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Resenha
HYPPOLITE, J. 2003.Gnese e estrutura da Fenomenologia do esprito de Hegel. So
Paulo, Discurso Editorial, 645 p.
servindo-se dos textos de Hegel para transmitir o que lhe parecia ser verdade e que
pudesse surpreender a seus alunos, e deixando de lado o que no lhe interessava.
Esse desvio dos critrios bsicos de um comentrio nos permite entender a direo
antropolgica e partidria proposta por Kojve, reforando, por exemplo, a impor-
tncia do papel da dialtica do Mestre e do Escravo (a escolha em traduzir Knecht por
escravo, e no pelo seu significado primeiro que servo, j introduz uma leitura de
natureza poltica e revolucionria da obra de Hegel), e o modo como esquematizou o
contedo da fenomenologia. Este desvio consciente do pensamento de Hegel, que
mais tarde, a partir dos trabalhos de Gauvin e posteriormente de Labarrire e outros,
sofrer uma severa crtica, desencadeou um entusiasmo determinante para a entrada
do hegelianismo na Frana. Hyppolite foi tributrio desta leitura de Kojve, em gran-
de parte aceita por muito tempo nos meios acadmicos franceses, que propugnava
um Hegel defensor de um saber absoluto entendido como um fim da histria que
anularia qualquer incidncia da contingncia, e de um atesmo oriundo de uma m
interpretao da filosofia como Aufhebung (tomada apenas em seu aspecto de abo-
lio) da religio. Entretanto, cabe salientar que o tradutor e intrprete da Fenome-
nologia do esprito, mesmo fazendo uma escolha a favor do jovem Hegel que abria
caminho para uma posio existencialista, no deixou de lanar o convite para uma
leitura do prprio texto de Hegel. Neste sentido, Hyppolite propugnou uma interpre-
tao no redutora, de modo a deixar falar o prprio Hegel, o que fez com que fosse
considerado o verdadeiro introdutor, depois de alguns precursores, do pensamento
de Hegel na Frana.
Mario Fleig
Professor do PPG Filosofia UNISINOS
E-mail: mfleig@terra.com.br
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Filosofia Unisinos, 8(2):202-205, mai/ago 2007