Você está na página 1de 22
ca AD) Q845-6 Confederario Nacional da Indistria —EXMO. SR. MINISTRO PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL ‘SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL ‘Coetsonadata de Registtos ‘2 Wermucges Processunis 1410212003 16:48 ‘an ONL A CONFEDERACAO NACIONAL DA INDUSTRIA, entidade sindical de grau superior representativa da industria brasileira, com sede em Brasilia, no Distrito Federal, SBN, Quadra 1 - Bloco "C" - Edificio Roberto Simonsen, onde receberd intimagdes, por seus advogados (Doc. 01), com fundamentagao nos artigos 102, inciso |, alinea "a" e 103, inciso IX, da Constituigao Federal, vem propor AGAO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE, com PEDIDO DE LIMINAR, EM CARATER URGENTE, EIS QUE JA ESTAO SENDO PRODUZIDOS EFEITOS, INCLUSIVE TRIBUTARIOS, DESDE 09/01/2003 tendo por objeto os artigos 1°, 2°, inciso | e § 2° da Lei n° 4.056, do Estado do Rio de Janeiro, de 30 de dezembro de 2002, publicada no Didrio Oficial do Estado em 31 de dezembro de 2002 (Doc. 02), e a lei como um todo, que, lastreando-se no artigo 82 do ADCT, autorizou o Poder Executivo Estadual a instituir, no e para o exercicio de 2003, o Fundo Estadual de Combate & Pobreza e as Desigualdades Sociais, financiado, sobretudo, por adicionais as aliquotas do ICMS vigentes. Ademais € inconstitucional em seu todo o Decreto n° 32.646, de 08 de janeiro de 2003, publicado no Diario Oficial do Estado em 09 de janeiro de 2003 (Doc. 03), seja porque, ao arrepio da legalidade, é a norma que institui o fundo, seja pela forma como regulamenta a Lei Estadual Lei n° 4.056/02. As inconstitucionalidades, que seréo comentadas ao longo desta exordial, podem ser resumidas como seguem a) inconstitucionalidade por violagdo flagrante ao art. 82, seu § 1° e ao art. 83 do Ato das Disposigées Xx Confederagéo Nacional da Indistria 2 Constitucionais Transitérias, pois a permissdo do art. 82 do ADCT, de criagao de adicional do ICMS incidente sobre a circulagao de produtos supérfluos e a vinculacdo dessa receita ao Fundo de Combate a Pobreza, 6 norma de eficacia limitada, e, assim, sé poderia ser criado (0 adicional) apés Lei Federal definir a lista de supérfluos, conforme previsto no referido art. 83 do ADCT; b) inconstitucionalidade por invaséo do Estado em matéria de competéncia privativa da Unido, pois, ao criar adicionais as aliquotas do ICMS vinculado ao referido Fundo, a Lei Estadual acabou, assim como o Decreto 32.646/03, por definir os produtos e servigos supérfluos, quando essa competéncia ¢ privativa da Unido (CF, art. 22 ele ADCT, art. 83); c) inconstitucionalidade por falta de razoabilidade, pois, mesmo que competéncia legislativa tivesse para definir os produtos e servigos supérfluos, a Lei Estadual o fez sem razoabilidade, na medida em que definiu que todos os servigos e produtos sao supérfluos, a excecdo daqueles que integram a cesta basica (Lei n° 4056/2002, art. 2, § 2°), @, de acordo com a redacéo pouco clara do Decreto 32.646/2003, art. 2°, § 3°, Il, também os relativos as atividades das microempresas e empresas de pequeno porte; 4) inconstitucionalidade por fazer incidir adicionais do ICMS sobre energia elétrica e comunicagées, destinados ao Fundo, acima do teto constitucional de até 2 (dois) pontos percentuais (art. 82, § 1°, ADCT), pois, além do adicional geral de um ponto percentual, sobre esses servigos recairé mais um adicional de 4 pontos percentuais, totalizando 5; e) inconstitucionalidade quanto a iniciativa da Lei Estadual, pois a criagdo de fundo é de iniciativa privativa do Poder Executivo (CF, art. 165, § 5°, Ill); f) inconstitucionalidade quanto a espécie da Lei Estadual, pois as condigdes para a instituigéo © funcionamento de fundo deve ter forma de Lei Complementar (CF, art. 165, § 9°, inciso Il cle 24, le seu §1°), principio este nao alterado e até reforgado pela Emenda 31/00 (ADCT art. 79) ; g) inconstitucionalidade por violagéo ao principio da legalidade, por ter a Lei Estadual delegado ao Executivo a Confederagao Nacional da Indistria 3 competéncia para instituir 0 Fundo por Decreto, quando essa criagdo é matéria reservada a Lei. Por consequéncia, também inconstitucional o Decreto 32.646/2003 por criar um Fundo. h) inconstitucionalidade por vinculagao de receita de imposto a fundo (CF, art. 167, inciso IV), caso se argumente, contrariando expressamente o que declara a Lei Estadual, que a criacdo dos adicionais do ICMS nao foi com lastro no art. 82 do ADCT e sim com base no poder geral de 0 Estado fixar as aliquotas dos seus tributos. 4. EIS A LEI IMPUGNADA: “LEI N® 4.056 - 30/12/2002 Autoriza 0 Poder Executivo a instituir, no exercicio de 2003, o Fundo Estadual de Combate & Pobreza e as Desigualdades Sociais, em obediéncia & Emenda Constitucional Nacional n° 31, de 14/12/2000, que alterou o Ato das Disposigses Constitucionais _Transitérias, introduzindo 0 artigo 82 que cria o Fundo Estadual de Combate e Erradicagao da Pobreza. A ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO DECRETA: Art, 1° - Em cumprimento ao disposto no artigo 82 do Ato das Disposigées —Constitucionais Transitérias da Constituigao Federal, fica o Poder Executivo autorizado a instituir, no e para 0 exercicio de 2003, para vigorar até 0 ano de 2010, no ambito do Executivo Estadual, o Fundo de Combate a Pobreza e &s Desigualdades Sociais, com o objetivo de viabilizar a todos os fluminenses acesso a niveis dignos de subsisténcia, cujos recursos serao aplicados em agdes suplementares de nutrigao, habitagdo, educagao, satide, reforgo da renda familiar, saneamento e outros programas de relevante interesse social, voltados para amelhoria da qualidade de vida. Art. 2° - Compdem 0 fundo de combate @ Pobrezae as | Confederagéo Nacional da Indistria 4 Desigualdades Sociais: |-0 produto da arrecadagao adicional de um ponto percentual correspondente a um adicional geral da aliquota atualmente vigente do Imposto sobre Circulagao de Mercadorias - ICMS, ou do imposto que vier a substitui-lo, com excegdo das incidéncias previstas na alinea “b" do inciso VI do art. 14 da Lei n® 2857, de 26 de dezembro de 1966 com a redagao que the emprestou a Lei n° 2880, de 1997 e no inciso VIII do art, 14 da Lei n® 2657, de 26 de dezembro de 1996 com a redagéo que Ihe emprestou a Lei n? 3082, de 1998, que, além do acréscimo definido neste inciso, teréo mais quatro pontos _percentuais, transitoriamente até 31 de dezembro de 2006: Il doagées, de qualquer natureza, de pessoas fisicas ou juridicas do Pais ou do exterior; I~ outros recursos compativeis com a legisiacao, especialmente com a Emenda Constitucional Nacional n° 31, de 14 de dezembro de 2000. § 1° - Aos recursos integrantes do Fundo de que trata esta Lei nao se aplica 0 disposto no inciso IV do artigo 211 @ a0 inciso IV do artigo 202 da Constituicao, bem como qualquer desvinculagdo de recursos, orgamentarios no que couber (art. 80, paragrafo 2° do Ato das Disposigées Constitucionais Transitorias de 5 de outubro de 1988 introduzido pela Emenda Constitucional Nacional n? 31, de 14 de dezembro de 2000); § 2° - O adicional de que trata 0 inciso | deste artigo nao incidiré sobre os géneros que compéem a cesta basica, assim definidos aqueles estabelecidos em estudo da Fundagdo Gettlio Vargas. Art. 3° - Os recursos do Fundo Estadual de Combate & Pobreza e as Desigualdades Sociais, deverao ser aplicados prioritariamente nas seguintes agdes: | - complementagao financeira de familias cuja renda mensal seja inferior a um salario minimo; Il ~ atendimento através do programa Bolsa Escola para familias que tenham filhos em idade escolar matriculados na rede ptiblica de ensino, ou que sejam bolsistas da rede particular, lil - atendimento a idosos em situagao de abandono ou comprovadamente necessitados; Confederagaio Nacional da Indastria 5 IV - ages de satide preventiva; V - auxilio para a construgao de habitagdes populares e saneamento; VI - apoio em situagées de emergéncia e calamidade publica; VII - politica de planejamento familiar com aplicagéo de laqueadura e vasectomia; Vill - urbanizagao de morros e favelas Art. 4° - Haver um Conselho Gestor, que além dos membros representantes do Estado de livre escolha do Governador, também sera integrado por entidades que contem com a participacao da sociedade civil e que sera presidido pelo Governador do Estado ou por Secretdrio de Estado por ele designado. Art, 5° - Os aumentos de aliquotas do ICMS que passam a ser devidos na conformidade desta Lei, que venham a ser devidos por empresas que sejam beneficiarias de quaisquer tipos de beneficios fiscais, a quaisquer titulos, concedidos por legislacdo anterior, inclusive, financiamentos do Fundo de Desenvolvimento Econémico e Social - FUNDES, instituido pelo artigo 6° do Decreto Lei n® 08, de 15 de margo de 1975, ndo sero levados em conta no célculo do montante do referido beneficio que continuara, no tocante a beneficio, a disciplinar-se pela legislacao anterior a presente Lei. Art, 6° - Os percentuais definidos no inciso | do art. 2° so maximos, podendo a sua utilizagao ser no todo ou em parte a critério do Poder Executivo, inclusive por produto ou segmento. Art. 7° - Fica 0 Poder Executivo autorizado a prover suplementagéo com os recursos decorrentes de excesso de arrecadagéo que se venha a dar em decorréncia da aplicagao da presente Lei Art. 8° - Decreto do Poder Executivo, dispora sobre a matéria de que trata esta Lei autorizativa Art. 9° - Esta Lei entrara em vigor na data de sua publicago Assembiéia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, em 30 de dezembro de 2002." (negrito nao constante do original) Confederagao Nacional da Indistria 6 2. EIS O TEXTO DO ADCT RELATIVO AOS FUNDOS ESTADUAIS DE COMBATE A POBREZA “Art. 82. Os Estados, 0 Distrito Federal e os Municipios devem instituir Fundos de Combate a Pobreza, com os recursos de que trata este artigo e outros que vierem a destinar, devendo os referidos Fundos ser geridos por entidades que contem com a participagéo da sociedade civil § 1°. Para o financiamento dos Fundos Estaduais e Distrital, podera ser criado adicional de até 2 (dois) pontos percentuais na aliquota do Imposto sobre Circulagao de Mercadorias e Servigos - ICMS, ou do imposto que vier a substitui-lo, sobre os produtos & servigos supérfluos, nao se aplicando, sobre este adicional, o disposto no art. 158, IV da Constituiggo. § 2°. Para o financiamento dos Fundos Municipais, poderé ser criado adicional de até 0,5 (meio) ponto percentual na aliquota do Imposto sobre servigos ou do imposto que vier a substitui-lo, sobre servigos supérfluos" “Art. 83. Lei federal definira os produtos e servigos supérfluos a que se referem os arts. 80, Il, © 82, §§ 4° © 2" (negrito nosso) 3- LEGITIMAGAO DA AUTORA E PERTINENCIA TEMATICA: A autora tem interesse direto em discutir os adicionais das aliquotas do ICMS fixados no art, 2°, inciso I, da Lei Estadual n° 4.056/2002 e@ no art. 2°, inciso |, do Decreto n? 32.646/2003, porque afetam, diretamente, as pessoas juridicas integrantes do setor produtivo industrial, pois s&o as principais contribuintes deste imposto, representadas pela Confederagao Nacional da Industria, entidade sindical de grau superior de Ambito nacional, legitimando-a, desse modo, a propositura da presente ADIN, nos termos do art. 103, inciso IX, da Constituigéo Federal. Nao obstante, embora ndo se oponha @ criagéo do Fundo de Combate & Pobreza, pois entre os objetivos fundamentais da Republica Federativa do Brasil se insere justamente o de erradicar a pobreza e a marginalizago e reduzir as desigualdades sociais e regionais, nao pode deixar de impugnar, além dos artigos mencionados no intrdito, a lei e o seu decreto como um todo, dadas as inumeras inconstitucionalidades encontradas. Confederagéio Nacional da Industria 7 E também, porque a orientacdo desse Egrégio STF tem indicado a necessidade de que sejam também atacadas na ADIn as regras. que se apresentem "indissoluvelmente ligadas as impugnadas”. Vale transorever, nesse sentido, trecho da ementa com que se decidiu a ADin n° 1187-DF, da qual foi Relator o Eminente Ministro Mauricio Corrréa: “od 2. O acolhimento da impugnagao de algumas normas de um sistema (art. 14 e 15), via acdo direta, indissoluvelmente ligadas a outras do mesmo sistema (art. 16), néo impugnadas na mesma ago, implica em remanescer no texto legal dicgao indefinida, assistemética, imponderavel e inconseqdente. 3. Impossibilidade do exercicio ex-officio da jurisdic&o para incluir no objeto da agéo outras normas indissoluvelmente ligadas as impugnadas, mas néo suscitadas pelo requerente. 4. Ag&0 direta n&o conhecida, ressalvando-se a possibilidade da propositura de nova acao que impugne todo 0 sistema." (in DJ de 30.05.1997, pag. 23175). Essa orientagao também pode ser observada no julgamento da ADIn n° 1622, onde esta Egrégia Corte sequer conheceu da ago porque a argiligio nao atacou a lei como o todo, acompanhando a consideracdo externada no voto do Relator, o Eminente Ministro Nelson Jobim, no sentido de que "A consequiéncia desta demanda, se vier a ser conhecida e julgada procedente, seria o desaparecimento de parte das perdas e a ‘manutengéo integral da obrigagéo temporéria da Unido quanto 4 integralidade das compensagées." (A ementa foi publicada no DJ de 17.04.1998, pag. 002). 4, BREVE HISTORICO SOBRE A ORIGEM DA LEE: A Lei Estadual n° 4.056/2002 teve origem no Projeto Legislative n° 3.413-A/2002, vetado integralmente (Doc. 4) pela Governadora Benedita da Silva com base nas razées a seguir reproduzidas: "RAZOES DO VETO TOTAL AO PROJETO DE LEI N° 3413-A/2002, DE AUTORIA DOS SENHORES DEPUTADOS EDUARDO CUNHA E MANOEL ROSA - NECA, QUE "AUTORIZA 0 PODER EXECUTIVO A INSTITUIR NO EXERCICIO DE 2003, O FUNDO ESTADUAL DE COMBATE A POBREZA E AS DESIGUALDADES SOCIAIS, EM OBEDIENCIA A EMENDA CONSTITUCIONAL N° 31 DE 14/12/2000, QUE ALTEROU O ATO DAS DISPOSIGOES Confederago Nacional da Inddstria 8 CONSTITUCIONAIS TRANSITORIAS, INTRODUZINDO OS ARTIGOS 81 E 82 QUE CRIAM QO FUNDO DE COMBATE ESTADUAL E ERRADICACAO DA POBREZA". Sem embargo da elogiével inspiragdo dessa Egrégia Casa de Leis, 0 Projeto nao me concedeu a oportunidade de acolhé-lo com a sangao. O que me motivou a veté-lo de forma integral nao se pauta em seu mérito e sim no fato de abordar tematica relativa a instituigéo de fundos, cuja iniciativa a Constituigdo Federal, em seu art. 167, inciso IX, cle 0 art. 61, § 1°, inciso II, "e", outorgou privativamente ao Poder Executivo. Demais, 0 Projeto inegavelmente apresenta superlativa desconformidade com a_ sistematica instituida no art. 165, § 9°, inciso Il, da Constituigéo Federal, 0 qual exige a edigao de lei complementar para disciplinar as condigdes para a instituigdo e funcionamento de fundos, Nessa conformidade, mais adequada foi a opgo de apor veto total ao Projeto ora encaminhado a deliberagdo dessa Egrégia Casa Parlamentar. Dada a importéncia e relevancia conferida a matéria pela ALERJ, — soli convocagao de —sessdo extraordinaria para apreciagao do presente veto" (énfases originais) © momento politico de transigéo e troca do Governo fez com que a Governadora Benedita da Silva, através da Mensagem n° 82/2002 (Doc. 5), solicitasse 20 Presidente da ALERJ a convocacao de Assembléia Legislativa Extraordinaria, para o dia 28/12/02, as 15:00 horas, com 0 fim de deliberar sobre 0 veto aposto ao PL n° 3413-A/2002 O veto foi rejeitado e a proposta veio a ser convertida na Lei Estadual n° 4.056/2002 (sem maiores debates quanto a constitucionalidade ou nao do projeto - Doc. 6), através de promulgacao da Deputada Graga Matos, 1* Vice-Presidente no Exercicio da Presidéncia. Vigente a lei, veio 0 Fundo a ser instituido e a mesma a ser regulamentada pelo Decreto n° 32.646, de 08 de janeiro de 2003, pela atual Governadora, Rosinha Garotinho. 5. BREVES CONSIDERAGOES SOBRE O FUNDO DE COMBATE A we A Confederagéo Nacional da Indastria 9 POBREZA: A Emenda Constitucional n° 31, de 14.12.2000, introduziu 0s artigos 79 a 83 ao Ato das Disposigées Constitucionais Transitérias (ADCT), que versam sobre a criagdo de Fundos de Combate e Erradicaco da Pobreza nas diversas esferas da Federagao: Unido, Estados, Distrito Federal e Municipios. Conseqiientemente, o Fundo de Combate e Erradicagéio da Pobreza, que a Lei Estadual n° 4.056/2002 denomina "Fundo de Combate a Pobreza e as Desigualdades Sociais", é um fundo instituido, por norma de contetido constitucional, no ambito federal (ADCT, arts. 79 a 81), & programado para ser instituido na esfera estadual, distrital e municipal, pois estes entes federativos "devem instituir Fundos de Combate 4 Pobreza" (ADCT, arts. 82 e 83) Existe simetria, e certa isonomia, entre o fundo federal e 0s que vierem a ser instituidos pelos demais entes federativos, decorrentes do fato de as normas relativas aos diversos fundos terem um substrato comum: a Emenda Constitucional n° 31, de 14.12.2000. Em razao disto a interpretagéo que se faa de uma norma estadual sobre o Fundo de Combate a Pobreza deve ser realizada sob os aspectos teleolégico e sistémico, levando-se em consideragao a finalidade de criago de um fundo uniforme, e tendo-se em conta que as normas, quer federais, quer estaduais, distritais ou municipais, séo regidas por um mesmo e Unico estatuto basico: 0 ADCT e, supletivamente, em caso de omissao, pelas normas permanentes da Constituigao Federal 6. INCONSTITUCIONALIDADE POR VIOLAGAO FLAGRANTE AO ART. 82, SEU § 1° E AO ART. 83 DO ATO DAS DISPOSIGOES CONSTITUCIONAIS TRANSITORIAS: O Estado do Rio de Janeiro, ao criar o seu Fundo de Combate & Pobreza e as Desigualdades Sociais, violou flagrantemente 0 art. 82, seu § 1°, e o art. 83, ambos do ADCT, e sob este aspecto a Lei Estadual n° 4.056/2002 é inegavelmente inconstitucional. Com feito, desses dois comandos de natureza constitucional, se extrai que a referida Lei Estadual nao poderia criar adicionais sobre aliquota do ICMS para financiar 0 Fundo de Combate a Pobreza, porque estes adicionais, pela regra do art. 82, § 1°, do ADCT, so podem incidir sobre "produtos e servigos supérfiuos’, e estes, "produtos e servigos supériluos”, serao definidos om lei federal (ADCT, art. 83) Como se vé, 0 art. 82 e seus pardgrafos do ADCT sao normas de eficacia limitada ou reduzida em razéo do disposto no artgo seguinte (art. 83). Conforme ensina o mestre José Afonso da Silva, as normas de eficdcia limitada so as que nao receberam do constituinte Confederagao Nacional da Inddstria 10 normatividade suficiente para a sua aplicacao, deixando para o legistador ordinario (in casu lei federal) a tarefa de complementar a regulamentagao das matérias nela tracadas (cf. José Afonso da Silva, Aplicabilidade das normas constitucionais, 1982, p. 3, 68, 253 e 254) Por conseguinte, as normas contidas nos artigos introduzidos pela Emenda Constitucional n° 31 somente produzirdo os seus efeitos apés edigao de lei federal que defina 0 que sao produtos supérfluos. Enquanto isso nao ocorrer, nenhum Estado podera eleger como fonte de financiamento de seu Fundo de Combate a Pobreza adicional sobre aliquota de ICMS. Isto nao significa dizer que 0 Estado do Rio de Janeiro nao pudesse criar o seu Fundo. Entretanto, enquanto nao sobrevier lei federal, definidora do que sejam "produtos e servigos supérfluos" (ADCT, art. 83 ), © Fundo Estadual tera de ser mantido com os "outros recursos" previstos no art. 2°, inciso Ie Ill, da Lei Estadual n° 4,056/2002, a saber: “Il - doagées de qualquer natureza, de pessoas fisicas ou juridicas do Pais ou do exterior; Ill - outros recursos compativeis com a legisla¢ao, especialmente com a Emenda Constitucional Nacional n° 31, de 14 de dezembro de 2000". 7. INCONSTITUCIONALIDADE POR INVASAO LEGISLATIVA DO ESTADO EM MATERIA DE COMPETENCIA PRIVATIVA DA UNIAO: Essa_inconstitucionalidade esté intimamente ligada a deduzida no item anterior, mas que aqui se destaca para melhor efeito expositivo. A. organizacéo politico-administrativa da Republica Federativa do Brasil compreende a Unido, os Estados, o Distrito Federal e 0s Municipios, todos auténomos (CF, art. 18). A autonomia das entidades federativas 6 essencial a preservacdo da indissolubilidade do nosso Estado Federal. Essa autonomia pressupde repartigao de competéncias legislativas, administrativas e tributarias. A predominncia do interesse 6 o elemento de destaque na repartigéo de competéncia. Caberé 4 Unido as matérias e questées de predominancia do interesse geral, aos Estados as de interesse regional e aos Municipios as de interesse local (cf. Alexandre de Moraes, Constituiggo do Brasil Interpretada e legislacao constitucional, SP:Atlas. 2002, p. 655) Seguindo essa principiologia, o artigo 22 da CF traga as competéncias privativas da Unido, o artigo 23 as competéncias comuns e o artigo 24 as competéncias concorrentes. Nesse contexto, a matéria contida no art. 83 do ADCT, dentre as repartig6es de competéncia, se insere no elenco daquelas Confederagao Nacional da indastria 1" privativas da Unido, sendo vejamos. A Emenda Constitucional n° 31/2000, ao introduzir os arts. 79 a 83 ao Ato das Disposigdes Constitucionais Transitérias, baixou normas atinentes ao Fundo de Combate a Pobreza, instituindo-o no ambito da Unido (art. 79), e tragando as diretrizes para sua instituigéo nas outras entidades federativas - Estados, Distrito Federal e Municipios - nos artigos 82 e 83. © Fundo de Combate a Pobreza, tal como foi concebido, revela que tem natureza federativa, isonémica e simétrica, evidenciando tratar-se de um interesse geral, um interesse cuja normatizacao, quanto aos aspectos primordiais, de contornos basicos, se insere no ambito da competéncia legislativa privativa da Unido, dai o art. 83 do ADCT ter disposto expressamente: "Lei federal definiré os produtos e servigos supérfluos a que se referem os arts. 80, Il, € 82, §§ 17 2”. A Lei Estadual n° 4,056/2002 estabeleceu um “adicional geral" da aliquota atualmente vigente do Imposto Sobre Circulagao de Mercadorias - ICMS (art. 2°, inc. |) e ditou a nao incidéncia do adicional apenas e téo-somente sobre os géneros que compéem a cesta basica, assim definidos aqueles estabelecidos em estudo da Fundacao Getilio Vargas (art. 2°, § 2°). Deste modo, por via transversa, acabou definindo aquilo que, por norma de natureza constitucional (ADCT, art. 83), era da competéncia privativa da Unido, pois somente lei federal, certamente com © objetivo de preservar o carater isondmico e simétrico do Fundo, bem como evitar a guerra fiscal, pode definir "produtos e servigos supérfluos” sobre os quais ira incidir 0 adicional de ICMS. Constata-se, pois, ter havido invasdo do Estado do Rio de Janeiro em matéria legislativa de competéncia privativa da Unido e, em conseqiléncia, violagéo ao principio da reparticéo de competéncias, prevista no art. 22 da Constituiggo Federal combinado com 0 art. 83 do Ato das Disposig6es Constitucionais Transitorias. 8. INCONSTITUCIONALIDADE POR FALTA DE RAZOABILIDADE DA LEI ESTADUAL AO DEFINIR PRODUTOS SUPERFLUOS: A Emenda Constitucional n® 31/2000 foi taxativa ao dispor que “Para 0 financiamento dos fundos Estaduais e Distritais, poder ser criado adicional de até 2 (dois) pontos percentuais na aliquota do Imposto sobre Circulagao de Mercadorias e Servicos ~ ICMS, ou do imposto que vier a substitul-lo, sobre os produtos e servicos supérfluos * (ADCT, art. 82, § 1°). Do texto do art. 2°, inciso | e seu § 2°, da Lei Estadual n° ‘Ss Confederag&o Nacional da Industria 12 4.056/2002 (transcrita no item 1 desta Inicial), se extrai que o Fundo, no que tange ao ICMS, seré financiado: @) pela arrecadacao resultante de um adicional geral de 1 ponto percentual da aliquota atualmente vigente do ICMS, incidente sobre a circulagdo do todos os produtos e servicos menos aqueles integrantes da cesta basica; b) com excegao das incidéncias previstas na alinea “b" do inciso VI do art. 14 da lei n? 2657, de 26 de dezembro de 1986 com a redaco que the emprestou a Lei n® 2880, de 1987 e no inciso Vill do art. 14 da Lei n° 2657, de 26 de dezembro de 1996 com a redagéo que Ihe emprestou a Lei n? 3082, de 1998, por, além do acréscimo definido neste inciso (leia-se |), mais quatro pontos percentuais transitoriamente até 31 de dezembro de 2006. Esclareca-se que as excegdes referidas no item "b" acima dizem respeitos as aliquotas de ICMS de energia elétrica e de comunicagées, que sofreram um acréscimo de 5 pontos percentuais (um ponto percentual de adicional geral e mais quatro pontos percentuais) Para atender ao comando da Emenda n? 31/200, de que o adicional do ICMS s6 poderia incidir sobre produtos e servigos supérfluos (ADCT, art. 82, § 1°), a Lei Estadual estabeleceu a nao incidéncia sobre 0s géneros que compéem a cesta basica, assim definidos aqueles estabelecidos em estudo da Fundacao Getulio Vargas (art. 2, § 2°) Como consequiéncia, para a Lei Estadual, so supérfluos todos os produtos que nao compéem a cesta basica. Por ébvio, tal a fere o principio da razoabilidade das leis, na medida em que considera supérfluos géneros de primeira necessidade, remédios, material escolar otc., desde que nao integrem o rol da cesta basica. A energia elétrica, item sobre 0 qual iré ocorrer incidéncia do maior (4 + 1) adicional do ICMS, também no pode ser considerada produto ou servic supérfiuo, pois é essencial a vida moderna, bastando ressaltar sua indispensabilidade a conservagaéo dos alimentos e ao funcionamento dos servigos publicos, tais como postos de satide, escolas publicas, abastecimento de agua, sistema de esgotos sanitarios, rede de iluminagdo publica etc Ademais, pobre também é consumidor de energia elétrica e € justamente sobre este item que ira ocorrer a maior incidéncia do adicional Confederagao Nacional da Indistria 13 do ICMS. Paradoxalmente, 0 pobre sera também contribuinte do Fundo de Combate a Pobreza, Toda lei nao razoavel 6 contraria ao direito, por traduzir ofensa ao principio da razoabilidade das leis, de base constitucional, como expressao do devido processo legal (CF, art. 5°, inc. LIV), em sentido material, devendo, por conseguinte, ser extirpada do ordenamento juridico. Anote-se que os servigos e produtos das micro e pequenas empresas néo estardo sujeitas aos adicionais do ICMS em razao de nao apurarem este imposto por aliquota e sim por faixa de faturamento (Lei 3.342, de 29/12/1999, art. 4°, com a redagao dada pela Lei 3.409, de 2000 - Doc. 7) 9. INCONSTITUCIONALIDADE QUANTO A INICIATIVA DA LEI ESTADUAL: A Constituigéio Federal, sobre a instituigéo de fundos, assim dispée: "Art, 167. SA0 Vedados: IX - a instituigao de fundos de qualquer natureza, sem prévia autorizagao legislativa;” Como se vé, exige lei para a instituigéo de fundos, mas nao diz de quem é a iniciativa da referida lei. A resposta a indagacdo ¢ dada pelo art. 165 da CF, que enumera entre as leis de iniciativa do Poder Executivo as orgamentérias, acrescentando que "a lei orcamentaria anual compreender& (.. .) 0 orgamento fiscal referente aos Poderes da Unido, seus fundos, érgaos e entidades da administracdo direta e indireta, inclusive fundagées instituldas e mantidas pelo Poder Publico" (CF, art. 165, § 5°, inciso Ill). O mesmo art. 165, em seu § 9°, diz que "cabe a lei complementar:"(...) Il-" estabelecer normas de gestae financeira e patrimonial da administragao direta e indireta, bem como condigées para a instituigao e funcionamento de fundos" Eis a conclusdo: fundos exigem “lei de iniciativa do Poder Executivo", de natureza "complementar", por forga do art. 165, § 5°, inciso Ill e § 9°, inciso Il, c/c art. 167, inciso IX, todos da Constituicao Federal. A Lei Estadual n° 4.056/2002, portanto, esta eivada de inconstitucionalidades por nao ser de iniciativa do Poder Executivo’ Confederagao Nacional da Inddstria 14 Estadual, E este foi um dos motivos que levaram a Excelentissima Sr* Benedita da Silva, Governadora do Estado @ época, a impor veto total ao Projeto de Lei n° 3.413-A/2002, que veio a se transformar na lei ora impugnada, nestes termos: "O que me motivou a veta-lo de forma integral nao se pauta em seu mérito e sim no fato de abordar tematica relativa a instituicéo de fundos, cuja iniciativa a Constitui¢éo Federal, em seu art. 167 c/e art. 61, § 1°, inciso Il, "e", outorgou privativamente ao Poder Executivo" Correto e irrepreensivel 0 veto governamental, embora nao inteiramente adequado quanto ao enquadramento normativo, no que diz respeito ao art. 61, § 1°, inciso Il, alinea "e", da Constituigao Federal, que, a nosso entendimento, é inaplicdvel a hipétese. Assim é que a Lei Estadual n° 4.056/2002 peca pelo vicio de inconstitucionalidade por usurpagao de iniciativa, eis que resultou de projeto de tiva parlamentar, quando era exigida iniciativa do Poder Executivo. 40. INCONSTITUCIONALIDADE QUANTO A NATUREZA DA LEI ESTADUAL: Outra inconstitucionalidade da Lei Estadual n° 4.056/2002 a ser anotada diz respeito a sua natureza de lei ordindria. Com referéncia ao Fundo Federal, o texto constitucional é expresso em impor que seja regulado por lei complementar (ADCT, art 79). Cabe aqui reproduzir este trecho da norma: "Art. 79. E instituido, para vigorar até o ano de 2010, no Ambito do Poder Executivo Federal, o Fundo de Combate e Erradicagao da Pobreza, a ser regulado por lei complementar . . ." Esta exigéncia nao € repetida no art. 82 do ADCT, que versa sobre os fundos a serem instituidos pelos Estados, Distrito Federal e Municipios. Deve-se considerar, porém, que o Fundo de Combate & Pobreza, concebido pela Emenda Constitucional n° 31/2002, tem natureza federativa, isonémica e simétrica, a exigir uniformidade de tratamento quanto a sua generalidade. Confederagao Nacional da Industria 15 Ora, a interpretagéo a se imprimir aos dispositivos acrescidos ao Ato das Disposicées Constitucionais Transitorias deve ser de ordem sistematico-finalista, uma vez que todos fazem parte de uma mesma Emenda Constitucional, e versam sobre fundos que se relacionam de forma isonémica e simétrica, Assim, a mesma exigéncia que se faz quanto a regulamentagao do Fundo Federal deve ser estendida a Fundo Estadual, até porque, quanto a este, nao se trata de mera regulamentago, e sim, mais propriamente, de instituigao, de criagdo a nivel estadual Portanto, se o art. 79 do ADCT condiciona a regulamentagéo do Fundo Federal a lei de natureza complementar, a légica 6 que o mesmo condicionamento seja exigido para a instituigao ea regulamentagao do Fundo Estadual. Nao se pode deixar de lembrar que os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituiges e leis que adotarem, observados os principios da Constituigao Federal (CF, art. 25) Por outro lado, independente do art. 79 do ADCT, por forca do art. 165, § 9°, inc, Il, "cabe a lei complementar estabelecer normas para instituigao e funcionamento de fundos" (CF) Assim, a interpretagao cabivel na hipétese nao pode ser ‘outra: quer em razéo da norma constitucional permanente (CF, art. 165, § 9°, inc, ll), quer em virtude da norma constitucional transitéria (ADCT, art. 79), ante a similitude entre o Fundo Federal e o Fundo Estadual, a exigéncia de lei complementar também se impée ao Fundo Estadual. Anote-se, que a Constituigao do Estado do Rio de Janeiro, em seu art. 207, também exige lei complementar para dispor sobre financas, e sendo fundo matéria estreitamente vinculada a finangas, a conclusao logica s6 pode ser a de que a instituigao de fundo exige lei complementar. Cabe, aqui, repetir o texto da Constituicio Estadual, para que nao paire duvida: “Art. 207. Lei complementar dispora sobre financas publicas, observados os principios estabelecidos na Constituigao da Republica e em lei complementar federal”. Na justificativa do PL n° 3.413-A/2002 (Doe. 8), que veio a se transformar na Lei Estadual n° 4,056/2002, ficou dito no ser necessaria lei complementar para instituir 0 Fundo Estadual, neste termos: "E tanto nao se trata de lei complementar para a y Confederagao Nacional da Inddstria 16 instituigéo do fundo (seria excéntrico e se exigisse a demasia) que a propria EC 31 empenhou-se em espancar qualquer dijvida em derredor quando afasta, as expressas a hipétese de lei complementar, 0 que ela obra pelo pardgrafo 3° do novem art. 81 do ADCT/88" Ledo engano. O art. 81 e seu § 3° do ADCT nao versam sobre o Fundo de Combate a Pobreza, mas sobre Fundo de natureza diversa, cujos rendimentos reverterao ao Fundo de Combate e Erradicagéo da Pobreza. Leia-se o teor dos mesmos, na parte que interessa comentar: “Art. 81. E instituido Fundo constituido pelos recursos recebidos pela Unido em decorréncia da desestatizagéo de sociedades de economia mista ou empresas publicas por ela controladas, direta ou indiretamente, quando a operaco envolver a alienagao do respectivo controle acionario a pessoa ou entidade nao integrante da Administragéo Publica, ou de participacao societaria remanescente apés a alienagdo, cujos rendimentos, gerados a partir de 18 de junho de 2002, reverterao ao Fundo de Combate e Erradicagao da Pobreza. (grifos nossos). § 1°. Omissis. § 2° Omissis. § 3°. A constituigao do Fundo a que se refere o caput, a transferéncia de recursos ao Fundo de Combate e Erradicagao da Pobreza e as demais disposiges referentes ao § 1° deste artigo sero disciplinadas em lei, nao se aplicando o disposto no art, 165, § 9°, Il, da Constitui¢ao" (grifos nossos), As disposigées acima transcritas reforgam a interpretagdo feita anteriormente, no sentido de que qualquer fundo deve, necessariamente, ser instituido por meio de lei complementar. Tanto que, para que o fundo especifico previsto no art. 81 do ADCT pudesse ser criado por lei, foi necessaria regra transitoria de excegao (§ 3°) ao principio geral do 165, § 9°, Il, do corpo permanente da Constituigao. Conclue-se, deste modo, seja ex vi do disposto no art. 165, § 9°, Il, da Constituigao Federal, seja em decorréncia do art. 79 do ADCT, ante a similitude entre o Fundo Federal e o Fundo Estadual, seja pela interpretagao sistematica do § 3° do art. 81 do ADCT c/ 165, § 9°, Il, e ainda porque a Constituigao do Estado do Rio de Janeiro Confederago Nacional da Inddstria 7 guarda simetria com CF sobre a forma legislativa que disponha sobre finangas (art. 207) - e fundo, como receita, por ébvio se enquadra no rol das finangas - quo 6 irreprochavel o veto aposto pela Governadora Benedita da Silva ao sublinhar: "o projeto inegavelmente apresenta superlativa desconformidade com a sistematica instituida no art. 165, § 9°, inciso i, da Constituigéo Federal, 0 qual exige a edicao de lei complementar para disciplinar as condigées para a instituigao e funcionamento de fundos" 44. INCONSTITUCIONALIDADE POR VIOLACAO AO PRINCIPIO DE LEGALIDADE: Conforme demonstrado no item anterior, sd lei complementar poderia ter criado o Fundo de Combate & Pobreza Estadual. A forma de instituigéo do referido Fundo no Estado do Rio de Janeiro veio eivada de inconstitucionalidades mais graves, nao sé porque a Lei Estadual n° 4.056/2002 é ordinaria, mas porque nao criou 0 fundo, mas tao-somente autorizou o Poder Executivo a institui-lo, no e para 0 exercicio de 2003. E esta a redacdo do art. 1° da Lei Estadual 4.056/2002, na parte que interessa: “Art. 12 - Em cumprimento ao disposto no artigo 82 do Ato das Disposigées Constitucionais Transitérias da Constituigao Federal, fica o Poder Executivo autorizado a instituir, no e para o exercicio de 2003, para vigorar até o ano de 2010, no ambito do Executivo Estadual, o Fundo de Combate a Pobreza e as Desigualdades Sociais, ...." (grifos nossos). © proprio art. 79 do ADCT estabeleceu que a mera regulamentagao do Fundo federal dar-se-ia por lei (complementer), seguindo, portanto, o principio da legalidade. Dessa forma, o Fundo estadual da mesma espécie deve ser criado por lei, ainda mais considerando o art. 165, § 9°, Il, que exige seja ela complementar. E corolario do Estado de Direito a obediéncia ao principio da legalidade. Em sua formulagao mais genérica, a ninguém é dado fazer ou deixar de fazer algo, salvo em virtude de lei (CF art. 5°, Il). O reverso dessa enunciagao do campo da liberdade, para 0 cidadao, é a limitagdo & Confederagéo Nacional da Industria 18 ago estatal. Se 0 cidadéo sé é obrigado a fazer ou deixar de fazer algo por forga de lei, o Estado so pode agir ou deixar de agir em obséquio as leis, A Lei Estadual n° 4,056/2002, restou demonstrado acima, contém esdrixula delegacéo ao Poder Executive a dispor, por decreto, sobre matéria que exige lei formal. 12. INCONSTITUCIONALIDADE POR FAZER INCIDIR, PARA FINANCIAR © FUNDO DE COMBATE A POBREZA, ADICIONAIS DO ICMS SOBRE ENERGIA ELETRICA E COMUNICAGCOES ACIMA DO TETO CONSTITUCIONAL DE ATE 2 PONTOS PERCENTUAIS: De acordo com a Lei Estadual n° 4.056/2002, compéem o Fundo de Combate & Pobreza e as Desigualdades Sociais 0 adicional de um ponto percentual correspondente a um adicional geral da aliquota atualmente vigente do ICMS, com excegdo das incidéncias previstas na alinea "b" do inciso VI do art. 14 da lei n® 2657, de 26 de dezembro de 1966, com a redagao que Ihe emprestou a Lei n° 2880, de 1997 e no inciso. Vill do art. 14 da Lei n° 2657, de 26 de dezembro de 1996 com a redacao que Ihe emprestou a Lei n° 3082, de 1998, que, além do acréscimo definido neste inciso, terao mais quatro pontos percentuais transitoriamente até 31 de dezembro de 2006 ( art. 2°, inciso 1) Para melhor compreenséo das remissées feitas pela Lei Estadual 4.056/2002, diga-se que a Lei n? 2.657/96 (Doc. 9) em seu art. 14, inciso VI, alinea “b", com a reda¢&o que lhe emprestou a Lei n° 2.880/97, e em seu art. 14, inciso VIll, com a redacdo que Ihe emprestou a Lei n? 3.082/98, assim disciplina: “Art. 14. A aliquota do imposto 6: VI —em operagao de energia elétrica: a) 18% (dezoito por cento) até o consumo de 300 quilowatts/hora mensais; b) 25% (vinte e cinco por cento) quando acima do consumo estabelecido na alinea anterior. Vill - na prestagao de servigos de comunicagao: a) 37% - até 31-12-1998; b) 36% - de 1°-01-1999 a 31-03-1999, ©) 35% - de 1°-04-1999 a 30-06-1999; d) 33% - de 19-07-1999 a 30-09-1999; e) 31% - de 1-10-1999 a 31-12-1999; f) 28%- de 19-01-2000 a 31-03-2000; @) 25%- a partir de 19-04-2000 Confederago Nacional da Indastria 19 Portanto, a Lei Estadual n° 4.056/2002, com o objetivo de financiar 0 fundo estadual, criou um "adicional geral de 1% (um por cento) sobre aliquota do ICMS" e mais um adicional de 4 (quatro) pontos percentuais na aliquota do ICMS para energia e comunicago, ou seja, um adicional total 5% (cinco por cento), para dois setores que jé eram fortemente tributados. O Decreto n° 32.646/2003, do Poder Executivo, em seu art. 2°, inciso |, regulamentando a Lei Estadual n° 4.056/2002, repete ipsis litteris a mesma regra da lei. Ocorre que o art. 82, § 1°, do ADCT possibilita apenas 2 criagdo de adicional de até 2 (dois) pontos percentuais na aliquota do ICMS, sobre os produtos e servigos supérfiuos. Nao ha possibilidade, portanto, de um adicional acima de 2 pontos percentuais, uma vez que o texto constitucional estabelece um limite, um teto. 43. INCONSTITUCIONALIDADE POR VINCULAGAO DE RECEITA DE IMPOSTO A FUNDO: Caso 0 Estado queira desvincular a criagao dos adicionais de ICMS dos artigos 82 e 83 do ADCT, contrariando expressamente o que declara a ementa eo art, 1° Lei Estadual 4.058/2002, sob o argumento que os mesmos foram criados com base no seu poder geral de fixar aliquotas de ICMS, tal tese ndo encontraria guarita no sistema constitucional, pois, dessa forma, 0s adicionais nao estariam sob 0 agasalho do permissivo da Emenda Constitucional n° 31, e fora deste agasalno nao seria possivel vincular receita de imposto a uma destinagao especifica Com efeito, nao fosse 0 advento da referida emenda, a idéia de vincular 0 produto da arrecadagao de imposto a um fundo encontraria ébice no disposto no artigo 167, IV, da CF/88, que diz: "art. 167. S&o vedados: IV- a vinculagao de receita de impostos a érgao, fundo ou despesa, ressalvadas (....)" ‘A majoragao do ICMS, com destinagao do acréscimo de aliquota, exatamente para viabilizar acesso a habitagdo jé foi tentada pelo Estado de Sao Paulo, havendo a majoracao sido declarada inconstitucional Confederago Nacional da Indistria 20 pelo STF. Consultando esse leading case na pagina eletrénica do STF, encontramos a seguinte ementa e indicagéo de julgados sucessivos no mesmo sentido: RE 183906 / SP - RECURSO EXTRAORDINARIO Relator(a): Min. MARCO AURELIO Publicagéo: DJ DATA-30-04-98 PP-00018 EMENT VOL-01908-03 PP-00463 RTJ VOL-00167-01 PP-00287 Julgamento: 18/09/1997 - Tribunal Pleno Ementa IMPOSTO - VINCULAGAO A ORGAO, FUNDO OU DESPESA. A teor do disposto no inciso IV do artigo 167 da Constituigo Federal, é vedado vincular receita de impostos a orgao, fundo ou despesa. A regra apanha situacao concreta em que lei local implicou majoracéo do ICMS, destinando-se o percentual acrescido a um certo propésito - aumento de capital de caixa econémica, para financiamento de programa habitacional. Inconstitucionalidade dos artigos 3°, 4°, 5°, 6°, 7°, 8° @ 9° da Lei n° 6.556, de 30 de novembro de 1989, do Estado de Sao Paulo. Observacao Votagéo: Unanime quanto ao cabimento e por maioria quanto ao resultado, vencidos os Ministros Carlos Velloso e Septivelda Pertence. Resultado: Provido.Veja: RE-154273, RE-172394, RE-97718, RTJ-106/1132.0 RE-23184 foi objeto dos REED, recebidos.O RE-201972 e o RE-208478 foram objeto dos REED, rejeitados em 06/03/2001 .Obs.: O RE-227331 foi objeto dos REED, recebidos.N.PP.:(25). Analise:(LMS). Reviséo:(AAF).Incluséo: 06/05/98, (SVF).Alterago’ 14/03/02, (MLR). Partes RECTE.: MERAK INDUSTRIA MECANICA LTDA.ADVDO. LUIZ CARLOS BETTIOL. ADVDO.: AILTON LEME SILVA E OUTROS. RECDO.: ESTADO DE SAO PAULO.ADVDO.: PGE-SP - MARCIA FERREIRA COUTO. 14. CONCLUSAO: Face a todo exposto, justifica-se 0 pedido de declaracao de Confederagao Nacional da Indiistria ar inconstitucionalidade da Lei do Estado do Rio de Janeiro n° 4.056, de 30/12/2002, e do Decreto n° 32.646, de 08 de janeiro de 2003, pois sao, a toda evidéncia, violadores de principios e dispositivos da Carta Magna, como exaustivamente se demonstrou. 15. DO PEDIDO: Isto posto, distribuida e autuada a presente, a Confederagao Nacional da Industria, respeitosamente, requer a essa Excelsa Corte: A) O deferimento de medida cautelar, em carater liminar e urgente, eis que ja estao sendo produzidos efeitos, inclusive tributarios, desde 09/01/2003, com base no art. 170, § 1°, do RISF, no sentido de que seja suspensa a vigéncia da Le i n® 4.056, de 30 de dezembro de 2002, do Estado do Rio de Janeiro, e do Decreto do Poder Executivo n? 32.646, de 08 de janeiro de 2003, cujas inconstitucionalidades foram argilidas acima, até que definitivamente julgada a presente aco, eis que presentes 0 fumus boni iuris e 0 periculum in mora, cessaltando que, especialmente na atual conjuntura econémica do Pais, a imposigao de adicionais ao ICMS causard desastroso impacto econémico @ economia fluminense. Ademais 0 Poder Executive j& adotou todas as medidas cabiveis para a cobranga do indevido aumento do ICMS, flagrantemente inconstitucional, cabendo ressaltar as seguintes: a) DECRETO N° 32.646, DE 08/01/2003: “Institui e regulamenta o Fundo Estadual de Combate & Pobreza e as Desigualdades Sociais" (Doc. 3), b) PORTARIA SEAR N?° 433, DE 09/01/2003: "Cria 0 codigo de receita destinado ao recolhimento da contribuigao econémica instituida pela Lei n° 4.056/2002" (Doc. 10), c) RESOLUGAO SEF N° 6.556, DE 14/01/2003: "Dispée sobre © pagamento da parcela adicional relativo ao Fundo Estadual de Combate a Pobreza e as Desigualdades sociais (FECP) e dé outras providéncias (Doc. 11); d) PORTARIA SEAR N? 434, DE 16/01/2003: “Dispée sobre © pagamento da parcela do adicional relative ao Fundo de Combate a Pobreza e as Desigualdades Sociais" (Doc. 12). Sobreleva a urgéncia do provimento jurisdicional cautelar, para imediata suspensdo da malsinada lei e respectivo decreto Confederagao Nacional da Industria 22. regulamentador, a fim de garantir a eficacia da decisao final Assim, com base no art. 170, § 1°, do RISF, requer 0 deferimento de medida cautelar, no sentido de que seja suspensa a vigéncia da Lei Estadual n° 4.056, de 30 de dezembro de 2002 e do Decreto do Poder Executivo de n° 32.648, de 08 de janeiro de 2003, cujas inconstitucionalidades ora se argui, até que definitivamente julgada a presente aco. B) sejam solicitadas informagées a Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, e, apés, ouvidos o Advogado Geral da Unido e 0 Procurador Geral da Republica; C) seja julgada em cardter definitivo a presente ago, a fim de declarar a inconstitucionalidade dos artigos 1°, 2°, inciso |e § 2°, da Lei nf 4,056, do Estado do Rio de Janeiro, de 30 de dezembro de 2002, e, como um todo, do Decreto n° 32.646, de 08 de janeiro de 2003. D) como pedido sucessivo, em entendendo esse Excelso Tribunal que a lei forma um todo indissollivel, nao podendo ser atendida a pretensdo quanto aos artigos mencionados do item "c" separadamente, seja declarada a inconstitucionalidade da mencionada Lei e respective decreto em totalidade. A CNI protesta por aditar 0 pedido para arguir a inconstitucionalidade por violagao ao principio da anterioridade fiscal (CF, art. 150, inciso Ill, alinea "b"), caso a resposta de Oficio, que esta dirigindo & Imprensa Oficial do Estado do Rio de Janeiro, confirme que a edigao n° 246, do Diério Oficial , Parte Il - Poder Legislativo, com data de 31/01/2002, 86 circulou efetivamente no dia 02/01/2003. A autora da a causa o valor de R$ 1.000,00 (hum mil reais). Nestes Termos, Pede Deferimento, Brasilia, de fevereiro de 2003 Cine ful Antonio Aligusto Chaves Meireles OABIRJ 82.998 A ) 3 es lrne ode Sone OABIDF 11.724

Você também pode gostar