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ORE) 21D. JE O) Vey RS GEN UMA REVISAO DO ESTADO NOVO JOSE LUIZ WERNECK DA SILVA(ORG.) COLECAO JUBILEU Os grandes acontecimentos \Sricos em suas datas comemorativas CENTENARIO DA PROCLAMAGAO DA REPUBLICA ditegio de JL. Wemneck da Silva O FEIXE EO PRISMA Uma Reviséo do Estado Novo 1.0 FEIXE, argas © o Hstad. lo Tavares. ‘gas: Depoimento Vargas € 0 Conde t-Simon, Décio Freitas Um estudo comparado do fascismo: © “autoritarismo moderno”” do Estado Novo portugués Fernando Rosas jo historiogrifico René E. Gertz Historiografia do Estado Novo: Visdes region Sandra J. Pesavento Jorge Zahar Editor O FEIXE EO PRISMA ‘Uma Revisio do Estado Novo 1, O FEIXE: © autoritarismo como questao tedrica e historiografica Ao discutir 0 complexo fenémeno politico do autoritarismo, inclusive com a participagao dos ‘especialistas europeus Femando Rosas, de Por- ito, tomando-se a excegio € nao Novo. Como resultado, este volume fornece ‘elementos para um estudo do quanto o trauma autoritério do periodo 1945 permaneceu no desprezo pela jen da democracia repre~ sentativa, seja no temor da soberania popular. Mas por outro viés, este primeiro volume de O Feixe e 0 Prisma também se revela atual. E, por um lado, contemporiineo as revolugdes que im- smo real no Leste europeu. Com seu dpice em 1989, na maior comemora- ganizador deste volume, em sua Introdugio situa a ditadura de Geuilio Vargas, apesar do O FEIXE E O PRISMA Uma Revisio do Estado Novo volume 1 O FEIXE itarismo como questao “Tedos os direitos eserves desta pblinso, no todo 1 de copys. Li 5.988) as Ne Sumario “en Sobre os Autores 7 Ixrropucho *S 0 Feixe do Autoritarismo € o Prisma do Estado Novo 13, José Luiz WERNECK DA SILVA 1.0 Fene: 0 AvToRITARISMo COMO QUESTAO TEORICA 1. Fascismo: Autoritarismo ¢ Totalitarismo 29 FRANCISCO JOSE CALAZANS FALCON 2. A Itilia Fascista: Um Perfil Institucional 44 BRUNo Tori 3. Um Estudo Comparado do Fascismo: © “*Autoritarismo Modemo”” do Estado Novo Portugués 57 FERNANDO ROSAS {LEO IRRACIONAL Vargas € 0 Estado Novo 73 ILO TAVARES 5. Getilio Vargas: Depoimento de Luiz Carlos Prestes #2 ANITA LEOCADIA PRESTES Vargas ¢ 0 Conde de Saint Depoimento de Décio FREITAS 101 IIL. As Vensors HisToRIoGRAFICAs \y_ 7. Estado Novo: Um Inventario Histotiografico 111 René E. Gertz > 8, Historiografia do Estado Novo: Visdes Regionais 132 SANDRA JATAHY PESAVENTO Sobre os Autores Jost Luiz WERNECK DA SILVA Mestre © Doutorando em Hist6ri Departamento de Histéria do da Universidade Federal Fh ‘cial no Curso de Pés-Graduagao do to de Ciéncias Humanas ¢ Filosofia rense. Professor do Departamento de da Universidade fa chefia do mesmo Departamento promoveu, 37, 0 Coldquio Estado Novo (1937 - 1945) ¢ ‘Uma Avaliagdo Histdrica ao qual estio r nados os textos deste Volume I. Autor de A Deformacdo da Histéria ou a 1964-1984: os Anos de Autoritaris- tor, 2 ed. 1986); As Duas Faces da il Mondrquico, 1831-1876 (Rio de idade Aberta, Libreto XXIII, 1990). Co-autor de: A Po- Federal, 1831-1930, com Gislene Neder ¢ de Mattos ¢ Ella G. Dottori (Sio Paulo, Editora Nacional, 2 vol 1972). FRANCISCO José CALAZANS FALCON Livre-Docente em Histéria pela Universidade Federal Fluminense. Pro- fessor das Universidades Federal Fluminense, Federal do Rio de Janciro ¢ Pontificia Universidade Catélica do Rio de Janeiro. Autor de: Politica Econdmicae Monarquia Ilustrada: A Epoca Pombalina, 1750-1777 (Sio Paulo, Ati Historiografia Portuguesa Contemporiinea: um En- sai Histérico-interpretativo, in: Estudos Histéricos n® I. Caminhos da Historiografia (Rio de Janciro, Associagao de Pesquisa e Documentagio 7 8 © feixe eo prisma Historica ~ CPDOC/FGY, 1988); Mercantil Brasiliense, 1981) mo e Transi¢do (Sao Paulo, Fascismo (Rio de Jai BRUNO ToBIA Professor do eee de Estudos FERNANDO ROSAS Professor do Departamento de ; ¢ Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Membro da Comissio Organizadora do “Coléquio sobre o Estado Novo ~ das Origens ao Fim dda Autarcia (1926-1959)", Lisboa em 1986. Co-autor do Estampa, 1986). Revista Encontros com a Ci ace Brasileira, n° 7, Ri iro de 1979, Co-autor e organizador de: Novembro de 1935: Meio ‘Século Depois (Peirépolis, Vozes, 1985). ANITA LEOCADIA PRESTES Histéria Soci ipo Cee da ria do Instituto de Ciéncias Humanas e Filosofia da Universidade Fluminense. Autora de: A Formagao do Capitalismo Monopolista de sobre os autores 9 Estado no Brasil e: n? 8. Sio Paulo, ss Particularidades, in: Temas de Ciencias Humanas, ‘em Cadernos, de 1985; A estes, Sio Paulo, Brasiliense, 1990 (Prémio Casa das Améri- DEcio FREITAS Bacharel em Cigncias Juridieas ¢ Sociais pela Faculdade de Di Porto Alegre, desde cedo ~ magistratura ~ dedic Escravos e Senhores de Escravos (Porto Alegre, quanto a Questio Indigena, como em Social Alegre, Movimento, 1982). Outra vertente de sua produgio 0 Ievow a historia regional, da qual & exemplo Capitalismo Pastor Escola Superior de Teologia, 1980) RENE E. GERTZ Pontificia Universidade Catélica do Rio Grande do Si Fascismo no Sul: Germanismo, Nazismo e Integralismo (Porto Alegre, Mercado Aberto, 1981); Nazismo, Fascismo ¢ Integralismo € 0 a Oligarquias no Rio Grande do St Estudos Ibero-Americanos. Pont Grande do Sul, vol. XIV, n° 1, 1988. Anarquista (Porto Alegre, Escola Su Historiografia Alemd (Porto Alegre, ‘SANDRA JATAHY PESAVENTO Doutora em Histéria Econémica sora do Departamento de Hist Humanas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Autora de: Rio Grande do Sul: a Economia e 0 Poder nos Anos Trinta (Porto Alegre, Mercado Aberto, 1980); A Republica Velha Gaticha: Charqueadas, Fri gorificos e Criadores (Porto Alegre, Movimento-IEL, 1980); Histéria do 0 feixe eo prisma INTRODUCAO nn O Feixe do Autoritarismo € o Prisma do Estado Novo Neste livro da Colegio Jubileu - O Feixe e 0 Prisma: Uma Revisdo do Estado Novo ~ elegemos como preocupagao central a de contribuir para a discussdo do fenomeno do autoritarismo e de outros dois que the si conexos: aqueles do toralitarismo e do fascismo.. No primeiro volume ~ O Feixe: O Aut Teérica e Historiogrdfica - a discussio do aut itarismo como Questéio ente ainda situada mais no ‘mas ja procurando ultrapassar, argio do social se pode deparar, contrapondo, enti las definigdes generalizantes uma anterior mais complexo, qual seja o do poder. introdugao 0 feixe do autoritariamo ¢ o prisma do Estado Novo 15 Esta complexidade jd fica cabalmente demonstrada pelo historiador Francisco J. C. Falcon, no capitulo “Fascismo, Autoritarismo e Totalita- 10". Centrando o seu estudo eminentemente conceitual nos di aate racieno ~ cole tease alga multifacetada ~ dai, fascismos -, Falcon estabelece a relagao desses diversos significados com os de outros significantes afins, como autori- rismo, revolucdo ¢ ditadura. Ao procurar estabelecer a participagao de historiadores, ci ais (especialmente os ciet tas politicos) ¢ fildsofos na polémica, Falcon imprime a sua argumentagéo a marca da interdisciplinaridade.? Considera necessirio, como eixo da discussio conceitual, situar, previamente, a questao da ideologia fascista (ou das ideologias fascist E, a0 conch aponta “a tendéncia historiografica mais recente que tuigao histériea concreta dos varios fascismos”. Nesta linha, Falcon cha- ss eae ab dtc staron ene Sins englobar movimentos, partidos € regimes com caracter estudar 0 concreto-real do Estado Novo brasi ss bases para a discus- sio do seu regime (fascista ou nao), paralelamente & discussao da cia ou nao, no Brasil dos anos trinta, de movimentas ou partidos fascistas. Por este caminho, podemos chegar, certamente, a avaliagio do Integra- lismo enquanto movimento 70 e da Agio Integralista Br enquanto embrido de um partido politico, mas sempre levando em e © historiador Ricardo Benzaquem de Araujo, ao nos alertar de que “se deve evitar a interpretagio de que a atuagio do Integralismo fosse mera mente uma dedugio das posigdes de Plinio Salgado™.* Um outro fendmeno, também conexo a todos os que vimos aq zindo, istas permaneceram, em grande parte, proprio Ludovico Incisa constatou que “o ordenamento corporati Estado Novo de Vargas se inspirava diretamente na Carta do Trabalho fascista”.? 16 introdugio da busca das “especi -0 J. C. Falcon, quer a vertente da “hi Jada por Bruno Tobia sio substanci que do modelo germanico ou mesmo Fernando Rosas, como pressupost \g80 do ~Autori- é ido “legalmente™ ‘arta outorgada por jores que adotam “uma -0s da Argentina peronista ou do 1945", Para o historiador © feixe do autoritarismo e 0 prisma do Estado Novo Ww io caminhou e mesmo regimes na Argentina no podem facilmente ser ajustados a um modelo fascista”? Como inevitaveis desdobramentos desta semi sussio do fendmeno ritarismo podem surgir outros impasses tedricos sobre o papel do ado Novo no proceso historico de formagao social brasileira. Um destes impasses, por exemplo, nos levaria a repensar 0 Estado Novo como, das “modernizagées conservadoras”, mais um dos tivicos no nosso dk ial que contribuiram objeto da Segunda lertando para o perigo da comparacao tes, e nao vendo como, naquele final dos lo Tavares, ¢ como parte de uma anilise do entrechoque das forgas soc! sadas nos anos trinta, “o Estado Novo acelerou 18 introdugao © proceso de transformagio burguesa em curso na soci no sentido de estabelecer uma certa a prindo “um papel que representava os interesses de uma arpa em ascensio”. O que dé a projega “nao € nenhum cardter g estadista medioere, se adotéssemos uma medida internacional Ge berto as transformagoes que fort ‘operdria, mas que colocava os leresses pessoais”. itador da polémica que a Colecdo Jubileu pretendeu dar a este livro ganhou muito com os posicionamentos de José se confrontados com os enunciados ”- Primeira Parte. Out cias emergirio do depoimento de Luiz Carlos Prestes, dado em 1987, 0 ultimo, transcrito pela historiadora Anita Leocadia Prestes ¢ aqui postu: ‘mamente publicado. nais, nos anos tr “o termo fascista comunista, “um regime efe' se uma ditadura terrorista aberta elementos que, de acordo com Estado Novo, 0 qual teria sido, autoritério e de imperador, porg poderes”. jetilio Vargas ficou com todos os ‘Ao depor sobre o Estado Novo € Getiilio Vargas, tum mito depondo sobre outro mito, o que mais estimula a intrincada simbiose do racional com o irracional. No depoimento do 10 pelo proprio mito” mais se esereveu no seguramente, sobre 0 q Tl e cuja “heranga” ‘seu “bonapartismo”, o qual lista”, vez ou outra ressurge, como tatica, nas liderangas “modernas”. © feixe do autoritaristho e o prisma do Estado Novo 19 imados bidgrafos de Vargas, como as, desde os tempos da ta comtiano, quando m Spencer e Darwin e pela admiragao por Emi frente do governo do Rio Grande do Sul, manifesta ‘uma grande admiracao pelas instituigdes da I confirmado por declaragdes suas nos primeiros tempos do Governo Pro- , no depoimento do Vargas, frato de uma entrevista “autobiogri nao foram a mesma subdesenvolvido” daque! Nem todos os historiadores, mesmo os autores das “histrias gerais da 1” ou de “histérias gerais do Brasil”, deram importai ior de Vargas, quando sbordaram © Estado Novo. Vejamos co ao dizer que “a ironia jeixar tudo em cardter pro resca: “deixar como esté para ver como € que fi a Penna optou por denunciar a ut Vargas, como “produto de uma situagio geradora da proletarizagio de 20 introdusao. amplas camadas sociais que, em meio a transigao para uma sociedade desenvolvida industrialmente, perdem a sua identidade social, transfor- ‘mando-se em massa de manobra”..” Mas a questio do mito politico de Vargas se perde na diversidade de temas que se inserem nas “Versdes Historiogrit objeto da Terceira Parte deste livro. rismo, totalitarismo e fascismo, sobretudo se arti como o fez Juan J. Linz. Ima das constatagées feitas por René Gertz sobre a debilidade tério Historiogrifico” do Estado Novo reporta-se aos “temas; mente, Sandra J. Pesavento atribui de construir uma meméria social, produzida e instrument gicamente de molde a resgatar para os grupos domi dados da realidade como se ni acontecido”. Aquilo que Sandra J. Pensavento chama, entio, {gio do passado” se realiza em todas as époc: ira nos periodos autor que se poderia esperar, vento, “redirecionou as tendéncia: © feixe do autoritarismo eo prisma do Estado Novo a .do por causas justas, como cingtienter tagio do Estado Novo (1937-1987) nos leva, agora, a algumas consideragdes a respeito da relagio entre “o calendério™ no nivel do imagi 1889, ressaltou que “a hist6ria quis que o pr ‘centenério da Revolu- gio Francesa de 1789 fosse festejado exatamente quando estavam no isse ele - a conjugagio das “forgas do calenda- jo, com o poder colocar em funcionameni tio", no campo do ago todos os recursos para nvolveu tanto a ia, no que se refere ao cingiientendrio do Estado Novo, ocor- no Governo Samey, matizado pela ambigiiidade da Nova tornar senhores da meméria e do esquecime preocupagdes das classes, dos grupos e di ¢ dominam as sociedades histéricas”. E conclui ~ no que particular- 2 introdugao mente aqui nos interessa - lembrando que “os esquecimentos ¢ os silén- cios da histéria sio reveladores desses mecanismos de manipulacdo da meméria coletiva” >> ‘Como jé escrevemos em outra oportunidade, “a amnésia é um terreno seletivo da meméria social. Sé nos “esquecemos” daquilo de que “Jembramos" mas nos desagrada “lembrar’. Nao interessava a Nova Repti- blica, mesmo com a ampla liberdade de expressio de pensamento exis- tente, “lembrar de 1937° para que nio ficasse nela documentada a “os homens que haviam v ja 08 recordavam, em g correta”.28 ide de justa avaliagio ‘Aqui se coloca problema da perda da meméria de uma geragio sobre um determinado “acontecimento™. Para Mary Wamock - da qual, neste ponto, seguimos a linha de pensamento ~ antes que uma geracio tenha a meméria “estropiada pela terrivel afligio da amnésia”, antes que uma gerago sofra as “desagradaveis conseqiéncias” de uma perda, © feixe do autoritarismo eo prisma do Estado Novo 2B ‘mesmo comum, da meméria, seria necessério usar todos os recursos para istrd-la, em especial nos seus aspectos “reflexivos e coletivos”. Tal Exatamente uma destas “reunides” sera destacada por Mério B: Depois de passar em revista os escassos eventos, di iam “refletido” sobre aspectos da ditadura varguista, gui 0 Coléquio Estado Novo (1937-1945) Autoritarismo no ‘ma Avaliagdo Histérica. Promovido, de 3 a 7 de novembro de Jé na abertura, ‘0 prof, Horicio Macedo, plena consonancia com os organizadores, ele chamou a atengao no senti de que os estudos sobre o Estado Novo que, naquele momento, se sempre numa perspectiva de jonal. E, numa evidente alusio & , como os de 1937 ¢ 1964, se os sctores progres 8 do pais ndo soubessem se reunit numa poderosa ‘a que se co contrariamente a uma nova tentativa de tar uma concepgao centralizadora de Estado” do Estado Novo (1937-1945). ihamo-nos, ¢ nisto agora apoind 0 geral da “dir 24 introdugao. italista de entio, como 0 espanhol \g0es explicitas da Carta -oneretizadas, resultariam, por hipstese, num fascista mesmo, corporativo até. Mas 0 Estado s que hao de permanecer, jumas das nossas instit to que, por exemplo, ‘com um movimento genuinamente fascista, como 10, 0 que nao nos impede de constatar que muitos dos seus pre foi postergada governou apoiado nossas Cartas aut Gerais e/ou Tra . Ela comegou com Francisco Campos e, té, pelo menos, Carlos Medeiros Silva, seu Jost Lutz WERNECK DA SILVA Janeiro de 1991 3. Ver Raymundo Faoro, Ascembldia Constiminte:A Legitimidade Recuperad, Brasiliense, Co. Pimeiros Passos, 4 ed. 1985, especialmente pp. 7-24 4. Ver S. Andres Autoritarsmo, in: Benedito Silva (coord. geal) e de Ciéncias Socais.2 vols, Rio de Janeiro, Fundagio Getilio Vargas, 1986, 1" vol, p. 0 feixe do autoritarismo e o prisma do Estado Novo 25 ‘a histoiogrtia do Integralismo. Plinio Salgado disse que “ninguém ~ adversrio ov ‘amigo do Integralismo ~ poderia discui os fates ocortides de 1932 1945 erelaciona- p10. 7. Ludovico Incisa. Corportivism, in: Norberto Bobbio outtos, Dicionrio de Politica, ‘op. cit, pp. 287-291. Aspisia Camargo viv no Golpe Slenciaso de 10 de nover! 1937 as Origens da Rep de Janeiro, Eitora Rio Fundo, Anterior a este “biogas vos “constutores do ‘da borrasca ndo se muda orimonei tard que elas resigne a ambiente corrupt dos sa desaparecer” (9p. 14 € 393). Concepgdo Materialisia da de Mauro Malin e Pinio de Abreu Ramos. Rio de Janeiro, Zahat Editors, 2 ed. revista, p. 24 14, Paulo Brandi. Vargas. Da Vida para a Histria, op cit, p. 32. 1S, Raymundo Feoro. Os Donos do Poder. Formagdo de Patronato Politico Brasileiro. Porto Alegre, Editor Globo, 3 ed, 2 vo. p. 725. 6 introdugao 16, José Maria Bello. Histéra da Repiblica, 1889-1984, Sintese de Sessenta ¢ Cinco Anos de Vida Brasileira. Sio Paulo, Companhia Baitora Nacional, 7 ed, 1976, p. 318, 17, Lincoln de Abreu Penns. Uma Histéria da Repdblica. Rio de Janeiro, Nova Frontira, O FEIXE: O AUTORITARISMO COMO QUESTAO TEORICA 27. Mario Barata, Estado Novo e Histria, 1. Fascismo: Autoritarismo ¢ Totalitarismo FRANCISCO JOSE CALAZANS FALCON Consideramos de anteméo fadada ao fracasso qualquer tentativa de: explicativa que se revele incapaz de levar, na devida conta, a realidade mi do fenimeno fascista. 1. Prilogo: os problemas eleitos Bem poucos fenémenos histéricos do nosso século abordagens Algumas foram prod propdem deserever ou igura, portanto, a complexidade ¢ a variedade ismo que consideramos de ante- qual essa complexidade nio era, ou jente. Nés mesmos, hd uns bons q o do fascismo era alguma ‘partir da chamada “crise do capitalismo monopolista” arti- periodo entre-guerras. No interior desse grande cenério hist6rico, a génese dos movimentos, partidos ¢ regimes fascistas tornava-se algo bastante Iogico. Conhecida a génese, 0 resto do quebra-cabega parecia resolvido - 08 diversos “fatores” (ec 8, politicos, sociais etc.) encarregavam- se do restante da “explicagio”. quando chegamos & conclusio de nao mais possuirmos as mesmas “Certezas”, preocupam-nos sobremaneira os aspectos que ni 29 30 ofeixe relegamos a plano secundério, naquela pi ia que tivemos de revisitar nosso velho a para estabelecermos as difere tas sobre um mesmo tema. Ao la zas ¢ interrogagées de agora, pensamos sobretudo nos condici que faziam, entio, de tais diividas indagagées, algo simplesmente inconcebivel. Dadas as naturais limitagdes impostas a este trabalho, no poderia- ‘mos pensar numa apresentagao exaustiva de todas aquelas questdes que consideramos da maior importincia sobre o problema do fascismo. Sele- concepgdes bisicas sobre a natureza da histéria e rico que ai se defrontam. 2. Fascismo ou fascismos? Polémica de historiadores? cuja expressdio concreta era imento”, Se bem que tenha ia entao pelos chamadas ido anteriormente uma fato de que foi a pi mente suplantada por uma si dio “fascistas” ou porque séo assim denominados, ou porque € que se auto-reconhecem, as vezes, diversos outros movi- jos nacionalistas de extrema direita, caracterizados por suas 's fortemente hierarquizadas, centradas na lideranga de um chefe 31 5 que ja Sabemos estarem . Guardemos apenas um ~ fascismo ¢ fascismos ~ Ocorreu no entanto que, te, de manifestagdes que palavra fascismo passou ima abstragao te6rica. No 10" (conceito) conver- recurso retdrico nas mios principalmente dos indo cm segundo plano 0 seu possivel valor , a palavra permanece viva, plena te, ou antes, talve7, e: teu-se em arma polémi “omportamentos ¢ regimes “de esquerda”, ndo ‘mas até mesmo por setores da propria coctente, pois, a histéria do fascismo tem ic nde sax Comey unites «eben das wpcar becca sees “ideologia”.* Eis-nos, entdo, diante de mais um dos famosos “ismos” politicos ‘contemporancos. Uma palavra que, como significante, tem uma genealo- sia evidente, mas cujo significado ¢ fortemente polissémico, a tal ponto que temos: 0 fascismo e os fascismos dos proprios contemporineos ou deum Seca coneretizado nos diferentes tipos de fascismos historica, 32 0 feixe ‘mente conhecidos, quanto podemos fincar pé na existéncia de um tinico as concepgdes dos historiadores que recusam, de a qualquer valor, do ponto de vista do conhecimento hist6rico, pelosimples motivo de que elas na idades de cada possivel, hoje, desconhecermos ico, € algo real, que “fascismo”, enquanto concei pendendo do campo tedrico-met tais ou quais diferencas, ou seja, em iit prdprio objeto, 3. As explicagées genético-causais ou as chamadas raizes ideolégicas do fascismo — uma polémica de filésofos? se esmaecem, restando quase exclusivamente a ideologia fascista. fascismo 33 Do nosso ponto de vss, tis posies pecam por exageros evden (ode ideologia que utilizar,” Mas esta ja Por or, fixemos apenas essas imprecisdes como uma jue se situe em seu devido lugar - quanto jeologia(s) fascista(s). ites dos respectivos jentos, iS, Mas, a0 mesmo tempo, que sejamos de perceber, sobretudo do ponto de vista das suas ideologi ergo em difere algumas delas mui sbeangentes 6 fascismo, dando-se uma especial énfase ai s com as formas de pensamento € de “reagio",integrantes, aqui, que 0 grande divisor de smo’, afirmagao i 7 na chamada “Revolugio Burguesa”", em desdobram as peripécias da mnalismo conservador, em seus miiltiplos avatares, a eae “dearschonallzagS0 ilvex.devéssemos trabalhar com a hi juminismo do discurso fascista deveria seus proprios termos mas, pelo contririo, como uma des monisticas ~0 exemplo do totalitarismo. do Estado que impregna toda a soci Nao se poderia negar o fato de que a ampla fascismo 35, icagdo com o bolchevismo é um mero subpro- 0s fascistas tinham como projeto a concepgaio do Estado, seus numerosos adversérios preferiam. os, reais ou supostos, entre o Esta . Lembremos apenas como exemplos os = Bolchevismo, fascismo e democracia -, F. Meinecke do inicio dos anos 30) ¢ H. Rauschning - A Revolugdo do Nikilismo (4 ‘em 1938). Avangando um pouco mais, anilises como as dg E. Fraenkel (1941) e F, Neumann (1942), fincando pé na teoria da existéncia de uma sua vez, 0 nacional-soc termos é possivel compreendermos as afirmagdes de Hannah Arendt ~ ~... a ditadura fascista na Itdlia nao tinha carter totalitério algum” -, H. Buchheim e outros.*" Quaisquer que possam tersido os fatores determinantes, o fato é que 4 questio do totalitarismo ofuscou ou subsumiu, durante os anos 50 ¢ 60, sio muito variadas as tendéncias por exemplo, na coletanea de Hi uma certa flutuagao quanto ieas, como se pode perceber no denso cestudo de A. Acquarone sobre o Estado fascista na Itélia de Musso! 36 o feixe E do maior interesse, nesse mesmo periodo, o livro de J. L. Talmon sobre © qual, de certo modo, evidenciou ideoldgicas de um debate até entéo muito iquefsta entre 0 que se poderia chamar de um um “principio total ‘Na realidade, a subsungao do fa: foi sempre muito mais uma preocupa\ se sinteses explicativas inspiradas ou na tradigdo dita positivista. Um caso a parte, cuja abordagem “fenomenolégica” tem o grande ado a atengio para o cariter “epocal” do fascismo. Segundo este autor, “a le de qualquer diivida”, poi que se disponha de “um concei tantes tanto do padrio podem ser “reduzidos” a térios conservadores”. © que nio is, esta sim, a verdadeira “época do fascismo”, que, segundo Nolte, deve ser definido como um fendmeno essencialmente “transpolitico”.** 5. As concepgées historicistas — 0 fascismo em sua época. Uma questéo de luta contra 0 anacronismo? “As custas de algumas esquematizagdes inevitiveis, vamos procurar resumir os elementos que, em nosso modo de entender, se devem ter presentes para compreender historicamente 0 fenomeno fascista. O pri- meiro destes elementos é de tipo geogrifico e cronolégico: o fascismo foi um fendmeno europeu que se desenvolveu no periodo de tempo com- preendido entre as duas guerras mundiais. Nao hé duivida de que jé antes, da Primeira Guerra Mundial existiam condigdes prévias e raizes, quer fascismo 37 ‘morais quer sociais. Essas raizes estavam, porém, estreitamente ligadas & situacao cultural ¢ econémica da Europa (e sobretudo de alguns de seus paises). Qualquer comparago com situagdes nio européias, mesmo pos- impossivel, dada a diferenga radical dos contex- tos histéricos (no sentido mais amplo da palavra). Essas condigdes prévias raizes cram, porém, "mar crise determinada pela guerra foi a Jinica e verdadeira causa da sua brutal evolugio e da sua extensio a grupos que, até entio, Ihes tinham sido imunes..."> Esta longa de um dos muitos trabalhos de Renzo de Felice Sobre a questio do fascismo reforga a énfase de Nolte, citada no item anterior, bem como nossa prdpria perspectiva, no artigo de 1974, no qual chamdvamos a atengao do leitor para as especificidades do mundo de entre-gucrras. E aqui, entio, que verificamos, nesta digressio por antigos ‘caminhos, que nem tudo do que entio expusemos tornou-se superado, 20 ‘menos, para inuamos a pensar que, se é realmente verdade que “falar do fascismo é, antes de mais nada, hiistéria ¢ incompreens sadot por exceléncia de transforma- (Ges jé em curso nas chamadas “sociedades liberais” lo passado e dos primeiros do atual, através da lle Epoque. quase todos os valores, tal como haviam possivel sustentar a velha conviegio quanto & capa iberais, nominalmente vigentes, darem 0 fadequada as as ¢ demandas dos segmentos sociais mais numero- S08 € também mais explorados. Se o sistema pudera durante muito tempo 38 ofeixe xr como vores discordantes ou dissonantes as cr querda” ¢ as insatisfagdes e receios da “direita”, isso agora ja na possivel. Tais vozes ganharam subitamente um impeto irr colocaram a frente do palco politico. ‘Nao ha como se negar que a Primeira Guerra Mundial atropelou todas aquelas certezas que pareciam solidamente implantadas ¢ social europeu. As formas de ser € gigantesco que e retrospective , envolvendo-as ‘com seus préprios desenhos e sonhos. Essa reconstituigao a posteriori que de um imaginario composto daquel agora como indesejivel e negativa, permitiam tragar o perfil de uma “idade de ouro” desaparecida, talvez para sempre. ‘A propria guerra, se nao determinou, ao menos acelerou o proceso de alargamento da esfera de intervengio econdmica do Estado. A pa ‘dai, a propria crise viria intensificar essa tendéneia, & sombra da gias favoriveis & ampliagdo do campo de atuagio estatal, em o velha tradigao liberal de distanciamento e neutralidade (mais ideol6gica {que real) do Estado diante dos processos econdmicos. ‘As expectativas positivas, alguns dirdo certamente “utépicas”, pro- jetadas para quando 0 confi 1918-20, com uma realidade mui ise econémi jo agravamento dos cont imentos grevistas, o fantasma da 3 eram, ou pareci incapazes de apontar caminhos © “Agravando mais ainda esse quadro, o “fantasma da revolu- * despertava as esperangas de uns e os temores de outros segmentos ‘A crise econémica, ni somente conjuntural, mas basicamente ‘em cheio os assalariados como um todo, causando ‘entre os pequcnos empresérios burgueses, levando-Thes, A sucessio de greves ¢ manifestagdes de rua, as ocupagies de fibricas, as agitagdes nas zonas rurais, criaram uma atmos- fera de desordem tanto mais inquietante na medida em que, em muitos lugares, foram se generalizando as agressdes ¢ atentados contra pessoas, bens e propriedades, sobretudo pela formagio de bandos armados espe- fascismo & idos nessas formas de violénei 8, alguns deles tipi ‘gando, conforme o: ou assistida com it A aco aparentemente livre desses conivéncia, dependendo das frgassociais env reforgar a sensagio de caos social, ou mesmo revoluga marcha. A crise, bastante real, ea revolugao, apenas magi 4 f do historiador, cutivel - 0 fato de se darem as mos uma a ‘edos comportamentos seus prinefpios e seu proprio aparelho a nese como ais e muito menes de enfrenta ora das repas do fopo a0 qual estava habituado. Explica-se, assim, a tolerincia ou a “vista grossa” diante de agdes pouco ortodoxas, mas que parec ou benéficas a defesa do status quo. Ne: preender a afirmagao de que “o Estado fase’ fascismo”. Foi, portanto, nese ambiente de pés-guerra - cujos Bess ane ress ess ater deixou de ser aquilo que sempre parecia ter sido - apenas uma “idéia” ~ Para se converter em alguma coisa concreta ¢ re ‘causado pelas noticias sobre a volugio” se transforma em p poderemos com- 1u-se antes do préprio fentanto, era que a “Revolugio” deixara de auto ern qe a "Revolufo"deizara de ser monopstio de socials, ‘minamos de conserv Surgem vozes que se opdem i revolugao “vermelha” ou “I nome do que intitulam “outra revolugao”, “tercei dadeira revolugao”. Des “evidente” que adireita j essa “outra revolug 40 o feixe perando-se 0 conceito de “re id “a que estamos estudando. A relagao contraditéria entre s de revolugao, enquanto expressGes de duas visdes d ada qual pretendendo ser detentora da “verdad jonéria, produziu um e ples’ mi necessério um outro trabalho para discutirm aqui, atentar para o fato de que a revolugio si ~bolchevista” ou “vermelha” para seus inimigos ~ contrapunha-se, real ou apenas ideologicamente, a proposta de uma “terceira revolugdo”, € derradeira, sintese do que houvera de positivo nas revolugdes -s, mas isenta de seus aspectos negativos. A contra-revolugi por acaso, que o probl -volugao™ se tornou efetivamente uma revo- ria ~ espécie de wishful thinking - no ha como fu de que sua materialidade, mesmo como forma de pensamento, era bastante “real”. A revolugio era “real” ¢ “evidente”, em primeiro lugar, para os seus 5 genericamente englobados numa “esquerda” q a herdeira e continuadora de uma tradigaon problema era bem mais complexo, acreditamos, porque a revolt ‘ao parecia também evidente e necessaria do ponto de vista dos grupos © partidos de extrema direita, aos quais nos habituamos denominar generi- ‘camente de fasci pelo menos, ela o era para alguns dentre estes. sessidade assumiam neste caso um sentido duplo fascismo 41 ¢ inter-relacionado: evidente e, exatamente por esse motivo, temida ¢ Havia e hi, com certeza, profundas diferengas entre essas duas idéias de revolugio, mas nio seri simplesmente ignorando ou desqual pensamento - ¢ de mentalidades ~ para os quais a realidade de ambas se afigurava igualmente indiscutivel. 6. Revendo conclusées. Novas divvidas? A partir dos t6picos acima, acreditamos que tenha ficado suficiente- meno do “fascismo”, na m 0s, segundo alguns autores da j que esteve ligado a duas ordens 's europeus (hd quem prefira: pelos paises capi jentais durante o perfodo 1914-18 a 1939-45), jé a segunda daque- ‘ores deveria consistit no exame cuidadoso das is” - as caracteristicas econdmicas, so- mas de pequena ou nenhuma valia para o trabalho sério do historiador. fascismo 43 2 ofeixe 12, Weber, Eugen. Varieties of Fascism. Nova York, van Nostrand, 1964, pp 78. Verificamos que a tendéncia historiogréfica mais recente destaca, r B Justamente, a visio das especificidades. Tem-se entio a impressio de que ~ passado o tempo das grandes sinteses, ou das brilhantes generalizagoes “te6ricas”, tremendamente ambiciosas na abrangéncia de suas pretenses - buscam os historiadores “a reconstituigao histdrica concreta dos varios fascismos”®? NOTAS. 1 De Fee, Reno. Fascamo, Le imerpretazion ei contemporane degli Sti Lat Nova York, Holt, Rinehart and Winston, 1966 mts fascistes. Paris, Calmann-Levy, 1969 (eda a Sehieder, W. op.cit. pp. 128-9; Woolf, S. : Rodrigues, A. EM. Fascismo, op.cit. pp. |. Weiss, J, op.cit; Mayer, A. op.cit. 2. A Italia Fascista: Um Perfil Institucional BRUNO TOBIA © Conselho Nacional das Corporagde fora sidas em matéria de coord pina nas relagées de ‘categorias da produc (ou). 0 ‘orporativo ndo fancionou, a ndo ser como distribuidor de venciment € gratificacdes para os seus funcionérios. ‘nunca desempenhou as fungies que the Quando se aborda, sob 0 ponto de vista do historiador - e nio o do ico ou do fildsofo - 0 desenvolvimento do regime deve ser a de representar o fendmeno diacro: ‘segundo suas etapas mais significativas, o que agora empreen- pelas eleigses plebiscitérias de margo de 1929, o fascismo estabilizou-se, aperfeigoando asua estrutura inst "or fim, Sob 0 impulso da crise econdmica, de 1930 a 1934, 0: ico do regime foi ultimado no sentido corporativo, mesmo se 0 regulamento corporativo nunca conse- guisse se constituir de maneira vital. Estas sdo as etapas fundamentais da construgio do regime: um processo definido, antes de tudo, pela sua gradagio © que, até 0 periodo de 1926, se determina, essencialmente, como conseqiiéncia e retiex da luta politica Até 1926, 0 fascismo” nio possui, nos scus homens ¢ nos seus componen tes, um “projeto de ditadura” coerente ¢ predeterminado, mas constréi os seus aparelhos de govemo e os seus institutos especificos sob a prot de uma vigorosa tensio antiliberal ¢ antidemocritica, sob o impulso uma tendéncia para 0 regime do qual, todavi do resultam, claras definidas, as formas possiveis. Mesmi cha sobre Roma”, em termos rigorosos, nao pode ser vista como uma derrubada formal do Estatuto monérquico-liberal - 0 qual, por sinal, na Ilia, nunca sera “4 a Ilia fascista 45 ab-rogado expressamente. A crises extraparlamentares © partir da “Marcha que foi determinada pelo assassit sa Maticot juno de 1924) levardofascismo, sob o imps dos acontecimentos, a de! residuos. transformadas e enquadradas em uma organizacio. dis ordens do Chefe do Governo, comandada por oficiais, a maioria dos 46 ofeixe as fungdes de instrumento de chat condicionamento para a Monarquia que recebia o seu juramento de fidelidade. ‘Também o Grande Consetho do Fascismo era um monstro jt ard até 1928, quando sera “o fe de um Regime. ‘A tensio ao regime ainda se manifesta, neste 1923), em duas disposigdes: no decreto-I e destinava ao Partido que tivesse obtido um. ante baixo (25% dos votos) os dois tergos dos lugares, alta fascista re mando, praticamente, em “escravos politicos” de Mussolini, quando nio construgao ¢ legalizagio da ditadura. Os tempos e as modal processo, como ja se viu, dependeram, essencialmente, da dialética € da aceleragao dos acontecimentos depois do assassinato de Partidéria. Neste contexto, acontece 0 assas raptado € morto por um grupo de fa fascismo viveu dez. dias de pinico. As oposigdes escolheram 0 caminho do protesto moral, abandonando os trabalhos da Cémara, enquanto vinha 4 luz.o enredo das responsabilidades politicas vi (organizacao fascista de grupos armados), & Presidéncia do Conselho € a0 i. Ele sactificou os iu, de novo, o apoio do Senado 9, Felativamente 4 reorga- O decreto sobre a administrago dos jomnais tomou-se le, a oposigao via-se progressivamente privada da sua 48 ofeixe arma mais importante (a campanha da imprensa) depois de ter abandonado Camara com a esperanga de que o Rei interviesse acompanhando a desejada desagregacéo da maioria governamental Nao houve nem uma coisa nem outra. O formalismo constitucional do Rei, 0 medo do “salto para 0 desconhecido” no meio industrial ¢ as divergéncias entre as oposigdes marcaram 0 desenvolvimento da crise. Maso que detemsinow solagio em favor dofacnmo fio “pronuncia- realizada gr ‘sem outros obsticulos, nos dois anos sucessiv 3 de janeiro de 1934 Mussolini decidiu passar sem a dit levar em conta a possivel ameaga da oposigéo parlamentar, com isto chegando a um nivel mais intransigente de autoridade. Ele considerou de ‘maneira certa a fraqueza das forgas constituci medo de provocar uma mudanga & esquerda dem: ram a coragem de apelar ao pais e se fecharam na espera improdutiva de uma Rei das oposigdes através de is 0 fascismo constréi a sua cdo através de uma nova lei que wada em novembro de 1925. Esta lei - que, formalmente, se ditigia contra as associagdes secretas (quer dizer: a ‘magonaria) - obrigava-as a publi i proibido aos funciondrios do Estado, através da ameaga da fazer parte de sociedades cujos sécios fossem obrigados cobservar o segredo. A amplitude desta nova lei era tal que cla poderi ser aplicada a qualquer tipo de © controle inteiro da burocra aprovada em dezembro de 1925, perseguia o mesmo objetivo. Ela permitia ao governo despedir do servigo os funciondrios que nao dessem garantia de fiel cumprimento dos seus deveres; foi através destas duas leis que se realizou a completa “fascistizagio” da burocracia, seja com a admissio de funcionarios fascistas, seja com a conversio entusidstica ao novo regime por parte do pessoal em servigo, sobretudo em relagio is altas categorias. ae a Itdlia fascista 49 la qual, astutamente, os fascistas se aproveitaram, causada pelo fracassado atentado contra a vida ilo de Presidente do Conselho, visto que nao era mais, como no ral, apenas um primus inter pares. O governo seria formalmen- te composto de duas partes: 0 conjunto dos ministros e 0 seu Chefe, perante ao qual eles deveriam responder. Os ministros, bem como 0 Chefe do Governo, deveriam, obviamente, responder também perante o Rei que ia 0 Poder Executivo através do mesmo governo © mantinha a aprovagio do Primeiro-Ministro. Esta tiltima lei ¢ importante ¢ bastante caracteristica da mancita de proceder do fascismo para a sua “eonstitu- ‘gtande tecedor strutor, nao importava por que cat nova legalidade, para voltar & legalidade... © Estatuto Constitucional, formalmente, nao fora, porém, modifi- ado: este nao previa a responsabilidade dos gabinetes com o Parlamento. Mas a Const acabaria sendo modificada, também, formalmente, a0 ser espécie de “chancelaria” que encontra ulterior reforgo na exis Grande Consetho do Fascismo, ao ser criada a ‘um controle de ferro sobre as associ consolidado, também, por uma outra jue atribufa ao governo o poder de promulgar normas juridicas. Através do conjunto dest ticamente pelo governo. liberal e, nos seus destrogos, 3, Mussolini sofreu um outro atentado incélume e cuja responsabilidade nunca foi verdadeiramente ‘esclarecida, Todavia, ele serviu para motivar uma repentina ago do 50 ofeixe governo: tum novo texto tinico de seguranga puiblica estabelecia 0 “confi- namento” ¢ dava 0 poder aos comissérios de goveno de dissolver as associagdes ¢ 0s partidos que desenvolvessem uma atividade contréria 20 penas severas para os expatriados por motivos pol ticos; por fim, instituia, para os erimes que pre para 'Seguranca do Estado, formado por oficiis das tr armas © da Este sera o 6rgio judicsrio ipico do fascismo. Ele pronunciaré, no total, até o momento da queda do fascismo, em 1943, 42 condenages a morte, das quais 31 executadas, 5.155 condenagdes @ prisio (em 21.000 denunciados), cujas penas alcangam o total de 27.000 anos ¢ nagies 4 prisio perpétua, Ea ponta do fepesas nd conkole ten lagdes entre o Estado ¢ o Partido, assumindo forma especifica de uma ditadura fascista, a qual, em prospectiva, zatia 0 Estado Totalitirio. ‘o momento do maximo esforgo da codificag intransigente na luta para a construgao de um regime completamen- te fascista, A sua Secretaria (12 de fevereiro de 1925-30 de margo de 1926) foi a tiltima fase do “squadrismo”, expressio de uma concepcio {Yzaguarna” que vis oParklo como wna ete reat dirigente nova que deveria ser do aparelho estatal, o Partido © vértice estatal-g a Italia fascista 51 Partido Nacional (autoridade provincial durante 0 sirio Governamental exprimem ta que contava, De representante do Estado, como era na época liberal, o Comissério Governamental tomava-se diretamente o representante do regime. Mesmo \g80" do Grande Conselho do Fascismo, em dezembro ve set lida ¢ interpretada segundo um duplo movimento. Por um lado, ela se apresenta como uma obrigatoriamente consultado em m: por exemplo, na lei sobre a sucessio ao trono (em derrogagio da em vigor na Itilia) ¢ as prerrogativas da Coroa, poder de escolha da sucesso no cargo de Pri 4 Coroa estar vacante. O papel do Grande Conselho do Fascismo foi importante, ainda, no mecanismo da nova lei maio de 1928. Segundo a lei, as candidaturas em relagao ao Soberano. Assim, io destas duas disposigdes, as quais, com a sua tensio total ciam apontar na diego de uma verdadeira “diarquia™ no vértice do destas alteragdes teve lugar, obviamente, com as ias de 24 de margo de 1929, sob o impulso de uma 52 (de Latrio) com a Santa Sé que tev institufa 0 Estado (da Cidade) do bignio de 1928-1929, cla se pode considerar estavelmente constituida, Além do Partido ~ que, como afirmou Mussoli 29, era 96 uma forga evil e voluntiris as ondens do Estado” <, 05 va, para a formagio da toral de 1929, adquirindo uma relevaneia ial que era precursora de um desenho de Estado Corporativo rganico.® Este desenho foi apresentado, nos scus principios, na Carta do Trabalho, de 1927. Cor Pacto de “Palazzo Cl m 21 de dezembro de do governo, Succesivamenic, cm 2 de is ofganizagoes assinaram o Pacto de “Palazzo € dos operirios ¢ também aboliam, formalmente, as Comissdes Internas, quer dizer, 0 drgiio democritico de auto-representagao dos trabalhadores na fabrica, o qual eles haviam ganho durante o “biénio vermelho”. As suas fungdes foram derrogadas € reme~ tidas a0 sindicato fascista local. Desta maneira, as organizagoes sin altdlia fascista 53 novas condigées de trabalho. estas tare: chamado “desmembramento” da Confederagio dos 4 ni ser para determinar seu ulterior desativamento. Em novembro de 1928, aquela Confederagao foi partida em seis associagdes eorresponden tes as idades produtivas. Assim, se perdia completamente o principio ide de classe do isso - como se gabava istema corporativo, Corporagées (os seus membr escolhides, por forga deli, den re os que desempeahassem determinados cargos no Partido ¢ nas Corporagdes, revezando-se automaticamente). O Conselho Nacional das Corporagdes, em breve, perdeu importanci nunca desempenhou de coordenaso das nas relagées econémicas rnire as varias categorias da produgio. do dos mecanismos) tarefas: o citime da burocra fascistas, intérprete mais direta que 0 ordenamento corpor idesse representar dade de decisio econdmica por parte dos empreséri rativo nunca funcionou, a néo ser como distribuidor de vencimentos categorias econdmicas ¢ de um novo tipo de representagao harm mas falharam completamente. Em outros instrumentos ~ ¢ ¢ chegamos a conclusio - & que devemos procurar os trim do regime para 0 conjunto da populagdo, os instrumentos da zagio das massas”. Tocamos, com isto, na questio do papel do Partido, das suas estru- turas colaterais, integrado nele, o Partido sofreu um perdendo logo o cariter de uma verdadeira i, ai total a Mi sdvel para a jo, na sociedade \gGes de massa por cle permeadas, um \inuciosa de controle. E si il, das diretrizes do governo. Sem tramite de consenso e uma rede na organizagio da Juventude I nogos ¢ as mogas da It do Rei. Em conclusio: a Coroa, como pri simbolo vivo do Estado acaba por ‘encarnado pelo Chefe do Governo, por praxe desde 1937 e, por Ici, desde ia existéncia da figura do Chefe de Estado: o Rei. lugar: a presenga da Igreja. Por meio da Conciliagio, © fascismo obteve 0 apoio da Igreja, mas também pagou caro por este a Italia fascista 55 jo de Estado (como o art. 10 do Es foi obrigado a aceitar a sobrevivél to, a suportar uma verdadeira concorrénei nao penetragao do fascismo na classe operdi yram niicleos de oposigéo, nem sem ‘cosents dnpanansic Mn coueapeiods oors toa Bien dda massa para com os mitos do regime. Justamente destas culturais é que se organizario - antes, na Resisténcia Armada, durante a guerra © depois, no pés-fascismo -’as forgas fundamentais da Itélia democratica e republicana. NOTAS 1. Sobre a conquista do poder pelos fascist e a histéria da Ilia, ne cosnclonale' priamenare, 1S; Sckwerzonbery, ©. Dirittoe giustzia nel'alia fascist. Milio, Mursia, 1977. 3. Um Estudo Comparado do Fascismo: O “Autoritarismo Moderno” do Estado Novo Portugués FERNANDO ROSAS por processos intervendo econdmica e social, hide relacionar-se coma debilidade e a dependéncia sistema, agravada no pés-guerra, {conduzindo} ia da “ordem”, do corporativisme, do Estado total, isto é, do ‘que tenham sido as suas nuances nacionais. que, quedando-nos pelo ni 6 ou sobretudo nesse plano de at diferengas correm o risco de ser aparentes ou equivocos. Porqu por esclarecer 0 essencial: 0 proceso substantivo de entender 10 desenvolvimento dos fendmenos hi método que leva a sua consider a considerar que o terreno das metodol te, 0 dos i problematica, seja aquele em que vale verdadeiramente a pena tergar Eo que me proponho fazer nesta intervengiio de sintese ede reflexio despretensiosa em torno de tais questdes, procurando ter como bordio, que me incline ‘ou, talvez mais propriamen- 57 58 o feixe sempre que necessério ou oportuno, a minha maneira de entender esse ‘emocionante caso portugues”, como Salazar the chamava, nos anos trinta, o seu Estado Novo, ’inda que correndo o risco de matismo que sistematizar sempre im ‘comparados dos fascismos, pod ” de teorias © métodos de aniilise. ‘A primeira “familia”, a que cham: “es 1¢0", as quais, no seu conjunto, estudo empirico dos diversos movimentos, permitiriam encontrar ¢ res ttingir 0 verdadeiro fendmeno do fascismo. Dessa forma o distinguem, claramente, de outros movimentos aparentados mas que, nio preenchendo em causa, sim, 0 método de o faze que identifico como “taxions Em pri mente dos demais mesmo quando vaga familiaridade. Daqui resulta 0 esvaziamento ou pelo menos 0 obscureci- um estudo comparado do fascismo 59 ‘mento de uma realidade fundemental da histéria européia dos primeiros 30 ou 40 anos deste século: a do surgimento de um movimento reaciond- rio, geral, de tipo novo, nascido da crise do sistema liberal, particularmen- te afirmado c clarificado no perfodo de entre as duas guerras, o qual, sem prejuizo de diferentes formalizagoes ¢ expressbes nacionais, atravessa unifica historicamente 0 conjunto das sociedades capitalistas européias desse periodo. Nio se nega, naturalmente, que varias das caracteristicas especificas inovadoras das correntes ¢ dos Estados que incorporam esse ‘movimento geral sejam as propostas pelos taxionomistas. S6 que, fre- qientemente, no lamente em equilfbrios € compromissos m i le miimero de forgas ou de regimes se podem artificialmente desligar das realidades historicas gerais da época, sob pena de se Ihes retirar completamente o sentido. A. busca formalista do “fascismo puro” corre, alids, esse risco sério: ode nfo ‘encontrar em lado algum, 0 que nio seré certamente alheio & perigosa desenvoltura com que ela préscinde da Histéri suas complexidades. ‘conseqiiéneia da critica anterior, a corrente que agrupo como taxionomista tende, 6, # aceitar como elemento cat ji nos impasses do seu método: restat joridades juridico-instituci idade que, para além de algum vest cconstitucional, nada tem a ver com a pratica hist6rica concreta do regime ‘em Portugal. Convird precisar que no se desconhece nem se subestima a contri- buigdo decigiva que autores eminentes, i investi ‘gagho, trouxeram e trazem ao estudo ‘€a.um conhecimento mais detalhado obsta a que outras correntes da hi diferentes pressupostos tedricos ¢ de que alguns consideram um exeesso de “ac \gdes superadoras do ismo”, adverso & com- preensio cabal da histéria do periodo em causa, ponte eventual para uma certa visio “subestimadora” do real papel ¢ dimensio histéricos dos fascismos europeus - ou do “fascismo europeu”. E ninguém ignoraré que esse poderi tomar-se o terreno tedrico onde, objetivamente, tendam a 60 ofeixe alimentar-se as visdes politico-hist6ricas de recente expressio, empenha- das numa revisio do fendmeno. ‘Uma segunda “familia” de tcorias e métodos de anélise acerca deste assunto, a que cl le “escola historicista”, serd, portanto, a que se empenha na explicagao dos movimentos ¢ regimes fascistas como um “produto histérico”, como 0 fruto de um complexo de condicionantes estruturais ¢ conjunturais de ordem véria que marcam as sociedades ‘européias desde a transigao do século XIX para o século XX. Chamarei a esta corrente de “histérica”, ndo no sentido da contraposigao corporativa da sua contribuigio aquela da sociologia ou da politologia, mas para acentuar uma metodol contextualizacao ago histdricas dos fendmenos, potencialmente comum, is. Esta linha de pensamento, tio larga ‘quanto singular nos seus caminhos tedricos ¢ conclusdes priticas concre- las, inclina-se a concluir pela “possibilidade de formulago dum conceit das tradigdes nacionais, da constelagao de forgas internas e da conjuntura internacional em que cada regime se forma”? Dentro de tais parimetros gerais, tentarei seguidamente propor, sob a forma de ci ” sintéticas - cujo desenvol de novo tipo no mundo europeu de entre as duas guerras - 0 “fascismo em geral”. 1. O surgimento ¢ desenvolvimento do “autoritarismo moderno”, cuja expressao acabada serd aquilo que classifico como “regimes fascistas em geral”, hi de entender-se no contexto da crise do capitalismo con- correncial e do Estado liberal que percorre as sociedades européias desde os alvores do século XX. Crise agudicada e dramatizada pelos efeitos sucessivos da I Guerra e da “Grande Depresséio” de 1929 Esta correlagio, guesa do periodo, conte: de ser de muitas das compl mos. Tomemos, por exemplo, a situagao da sociedade portuguesa no fim do século XIX (mas que creio nao se limitar a ela): a oposigio ao staru quo politico ¢ econémico liberal-parlamentar ¢ a tentativa doutrindria ¢ um estudo comparado do fascismo 6 pritica de formular uma alternativa para ele so um fendmeno que atra- vvessa diferenciadamente as mais diversas classes e setores sociais. Pondo de parte, de material li 0s “endireitas” de Joao Franco® - pedem um “Estado forte” que ndo se limite a repor a “ordem nas ruas”€ no trabalho, ‘mas intervenha ativamente para proteger, financiar e fomentar as indiis- ica e economicamente apto te, a uma atitude de firme ou na aspiragio central a desart dem os setores mais conservadores do mundo rural ~ grande agricultura cerealifera ameacada pela concorré Reiro e, de uma forma geral, pelas implicag: ~ naturalmente outros interesses € outras atégia agrarista de conservagio do statu especialmente @ ‘encontraremos ainda as novas camadas em expansio da pequena burgue- ia urbana, fruto recente das transformagGes do final do século XIX na sociedade portuguesa, apostando, no principio do novo século, sobretudo numa reforma democt intervengdo negado pe s de novo tipo prod sdos sucessivos grupos que: fascistas em Portug: 02 ofeixe 'as que conspiram para a lasses dominantes dos impasses do 10 de Estado “forte’ € algo que precede tivo radicalismo fascista e pequeno-burgués. Na realidade, serdo as novas fases de agudizagio da crise do sistema, particularmente sob 0 impacto da Primeira Guerra e depois da “Grande Depressio” de 1929, que despertardo largos setores das classes intermédias ~ sob a ame: calabro das econom xen6foba das “humil ‘um estudo comparado do fascismo 63 ‘equilibrios do agrarismo tradicional com a indistria de ponta, da ditadura ianismo fascistizante com certas reminiscéncias 10, da modemidade estética com a ideologia do bucolismo rural. 2. O advento dos movimentos ¢ sobretudo dos regimes de tipo fascista do pode se entender separadamente do processo das derrotas ou das incapacidades do movimento operdrio no primeiro pés-guerra ra em Espanha (1923), sucedem. 918), a chegada a0 poder de rreha sobre Rom: prolongados e comp! de novo tipo que conh ditiva da sua consolidagao e em 1918 ou Primo de Rivera, em ainda de“ isto é, exercidas no seu quadro como serio os casos da Hungria ou da Polonia. Mas em qualquer deles, ao menos nesta fase inicial, tais experién- ias surgem, claramente, ou como “contra-revolugdes preventivas” (como iz M. A. Macciochi), ou como reagdes imediatas de repressio contra-re- volucionsria (seré 0 caso da resposta a Comuna de Budapeste) ou ~ na visio de Manuel V. Cabral ¢ Femando Medeiros - aparecem como a des do movimento opersi tomadas prementes ou possivi operdrio que indi a” - muito para além do esgotamento do fluxo revolucionrio do opera- riado internacional e mesmo na sua fase defensiva que desembocard nas Frentes Populares ~ continuaré a ser um dos ‘movimentos ¢ da propaganda fascista e fa nte langados conquista do poder em toda a Europa, a partir do inicio dos anos trinta. A contengio ¢ desarticulagéo do movimento operirio, a negagéo ideolégica da luta de o ofeixe classes em nome do “interesse nacional” e através da conciliagio corpo- rativa, mesmo quando deixam de ser a expressio idcol6gica do panico dos setores sociais dominantes ¢ de certos setores intermédios perante a “ameaga vermelha”, continuam a sé-lo das dificuldades de didlogo, en- quadramento c integragio do operariado por parte de burguesias forte- mente atingidas pela crise, dependentes, ¢ vitalmente interessadas em ‘manter ou repor as suas taxas de lucto por formas “mais expeditas”. Nio nde © movimento operério esti iremedia- 1do, pelo menos a partir de 1923, questo da “ordem”, io, € um dos poucos pontos de consenso indiscutivel idora do Estado Novo. 3. No tocante aos paises europeus onde se instalam “ditaduras de novo tipo” de indole fascista entre as duas guerras, mais do que de um “assalto ao poder” vitorioso por parte dos movimentos dessa natureza, Parece dever falar-se de um processo razoavelmente pacifico de transi {¢a0 (ou de rendigdo) do Estado liberal ao “autoritarismo moderno” e Sascistizante Efetivamente, pode dizer-se que a Histéria da Europe entre as duas guerras ~ com a possivel exee¢o do caso da Espanha franquista ou dos casos particulares de regimes instalados pelas forgas de ocupacao alemas ‘oupor elas apoiadas - niio conhece nenhum caso de verdadeira “revolugaio fascista”, vitoriosa, isto é, de assalto revolucionério do poder por forgas ue the sio exteriores. Isto, apesar de, desde 0 putsch de Munique is conspiratas de Rolo Preto" em Portugal, depararmos, um pouco por toda parte, com um longo rol de golpes de mio falhados, conspiragdes subversivas abortadas ¢ de perseguigdes de lideres fascistas ¢ dos seus ‘movimentos, na seqUéncia de tentativas mal paradas. Mussolini foi constitucionalmente empossado Chefe do Govemo pelo rei, © mesmo acontecendo com Hitler por parte de Hindenburg, na seqéncia da vitéria das eleigdes parlamentares de 1933. E a partir dos quadros do Estado Liberal que se inicia 0 processo de “fascistizagao”, em qualquer dos casos. Mesmo em Portugal, o Estado Novo € 0 fruto de um © de transi¢io de uma ditadura , instalada em 1926, para o regime formalizado e consolidado em 1933/34. Quer isto dizer que os movimentos fascistas s6 tém acesso a érea do poder - e s6.0 marcam com a personalidade dos seus chefes, com os tragos inovadores do seu radicalismo ideolégico, com as mudangas politico-ins- ‘um estudo comparado do fascismo 65 tegragdo/ subordinagao rel casos, eles servirio do Estado Liberal deset politicos tradicionais do ‘movimentos fascistas se tornam instrument antes. lo, se poderia falar de uma “rendigdo” do liberalismo, ou de um seu processo de transigio ¢ reforma mais ou menos controlado, de qualquer forma \do pelos préprios setores hegeménicos do velho sistema. Face is gerais © nacionais de crise ¢ impasse, eles decidir-se-d0 a “revolucioné-lo”, transformando o Estado ¢ a vida econémica de acordo com as novas necessidades. Parece-me, a: de que “entre 05 elementos constituintes do fascismo ¢ do Estado Democritico-Burgués que o precede nao existe nunca uma fronteira intransponivel”.' questio, obviamente, é a a io conereta do grau e do quadros dos movimentos fa pelo Angulo destes, qual o es sendo conquistado ~ desde especialmente no final dos anos 30 ~ apro devidamente filtradas e controladas pela id« Estado Novo. cd 0 feixe 4. A luz das idéias expostas creio dever comecar a falar — relativamente 0 vasto movimento politico e ideolégico reacional que atravessa as sociedades européias entre as duas guerras e se assenhoreia do Estado em vérias delas ~ de “fascismo em geral”, no sentido de privilegiar 0 que essencialmente une, modela e explica este aspecto da Histéria dese Periodo na Europa a ~ como podert pretender uma argumentagiio taxionémica ou normativista - de dilui € heterogéneo, coisas muito esta forma, 0s tragos especificos de um tivo de fascismo. No meu entender se passa 86 se pode compreender a especifici wa das diversas aflorages nacionais - ou das suas vérias mutagé em cada pais - ¢ as relagdes muituas € dos fascistas em particular, histérico, se partirmos das . Podia ser uma qualquer, mas talvez.néo seja desprezivel considerar que foi essa designagio de “fascis. mo”, em geral, que a cultura e a meméria dos povos da Europa guardaram desse periodo, assim designando uma realidade am ioso das diversidades, como ai to é, ¢ em suma, a inteligibilidade da 5. Finalmente, ¢ restringindo-se ao periodo entre as duas guerras, penso que merece atencao o fato de que os regimes fascistas ou fascistizantes Joram tendencialmente um fendmeno caracteristico da primeira perife- ria do sistema capitalista, ou seja, dos paises relativamente dependentes ¢ atrasados da Europa central e ocidental reparado que, ao longo destas consideragies € que procurei breves, me vali de duas restriges qui objeto de estudo. Uma de ordem cronolégica: propus-me abordar meno do fascismo entre as duas guerras, Nao que considere ¢ barreira intransponivel, do ponto de vista da teoria, entre as realidades do fascismo dos anos trinta e quarenta, e outras, de algum modo com elas um estudo comparado do fascismo or faparentadas, que sobreviveram a guerra ou renasceram nas novas condi- ‘ges que sucederam ao conflito. rarci aqui nessa questio que € ‘sabido ser controversa na cié joriografia. A restrigio, porum lado, 0 meu Adrica, a pedir tratamento claramente diferen ‘A segunda restrigao ¢ de ord i ao terreno europeu. Nesta opgio hi do fascismo europeu coneretamente & América 5 casos paradigmiticos da Argentina peronista ou do io Vargas até 1945, ou talvez.antes. Bem sei que este é um yerafia brasileira e, por isso mesmo, lemanha do primeito pés- guerra, militarmente derrotada ¢ desarmada, territorialmente truncada, colonialmente despojada, econdmica'e socialmente sacudida por crise sima era um pais que os vencedores, em Versalhes ~ a Entente Cordiale’e, sobretudo, a (ainda) poderosa Inglaterra - desejariam langar sar. Esabido ume) potencial econd nizar e rediscutir manu mil mostra ser capaz de se reorga- iri a hegemonia regional britinica. Mas as ditadura, mobilizagio e repressio, tém, na sua origem, muitos pontos de contato com a situagéo - € certo que distinta - dos paises periféricos “contaminados” pela vaga autoritéria ¢ fascistizante. Nestes paises periféricos “contaminados”, portanto, penso que a preméncia da substituigdo dos velhos mecanismos de governagio ¢ legi 68 ofeixe timagao liberais por organizagio do Est cionar-se com a de Focessos novos © radi de intervengao econémi lade ¢ a dependéncia es dos seus setores dominantes ¢ das economias torna veis pela crise do sistema, agravada no pés-guerra. A incapacidade eco- nomica e politica de fazer face a conjugagio da ameaga operiria e do descalabro econdmico ¢ financeiro (ou de aproveitar algumas oportuni- dades de desenvolvimento “auténomo” que auséncia de espago para o enquadramento in: ‘operiia sem graves quebras no processo. fascismo, quaisquer que tenha Assim foi também em Portugal. nds, 0 fithrer- rinzip © o carisma do “Chefe” surjam na versio mansa e professoral do doutor Salazar, que 0 nacionalismo econdmico agressivo ¢ modernizante desse mundo de coisas ~ amente Ppequenas ¢ difusas ~ que era a socie- io dos anos trinta, econdmica, social ¢ pol dade portuguesa do NOTAS. 1. Cf, Payne, Stanley G. Fascism Comparison and Definition. Madison Wisconsin Univ. Press, Braga da. Notas para uma caracterizaglo politica do salazarism 8 72-73-73, 1982 ~ 3, 4, $*p, 777. cit. pp. 20.62, lr. Franguismo e salazarismo, in O Estado Novo - das origens ao fim dt 1926-1958, vol. I Lisboa, Ed. Fragmentos, 1987, pp. 36 37. 6. Nunes, J. Arsénio. Fastismo ¢ Estado Novo, in Vér Lishoa, 1988, p. 61 1. Ibidem. 8. Oliveira Manns (1845-1894) ~ Considerdo por muitos « mais destacda figura de “geragio de 70", historindor, socidlogo, politico, com uma vasta obra que constitu referéncia central para todoo pensamento contemporineo portugues ~ ele & inicialmen- {cum defensor do socialismo. Mas seri, como idedlogo ¢ govemante, o propusnador ‘um estudo comparado do fascismo 69 . Como é que o Estado Novo, com todas ss desgragas, com toda a sua corrupgio como em 30 ¢ em 37, houve um cresci fo grande na economia brasileira. De 30 a 37, 0 crescimento do PIB se deu a margem de 8,5% ao ano e, nao obstante essa recuperagao da Gettilio Vargas e 0 Estado Novo a crise, criaram-se elementos favoriveis a0 golpe. Hoje nfo hé uma conjun- Existe uma burgue- novo golpe. Por outro lado, apés vinte anos de regime se esgotou, Esse esgotamento € muito r lem com os interesses da nossa populagio.¢ do nosso pais. Isto € um risco fundamental. Enquanto no assegurarmos o controle nacional ¢ popular dos meios de comunicagéo estaremos sujeitos, a qualquer momento, a crises artificiais criadas como parte de manobras ladas com 0 fito de novos golpes. a i ees oe ivididos, embora sustentados por uma classe ope! de cerca de dez milhdes de trabalhadores, 56 na indi Representamos, inconscientemente, os interesses de cerca de quinze mi- Ihdes de camporteses ¢ de “béias-frias”. Temos do nosso lado 70% ou 80% da populagao brasileira que quer a transformacao. ‘Tem havido uma grande debilidade da nossa parte para transformar- mos 0 nosso projeto orginico em um projeto articulado que seja uma defesa efetiva da democracia, Percebe-se, também, que, em grande medi- da, 0 aparato policial ¢ militar ~ que ndo foi o Unico responsével pela ditadura de vinte anos - continua intacto, ainda que tenha havido um grande avango no seio das Forgas Armadas onde despontaram liderangas. As restrigdes que se f de expressio do pensamento e a 5. Gettilio Vargas: Depoimento de Luiz Carlos Prestes” ANITA LEOCADIA PRESTES © Estado Novo foi um governo aut propriamente fascista, iio, reacionario ¢ centralizador, mas nd O movimento de 30 ido, em outubro de 1930, foi vitorioso o movimento, dirigido ‘Vargas, que cu chamo de “movimento de 30°. Embora, cm toriadores denominem aqueles acontecimentos de “Revolu- io de 30”, eu acho que, do ponto de vista cientifico, do marxismo-leni- nismo, aquilo nao foi uma revolugio. ‘Naquele momento, eu no aj © via capaz. de mudar coisa alguma. Entretan companheiros da prépria Coluna (Coluna cstavam no Brasil acompankaram o Sr. Vargas. Eu fui contra a candi tura dele: cheguei até a conversar com Getilio Vargas, mas nao 0 apoici. Por qué? Porque a revolugio € essencialmente uma mudanga de clases jel Costa-Prestes) que 7, quando a classe dos explorados, dos oprimidos, con ico, afastando do poder a burguesia e a aristocracia. Isto é uma . Mas 0 St. Getilio Vargas era um latifundi fas e mineiros que dominavam a (0, haver mudanga alguma. O que houve em 1930 uma simples troca de oligarquias ~ a oligarquia gaticha, vitoriosa, substi tuju a oligarquia paulista. Nao foi mais nada do que isto. E, mais adiante, ivesse abordado outras qusideslevantadas pelo publica presente, relacionadas com ide poitca do pais. 82 | £ F Getuilio Vargas 83 essa oligarquia gaticha marchou para o “10 de novembro” (golpe de Estado de 10 de novembro de 1937), problema de que tratarei logo a tev igados 20 imperialismo inglés se levantaram aqui no de outubro do mesmo ano, depondo o Presidente Washington Luiz. Desta forma, o Sr. Vargas, a0 chegar ao Rio, teve que conciliar com esses ignificativo destes acon- Vargas fundara um banco no Estado do Rio Sul com capital norte-americano. Nisto reside 0 “segredo” de icar as forgas politicas do seu Estado. Antes de inas Gerais e a Paraiba, Vargas conseguiu unir icos gatichos que ainda durante o ano de 1923 haviam participado ‘contra 0 governo de Borges de Medeiros ¢ eram s. Na época, eu achei que aquela unidade havia 0s pol ‘cana de banqueitos, chamada Dillon, Read & Co.,emprestara 160 mi de délares ao Sr. Vargas, com os quais ele fundou 0 Banco do Estado do Rio Grande do Sul e comprou toda aquela gente. Ele concedew empréstimos que depois nem foram pagos, pois veio a moratéria de 1932 \guém pagou. De maneira que, quando ocorreu 0 golpe de 1930, 0 Sr. devia favores a0 imperialismo americano. que, em 1930, houve golpes de 1929, os golpes mili via, depois houve outro na Arg le ¢ em paises do norte de golpes, todos esi norte-americano. nuilados e provocados pelo imperialismo ido a0 poder, o Sr. Getilio Vargas conciliou com os io evidente que, apesar de ele ja ter escolhido riormente o Sr. Osvaldo Aranha para ministro da Fazenda, teve que ceder, entregando esse Ministério ao Sr. José Maria Whitaker, homem burguesia de Sao Paulo, pela sua aristocracia, ou melhor, pe s “paulistas de 400 anos”, Os paulistas diziam que lutavam pela convocagao de uma “a © mito politico Assembléia Constituinte; mas seu movimer do houve 0 9 de julho de 1932, o Sr. Get convocar a Constituinte que, efetivamente, foi derrotado, Aliés, quan- jd tinha decidido sm 1934. A Constituinte de 34 sendo mal recebida tanto pelos militares como elo St. Getilig, Vargas, que, no dia em que soube que seu tiltimo pardgrafo tinha sido aprovado, ica, sendo que essa agitagio preju- rivel, portanto, um governo sem pe com um ditador governando, sem ter que dar satisfagdes a ‘mente a0 objetivo final que € o equiibrio social. Como comegar, dia clardes sinistros e ameagadores? (p. 209). Creio que € desnecessério citar outros generais, porque todos eles , era necessirio escolher Republica. Entrementes, 0 cle se preocupava muito com a guerra que visivelmente se aproximava - Gettilio Vargas 85 a Segunda Guerra Mundial, receando que esta guerra nos encontrasse muito divididos, devido as correntes politicas que iam surgindo. Nesse periodo, surgiram, de um lado, a candidatura de Armando angada pela burguesia julho de 1937 -, a ca primeira. Sem to entre essas duas candidaturas, as pai mente. O José Américo, certamente, wr do que © Armando Sales de Ol grande burguesia, dos ainda que também fizesse afirmages bastante dem: tarde - no més que defendia os ifundidrios, dos paulistas mais conservadores, Na verdade, essa campanha el fitos existentes em nosso pais. al agugou os con- A Alianga Nacional Libertadora e a “Intentona” isso, nesse periodo, depois de 1934, surgiu no Brasil um movimen- ynal-libertador ~ a I Libertadora, © descontenta- (© popular com Vargas ja era relativamente grande ¢ esse movimento, dirigido pelos comunistas, chegou a mobilizar grandes massas. Foi a frente tinica mais ampla que até entdo existira em toda a América Latina. ‘Sobre esse movimento, que foi derrotado em 1935, aqui no Rio de Janeiro, Quer ‘movimento comesou cos soldados, nio foi somente uma intengio; Parlamento alemio, ou seja, no Reichstag. Isto cra falso, nao passando de ‘uma provocagao, montada para poder condend-lo & morte. Mas Dimitrov soube defender-se como um passando da defesa a acusa- ‘glo e mostrando que o incén provocado justamente pelos elementos do governo de Hitler, em particular pelos homens do Sr. 86 © mito politico Giring, um dos mais ativos a frente do governo nazista da Alemanha. Nessa época, jé se estavam cortando cabegas de comunistas a machado: a vitima era posta no cepo e a sua cabega separada do corpo a machado. Hitler chegou a0 poder no dia 31 de janeiro de 1933 através do voto, ‘em grande parte devido aos erros cometides pelos préprios comunistas. lo por Ernst Thilmann. E os com! al, haviam cometido o erro de afirmar que o a Social-Democracia. Isto foi um erro, smo quanto 0 operirio comunista, o trabalhador comu- nista; ele apenas esti enganado pelos lideres burgueses que, como os s smo, So 0s refor- mistas. O trabalhador social-democrata pode estar enganado, mas é revoluciondrio. Na Alemanha de entio, ele também desejava um poder nenhuma Iuta, sem ter feito n pelo 6% Congreso da Intemacional Comunista, no qual outras decisdes erroneas também foram tomadas, particularmente aquelas relacionadas Mas, voltando a questio do surgimento da tadora, é preciso dizer que este movimento resultou nao s6 da luta de Getilio Vargas 87 massas pela libertagio de Jorge Dimitrov, como, também, da Tuta que de Iuta pela paz resolveu proclamar a Libertadora, englobando pessoas de ‘operirios ¢ trabalhadores do campo, at durante 0 ano de 1935, sessiio do teatro Joio Caetano, seu presidente de honra. Nessa época, eu ja estava viajando de volta de Moscou para o Brasil ‘Como jé disse, em 1931, fui para Moscou trabalhar como engenhei- ro, li tendo permanecido durante trés anos. E foi através dos jomais| sados: 0 Brasil vendi ser despendidoe nap Ai comegam as dito, em part rio da chamada io fol nada disto;« Allanga Nacional L exclusiva do Partido Comunista Brasileiro. E a Desta mai © secretirio-geral nenhuma seguranga”. Essa era a Moscou no dia 30 de dezembro ‘chegar aqui no Bi viagem pelo Pa novembro de 1935. Isso também ¢ falso. E preciso esclarecer que, embora ‘eu fosse © principal dirigente da ANL e o representante do Partido 88 © mito politico Comunista nesta organizagio, ndo passava de um simples membro do Partido; eu nio era sequer membro do Comité Central do PCB. Mas 0 Comité Central me havia designado a tarefa de representar 0 Partido junto 4 diregao da ANL. Através de terceiras pessoas - porque cu estava numa Note-se, contudo, que, embora as duas correntes tivessem projetos distintos para o Rio Grande, ocorriam sinais inequivocos de que, em e de meméria. .dores republicanos defendiam um teral para o Rio Grande que se viabi autoritirio; na posigio ‘maragato-libertadora, defendida-se que o Rio Grande era um estado pecuarista por excel rista, combatia-sea apoiava-se em duas 136 as versdes historiograficas setores agririos e nio-agririos da burguesia local com respaldo de setores médios urbanos ¢ do colonato, enquanto que a oposigéo arregimentava grande parte dos fazendeiros pecuaristas. Apesar de sua posigao de com: bate ao autoritarismo, exerciam na pritica 0 poder de forma também autoritaria e despética, fruto de todo um passado histérico forjado na luta Em segundo lugar, esta historiografia nio registrava nos seus eseri- tos nada que resgatasse a meméria dos subalternos. O Rio fruto da conquista dos senhores da terra, dos quais todos se consideravam herdeiros. Os conflitos, quando identificados, eram fruto de uma ago externa do Rio Grande: ou os vizinhos do Prata ou 0 centro que ameagava a liberdade, a autonomia dos rio-grandenses. segundo a identificagio do seu voltada para o Prata, para os seus fei da base agropecusria arti daqueles géneros prim: mercad Pinheiro Machado. Através do controle da comissio “Verificagao de Poderes” no Congreso, Pinheiro Machado, 0 “coronel dos coronéi tutelava a politica dos pequenos estados do Nord ‘sua relagio com o poder central, o apoio do Rio Grande do Sul & politica visdes regionais 137 consagragio do Rio Grande como wva-se 0 seu papel de fornecedor de géneros , para a cesta de consumo do trabalhador para a acumulagao na industria do path cic concogeia enti inant © pagancano de balsas Em nivel local, predominou 0 registro de que o Rio Grande atravessava uma época de euforia, exaltando-se as potencialidades eco- némicas do estado, como cooperador do progresso nacional. O golpe de € dos novos rumos da economia que permitiam que a indistria gaticha atingisse o mercado nacional. $6 na década de 50 & que se processaria no estado 0 “grande despertar” e a nogdo da “crise do Rio Grande”, identifi- cando-se que a economia gaticha ficara para tris e que nio acompanhara © ritmo do eixo econémico constituido por Minas Gerais. Numa época em que nao © mesmo, como self made man, que, a0 lado do gaticho da fron 138 as versdes historiograficas construiuariquezado Rio Grande?, ¢ nao divisa processos de acumulagio original para a indiistria, Os autores gatichos contemporincos ao Estado Novo sio, porém, tributirios da predilegéo positivista pelos temas politicos ¢ reproduzem o viés autoritério do regime sob o qual vieejavam. Neste contexto, é sinto- mética a obra de J. P. Coctho de Souza." Em 1941, o entio Secretério de Educagio do estado, Coelho de Souza, publicaria Deniincia, obra na qual acusava a germanizagao da zona colonial do estado no vale do rio dos ‘Sinos e postulava a urgente necessidade de integrar os descendentes de imigrantes “campanha de brasilianizagio”. A politica estado-novista baseava-se nos principios da integracao, da nacionalidade e da brasilida- de: um s6 mercado, um sé povo, uma s6 lingua, uma nagao enfim, ¢ era impossivel que no sul do pais existissem “quistos” onde a lingua estran- sgeira ndo era apenas falada, mas ensinada nas escolas, difundid: 1za exerceu enérgica ago nas comunidades proibindo o ensino e a fala desta iS em cartérios com nom inscrigdes e1 © autor refuta a tese de Varella sobre o separatismo e afirma o contetido federativo do movimento. A sua causa mais profunda seria o con anseio pela descentralizagio administrativa c a separagio tra motivada pela proclamagao da repiblica, 0 caminho para se federagao verdadeira. Em suma, os gatichos eram sobretudo bra nao haviam em tempo algum querido independentizar-se. No mesmo ‘caminho da afirmagao da brasilidade ¢ da idéia da ni obra de Castithos Goycochéa, O gaticho na vida politica brasileira’, publicada as vésperas do golpe de 1937 e que reforga a visio de que os ‘deais que haviam inspirado a agio dos rio-grandenses através de sua historia sempre haviam sido os mais civicos possiveis e que, antes de tudo, ‘ram brasileiros. jeogrifico do Rio Grande do Sul, referen- wa a imagem do Rio Gran defensor das fronteiras, artifice Jénathas da Costa Rego Mon Colénia do Sacramento dos antepassados que haviam enfrentado os castelhanos na defesa da terra © major Aurélio da Silva Py'’, com suas obras de denincia visdes regionais 139 nazista no Sul, busca provar, através da farta documentagio, como as autotidades haviam se esforgado para extirpar forgas dade ¢ defender os valores “autenticamente ma, as obras do Farroupilha ou sobre senao registrar para a posteridade a saga da formagio Grande do Sul, o valor dos seus préceres, onde 0 “povo” se confunde com a imagem dos dirigentes."* Em suma, uma histéria critica ¢ contestadora no vingou no Sul durante © Estado Novo, como seria de esperar. O perfodo autoritério veio redite- cionar as tendéncias da historiografia jagens € conceitos q © periodo foi pa € se bateu por da nacionalidade. Periodos autoritirios e medi- porque a memoria ofici quando 0 Rio Grande se sen iemente no decorrer da , esta historiografia of 1930-1945): Francisco Campos, su Amoroso Lima € Plinio Salgado, Rio de Simon Schwartzman organizou, com base no 140 as verses historiograficas Arquivo Gustavo Capanema, Estado Nove, Um Auto Retrato (Rio de Janeiro, FOVICPDOC e Brasilia, Universidade de Brasilia, 1983). 2 Chaui, Marilena. Apontamentos para uma eritica da Agio Integralista Brasileira, in: ‘Chaui, Marilena & Franco, Maria Sylvia C. Ideologia e Mobilizagdo Popular, Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1978, 3 lei Lenharo fala numa Sacraizapdo da Politica (Campinas, Paps - Unicamp, 1986) ‘com vistas a “dotaro Estado de uma leitimidade escomda em pressupostos mals nobres Politics, funcionando como escudo religioso contra as oposiges lho esritos politicos com perfil biogrifico, Porto Alegre, de Porto Alegre (Porto Alegre, (Porto Alegre, Live. Contineate, 4. Pimentel, Fonunato. © Rio Grande do Sule suas riquezas. Ponto Alegre, Live. Conti- nent, 5. imam, Poo Alegre, Globo, 1944, brasileira. Porto Alegre, Globo, 1935, ‘A colénia do Sacramento ~ 1680-1777. Porto Alegre, io da Silva. A 5# Coluna no Brasil: a conspiragdo nati no Rio Grande do Sul Ponto Alegre, Globo, 1942, A Revolugéo Farroupitha. Sdo Paulo, Brsiliense/Ed, Nacional, 1939; Esboco histérico do municipio de Porto Alegre (origens), Porto Alegte, Tip. do Centro, 1940. i-esquerdismo ¢ a despeito de al- fascistas’”, muito mais préxima mente fascistas, a Carta de 10 de novembro de 1937 s6 foi basicamente cut refere a algumas de suas “Dis t6rias” centralizadoras, o que ges do Estado Novo os tragos ms se poderia esperar de uma repii mente totalitéria ou corporati

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