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P87 OM: Aldy Vergés Maingué Revisio ‘Ana Licia Pereira do Amaral Ficha Catalografica (Catsogngona font pela Biblioteca ‘Universidede Fedral de Santa Cat Povoadores da frontera : os casais agorianos rumo 0 Sul do Brasil / Maria Bemnardete Ramos Flores, ‘organizadora.— Florianépolis: Ed. da USC, 2000. 4p. Incturbiiiogratia Sumério anquipélago dos AgOrS .ereirrwerenninieeienenees 7 Assim se vai ao longe O patrono dos emigrantes colonial demogréfica ica de povoamento .... Oassentamento dos casais ‘As promessas nao cumpridas 200 anos depois — uma festa para comemorar a chegada ...71 Referencias bibliograficas.....sse 81 O arquipélago dos Acores O arquipélago agoriano, descoberto no século XV pelos portugueses, constituia-se num celeiro no meio do Atlintico. O trigo era o principal produto, Os portos de Angra,na Ilha Terceira, da Horta, na Iha do Faial e de Ponta Delgada, em So Miguel, formavam verdadeiros empérios comerciais, vitais para todas as rotas que cruzavam 0 oceano. Por estes portos, safam os produtos das ilhas: vinho, 4gua, carne, carneiro vivo, azeite, vinagre, favas, cebola, alho, abdbora, prego, placas de ferro, balas de artilharia, peles de cammeiro, e até scldados e artilheiros. E chegavam os mais diversos artigos e novidades da Europa, da india, da China, do Brasil e de outros pontos do mundo. Atualmente, todas as ilhas agorianas possuem aeroporto, © que facilita a comunicagio entre clas, tio distantes umas nesmo Corvo, a menor de todas, com apenas ntes, possui seu aeroporto. No tempo em que 0 transporte era feito em lentas e frégeis embarcagies, havia ais hores 1g 30 Sul do Brasil de quase todo morador daquelas ilhas cdaco de terra. Viver em uma casa que que procurar outra forma de subsisténcia. nJo favorecia a abertura de indvistria nao existia. Assim, rc em época de crise na agricultura, havia um mao-de-obra que via na emigragio uma saida m que se encontrava. lo XVIII, por exemplo, houve uma grande crise os Agores, com 0 esgotamento da fertilidade da terra. ‘tou grande parte da populacao que ficou sem traba- stento. O pouco trigo produzido era usado pelos que lucravam com o alto prego que conseguiam de exportagio. O povo, muitas vezes, revoltava- curava impedir 0 embarque de trigo em época de sez, Conta o memorialista da Ilha Terceira, Francisco ue os dias 29 ¢ 30 de abril de jniz. do povo da cidade wva contra o embarque de ie aconteceu também na Horta, em 1759, com jos da cmara por causa da saida de trigo. ja vinham dos anos :0 Machado Ferreira (Oarauiplage dos Agores 9 para atender as necessidades da populagio. Foi preciso que © presidente da cimara fizesse uma petigdo ao bispo para ordenar a abertura dos granéis ‘O memorialista conta, ainda, outro fato que demonstra a escassez, de alimentos no ano de 1751. Em 16 de maio, muitos casais agorianos estavam alistados para embarcarem rumo & Ilha de Santa Catarina, no Brasil. O administrador do contrato da viagem havia comprado uma grande quantidade de trigo para a provisio de viagem, mas 0 presidente da cimara quis embargar a carga, alegando que havia falta de alimentacio na Ilha. Para ter suas sacas de trigo liberadas para a viagem, o administrador precisou explicar que cra para a alimentar os colonizadores durante a viagem. Para conter a crise na agricultura, o provedor da Fazenda Real propés a apropriagio dos baldios, que ram terras de ‘uso comunitério, importantes para os pequenos lavradores, que delas tiravam 4 complementagio de sua sobrevivencia, Na verdade, em Portugal, o processo de apropriagio dos campos comuns jé vinha ocorrendo, favorecida pela propria lei, Enquanto as ordenag6es afonsinas e manvelinas, 20 regu- Jamentar as sesmarias, garantiam a defesa de terrenos baldios lenag6es filipinas, na época do dominio facilitavam a passagem dos baldios aos conselhos propriedade individual. Era uma forma de acabar com o uso comum de reservas de terra c transforms-las todas em propriedade privada. nto nos Agores, como na metrSpole eem toda camento dos baldios gerou forte oposigao dos s. As aut conter 0 processo de transforma: Os agricultores, com os seculares direitos das is, utilizavam os logradouros para a criagio a apanha de frutos silvestres ¢ 0 corte de im, seriam lesados, = SSS | 1 ~ Mapa “Arquipélago dos Acores” MENESES, Avelino de Freitas. Gente dos Agares. Q nimmera e a mo nmeados do século XVIIL Ponta Delgada: Universidade dos Agores, © arauipélage dos Acores Figura 2 ~ Mapa “Acores ¢ © mundo atlantico” Fonte: MENESES, Avelino de Freitas. Gente dos Agores. 0 niimero e a rmoblidade em meados do século XVI Ponta Delgada: Universidade dos Acores, 1997. p.?. /1~ Os easis agarianas rumo a0 Sul do Brasil ‘Museu Carlos Machado Assim se vai ao longe osé Gongalves Correia! vivia numa das ilhas do arqui- pélago dos Agores, na cidade da Horta, enquadrada entre Montes verdejantes e o grande mar a perder de vista. Desde muito pequeno, costumava acompanhar © pai no trabalho da oficina, ajudando-o a fazer baldes e pipas, com gosto pelo oficio de tanoeiro, Muitas vezes o trabalho era escasso e pouco rentivel Acabadas as vindimas, s6 havia alguma encomenda de barris para a manteiga que era exportada para Lisboa. O pai de José tinha, entio, que se dedicar a outros ganhos para sustento da familia, geralmente como jornaleiro (trabalhador pago por tarefa diria) na lida dos campos, na terra dos outros. Como tantos outros moradores, ele nao tinha suas prdprias terras para plantar o trigo, o acevadae outros cereais que se cultivavam na Tiha do Faial. O rapaz, também agarrava 0 que aparecesse. Ganhava pouco, mas sempre ajudava em casa ¢ ainda ia apurando algum dinheiro para seu sonho de um dia poder embarcar. que ali aportavam, com freqiiéncia, fragatas € corvetas ddas mais variadas nagoes, ¢ também das outrasilhas do Arqui- pélago. Para aguada ou reparo das avarias, aflufam desde a, contada por J. Agostinho na Revista do Instinato, VX, p. 204-247, Oscassis nor rare a0 Sul do Brasil ransporte do ché da india, até os scunas, empregados ei o mais nos discutiam os tipos de navios, as cores as ¢ tantas Outras coisas, com esse espeticulo a 's dias. A ilha era pequena mas o mundo vinha até naqueles navios. E eles imaginavam que por meio bbarcagGes poderiam ir ver o mundo. © entusiasmo cresccu com o aparecimento das icanos eram empregados como escravos no > de caga as baleias. Formavam uma turma, geralmente ) turbulenta, andavam em magotes compactos, m bebedeiras, cantavam alto ¢ desafinado. Nesse tempo nao havia protegao as baleias, ¢ elas eram das para fornecer dleo. A caga era feita em canoas, las de arpées, langas, linhas ¢ tudo o mais que era sério para prender ¢ matar cetéccos gigantescos ‘Uma vez morta, a baleia era presa no asco do navio ordura retirada ¢ derretida a bordo. De uma maneira navio baleeiro nio regress: Assim 26 vai a0 lonae 15 exercendo seu antigo oficio de tanoeiro, embarcando na caga de leo marinho nas terras geladas do Antértico, que davam leo tio bom quanto 0 das baleias, e, por fim, exercendo a fangao de colaborador no Museu Americano de Historia Natural. Na época em que José Goncalves Correia emigrou, no século XIX, era grande a emigracdo nos Acores ¢ em quase todaa Europa. Uma evasao das ilhas realizou-se, coincidindo com a época em que milhares de outros europeu movimen- tavam-se a procura de trabalho no continente americano. Com 0 desenvolvimento do capitalismo e as transformagées na estrutura agréria, os camponeses € 0s artesos que ficaram sem trabalho procuraram o Novo Mundo para tentar a sorte. Osestudlos indicam que, no século XIX, a emigracio agoriana que ofereciam viagens clandestinas a quem quisesse emigrat: Sem documentagio, nem direitos, viajavam em condigdes criticavam, combatiam e denunciavam a ago dosengajadores, acusados de traficantes de escravos brancos. Este navio, tendo apenas cap: conduziv a seu bord 400. Diz », comega a distribuir, ou para melhor gorianas rum a0 Sul do Brasil cr os escravos de nova espécie, e quem desejasse ‘uma crianga, uma mulher, dava 40 pesos, recebia ia & bordo, escolhia a dedo. Podia-se retalhar \s A vontade” (Angrense. In: Atlintida, Orgio do Agoriano de Cultura. 10 (5) nov-dez., 1966. p.315) O patrono dos emigrantes oltando a histéria no tempo, & época do sistema colonial, em Angra do Heroismo, a pequena cidade da Terceira, todo domingo parecia dia de festa. A nobreza ostentava o luxo para exibir a riqueza ¢ 0 poderio da classe, sa acompanhada pelos criados. Préximo do adro ‘ras e cadeirinhas, que era 0 meio de transporte da gente da elite. No mercado, abundavam os artigos € 0 movimento das pessoas. Os camponeses traziam para a vila grande quantidade de ovos, fiitas, vinhos, batatas, etc., ¢ levavam fazendas finas para 0 uso das m inas ou grosseiras, especiarias, chs, etc., que chegavam da te, do Brasil, da India ou de outras ilhas do arquipélago rei chegou a proibir o luxo que era inde entre seus stiditos. Conta-se que nas ilhas do arqui- lago agoriano executaram-se prontamente as ordens, icgredando-se para longe os panos estrangeiros, cuidando com panos fabricados em suas casas, do ias de ricas colchas. As s enchiam-se de senhoras que, depois de passar a (Os caraisagorianos rume ae Sul do Bras juanto 0 povo, na época de S40 Joo, folgava nos ¢ ruas, acendendo fogueiras. Os viajantes estrangeiros, passaram pelas ilhas agorianas nos séculos XVIII e XIX, avam, em suas narrativas de viagem, que os acorianos, uum carter alegre ¢ expansivo, amavam a miisica, a as representacdes teatrais, as reunides de mascara as de carnaval, as cavalhadas, as corridas de touros, stas do Espirito Santo eas de S40 Joao, as reuniGes em ide as mulheres de elite cantavam, dangavam e algum instrumento musical Nessa cidade, num dos prédios da Rua da Esperanga, século XVI, viveu o fidalgo Cristévao Nunes Vieira, com nulher Maria Cota da Malha. O casal tinha duas filhas e , Joao Baptista, nascido em 1582.? Eram tempos a época em que viera a0 mundo o filho de Cristévao depois de seu nascimento, a Tha caiu nas anos, O saque durou cerca de dez dias, nos is mataram ¢ pilharam. Os defensores da e plebeus, foram executados na forca, ao pé da lugar onde, por algumas dezenas de anos, car. Entre os executados, estava 0 CO pateone dose 19 0 scus bens e foi parar no JapZo como missionatio, interes- O Japio, nessa época, era governado por um sistema co em que a religi’o de Buda tinha participagao Ps importante, O imperador era considerado descendente dos deuses. Bulir coma religiao do Estado cra, portanto, afetar a ordem politica. Mas, desde 1540, 0 «1 entrando no pais. Quando Sao Francisco de Assis soube da existéncia do Japio pelos mercadores portugueses, empenhara-se no projeto de cristianizar aqueles povos. Muitos outros missionérios se juntaram a Francisco de Assis, criando, em pouco tempo, uma florescente cristandade no Império do Sol. Em 1614, 0 governo japonés pereebeu qui © ctistianismo, entravam também os produtos do Ocidente, provocando a concorréncia entre os comerciantes japoneses ¢ os comerciantes cristaos. Resolveu, entio, fechar 0 p cexpulsar os missionrios que Id es ficou escondido nas Ilhas de Goto até ser descoberto preso ‘em Omura, no circere chamado Cori, em 1617. No dia 27 de maio daquele ano, tirado do cércere, manietado, segurando entre as mios um pequeno crucifix, foi decapitado. A afiada catana ¢ a destreza do algoz. nao evitaram que s6 ao terceiro golpe a cabeca se separasse do corpo. Tio cruel su recebeu o santo homem, estampando uma alegria tio sublime iva que, a0 vé-la, o proprio algoz se converteu a0 nais tarde, a ser decapitado também. transformou-se no patrono dos emigran- no ae Sul do Brasil do em verso em prosa, a os poetas, retratado pelo artista, evocado novos parentes que falam outra lingua n trajes diferentes © pode observar pela \¢20 dos dois quadros que seguem (Figuras 5 ¢ 6). igura 5 — Os emigrantes (1926) 'arios Machado © paitono dos emigrantes BST iteratura agoriana, a constante emigracao do povo é explicada sob os mais diversos prismas. Uns falam que a razao de tanta gente sair é de ordem econdmica, Dizem que insegura com os vuledes, mistei que deixaram fantisticas de destruigao ¢ de formagao de novas ilhas, novas crateras, novos picos. Nao sabiam até quando permaneceram dor aso icos fendmenos vuleanicos ¢ sismicos, Je vidas e bens, hd ainda a hist6ria dos piratas, do século XVII infestavam os mares dos seguigao &s naus que atravessavam o oceano egadas de mercadorias das Indias. mbém a explicagao psicoldgica para as razdes que n aS pessoas a querer ir embora, Diz-se que a visio do mar, com seus horizontes infinitos, é um eterno te para aventura. O poeta agoriano, Vitorino Nemésio, se expressa: O que dé este espirito errante ao ilhéu senao 0 mar? O ilhéu duvida, Mas 0 mar esté ali, Essa & que é a verdadeira forga. tinente branco ¢ frio, sem que o quente € Inge, € 0 Novo Mundo. No meio desta teia o ilhéu quebra ‘0 seu isolamento como a ave quebra a casca do ovo. Eo que hé depois do mar? Atualmente ha os Estados los gerando sonho de enriquecimento. Nos séculos passados, havia o além-mar, onde ficavam as colénias portuguesas: o Brasil e as possessdes na Africa, na f colonizar scus dominios. Ao Brasil colonial urante os séculos XVI ¢ XVI, 0s agorianos iam para as coldnias portuguesas na América, individualmente ow engajados pelos interessados na ocupagio ¢ posse de terras, favorecidos pela mercé de El-Rei, Conta a histo- riografia que Maranho comegou a prosperar depois que um grande ntimero de colonos agorianos af chegaram, Primeiro Jorge de Lemos e depois Simao Estécio da Silveira tinham 0 contrato do transporte de emigrantes. Relata o Conselheiro do Rei, Visconde de Porto Seguro, que “grandes grupos de familias agorianas, modestas, moralizadas € trabalhadoras, vieram contrabalangar ¢ dos muitos degredados que comegaram a ser enviados da metrépole, no ardor de ver agui aumentar-se rapidamente a povoagio. Contam as crdnicas que um tal Francisco Canto da Silva, filho natural do abastado provedor das armadas na Ilha ‘Terceira, acompanhou Tomé de Souza na fundagao da Bahia, no ano de 1549. Muitos outros dirigiram-se para o Brasil colonial. Massas anonimas de homens ¢ mulheres iam garantir a soberania do rei ¢ o dominio portugu ‘m- mat. De inicio dirigiam- sta da Afri india. Depois do Norte, os ago ter assentado an (cra ~ Os easais agorianos rumo a0 Sul da Brasil € mais de um século antes dos isterem aportado em Plymouth, no Mayflower. Nesee «= po No havia cotas de emigracao, nem a de passaportes nos Agores. O poder de enviar ara.as “terras novas” do Ocidente pertencia a Vasco le tinha recebido do Rei de Portugal, D. Manuel orio das “terras novas”, na América do Norte, que Gaspar ¢ Miguel Corte Real haviam descoberto, ‘s para manter 0 senhorio, as terras conquistadas tinham «r povoadas. Nada se sabe sobre o destino deste pequeno implantado pelos portugueses na América do Norte. Desaparecera quando os ingleses ai chegaram ¢ dominaram. A narrativa do cronista José Agostinho nos faz. pensar que © sucesso desse nticleo de povoamento agoriano regio porque a terra era indspita e desolada, coberta -ve no inverno, tornando-se, portanto, imprdpria para ‘cultura praticada nos Agores, e porque, certamente, ‘e conflito com os indios americanos. Podemos saber dessas histérias porque muitas cartas ¢ s documentos ficaram guardados no Arquivo Histérico arino, em Lisboa. Para conquistar, povoar ¢ admi- i suas colbnias, rei de Portugal criou o Conselho dos os Estrangeiros da Guerra, Mat Ac Brac 25 conselho, por sua vez, recebia também requerimentos dos stiditos sobre diversos assuntos que, encaminhados ao rei grandes massa grande de papel, caixas € mais caixas de documentos, dando conta da vida administrativa, quase dia a dia, das tro da hist6ria colonial io de informagoes sobre portuguesa, mas é um bom lugar, vida das pessoas que atuaram na colonizacio. Por ali podemos saber que para o Br desde o século XVI. Numa carta régia de 1617, hd a noticia de que foi gente das IIhas dos Acores para povoar o Maranhao € orio Pars. Outro documento fala da saida, em 1621, de 200 colonos dos Agotes, seguidos de mais vinte, com destino a0 Maranhao, e que “vieram reparar os danos causados pelas bexigas”. Em 1628, Jorge de Lemos Bettencourt anunciava dispor de duas centenas de casais agorianos para a conquista do Maranhao, “agregados familiares que se presume nao terem sido bafejados pela fortuna”. Numa carta de 1635, acha-se referéncia de que “a gente procedente das Ihas anda aqui [no mida”. H& muitas outras agorianos introduzidos no Rio de escravos. Das Ihas Canarias, da Ma dos Agores, de Portugal contin gente para as caravelas, (Os easaisagorianos rome se Sul do Brasil os arsenais ¢ dos portos, paraa guerra, para 0 a construgao de fortes. do povo era mao-de-obra, sempre & procura para a sobrevivéncia, Encontrava oportunidade cos dominios de ultramar. Os grandes também am. Se nio faziam isso pela necessidade da ja cotidiana, faziam pela ambigio de expansio oderio e pela possibilidade de conquistar terras que m titulo de nobreza. Os pobres, alimentados pelo de melhorara vida, de ter que é seu, uma casinha e dago de terra; os ricos, pelo sonho da aventura, da a ¢ do poder. Os nobres decadentes, pela tentagao de rar o estado perdido. Muitos eram rectutados, as vezes forgados; outros, iados com promessas de enriquecimento; tantos outros, ios por iniciativas individuais, levados pela utopia da c da fartura nos trépicos. A emigracao era estimulada ¢ jada pela coroa portuguesa que, para colonizar scus ios no ultramar, precisava de gente pata povod-los. de colonizadores aliaram 0 proprio descjo de rar a sorte com o objetivo da monarquia: construir io sob o controle da coroa portuguesa. ara povoar as terras distantes nao iam s6 os homens embora estes fossem os que formavam 0 maior almente, porque eram recrutados com para os servigos militares. Na época do dominio (1580-1640), 0 re anha ordenou o emprego nas expedig6es militares por uma questao de Os soldados agorianos recebiam apenas a metade que ganhava um soldado espanol. O embarque sob o dom{nio de Portugal, em missio de usual. Soldado dos Agores, da Madeira 1m incorporados aos batalhdes luso- Ac Bri colonial 7 brasileiros na luta contra os holandeses. Do mesmo modo, no século XVIII, o transporte de colonos agorianos e madeirenses para Santa Catarina e Rio Grande do Sul foi ‘uma iniciativa do rei de Portugal para alargar seu dominio no Sul do Brasil, contra os interesses espanhdis. Por essa época, a atencio da coroa portuguesa dirigia-se para as questdes de fronteiras. Em 1737, o conde de Bobadela, governador do Rio de Janciro, escrevia ao Conselho Ultramarino dizendo que se deveria fortificar a Tha de Santa Catarina ¢ submeter as terras sulinas a um tnico comando militar. Em 1738, o rei expediu uma carta régia comunicando que havia determinado ao brigadeiro José da Silva Paes que passasse & Tha de Santa Catarina e nela edificasse uma fortaleza. Fui servido determinar por Resolugio de 5 deste presente més e ano, em consulta do Meu Conselho Ultramarino, que o Brigadeiro José da Silva Paes passe logo 3 Ilha de Santa Catarina, ¢ faga nela uma fortificagio, a qual cle entender ser capaz para a sua defesa, procurando evitar nela tudo quanto lhe for possivel a maior despesa; e, atendendo a que desse porto do Rio de Janeiro devem sair todos aqueles, socorros, ¢ ordens que se fizerem precisas para a defesa da nova Coldnia ¢ ajuda do novo estabelecimento do Rio de Sao Pedro do . Silva Paes tomou posse do governo da Ilha no ano Com as obras dos fortes de Sao José da Ponta Grossa, Santo Anténio ¢ Nossa Senhora da Concei¢io, completou 0 que cle considerou ser um sistema militar eficiente para guamnecer allha. Situada no meio do caminho que ia do Rio de Janciro ao rio da Prata, a Ilha de Santa Catarina transformou-se em ponto estratégico para a defesa dos interesses portugueses contra os espanhdis. a. Ox cassis agorianos rume ac Sul do Brasil CAPITANIAS HEREDITARIAS ira 7 - Mapa “As capitanias her 'VEDD, Julie; ORDENEZ, Merlone & SALES, Geralda, Meu estado: cia: Santa Catarina Séo Paulo: Seipione, 1997. Uma politica demografica as sociedades do Antigo Regime, ou seja, na época mo, o mimero de habitantes de uma regido deveria ajustar-se & quantidade de alimentos dispo- niveis. A importagio de cereais nao era comum ea tecnologia agricola dificilmente permitia uma melhoria na produtividade da terra. Nos momentos em que ocorriam periodos de fome, cra freqiiente as populagdes se amotinarem para exigir que as autoridades agissem em seu socorro. Os saques aos armazéns reais ou até mesmo aos particulares era, muitas vvezes, uma sada encontrada pelo povo. Quando havia escassez de cereais, imaginava-se que a causa fosse 0 excesso de populacao. Em perfodos de fartura, coma garantia do provimento cotidiano, desaparecia o medo do crescimento demogrifico, havendo consegiiente pressi0 sobre a estrutura agraria, com 0 povo exigindo direitos sobre © uso da terra orianas, a populagio aumentava, gradativa- mente, desde a época de seu povoamento pelos portugueses, no século XV. Mas nao era este o fato que provocaya as crises seam duas: 0 esgotamento dos solos. ‘em mio de poucos. A nter 0 equilibrio, Nas épocas Wva com apoio das autoridades. Os eas anos ruma ao Sul do Brasil as de fartura, as autoridades restringiam a emigracio iter os agricultores no cultivo dos campos. Portanto, cio espontinea ou dirigida, individual ou coletiva, deslocamento de levas de casais povoadores para as ess6es portuguesas, voluntérios ou coagidos, os mentos militares, etc., fincionaram como regulador 1ografico nas ilhas. Geralmente, em épocas de crise agricola, aumentavam \edidas oficiais para estimular e apoiar a emigracao. Num cdital de 1° de julho de 1774, Ié-se que, por ordem do rei, © governo mandou recrutar nas Ilhas dos Agores, “devido ao ide mimero de habitantes que havia nelas”, 600 pracas 1 08 regimentos da capitania do Rio de Janciro. Em 22 ho de 1786, 0 governador de Angra do Herofsmo informa ao Conselho Ultramarino que ¢ “demasiada a gente na Ilha € que se torna necessério promover a emigragio de 600 casais, ou mais”. E pondera que “o resultado desta Ibrepovoacio esté & vista: as mulheres se prostituem, ¢ os wens se fazem ladSes, ¢ uns € outros sobrecarregam € modam o ptiblico”. Estas medidas perfodo de escassez do século XVIII, nas de ‘Quando havia fartura, a politica se invertia. Em 19 de agosto de 1645, Agostinho Borges de Sousa, procurador da zenda das Ihas dos Agores, escrevia ao rei dizendo que, ipesar da falta de gente, devido as levas © as guerras, se antaram na Tiha Terceira 200 soldados, que estao prontos para seguir para o Brasil”. Em 20 de outubro, 0 mesmo Agostinho informou que “ficaram prontos os 50 casais, além sem todos dos 100, que se podia tirar daquela Ilha e do estes fazerem falta”, Como se pode ver, a politica popul ica de se excluir o excesso da populagio, provavelmente ‘Uma pottica demogedfies 31 para nao mexer na estrutura social das ilhas. Dimi pressio demogrifica, diminuiria também a pressio sobre a posse dos bens ¢ das terras. Por outro lado, se as illas esti- vessem a se despovoar, haveria falta de gente para trabalhar nas lavouras. A preocupacio, entao, era nao deixar que mais pessoas saissem. Em 1758, com a publicagao da lei dos passaportes, 0 rei proibiu “a saida de pessoa alguma sem da”, em virtude de “constar em Lisboa que jas tinham emigrado, somente dos Agores € © governador de Angra do Heroismo, verificando que as ithas estavam a se despovoar, tomou medidas para restringir a emigragio ¢ pediu que fossem resti homens casados que fora delas, nesse reino e nas ditas capi- tanias, andam espalhados”. As vezes a politica de emigragao chegava a provocar desequilibrio entre o mimero de homens e de mulheres nas ilhas. Jean Gustave Hebbe, um viajante sueco que esteve nos Acores no século XVIII, observou que havia mais mulheres que homens nas ilhas. Acreditava que nasciam mais mulheres que homens € que o grande mimero de congre- gacoes femininas era destinado a guardar as mulheres da fome, da miséria e da sedugio. Em 24 de outubro de 1787, © governador de Angra do Herofsmo escreveu ao secretério de Estado da Marinha ¢ Ultramar informando que “apesar estas Ilhas se acharem sobrecarregadas de gentes, nao sio sobejam. Homens de até 30 anos nao ha demasiados... Mulheres & as gentes que quer o Intendente as que aq} As mulheres solteiras, se comparadas aos homens, solteiros, emigravam. As casadas, por sua vez, acompanhavam os maridos, Como os emigrantes deveriam, sd Frontera ~ Os casas agorianos rumo ao Sul do Brasil par as novas tettas, familias inteiras, de preferéncia pessoas recém-casadas, que pudessem ter muitos filhos, eram is estimuladas ¢ apoiadas a emigrar. Promessas, rangas, ameagas ajudavam a carregar os navios de nos. E de ano a ano Id iam as levas de casais. E comum referéncia aos “casais agorianos” na documentago sobre a nigragio agoriana, na época do Brasil colonia. No decorrer do século XVIII houve realmente crises de subsisténcia nas ilhas agorianas, com a quebra da fertilidade dos solos. Os comerciantes insistiam na exportagio de cereais que Ihes dava bons lucros. As limitagoes das técnicas de agricultura nao permitiam o alargamento do solo agricultivel ‘Além disso, houve varias catistrofes naturais: tempestades, secas, pragas, sismos e erupgdes vulcanicas. Em fevereiro dé1718, um vuledo atingiu duramente a Ilha do Pico. O fogo rebentow nas vertentes da montanha, originando caudalosas torrentes de lava, destruindo muitos campos de cultivo. As antoridades solicitaram autorizacio pata as pessoas atingidas pela catéstrofe emigrarem para a colénia brasileira. A coroa viu nisso uma oportunidade para povoar o Sul do Brasil. Mas, as stiplicas das autoridades do Pico nao foram bem recebidas pelos habitantes. Nao apareceu grande mimero de interessados em emigrar. Talvez.a pentiria no fosse tao grande como as autoricades alegavam, ow talvez (0s moradores nao acreditassem muito nas promessas de vida ficil na coldnia brasileira. Diante do pequeno mimero dealistados, as autoridades sugeriram, entio, la compulséria de prisioneiros ¢ . Alegavam que essa medida traria dois beneficios: nos Agores € 0 reforgo da humana no Brasil. Mas, embora esta fosse uma um em Portugal para colonizar suas possesses, aceitou que as populagdes fossem coagidas. Uma politica demosraticn 33 Alegava que isso iria diminuir o impeto dos voluntirios. O soberano adiou, entio, o projeto da colonizagio agoriana no Brasil meridional Somente na década de 1740, o projeto de povoamento do Sul do Brasil voltou para a pauta do Conselho Ultramarino, As autoridades coloniais insistiam junto a0 Conselho Ultramarino para reforgar a presenga portuguesa nas terras brasileiras que vao do Rio de Janeiro a foz do rio da Prata. Com este intuito, em 1738, o rei criow a capitania de Santa Catarina e nomeou 0 brigadeiro José da Silva Paes para capitio-mor. 35 Uma politica de povoamento oje vemos um Brasil grande em termos de extensio. Seu territdrio abrange quase metade da América do Sul (47,3%), com um litoral de 7.408km banhado pelo occano Atlintico, Este enorme territério formou-se ao longo de quase cinco séculos de conquista, ocupagao e dominagao. As vezes a guetta, outras vezes as querelas diplomiticas definiam os limites territoriais. As atividades de exploragao econémica constitufam a forga motriz.do povoamento ¢ este justificava © direito ao uti possidetis, ou seja, quem povoasse ocuparia de fato ¢ de direito a terra povoada. A procura de ouro, no século XVIL, tomou Mato Grosso dos espanhéis. A borracha, bem mais tarde, tragou a divisa do Brasil com o Peru e a E assim o Brasilia crescendo, ampliando a sua costa 20 oeste, quase beirando 0 oceano Pacffico. Eram terras habitadas pelos indios ou desertas de gente. ‘A maior parte, pelo Tratado de Tordesilhas, pertencia juridicamente & Espanha. Aconteceu, algumas vezes, de gente morar em algum lugar que nao se sabia se pertencia a Portugal Os dois reis disputavam a posse da terra ¢ as viviam tinham que ser figis aquele que no lores da Frontera — Or cassis agorianas rum ao Sul do Brasil a conquista do territério aconteceu através da o de gado, do apresamento de indios pelos paulistas ¢ ras atividades. Embora bastante conhecida desde os itos anos apés a expediigao de Cabral, como escala quase igatdria dos navegantes que demandavam os mares do ‘ou mais tarde como referéncia das bandeiras vicentistas, 1a de Santa Catarina s6 viria a receber povoamento efetivo portugués em meados do século XVIL O litoral de Santa Catarina era habitado pelos carijés, igenas da nagio tupi-guarani. Viviam em pequenas aldeias as atividades consistiam principalmente na pesca, caca, ta ¢ numa agricultura, considerada expressiva para a poca, na qual se destacavam as plantagées de milho e de andioca. O artesanato era diversificado, Confeccionavam redes, esteiras, cestos € armadilhas de caga, como 0 mundéu © a arapuca, e armadilhas de pesca, como 0 covo € 0 jiqui. Os trabalhos em pedra polida e madeira abarcavam as varias armas para a pesca e para a guerra. Fabricavam canoas em tronco de garapuvu e uma embarcagio leve, a partir de cascas de drvore amarradas com fibras vegetais e impermeabilizadas pm ceras ¢ resinas. A cerimica caracterizada por pecas de ndes dimensdes, com fins utilitarios ¢ decorativos, expressava um apurado senso artistico, Os carijés foram incessantemente exterminados pela esctavidio a que foram submetidos durante os séculos XVI € uftas contam que no porto de Laguna, meados do século XVII, embarcavam, anualmente, cerca mortos ou levados como escravos pelos bandei- s, Os que conseguiram sobreviver, fugiram para Uma politica de povoamenta 37 Os relatos de viagem falam da existéncia, na Tha de em Santa Catarina, de densas florestas de mata atlantica, com uma vida selvagem pujante, manadas de bois ¢ perigosas feras. A ocupagao humana era reduzida. Apenas pequenos niicleos nas principais enscadas da costa front continente. Nestes lugares, a base demogréfica consistia na mistura de portugueses, presentear com viveres as expedigdes estrangeiras, talvez como forma de se protegerem de agressoes ¢ saques. Alguns moradores eram fugitivos que escapavam ao controle administrativo de outros lugares. Junto & documentagio que se encontra no Conselho Ultramarino, hé varios documentos que falam de gente degredada para a Ilha de Santa Catarina, Francisco Dias Velho, nobre de Sio Vicente, fixou-se na Ilha, provavelmente por volta de 1675. Dias Velho ja conhecia estas terras, pois havia acompanhado seu pai nas investidas aos indios dos Patos. No governo de Dias Velho, a pdvoa contava com aproximadamente 400 habitantes, que se dedicavam 20 cultivo da mandioca e da cana-de-agticar, & pesca e & procura de ouro. Entretanto, sua estabilidade durou pouco. Em 1687, Dias Velho aprisionou um navio corsétio que fundeara em Canasvieiras para reparos. Segundo se conta, 0 navio nado foi enviado para So Vicente. A Fazenda Real libertou os piratas, mas apoderou-se da sua carga. Dois anos depois, para vingar-se, os piratas voltaram € atacaram 0 povoado de surpresa. Dias Velho foi morto. Sua familia foi deixada em liberdade & custa de um resgate em viveres ¢ suprimentos negociado pelos dois padres da pévoa. A tragédia colocou os poucos moradores em pinico, ficando a Tha quase despovoada. ‘Mas a coroa nao al até a foz do rio da Prata. Era por af que passava a prata 38 Povoadores da fronteira ~ Ox easais agorianos rua ao Sul de Brasil no Peru pelos espanhéis. Depois de virios anos nflitos ¢ negociag6es diplomiticas com a Espanha para definir os limites entre as duas nagées, D. Joao V nomeou Alexandre de Gusmao como diplomata. Alexandre de Gusmao usou a estratégia de povoar as regides litigiosas fazer valet 0 principio dosti possidetis ~ quem povoa domina. Em agosto de 1746, 0 Conselho Ultramarino acon- selhou, entio, o povoamento das “partes em que se deve por © maior cuidado para a defesa e conservagio daquele Estado(...)”. O monarea solicitou a colaboragio das autoridades coloniais ¢ recomendou que a ocupacio deveria ser das regides de fronteira, onde houvesse maior disputa com os estrangeitos. Assim, Alexandre de Gusmao preparou, pelo povoamento, a formagio das fronteiras brasileiras. Ao norte, contra holandeses e franceses, ¢ a0 sul, contra espanhis. A ccolonizagio seria a garantia da defesa da regio, tanto em tetmos da ocupacio econdmica quanto da militar. Nesta conjuntura, a Ilha de Santa Catarina passou a representar a principal prioridade da colonizagao do Sul brasileiro. Localizada a beira da costa, entre o Rio de Janeiro ¢ a embocadura do Prata, era de relevncia estratégica. Ela representava, simultaneamente, uma atalaia do dominio portugués e um estimulo para a concorréncia dos estrangeiros. ‘Mas povoar a Ilha nao seria tarefa simples. Estimular a transferéncia de populagdes de outras partes do Brasil era invidvel. Com uma grande extensio de terras ¢ muitas oportunidades agricolas e extrativas, as pessoas nio se Um soldado escravo nao correspondia a politica de ento de economia de abastecimento comercial. De Uma politica de povoaments 39. Portugal, muita gente dirigia-se para o Brasil, mas, no século XVIII, a fascinagio das minas do Brasil atraia 0 fluxo migrat6rio portugues. A atengao das autoridades voltou-se, entao, para as ihas atlinticas— Agores ¢ Madeira —densamente povoadas e em crise de subsisténcia, o que estimulava o desejo dos ilhéus em partirem. ‘Uma Provisio Régia, de 8 de agosto de 1746, anunciava: El Rei Nosso Senhor Atendendo as Representagées dos ‘Moradores das Ilhas dos Agores, que lhe tém pedido, mande tirar elas 0 Nuimero de Casais, que for servido, ¢ transporti-los a América, donde resultard as ditas has grande alivio em nio padecer os seus moradores reduzidos aos males, que traz, consigo a indigéncia em que vivem, ¢ ao Brasil um grande beneficio em fornecer de cultores alguma parte dos vastos dominios do dito Estado: foi servido fazer mercé aos Casais das ditas Ilhas que se quiserem estabelecer-no Brasil de Ihes facilitar o transporte, ¢ estabelecimento, mandando transportar as custas de Sua 10 86 por mar mas também por terra até aos lestinarem para as suas habitagbes, O eedital do re, estimulando as familias a emigrarem, deixava claro o propésito da ocupacao do territério, através de uma colonizagao de base estavel. O rei queria fami jovens ¢ numerosas, com homens experientes no amanho das terras e na criagio de gado, e mulheres habituadas as lides domeésticas e destras na arte de fiagao. A legis ximas de 30 anos para as mulheres ¢ de 40 anos para os homens, Figura 8 — Casal acoriano Folo da autora: Suvenir de ceramica da tha de S80 Miguel. Acores A cotoa financiou o transporte ¢ 0 assentamento em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul de, aproximadamente, 6.000 colonos, entre homens, mulheres ¢ criangas. Se antes, nos séculos XVI e XVII, a emigragio de casai agorianos ou de homens solteiros para 0 Brasil era individual, ou por conta de particulares que tinham interesses em ter gente para trabalhar sil, agor propria coroa portuguesa que langav: leste expediente. O propésitoeraa contra os espanhdis, Orei queria implantar na regio ago econémica e que garantisse a defesa militar. Antes de embarcarem, cores, os homens eram organizados em companhias Uns politica de pavoamenta a de ordenaneas, com 0 objetivo de defender 0 novo territério. A prioridade dada ao transporte de familias jovens e ainda a concessio de 2$400 as mulheres em idade de ter filhos tinham Por objetivo a répida multiplicagdo das pessoas para acelerar © povoamento. O edital era bem claro: (--) nao tendo os homens mais de quarenta anos de idade € no tendo as mulheres mais de trinta; ¢ logo que chegarem a desembarcar no Brasil a cada mulher que para cle for das Mhas de mais de doze anos, e de menos de vinte e cinco, casada ou solteira, se darao dois mil quatro centos réis de ajuda de custo, ¢ aos Casais que levarem fillos se lhes dario para ajuda de os vestirem mil réis por cada filho, Portugal, por esta época, experimentava um surto de prosperidade. O ouro extraido das minas brasileiras e virios produtos de valor do Brasil ¢ das outras colénias chegavam Ametrpole, coroando-a de éxito. Era um momento propicio para a monarquia portuguesa. Contam 0s autos da histéria que foi um século de paz ¢ de prosperidade. Pade Portugal enfrentar os espanhdis nas questoes de limites, a0 sul do Brasil, ¢ os holandeses e franceses, a0 norte. Oescritor José Saramago escreveu um parégrafo muito instigante no Memorial do Convento, para mostrar com ironia © que Portugal arrancava de suas possesses, aumentando em muito 0 poderio econdmico, 6 que Ihe dava condigoes de gastos suntuosos. Foi neste século que se construiu 0 so convento de Mafia ¢ os arcos das Aguas em Lisboa. ‘Afirma José Saramago que: nte D. Henrique, obo mundo em su: com D. Joao V, se tem, deveras, raca figura comparado Jo numa cadeira de bragos de pau- mos, ovoadores da fiontira ~Os cassis agorianos rumo ae Sul do Brasil santo, para mais comodamente atender ao guarda-livros que vai escriturando no rol os bens ¢ as riquezas, de Macau as sedas, 08 estofos, as porcelanas, os lacados, 0 cha, a pimenta, © cobre, o Ambar cinzento, 0 our, de Goa os diamantes brutos, os rubis, as pérolas, a canela, mais pimenta, os panos de algodio, o salitre, de Diu os tapetes, 05 méveis tauxiados, as colchas bordadas, de Melinde 0 marfim, de Mogambique os negros, 0 ouro, de Angola ‘outros negros, mas estes menos bons, o marfim, esse sim, € 0 melhor do lado ocidental da Africa, de Sio Tomé a madeira, a farinha de mandioca, as bananas, os inhames, as galinhas, os cameiros, os cabritos, 0 indigo, o agicar, de Cabo Verde alguns negros, a cera, o marfim, 08 couros, ficando explicado que nem todo marfim é de elefante, dos Agores € Madeira os panos, 0 trigo, os licores, os vinhos secos, as aguardentes, as cascas de limo cristalizadas, os frutos, ¢ dos lugares que ho de vir a ser o Brasil 0 agicar, ‘0 tabaco, 0 copal, o indigo, a madeira, os couros, 0 algodio, ‘ocacau, os diamantes, as esmeraldas, a prata, 0 ouro (p.229), O alistamento dos casais m 1746, o corregedor das Ihas dos Agores recebia 0 edital do rei, onde se lia: “D.Joao, por Graga de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves «’Aquem ¢ d’Além-Mar em Africa Senhor da Guiné &, fago a vs saber que 0s casais de pessoas que quiserem ir para o Brasil, o transporte seré 4s custas de Minha Real Fazenda”. O rei pedia todo 0 empenho. No mago de 400 editais, que enviou para as Tihas, ditava as condigdes do transporte ¢ as orientagdes para as inscrig6es. Recomendava que os superintendentes’dos municipios zclassem pela afixagao dos editais régios nos lugares de maior afluéncia de piblico, ¢ que anotassem em rodapé o nome de quem “hao de acudir os que quiserem aproveitar a mercé que lhes fago, ¢ a quem hao de mostrar documentos”. ‘Todos deveriam tomar conhecimento das palavras do rei. Os interessados deveriam ser casais jovens nao tendo o marido mais de 40 anos ¢ a mulher mais de 30. No Brasil, terras seriam distribuidas dando-se a cada casal um quarto de légua em quadra, Se a familia aumentasse, poderia ganhar mais terra, Uma reserva de terra para logradouro, ou seja, para conservar-se como terreno baldio de uso comum, em cada povoado, também era garantida. E ainda havia o direito de solicitagio de sesmarias. E mais. No edital estava escrito que: 44 Povoadores da fronteira ~ Os casas agoriancsrumo a0 Sul do Brasil (..) assim que chegassem aos sitios que hio de habitar se darg a cada casal uma espingarda, 2 enxadas, uma enx6, 1 martelo, um facio, dias facas, duas tesouras, duas verrumas, € uma serra com a sua lima e travadeira, dois alqueires, diuas vacas ¢ uma égua, ¢ no primeiro ano se thes dard a farinha que entender bastar para o sustento, que sio trés quartas de alqueires por més para cada pessoa, assim dos homens como das mulheres, mas nio as eriangas que nao tiverem 7 anos, ¢ aos que tiverem até os 14 anos se Ihes dard quarta € meia para cada més. ‘Muita gente correu para se alistar. Mais tarde, 0 impeto foi diminuindo, mas no inicio era tanta gente que as autoridades precisaram organizar 0 embarque. Nao havia condig6es para embarcar muitas pessoas de uma sb vez, ¢ nem na Ilha de Santa Catarina havia condigoes para recebé- Jas em grande quantidade. Os investigadores nfo so unanimes quanto ao niimero de inscritos. As listas, até hoje, no foram encontradas, apesar clo empenho dos historiadores. O que se conseguit verificar ram. os “Mapas dos Casais que vio para a Ilha de Santa Catarina”, que se acham no Arquivo Histérico Ultramarino. eles, constam os ntimeros de homens, mulheres criangas que embarcavam em cada viagem. Com estes dados, 0 no de Menezes computou o mimero de proximadamente 8.000 pessoas inscritas. Consta qu setembro de 1747, 0 corregedor notificou 0 monarca do resultado da matricula, Relatava que tinha havido oarrolamento cranga de um futuro melhor foi dlesaparesendo As mds icias que chegavam com os barcos que retornavam eram Catisramento dos cassie 45 desanimadoras. Eram grandes as dificuldades passadas na travessia do Atlintico € depois na nova terra. As mortes ¢ as, doengas eram passageiras indesejaveis e permanentes. A dureza dos primeiros tempos acabou por esfriar os entusiasmos. Embora as listas dos casais ndo tenham sido encon- tradas, outros documentos, cartas ¢ relatos mostram que os processos de alistamento esmiugavam a identificagio do “cabega de casal”. Os interessados preenchiam um formulério minucioso, atendendo os requisitos do edital régio. O mo- a elaboracio de “assentos com clareza € na matricula todos os sinais que os € também circunstincias de sade, disposigio, estatura, oficio ou exercicio que tem, a fim de se Ihe poderem dar os empregos prdprios dos requisitos” s fisiondmicos, estatura, cor da los ollie formas de rosto, nariz, boca ¢ barba c estado civil. Estas eram exigéncias para o “cabega de casal”. As mulheres, os filhos ¢ os acompanhantes deveriam ser apenas mencionados, indicando o nome, a idade, 0 parentesco e a naturalidade. pele, do cabelo A grande maioria dos alistados era formada por avam 0 apego ao amanho e Lalfaiare costureiras, setieaneamaseet eaten. secant en ee transformar 0 pedago de terra que recel herdade fecunda, talhada & semelhanga do mod lo acoriano, Alguns nobres também emigraram. Numa carta,de tye, Bovemador de Santa Catarina informava a rei que atribue 08 nobres as principais funcoes s que contradiziam a iia de enrique- sil colénia tiravam o Animo dos mais afortunados. Gente. ‘que tinha, condigées de sobrevivéncia nos Agores nao aparecia mais entre os alistados, especialmente ODES que mio estavam acostumados com o trabalho dines dla terra. © governo da lha, para atratlos, pedir a0 rei a introdusao de escravos da Angola, y fidalgos, “para que os nobres nao precisassens romper com 0s padres comportamentais da aristoctacia”, ‘Mas 0 rei ndo concordou com a medida, A partir de 1750, nem mais os pobres apareciam para Cento ae nin novembro de 1754, 0 escrivio da cortekcio dificuldade em lotar o navio por falta de *0, muitos desistiam de embarcar depois de concentrados em Angra da partida, do Heroismo. As autoridades tentavam explicara falta de candidatos. Diziam que a causa era de cariter ps; igico. A saudade dlos parentes que ficavam, a distincia dos sertoes cananh a falta de correspond retorno influ Na verdade, as ra demogréfica ¢ na lecepea lado, nas préprias ilhas agorianas. Pos a7 as. cexperiéncia dos primeiros contingentes eee AS epiden as, a mortalidade nas viagens, as dificuldades = amanho das terras virgens €o nao-cumprimento das promess americana régias mostravam que o sonho da prosperidade sul-ameri podia transformar-se em tragédia real. (imero maior de colonos, especialmente covidos de todos os meios de Para atrair os mais pobre eee “hos regulamento afrouxou a exigéncia da idade ey 7 00s ente, para mulheres ¢ homens, ac Ge casa mais vel idosos, como pais e sogros ngdes de povoar a terra com colonos saudéveis e jovens em idade de ter filhos e de trabalhar com robustez. Além disso, o soberano admitiu o recrutamento, forsado dos vadios e permitiu a transferéncia de Besson soins sem c lo poder se que o corregedor abusou familia, Conta-se qu a recrutamento e mandava prender moradores indiscrimi damente depois embarav-o fora pops ficou evoltada ese amotinou,alegando o abandono das atid agricolas por camponeses que se defendiam dessas arbitra riedades fugindo para os matos.

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