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A complexidade do DBO HISSASHIKAMIYAMA Engenheiro da Superintendéncia de Apoio Técnico da Diretoriado Interior da Sabesp. }BO: seus problemas ¢ limitagées como pardmetro de avaliagdo da performance no processo de tratamento biologico de esgotos. Este é 0 tema central deste trabalho, pois, segundo o autor, 0 que se observa na prdtica 6 que o grau de compreensdo dos verdadeiros significados de DBO néo parece estar na ‘mesma proporeao da popularidade do termo. Para aqueles que ja tenham, de alguma maneira, tido con- tato com 0 saneamento bisico, € praticamente imprescindivel conhecer 0 termo Demanda Bioquimica de Oxigénio (DBO). E, sem daivida, o parimetro de poluicdo hidrica mais divulga- do. Os técnicos em saneamento bisico utilizam 0 termo DBO com grande freqiiéncia, No entanto, © que se observa na pritica € que o grau de compreensio dos verdadciros significados de DBO nio parece estar na mesma proporcao da popularidade do ter mo. Natealidade, a determinacao daquele parimetro € um tan- to complexa, dependendo de uma série de fatores nem sempre exatamente detectiveis, abrangendo desde 0 manuseio das vi- drarias até os fatores fisico-quimico-biolégicos das amostras. ‘Sem se conhecer em detalhe essas complexidades que envolvem © processo de determinagao da DBO, 0 resultado obtido € de reduzido valor técnico, além de induzir em grave erro aqueles que se utilizam daquele parimetto. Na avaliacao da performance dos diversos processos de tra- tamento biolégico de esgotos é normalmente utilizadaa DBO. A cficiéncia do proceso de tratamento & representada, por ‘exemplo, em termos de porcentagem de redusio da DBO! Mas 0 faro é que quanto mais se conhece a complexidade dos fatores na determinagao daquele parimetro, somos menos encorajados a utilizar a DBO para avaliacio da Performance do processo de tratamento. Os motivos serio expostos a seguir. DEFINICAO Sabe-se que a carga poluidora de esgotos é composta essen- cialmente de matérias organicas. A existéncia de matérias orga nnicas (as que contém étomos de carbono) no seio Ifquido propi- cia a proliferacao de bactérias ¢ outros microorganismos que se alimentam daquelas matérias, consumindo, a0 mesmo tempo, © oxigénio dissolvido na agua. Com 2 deficiéncia de oxigénio dissolvido na Agua, os animais e plantas que necessitam dele vio desaparecendo, ¢ se a condicéo de deficiéncia for mantida a gua passara a apresentar cor escura, exalando, muitas vezes, cheito desagradavel. Esse €, em suma, 0 resultado da poluicio hidrica causada ela matéria orginica. Na auséncia de um método pratico, sim- bles e rapido para a determinacao da quantidade daquela ma- téria, estima-se através da quantidade de oxigénio requerida em dererminado petiodo de tempo ¢ temperatura pelos mi- ctoorganismos consumidores de matéria orgiinice. Esse € 0 mé- todo da Demanda Bioquimica de Oxigénio. 28 Define-se, assim, a DBO, como sendo a quantidade de oxi- genio requerida pelos microorganismos para estabilizar sob temperatura controlada a matéria orginica biodegradivel exis. tente no seio liquido, sob condigao aer6bica. AS DIVERSAS FORMAS: A detetminacio da DBO é feita normalmente do seguinte ‘modo; toma-se uma determinada quantidade de amostra de ‘esgoto, na qual se quer determinar 2 DBO; coloca-se num fras- co (normalmente de volume entre 250 2 300ml) juntamene com a gua de diluicio (esta pode, conforme 0 caso, set dispen- sada) alguns nutrientes, Da solucao tesultante determina-se a concentragao inicial de oxigénio dissolvido. O frasco com 2 amostra € entio colocado numa incubadora a 20°C ¢ sem a presenca de luz. Apés decorter detetminado petiodo de tempo, ‘mede-se novamente a concentragio de oxigénio dissolvido fi- nal. Da diferenga entre a concentragio inicial e final de OD calcula-se a quantidade de OD consumido. Esta corresponde & Demanda Bioquimica de Oxigénio. ‘A DBO talvez mais conhecida eutilizada € aDBO?? ou se- ja, aquela mantida em incubacio durante 5 dias. E claro que a incubago poder ser mantida por menos ou muito mais tempo ‘que os 5 dias. FIGURA1 Curva da DBO perfeita DBON roB0c pemanoa cansthiyca,A20%. yew) Tamro (as) A figura 1, denominada Curva da DBO Perjeita, demons- ta que na realidade a demanda de oxigénio 20 longo do tempo € resultante de dois tipos de demanda — a primeira de origem carbénica ¢ a outra resultante do processo denominado nitrifi- ‘casio. Deixando por ofa a explicaséo mais detalhada sobre a se- gunda demanda para mais adiante, observa-se que no prazo de incuba¢éo, entre 7 a 12 dias, ocorre a primeira etapa de estabi- lizacio bioquimica, envolvendo basicamente a matéria organi- ca biodegradavel. A DBO dessa fase mede, portanto, a quanti- dade de oxigénio necessdria para a estabilizaclo da matéria con- tendo carbono e facilmente biodegradével. ‘Como se vé pela figura 1, 0 processo de demanda de oxigé- tio prossegue além do prazo de 12 dias, ocorrendo uma sibita clevacio, até se estabilizar em torno de 20 dias. Essa segunda etapa na demanda de oxigénio é devida basicamente 20 j4 mencionado processo de nitrificacio. DYAL VOUS R162 JUUSETES Observa-se também que a DBO de origem carbénica torna- s piaticamente constante em torno de 20 dias. Como normal- ‘mente pode-se obter establizagdo da matéria orginica superior 2.90% com aquele tempo de incubacdo, considera-se comple- tada a etapa de estabilizacdo carbénica (na realidade, esta € bem mais demorada) ¢ a DBO assim obtida € denominada de DBO mixima (traducdo do termo Ultimate BOD — indicare- mos por DBO,) Ao interrompermos a incubacdo no 5.° dia obteremos, evi- dentemente, o valor da DBO bem inferior ao da DBO, Aque- Je corresponde geralmente entre 60 a 80% do valor da DBO, apurado, Por outro lado, com apenas 5 dias de incubacio é pra” ticamente desprezivel o aumento na demanda de oxigénio, de- vido ao fendmeno de nitrificacdo (exceto em alguns casos es- pecfcos, como veremos adiante). Assegura-se, desse modo, que a DBO, seja essencialmente devida 4 estabilizacio da ma- téria organica. ANITRIFICACAO E SEUS EFEITOS Enfim, pergunta-se: 0 que € nitrificaglo? Até agora s6 nos teferimos geneticamente como mictoorganismos, aqueles agen- tes responsiveis pela biodegradacdo de matérias orginicas. Sa0 eles, basicamente, 2s bactétias, os fungos ¢ protozodrios, per- tencentes aos grupos denominados de heterotr6ficos. Por outro lado, existem seres denominados autétrofos, que se utilizam das matérias de fontes nao orgdnicas, para scu crescimento. O fenémeno de nitrificacio € causado essencialmente por dois ‘grupos de bactérias autott6ficas que, atuando sobre a aménia (NH) cxistente no esgoto, transformam-na em fons nitrites (NO) e posteriormente em nitratos (NO}, segundo as equa- sees: say, 2H 6 24,0600) 2NH, +30, /NITROSSOMONAS aN; eH 9.2 TNITROBACTER 2NO; + 2H* As bactérias nitrificadoras (Nitrossomonas ¢ Nitrobactet) atuam, assim, sobre as matérias nao orginicas (aménia), oxidando-as ¢ extraindo dai a energia necessira 3s suas ativida. des. Sendo reagdes de oxidagdo, consomem o oxigénio dissolvi- do, aumentando o valor da DBO, Lembrando-se da definicao dada para DBO, o actéscimo na demanda de oxigénio devido & nitrficagio nio cortesponde, na tealidade, 4 quantidade de matéria orginica biodegradivel, co- moaquele termo faz supor. A razio por que o fenémeno da ni- tiificagio se torna mais evidente a parir de determinado tempo de incubacio esté no fato de que aqueles grupos de microorga- nismos nitrificadores existirem em nimeros felativamente pe- ‘quenos dentro do esgoto (nao tratado biologicamente) ¢ sendo de reduzidas taxas de crescimento, necessitam de prazo maior de tempo para atingir 0 nimero expressivo de populacto, a onto de exercerem influéncias na determinacio da DBO. Mas qual a intensidade da interferéncia de nittificagao so- bre a DBO? Estequiometricamente seriam necessarios 3,43 mg de O, para oxidar 1 mg de nitrogtnio de aménia para o nittito. Por sua vez, seriam necessérios 1,14 mg de O, para converter 1 img de nitrito em nitrato. Ao todo, sfo utilizados 4,57 mg de Op para oxidar | mg de nittogénio amoniacal para nitrato, Dissemos ainda que a nittficaczo se processa a partir de de- terminado tempo de incubacdo. Isso € verdade se na amostra de esgoto incubada nio existrem, inicialmente, quantidades DANE VOC ON 162-JULISET ‘expressivas de bactérias nitrificadoras. Tal no é 0 caso, por exemplo, das amostras provenientes dos efluentes das ETEs a lodo ativado (de elevada idade de lodo) ou de Filtro Biol6gico, onde, devido as caracteristicas especificas dos processos de wata- ‘mento biologico, ha formagéo de grandes populagées de bacté- 1ias nitrificadoras. A existéncia dessas bactérias em quantidades expressivas na amostra afeta seriamente o resultado da DBO, mesmo aquele de5 dias, majorando-o sensivelmente. Isso pode indurzit 3 falsa conclusio a respeito da Performance do processo de tatamento em questio. Para evitar tais problemas, recomenda-se a adicio de deter- minados produtos inibidores das bactérias nitrificadoras 3 ‘mostra, restringindo o resultado apenas 4 demanda carbonica.. Porém, o problema de nittificagio nao para ai. Assim como acontece com 0s microorganismos heterot responsiveis pela oxidacio da matétia organica, as bactétias nitrificadoras (autowéficas) so também dependentes de uma multiplicidade de fatores que determinam suas taxas de crescimento €, conse- quentemente, os valores finais da DBO. Para Marais ¢ outros (Theory, designs and operation of nusriens removal in A.S. Processes, University of Cape Town, 1984), os fatores determi- ‘nantes no comportamento da nitrificacao sio: 4) tipo de esgoto; ) temperatura; PH; ) existéncia de zonas nao aeradas; ©) concentragéo de O.D.; £) carga e vazio ciclica. Para efeito de teste de DBO, podemos considerar apenas os jitens ‘'a’*, ‘‘c'’ € “‘e’. No caso do item ‘‘a'’, concluem os pes: quisadores que a taxa maxima especifica de crescimento dos ni- wificadores, u™ (isto €, a taxa maxima de crescimento por uni- dade de tempo — em 1/d) € praticamente um valor inerente a cada tipo de esgoto, podendo variar de 0,33 20,65 por dia, a 20°C. Isso significa que as duas amostras distintas de esgotos com aquelas caracteristicas podem apresentar, para determina- do periodo de incubagio, taxas de nitrificagio com cem por cento de diferenga, resultando, evidentemente, em valores fi- nais das DBOs distintos, mesmo que as DBOs.catbénicas fos- sem gua. O item *‘c’’ (pH € alcalinidade da amostra) exerce forte in- fluéncia sobre as bactérias nitrificadoras, notadamente sobre as taxas especificas de crescimento (MN). Diz Morais que as bac- térias nitrificadoras tem suas faixas de atuagao de pH entre 7,0 € 8,5 ¢ que as mesmas sofrem acentuado declinio quando sub- metidas a pH ambiental fora daquela faixa. Quanto ao item “‘e"' (concentracao de O.D.), sabe-se que a baixa concentracdo deste reduz a taxa de nitrificacao apesar de ez poder definir qual o valor critico inferior que inibe a nitri- cart. A pesquisa realizada por P.E. Gaffney ¢ H. Heukelikian (Sewage and Industrial Wastes, abtil/38) demonstra por outro lado que se fosse mantida a relagdo de DBO: N : P em torno de 100 : 5 : 1, a nittificagao nao ocorreria, mesrao quando a incu- bagdo excedesse os 20 dias, devido a0 consumo exato de nitro- énio pelos microorganismos heterotréficos. Isso quer dizer que a intensidade de nitrificacao depende, também, de se a re- lagao de DBO : N : P da amostra incubada se afasta ou no da- quele valor (100:5:1), 0 que depende, por sua vez, do tipo de esgoto amostrado. Por outro lado, 0 excesso de aménia também inibe a nitrifi- cagdo ().W.P.C.F., abril/ 1967). Utilizando cloreto de am4nia (NH, Cl) como fonte de aménia, os autores do referido traba- lho chegaram 3 concluséo de que com pH em toino de 7.0. 2 concentracdo de aménia de 0,10 molar é suficiente para inibit 2 nitrificacZo nos testes da DBO para diversos tipos de despejos, inclusive para efluentes nitrificados do filtro biolégico ou do lo- 29 do ativado, sem afetar o comportamento dos microorginismos heterowficos. ‘A complexidade de fatores que envolve o fendmeno de ni- trificacio € sua influéncia sobre o teste de DBO faz surgir de tempos em tempos discusses acerca da validade do teste de DBO, incluindo a nittificacio, principalmente como parame- tro de avaliacio da eficiéncia de uma ETE. INFLUENCIA DO TIPO DE ESGOTO SOBRE A DBO— EFEITOS DA ACLIMATACAO DOS MICROORGANI A equacdo basica cléssica que exprime o valor da DBO a um dado tempo de incubacdo, é a seguinte: y= L(L- 109 (eq. 3) onde: = valor da DBO apés o tempo “‘t'* de incubagéo; valot da DBO, (DBO maxima); . K = taxa de reagio bioquimica A tapidez com que a reagdo bioquimica se processa € de- pendente do valor de K. E este varia conforme o tipo de esgoro ¢, portanto, dos seus componentes quimicos (estudos recentes revelaram que 0 valor de K vatia também com o tempo de in- cubacio). Para um mesmo tipo de esgoto, pode vatiar confor. ‘me 0 dia ou até mesmo conforme o horirio em que a amostra & coletada, A figura 2 mostra exemplos de curvas representativas da equacdo 3, com valores distintos de ‘‘K'’, apesar de pos- suftem mesmo valor de DBO,,. FIGURA2 DBOXxK a» f | 3 eo i 1 ° € ~ 6 (ons) Como, por exemplo, um esgoto com K = 0,1 terd, apés 5 dias de incubaco, apenas 68% da DBO,,, enquanto que outto ‘esgoto com K = 0,25 atingité surpreendentemente 94% do valor da DBO, ‘A variagio apresentada nos valores de ““K"" demonstra a complexidade do teste de DBO. Se um determinado esgoto contiver matéria orginice facilmente biodegradavel, a DBO, deste seri elevada. Por outro lado, outro esgoto com carga orga- ica absoluta superior 20 esgoro anterior. potém com maior di- fiuldade de ver biodepradada, apresensarS menor valor de y O grau de dificuldade de biodegradacio apresentado pot diversos tipos de esgato pode ser razoavelmente amenizado 30 pela aclimatado adequada dos microorganismos a0 esgoto. Desde que se utilize meios biol6gicos adequadamente aclima- tados, pode-se obrer um valor bastante préximo ao valor verda- deiro, mesmo no caso, p. ex., do despejo de induserias de papel ¢ celulose. Caso contritio, quando 0s microorganismos no es- tiverem aclimatados, a curva de DBO nao € aquela apresen- tada na figura 1, mas similar 3 ilustrada na figura 3 FIGURA3 ‘Curva de DBO atipica t (os) Observa-se na figura 3 que a demanda de oxigénio € bas- tante reduzida na fase inicial da incubacao. E 0 periodo em que (05 microorganismos tentam a adaptagio ao meio ambiente. So- mente apés detetminado periodo, ja tazoavelmente aclimata- dos, a curva de DBO retoma aspectos da curva classica. FATORES INFLUENTES SOBRE AS ATIVIDADES DOS MICROORGANISMOS: pH E TOXICOS teste de DBO tem como hipétese o pleno crescimento ¢ atividade da populacZo microbiana no interior do frasco de cubagio. Para que essas hipsteses fossem atingidas, necessétio se faz que 2 amostra no frasco satisfaca plenamente as condigdes necessitias 20 desenvolvimento biolégico. Tais condicées nao sio freqiientemente satisfeitas na pratica. Vejamos alguns des- tes fatores limitantes: ‘pH— Poucos sio os trabalhos de pesquisa sistemstica sobre a influéncia de pH na taxa de DBO. Algumas das conclusoes conhecidas (S.K. Mukherjee ¢ al —J.W.P.C.F. — nov/ 1968) acerca da influéncia de pH sobre a taxa de reatdo bioquimica (K) e valor da DBO maxima (1) sto, resumidamente. as seguin- tes: 2) na faixa de pH entre 6,0 € 8,0 em quaisquer temperatu- ras entre 20 € 37°C, 0 valor de K € méximo na faixa acida, ‘minimo quando o pH é neutro ¢ cresce novamente na faixa al- calina; ) 0 valor de K cresce com a temperatura sob o pH varié- ©) o valor da DBO max. L tende a dectescer com 0 aumento do pH, aumenta na faixa neutra e, finalmente, dectesce na fai- xa alcalina. ‘Téxicos — os metais pesados — Um dos componentes mais freqtientemente enconttados nos esgotos das cidades moder ‘as, os metais pesados aferam intensamente a dererminasao de DBO. Os mais freatientemente encontrados s4o: cobre, zinco, merctirio, cédmio, ctomo, ferro etc. Cada um destes metais afeta 0 comportamento dos microorganismos de modo distin- to, ea intensidade da inibicio varia de acordo com as condigdes cexistentes, tais como pH, temperatura, concentracio de subs- trato bisico exe ‘Quanto 3s concenurasaes criticas de metais nas amostras, hé liversos niimeros revelando as dificuldades na detetminacao dos efeitos de metais. Os estudos feitos por G. B. Morgan ¢ Ja- ‘mes B. Lackey (Sewage and Industrial Wastes, Vol. 30, n.° 3, ‘mafro/38) demonstram que tanto 0 cromo quanto o cobre re- duzem o valor da DBO, em 12 a 35% com a adicio de 0,1 img/ I destes metais nas amostras incubadas. ‘De um modo geral, os metais pesados em concentragées de ‘alguns miligramas por litro inviabilizam a aplicagao do este de DBO. Por outio lado, dependendo dos tipos de metais pesa- dos, 2 inibicdo ao crescimento bacteriol6gico se processa de mo- do distinto. Nas pesquisas feitas por Kaneko e Nambu (1973), tutilizando o lodo ativado cultivado, demonstrou-se que os ions de mercirio causavam retatdamento na fase inicial, ou seja, tag phase. Ji 0s fons dos metais como Cr**, Cd*? ¢ Pb*®, afetam a taxa de crestimento na fase logarftmica, reduzindo a ‘massa final total dos microorganismos. Quanto a0s -fons Zn? ‘Cu*?, 05 efeitos foram semelhantes 20s do merctirio, sob a con- digdo de baixa concentracio de substiato basico. Ainda os mes- ‘mos autores concluem que 2 idade dos microorganismos um fator que condiciona os efeitos dos metais sobre os mesmos. As sim, os que tiverem idade maior sio menos afetados pelos me- tals. ‘As pesquisas de Kaneko ¢ Nambu demonstraram que de- terminados tipos de metais afetam intensamente a fase inicial do crescimento bacteriol6gico, afetando, conseqientemente, a determinacio da DBO de menor tempo de incubacio, enquan- to que outros afetam igualmente todas as fases, prejudicando -menos aquelas de prazo longo (20 dias) PRESENGA DE PREDADORES SECUNDARIOS — OS PROTOZOARIOS Dissemos até agora que a matéria orginica biodegradavel cera consumida basicamente pelas bactérias. Estas so, na reali- dade, as primeiras espécies de microorganismos que atuam so- bre substratos soliiveis biodegradaveis, exercendo determinada demanda de oxigénio. Apés esta fase inicial, a curva de deman- da de oxigénio apresenta uma pequena pausa para depois revigorar-se novamente, como mostra a figura 4. FIGURA4 ‘Consumo de OD x microorganismos. 5 t 3 consume acunssano D& O31 m/t) ? Esta segunda fase na demanda de oxigénio (nfo confundir com a nitrificagao) € devida ao crescimento de protozoirios, predadores das bactérias ¢ que se alimentam daquelas, consu- mindo igualmente 0 oxigénio. A pausa obscrvada na curva da demanda é devida 4 defasagem no crescimento populacional entre as bactérias ¢ protozodrios. As diferencas encontradas en- te 05 resultados finais dos testes de DBO, uns com a presenca de protozoirios ¢ outtos sem os mesmos Bhatla ¢ Gaudy — Journal of ASCE.) Vol. 91 — junho/65) s4o expressivas, che- ‘ando a concluir-se que 05 protozoftios slo responsiveis pot cerca de 30% do valor final dz DBO,. Conclusio semethante foi relatada por Sudo, R. (Haisuishori no seibutsugaku — To- kkyo,1977). Além disso, as espécies distintas de protozodrios de- ‘mandam quantidades distintas de oxigénio. (O teste padronizado de DBO nao traz restricBes quanto 20s protozodrios, donde infere-se que estes testes, normalmente, levam em consideracio a demanda devido aos protozodrios. Quando se procede a anilise dos esgotos domésticos ou cflucntes de uma ETE, com processo biol6gico, € plausfvel ima- ginar que aquelas amostras j4 contenham algum tipo de proto- zoirio. A mesma hipétese ndo € assegurada quando as amostras forem de origem industrial ou das ETEs que contenham algu- ma unidade que possa eliminar a sobrevivéncia dos protozo4- ros que so, por natureza, os mais sensfveis perante as variagbes das condigées ambicntais ou perante a prescnca de substancias tOxicas. O alto grau de scletividade destes microorganismos quanto ao tipo de alimentos mais adequados ¢ a influéncia des- ‘a caracteristica na demanda de oxigénio sio também conside- rveis, segundo Sudo. DBOEALGAS Nao houve até agora um estudo sistematico focalizando os cfeitos que as alzas causam sobre os resultados da DBO. Dentre os existentes, 0 trabalho de George P. Fitzgerald é 0 que parece ter avangado mais neste assunto (The effect of algae on BOD measurements, |W.P.CF., dex! 1964). Utilizando-se inicialmente da alga verde Chlorella Pyrenoidoss, o aucot extraiv algumas conclusies que merecem set consideradas na anglise da DBO contendo algas. Sao resu- midamente: a) a DBO causada pelas células mortas de algas € cerca de 4 vezes superior ao consumo causado pelas algas vivas durante a incubacao; ') 0 consumo de oxigénio dissolvido devido as algas vivas varia consideravelmente conforme 2 origem donde as algas fo- ram cultivadas (entre 0,09 a 0,19 mg O,/mg SS x 1 para algas cultivadas no meio sintético ¢ de 0,27mg O,/mg SS x 1 para aquelas cultivadas com o efluente da ETE a nivel secundaio); ‘0 a taxa de utilizacdo de oxigénio pela CBlorella parece set independente do aumento na respiracao bacteriana, devido 4 adicao de frurose. Jé na presenca de glicose, as algas exercem «efeitos sobre a DBO bacteriana. PROCEDIMENTOS PARA ARMAZENAMENTO DAS AMOSTRAS E TECNICAS DE ANALISES Uma das questdes que tém suscitado vivas discuss5es acerca das dificuldades de padronizacio do teste de DBO é o proble- ma de armazenamento ¢ as técnicas laboravotiais. Quanto a0 primeiro, a questo se resume no tempo de armazenamento admissivel, desde a coleta até a realizacio das andlises em si, 0 que inclui o tempo necessério para transporte, mais o tempo nnecessitio para elevar a temperatura de 4°C (temperatura de reservagao das amostras) até a temperatura préxima 3 da ineu- bacio, pois a amostra deve estar na temperatura de incubacao antes da diluigao. 31 Mesmo sob a melhor técnica de refrigeracio, pode, no en- tanto, ocorter a atividade biolégica — 0 que limita, evidente- © tempo total para armazenamento. Recomenda-se 0 maximo de 6 horas para amostras simples ¢ de 30 horas para amostras compostas. Quanto 2 qualidade das aguas para diluicao, esta deve ser de tal modo que 0 consumo de OD apés a incubacio (a 20°C) seja, no maximo, 0,2 mg/l, Se este teste em branco consumir além de 0,2 mg/l, 0 teste deve set rejeitado. E 0 consumo de OD, devido a inseminacdo de microorganismos, deve girar em torno de 0,1 mg/l, além deste consumo ser basicamente devido a.autodigestio. Normalmente a fonte mais adequada e utiliza da pata a inseminagao € o efluente final da ETE, 0 que traz 0 inconveniente de conter quantidade ponderavel de bactérias nitrificadoras. A Agua de diluigao contendo o efluente deve set armazenada no escuro, j contendo produto inibidor dos nitti ficadores. Se a agua de diluisa0 nao contiver 0 produto inibidor nao deve ser armazenada, pois as bactérias nitrificadoras acaba- fo consumido a aménia adicionada 3 agua como nutriente. Cuidados especiais devem ser dispensados quando da andli- se da amostra com algas ou por outro motivo qualquer estiver supersaturada, Aquela amostra, quando cortigida a temperatu: ra de incubacio ou durante o teste, pode reduzir 0 nivel de ‘OD, resultando em valor final da DBO apurada nio real, No manuseio das vidrarias, a lavagem malfeita dos frascos pode permitir a proliferacao das bactérias nitrificadoras. Infe- lizmente, vemos freqiientemente uma certa falta de cuidados ‘mais acurados em relacio 20 processo de lavagem e de secagem das vidrarias, principalmente nos laboratSrios de esgotos. Co- mo jf vimos, o teste de DBO exige cuidados especiais para uma conteta avaliagio, além de bom-senso por parte dos laboratoris- tas. Evitar que 0 processo caia na rotina, tornando o mecinico — este € o primeiro passo para a obtengio de resultados confi veis, nos testes de DBO. CONCLUSAO teste de DBO € um processo altamente complexo, sendo afetado por intimeros fatores que tornam o resultado apurado suscetfvel de ertos consideréveis. Quando utilizado como pari ‘metro de controle operacional ou de eficiéncia de uma ETE, 0 problema se torna ainda mais evidente. Além do mais, a moto- sidade com que este parimetio € apurado (normalmente supe- rior a 5 dias) faz da DBO um pardmetro apenas com cariter re- gistrativo e a Posteriori. REFERENCIAS 1 — George P. Fitzgerard. The effect of algae on BOD measurements) WP.C.P. — dez! 1964. — James C. Young: Gerard N/M. e D. Jenkins. Alterations in the BOD procedure for the 15th edition of Stan- dard Methods for the Examinations of Water and Wastewaters —J.W.P.CF. — jul 1981 3 —J.H. Sherrard; A.A. Friedman ¢ M.C. Rand. BOD,; are shese alternatives avaiables? — JWP.CE. — jul/1979. — Kaneko, M, ¢ Nambu. T. 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