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2. “Experiéncia”! Travamos nossa luta por responsabilidade contra um ser mascarado. A mascara do adulto chama-se “experiéncia”. Ela é inexpressiva, impenetravel, sempre a mesma. Esse adulto j4 vi- yenciou tudo: juventude, ideais, esperangas, mulheres. Foi tudo ilusio. — Ficamos, com freqiiéncia, intimidados ou amargura- dos. Talvez ele tenha razao. O que podemos objetar-lhe? Nos ainda nao experimentamos nada. ~~ Mas vamos tentar agora levantar essa mascara. O que esse adulto experimentou? O que ele nos quer provar? Antes de tudo, um fato: também ele foi jovem um dia, também ele quis outro- 120 que agora queremos, também ele nao acreditou em seus pais; mas a vida também lhe ensinou que eles tinham razao. E entéo | cle sorri com ares de superioridade, pois 0 mesmo aconteceré | ¢ nao ele desvaloriza os anos que estamos vi- | elmente em 1929, Benjamin langa um olhar “Num de meus primeiros ensaios mobilizei to- ‘contra a palavra ‘experiéncia’. E eis que agora de sustentacao em muitas de minhas coisas. mesmo. Pois 0 meu ataque cindiu a palavra |até o Amago da coisa”. (N.T.) — : ca das doces asneiras que Se Cometem — -o5 na EPOX Eantil que precede a longa sobrie. ; ou no — os bem-intencionados, 08 esclare. a = pedagogos os amargura no nog va sequet 0S curtos anos de juventude”; Sisudos oes empurat desde j4 para a escravidao da yida | Mesvaloriza™, destroem os nossos anos. E, cada Ambos, con? romados pelo sentimento de que a nossa juyen. yer mais oe ma curta noite (vive-a plenamente, com é. ude no pass le Sapo de “experiéncia”, anos dé compromis- \ tase!)s ar ais lassidi0. Assim é a vida, dizem os adultos, so, poor — ja experimentar am isso. Sts experimentaram eles, a falta de sentido da vida, 5 jamais exper jmentaram outra coisa. A brutalidade, 5 os encorajaram. alguma vez a realizar algo gran- Aioso, algo nove ¢ futuro? Oh nao, pois isso nao se pode mesmo experimentar. Tudo o que tem sentido, o verdadeiro, o bem, o belo est fundamentado em si mesmo — 0 que a experiéncia tem ? Eaqui esta o segredo: uma vez que 0 filisteu aver com isso tudo? jamais levanta os olhos para as coisas grandiosas e plenas de sen- tido, a experiéncia transformou-se em seu evangelho. Ela con- verte-se para cle na mensagem da vulgaridade da vida. Ele jamais compreendeu que existe outra coisa além da experiéncia, queexis tem valores que nao se prestam 4 experiéncia — valores a cujo servigo nos colocamos. elataeg a vida é absurda e desconsclide i es a ele s6 conhece a experiéncia, nada além C prio se encontra privado de ™ porque ele sé é capaz de manter relagao vulgar, com aqui é Wot lle que ¢ “eternamente-ontet™” ee sempre 1ss0, Por acaso ele i : “Experiéncia” averdade, ainda que tudo o que foi pensado até agora seja equi- yocado. Sabemos que a fidelidade precisa ser sustentada, ainda que até agora ninguém a tenha sustentado. Nenhuma experién- cia pode nos privar dessa vontade. Mas, sera que em um ponto os pais teriam raz4o com 0s seus gestos cansados e sua desespe- ranga arrogante? Serd necessdrio que o objeto da nossa experién- cia seja sempre triste, que nao possamos fundar a coragem € 0 sentido senao naquilo que nao pode ser experimentado? Neste caso entao 0 espirito seria livre. Mas, sempre e sempre, a vida o estaria rebaixando, pois, enquanto soma das experiéncias, a pré- pria vida seria um desconsolo. Agora, porém, nao entendemos mais 0 porqué dessas ques- toes. Por acaso guiamos a vida daqueles que nao conhecem 0 espirito, daqueles cujo “eu” inerte é arremessado pela vida como por ondas junto a rochedos? Nao. Pois cada uma de nossas ex- periéncias possui efetivamente contetido. Nés mesmos conferi- mos-lhe contetido a partir do nosso espirito. — A pessoa irrefle- tida acomoda-se no erro. “Nunca encontrards a verdade”, brada ela aquele que busca e pesquisa, “eu ja vivenciei isso tudo”. Para 0 pesquisador, contudo, o erro é apenas um novo alento para a busca da verdade (Espinosa). A experiéncia é carente de sentido € espirito apenas para aquele ja desprovido de espirito. Talvez a experiéncia possa ser dolorosa para a pessoa que aspira por ela, mas dificilmente a levar4 ao desespero. Em todo caso, essa pessoa jamais sera acometida de resig- hagio apdtica ou se deixard entorpecer pelo ritmo do filisteu. Pois ofilisteu — como ja percebestes — rejubila-se apenas com todo fato que demonstra de novo a falta de sentido. Ele tinha portan- a ig Certifica-se assim que na realidade o espirito nao exis- © Mas ninguém exige submissao mais rigida, “vyeneracao” mais naa diante do “espirito” do que ele. Pois se elaborasse criti- cle seria obrigado a participar, e disso ele nao é capaz. Até mesmo Reflexdes sobre a criange, o brinquedo e 4 educagao na experiéncia do espirito, que ele realiza a contragosto, nao consegue sentir 0 espirito. Sagen Sie ihm Dass er fiir die Traume seiner Jugend Soll Achtung tragen, wenn er Mann sein wird. (Diga-lhe Que pelos sonhos da sua juventude Ele deve ter consideragao, quando for homem.]? Nada é mais odioso ao filisteu do que os “sonhos da sua juventude”. (E, quase sempre, 0 sentimentalismo é a camuflagem desse 6dio.) Pois o que lhe surgia nesses sonhos era a voz do es- pitito, que também 0 convocou um dia, como a todos os homens. A juventude lhe é a lembranga eternamente incémoda dessa con- pocrsn. hor isso ele a combate. O filisteu lhe fala daquela expe- vc propa sono joven azar tavel, embora funesto. mime confor Mais um: é de ser hostil ms ae eee experiéncia. Ela po- No entanto, é0 que existe ao muitos sonkios flotesesnae favel, pois ela jamai — belo, de mais intocavel e ine- eo » €ternamente a mesm; ‘0. O Jovem vivenciard o es , SxPressao da auséncia de es- Pitito, e quanto mais dificil lhe “Experiéncia” fora conquista de coisas grandiosas, tanto mais encontrard 0 es- {rico por toda parte em sua caminhada e em todos os homens. : O jovem sera generoso quando homem adulto. O filisteu é jntolerante. (1913)

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