Você está na página 1de 1

TAVARES, Gonalo M. Mtodo desvio.

In: Breves notas sobre as ligaes (Llansol,


Molder e Zambrano). Lisboa: Relgio Dgua, 2009. p. 75-76

Mtodo desvio, escreve Walter Benjamin, citado por MFM.

Mtodo como aquilo que se faz depois de se ter tropeado; ou: o movimento no
planeado, espontneo; para no cair depois de um desequilbrio.
Se tocares [puseres as mos] no vestgio, algo, afastado dali se sentir tocado,
interrompido no seu percurso, agarrado. Ou ao contrrio? Se agarrares o vestgio, aquilo
que lhe deu origem aumentar, algures, a sua velocidade?
O relevante, o pressentimento: interferir nos vestgios interferir na coisa que lhes
deu origem. Um escritor cuja curiosidade sai da folha que est em frente de si no momento
em que escreve? O olhar desviado desvia. Porque o escritor no um leitor que depois
de ler a frase pode desviar os olhos para um stio inexistente e ficar por a largos minutos
ou mesmo horas, num devaneio imaterial.
Para o escritor, pelo contrrio, os devaneios devero ser concretos; de tal forma
materializveis que possam ser colocados em sacos de plstico. O escritor est a fazer o
que ainda no foi feito. O leitor pode pousar o livro, a frase no foge; o escritor odeia o
acto de pousar, porque pousar no fazer, e no fazer o que ainda no foi feito um erro.
No fazer o maior pecado.

Você também pode gostar