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cop-oasrs 13% O Movimento Trovadoresco Occitanico ase compreender a literatura da Idade Média, seja a da Franca, a, a escandinava, a gcrmanica ou a galego-portuguesa, 6 necess4- te, através das, supostas sombras da era medieval, principalme Baixa Idade Média, 86 € possivel se do nosso espirito afastarmos 0 coneeto pejorative que a Re- hascenga imputow aos séculos géticos (dos godos, “bérbaros”) e abragar- mos 0 entusiasmo sonhador do Romantismo, que fez reviveseer esse ‘mundo encantado da poesia, das catedrais © das justas sarracenas. Os primeiros capitulos da historia literdria da moderna Europa fo- ram eseritos, no curso do século XII, pelos trovadores da Provenca. Pot Provenca vamos designar aqui, néo obstante a impropriedade do termo, toda ‘gio do Languedécio que esté compreendida entre 0 Medi- terraneo ¢.o Macigo Central, os Pireneus ¢ a fron quando em lingua vulgar também surgia uma floragio da Franga, uma poesia lirica cuja importdncia € indis todo o litsmo europeu dos séculos posteriores. © século XII é considera- tdo 0 século de ouro da literatura medieval na Franga; € 0 século por e*- desenvolvimento da filosofia, da literatura e do pens: tico da Franca no perfodo que-decorre de 1150 a 1200, Gustave Cohen ina um “classicismo” do século XII, onde as realizagdes a poesia provencal mereceria o nome de classica! lo anterior, denominado “o século das géneses", a ma feliz imagem do grande romanista das gestas, Joseph Bédier: oca que surgem simultancamente a primeira cangio de gesta e a va, o primeiro vitral, © primeiro dra- avaleiresco ¢ a primeira carta de liber- es autenticamente francesas*, Acrescen- mma litdrgieo, 0 primeiro torn dade de uma comuna, todas cr ta ainda B tempordneos; a ja por Turold), a Franga meri he duque da Aquité a primeira poes raturas, a épica dos trouvéres do Norte, ¢ a lirica dos J nascem maduras, constituidas, refinadas, pressu pondo, portanto, um periodo anterior de elaborag veiculo da expressao literdria ¢ foram buscar na lingua vulgar, no romance, a expressio respectivamente do verbo épico e do verbo litico, Se 0 roman- ce as aproxima, entretanto pela inspiragio, J4 se procurow explicar 0 temperamento liico da Franca meridional por causas geografi- cas ¢ pela organizaggo municipal das suas comunas, Mais do que a organi- zagio politica € 0 argumento romantico do clima, militam outras causas, como as condigées de existéncia ¢ a concepgio da No século IX Carlos Magno representa uma tentativa de construgdo de um riovo império, cujo modelo seria o romano. O tempo incumbi Ver, por exempt, Put Remucek, Ltnenure de humane earpen au Menge, H, Hing, The Renaissance of he Twelth Century, Cambrge, 1927, Pore, rane, Tremblay, La renaissance du doe sel, Pais 198; Christopher Broke, The Tlth Canty Revaisnce, Londres, 197, (©. Coe, La grande cand Moyen Age, Now York, Maio Les robadou, Pat, A Col, 138, 17. 4G. Cohen fx resis sotse de ir, pol crt mts align a cago de gel, w chauon de Guise remota por le 2 sculo X, bem como o primero drama ge, (Lae trie en France au gene, Pat 5. Pete Depron, La ole Amour, Pari, Pon (194 p10, al, 1945, p93 18 18 ceslavos, magiares ido do semhor se- eudalismo cumpria a sua missdo (pois os invasores sarracenos haviam si- do empurrados para além dos Pirencus; os eslavos, recuados até 0 Oder; 0s magiares, obrigados a limitarem-se a Hungria, c os dinamarqueses es- = na Franga do norte e na Inglaterra a se tornava um anacronismo’. A es- um grande progresso: como sistema fa, sem davida, . OTganizado, rudimentar embora, nio s6 visava & seguranga do mundo 0, como a fortficar progressivamente o poder dos senhores,criando, entdo, do mais alto suserano a0 mais desprezivel dos servos, uma hierar- quia na qual se fixavam pela primeira vez os deveres ¢ 0s direitos de cada um, Esta unio e protegdo métua foram determinadas pela necessidade da manutengao da paz contra os invasores; ¢ a0 redor das igrejas fortificadas € dos castelos esbogam-se as cidades, que vio paulatinamente adquirindo comunal; os castelos de madeira vao sendo substituidos pelos de pedra, © 0s grandes senhores, articulando sua suscrania os vassalos que deles ne- cessitam auxilio ¢ protecao. complementar do F expresso combativa, guern tengio da relig idefesos, 0 desprezo das rec Lugar na Hiro, A Covel Medel, td de A ‘pote fom nolagio meal quadrangular, xistentena Biblioteca Nacional de Paris, gs = ADA ‘as péginas remancscentes do Noblis ‘do Conde D. Pedro de Barcelos; ‘que antocode om do Cancion da Ajuda, ‘eneademados juntos. | cansados de matar dofredo Bulhées pode ser considerado um modelo da cavalaria crista, & nos séculos seguintes, XH, XIMl, muitos outros aparecem como exemplos do perfeito cavaleiro, Nos castelos esboga-se uma nova situagZo social eriada pouco a pou- co pela mulher, que comega a ter relevo nessa organizagio, criando um mundo a parte, seu, ¢ 0s saldes tornam-se um centro de convivéncia social 0 eavaleco, que j& nfo andava fora com tanta freqiéncia, viva mals na companbia © bario, no seu lar mas palaciano, comesou a constitu ‘onde tinham ocasiio de florescer as gragas femininas, zone eram mandads| Entretanto, se no sul da Franga esse renascimento da mulher ‘mula um verdadeiro culto na poesia dos trovadores, no Norte a mulher tum papel acessério, de mero refrigério dos herdis cansa. dos ¢ dos prazer E nesta altura que se diversificam pela indole os dois movimentos li terdrios: 0 do Norte, épico, guerreiro, fazendo di influéncia a civilizagdo romana, e nas sobre- romano podemos encontrar algumas das causas de- jianeu no se harmonizavam com 0 regime feudal, cuja coesio estava baseada no servigo pessoal; o direito romano procurava assegurar a liberdade individual e substituir por um contrato a relagéo de direitos e ito oud dete dela Bad Wed, 3c are 985 Ip. 5152), 22 23 "meridional, obrigagdes entre o senhor ¢ 0 seu vassalo, A organizagdo social do Norte era mais coesa, mais firme, e por isso que no alvorecer do século XIU (1209) 0 Languedécio ¢ arruinado poiticamente ¢ anexado pouco depois & Franga. A medida que na Franca do Norte comecavam a desaparecer as terras livres (alleux), isentas de servido ~ portanto incompativeis com o regime feudal , no Sul se mantinham, ainda no século XI, numerosos al- s dos condes de Tolosa e de seus grandes vassalos. O di- ida contribuiu, noutro sentido, para relaxar na Provenga 0 10 Norte a manutengao do feudo criou o direito de primo- que no Sul 0 feudo, em caso de sucessio, foi dividido entre os herdeiros. E mais: também estavam fora da 6rbi- ta feudal as terras pertencentes as mulheres e as igr Igreja manteve a sua firme posigio, c s to que ligava o vassalo ao suserano, no Sul o papel da I te: aqui a heresia dos cétaros repelia o juramento e cons tudo per igo amoroso”, a vassalagem amorosa na poesia do trovador era um empréstimo da homenagem feudal, no correspon- dia a uma realidade social no sul da Franga, ‘io importa que os ga rendessem homenagem de submis & mu Iher “doce e pra” como a ¢ 8 realidade da via disordava bastante desta possia. Geralmente a mulher que era adorada nas cores de amor néo era a mesma que se ‘quem concedia sua mio o servigalcavaleto,e $6 este fato ,rosas num jogo de galentria ou ae degradava pera o plano de nunca servia de ponto de partida para uma estimaglo mais le, estritamente cavaleiresca, exclusiva da vida palaciana 1eamente nos dois hemisférios da Franca, no decurso do se afirmou em toda a Europa roma- A poesia pica, narrativa, di rério da Europa, passando leangando os poemas renas- to, de Tasso, descendo ainda pela occiténica, que reflete um longo ica, em que o trovador tem consciéncia de sua atividade artistica, langou uma mensagem perene para as literatu- 13, CE Anionlo Vicar, Lenerara deel, Mio, Cat Edtce Aca, 1525p 6 grande tema da A esbogam como t6picos dessa poesia em que o trovador é m: cortés, estranhamente, aparece enlagado com os quadros picturais da na- tureza primaveril,talvez sobrevivéncia da poesia folelérica dos cantos da primavera, Etienne Gilson consagra esse grande achado dos trovadores provencais: O igen para ate po fenton Primera, mas que se pode eer mores © a0 (odo ‘Acessa alegria da paixiio amorosa, que se goza em todas as suas di- menses, chamaram os trovadores joie d'amour. Esse © amor integral de todos os sentidos, 0 amour comblé, que ninguém melhor do que 0 maior dos trovadores, Bernard de Ventadorn, pode expressar, nestes versos inaugurais de uma cangio: tars no pot gaire valer, "ins dal cor no mou lo chans; ni chans no pot dal cor mover, sino ies fin'amors coraus. Per so es mos chantars cabaus

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