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BY Archivo de estudos philologicos e ethnolos:co« yelativos a Portugal PUBLICADO com a collaboracae dos especialistas portuguese a do algins estrangeiras J. Lerre pe Vasconcentos Modles pein Baehota do Ports, Frofesaes ma Ribtiothoes Nacional fe Vise ¢ Consorrador a meme Ribliotheca VOL. I. PORTO. LIVRARIA PORTUENSE LOP 5 BUICESRORES BE CLAVER LE8O. 1802 Porto: Typ. de A, P. Vasconcelina — 84 Noronha, 51 CANCIONEIRG POPULAR OAS ILHéS BLS aGURES — I Ss. Jorge 1 Ha devia de estar tola, Quando para ti olhei; Arvar’ de fam pouca rama, ‘0 amor que Ihe tomei! 2 _AY minha bella menina, Quanto és, quanto me dies; Deita-te na minka cama, e co's meus lengoes. 3 Se en fosse ave que voasse, O's teus olhos ja ter, Hu nao sou ave que yoe Neni azas posse fazer. 4 Ja nao quero mais amar Nem a ti, nem a ninguem; 4 the botei minhas contas, © amar nunca dew ganho. 5 Mais vale uma sdia velba Feita de boa fazenda, (ae uma nova de baeta... Nosso Senhor nos entenda. 6 Ee’ de noite, faz eseuro, Rosa, chegae 4 janeila ; E’ estylo de quem ama, Amar, fazer sentinella. 7 A castanha é bes fue Come-se sem iv ae Teme A mening &s vaned: Esta morta de cure. BEY. uet, cab sn fase. 1, 8 Melro preto quando cante, Poe o pé no alecrim, Encosta-se 4 madre-silva Ta combates ao jardim, 9 A vocé nao heide amar, Porque & homem casado, Tem o seu corpo vendide, Seu coracdo arrendado. 10 A viola qner que en cant As cordas que en padega, O mancebo que a toca Quer que por elle endoudexa. 1 Que festa faxem 98 mouros iim dia de Sam Joao! Correm todos a cavallo Com cannas verdes na mao. 12 Todas as hervas sav bentas Na noite de Sam Jodo, Todas as ervas s&o bentas So’ a serpentina née. 13 Os meus olhos fe pequenos Perderam a veuda agora: Vae Vaqui um mercador, Inda nao ha meia hora. co A raiz da faia & forte, Arrabenta pelas junta: A casa do uyidor E25 dee op Wut fe perp atas. ‘ Lo Naa digas mal de Maria, nie & menina como vas, 2,3 mal d'ella, ‘iem de vos. 16 Ea belde i: e heide vir, A’ porta me heide assentar; Unde vir desconflanga Aut é ques elde porfiar, ou De correr venho cansalo, De cunsade me assentel; Ackel » que procurava, Ager descansarel. 18 i pela manjerena, quaing raumos lhe apanlei, Gains sentidos que en tinha, Tease em tb empreguel. 19 Qaere wmerrer, que & meu gosto, ae, que é men regalo; © ser come a pombinha arre ao desamparo. 20° Letrenie de mim estao ofbos, Olhes que me maltratan Si2cme silrando com setas Ane ke djuc par Deus qwrermenado matam. 210 Quem tem janellas de vidro Nao pode el st Bea fn ati Ache: as minhas quebradas. | 22 O' men saor, falla poucs, Fads peuco, fala bem; AS Pat ter auyados, Os a solk s . yéem, 23 | Sandades te persigam, Que venhas por hi além, (jae venhas dar um alivio A quem tantas penas tem. 24 Mandaste-me vir 4 uma, Ha duas que en aqui estou; Nunca soubeste dizer: —Espera amor que en ja vou. 25 O amor do estudante E’ como a pomba ferida; Pelo ar derrama o sangue, Chega 4 terra, acaba a vida. 26 No tempo das favas verdes, ‘Todos tem umas favinhas, Todos tem os seus amores; Sé eu stou torcendo linhas, 27 Zombando tomei amore’, Sem saber o que fazia;. Zombando fiquei com elles, Sta galante a zombaria! 28 * Coitado, 0. homem casado, (Que tem a familia junta; A agua que tem em casa, Para beber nonca é muita. 29 A oliveira na serra Do, venta é combatida ; Nunca pensei que es Comtigo o resto da’ vida. Embarque, senor, ambargiie, Bote o pé, udo mothe a mieia, VA casar 4.anz. terra, Nao case na terra alheis. . . aL Quem vae para a terra alheia « Perde o brio, perde a graga; Eu fui a que perdi tado, Que qneres amor que te faga? 32 Eu hei-te amar até 4 morte, Até depcis de morrer; Até Ja, na outra vida, Te heide amar podendo ser. 33 Nao te facas mais do que en, Que nado és menos nem mais; Debaixo da terra fria, Todos nés somos iguaes. 34, Ew heide frgir a meu pae, Por aqueiia serra além ; Heide ir casur_a meu gosto, Nanja ao gosto de ningnem. 35 Ramalhete, fio cure, Aquelle que hoje vi, Bocea pequena, bem feita, Olhar porque me perdi. “36 Mariquinhas se gabou . Que eu Ihe dei um cruzado; Tambem m’ella den um lenge Em seda, todo bordado, — 37 Numa ponta leva a lua, Na outra © sol dourado, No meio tem uma eruz De Jesus cracificado. 38 Se fores domingo @ missa, Espera por mim no adro; Quero deitar agua benta Hesse corpo ch 4 3 DOS aGORFS 3 39 Olha bem se te alembras TYaquella noite na eira; A tna por testemonha Mais a estrella boeira. 40 O trevo diz que se atreve A comer a follia ao trigo: Tambem eu, mex bem, me atreve A tomar amores comtigo. 41 Atirei e nao matei, Oh mal empregade tire! Em tu teres outros amores En @issq nao me admiro. 42. Os vossos olhas, Maricas, Qnando olham de repente, Parecem chammas de fugo, Que querem queimar a gente. 43 Eu nde sei que oavi agora, Tao bem canta a bee: 2 santa, Quera me dera ser at~ Que Ihe adoyara a gerg ita? 44 Ja-te disse, larangeira, Que nao deitasses mais ores Podes passar sem laran +s, Como eu passo sem am: ves. 45 Nao ha-cousa que mais cute Que 6 amar ma muther, Em a vér de nariz torte Sem saber o que ella quer. : 46 Os tens ofhos, Mariquiuhas, sta conmettends queria: Tews no ve, nhag ma terra. AT Minha me esta-me chamando, ‘Tal jnizo de mulber! Ku aston e& com Mariquinkas, En heide ir quando quiser. 48 Fat sui & oliveira, Nana tao alto subi: Se a oliveira é a morte, Eu para morrer nasci. 49 Olive’ a, minha amiga, Ex s ei ten companheira, Nae . 9 disponho a amar, Sem . er amado primeiro. 50. Cada vex que me inating AC tua rebal cintura, \ Entrego a alma a Deus) £9 corpo & sepultara. 51 Gs voasos olhos, menina, Valen duzentos milbdes 0 diveite rouba amores, “} eacuerdo, coragdes. i 52 se us meus olhos te namoram, Vie-os pedir a meu pae: Sw elle te disser— ao longe... Ay lunge tambem se vae. 53 ajuem casa na terra alheia, xe sha tendo com quem, Ou vae sair enganado, * uu vae enganar alguem. 54 ‘fads que é& verde’ se séea La payva o fim do verao: Tudo torna a enverdecer, So a macPade nao. 55 Quizera rasgar men peito, Mas nao tenho canivete; Para metter dentro delle Quem dentro @alma me mette. 56 Lindo passaro que cantaes Em cima do pessegneira, Cantaes a vossa alegria En canto o meu cativeiro. 57 Os meus olhos com chorar Trazem a vista perdida: Elles cuidam que em chorar Que arremedeiam a vida. 58 Oh falsa, tres vezes falsa, Que assim te quero dizer: Quanto te deram por mim, Quando me foste vender? 53 Eu son cravo, tu és rosa, Qual de nés valeraé mais? En sor cravo das varandas, Tu és rosa dos quintaes. 60 © Jodie quero, Joao tenho, Jodo trago no sentide: Por amor de ti, Joao, Trago o meu somno perdido. 61 Joao, tres vezes Todo, Joao tu és meu amor, Nunca te heide despresar, Prenda de tanto valor. 62 O men amor é Joao, Que uma "gucena m’o disse Passon pela minba porta Olhou para mim e riu-se. CANCIONE/29 POPULAR DAS ILHAS DOS AGORES 63 Manoel adormeceu Entre canas ¢ abrolhos; Fui-o buscar em mens bragos, Era a vista dos meus olhos, 64 Vem, amor, para o meu peito, Cae aqui nestes meus bragos; QO amor, para ser firme, Ao coracao deita laos. 65 Quem perdeu o que eu perdi J& nao tem mais que perder; Foi a vista dos meus olbos, Nunca mais tornei a vér. 66 Dois amantes qne se amam, Quando chegam a unir seu roste, Morrem de consolagio Nao pode haver melhor gosto. 67 Ja nao quero mais amar, Que eu do amar tenho medo; Nao me quero arrisear A pagar o que n&o devo. 68 Os olhos do meu amor Sao confeitos, ndo se vendem; Sao balas com que me atiram Sao grilhdes com que me prendem. 69 Adeus, adeus, von-me embora, Ja pereo de vista a terra: Ja nao vejo sendo mar, Mais este pao que me leva. 70 O sol derreten'a neve Que estava entre o tremogo; Tambem derreten a alvura Que estava nesse teu corpo. 7 © meu bem ficou de vir, Ou mandar o seu retrato; Nao veiu, nem o mandou, Foi-me falso ao contracto, 72 Viva quem toca viola, Viva quem # traz ao peito; Viva quem te pide lograr, Linda cara, amor perfeito. 73, Como juntos 6 unidos Os tens cabellos estado! Permitta o céy que se una O men ao teu corag&o. 74 Assentae-vos, descansae, Que deveis de vir cansado, Numa cadeirinha nova, Feita da raiz do crayo. 45 Por aqui daremos yolta A’ yoda esta igreja; Vamos vér Nossa Senhora, Nossa Senhora nos veja. 76 José, vosso pae nio quer Que vos meu amor sejaes; Fazei-lhe as voutades todas, 86 essa néo lh’a facaes. V7 Coitado, 0 pobre soldado, Quando esta de sentinella, Vé passar a sua dama Nao péde fallar com ella. 78 Manoel, cachinho d’uvas, Apanhado na parrejra, Nao sei se te coma agora, Se te guarde para a céa. 79 Tenho fome, nfo’ de pao, Tenho séde, ndo de vinho; Tenho fome de um abraco, .Tenho séde de um beijinho. 86 O sol é 0 rei dos astros, Principio do bem-querer : Se ten nado quisera bem, Nao gostava de te vér. 81 Menina, se queres saber Quem é o Espirito Santo: Tem pés 6 bico vermelho, O mais corpo é tede branco. 82 Maria, bonito nome, Espelho da formesura, Ta-me licenga que en abra No teu peito a sepultura, 83 Laranjeira ao pé da neve Tanta laranja que tem; . Debaixo ninguem ihe chega, Acima nado yae ningnem. 84 O sol enida que me engena, Eu sempre Ihe ando a geito; Quands s&e, eu estou na cama, Quando se poe, jA m'en deito. 85 O men amor me deixou, Para amar outra muis.vica; - Menos honra, mais fazenta. .. Tudo em casa lhe fice. 86 O sol-anda e’desanda, Da voltas para se por; Eu nao ando nem desando, . Estou firme ¢’o men amor. 87 Os lindos olhos que tendes Se m’os podias vender, Para fazer duas joias Para ao meu peito trazer. 88 Pediste-me a mao direita... Nem a esquerda te dan; A direita ja esta dada A quem primeiro fallon. 89 Minha m&e ndo quer qne use Esta moda que anda agora, Um leneinho na algibeira Com a pontinha de fara. - 90 Eu fui ao jardim dos cravos, ‘No primeiro def um golpe; Mais me custa a tua ausencia Do que a minha propria morte. OL Os cravos do meu craveiro De bastos néo engrandecem ; Nao os dou a quem m’os pede, Dan-os a quem os merece. 92 Tudo o que é verde se séeca Com a quentura do verde; Si 0 amor enverdece _ Dentro do meu coragao. 93 Desenrola o ten cabelio, Nao o tragas enrolade; Desengana o teu amer, Nao o tragas enganado. oo O4 Olhae para o céo, vereis A Ina.com seus signees; Palavras que daes a outro Sao facadas qué me daes. GANCIONEIRO POPULAR DAS ILHAS DOS AGORES ~ 95 Qnando 0 silyado der uvas, E a vinha der amoras, Entdo te amarei, meu bem, Que agora jd nao sio horas. 96 Diga-me quem sabe amar Qual custa mais a seutir: Se 6 penar, viver ausente, Se a vista nado possuir? oF Se me quiseres amar, Hasde-me dar seguranga, (jue n&o estou para estar no ay, Como o oure na halanga. 98 Nao posso deixar de amar-te, Nao ha fado mais tyranno; Conhecer © proprio erro, Viver no maior engano. ag Tu dizes que nic, que nao, (ue nfo, que ndo péde ser, A-ua bocca ser fonte Onde a minha va beber. 100 A morte nao é desgraga, Que ella penas allivia; A desgracga 6 viver Sem a taa companhia. 101 Das filhas de minha mae Eu fui a mais infeliz; Nada se faz’ pelo mando, . Que nao digam que eu que fiz. . 102 Dae-me 6 sim e dae-me 0 ndo, Tado quero que me deis; © sim... que amais a outro, O nfo que me nao quereis. 103 Eu heide amar uma pedra Por te nfo amar a ti, Que a pedra ndo se demove, ‘Tu vaes-te, deixas-me aqui. 104 Quem era como eu era, E se vé como eu me vejo! Ta vida ndo fago caso, A morte ja a desejo. 105 Encontrei-me c’um suspiro, Logo disse que era vosso; Recolhi-o no meu peito Guarda-lo melhor no posso. 106 O tourilho é uma flor Que se di sem maldade; km ti pus o meu sentido Sem saber tua vontade. 107 Hei-te amar, se me amares, Querer-te, sé me quiseres ; Deixar-te, se me deixares... Farei como tu fizeres. 108 Meu botaozinhe de. rosa, Mimosinho no abrir; Os olhos que tens no rosto Deus m’es dera possuir. 109 O-pico alto de neve Ainda se nao derretev; A palavra que me déste Ainda nunca se esqueceu. 110 O pico alto de neve, . Mais abaixo neve tem; O amor por quem espero Ja& hoje por ca nao vem, o 8 REVISTA LUSITANA ‘ a ii En hei-te amar, meu amor, Corra a fama que correr, Que eu tenho sé uma vida, Por ti a quero perder. 112 Morte, que andas pelo mundo, (Que fazes, que me no levas? Levas as que s&o casadas, Deixas as orfas donzellas. 113 Dei um ai, tu nao orviste, Dei outro, cain-te ao pé; O men coragao é ten, GO ten nao sei de quem é. 114 Dae-me novas, dae-me novas Do men bem, se é que o vistes; Dae-me novas mais alegres, Que as que tenho sau tristes, 115 Nem tudo que luz é otro, Nem prata o que o parece; As falas de um lisongeiro Cativam a quem nan conhece. 16 Quem me dera ser faieira, DYaqueila mais pampelosa, Que te fora fazer sombra Meu botaozinho de rosa, 7 Oh saudades tyrannas, Né&o me mateis, esperae! Quere chorar uma ausencia Do meu amor que s¢ vae. 118 Os alos ndo sei de quem Andam J& nao sei por onde; Mataram ndo sei a quem, Feriram nao sei aonde. 118 Suspiros e sandades, © meu lengo tudo tem; Auda lenco, vae jarar, Se ea amei a mais alguem. 120 Eu pus-me a chorar, chorei, Este rio fiz correr, Em me por a imaginar Onde o meu brio foi ter. 121 Trabalhae, dobrae 9 corpo, Se quereis ter algum bem; Olhae que nas eras Vhoje Quem nao traballa, nao tem. 122 Nao quero, néo é meu gisto, Uma dama que outro ama; Quem da arvore apanha o frneto Torne atras, leve-Ihe a rama. 123 Cantae-me uma cantiguinha Iressa, vossa linda boca, Chie ea vos dou minka palayra De logo yos cantar ontra. 124 Trabalho nao € trabalho em terra de costaneira ; Trabalho 6 ter amares Entre gente chocalheira. 125 Qaando en tor desta terra, Tas pedras me espedirei; Tanty passada mal vada, {jue por cima @ellas dei! 126 Vos pediste-me um beijinho, Tm abraco, porque nic? beije fica na boca, O abrago no cotao. - CANCIONEIRO POPCLAR DAS ILHAS DOS AUGRES 127 Estou mal co’o men amor, Nao o saiba mais ningnem ; Qaando o arrefo passar, On en you, ou elle vem. 125 Canarinho preso canta, Praso deve de cantar, E’ come © preso sem culpa, Canta para alliviar. 129 O mar, qner mansa quer bravo, Ticita ondas' de revesse: Quando vou para os teas bragos, Sem ter somno adormege. 130 Castanheiro sem onrigns Que castanhas pode dar? Hamem pobre, sem dinheiro, (ue amores pode tomar? 131 Os olhos do mew amor Sao olhos de maldicdo: (piantas mais pragas the roge, (huanto mais bonitos sao. 132 Caragdo, alma e vida, Tado esta na tua mad Nunca vi alma sem vida, Nem vida sem coragae. 133 Vossa bocca cheira a bei Hoje beijastes algnem ? Eu beijei o meu amor, Beijae a vosso tambem. isd Oh meu amor, tu nado contes O que entre nos é passado; Se a terra o nao disser, Entre nés fica sagrado. 135 Oh José, oh Jasézinho, Corpo Phomem afidalgado, Entre as casas da camisa ‘Tendes 0 amor mareado. 38 Coitadinho do meu bem, Que anda por terras alheias: Gh amor é come @ sangne Corre por todas as velas. 17 Botei o limao no vinho, A Jaranja na aguardente: Nao se fuga you® grave, {jue nao vem de melhor gente. 138 Adorada das estrellas, Porque me nao vens fallar? Se as estrelhts te adoram ‘Tambem Ceu heide adovar. aap Nao me fagas carranquinhas, Parecitas cam x noite; Ea tenho carraneas punhas, Escuso carraneas d’outrem. 140 Meu anor qual de nos ambos a wnais posto no fim ? Serei eu, por amor de vos, On vos por amor de min ? 141 A pomba fez jnramento De nao beber agua clara, | Esta com 0 bien a bebé-la (’a as azas a tolldda. 142 O pirdo nasce da silva, A silva nasce do chao, © amor nasce dos oilios, A pena do coragio. » 143. Cantae uma cantiguinha D’essas tantas que sabeis; Espalhae folhas de rosa, Que nessa bocca trazeis. 144 A maré vae para baixo, Dens me dera ir com ella; Se ella fora consa boa, Me nao da perder a terra. 145 Amor, se quereis amar, Nao repareis na feigdo, (Que eu tambem-nao reparei Nessa tua ingratidae. 146 Oh meu pensamento vario, Ob meu vario pensamento, F's como a folha do alamo (ee bole se lke der vento. . 147 O Tinga, verde apaniado, O pé Ihe fica chorando; Assim sio os meus amores, Quando por mim yao passando. 148 A minha mae, mais a vossa Vao ambas lavar ao ri Uma lava, outra torce, Ambas stdo ao desafio, 149 Mal-haja quem augmentou Alvaiade nas boticas! J& se querem comparar As feias com as‘ bonitas. ; 150 Ew jurei e tn juraste, En jurei na boa Jel, + ia jurei de te ser firme,” Se juraste assim nao sei. "Ai Jesus, quem botaria 10 . REVISTA LUSITANS =” . 1510+ Dentro do meu coragdo Tenho feridas mortaes ; Nao ha cirurgido a ellas, ~ Sendo vos, quando chegaes. 152 As ondas do mar 14 féra, Sao pretas cér de lemiste: TDize-me como passaste O tempo que me ndo viste. 153 | Quem se vae, nunca Ihe falta Amor com que se divirta; Quem se vae, deiza um golpe Wo eoragdo do que fica. 154, Quem se vae, deixa um golpe Na peite de quem ca fica; (Quem se vae, por 14 procura Amor com que se divirta. * ibs Vos. chamaes-me canna verde, : Canna do cannavial; Quem me chama canna verde (uer-me bem, nao me quer mal, 166 ¥em ca, minka pequenina, Que o venté quer-te levar... Pela manha vento norte, A’ noite vento do mar. . BT i O men amor é 420 bom, Dame quanté eu desejo; , : Pego-lhe agua, da-me vinho, Peco-lhe pao, da-me queijo. 15B "Te Herva cidreira na fénte? Devia de ser Maria, ‘ Que ella vinba de 14 hontem. : 159 Penteei o men cabello De diante para tras; Amarrei-o com uma fita Para vér 0 meu rapaz. 160 Sécia, corta o teu cabello, Poe tex cabello 4 mora, Que digam as outras sécias: —Esta sécia vem de fora! 161 Oh faca de diamante, Tao sutil que déste o golpe No peito da minha amada, Que esta em perigo de morte. 162 Q” José, muda. teu nome, Que o teu nome é bem mel; José, se queres ser amado Poe teu nome — Manoel. 163 Oh meu Deus, acompanhae-me, Que an vou pela sérra sb; Nao vejo sendo tamnjo, Mais a folha de queiré. 164, Se fores ao mato, Se ao mato fores, ‘Trazei-me um ramo De todas as cores. 165 Oh conchinha do mar largo, Aljefres que dao na pedra; E's o mar do meu sentido, Onde o meu amor navega. : 166 Men bem, emprega es teus ofhos Em quem bem te parecer; Nanja em mim, que sou feia, Nao te botes a perder. CANCIONEIRO POPULAR DAs TLHAS DOS AQORES ll, 167° Heide escrever uma carta Ao mandante da Bahia, Que me mande o meu amor Para minha companhia. “168 ‘Ob sol, para que te escondes _ Dehaixo da verde rama? Para que negas teus raios A quem deveras te ama? 169 Triste dnrmo, triste acordo, ‘Triste torno a adormecer ; Com ansencias do meu bem Vivo triste até morrer. wo Quero agora cantar, (Que agora é que € o meu tempo: Quem me nao quizer ouvir Ponla og ouvidos au vento. 71 Ha tres dias que no janto, Ha gnatro que nfo almdgo ; Alembram-me esses teas olhos, You para comer, n&o posso, 172 Rapariga, jura falso, Jura falso, jura bem,” Jura que nunca me viste Em casa de tua mie. 173 Nao entendo o ten amor, Naa entendo o teu querer; Nao entendo 0 ten amor Nunea te soube entender. lid Quem morre e acaba a vida, Sen corpo fica defunto ; Amar, morrer, padecer... , Nao péde ser tuilo janta, 175 Quem casa com mulher velha, ‘Jem a morte d cabeceira; Passa-Jhe a mao pela cara, Ndo acha sendo caveira. 176 A’manha é tenga feira, Os meus olhos yao & praca; Fé n&o ha quem Jance nelles... Olhar de tio pouca graca. 177 Vos dizeis que aunca vistes Crayo brance no inverno; Xu ainda hoje vi um No peito de quem venero. 478 Oh minha mae, quem me dera, Ob meu pae, quem me daria, Um logarzinho no céo Ao pé da Virgem Maria! 179 A carta que me mandaste, Era de papel, maihou-se: QO que vinha dentro della Era de vidro, quebreu-se. 180 De que te server conselhos Tiepois de estares perdida? Na cegueira de amar Se perde a mais entendida! isl Impossivel, sem ser Deus, Haver quem de ti me aparte... Se elle é quem tem tal poder, Antes venha a mim, me mate. 182 Trabalhos te persigam (jue te nado possam valer, Que caias dai abaixo, Que aos mens braces venhas ter. REVISTA LUSITANA 183 Se os mens olhos te dao pena, Tira-os e bota-os no chao; Nilo quere ter no meu corpe Cousa que te dé paixdo. 184 O meu coragde é vosso, Q yosso, ja ¥o-lo dei; Agora, se 0 vosso é meu, Tsso 6 0 que eu nao sei. 185 Quem tiver dois coracées, Dé-me um, que bem o emprega; Eu tinka wn, foi-o dar A quem agra m’o nega. 186 JA o deserto esta cheio, Ja nao cabe Ta ninguem; Esta cheio d'amantes firmes, Em amar e querer bem. 187 Oh ares, que trazeis ares, Oh ares, que ares trazeis, Gh: ares, trazel-me povas De um amor que bem sabeis. 188 Ol ares da minha terra, Vinde por aqui levar-me, Que os ares da terra alheia Nao fazem sendo matar-me. 189 Por aqnelle mar abaixo Vae um atalio seguido: Adiante véo mens olhos, Atrés fica o meu sentido. 190 Por aquelle mar abaixo Navios 4 vela ¥ao, Naquelle mais dianteiro Nayega o meu coragdo. CANCIONEIRO POPULAR DAS ILHAS DOS SCORES 13 192 Nao se me da que ontro ame Amores que eu j4 gastel ; Rem me da que outro vindime Vinha que j& vindimed. 192 O aleccim é paixao, En nao son apaixonada ; Para que heide mostrar paixdo Por quem me nie deve nada? 193 Vv. e, amor, por esse mundo se achas mais riqneza ; Se nado achares, vem gosar Restos da minha pobreza. 194 Manoel 6 um ladrao, Nao furta ouvo nem prata, Furtan-me o meu caragiio, Leva-o debaixo da capa. 195 O limae é providencia, No ten peite é riger: Quem te quiz bem noutro tempo Inda te lade ter amor. 196 Meu amor, na tua ansencia Com ninguem heide fallar; A mi nova corre ao Longe, E passa além do mar. 197 Vinde, vinde, men amor, Vinde, ndo yenhaes temendo ; Que até os criminosos Tem liberdade, querendo. 198 Embarquei no sol dourado, Por ser navio segura: Embarquei,. desembarquei A’ vista de todo o mundo. 799 Se queres ser @ meu amor, Dame a cabeca que sim, Porque. eu nap posse morrer Por quem n@o morre per mim. 200 En mio qnero da fortima Os bens que o sen 2ofre tem, Porque elles todos maa valem A metade do meu bem. 201 Oago o raie, euge o trevao, Nimes tanto me assustel Mais me assusta a denmibranga (Que nunea mais te verei. 202 Jos tens bracos pra dentro FP que ea me queria vor! Entio é que ett teria Glorias até morrer. 203 Wo tronco da verde faia O ten nome fri gravay; A mesma faia choron Sé de me vér suspirar. 204 Esta foi a vez primeira Que entrei neste jardim Vein o sol, descen & terra, Pas-se defronte de mim. 205 Eu nado amo como os mais, Que eu no amar sou diferente; ‘Tados amam por emquanto, Eu ame eternamente, 206 Cuande en aqui cheguei Men coragio den am palo; Meus olhes feriram tume —Aqui esta quem eu procure‘ 14 REVISTA LUSITANA 207 210 Quem quizer comprar, queeuvends Ainda nfo tenho aniores, Amores qne eu engeitei; Nao so caros, nem baratos, A vida por elles dei. 208 Ja que és ingrata commiga, Contra ti o tempo vejas ; A fortana de.ti foja, Nao logres o que desejas. 209 O men amor ja nao tem, Nem alma nem consciencia; Mostra carinhos a todas, Quer que eu tenha paciencia. é Nem os quere de ninguem, Sem primeiro vér a fim Que esse ten corpinho tem. fi Esquevido do passado, Vivia no meu sacego ; Tornei-me a encontrar comtiga Augmentou-se 9 meu segredo. 212° Nao tenho dé de quem pede, Nem do pobre que nao tem; Tenho dé de quem comeca, No mundo a querer bem. 213 tw Acompanhar-te nao heide, Seguir-te n&o posso, ndo ; La ir&o onde tu fores Suspiros do coracdo. Tuzoruo Braca. ae DIALECTOS ALEMTEJANOS (Contarourg3es rama o netvoo pa Diatacrouocia Ponzoauesa) «=... 08 da Beira teat hiias falas, e 03 Dalentejo outras», Puunio vr O1zveis, — Granmatica ds line quagem porl., 2.0 d., pag. 85. Tomo aqui a palavra dialectos na accepgdo geral de Linguagens ou fallas locaes, como ja fi noutros egtudos semelhantes. . A linguagem usada popnlarmentena provincia do Alemtejo entra muito bem no systema que denominei dialecto du Sul dao Mondego: fv. Rev. Eusit., 1, 192-193, Foi ésta ordem de ideas que me levon a dar 0 titulo de Sud-dialecto alemtejano a um pequeno opusculo publicado em Elvas em 1884,—como JA digo a pag. 2. Tambem Contador de Argote tinha dito nas Regras da ling. portug.: «—E poryre nao poh- des o dialecto da provincia do Alemtejo entre os demais ? — Porque differe pouco do da Extremadura: a0 consertar chama amanhar, aos casaes Chama monte, ete. e dizem ter aleuns defeytos da pronunctaéde Algarve: ; ed. de 1725, pag. 295. As aflirmacies de Argote sdo exa- etas; sé por defeytos deve entendétse-modismos ‘populares, porque em thnitas grammatices ¢ costume chamar virios, ¢ quejandes nomes, 4 linguagem vulgar, o que em verdade nfo 6.0 melhor meio de inonlear doutrina, porque tanto a lingua do pove, eemo a lingua litteraria, tem cada uma o seu logar: ndo obstante, Argote, 4 semeihanca do que via fazer na grammatica grega, trata de modo especial, e com certo af- feeta, dos dialectos pertugueses. * Se no presente estudo nig mantenho a primitiva designaéao de Sul-diolecto alentejano, @ emprégs aaites, como ja disse, a de Dialectos rivnete anos, & porque desejo dar a estes eapitulos 9 caracter puramen- ig de uotas, que sé wais tarde serio aproveitadas num trabalho geral ® syithetico : nao me convéem-pois titulos definitives por ora. Alen de Contador de Argote (see, xvi), havponeo referido, e de Fernao de Oliveira (sec. xvi), citado #a epigraphe, j4 outros AA. tem alointio a certas particularidades do fallar alemtejana, como adeante ie dizer; mas 0 trabalho mais extenso de todos é meu Sud-dia- clomt “oe, que se baseia priptipalmente na linguagem antiga e da adade de Elvas.0 sar. Soairo de Brito comegon ha annos uns Apartamentos sobre a Uinguagem alemtgjana, que deviam 2 (fro men ppneeula A philobogia portig., 1888, pag. 30. : 16 REVISTA LUSITANA ser abundantes em | factos: infelizmente 6 trabalho ficon incomplety, s6 sairam algumas poucas paginas. Segundo o que suceede com os mais dialectos, a linguagem po- quar de Alemtejo nao tem litteratura propriamente dita, no sentido rigeroso da express4e: existem apegas as cacographias,—e as transcri- poses feitas com intuito scientifies, 9 que se vé por exemplo em al- gumas das collecgdes etlnographicas do sur. A. Themis Pires (cfr. ew, Tusit., 1, 60-62 @ 132-133). Mnitas vezes certos AA., queretlo dar 4s suas eomposigdes litte- varias cor local, poem as personagens -@ellas a fallar dialeeto, coma tambem succede na Meratiaa de covdels tenho exemplos Pisto a res- peito da linguagem da Extremadura, do Entre-Doure-e-Minho e da Beira. Outi ha mesmo AA. que eserevem, por satira ou com outres fins. © possias completamente em Hogue popalar, mais oa pubkiea-se un jormal chamado 0 inal dinunhade, que ins empr ou quasi sempre uma carta Hagua seloin; ignalmente no Charani do Porto ha cartas tambem por aupbavia emt dialecto iuteramnense; et conserva Ineditos uns sonetos em transmontano, feitus por um cavalheire da provincia. Sé por necessidade e generalidade de expresso poderemos cha- mar a taes composites VHeratura. O facto é porém curioso, e desde a antignidade succede o mesmo @m tedes os paises. Com relacdo a provincia do Alenitejo nao conkege nada no genere Farei ainda mma pequena neta sobre as cacographias. A’s pessoas albeias 4 Linguistica pode talvez parecer estranhs que eu escolhi radea para nelles assentar as minhas theo- Mas, € les tirar deduecies scientificas. Mas notem qne eu nao es- colhi sendo certos textos, aquelles em que se revelun os factos vivos da linguagen), porqre os erros prapriamente de orthograplia ndo tem para o meu fim valor nenhum. Quem possne pouce cultura litteraria escreve munitas vezes como falla, n&o #6 por ignorar freqneniemente “aS regras grammaticaes. como porque megsas pessoas tem mais forca 4 habito da prentacia do que o da esqrfta; ova entao com- mettidos, erros, jA se vé, em relagdo & normas preesiabeleMas, servem para o linguista, porque Tke revelam exactamente 0 elle procura. Se eu por exemple encantes am mannserite onde oa a (== noute), andi andei). primero Gee primeive), ete, oiine in mediatamente que elle pertuite ao Sal, on pelo meno. a alguus cos pontos em que a lingnagem do Centro, au Beirg. confiu. corm a daguel Ja regide,—o que sé se pode deeidir por mais monca sualy se: ean unio o caso exclia com absoluta certeva ‘Pras ©< Vente Touro-e-Minhe. A publicacio das cacapraphias cou at portancia de mostrar 4s vezes a intensidade e goers! nomenos. ¥ A nogdo de lingna é diversi para o ‘plotte! ogn @ java uguivista: este vae atras da elegancia das expressées, do classicis: vocaba- los eda immobilidade grammatical agmelle desejz = DIALEOTOS ALEMTEIANOS 7 hender a vida da linguagem, tanto quanto pessivel entregue a si mes- ma, Toda a lingua propriamente dita, quer seja popular, quer culte; quer pertenca & uma nagao rica @ eivilizada, quer a um grupo de sel- yagens miseraveis; quer nella estejam esculpidas as epopeias homeri- eas, quer sirva si para as limitadas relacdes sociaes de wm canto de provincia, 6 uma lingua. perfeita, uma lingua que merece as atten- ches da sciencia, porque representa a verdade. Por outro lado as lin- guas populares, como terei oceasidio de mostrar adeante, ajudam ndo rare a explicar as linguas litterarias, porque conseryam formas ante- Tiores de expressdes que aqui se achkam num estado mais afastado da origem, Ninguem diri que um mato silvestre & mais bello do que sum jardim rico‘em flores preciosas ¢ adornado com todos os encan- tos da arte; ¢ apesar d'isso o botanico preferirA o primeiro para os seus estudos, E* certo que todos detestam as deencas, @ que existem’ » certos casos patlologicos que, pelo que teem de repellente e medenho, mortificam os olhos das pessoas mais insensiveis que baja: e comtudo © clinico, 0 anatamo-pathologista, a despeite dos seus sentimentos hn- . Indnitarios, folga de os encontrar, porque elles o afudam na resolugas de um problema, lhe estabelecem wim elo que The faltava num syste- ma, O mesmo acontece na Linguistica: o que n&o quer dizer que to- dos entremos a fallar dialeeto; mas ponhamos as consas nos respecti- vos logares. Para os livros, para a tribuna, para as salas, para a so- ciedade culta, ew fim,—a lingua Hitteraria; para os campos, para a eo- zinha, numa palayra, para © pove,—a lingua popular, E assim come ao totanico nao fica mal estudar as inmildes hervas que jazem esqueci- dlas ao sopé das grandes arvores; assim come o meiico tem obrigagao restricta de investigar tndo o que na regra geral se desvia do que se considera como bello e agradavel: assim tambem ao linguista compe- te analysar e classificar a linguagem de vulgo, os dialectas provincia- nos, os idiomas dos selvagens, — tedas essas multiplas formas em que, pelo que respeita 4 manifestacdo vocalica do pensaments, se revela 0 espirito individual @ social‘. LINGUAGEM POPULAR DE EVORA Os factos segaintes fordo colhidos por mim no 8. Jodo de-1888 - eno-Entrudo de 1889 e 1890. 1 Sobre a importancia da Dialectoloyin portuguesa efr. winda: Dialectus mi- JF whatoa, pag. 6-7; Diateetos interamnenses, sit, pag. 2723. | zev. Luarr, vel. 1, fase. 1. 2 NX 18 REVISTA LUSITANS fe A) Phonologia 1. O ditongo on é veduzide a 4, por ex.: diva, 38, répa, adrege {= airegon), réco, pora, Suir, é 03 alli J& numa sepultura do set, xvi0, no claustro dos Layns, se 16 Soto (== Sonto). ‘Ao contrario du que succede em geral no Norte, diz-se dda, Les- béa, e n&o com ditongo. 0 ditongo existe porém em loiga, ete. odes estes phenomenos se dao tambem na gente calta, 2, O ditongo ei reduz-se a ¢, antes de consoante: féra, rebéra, brabéro, léte, onde o ¢ soa come em péra e oéjo. Dia-se porém aldcia, cadéia, méio, féia, ete. 3. A's palavras que na lingua litteraria acabain em éeé, junta- se um i, que porém udo forma ditonga: ati, dé-i, &i, séi, péi, Naw rare sé observam estes phenomendos tamben nas pessoas cultas, quan- do fallam distrahilamente. 4. So contrario do que suceede em dialectos do Norte, nio se desenvolve i antes de palatal nos seguintes casos: eja, dévo, caxéro, basa, c6xo, muntujo. Xo Norte diz-se weijo, baixo, esixs, etc, 5. Nos pronomes procliticos meu, tee, seu © et, antes de consoante, © ditongo 6 reduzido a 2, ex.: mé corapdo sempri € teu, me pai, ¢ so hin, sé primo, té fitho, € jd perdi. 6. Tanto o ¢ final de palavra, como antes de s em syllaba final, soa i attenuado: file (= falle), mer’, cantdrd, (== cantar antar), gol {== sole = sai) atrépt (= abvepe}, cont ; cdeTs (= conves), rdspis, partis (= partes). 7. O w nasal, quando atono, sia d nasal: féxdira (= fundura), éutar (== untar). _Ignalmente o i nasal atono soa é nasal: énténder’, dager ringér), datrudo. Clr, Sad-dialecto alemiejanc, pag. 10. 8. A’ syllaba final tonica em da lingua litteraria corresponde ¢m, e ua emphase im (i. é, éi nasal, ex.: bém, tém, e tambem véim, néi- guéim, idl amores. . 9. A? syllaba final atona em da lingua litteraria ecorresponde én, ex.: vistém, diztm, ficém, edmprém, guérém. Tgualmente 86 diz: dndéne andam), apdrtéin (== apartao), cdupron compram), fdrdm (== Ta- yao}, duddm (= andio), —onde dn éatono, Vid. Dial. alemt., n, 4. 10. Na proclise o ditongo litterario ao reduz-se a d: si nas ter- ras, nd quero, nd nos pddi, ha d’ir, nd quérém, na mi podt. Sobre este phenomeno cfr. j4 Neves Pereira in Afemor. de littevat, da Acad. das se, Em prontincia rapida a nasal pide perder-se, por ex.: née st pedi afurar, Antes de vogal ouvi nao ¢. Cfr. Dial. extrem, 1, pag. 1. 11. Em certos monosyllabos prociiticos 0 ¢ fiual soa 2, ex.: ¢ gut paga, situ querts ver, nOmi di Jeans, nd si pédt aturur, nd mi pédi, sb ai far. DIALRCTOS ALEMTE) 19 12. Ha em Evora uma roa denominada Rua anche (o> amplal, qhe o povo pronuncia Ruancha, farmando crase; ja num doc. de 1576 se 1é tambem Ruaneche, como se pode var no opusetlo Luis de Camées em Evora, de A. BF. Barata, Evora 1882, pag. 13. E’ mui frequente que a syllaba ini iad es da linguagem litte- varia esteja reduzida as, ex.: steuder, sta, spett spetei). Clr. Dial, extrem, 1, pag. 12. B) Morphologia . 14. O verbo fave tem as seguintes formas: hawéra, hanévade (m. qe py houcera por inf. de hacer). O verbo trazer tem a forma truce. Ouvem-se ds vedes preteritos em -7, ex. S Dial, rem, 1 pag. 14. Em virtude do que se disse no § 9, Lemos apatdun, jdvém, ete. Q verk am i iGrma fem phrases de reve como «0 Se- nhor é que pag. 14. 15. O yovabulo ufo tem o diminutivo drtjo, que significa ofr. Dial. interamn., va, 9): embaxadares, aburo, debaxo, bas, onfaxada, mexas em rima com ameras, derot (por dexé ; repet.), compaxéo (cfr. § 4); perciso, por fangado (= prolonga- 20 REVISTA LUSITANA do), porfundo (pela confusio vulgar entre pre e, per, por @ pro); par- cia (== parecia. Facto vulgar nontros dialettos). 4) Morphologia. Apenas tenho que notar aqui percebestes (== per- eebeste), facto vulgar, onde o sesté por analogia com o s que se encontra nas segundas-pessoas dos otras tempos. Tambem é para notar pobrinka, embora nada tenha de especial. . ¢) Syntaxe. Aqui tenbo 56 que mencionar avia ter em vez de havia de ter, . < Ro fim do anto Ié-se: » Ofr. Dial. telemtej.. 1, 4. : 4. O ow atono final @ 0 om nas mesmas condigdes soam-¢ + como em Evora: gudrdm, disca, térém, fizdm, atéaiin cduitim, fBrdm, etc, Clr. Dial, alewde).. 1, 9. Este modo de pronuncizr é avechaico na lingua: na Chronica de “D. Fernanda por Fernito Lopes, acha-se’ por ex. forum, lomarom, poscrom, pagavem, devom, estavint, ete.; 20 Leal Consetheire de B. Duarte (apud Adalpho Coelho, Theo via da Conjugarae, pag. 135) ha comeron, chamom, fagom, erom, ete, Mas ao lado destas formas ha ja formas em -ani, como culpacconno, fallegiam e tragiam em F. Lopes, ¢ husam e tragan em D. Duarte, o que parece mostrar incerteza na prontncia, Se nuns casos, como em Yorum, 0 -om & etymologico, por cerresponder ao lat. -wné, noutros, como em canton, crem, etc, 6 puramente analogics, poisem lat. é -ant.—-No Alandroal diz-se tamhem: fm (conjuncgda), dutrar, éntre- més, tém, ceméniéro: Ofv. Dial. alemtej., 1, 7. Na toniea diz-se tambem -dm: pintém, t’m, ete., ena emphase béim, iim, etc. Geralmente o som ai eee eM i yr 26 REVISTA LUSITANA do é de ém 6 um pouco mais aberto que o de pera, etc. O mesmo para todas as vogaes nasaes on nasaladas a respeito das vogaes fechadas. 5. EB nui esaal a prosthese de a, ex.: atémar, arrelicas, assa- bdo, agarrafa, abomba, achumago. 6. Diz-se: &i, pei, dzd-1, Cfr. Dial. alemtej., 1, 3. 7. Diz-se como em Lisboa dito e dezdite, ao contraric do que suc- cede no Norte do pais, onde se diz dita. No Sul parece que se devia esperar dezdito, mas é que a palavra é composta de dez a eito (eff. dezanore, dezusete, deeaseis), @ entao temas +fezaoite, formando ao cra- se em é. Subre este « cfr. Epiphanio Dias, Granun, elementar da ling. pori., 1889, § 48, rat. . 8. Qa inicial sia 6, ex.: Oradea, drdinariamente. Tambem owvi Footie, O e suvdo final oavi-o pronnneiar 7 abafado em cont (= come), home (== home = hamem); cfr. Lint. alemie)., 1, 6. @ Entre e tonico nasal er == frr) introduz-se um / gutturalisade: ler @ gétrre (e nasal fechado), Cfr. Liat, extrem., 1, § ¥. Mas diz-se hinva, B) Morphologia 10. Verbos. a) O verbo hacer, quando impessoalmente (excepto em ha mi- galha por ha powro), toma a forma fal na 3.* pess. sing. (= litter. mod. ha); este facto parece, & primeira vista, de origem hispa- nbola, mas ndo é, pois se encontra constantemente ny portugués antiga, onde tem ovigem da fusio de hu com o adverbio hi, tam- bem escrito hy, ie gem doc. do sec. xm, avalogamente ao fran- eos maderno i y a, achei por exemplo: aya hy hime flgueyredo, ha hy fusin poco, ha hy hucmee tenda, ho hay birmee casa (vid, Doc, dee eid. de Erove de G. Pereira, 1, 31). Como o Ai se tornon prociiticn, facilmen- te se soldon ao corpo da palavra; igualmente dizemos hoje hade eomo se fosse ima. si palavra. Em geral nos paves da fronteira ha tenden- cia para chamar hispanhoes avs phenomenos portugueses que Se pa- yecem com os da lingua do pais viinho, — assim ja onvi dizer que havia em é = oe ¢ = ei influencias bispanholas ; mas isso é um erro, pois taes phenomenos sio proprios do portugués. Se o 6 == ov e 0 ei fossem de origem raiana, come se explicaria @ exis ho extremo occidental da Extremadura portnguesa e existir 0 6 - na Beira-Alta? O portugués e o hispanhol sAo duas linguas romani- cas é duas linguas viainhas: por tanto nada de admirar que offeregam & observagdo factos semelhantes ; mas desde que o portugnés se pade reconhecer nos ant. documentos eseritos, sempre elle se revela funda- mentaimente distincts do hispanbol, ¢ apenas nas fronteivas ha as vezes phenomenos de transigio, como em todas as linguas em condigdes se- melhantes, Em relacie a hei, a comparacdo com o portugués aréhaico e o francés 6 bem eloquente para mostrar a independencia do pheno- DIALECTOS ALEMTEJANOS 27 meno. Tanto quanto tenho observailo, a influencia do hispanhol na linguagem das raias limita-se av voeabulario, e em escassissime mit- mere; na linguagem de 1a deve dar-se o mesmo. Quando na Hispanha hoxver philologos que se oceupem desenvolyidamente ea serio das lin- guas romanicas, seria bom que estudassem ésta questao, 4} O verbo andar tem no pretevito per ‘stas formas, por analogia com o verb estar: en guadive, tu und elle aindéve, nos cndininos, alles andivtrdm (a 2* pess. da pl. & substitaida pela 3.4; cir, Gram. port. de Epiphanio Dias, § 116 — obs.j. Estas formas po- yém tem pouco uso na villa do Alandreal: sio mais assilas nos arre- dores. —- Estas formas tambem ocecrrem em Marvan ¢ em varios pon- tos daraia beirda e transmentana: Dial. beivdes, wy & bea. e} A 1.* pess. do preterito perfeite da 1.* conj. acaba em -7 em ves le -«/, ex.: azi (== achei); cita-se até por graga a phi dive todd dia, end part, em virtude do trocadiilo part = parei. O verbo dav tem assim éstas formas: di, déstes, din, démos, dérom. — Este phenomeno dialectal é jd antiga, pois ua sua Ovtagraphia da ling. portuy., Lisboa 1671, diz franco Barreto, ao fallar dos preteri- tos em -ei; «Ainda que por efte Ribateja tades os madam em i do, dizendo ami, falli, janti, &» (Pag. 54}. Como eu ja motel no S$ dial, eiemte)., pag. 15, tal preterity pode explicar-se por analogia com os preteritos da 2.9 e 3.8 conjngacas. O preterito em -i parece come- Gar a mauifestar se na Beira-Baixa (vid. Dial. beir., 1 9-0); depois extende-se mais ou menos pela Extremadura (Dial, extreu.. 1, pag. 15; cfr, a cit. passagem de Barreto), aagmentando de intensidade para o Sul (efr. Dial, wrgare., 1, 12). No Novie de pais nunca a oliservei. dp So pi noir éstas fer Siinins omos). alias muite freqnente no Norte, @éin ccom o primeivo e fechade, efr. $ 4) ex vivem).— Para outras formas, vid. § 4. ‘Pemes ainda déia O plural de eal forma-se regularmente em ais: ofr. Dial. ui 1, pag. 17.—Sado frequentes as nomes-de-agente em -éro = eive), como: cartrs, deethéva, boidia, cabciva, ganadira (pastor de gado; cfr. hispanhel gendo, que toabem devia sev port. are.) — A palavra cdo tem o deminutive ceuite, e otro deminutivo depreciative canicatho G. che), cuje segunda suflixe tambenrapparece em cangatho, Tanto em eceniedtho como em canito reapparece on do pri- itivo radical (rao = lat. cane), analogamente ao que se da no Al garve (cfr. Dial. alyare., 1, 141; daa-se factos semelbantes noutras linguas, de reapparecer num derivade um som perdifa no radical on na palavra primitiva, como por ex. em catalao, onde se diz eate- tans (sing. catald), seréaa (mase. sere), pagina (mase. pagd), ete. 12. Particulas. a) Diz-se indifferentemente aonde e «donde em vez do litter. onde. Os campostos S40: pradade, pradinde, Ponade. i) Usa-se a locngho dud’ guava satdgoes 28 . . REVISTA LUSITANS agora, Parece composta de ante, on mesmo de onde. —Tambem se usa béntéyui e abéatigui, por exemplo: desd’aqui béntiyui (i. 6, desde ati até aqui). Parece composta de bem "té qui. . ¢) E’ curioso o ady. pertozinka equivalente a pertinke, Pode com- parar-se com poucochino, tio frequents no pais todo, ainda que tam- hem no Norte se usa de pouguinie, e na regiao minheta pouchinho (com ch explosive). Tambem se diz no Alandroal perchinho (com ch * explosivo resultante de t+ 2). ‘ d) Tambem & frequente: aindas gue, sémentes, ~ como em geral no pais todo. D) Syntaze Na syntaxe popular ha ordinariamente ponco que notar, que dif- fira da litteraria; todavia alguma couza ha as vezes. : 13. No Alandroal usa-se bastante de pleonasmo em phrases taes como: 0 sé fitho delle, a sua casa delln. O pleonasma resulta aqui da incerteza de significagde que as veges se nota no prouome possessivo, que tanto. pode referir-se a win passnidor no sing., como a um no plur., a am masculino como a wm feminina, egntrariamente ad que succede. noutras linguas, par exemplo em inglés, onde sé diz respectivamente his, her, its e their, Este modo de construir encentra-se tambem nos AA. ainda que, como expressio popular, 86 0 tenho observada nq Sei (Extremadura, Alemtejo e Algur ej; em Andvé de Rezende, que era de Evora, l-se; «cam o duque Dam Theodozio, few irmad delies (Vida do inf, D. Daarte, 1789, pag. 43). 14. Como ja uosel no Swb-dial. alemtej., pag. 18. & tambem aqui. asada a constraceio-¢ de F. ¢ casa de KF), JA tambem em Jatim sé usava ellipse’ analoga, por ex. ad Vestae (seill. femplum): cfr. Madvig, Gramm, latina (trad, port}, § 280 — obs. 3. 15. O collective geile toma-se na accepcdo de ais, do que resul- tam phrases como: «a gente Pines émboras, sa gente passémos mos+), e analogas. Cir. Dial. extrem, 1, pag. 18. — Estas phrases no Norte nao as tenho notado, a ndo ser esporadicamente. EY Textoa populares 8 cacographias Os textos e cacographias que pude recolher sie infelizmente mui- to pouce iumerosas. DIALECTOS ALEMTSIANOS 29 °16, Cantigas populares: S. Joao & minha porta, ” Favas verdes com toicinho Eu hé-de-the dar cadéra, Qué! nat nas tém na* nas comi: Qui elle vém salvar as almas, Tama saia velha qu’é tinha E a minha séj’a priméra. Fiz uns calgdes 6 men. hom’. A ribéra da Orada Os homes sao coms burros, Vai passar.a Samiguéle: $6 Ihe falta térém rabo: A mica qui é socegada . Eim.,. comegando c’nma téma Tém rapazes quantos quére. Atémém qui os lev'e Diabo. 17. No nosso pais 6 costume haver em certos santririos de mais devacio popular paineis on quadros que representam milagres e sho offerecidos ex vote, come no pagauisme, aos santos e 4 Virgem. No Norte estes quadros chamam-se mesmo sadegres; no Alandroal chamam-se re- tdbados (= retabulos),. Ora em alguns retebalos da igreja da Senhora da Boa-Nova, junto a Terenna, ¢ perto do Alandroal ’, feitas evidentemen- te par gente pouce ciilta, notel .euintes cacographtas reveladoras da. promincia vulgar: adeiecew, anno de 1878; Monte do Néro (o= Seixo *, a. de 1871p milhorow, a. de 1851; pordije, poco (= pance), monte aude (= Montéuto) * e Prezeires (== prazeres), a. de 1852. Hstes dois witi- mos vecabulos offerecem um phenomene graphico analega ao que ob- servei nos Dial. atentes., 1, 17-5, pois 0 pove, estands habituado a lér ci como , @ ow como 6, inverte a orthographia, escrevendo ow por @ e ef por @ F) Vocabulario 18. Reuno aqui principalmente us termos que udéo andam nos diccionarios, ou que, andando, pio teem indicado 0 hahitet,—e tam- bem aquelles que se afastam muito da prontincia usual. Exclue porém os que entram em categorias extensas, como Gtro, fire, etc. Abentéegui, até aqui. Vid. supra, § 12-0. : Abomba, bomba.—Etym.: cfr. it. domba, fr. bombe, enjoy € - 0 lat. bombus. Achumago, chumage—Etym.: cfr. lat. phunacium (de plana). Para @ prothese.do #, vid. supra, § 5. . , Adonde, onde.—De a + de 4- lat. unde. + De’ passagem nats que a fingnagem de Terenna niio me parecen differir da do Alandroal sengo wa preniincia do x. Sobre ésta e a do s fallarei no 2 artigo. 2 © primeiro’w ¢ engano, ou representa realmente uesimilaglc do # ao x se- guinte? Creio ser engano de quem egereven. . 4 A etym. d’este nome ereio sér Montr atte; cfr. sonto = lat. sadtie. 30 REVISTA LUSITANA Afilhar. E’ o acte de ir ao dardo bascar os cordeivos, cabrites, etc.,— para os chegar . a-fill-ar, Agarrafa, garrafa.—A palavra “garvafa, que tem em hisp. a mesma forma, ¢ a que em fr, corvesponde carefe, do ital. careffa, vem da verbo arabe gavafa, Ajuda (masc.), rapazinho que acompanha o ganadéro e 0 auxi- lia na guarda do gado.—Etym.: subst. tirade do verbo ajudar (= lat. addjutave). Alandia, lande, segundo fracto da sobreira.—Etym.: lat. glare: den (glans), a que se deu a terminagdo -ia como em léidea, do lat. Jendent Jens), pop. facia (= face), ete. O gl foi reduzido al ( assimila- cao} como em fetes, do lat. glee: ef. Cornu, Lie Povtig. Sprache, § 37-a. O @ é prosthetics: vid. supra, § 5. ~ Alveneu, pedreiro.--Do are. afvanef, coma em arc. rere vergel, que tem o mesmo radical que o lat. vividiarium e virdi view); ofr. aleenavie. A forma afrane! ligase como arabe aldamuy’, ete. vid. Engelmann & Dozy, (ts re des midis espaguals el portiig. feds de Carabe, 1869, 1 alien. EP euviose dar Dozy albanez como forma alemlejana (ib. ib); mas nao haveré érro nella? Esga firma talvez seja tamada do plural de «leanen (alveneu). Amanhar. Tem a significacin geral de consertar, arranjar, por ex.: eameanhar umas botas», samanier uma roupas.— Este terma u tambem ua Extremadura: n¢ Cadaval porém si The ouvi dar a significacao de «cultivar as terras», donde até se fax o subst. aad. rho—Etym a base Vesta palavra ereio ser o |. mens, unm derivada Naturalissine wavwear, que tamberm existe na nossa lingua como pa- lavva de ovigem Htteraria equivalente a manejar; a palavra nianers, on antes moniar, deu enunhar pela palatisagdo normal de n + e (i), e prothese mni frequente de @. Aonde, adonde, onde.— Vid. adonde, Apérador, 0 que governa nos ganldes quando andam no ser- vice. — Parece ligar-se com o verbo da lingua commum apeirar. Apéro, correla de couro que prende a canga a pritica —~ Etym.: do verbo da lingua commum apeirar, que creio vir do lat. pariare. Arrasta (f}, cadeado de ferro em que se firma a pritica — De arraster (que vem do lat. rostrum}? Arrelicas, nome geral de certo amuleto infantil mixto.— De re- Uguias. A palavra tamtbem existe nu Cadaval; na Beira diz-se arreli- qnies (noutro sentido). Arriata, cardas para segurar e guar os animaes (arreata) De reatar? (re-ata, arre-ata), Ctr hisp, reata, ‘Agsabao, sabdo.— Do lat. sage. Chr. § 5. Baralha, prateleiro de cortica com cannas,-para por os qneijos. Bardo, curral de estevas onde se ordenham as cabras. — Creio vir de darathram: efr. em Du Cange baratinn (por vailan). Barriguéra, peca de linho que atraca a besta aos cangallus. Barruquérada, pedrada— De Barruguéro., BIALECTOS ALENTEJANOS 3l Barruqueéro, pedra grande.— De barreca, que por seu turma parece se liga a barre. : Bastao, o primeiro fincto da sobraira . Bazaruco, nome que por traga se da aos patacos.— FE’ este o nome de uma moeda indiana, que teve diversos valores, @ foi em di- versos metaes. Ja é conhecida na nossa lingua desde o sec. xvi. Chr. Teixeira de Aragia, Muedas.... de Portugal, 1, 100 ete. Béntéqui, atéqui, Vid. § 12-4 Boléta, bolota da azinheira. O terma dolofe tambem se usa, mas menos.— Cfr. 0 hisp. beflota. Bordfio, pau pavelho, i. 6, Yiso, igual. —Etym.: L hurdo- oni: (per metaphora). Burnil ¢ suader s#o duas peg pescoge day mmares para segurareni a rFiga € vs fica de cima do suador. Butinos, especie de plaima qne nsa o gauadien, Burzeguins. borzeguins, Fas tambem parte de trajo do gauaders, Cachéra, paw de trazer na mis, tendo uma saliencia na parte inferior. Corresponde ao que na Beira-Alta se denowtina wocu, Tan bem se chama cachéra & saliencia.— Etym.: lat. « capulirins, de co- putus (ofr. cajnilos serptri, ete.), Caiga (nesta palavra d/ ¢ um, ditongo nasal), canga para ligar os muares que V4o ay carro tym: Caiye 6 a mesma palavra que coma (ofr. sdigne = segue, nontros dialectos): caarye é& um subst. de ecnrpe . com pngare, Caiveéra, caveira.—Etym.: 1. cafearia, pela dissolugae do ? em como em nite de wnlto, etc. A firma litteraria 6 cavdira, eujo accentuado accusa a firma areaica canceira, ‘1 mais arcaica scalaveria, vepresentada ainda pelo lis : almofadadas qne assentam na eairgelhas: o burnil ir squenliol cafacerce. © lat. calvaria den seateraria pelo suarabacti do a: ely. Dial, dlem- tej., 1, § 16-a. S&o pois edevira & edvecree duas firmas da mesma pala- vra, pertencentes originariamente a dialectos diferentes, porque uma n&o pode ter provide da outra. Calhamago, o mesmo que canhamago,—- Etym.: ealhamaco pre- yém de canhameca por dissinilacao, coma are. ¢ pop. fonear de no- mear, alma do L anima, ete, Creio que caihame nao 6 de origem port., mas sim bispanhola, onde o grupo vw: dé a, por ex.: aio, cana, pana, mesmo sem ser an contacto de yogaes palataes,—aa contrario de pay- tugnés. O sr. Ad. Cuello, Quest. det. port. 1, 369, indica, como con- firmacao de canharna (= cannabis; standin e pind; Mas eM geenhir, de grunnire, 0 grupo wa € & pinche deve exyli- tar-se por pinea, é estanho por estagiatn (ety aceessoria de stennznt, on por um dos derivados steniseys on staguens O hisp. edtamo naa vem de cannabis, e sim de canadian (por assimi- Jac&e da labial 4 nasal precedente}; 6 bispanhol catamaze assenta em scunnabaceus (que explica o ital. canavaccio), sob a influencia de e- Ramo, 32 ~ REVISTA LusiTans. > . Cangalho, haste curva de ferro embutida na cauga, para pren-, der a arrasta.—Do mesmo y de renga, . Canicalho, duplo deminutivo de edo, cfr. supra, § Canigo, armacdo de madeira stspensa por cardas, veya ter 08 queijos.— Primitivamente deve ter entrade a canna no fabrico Weste objecto: por tanto o lat. xcannicius (cfr. lat. canniciae) explica a pa- Jayra. . - Cannigo, clinmaco de cathamage, envolto em panno, para ampa- rar 0 toldo do carro nos extremos.— A etym. 6 tambem «canhictws, mas noutro sentide, porque aqui o que deu origem a applicacaio Jo nome foi certamente o terem-se escolhido a principio as folbas da cama para o chumago. Canito, deminntive de edo. Carro alemtejano. O carre alenigjano que é acteris da provincia, tem duas rodas, e é puaado @ muares; tanto serve para transperte de objectus, como para viagem. Para a sna deseripgaa vid. neste, glossario as seguintes palay fuldo, tendaes, spartags, pote, castellos, chavetha, tuléra, eanniga, pritica, cdige, apdro, chavthas, avvusta, burnil, suador, cangalho, barriguéra, arriaia ¢iiradiya, Quem guia 0 carro vae sentado, umas vezes dentro, otitras vezes a caval- jeiras na pritiga.— Parece-me que a modelo deste carro.esta no ea- vines romano: vid. uma estampa em Trawinski, Le ets antique, 1885 trad. fr}, pag. Be O covinus era de, origem belga: vid. Rich., Licé. deg antig., ele, . Gastellos. ‘aa ponte, pequenas hastes insertzs na ponte (vid este vocabulo) Wo carro, para segnrar cordas, ete. Ceméntério, cemiter im Elvas coméutérs (vid. Sub-dial alenity., pag. 8); &m disp. cimenterie (1. coemeterium). A nasal Cestas formas péde explicar-se-por influencia do a inicial: cfr. pop. m@za, higp. manzanax i<< >> port. mara). Chavélha, o que prende a ponte do carro aos tendses,— Etym.: Tat. clavienle. Chavilh&o, 9 que prende 0 apéra & pritica (vid. este vocab.).— Deriv. de chavétha ; o ¢, tornado atono, passou a é por infiuencia da palatal seguinte: “eft. pop. tithado. Ohingo por cincho (vid. este vocab), mas creio nde ser muito usadte. Cincho, aro de lata para apertar a massa fresca do queijo.— ‘Etym.: Esta palavra tem evidentemente o mesmo radical qve 01. sin- gere; mas gua) foi a forma que lhe deu origem? cinegasluan da-la-ia com He (ofr. port. cilke == cinguda, unke = Anka — aflha == unyula tye nao explica tambem o bisp. cincho, qne alias se pide explicar, como fea Diez; Gr. des lr. 1, 239, por tinctus, pois que cf da nessa lingua 1 gilha dew tiuka por assimilagho regressiva de h 4 nasal; cfr, Sanhoanue == 88 Joanne, senhos = 4 stthos, = singuiae, ete. DIALECTOS ALEMTEJANOS "33 (mas nfo na nossa} ct; por isso parece-me que a palavra foi importada da Hispana para a raia,e dahi para a Extremadera, onde ella tam- bem se conhece entre os Saloies (no Norte nunca a onvij. A importa- (ao nado 6 recente, porque ja Blutead a cita, Vocabulario, s. v.—O termo usado pa Beira-Alta, Minho, ete, 6 aro. Cinta, faixa com que se cinge 9 corpo exteriormente na cintura. ~— Este nome é commum & Extremadura. Do lat. cincta. Clava, pau que tem na extremidade inferior uma saliencia, mas maior que a da cackeira. EK’ o que na: Beira-Alta se chama porre on mica (Wonde o subst. mécada).— Lat. clara, Nao tem forma pop. por- tuguesa. Em hisp. 6 tambem clave, que é-talvez a origem do termo do Alandroal. Combréo (com accento tonico no 20), comoro pequeno,—Etym.; deriy. de combro (ainda nsado na Beira-Alta no seutide de «parede baixa, arruinadas; em Lisboa ha tambeni wma Calpada de Cémbraj, == comor I. cunndaus. A formagao ¢ analoga a de cambra == camera (camara); ofr. ainda pop. mod. toaile = tnt, natinbro == numero. Cémpanha, companliia.— EB terme commun a ontros pontos do Alemtejo. No Norte usa-se apenas como termo maritime, «compa- uha de peseadoress (Porto, ete.). No Alandroal, ete., diz-se frequente- mente a um sujeity que vae acompanhade: «como passé, € a compa- nha?s. Derivado do verbo [ajeompuakar, que provém do L «compa- niare, na jel salica companivm (De Cange, ed. 1883, 8. v.}; de compa- vivm, formato, de cum + panis, vein o fr. compagae, 0 it. compagns, ete. (cfr. Scheler, Diet, Pay. fr 8. ¥). Corna, vase de como para receber o leite quando se ordenham as yaccas. Ha edrave muito lem lavvadas (traballe dos pastoves). A’s Veaes poréim o vase é constituide par 'um chifre sem lavor algum.— Etym.: ésta palavi simples femiaino de corny (1. corn). Coturniz, codorniz.— Em lat. é eoturnicem (coturnix), enjo é in- tervocalico abrandou normalmente em @ para dar codornéz; a forma androalénse é muito curicsa, mas certamente of nado éo primitive la- tino, ¢ tem de se explicar por scortw/z, pois que neste caso o t n&o abvrandava em 4; a forma coturniz desenvolveu-se pois numa epockha em que o ¢ interyocalico ja normalmente se na&o abrandava. Cnuxarro, o mesmo, ou quasi o mesmo, que céxo: vid. Dial. atem- fej. 1, Vocabulario, s. v.— Esta palavra decompée-se em coz-arro; 6 - fixe apparece tambem em homen-z-urr-to, ete. Coxo: vid. Dial. alantej., 1, 1, Focabulario, s.¥. Curvéro, @ ie de pyramide, de estevas, ete., com uma pe- ork ota Laixo: uatle se rezelbem os cabrilos em quanlo 10- fate Tn ple nee : fendos vosr tlongalves Viatma, de + Bealitro, eucwyptu. Per etyrs Famgoero, varapau pardlas, isto rey. uvarr, vel. at, fase, 3 gueiro, que no Dice, eovtenporaneo da ling. port., Lishoa 1881, 6 dado como termo da Beira, no sentide de fxeiro, estadulha, Parece-me que ésta palavra estara por efungoeire, qne se pode explicar pelo 1. fu aieutavius, do 1. fuiticules, como a firma minhota ¢ alemtejana fueire se explica por funerins. A base de todas estas palavras 6 0 lat. funis (corda), Como os fueiros ov estadulhos servem para atar a corda que segura os abjectos que yao no carro, Lomaram como adjectives, 0 nome Wella; assim, funarivs e efunienlavies eram oo pan a que se ata om funis, um funicutess; Pagai passon afunicntaring, na sua forma poste- rior, a ter a significagio metaphorica de verapau; da mesma maueira, na lingra actual, a palayra cstedulho, que propriamente & do carra, significa tambem . — De lat. pariculus (de- min. de per) ; cfr. tr. pereil. Pazinho, panziniio. Pellico. Vid. Mial. alemte}.,.1v, 2-4, Pocab., 8. ¥. Perruma, pao feito de farello sem Antar, de bagago, ete _ para, os cles de gade.— Etym.: do hisp. perrita (de perro), Ao pas- sar a palavra para o pot perimentow substituigéo de terminaga&o = ner), Pértoxinho. Vid. § 12 Plaina, polaina de saragoca, usala pelos homens do campo. Parece que a etym. esta no fr. are. ‘penslanne, pelle da Polonia, Ctr. Sohieler, Diet, détym. fr, 8. v. poulaine. Pénte, arco a0 fando do carve alemlejano, para segurar a arma- go, etc.— Metaphora de ponte do ria. Porréte, pau cnrto e parélho, geralmente com nma correia para iv enfiade no braco.—Etym.: demiuutive masculine de porra, cnja otigem, por metaphora, estA no lat. porrum. . Preces. Esta palavra, que é aqui de origem etetesiastica, 8a-88 ho masculine: os préces. Preguéta, brécha p pregar.—Deminutivo feminina de prego. — Da lat. (ejpigrus (nos AA. epigri) Pritica, extremidade comprida do carro, onde prende a c@iga, —Etym.: nos Diceionarios ha pretiya € pritiga (Fonseca e Roquete). Do lat. partiga. — ~ Quéjéra, gamela para fazer os yucijos, Quinxoso, quinchoso,--- parte do campo, Hndada, para hortali- gas. A verdura do quinchoso destaca-se ordinariamente do meio da aridez do resto do campo. . Rabadéo. Chama-se assim ao méral @évélhas: H* o unico dos maioraes que tem nome especial. — Etym.: «o que yae na rabada, 0 “qué vde atras». Por consequencia yrds. Rexina, fressnra do porco, sarrabulho. “* Retabalo, quadre que se pde nas igrejas como ex-rote em honra de -algum santo.— De refabulo == fr. retwble, a que Scheler, Dict. d'diym,, 8. v., dttribue como etymon mn adj. re-stabilis. * Robar, roubar. . tania, > DIALECTOS ALEMTEJANOS =~ ° “ Saclario ou relicério, amuleto infantil que consta de um crra- elo, uma imagem, etc. — De sacrerio (dissimilagao). _ Scamél (promineia xcamed, ‘com x attenuado), rapaz on ¥ que faz mandades de pouca importaneia, como partir lenha, ir 4 a um recado. Em Moura usa-se neste sentide do termo répa. - lingua‘commurth ha a palavra esramel, no sentido de cbanco de esx deiro>, que vem, nas do provencal, como diz o Ltrs, contempar., mas do lat. scamneliusn, eseanmel. Essa f6rma porém n&o vejo por quad evalucdo de sentido possa explivar a ancroalense:>— Ha tamben cin lat., ae Tadd de camitles (qne significa «certo rapaz empregat; nos actos religiososs), a farma casmiffis; sera ésta a arigem da nosst «>: yirtude do alargamento da significagao? Teriamos porém dé sry wacamilles, Cf seupir, se é que vem de. bir. : Samanco. Etymologia popular por sainudo, Assim se dig oo samanco (satmanes}. A forma saimdo tem muitas parallelas: sido (== samito}, selindo, ete. O etymon de todas é Selanne - Séquesséquando (7) . Siaréro, o que cultiva searas em pequena escala,—~ De see Socha, choca.—Perto do Alandroal e em Morra chama-si a nma choca pequena.—Etym.: séeic, vem de chage por metatiei:. mas qual 6,a etym. de choca? Diez suppoe phen, de plutewm, i ops Wirt, 1b. Doz’, no Glosseire des ntots esp. ef portug. déviv: « Parabe, 2° ed., combate nestes termos a etymologia proposta put mestre dos romavistas: «il fandrait prouver lexistence de cette plutea, et en ontye ni les Romains ni les peuples néo-latins, non mais employé plata dans le sens de cabane faite de batong fet dans la terre et canverte de br ies on de pai tout le tends sait qwil a une autre significations, Depois propié como esrien o arabe khoge, que significa choga; © acexescenta: ele &e devices ° eh esp., et les peuples néo-latins changent souvent le cen dis. lin pors nesta véplica chias partes: nde se vonliecer puter, © nao ter potas o mesmo significado qne em romanico, Mas, se existe, como de facts, plutenm, que divida pode haver em acceitar pivfea, que é 0 plaral pentro, qne poilia ser assimilado 4 1.* declinagdo, como tantas veres snceede (cfr. debiter, fata, pigments, ete.) ? Com relagdo & mudang: ste sentido, realisaram-se nas linguas remanicas moitas mudanga: seme Yhantes. Agora a dizer Dozy que c d& muitas vezes ch é derissiado yago, porque nem em hispanhel nem em portugués ¢ latino malmente ch, embora essa mudanga seja normal noutras cine eertes casos (fr. chee = cusa,"it. cielo == covlum, ete.) & possa talvez apontar um ou entre exemplo hispano-portug == ¢ (4 e on i), como faz Diez im Gr. d. Lor., n, 342, e Covad in Grundriss der Raw. Spr., 1, 767,— 9 que é, como se ¥6, un phen. meno diversg de que se suppée ter-se dado em chara. Dozy, str. et. pag. 15, pertende tambem jastificar a palatizagde de ca com @ pata- wa Pe vee (= armbar) qne vor a0 oc. selrabé ; mas pe 38 REVISTA LUSITANA . no Voradui. Port. de Bluteau esta em verdade escrito charabe, vé-se pelo proprio artigo Messe Voeubul., e pelos Diccionaries posteriores, que ch é mera orthographia de ¢, ¢ que por tanto a prentncia ndo é palatal, mas guttural. A etymologia arabe hogy para choca, com quants seductora, como outras mnuitas, que porém sao incertas ou falsas, parece pois muito duvidosa, e pretire a de Diez, — plutea, que explica perfeitamente o hisp. choza eo port. choga. A palayra alem- tejana chico, pode ser simples masculinizacde de chora, e nfo corres- ponder directamente ao lat. pluterun. Suador. Vid. durnit Spartées, esteira de carro alemtejano. — Vespario, Taléra, tavoa sahida, no carre alemtejano, para dar firmeza a este. —Etym.: de am adj. lat. tebulavies: stablarta, «talleira (por as- similagdo do 6 ao 2, eft. fallar == fel larc), Na lingua commum ha como termo nantics faded (a que o Lice. contempor. di comu etymon taferius 1), qne tem a mesma origem, deve escrever-se falleira, se se quiser adoptar a orth, etymologica. Tendaes, varas compridas, onde se prendem 08 fiévos.— Ktym.: tendo? esta para o lat. tendere, como rslendal para o lat. extendere. Tiradéra, correla que segura a carga ao burnil.— Etym.: de- viv. de fer, palayra de orvigem germanica, a que corresponde em go- tice ga-tairan, em wigho-saxdo fever, meiio-inglés feren, ingl. mod. tear, e nas linguas romanicas tirare (iL), rer, Ur), ete. Téldo, abobada do carro alemtejano, constitaida por panno.— Etym.; liez deriva isfde do lat. thotus, dizendo que o ¢ se intredn- via come em faite == umilis; was a etymulogia nde se pode aeceltity, porque os casos udo sie comparaveis, ¢ além (isso o nata- yal seria cahiy o (inter-voealice 4. Dazy, Glossaire ja cit, s. v., sup- phe feldo tirade de dofée e esta proveniente do ar. dolla, — expli- canda tambem o d como Diez explicou fuunilde, 1. 6, por epenthese; mas nao sera od vesultante da dissimilacdo de 2? Troite, trote. Na phrase sir a troifes (sobre #troitar = atro- tear 2), mas sO ouvi iste a um homem; ndv sei poix se é geral —Etym.: a palavra trote tem origem francess (trot), pois senda fvedier, d'onde vem trot, o equivalente phonetico do lat. «future (Scheler, Dict, d’étyun, fr), tal verbo lating dava em portug: wtrodare, abrandamento faci- litade ainda pela existencia de outra dental surda ua mesma palatra. Vrido, vidro.— EK’ usual noutras loealidades do pais. Lat. wl- trum ou do adj. vitreus. -Etym.: year, pacio, que cobre 6 fando eos lados do _,, 2 Supponbo que o af dy kumilde resulta de influencia de humildade = 1, hu. militas. I verdade que tashem temos rehelde 1, rebellis, mas a forma are, & reeds além d'isso, assitn come em hymilde o d corresponde, segundo me parece, aed de doanifitas, im tambien er em rebelde correspond? ao de rebeliitar i ves de rhe oweride por Dat ~ge, Glessartum, 4 v. fed. 1886), que o tre WO de ras. ae Woe “ ‘Watrino, Victorino. —A forma intermédia deve Ler sido «Fe rio, por influencia da labial inicial. Rambixuga, sangue-suga. Xiscada, retallos de um rebanho de gado. ge Zorra, rapoza, e por extensio de significago emulher de mi vida». —Em hisp. tambem ha sorra. Rectificagio No cap. da Morphologia (este artigo (10-a) empreguei a se guinte phrase: «Quando na Hispania houver philolages qué se occu- pem desenvolvidamente ¢ a sério das lingnas romanivas, etc.>. Tara, a eserever regulei-me pelo que tenho visto ultimamente publicato va Hispanha. Numa viagem porém que, depois de impressa a pagina ev: que esta aquella passagem, fiz a Madrid, convenci-me de que @ pi lologia romanica tem na Universidade ca capital do vizinko reine wn representante sério na pessoa do peal, Sanches Mognel, que, vom quanto nao haja por ora pablicade sendo alguns peqnenos trabalh: de critica bistoriea no dominio das }inguas neéo-latinas, d&, a- curso nniversitario, desenvolviments 4 sciencia philologiea, en. cial com relacdo aa hispanhol, paréugués e cataldo, & tem para pa- blicar em breve val EF? inesmo de esperar que’a phi- Jologia prosiga co fervor na Hispanha, onde aqnelle sur, conta jk alynns discipulos intelligentes ¢ applicados, entre elles D. Ramon. Menendez Pidal, joven asturiano, que se vae consagrar ao estudo de dalecto da sua previncia.— Pique assim desvanecida & ma impressis que as minkas citadas palavras poderiam deixar no anime dos leite- res que conhecessem o sympathico mavimento de Madrid. TW LINGUAGEM POPULAR DE BEIA Em junho de 1889 (pelo S. Pedro), passei em Beja parte ‘le tres dias, ¢ pude recolher os factos seguintes, observados, como de ordi- nario costume fazer, em analpbabetos, para assim evitar qaalyner me flnencia litteraria que alterasse o natural fallar do povo. A) Phonetica 1. Pronancia. a) t) ¢ tomies e aberto anves de cons ante tende Wm pores palre hai provisoriamente por." A la, Gere, SUPE, 4%; vepresenta- SBP ap REVIETA LUSITANA |, a cttes, ol'a Differe pois do ¢ que sé ouve por exemplo em até-i, pei, ete, 0 qu l & igual ao de Lisboa. * . 4) X.9 existe o £ palatisado que se ouve no Cadaval em re- coil, ee, : ec} G4, d,g, entre vogaes, tem o mesmo som que qnando ini daes ; isto €, sdo sempre explosives, O contrario succede em alguns fallares, fy Sorte ¢ Centre do pais. 2. Condensagaa. Hiz-se, como em todo o Sul, 6 = ou, ex.: ¢ rd, Mira, ptro, neie. peo, ete. No Foral de D. Affonso im (sec. xm) dado a Beja en- contrase J& varias yezes dtro outro), 0 lado de stre, . isualmente o ditongo ei se condensa em @, ex.: xéra (= chei- ° 0 (=: daneire), wadte (== azeite), # s¢ cd (= en sei ca), pita Lape ey 43 dit. ew nas seguintes expressdes condensa-se em 2: ¢ sé ed, vn mi coragia § é vd, d fui. Como se vé, a contensagado é em sylaha coberta; em syllaba descaberta o ditongo mantem-se, ex.: ‘saci us (== adeus! adens!), amures méus, O eu inicial da é em: Euphrasia); cf. noutros pontos do pais Uropa (= Europa), ufemia,—na Beira Alta). '. Ao ditengo litterario ci antes de vogal corresponde aqui éi e jeursee que tambem @: mia néte; che’, ede. 4. O dissyHaba -oa que ne Nerte se pronuncia com o 0 ditonga- da, prowuncia-se aqui sem ditongo: Eshéa, bta. a &. Oo inieial atano séa 6: ex.: drélha, Ovétha, deir, Ofrazia. — —-fgualtiente oe inteial atono, ainda que corresponde ai litterario, stad. fnila, érmito, édéa, Endeio, as terminagges -elh-, -enh-, -ej-, 0 ¢ & fechado, por ex.: dré- a; lénha, tenho; béjo, séja: tarinctho, Igualmente aléjado,° tule «se nao ditonga, como se ditonga no Norte. Excepto Lém- Wia | Alemtejo), com e aberto. « Ao es- da lingua litteraria corresponde simplesmente s, como xo Minho, na Extremadura, ete.: stive, strélla, spivito-santo, Em em- phuve pode porém ouvir-se é: éstimo, O verbo estar, em linguagem ra- pida, poonnneia-se tar, como 6 vulgar noutros pontos do Sak ° 8. nasal. ‘ru (em, it, im) atono da lingua litteraria, em syllaba ini- ~ sponde é nasal: éutrer, Gubore, énténder, éreverno. Comb ao agua litteraria coresponde geralmente nos dialectos mma i, aqui esse ¢ 6 substituido tambem por é nasal: énlustris- énteoninagao; igualmente a in- corresponde € nasal: éntornar. . Ao in (on) atono da lingua litteraria em meio de palavra cor- respoude ¢ nasal: brideedr (= brincar), péntar’(=- pintar), entéin, tén- ae sizer Vora. nasa sina F Ouss s ote sass om canto y por isea 9 ditongo Ginal di, Jia-we emphetiea-” mente em dy (ors ay . DIALROTOS ALENTEIANOS 4 ee téro (apesar de se dizer tinta). Apenas ouvi cincodnts, poryne a in finencia de cinco foi mais forte do que a tendencia phonetic « Cf Babs dialecto alemtej., pag. 10 (§ 1-4). . ¢) Ao em atona final da lingua eserita corresponde tambers ¢ ie chaito, excepto depois de j e a: séreém, dndém, cdidm, fiome dém, Depois de j e x corresponde @ nasal: eijd, Smdjd (== we 7 foja (= fogem), réxa ¢ rachem); 0 que é uma pecuharidade 1 vel d) Ao om Aonico final da lingua escrita cornesponde dim. ir tii, véntdin, cdidm, iiém, beim, No emtanto ereio que tamben. dos am, Provavelmente a regra é: C#m na emphase, ém nos outros sor — Ao.em (en) tonico inicial correspande sempre @ nasal. 9. O nasal. . . a) Ao un (wn) atono da lingua litteraria em syllaba inicla! cor responde 6 nasal: dntar (= untar). B) Ao un (um) @ on (om) dia lingna litteraria em meio de pelavre corresponde 6 nasal: jortar juntar), ebéndante, cOmprar, ¢) Ao do atono final ‘da Jingua JiMeraria (are. -om) correspuntia nasal: fordm, anddrém, stivérom. . 10, Nao se desenvolve ditongo antes de palatal: discar, oda. § 6. Igualmente pitha. . iL Na terminagao -es 0 ¢ soa stirdo ¢ nado i: pdddes, aves, avers (= pessoa do pl. acaba em -dm ¢ bo pret. em. dios: enddmos (pret.}, andibnos (presente) * b) @ verbo sev ne pres. do indic. conjuga-se assim: #4, és, 2 mos, vorés sido, elles sdo; Lo preterito: € fui, elle fot, ete. -¢) A phonetica imprime aos verbos formas especiaes: sndd (f Qa), ford {8 9-0). préndén {5 0), £9 (ib.), tine etd om (% Bab. Vi. Usase a locuedo adverial @ foo na phouse > preifiira § 9 8 be REVISSA ETSI" ANA 2 fo.4s apor essa rua a fora). — Sobre nd vid. § L4.—Sobre cupi- ald, $15.—Tambem munio muito). C) Textos populares Arvre cidréra, (vaqui ta no alpéndre, ‘Vanto mais se réga, Mais a silv’& prénie. 2. saias A cdmponéza sta béim a toda pessoas Valém mais as nussas uh termur | ca das © Aqui se cinta, aqui “qui se jog’a Jari ‘anhéco o mné amer Pelo modo da gravatinha. Pasturinha, véim cémigo, Amores meus, Dew gado, dex’ serra Pasturinh’ adés, adens. Estianno ha manto linko, EF’ sinal d’haver-linhaca : Ha munta mocga pedida, Por causa da desgraga. Ahali de Sant’ Antao, Fui dar 6 Convénto-Novo; ‘Na vi cidade e na povo Com maior sparaciio : Ol's altar de Sa-Todeo, Com diténti = uma Inz, ‘a Sinhora da pé da cruz Pra sémpri * améim Jazus. Um cnpinhe @agna ardénte, Um beéjiuhe d'uma menina Fazém a gént’ andar quénte. Certamente qne,-se tivessemos de julgar por éste curto espécime ¢ talento poetica dos bejenses, o juizo nao lhes seria nite favoravel; mas foi 6 isto o qne pude coihér. D) Vocabulario Este yocabulario é realmente pequeno, mas, no porce temps que eetive em Beja, nao pude recoller mais vocabulos, Adevinhagdo, aa Popular. Afora ou a fora. Vid. Agna. Assim se diz e who tinge an dugua. Alferce, especie de saxola estreita, com uns dois palmos de canpride, e curva. E’ para fazer a pléned. Aplancar, arrancar a terra com matto, ete. Arve, arvore.— De areve (dissimilacao). 2 as fir, fournure, por disshmilagio das Nene. 2 Aghi eden ¢ segendo a regra geral: gan 6 & Vil. a nota precedente. . @ atone tes da vogal peda DIALECTOS ALEMTEFANOS 45 Arvze, outra firma de arvore, em virtude da tendencia qre > povo tem para reduzir os esduxules a graves. + Balhar, bailar. Bascdgo, pescago. Comigo, comigo. Esta forma, assim com d fechala, res!’ dente de cém, é muito usada no Sul. Talvez mesmo se diga ei Cuxdrro, coxo. — Vid. Dial. alemiej., 1, Voenb., 8. ¥. ~ Drumir, dormir. No pres. dréine.— Forma muita ugada iarlssa noutras pontos, mesma nO Norte. Faim, arma antiga.— ‘Nos dice. vem como significande espactie Folga, sésta. Ex. edrumir a fdiges.— Do verbo folyair fai follicare. Gudiana, Guadiana. Di a Gnadiana @ ria da Gontad ‘Tambem assim ouvi 10 ‘Alandveal, ele. — Foi a termine ce bee com gue o nome do ris se torna: feminine, Janero, seixo ou pedra relada pelas aguas, Mas peqte t+ Na Peira-Alla diz-se jiga © joguinha. Legua. Assim se diz, ¢ nao lenge. Lemtéjo, Alemtejo.— Ctr. § 6. Menza, meza. Muito usnal no Sal. Muiéto, especie de ber ala com bastio que forma angus recta cam » resto da bengala.— Ctr aed", Munto, muito. — Usnal noutres poutes. Planca, arrancamento da terra com matto, ete. Qanto, quanto. — Vulgarissime no Norte, Ressio, campo grande ¢ ineulto, em volta das pevoagbes. Rozaira, Rosaria. —Frequente nontros poutos. Sania, valléta mu campo. Toino, ‘Antonio. — Tambem usual na Extremadura, etc. Vurmelho, vermetho. — Influencia da labial inicial. TV LINGUAGEM POPTLAR DE SERTA 1. Na Memoria histovieo-cconomiea do concelho de Serpa, por! Affreixo, Coimbra 1884, pag. 134 acha-se a seguinte lista de bujes usados em Serpa, a qual ev copio, addicionando-The a notas entre colchetes: Amanhar, consertar. Ex.: emander amanhar ae botas, as ealgas, 0 6 6 etew— (Uf. Dial. ademiey.. 0, Vor sah " ib, § Rianne, sem acgde, Ext wAs sanguesugns Gearam atualass eue CT 1 jor Lat. aftenscttusle A aerieuador nie tiraran Avacuar, prcstriys | af REVISTA LUSITANA Avondo, bastante. sTem avondow. Barda (em), mnito, »Teve milho em barda». Borco (de, em prostraciy. «Cabin de boreos. Consertar, ajustar. «Consertou-se per criado ov criada.» Endrominas, palavras engavosas. «Isso silo endréminas tuas». Engrimangos, grapas inipertinentes. «Nao me estejas com eugrimangos, [Pa- w pertencer 4 meama familia de palavras que o fr. grimace, sobre que se veja re @ Scheleri. . A . Entregdsto, costélla. »Frigir entregésto de porcos, [Do lat. inter-costa(m), que den entrecdsta, em que houve mudanga de terminagiio para indicar 0 masc | Esbrucinay, debrugar. «Esbrueina-se no pocos. Estamarrado, casual. «Teve uma febre estamarradas. Estribuir, estragar. ¢Estribuiu Inga o dinheiros. [De (djistribuir). _ Etigo, tisieo. “Esta mulher est’ dtigas. [De hectico|. Fema, femes. + Fofes, phosphoros. (Na Beira-Alta séfres]. » Grossina, suberridade. «Tem grasgina na lingnas quer dizer que tem a Tin- saa gaburioss. | Incerne, euidadoso. «F;' muito frcerne no trabalhoc. [De acerrimo?}. Incolito, incognito. eFilho de pues drcolitas». Poliquitenta, dificil de contentar em comidas, que ndo gosta de comidas, on come pouco. {De politiquento), : Supremo (jer), cobrir. «Por suprémo a teu filbow. Tenico, brando. «E” uma doenga fentcas. O A. dig que teve em vista uma colleeg& de darbarismas ser- penses, mas no indica se era manuserita, se era impressa. Pela infor- wmagde particular de um men amigo, sei que essa callecedo era ms. e java feita por um medico; eifectivamente a natureza dos termos trans- crites confirma o facto. 2 Tendo sé passado em Serpa uma noite (no 8. Pedro de 1889), apenas pude notar 6 seguinte: : . «) Phonetica. Ouvi tres especies de ¢: um aberto, correspondents ao de Lisboa, ex.: pei, atd-i; outre como o ¢ hispanbal, correspondente ao nosso é ex.: S, Pedra, esta, tésma; outro representado por é ¢ cor- responderte & syllava ef, ex.: sefur (== ceifar), Nao existe 6 nem «- 4) Vocabulari . Acéfar, ceifar. - Caléra, couro que se poe no culo da mao para agafrar o cabo do Instrumente com que se séga o trigo, ete. + Dedéra, coiro"que enveive o dedo. indicador ao fazer-se o ser- vicg da ceifa. . Faziléra, bolsa de coiro onde se guardam os petrechos para aecender 0 cigarre, — pederneira, isca e fuzil, Ganadéro, pastor em geral. Ha em especial dvelhéra, cabrévo, porquéra, ete. . a . . Granal, campo de milho.--Do lat. granem. Ha casos em que vm som, que desapparece na palavra primitiva, reapparece na deri- ‘e‘a: parece ser aqui um d’esses, em relagdo ao # (grdo, granal), * Manajéra, manajéro. Muther e homem que dirigem respecti- yament© as ontras mulheres e homens que trabalham pe campo. DIALECTS ALEMTRJANOS 45 Manguéra, especie de manga de coiro para o brace direito, no trabalho da ceifa. - Pellico, especie de casaco (mas sem mangas), feite de pelle que conserva junta a la. -»Rabaditha, osso coceyx (extremo da columna vertebral). _ Samarra, jaqueta sem mangas, feita de pelle de ovelha ou car- neire, Samarro, bolsa de coiro para os pastores guardarem os uten- silios com que executam os seus trabalhos de mao, por ex. colkéres, tarros, étc. SéfGes, gafses. Tambem em lingua mais culta se diz acifties. Vo-se aqui a influencia phonetiea do verbo ceifar.—Os sefoes sho guardas de pelle para as pernas « cintura; usio-se em todas as estaghes— Este vestuaria tambem o obseryei na provincia de Caceres (Hispanha), onde Ihe onvi dar 0 nome de zajones (com =e Jj, segundo a pronincia hispanhola); como em alguns dialectos hispanhoes, corresponde j & he (cfr. o men Dial, hisparo-estremeny, 2° ed., pag. 4). pode ser que aquella firma esteja por #zahones == «zafones (pois que, ua phonetica hisp.; temos & <<), que se ayizinka da pertnguesa ¢ the da algama luz para a etymologia, por causa do ¢ inicial, que no nosse dialectu se acha representado por s(¢). Nota @ pag. 22, sobre «copo» Por. inadvertencia disse en a pag. 22 que a forma cope 3 genta, em «copithan; mas tal née 6, porque op intervocalico abrandaria nor- malmente em 4, 0 que se deu no are. poboo, de populus, exemplo que eu citel ao pé d'aquelle, Por tante o lat. poculum fiea representado em port. sé por cécho (cbx0). J. Laie pe VasconcenLos. 1G REVISTA LUSITANA TRADICOES POPULARES ACOREANAS i. Cantigas populares 1d ’é! quis, tu nd quijeste?, 7 Ja nao tenho a quem conte i avas * qu’eras mas qu’eu. mauas 9 de meu coracdo. Ya que th me queres, Hei-de fazer uma cova; averva nd quera en. hei-de erterra-las no chao. ¥ Ee qnijera Pir * eomtigo, 8 O meu regalo 6 cantar, ae en comtiga dia bem, onde estio tres raparigas. ~-ndo fosse, pola falta Uma lé, outra escreve, 48 eu faco a nha mae. ontra soletra as cantigas. 3 Ax tuas bizias 5, menina, 9 Tenho catarrho nas unhas, sio uma flanta afinada. defluxo nas orelhas; «ada fala que purferes anda-me a cahega 4 roda, € uma duria bem cantada. amarga-me as sobrancelhas. 4 Oh minha bella menina, 10 Todas as mogas me querem, men grado de trigo na ieira *, porque eu san bom calatate; simeado no domings, mas en nao quero a ellas, uada 7 na segunda feira, porque ellas nao fem remate, 5 Em nome de Deus. Amen. 11 Pra te amar deixei a Deus, eu j& vou principiando : por teu amor me perdi; quem me qnizer ajudar, agora me yeu sd, J2 se péde ir pupurando *. sem Deus, sem amor de ti, * t) sel pergunton 4 lua 12 Eu namorei ama velha, bela vida dos casados, sé pelas trangas que tinha ; A lua The responden : veju o vente, veil a neve, ‘e imporfe (m) os meus euldados. Jevon-lhe toda a carpinha. ew. Cit. d. Leite de Vaseoneellos, Sub-dialecto alemtejano, p. 5. ‘djeste em viraste quivaste devide & influeucia da vogsl palxtal como em yes wor sungl quisi, Lit. gnacai, ete, Ct. Corm, Gruudrise, 1, 171. 8 das wor euisteer we na Tiagua antiga. 4 F scompankads de de é comme na linguagem dos Agéres, 1 1 dslas == vores ‘iva por eira, como a-iagua, a-iaims ete., para evitar 0 hiato. “ado, forma antign que se wea ainda koje na phrase eu! nado. * Preparando. Méua por mégoa ndo & raro no povo agoreano. . TRADICOHS POPULARES AGOREANAS 4 13 Amor perfeito plantado em qnalquer parte, enverdece ; so em peito (horem vil amor perfeito fenece. 14 Quatre cousas quer Men amo dam criado que o serve: deitar tarde, levantar cedo, comer pouco, andar alegre. 17 (Quando entrei nesta casa, pio ansel de cortuzia 4; agora que eston ca dentro guarde Deus a bizarvia. 18 Quando en sai de casa, ‘stava em ir, nao irei; a lambrar-me os teus olhos, mais Gepressa caminhei. 15 Marafona tem uma sala, 19 Agora vamos entrando * com cem varas de cambraia: no yancho da formusura: depois d'ella feita aqui nao lia que escolher, inda disse que era estreita. cada um pegue na sna. 16 Este mundo é uma bolla, 20 Saltei domingo em terr quem governa é 0 Paréla. meu dinheiro era nm pataco; © Pardla j& morreu. dei um bordo por @avante, Quem governa agora? Sou eu. fui gasta-lo ae Bairro-Alto. IL Fados 1 Engracia, minha Engracia, se queres viver contente, fore, vem ser companheira deste fadista decente. 2 Seo padre santo soubesse o gosto que o fale tem, viria de Roma aqui dangar o fado taribem. 3 Se og meus olhos te nado vissem, men juizo nao pensava, men peito ndo sé abria, men coracéo ndo te amava. UI. Rimage infantis 1 Besouro, besoure °, eala-te, moqo; senio, en vou-te ao couro. Cortusia por covtezia. wows Cunta-se ds vezes ao comegar a fol, Otho besouro na linguagem do povo fayalense significa alhoyfeto. Gécoe & terao popular por inbamee. : 2, Meio dia: panella ao Jume, harriga vazia. Uma hora: cdcos * ao lume yrra gente de fora. _ 48> REVISTA LUSITANA * IV. Jogo infantil . — Um e¢ dois ¢ angelina, . Se contares e n&o errares, fica o pé na pampolina. Winte quatro achares. Oh rapaz, que jogo faz? Cevada madura, ~-— Fago 0 jogo do capao, trigo lotro. o-capdo sobre capao. Cala-te, mogo, - Conta bem, Manoel Jiao. sendo eu you-te & - ao coure. V. Ave Maria ! : 7 1 Ave Maria, 2 Cheia de graga que neste dia. viste-la a taga de pranto e dor heber de fel. . yistes 0 martyria Mai sem.conforto, do Salvador. . do filho. morte viste o painel. . 3 O Senhor é comtigo uo eterno abrigo da salvagaa, Virgem celeste que.aqui sofrestes eruel paix&o. VI. Oragito de S. Silvestre # Eu te benzo F..-:, em cruz, em nome de Jesus. . F... foi o nome que te prseram na pia em nome de Deus e da Virgem Maria. Eu te benze empecina * com o sangue justo-e dino de mew Senor Jesus Christo. Se isso & cubranto * ou olbo me, on ramo de inyeja, ou rapo de excommunhac ou de ontra qualquer doenga, - . ou de vivo ou de morto, 1 (Esta poesia vise que nab é de origem popular, Come as estrophes 2+ ¢ ‘Be so sestilhas de férmula aadced, é claro que pa 1 falta tm verso—J. L, ne V5 2 Esta oragdo, que segundo me oliservou o snr. Leite de Vasconcelos, de- via antes ser chamada. ensalme, reza-se coutra‘es lobis-homens. Foi-me communi. ~ cada pelo men amigo o snr. Mancelata Silva-Greaves, do Fayal. 3 tempecifho ow a persigne? — J. Lox Fi. 4 . 4 Por quebranto. (fr. o snr. G. Viana, in fitudes de gram: port, 1884, pag, 8,—cubrados = quebrados. . “ “pranicdes: POPULARES AQOREANAS . 49 . Messe corpo s¢ queira tirar e dquelle mar se. va botar. Em nome do Padre, do Filho e do Espirito Santo, eu hao te pari nem te eriei, esse mal te tirarei. Santa Anna pariu Maria, Maria pariu .fesus, Santa Isabel a 8. Joao Baptista. . . Assim como isto é verdadeira verdade, . assim tu te queiras tirar. ,La no rio Jordaa perguntor Christo ao snr. S. Joao: qual de nés fai mais bem baptisade ? —Senhor, fui eu das vossas divinas maos. Em nome do Padre, do Filho e do Espirito Sante. Amen. VII. Formulas ¢ dictados populares e Perguntei ao S. Bartholomer Se mente mais do que en. we Barriga lisa, nio quer camisa. . Ver S. Jorge a cavallo. mw Ver o diabo em fralda. : 5 Da mana da minha comadre fiz uma papia ao meu aflhado. 6 Quer que sim, quer que nao, esta o macaco no caldeirao. Este dictads refare-se nos Agores as mais das vezes ao povo da itha das Flores que é considerado como muito simples. Conta-se, com respeito a isso, o que Be segue: Uma pessoa das Flores compréu uma lagosta, e pela sua muita simplicidade e ignorancia nao soube amarrar-Jhe as pernas bem amar- radas antes de a pir a cozinhar. Quando a agua comegou a aquecer | ‘bastante, a lagosta comecou a dar grandes saltes no ¢aldeirao. Co- mecon a familia a discutir que era corsa ma que estava no caldeirao. ‘Um dos membros da familia, que teve mais coragem de se aproximar » do Inme, voltou ‘dizendo: Ai querida!! pelo que sim, pelo que nao, 0 macaco * esti (metido) no caldeirao. 7 Muito bem se canta na sé, uns sentados e outros em pé. » 1 Ai, querida! locngio exelamdtoria que a gente agoreana usa frequentissi~ mariente para com todos, até Pare com of sen inimnigos. Talver que osta phrase * tenha relacéo com a expressio bemgueria om Si de Miranda (103, 63 ‘dn od. de D. Caralina Michaelis de V.). € .2 Agente agoteana diz macaco para nis dizer diabo. key. yustr, vol 1, fase. 1. ‘ 4 bo REVISTA LUSITANA VILL. Grencas populares 1. A LENDA DA CODOENIZ B DA LARANDEIRA * Quando, na Judea, nossa Senhora, fagindo 4 sanguinaria sanha de Heredes, foi procurar seguro abrigo para o seu bemiito filho nas terras do Hgypto, para ali se dirigin montada nom jamento, com o menino Jesus nos braces ¢ accompanhada de Sao José, sew espose. Temendo algura arriscado encontro com os emissarios de Herodes, preenrava este casal os caminlos mais desviados, ¢ ainda assim com o wnaior vesguardo. Tinham por yexes 9s fugitives de atravessar gran- des restevas, campos descobertos, ¢ nessas oceasiies & que o perigo de serem retidos era. mais imminente. Augmentou ainda, porém, este pessima situagda a codorniz que, ergnendo-se das restevas espavorida soltande a yer e@ voando ras- teira, ia na frente, dennneiando assim que alguem por ali passava. ‘Ao contrario (isto, a labandeira, sempre alrosa € saltitante, vinha, ‘com as suas lindas azinhas e comprida canda, apagar as pegadas do jumento para que ninguem pudesse dar pelo rumo que os fugitives levayam. D'ahi provém o prestigio que esta avezinha gaza entre 6 pove, sendo prenuncio de ventura ow de algum favoravel acontecimento qnando yem pousar junto de qualymer pessoa, ao passo que a codor- niz & mal vista, passando por multe inexeriqueira. Para as laband: yas olham sempre supersticiosaments os campanezes: € quando estae a chilrar, o que @ raro, tomam aqnills como aviso, que ellas hes yer dar, de algun extraordinario acontecimento, z 2. uM coNTO POPULAR * No «Correia Michaelenses de 25 de Agosto de 1889 acha-se mma versio do coute faialense de «E? a fe que nos salva ¢ nlo o pao. da harea> publicade por mim na Aeitechrift fiir romenische Philutogie, xm, pag. 11, que ereio digna de ser transeripta na Ieciwu Liesitana. Rite atyui: «Uma rapariga que estava muito doente, & ja desenganada dos medicos, pediu ao noive, que ia a Jerusalem, que ihe trouxesse da gidade santa um pedaco da madeira da crag em que Christo fei pre- gado, para tomar em vinho, a ver se assim melhorava. O namorado esqneceu-se do pedido da moribunda, e, na volta, cortou Um bocadu 1 Esta lenda, devo-a 4 amabilidade do snr. Eynesto de Lacerda de Laval- liére Rebello, da Horta (Faial). ® [Kate conto era ha trinta anos muile popular em Lisboa, ¢ é dele memo- tia o ditado: ea f¢ nus salvar. —G. Vi). TRADICORS POPULARES ACOREANAS Al da madeira do navio em que vinha, para enganar a rapariga; e como esta se achasse curada completamente depois de o tomar, dissolvide em vinho, elle entao commentava: «A fé é que nos salva, neja o pao da barca.» 3. 0S LABREGOS Com respeito a esta crenca conta-se o seguinte: Uma mulher vella, muito religiosa, moradora nas proximidades de uma ribeira na freguesia de Castello Branco d'esta ilha ', pedia sempre a Deus em snas oragies que lhe permittisse ver on conhecer os labregos. Numa noite, estando sentada na soleira da sua porta a rezar, em horas ji adeantadas, 4 mefa noite, segundo calenlava, appa- receu-lhe um homem trazendo um bastdo e umas alparcas, pedindo & velha que Ihe deixasse guardar estas ali, na sua casa, ao que ella respundeu que as arremessasse para dentro de casa. Passado algun tempo, sem que apparecesse o dono das alparcas, a vellia contava @ snecedido 4s pessoas suas conhecidas, dizendo-lies que linha em seu poder aquellas alpareas, ainda no mesmo logar para onde as tinka arremessado o homem: que as desejava entregar ao dono, mas igno- rando quem quer que fosse, se via embaracada na realizacdo dessa entrega. Finalmente, passados meses, numa noite & mesma hora, achando-se ella sentada no mesmo logar, entregue ae seu habite de regar, the apparecen o mesmo individao em procura clas alpareas de- positadas anteriormente, ao que ella respondeu: Entre yocemercé & va busca-las, pois estdo no mesmo logar em que ag deixou. Ele, to- mando-as, dissera & velha que nado tornasse a ter desejas de yer os la- “bregos, nem que estivesse por ali 4quelas horas. Ao que a pobre ye- Tha assustada nada responden. RB 4. ILHA BNCANTADA Ainda se ouve aqui? falar de uma ilha encantada ao lado do Pico, que ja foi vista na noite de S. Jodo, 4 meia noite, por mais de uma vez, por pessoas ('aquella e d’esta ilha, para descobrir a qual se precisa infallivelmente que a pessoa que a avista nao levante d'ella og olhos em quanto nao for pisada por cutra ou outyas pessoas; mas que nunca foi descoberta, pela inconstancia dos olhos d’aquellas pes- soas que casualmente a tem visto naquella santa noite, porque reti- rada a vista, encanta-se novamente. wi 21 Estas noticias sobre 6 lobis-homem devo-as 4 obseqnicsidade do snr. Ma- noel da Silva Greaves da Horta (ilha do Faial), que me diz que algumas vezes se ouve prineipalmente na ha do Pico chamar-e¢ labrigo a qualquer pessoa no sentido de demonio. 2 Na ilha do Fainl. Os riumeros 4 ¢ 5 foram-me veferidos pelo mesmo ca- « yalheiro fainlense, a 52 REVISTA LUSITANA 5, ENCANTADOS Nestas ilhas e em certos logares tanbem existem encantados, re- yelando-se a sua existencia pelo cheivo de pao quente nesses sitios. Na ribelra da fregnesia da Praia,por exemplo, ha 70 annos, pouco. mais ou menes (pessoas hia que o ouviram dos proprios com quem se deu o facto), estando alguns vapazes entretidas, inesmo de dia nas proximidades diuma rocha on gruta, de repente viram uma alya toalha estendida e sobre ella pio, apparecendo ao mesmo tempo wma mao com gesto de chamamento ot convite gido aos rapazes, que assustados deram immediatamente ds de Vitla Diogo, udo espe- rando pelo resto. ro 6, VARIA Uma mulher aleijon d’uma pera sem se saber 0 motive. Um dia que ella abriu mma caisn para mostrar a uma amiga um crucifixe que alii tinha, esta Ihe perguntou sb ella jamais se tina sentado so- bre aquella caixa. Ella disse-Ihe que sim. «His o que te aleijou; 0 _peceado de te sentares sobre a imagem do senhors. A aleijada nenea ~ mais se sentow alli, « em pouco tempo ficou perteitamente boa. A primeira roups que se da pela alma @um cefunio é a mesma elle se apresenta deante do padre eterno para receber a Sua sentenca. Quando se onve o primeiro tremor de terra, tliz-se: Esperemos pela resposta (i. é, o segundo tremor). IX. Respigas de vocabulario agoreano Alhora! interjeigdo demonstrative de espanto ou admiragio, ynlgarissima nas illias do Faial e:do Pico, Por exemplo: alhora. 0 ho- me(m)! significa a aidmiracdo que causa o falar ow a accho de qual- quer individuo.— Nao sera ollie ova? aché! interjeic¢da commum na itha das Flores significando: muito bom, magnifico. Exemplo:— Este peixe esth saboresa.— Ache! amoroso ==: macio, plano, sem asperezas. Diz a gente do cam- po: pio amoroso == fing ¢ doce; caminho a. = bem caminho, ¢. sem accidentes. arriba, adv., * ingeirar = alinhar, por em fila. . Exem- reprehen- s nas festas do Espirito Santo; 2) fo- 1 Como me diz a snr, Leite de Vasemeellos, esta phriise tambem ae use em Portugal. * 54 REVISTA LUSTTANA lagarto. Ah Iagarto! Vale 0 mesmo que: Ah mariola! e é ex- clamacdo bastante commum entre as classes maritimas. Nao se deve confandir a significagzo d’esta palavra, que aqui designa um peixe, com @ nome do animal reptil oviparc, que nao é conhecide nos Acéres. mar amarello. Esta expressio, que se encontra em diversas invocagées populares, significa . FE’ trivialissima maneira de dizer nas ilhas dy faial e do Pico. Diz-se, por exemplo: Sugigue-me vm. por essa escada abaixo, ole nao caia. tamusear. EF terme antigo nsado em algumas remotas fregue- sias da ilha do Pico, significando dermitar, pegar levemente no som- ne. Exemplo: Eu estava tamuseando no matto quanda me quiseram furtar o meu feixe de lenha; valeu-me isso, pois se estivesse aferrado - no sonins, perdia-c de certo. — Ouvi-e j& a luso-americanos. a télo, a télo! Na linguagem maritima é vez de commando du- rante a tormenta para que a embarcagéio vd lentamente @encontre 4 vaga. terragos. Designam-se assim, na ilha do Faial, os habitarites dum bairro proximo do mar, na fregnesia da Conceigao (Horta), A linguagem @esta gente é um portugués téo modificado que por vezes mal se pode entender. Cunservam usos @ costumes differentes dos da generalidade do povo, e até ha poneos annos viviam extremados dos 4 {Muitas yozes ouvi na Beira-Alta diser: oF, vem hoje mnito modernos— phrase em que moderne siguificava calado, socegado, ineinuante, ete.—J. L. oz Vi} TRADICOES POPULARES ACOREANAS 5B Hartenses, casando stmente na sna propria tribu. S&a todos pesca- dores. De pessoa que falla muito ¢ esganigadamente, diz-se: Aquelle parece tam terrace * vaga (mandar A—), termo mavitime que significa governar Ema embarcacdo. Figuradamente: ter a direccao de qnalqner empresa. + vardasca (ser nm—), 6 ser um moco forte e feliz, ou atrevido com as mulhere: vento carpinteiro! o vento sueste, que nado é seguro na babia da Horta, havende per vezes naufragios que fazer: em hastilhas as embareagées. Lahi o nome do vente vento esfola vaccas, ¢ 0 vento oeste, chamado tambem venta de cima da lerva, no Kayal. Sendo assaz aspero e com pancadas de neve durante o inverna, du prejuizs que causa av gado lhe advem si- milbante alcunba. vestimenta d’alma, significa a youpa, o trajo usual de qual- quer pessoa fallecida, que é de rigor dar a algum pebre logo depois do obite, para deseanso do espirite do defunto. Virgem !—~é exclamnciv peculiar da ilha das Flores e mais designadamente ainda da freguesia ja-Grande, 2 demonstra espanto. Exemplo: Quanto cusiam estes figos?— A vintem cada um. — Qai, virgem: vir com o8 pés nas m4os, ‘windar com presentes. Esta locu- cao provém do costume de a gente de campo, quando visita a da ci- dade, sempre The trazer de presente alguma ave. Cfr. em Lishea — latter dé porta con ox pies, gangarilhdo, figura comica de velo em comeiias populares. Lisboa, 10 dy Mazyu de 180, H.R. Lae. Appendice amoroso: usade no sentida de «macios. veja «Vocabulario de Cabeceiras de Bastos nor vol desta evista, pag. 220. phonideco: bene et aeqno (7) confégso: em Lisboa diz-se <0 santo confésso» na mesma acce- pede; efr. o francés eer & la confesse, Sho nomes verbaes, como en- gpetge, presse, — de rip ster. contrigées clr. em Lishoa constuigto == eon- stituigao. enchareo, i. mieten por atantel, pifaio: tamhem usado em Lisboa no mesmo sentido. euchavén por encharel (cfr. eacharelado), como GY. “1 Communieagie de sur. Ernesto Rebello, a qnem devo a maior parte das infirmagies sobre 0 emprego das vozes que vio publicadas noste artigo. 56 : ‘REVISTA LUSTTANA TRANSDRIGAG. PORTUGUESA DE WOMES: PADPAIDS ESIMLAS PERTENCENTES A IDIOMAS FALADOS NaS COLONIAS PORTUGUESAS I.- AFRICA a) Linguas bantes ou cafriain, Tem Portugal um dilatado dominio em Africa, e no interéssé da manutencdo e ampliagdo désse dominio é da maior converiencia que a lingua portuguesa ali adquira prepondérancia maior do que.a ja al~ cangada. Para esse fim deve o seu estndo ser lé difundido por todos os meios de propaganda decorosa, e com esse estudo ser também di- vulgado o seu modo de escrita. Os Ingleses ortografam em jeral os nomes africanos segundo o valor que d4o na sua lingua ds-letras do alfabeto latino, e assim também os de outras possesses, aonde chega a sua potente iniciativa; e se na India eles adoptaram transcricdo es- pecial, que contradiz em muite a significagdo usual-das vogais do seu alfabeto, é isso devido a que tinham de transliterar metédicamente silabarios indijenas de linguas cultas. Os Franceses e as Alemaes pro- cedem de modo andlogo; e, com relagdo a estes iiltimios, ja ndo sao poncos em Africa os nomes jeogrSficos é étnicos escritos com fei tudesca. Cumpre, portantu, que em todas as denominagdes impostas ou aceilas por Portugneses avulte a ortegrafia portuguesa camo sélo es- pecial, designative: da autoridade moral cu material da nagéo nesses pontos, continuando-se nisto a respeitar a tradicdo nacional. A ortografia, pois, que convém adoptar é a tradicional, a dos nos- sos cronistas e dos escritores dos séculos anteriores ao-actual, e mes- mo dos nossos dias, ¢ carece esta apenas de ser regularizada, Tem « por base o valor qué as letras-do dlfabeto. romano adquiriram em por- tugués; é patrimonie nosso e caracteristica. da antonomia nacional; faz parte integrante dz nossa fisionomia étnica, assim como ontra cual- quer feic&o especial ¢ assinalada que nos diference dos demais povos, “Nao devemos dela abdicar, conseguintemente, em favor de ortografias. estranhas, que néc valem mais, visto que nenhuma,das nacdes que utilizam o alfabeto latino a possui tao perfeita, que seja razoavel des- nacionalizarmo-nos em proveito de outrem; ao contrario, as grafias inglesas, alemas ou francesas sio para esse efeito muito mais incon- ” gruentes do que-a nossa, como fora facil provar clarissimamente. Na realidade, n&o h& uma tnica letra, um s6 gruyo de letras do alfabeto histérico, na sua derradeira forma vulgar—a enropeia mo- - derna, que tenha um valor reconhecidamente constante ein todas ag TRANSCRIGA0 PORTUGDESA DE NOMES PROPRIGS E COMUNS _ 5? nacdes que déste alfabeto se servem. ¢Que vantajem haveria, pois, em desnataralizarmos 2 nossa nomenclatura jeografica e etnogratica com a adopgio de simbolos exdticos, como k, y, w, impedindo assim a . fusfio, no tesoure comum das digdes patrias, a muitos: vocdbulos inte- ressantissimos, que se tornam em breve elementos indispensdveis da linguajem de tantds conterraneos nesses, que residem além-mar? Es- crever Kongo, Kilwa, Nyassa (os dois iltimos falseando-Ihes talvez a pro- nunciag&o) por Conyo, Quiloa, Nkaca ou Niaca podera ser mais pito- reseo em estilo de romance campanude, pois ja Victor Hugo disse que tais letras eram essencialmente remanticas, mas néo é de certo de- monstragdo cabal de bom senso e de respeito pelas consas.da patria. Os Holandeses impuserain de vez 0 sen modo de ortografar nos vock- ~ bulos malaios que teem adoptado e que deturpados exportam para as outras nacdes, onde eles adquirem curse conservando & marca do ex- portador. E’ necessario que facamos o mesmo, para que evitemos a bastardeacdo da nossa lingua. Escrevermos kitenda euando nos refe- rimos a feiras africanas, € quitands cuando o mesmo vordbulo é apli- ‘eado a um pdsto de venda ambulante no continente, sera tudo, menos prova de sensatez ¢ caerencia, por isso que éste yoc’bale é absolute- mente o mesmo qué v outro, a que se da aspecto diferente sem fun- damento. © alfabeto portugués com os sens valores tradicionais e normais adapta-se perfeitamentée & representagdo dos sons qne constittiem as linguas ,cafriais e ao feitio dos sens vocabulos, e portante a escrita dos nomes étnicos, jeogriticos, pessoais ou outros, qne estes idiomas nos ministram: ampliado esse alfaleto com alguns poncos sinais dia, ~ critices, j4 conhecidos em jeral, podera servir igualmente para todo o trabalho lexicografico ou gramatical que se queira executar, e para a publicagdo de cuaisquer textos’dessas linguas, direi até que de todas as dos nossos dominios africanos. . Neste século interrompemos a tradigdo da escrita portugnesa, e é-necessario qne voltemos a ela; interrompemo-la seientemen sem razio nem yaitajem, preocupades por uma falsa nogao—a da ignorancia dos nossos cronistas @ viajantes. Os mais justamente con- ceitnades dos nesses escritores modernes teem concerrido, concorrem ainda:para a difusdc désse érro, namorades das grafias estranhas; que, fora de casos raros e individuais, sao pures caprichos de insciencia ou de amor A novidade; cegamente namaorados, direi: a, mais leve refle- xdo levaria, em verdade, esses Iucidos espiritos a verem bem, se nao cerrassem de tado em todo as palpebras. Nao cito factos nem nomes, an&o ser que m’os pecam; apontarel apenas um exemplo para que fique bem patente o preconceito a que me refiro. > A letya & tem de tempos remotos na peninsula hispanica o valor de fricativa palatal surda, equivalente 4 que no francés, no inglés ¢ no alemdo de hoje & respectivamente representada por oh, sf, sch, O voedbulo arAbieo, que os nossos antigos escritores ortografaram em _ Portugués weque, reaparece-nos trajado modernamente de um dos mo- 58 REVISTA LUSITANA dos seguintes: chett, sheik, scheik, ¢Que fundamento, que razées tire- rain pois o8 recentes escritores portugueses para tal desfiguracaéo ? Cuando se confessam, dizem-nos que os nossos antigos escreviam esses homes como os ouviam, e que o8 ouviam mal. 2H vos, que assim o afirmais, j4 os ouvistes? gE se os ndo on- vistes, quem ves afianga que o estranjeiro os ouga agora melhor do que eles os onviram entdo ? No vocabulo de qne me servi para exemplo of a mais on a me- nos poderia ser erro de ouvido, e uao entrarel agora na apreciagds de cual fora mais exacto, se regue, se xeiyue ; mas com relagdo ao som inicial, em qué sda dele melhores representacdes do que a os grapes eh, sh, sch? Nenham portugués erraré o valor do x neste vocdbulo, eménanto que sh, sch serao wn enigma para quem n&o conhecer o sen emprégo em inglés e em alemdo, eo ch indnzira em érro um transmon- tano, um minhote ou um beirdo serrano '. Um fancionario portugués *, que preston netaveis servicos ne Ul tramar, ao traduzir a obra de Cameron «Across Africas, entenden, ¢ por isso merece franco aplause, que devia, como faz, dar ortografia portuguesa aos nomes e vocabulos africanos, alterando a que Jhes dera o autor, ou antes restituindo-Ihes a forma portuguesa tradicional, qne éste deturpara. ¢ Porque nao ba de ser por todos seguide tao bom exemplo, que nde é tnico e isolado felizmente ? Metodizar a transcricio portugnesa dos vocdhulos pertencentes a linguas estranhas analfabéticas 6 contribuir para a sua nacionali- zacdo, e nao creia que argumentos ponderosos militem em favor de cuaisquer opinides discurdes. Contra a ortografia puramente portu- guesa assim aplicada haveria apenas, com razdo, a opr uma transczi- 1 © snr, Vasooncellos Abreu escreveu xeque no seu interessantissimo livre eA Literatura ¢ a Relijide dos Arias ua Indiar, Paris 1885. 2 Francisco de Salles Lencastre—V.L. Cameron | Atravez da Africa [ gem de Zanzibar a Beaguela { traduzida do inglez | por | — Lisboa. Livraria Es tora de Mattos Moreira & C4 1880.—Devo também mencionar aqui wn trabalho, precioso por tantos titulos, e no cual foi adoptada a ortogradia portuguesa pare. us voeibulos sfricanos: refiro-me ao optiseulo do Sar. Conde de Ficalho: «Plavtas Uteig da Africa Portuguezas. Fé tanto mais de encarecer a eleigio dessa ortagra- fig, feita pelo autor, ceanto, pela natnreca da obra, cle serig levado a expediente eoutrario, se mio tivesse sobre tal object opinido assente Vemos também que no excellente mapa da provincia de Angola, publicade pela Commissio de eartografia em 1885, x nomenclatura ¢ portugnesa, represia- tula por uma ortografia nacional, que se poderia dizer irrepr Jando seren as seguintes imperfeigces, que eumpre cory de varias ‘letras, como em Henguelia, Ganguella, Anbuella por Benguola, Gangueis, Ambueia, sendo certa que tal jeminagio nio tem explicagio nem na prontineia por ‘tuguesa nem na dos indijenas; LI dietingdia entre g e j representatives de sons ana- Joges, como em Munjola, Malange, sem fundamento étimolijieo-que a justifique ou motive racionalmente ; I emprégo de gua em vez de cua om Cuanhama, Cuama- to, Cuambe, eseritos Quanhama, Quamais, Quamdbe; os grapes nd, ng, etc., emi que n fez silaba por si ad, como em Ngola, Ndumbo; IV a incerteza do sistema de acentuagdo grifica, a qual ndo obedece # prineipios fixes e detinidos, TRANSCRICAO PORTUGUESA DE NOMES PROPRIOS E COMUNS 59 ¢&o jeral, a que se submetessem todas as nagdes, sacrificando-lhe as suas grafias proprias. Até que decididamente o fagam, sejamos nos portugueses em Portugal e seus dominios, portugueses em tudo, que assim afirmamos a nossa valia com respeito ao que é da nagdo e a ela principalmente interessa. O cosmopolitismio em proveite da civilizagao jeral europeia é louvavel e conveniente que se promeva, sem quebra porém dos interésses nacionais; ¢ em servigo désse cosmopolitismo fomos nés dos primeires a adoptar a unificagio métriea dos pesos e medidas, 4 cual o preeonceito inglés se nio sujeitou ainda, com pre- juizo manifesto das suas relagdes comerciais ¢ cientificas com os ou- tros povos. Inglesarmo-nos ortograficamente em Africa nada traria a fa- yor désse cosmopolitisme t&o preconizado pelos que, a bem dizer, sio enjeitados de patria; seria, repito, uma desnacionalizagde injnstifica- vel, leviana e tonta, de que os estranjeiros, que por toda a parte comnos- co topam em Africa, tomariam prudente nota, como sendo mais um fal- so testemunho a inyocarem de cude pequena confianga temos nos nos- sos meios de accdo e ne nosso prestijiv, para implantarmos e eultivar- mos ali, por nossa conta, o arvoredo frondoso da civiizacao enropeia, dando-lhe o tipo nacional que deve caracterizar toda a obra de Por- tugueses nesse importante empreendimento, para o cual, brade a co- bica ¢ inveja inglesa cuanto a injénita perfidia The aconselhar, somos ainda reconhecidamente a nagdo mais ¢ melhor habilitada. As tabelas qne se seguem so destinadas a estabelecer a corres- pondencia dos sinais graficos do alfabeto portugués, quer na escrita commm em que os yocdbulos africanos se encorporam, se combinam com os demais da nossa lingua, quer para a representagdo snficiente- mente fiel ¢ clara dos diferentes dialectos bantos. Com efeito, por es- sas tabelas se vera que, para se passar do sistema rigoroso de escrita ao usual em que tais vocdbuios sdo j4 consideratos portugueses, basta suprimir certos diacriticos convencionais e regular a acentuagdo pela portnguesa; as Ictras em si permanecerdo inalteraveis. Outro tanto pudessem fazer os Ingleses e os Franceses, que seguramente ja have- yiam adoptado éste simplicissimo método; as tendencias mesmo das suas grafias comuns de nomes estranjeires sao em jeral dirijidas a este fim, pelo menos as mais recentes e de ozijem cientifica *. Alguns dos sons nas tabelas designados sdo para mim de duvi- dosa existencia nas linguas a qué me refiro, como, por exemplo, cer- tos ditongos decrescentes de sudjuntiva u, tais come fo, fu. Se em nenhum dos dialectos fgurarem, tornar-se-hd desnecessario 0 contar com eles. O mesmo direi do r vibrante, que parece nado pertencer & fonética cafrial. Se além do / aspirado surdo, ou soncro (4), existe em algum désses dialectos também numa fricatiya gutural surda, ana- 3 Note-se a transcrigho adoptada na Revue des Patots. 60 * REVISTA LUSITANA loga a0 j castellano (ck alemao), pedera ela ser fignrada por com « um cualquer diacritico, h por exemple, que a diferance do 4 comum. Nao me parece perfeitamente averiguado que existam vogais pro- priamente nasais; pelo menos, que eu saiba, nenhum africanista as tem até agora mencionado explicitamente, nem tampouco o er, Bre- derico Miiller conta com elas ua sinopse que faz das yogais destas Knguas ?; a nasalizagdo pertencerd pois 4 consoante seguinte, ¢ tanto mais que na@o existe nasalizagia de vogal em fim de yocAbulo, mas uma consoante nasal em alguns, o que é diferente. A nasalanio da consoante pode muito bem ser representada por n antes de consoante que nao seja & on p, © antes destas duas por i: em todas as circune- tancias é ela homergdnica com a articnlacdo a que xe junta. Ciide liaja verdadeiras vogais longas podem indicar-se, como ¢ nso, pelo micron, ow Hnha horizontal sobreyosta (a), “ Com’ relacao a consoautes daplas on jeminadas,“n&o as tive em consideracio, pois me parece iguaimente duvidosa a sua existencia, iio obstante Caunecaitim haver enpregado em muitos yooabulos am- hendos, e mesmo em yarias formas gramaticais, algumas letras dobra- das, 0 que nos induziria a super no dislecto de Angela essa feigho fonética, visto como Cannecattim era italiano ¢ estaya portante pas cirennstancias de bem apreciar a difevenga entre as consoantes sinje- Jas 6 as consoautes dobradas. O dr. Frederico Miller mao ‘faz porem & Menor mencdo dessa particularidade, e cuando ela de feito se dé, & facil indicaJa, coms nas vogals, por meio do anderen, que se omitira, wom os demais diacriticos, na esevita usual. Divei todavia que, pelo menos, a congoante uasal x me parece ausceptivel de jeminayao, talves também o 12, as consoantes nasais, em fim. A tm pretito de Angéla, ouco distinctamente aduranat, «s cdm @ acento na 1" silaba e o a ilsbrade, e a mesma obser em um dos que acompanharan a Lishoa-o snr, Majer Henriqne de Carvalho, chefe da Expedigae ae Muatiaavna, a cujos traballos adeante me referirei. O moleqne é da Lunda e diz séindannu, para 0 mesmo numeral, ayendo mais a netar que esse v arcade, dapleé, lo ouco igualmente enando inivial, FE’? pessivel, contude, que ¢ sas articulagdes’ pasais sejam precedidas de ontra nasal homorgén ef, mas atennada, como acontece com muitas ontras-consoantes, € & éste o yoto do competentissimo africanista a quem aladi agera mesma A ortografia que proponho para.as linguas cafviais entendo que pole abranjer a escrita dos dialectos evionlos portagueses, € em breve tratarei dessa aplicagde, mio abstante saber qué estou em oposicéa com as opinives mais em, voga dos fonetisistas e da escola contempo- . ranea e ilustre dos que em Franga, Inglaterra, Alemanha, Ltalia, pai- f Grundeiss der Sprachwissenechaft, x, at, p- S40. Velam-se ainda os teala- Ihes de capeciulistus estranjeitos, como Bisek, Grout, Steere, e o¢ de portuguesee, como Nogueira, dr. Almeida e Cunha, ete. : ‘ TRANSCRICAO PORTUGUESA DE NOMES PROPRIOS E COMUNS 61 ses Escandinavos e nos Estados Unides Americanos do Norte promo- yer, com empenho superior a todo o encamio, o estude mebidico, clen- tifico. das minimas particularidades Galectais das lingnas modernas ; qne you igualmente de encontro As idéas qne sobre tal objecto parece ter‘assentes de ha muita o nasso mais eralite glotélogo, que é tam- hém um competentissimo crionlista, sem cnjo volo nao & ji Heito que qremqner que Seja se vcrpe fle dialectes erioulos portugueses. Cuan- a estes me Telerir, espero que tomara ent consideracde 6 que deixo dito ¢ © que por essa ocasido hei de alegar em defesa da escrita yigorosamente portnguesa de tais falares, @ que ndo duyidard de en- trar na diseussdo que sobre éste ponte, que se me afigura importan-, te, abrivel nesta Revista, depois de ter Leite wm detide exame das di- yersas grafias pa escrita dé dialeetos até agora empregadas por naconaes e estranjeiros, entre as cnais ba & maior desteutormidade, nao tendo nis, consegaintemente, que respeitar antoridades estranhas oa tradicées constantes a éste vespeite, Noiachio portuguesa, que sem ser cientifica é todavia muito enje phesa, vacional e sinjela, vemo-la empregada pelo Sur. ‘Tomas, Pire: na representacao dos fakuwes alembejanes (p- G1 e 132 desta Revista), Poderia ela servir em mutes dos seus expedientes part a figuragio dog dialectos evioulos, 6 té-la lei na alencao que merece, tanto mais enante, com referencia stbre tudo a acentnad? é frecnente em on- tvas tran jes a contisdin inextricevel de sinais que se encontra pas subs as valiogos, que aad ecialistas so ministrados pelos seus dilijentes ealabovadores portngueses do Ultramar. Dessa renfusio se queixa o mais conceitnada 4 especialistas estranjel- yos, 6 dr. Hugo Sehucharat, fagendo aliis jastica e tibutanda louve- res meres subsidios, que, come diz, tem em grande conta, alé pela area e nitidez dla Zta, ao que fazemi excepgio notavel- aos gue de outr i is maos F. provendencias The chegumn Truahnente digno de mengao, come exemple tle transerigdo por- tnewesa clarissima é metodica, & um op seul, impresso em Macaw (885, Tipografia do mminario), caje autor é o Missionarie Padre Sebastiio M. A. da Silva. Intitula-se o opitsculo 2Uateeismo de dou- aiha Chivi 1) Tetum. A transcrigky @ portaguesissima ¢ muite yacional ¢ intelijivel vyogais lougas, perteitamente. definidas a paj. xi, @ indicadas pela duylicacda, o ¢ aberte dtono por 4, a explosive farin- jea por 4 on virgula yollada provan que ay autor é familiar o métedo clentificn de transerigdes. Com respeite a iltima fignvacae, observarei que © (x yoltado), ou simplesinente y, seria preferivel, visto que 0 si- nal que empregou é 0 jeralmente adoptado para indiear a-aspivagho come diacritice, ay passe que a yeferida explosiva & camummente de- signada pelo apostrefo. . 1 Litteraturblatt fir germaische und romanisehe Philologie — 1887." 62 . . REVISTA LUSTTANA Notagio rigorosa e comum para a representagdo dos sons, e escrita dos vocdbulos, pertencentes as linguas cafriais faladas em diversos pontos dos dominios portugueses 2 a outras da mesma familia. SISTEMA DAS VOGAIS Nalores Atonas Ténicas cxemplilicados Porteute Esnnerrigio Hsia want Trapt Hain ava dh a ae aoa doa dai a ae at at di at pau AU te au all du ait da i a a a do@ ealar uw ai ia di ao a ane at du sé é € ée ée itis ar ca ef i et een a en et ca et sé a e é¢ sel (sé-i) a e ai et sew aL en eu ew ae © é €o¢ si i i ta vin iti ie tu in flar } i . —- a a 60 8 0 dH at Oi OF Got , Ot at ok oti ou ou cor y o 6 664 sbi ar ai or bi ot so git ue ot Gu oe «80, 0 a. - = caso-a (=i) 0 ” fu u u wou aw suds a rr wou a ui agha ii “ TRANSCRICAO PORTUGUESA DE NOMES PROPRIOS E COWENS 63 SISTEMA DE CONSOANTES ‘Valores oxompliicndos hoe od caatro Carga cheek dé foto gaz guerra aguer argilr hot ahecd jd jente “ail lé mé nena the pa quero quite Te, anro corn teta vivo xadrez Zoe jampo tomba strane stronger tondo ‘vento tangicenci envy dutant (portngués) b { * ) ca co cK { » — )} ella clio cite eite cat go gt ce tt =) (inglés} ¢ (portugues) C =» yf (i) Ginglésy fh (eo) fo. ({portugués) ja jo jw je jF Je jo ye je ie 1 (inglés) (portnguts) ¢ * ) m ( s ja Cos ) th ¢ 2 dP ( 2 3 qu qu ¢ > yj rim (os jEr (os jt {= jy ¢ 2 x Cs je (italiano) (inglés) ch ge go gu rue put glia gito gie git mp Tb stances stanchi ( 3 ) hea feo Dew igque nge Dge nee neue { =) fige igo tgue (italiano) iid it Coe ) fypach (inglés) iv iif Bacrite usual b Ch €O CK eur eno cue cue va co git ce ct th a t Gl gs ape gine gua gaa gue gte git A h ja jo je je ji ja jo ju je ji i m n ah Pp que qui rer aap abs ned He ne ngHe nga 1gO ng Nye nga nyo ng ngue nd nt nj woh ne nf Percorrendo as Gnas tabelas verd o leitor que, com efeito, basta suprimirem-se os dincriticos para que o8 voedbulos fiquem tendo fetgao portugnesa, conforme com a ortografia normal que se Thes atribui nos documentos oficiais, na,imprensa periédica e em outras diversas pu- plicagies referentes & Africa. Constituiriam a unica excepca o a esta regra jeral os vocdbulos ordinariamente escrites em obras didactieas com » ou » inicial seguido de consoante, grupos que formam uma das particularidades caracte- 64 REVISTA LUSITANA . risticas das linguas cafriais, e aos cuais haverd’ que antepor uma vo- gal (a, ¢), para que fiquem sendo portugueses; a ndo ser que se pre- fira, e eu para isso me inclino, inicid-los ja na escrita tigorosa por @, ¢,, sobrescrevendo-Ihes um sinal, o de breve, por exeraplo (#, 2), sinal que, eomo os outros diacriticos, desaparecera na escrita comum. Entendo que 6 absolatamente inatil o emprégo do apéstrofe antes do m ou 2, ou depois deles, sendo no ultimo caso uma completa falsidade essa aligao, . Repito- que duvido da existencia de vogais nasais hestes diake- ctos; & encontrarem-se, porém, em alguns deles (os mais vizinhos dos Hatentotes, presumivelmente, pois yue estes teemr vogais nasais) bas- tara para sua indicacdg sobrepor-se-o til (~) ao @ final, representan- do-se a nasalizagaa do @ inicial ou medial, ou a de ontra cualqner das letras vogais,’ por #, ou por m antes’ de b, p, e sobrescrevendo-se a esse m one o ti na escrita rigeresa, como se vé da 2.* tabela, com respeito aos grupos de articulacdes nasaladas. "Deyo ainda advertir que a acentuagao marcada pode ser muito parchnouiosa, magmo em texto, mas sobretuda na romanceacdo; para a qué basta que ela se regule pe'los principios estavelecidos nas «Ba- ses da Ortografia Portuguesas!. Para esse efeite dei na 1.2 tabela ‘luas colunas de gratias de vogais tanicas, quer na transcrig&o, quer ba eserita usual. Presereve-se ali o ‘modo de indicar a vogal tonica cm _copformidade pouco mais on menes com os preceitos que sigo nes- ta Revista, e que sé podem compendiar nas poucas regras seguintes,. tanto mais facilmente apliciveis & ortografia dos nomes africands, enanto nas linguas eafriais predomina a acentuagao paroxiténica, como em portugués. Essas regras séo : 1.*— Vocdhule polisilibico sem acento marcado tem-no pro- ferido na pentitina silaba se a tiltima terminar em [s|, ¢ [s], 0 {3}, ena ultima se terminar,em autra detva cualquer. + ‘ 2°— Daas yogais dtonas consideram-se em jeral pertencentes & inesma, silaba. 3.4 — Outra arentuacho efectivia, que nao seja esta, sera mar- cada pe'lo acento agude “ma vagal tonica se esta. for aberta, pelo clreumflexo ° se for fechada (é, 0). 4°— Convem marcar como circumfexe todas as vogais fechadas que farem tonicas nas vocabulos africanos, por estes se apartarem fonolijicamente das leis que governam o emprégo dessas vogais em portugués, € ser portanto ambiguo o seu valor em muites situacies. . . : ~ "4.4 —- Convém.senellantemente que todo o vocabula africano ter- mninado em / ou w, tena sempre marcada a yogal da silaba tonics, | + Lisboa. Impronsa Nacional. 1485. Essa acentuagdo esti ainda simplificada neste estrito, por é2 eonsiderarem monosilibicas as terouinagdes -fa, -o, ed, €0, om, | 4%, uo, Atonas, como & uso na medjeka do verso. . TRANSORIGAO PORTUGUESA DE ¥ 65 para se evitar toda a hesitacAo a éste respeito; em portugnés é inte til essa notagde, porque sao cnasi todos oxitonos. §.2-— Todos os monosilabos serao acentuados grificamente enando nao sejam atonos. E’ a regra jeral portuguesa para os termi- nades em yogal. Vé-se da 2.* tahela que desterre! o simbolo s. O motivo desta proserigao é ser o sen emprégo muito variavel em portugaés, varia- dissimos os seus valores, n&o sé de uns para outros falares, mas tam. bém num sé dialect, o de Lisboa por exemplo. Proponlie que se substi-” tila per ¢ (ce, cé), 9 cal nao deixa a minima divida sftre a sua pro- uunciacdo. Nao faco nisto mais do que imitar os nossos antigos eseri- tores '. Distingo dois sons de h aspirade, nin snrdo, outro sonore, repre- seniando este titima por am diacritice ligado & base 4 (4). Ao preto de Angola a quem ja me referi* ongo um / surdo perfeitamente per- ivel, tendendo para o ch alemao gutural, Por outra parte ass fois pretos peqnenos, que acompanharam da Landa o snr. Major Henriqne Augusto Dias de Carvalho, custa-me muita a distinguir a aspiragao, que é vozeada e cuasi imperceptivel, o que sem ditvida levon o chefe da expedigzo ao Muatianrua, a quem me refiro, a con- siderar essa aspiraca come um acidente da vogal *, Nos mesmos pre-~ tos notei que os seus ce @ co abertos estado cudsi tao perto deée é fe- chados, como os ee & ao castelhanos. Onde haja trés sons diversos de e ou de o podem os valores médios ser marcades com um pouto so, sobreposto, (¢ 6), ponte que sé suprimina na eserita usual. Semellan- temeute, nas tipografizs onde nav seje execuivel abterent-se 08 pou- cos diacriticas que proponho, poderia seguir-se esta escrila s mplifica- uer obras didacticas, da mesmo na impressdo de texto on em cual obre o valor das letras precedendo-se tais obras de breves explicagies e das suas combinagses. Fora também conveniente que os grupos de letras que designam sons simples, como sdo na tabela 2* ch, gu, wh, ng, gt, formem na composicho tipografica esmerada outros tantos compendios, pos enais os dois elementos estejam ligados, como acontece com o ff, € come o eram o ef ¢ st nos antigos tipos, ot & semelhanya dos simbo- | los propostos por Barbosa Ledo nos seus travalhos de reforma orto- grafica para Uh e zh, Seria igualmente vantajoso 0 aproveitar-se cada um dog desenlios do y, éste italico ¢ a redondo ou elzevir g, para Bns diversos, como indiquei a p. 79 desta Revista, empregando porém sem- pre as caracteres italicos. 2 Veja-se Revista Lawitana, p. 209. 2 Crindo do meu bom amigo o Snr. 4. Consiglieti Pedroso, lente de historia no «Curso Superior de Lettras». ® Veja-ue o sen «Methodo pratico da lingna da Lunda», em via de publicagio edo ensl me ocuparel nesta Revista. A parte tasrica esti ineluida: toila no 1.° fas- cicula, j& pablicado, e eontém a p. 17 ama transcrigio valgar. asy, eustr, vol. 11, fase. 1. ° ; 5 66 REVISTA LUSITANS .__ Esto em via de publicagdo trabalhos importantes acérca da nossa Africa, e seria de veras de sentir que, como até aqui, se empregassem hesses escritos para os nomes indijenas transcrigdes ou ortografias que nao tenham sido discutidas pelas pessoas competentes em Portn- gel, agravando-se por tal forma a lastimosa anarquia ortografica de que todos se lastimam. O meu modo de ver sobre o importante assun- to da transcric&o portuguesa dos nomes africanos e sua acomodagae & eserita usual aqui fica exposto, para que sobre este objecto se esta- belega a necessaria discuss&o, iste antes que estranjeiros nos venham impor uma deles. Sao esses eseritos, que eu saiba, além da obra monumental do sny. Major Carvalho, a que ja allndi ': T Um trabalho de comparagao gramatical da morfalojia dos dialectos bantos, em que, segundo, me communica o snr, Héli Chatelain, poliglota suisso que residiu na Afti- ea, est lidando o ja conhecido africanista dr. Joagaim d’Almeida e Cunha, actual secreiario geral do Govérno de Angela, trabalho em que sé conservaré ortegrafia portuguesa, como também me informa 0 snr. Chatelain, que em parte a adoptou ja igualmente na sua «Gram- matica da Lingua de Angola», na cartilha e no Evangelho de S, Joao, traduzido no mesmo dialecto. O autor preferin a cuaisquer outros ex- pedientes graficos, (== sh inglés, sch alemao)j (= sh tedrico inglés}, i, u (=-y w ingleses) nessas trés ultissimas publicagies, Devemos estimar que um estranjeiro entendesse conveniente com- por na nossa lingua a gramatica do quimbundo, que assim fica sendo como que portuguesa, aumentando-se déste modo ¢ peculio de obras sobre os dialectos africanos, redijidas no idioma europeu que ali pre- domina, peculio, que, ndo obstante a afirmativa do snr. Robert Cust, é bastante consideravel, mesmo cuando ndo reputemos portuguesas as obras de estranjeiras compostas na nossa lingua, @ que, se outra cousa no significarem, 8&0, pe’lo menos, 0 yeconhecimento tacito da nossa supremacia moral entre aqueles povos, e da confianga que eles em nos teem, como nos seus patronos, amigos, tutores é mestres naturais. 2 de Dezembro de 1888. A. R. Goxgatves Vianna. Este escripte tem, como se vé, a data de 2 de Dezembro de 1888, e a falta de espago impedin a sua inclusio no 4.° fasciculo do 1° anno | desta Revista; a sua redaccao sofrea, portanto, pequenas alteragées. De entéo para ca. as publicagdes feitas pelo sur. Major Henrique de Carvalho, acérca da Expedicao 20 Muatianvua, teem progredido, achan- 1 Veja n nota a p. 15 ¢ 16. TRANSCRICAO PORTUGUESA DE MOWES PROPRIOS E COMUNS: 67 do-se j4 impressas a segunda parte da +Grammatica da Lingua de Lunda», a «Ethnographia>, e a (pag. 12). E cita aquelies conhecidos versos de Filinto Elysio, que comegam: Sabin da Samardan certo pedreiro, Faminto dé oure, em busca de fortena... 70 REVISTA LUSITANA e@ vem a pag. 137 das Obras, vol. vn, ed. 1837. A proposite do nome osr. Camillo inventa em nota uma etymologia de mau gosto.— Além das localidades mencionadas ha muitas mais com 0 triste privilegio de serem objecto de chofas e facecias, como Mofreita, em ‘Tras-os-Mon- tes, onde eu em 1883 onvi contar bastantes, muitas das quaes, sendo todas, tem parallelos estrangeiros. Esta depreciagio dus localidades e habitantes provém d@'uma causa geral, pois, assim como cada individuo gésta de sobresahir aos mais, tambem cada pove. E’ naturalmente entre os paises fronteiros, ou as povoagies vizinhas e os bairros limitrophes, que as facecias devem correr com mais insistencia, porque assim a rivalidade tor- na-se mais evidente, e porque n&o raro as linguas provocam a zom- baria. J& se vé qne para o commnm das pessoas a nogdo de lingua é mui diversa da que os philologos tem: aquellas regulam-se pelo ouvido, e é pelo grau de supposta sonoridade ou ndo-sonoridade que a ayaliam. De mais a mais, quando ha duas lingnas da mesma fami- lia, e muito semelhantes entre si, os que fallam uma tem tendencia para escarnecer da dos outros, por ella Ihes parecer a sua propria estragada: 6 assim que 4s vezes se moteja do latim, chamando-se- The fatinorio. A estas causas accresce ainda outra: é que muitas ve- zes os habitantes de uma localidade, pelo seu genero de vida limi- tado e sem grandes relacdes exteriores, pelo seu isolamento, pela pouea illustragao, e tambem acaso por seus misteres, prestam-ze fa- cilmente & zombaria, Nao serd. tambem, num ou noutro caso, sem in- fluencia o nome cacophonico da terra, como Cucujdes, Ranhados, Sa- mardan, e outros. Comprehende-s6 agora que os gallegos, que esto em alguma das condigdes apontadas, possam ser em relagdo a Portugal o que 0s beo- cios eram em relagéo 4 Grecia, e os Alvernios sao relativamente & ¥ranca.— Os motejos que se dirigem aos povos da Galliza dirigem-se tambem em parte as vezes 4 gente do Minho. II. Essa minha interpretacdo & confirmada pelo facto de que a palavra gallego no sentido pejorative é commum 4 Hispanha. No proprio Piccionario gallego de Cuveiro Piitol, impresso em, Barcelona em 1876, lé-se: «canteco: nombre con que motejan & al- gano, especialmente en Madrid, per Ja idea erronea que tienen for- mada de Galician. Como se vé, a confissio nao pode ser mais insus- peita. No Diccionario gener. de la leng. castellana de Caballero, Madrid 1885, diz-se, s. ¥. geliego: «ruin, miserable, bajo», ¢ cita-se mais o adagio: . Tambem isto se compre- GALLEGOS K INGLESES 73 hende bem, porque boa parte do territorio portugués estava d’antes in- cluido na Galliza, e ainda no meade do sec. x1 os limites d’aquella pro- yineia chegavam ao Mondego. Sobre esta questao vid. J. Pedro Ribei- ro, Dissert. chron, ¢ crit, 1v, pag. 23 sqq.; e Cardeal Saraiva, Mem. da Acad. das sciencias ‘{classe da sciencias moraes), pag. 3-6.— A nogdo. géographica primitiva ficou, pois, na tradigdo popular, .e com ella se fundin a que a palavra gallego adgniriu no nosso vocatnlario de inju- rias. Consolem-se, portanto, os habitantes da Galliza, visto que com el- Jes tomam parte no insulto secular os preprios portagueses do Norte! TV. Como a palavra inglés, principalmente depois do triste dia 11 de Janeiro, contém hoje para nés a dora ideia de —treicao, espolia- ments, sacrilegio, — em quanto gellego se toma em aceepgies diversas Wessas, tambem com origem em factos de outra ordem, claro esta que uma palayra nao pode substituir a cutra. Além d'esta difficuldade se- matologica ha a dificuldade do habite; como substituir de repente, por ema pennada, um vocabulo antigo, expressive, a que se ligam tradigdes oraes e litterarias, por outro que de mais # mais j& adqui- rin tambem significacdes particulares? De facto inglés significa na Beira, e noutras terras, persevejo; temos ainda a palavra inyresia, que significa belburdia, é deriva de ingrés, forma archaica de daglés: sobre 0 sentido de ingresia cfr. uma nota de J, M. da Costa e Silva, Poe- sias, Vol. 1, pag. 20. . Com quanto em geral as linguas se formem e desenvolvam an- tomaticamente, sem inflnencia da ventade individnal, nao nego que ésta as vezes, em certos casos especiaes & restrictus, se possa mani- festar: todavia, para © nosso caso, os factos apontadas offerecem reaes Gifficuldades. Além das mais razdes psychologicas ha uma bastante grave: offenderiamos os gallegos, se trocassemos 0 seu sympathico nome pelo de ingleses, que para Portugal, n'este momento, é politicamente exe- crande a todos os respéitos. Assim, resumindo agora os meus argumentos, creio ter provado, em contrario As assercdes das Novislades, o seguinte: 1°) que a depreciagdo dos gallegos entra numa categoria de fa- ctos geraes, que si pide ser negada por quem desconhecer os princi- pios elementares de Ethnologia,—embora as cansas determinantes de se escolher a Galliza como typo sejam diversas; . 2°) que o sentido pejorative da palavra gallega & commum a Portugal e 4 Hispanha, o que confirma o § 1.°; 3°) que a passagem da Chronica gothorwm nada tem fundamen- talmente que ver com esta questo; 4.°) que a palavra gailego, em tal sentido, é insubstituivel por inglés, Lisboa, 25—1—80. J. Lerre pe Vasconcrnos.

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