova geragio argen- tina, trabalhou em sua’ patria com Manuel Antin, Alfredo Ma- th, René Mugica ‘¢ outros rea- lizadores. No Brasil, estéve entre 08 maiores valores de filmes co- mo Os Fuzis (Rul Guerra), Sao Paulo S.A. (Luis Sérgio” Per- son), Vereda da Satyarao (An- selmo Duarte) € Gardta de Ipa- nema (Leon Hirszman). No Bra- sil e na Franca, dirlgiu a foto- grafla colorida “de Benito Ce- reno, de Serge Roullet, com Rul Guerra no papel-titulo. AVELAR, José Carlos Nasceu no Rio de Janeiro. em 1W36. Muito ‘ativo como. etltico deeiiema ec ovnalsiy pasion S° pritiea através de’ alguns fie mep amadoristcos de, 1 mm —— A'Porea do Mar, de Riavs Scheel, 0 Vilo“e 0 Novo, de. Mauri: fio "Gomes Leite, éten —, dos unis 2 a fotografia, Ainds ‘em io"tmm, realize fotogratou) seu pilineta filme pessoak, ra jer ison. Em. 3b mm, foto- trafou dannd. Cinzenta, "de. Os Bel Sto Paulo. E* vem possivel fie aga seu primeira tfime de fbnga “metragem em 15. mm, AZEVEDO, Alinor Nascey_no Rio de Janelro em 1013. Tem exercldo varias. fun= ges jormatisticas desde” 1025; fem ido também grande expe: FHenein em dlversoa, sotores da felevisfo. Det oa primeiros pase fos cinematogsiticos em. 1835, tserevendo. roteiroe¢ “comentic lon para jornais de atualidades. Ft um dos fundadores da Atian= fila e esereveu 9 rotelto origi hal do primelro iilme de flegao Ga companhia, Moleque 74a0 (1913), Bara Moacir Fencion, es-

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