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CARACTERÍSTICAS DA MINHOCA EPÍGEA Eisenia foetida -

BENEFÍCIOS, CARACTERÍSTICAS E MAIS-VALIAS AMBIENTAIS


DECORRENTES DA SUA UTILIZAÇÃO

Nelson Miguel Guerreiro Lourenço1

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BSc em Engenharia do Ambiente (ULHT), MSc em Gestão Sustentável dos Espaços
Rurais (UALG/FCT), Formador (n.º 523366/2010).
Futuramb – Gestão Sustentável de Recursos – DCEA / CPIV, Messines de Cima, caixa-
postal 5-S, 8375-047 S. B. Messines, Portugal.

Palavras-chave: Eisenia foetida, minhoca, vermicompostagem.

As minhocas são uma das espécies animais mais antigas no planeta, facto que por si
é revelador da sua importância, estimando-se que existam cerca de 8 700 espécies. Uma
das espécies mais comumente utilizadas em vermicompostagem, vermicultura e
vermirremediação é a Eisenia foetida (Fig. 1). Tal como todas as minhocas Epígeas,
Anesicas e Endogénicas esta espécie pertence ao filo Annelida. Contudo, é erradamente
denominada de “Minhoca Vermelha da Califórnia” sendo frequentemente causa de erro
comum popular. De facto, o seu verdadeiro termo é “Minhoca dos Resíduos Orgânicos”
ou “Minhoca do Estrume”.
O filo Annelida é constituído aproximadamente de 8 700 espécies, sendo estas
agrupadas em 3 classes: Polychaeta, Oligochaeta e Hirundinea. Na sua generalidade, as
minhocas podem ser geófagas – quando se alimentam de matéria mineral, ou
detritívoras – quando se alimentam de matéria orgânica morta, encontrando-se nesta
tipologia as espécies e sub-espécies Epígeas Eisenia foetida foetida e Eisenia foetida
andrei.

Fig. 1 – Populações da minhoca dos resíduos orgânicos da Eisenia foetida


(Unidade-Piloto de Vermicompostagem da Futuramb).

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As minhocas utilizadas em vermicompostagem são unicamente Epígeas. Estas
minhocas são saprófagas, ou seja, alimentam-se unicamente de substratos decompostos
ou em decomposição, quer de origem animal quer de origem vegetal.
São animais caracterizados por apresentarem uma nítida segmentação ou
metamerização externa e interna, incluindo músculos, nervos e órgãos circulatórios,
quer excretores quer reprodutores, possuindo cinco pares de corações e um par de rins,
sendo que o sangue percorre todo o corpo através da existência de vasos sanguíneos e
capilares. A sua respiração é feita através da pele por ramificações capilares (respiração
cutânea), daí a necessidade imperiosa de humidade suficiente na massa de resíduos de
qualquer sistema de vermicompostagem. São animais fotofóbicos, tendo portanto
necessidade de se afastar da luz solar, seja natural ou artificial. Expostos ao sol durante
alguns minutos, morrerão com naturalidade.
Quando o ambiente e a temperatura são favoráveis, a reprodução das minhocas dura
durante quase todo o ano, principalmente nos períodos quentes e húmidos e,
preferencialmente, à noite. Cada minhoca, em condições ideais, pode originar mais de
500 descendentes durante um ano.
Sendo hermafroditas incompletos é necessário que dois indivíduos se acasalem para
que os ovos de ambos sejam fecundados, visto não existir auto-fecundação. A cada sete
ou dez dias cada minhoca produz um casulo com o formato de um pequeno grão e do
formato de uma cabeça de alfinete (da qual saem posteriormente as suas crias) (Fig. 2).

Fig. 2 – Casulos de minhoca.

O período de incubação de uma minhoca pode variar entre os dez e os vinte e um


dias, se as condições do meio forem favoráveis. Caso contrário, os casulos não
eclodirão, o que só ocorrerá quando naturalmente, as condições forem propícias para o
seu desenvolvimento. Aquando do seu nascimento, as minhocas são brancas, passando
a ter a cor pela qual são conhecidas à medida que o seu crescimento se vai
intensificando.
O que caracteriza a sua puberdade é a existência do clítelo (clitellum), uma espécie
de cinta saliente, de cor clara, em torno do seu corpo, localizando-se a 1/3 do seu
comprimento.

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Na generalidade, a maturidade sexual é atingida entre os sessenta e os noventa dias
de idade aproximadamente. Nesta fase reproduzem-se durante grande parte do ano,
sendo o período de acasalamento normalmente durante a noite e durante duas a três
horas, na superfície do solo ou do substrato.
A minhoca não possui olhos, embora as suas células foto-receptoras sejam sensíveis
à luminosidade, particularmente à luz solar. A epiderme que protege estas células
possibilita á minhoca a distinção entre a luz diurna e nocturna, a percepção de pequenas
vibrações e seleccionar alimento e parceiros para a reprodução. Quando uma minhoca
morre, o seu corpo rapidamente é degradado, visto o seu corpo ser constituído
maioritariamente por água.
A existência de condições desfavoráveis em cada um dos seguintes parâmetros pode
conduzir à fuga (realizada geralmente durante a noite), perda de actividade reprodutora
ou morte das minhocas.

a) Humidade
As minhocas respiram através da sua pele e, deste modo, deverão existir teores
adequados de humidade com vista à sua sobrevivência. A morte de uma minhoca ocorre
quando a pele desta seca. O seu habitat deverá proporcionar que a água seja absorvida e
retida adequadamente. Com excepção do factor temperatura, nenhum outro factor
determinará a morte das minhocas tão rapidamente como a escassez de humidade
devendo o seu valor situar-se entre 70 e 90% sendo o valor ideal entre 80 e 85%.

b) Porosidade
Se o substrato apresentar elevada densidade e compactação acabará por existir escassez
ou baixa percentagem em oxigénio. Materiais possuindo diferentes texturas irão afectar
a porosidade dos substratos.

c) Natureza dos resíduos/substratos


Teores elevados em azoto aceleram demasiado os processos de decomposição,
acelerando a actividade de decomposição dos substratos e elevando ao mesmo tempo a
temperatura, originando condições menos favoráveis à sobrevivência das minhocas.
Resíduos domésticos, como hortícolas e frutícolas, misturados com materiais ricos em
celulose fornecem um substrato adequado.

d) Arejamento/oxigénio
As minhocas necessitam de oxigénio para as suas reacções metabólicas, de modo que
não conseguem sobreviver sob condições de anaerobiose. Quando ocorrem factores a
nível de substrato, como excesso de resíduos contendo azoto (relva verde ou lamas de
ETAR) ou excesso de humidade, os teores de oxigénio poderão baixar
significativamente, afectando a actividade das minhocas.

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e) Relação C/N
Todos os resíduos possuem quantidades mais ou menos variáveis de carbono (C) e
azoto (N). Neste aspecto os substratos deverão possuir relações C/N entre 20/1 e 25/1.

f) pH
Estudos indicam que as minhocas apresentam maior percentagem de sobrevivência em
substratos de pH ligeiramente ácido (5 a 6). Contudo, as minhocas toleram valores de
pH compreendidos entre 5 e 8 com o prejuízo na sua actividade fora deste intervalo. A
espécie Eisenia foetida pode ser considerada ácido-tolerante pois a existência de
glândulas calcíferas permite o controlo da acidez dos resíduos.

g) Temperatura
Para valores de temperatura acima de 40 ºC as minhocas morrem rapidamente baixando
o seu metabolismo a valores inferiores a 15 ºC. Abaixo de 0 ºC a minhoca congela e
morre, visto o seu corpo ser constituído maioritariamente por água. O intervalo de
temperatura ideal para as espécies Epígeas situa-se no Quadro 1.

Quadro 1 – Influência da temperatura no metabolismo geral das espécies Epígeas.

Duração do
Temperatura Período de incubação dos
crescimento Fecundação
(ºC) casulos (dias)
(dias)
10 > 100 0,13 60 – 86
15 40 0,8 36 – 46
20 32 1,8 25 – 35
25 28 3,0 19 – 25

h) Salinidade
Os teores de salinidade são medidos através da condutividade eléctrica. A presença de
elevadas concentrações de matéria mineral em solução pode ser prejudiciais à
actividade das minhocas, de que é exemplo o azoto amoniacal na forma de amónia.

O Quadro 2 faz a síntese da maioria das condições anteriormente descritas.

Quadro 2 – Síntese de alguns parâmetros importantes na minhoca Eisenia foetida.

Parâmetro Nível Óptimo Nível Adequado Nível Crítico


Temperatura (ºC) 20 15 – 24 < 5 / > 37
Humidade (%) 80 – 85 70 – 90 < 70 / > 90
pH 5–6 5–8 <5/>8
Amónia (ppm) < 500 500 – 1000 > 1000
Condutividade 2,5 dS m-1 3,0 dS m-1 8,0 dS m-1
eléctrica 2500 dS cm-1 3000 dS cm-1 8000 dS cm-1

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Para além de serem um potencial input com vista ao tratamento e valorização de
diversas tipologias de resíduos orgânicos através dos seus movimentos de contracção e
distensão, as minhocas revolvem as partículas e arejam o solo, aumentando a sua
disponibilidade em nutrientes e melhorando a sua estrutura, aumentando o arejamento e
drenagem do solo. A título de exemplo, a Eisenia foetida consome diariamente,
aproximadamente metade do seu peso em resíduos (500 mg no estado adulto),
expelindo através do ânus 60% dos resíduos consumidos.
O movimento constante da minhoca proporciona ao solo um aumento da sua
porosidade e permeabilidade, ao mesmo tempo que o torna mais macio, arejado, solto e
leve, melhorando fisicamente a sua estrutura e composição, tornando mais fácil e
rentável o seu trabalho enquanto recurso necessário às práticas agronómicas.
Para além destes aspectos, a minhoca funciona como um biofiltro e bioacumulador
de metais pesados sendo utilizado em remediação de solos contaminados.

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