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TAVARES, Gonalo M. O Mapa. In: 1. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005. p. 161.

Entrega em 20/10

O mapa

Sempre senti a matemtica como uma presena


Fsica; em relao a ela vejo-me
Como algum que no consegue
Esquecer o pulso porque vestiu uma camisa demasiado apertada nas mangas.
Perdoem-me a imagem: como
Num bar de putas onde se vai beber uma cerveja
E provocar com a nossa indiferena o desejo
Interesseiro das mulheres, a matemtica isto: um
Mundo onde entro para me sentir excludo;
Para perceber, no fundo, que a linguagem, em relao
Aos nmeros e aos seus clculos, um sistema,
Ao mesmo tempo, milionrio e pedinte. Escrever
No mais inteligente que resolver uma equao;
Porque optei por escrever? No sei. Ou talvez saiba:
Entre a possibilidade de acertar muito, existente
Na matemtica, e a possibilidade de errar muito,
Que existe na escrita (errar de errncia, de caminhar
Mais ou menos sem meta) optei instintivamente
Pela segunda. Escrevo porque perdi o mapa.

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