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OOo yi ' fal Sumario Apreseotagion 1. Sate Mental, Teritsiose Pronteins 2. Ua Intitisio para Lacs, Doentes e Siow 5. Das Psiquitias Reformadas 3s Rupr com a Paiguatia 4. Estatégios © Dimenssies do Campo da Sade Mental e Atengio Psicossocil Mental e Atengio Psiconsocal no Brasil Consideeagee Hine ui nove hye social Referéacns Sugestdes de Leitusas Filmes u 5 a 3 o at 105 ‘ApRESENTAGAD Este lero vem carnage de hisivins «extras (como a0 vsava diz ‘antgamente). Quando me forme em medicna, ¢ ‘escolhi a psiguiatria como expecialidade, nio existiam emuitas| perspectivas de um tabalho que se pudesse considerar como, sendo de sade, O destino quase cera de wen psiquitsa reed formado era tabalhar nos manicdmios piblics, decrépitos © Jmundor ou em manicémios privados, deceépitos © imundos, ‘onde, pat prs, ramos espoeados pela “indistia da Ioocur”, como diria 0 saudoso e quetido amigo e profetsor Carlos Gentle de Mello A opcia, que muitos adotaram, er fier vist grossa para ‘ssa situagio © montar um consulésio de psicanlie, pcio que tins um futuro bastante promissor¢ valorzado socialmente Isso porque, mquela época, mesmo no consultio patel, & prdvca da psiquntria era considerads como wma peitiea menor (0 objetivo da maioria cra se pscanait, fazer ailise , nesta linha, o pera se tomar um psicanalista data, Como disse um jutro amigo, Antonio Lanceti, eram tempos em que set anti sanicomial nfo estava na moda Foi num daqueles manicémios que, com mais dois coleyas médicos, decidimos dizer io violéncia da psiquiatria denun- dando 3 sociedade a realdade cruel e perversa das instiuigies in [aw Psiquticas Mos, como eram tempos de ditadur, fomos ime tltmente demitidos e conoseo todos agueles que ousarsm nos apex: Mas, exam também tempos de “abertura democrses”, outeos gritos ocoriam aque aol Um destes gritos origin 8 eriagio do Centro Basilio de Estudos de Saide (Cebes), onde nos anearamos —até hoje e passamos a ht mais cole- tivamente. Neste contest, icon mareado a iniio do process «Gh refocena psiqufticabrasieea que ven transformando, des e entio, a telacio ente a sociedad e a loucurs, questinnaede io 56 as instigSes «peticas psiquiticas vigentes, mas tm bbém os conceitos e saberes que dio fundamentos e legimidade ais pics Ester tem como escopo istigaroIitor a efltis sole todo este percurso, que vi das bases da psiguitsa e do manic mio aos projetosatuss de construgio de um novo “ugar soil" pnt as pessoas em sofimento mental Pars tant, comecd’ por forcteszet 0 processo de apeopracio da lowcuts pela medi 1m com constiugio do saber eda principal insinigio psigui- Sita, © hospi, identicando e desenvolvenda os princpais comecitos e priticas que fondacam o paradigena prigutica A ‘seul, 2 ma breve histiae dseussao des princpas expec fxcias que vera como objetivo transforma peiquntia, sein sulequando ou sjustando 0 model assistenil ass on moder- hizando-o em dive & sae mental na comunidad (as deno- ‘mids reformas psiqistrca), seit rompendo com a bases do modelo cence que inaugurou € legidmou a intervengso psiquitrea no mei soca Apo est revisio histics, com base nela, procuro con tebuie para a ampliagio do entendimenta das diamensdes es- astégias do campo da sxe mentale atengio psicossocial, pars ‘qual desenvalvo o conccita de process socal complexo que, ‘ens uma pala, aos langa num terreno onde as tansformagdes no ve limitam is emdangas merumente asistencns: F como ido que pasts pass ‘uma anise dos eaminhos ¢ tendéncas das poiins de sage _mentaleatengtopsicossocal no Brasil onde a utopia, entendida ‘camo um objetivo e um proto de Its, a consteugio de um nove higar cil pam a2 pearone em voftimento mental asso seguinte, nada mas justo e neces Poe it, sugicoalgumasleiture alguns filmes O mais pro- fando € rgoroso teatado centifico ni consegue, na maioca ds veres, flr tio dzetamente 3 alma como uma obra de ate Este tems também é assunto para nosso livea, Quero segstne meus agradecimentos 3 mina companheien Leandsa Besl e aos amigos Faveldo Nabuco, Paulo de Tatso Peixoto e Bin Aduers pea letura e observagbes 1 | SaGpe Mental, TeRRITORIOS E FRONTEIRAS: ‘Mare tabi se sr carta ‘Deport, ninguén€ normal As ores eg em iba ta (A olga ne a me al” «Vac prof, Caetano Veloso (0 que se conhece como side mental é uma rea muito extensae complesa do conhecimento. Quantas vezes ouvimos flgum profissiona falar que “tabalha a aie mental”? O que te eth dizendo com isso? Que trabalha com quests rlacio- tudes A sade mental das pestous? A partir de uma repost, posiiva a esta pergunta, podemos extrir um primero grande ‘tio da expe ae menu a poses rset ‘rom nas reflexGes, Equal € ce? Eo de que ste mental € Sin campo (ou una dts) de eonhecimento ede atuaio tenia no imbito das polis piblis de snide importante assnalar que poucos earmpos de cosbecimen- to e angio na sade sio tio sgocosamente complexos, phx tai intemetoras € com tanta trnsversaidade de saberes Ao Comercio da peiquitia side mental no ae basia em apenas tim tipo de eonhecimento,« priguata, e muito menos € exer ida por apenas, ou andsmentalmente, um profisionl 0 ps (qiatea, Quando os referimos i side mental, amplamos 0 ‘spectro dos conhecimentos envolvides, de uma forma tio tea « polissémiea que encontremos dificuldades de delimiter suse Feonteeas, de saber onde comecam ou termina seus limites, Safe mental nio é apenas psicopatologa, semiologin. Oa io pode ser redurida a0 estado tratamento das docngas ‘mentais.. Na complexa ede de saberes que se entreerwram as femitica da save mental esto, slém da psiquiatia, «neutologia 35 neurocincia, a psicologi, a psicandlise (oa as psicaniices, Pols sio tants), 2 Bsiologia flosofa, a antropologse, a soci, ‘opin, a histria, a geogrtia (esta tikima nos forneceu, por exer, plo, 0 conecio de teritéio, de fundamental importinci para 2 polticas piblieas). Mas, se estamos falando em histories em sueitos, ema sociedades, em culuuas, aio serie equivocade ex. lit as manifestagdes religiosas ideolipicas,eticas « moras des comunidades e povos que estamos lidando? Eatim, quais sio os limites deste campo? Quais s20 os sabe- tes que efevamente os compdem? Podemos ter uma tesposta ‘lefiniden e exclasva para estas perpuntas? Em O FE Dim ‘rimeio livro do psiguiateae pscanalsta Ronald Laing, um do funcdores ca corente que ficou conkecida como ‘ntpaqi, ‘sia’ © que abordarei mais adiante-, surge uma reflesio scbre ‘go de veda a parts de uma imagem muito comm, ce é geralmente utiliza para ‘brincar de ilusio de ética’ Para me (woduzit 2 images, Laing (1963: 21) observa que © hhomem, pode, em partculs, ser visto come pessoa 01 coisa. Ora, © mesmo objeto focalizade de diferentes pomtos de vista, da oxigem a dus desciges intctsenen, te divenas,e esas provocam das teons inteumente dlvcemas, que resultam em dois grupos inteiramente di. versos de agio. A forma incal de ver uma coisa deter ‘mia todas as nossasrelgdes subseatientes com ela, Neste ponto prope que examinemos a “Figur equivocs, ‘ou ambigua” (Figura 1). Curiosamente, tsnta anos depois, 0 secilogo Bonventara de Sous Santos aos remete a eta es ‘ma imagem, que & a de dois perfis frente a frente que, vistos com outa perspeetiva de fundo ¢ transfundo, e nos fx vet pelo contrivio, um jazeo grego sobre um fundo preto. Qual a |nagem verdad ele os pean? Os dois peti ow o ao? Ambighidade? Exeo da percepeio om do pensamento? Con teadicio da reakdade? ‘Figura 1 — Qual a imagem verdadeita? Os pestis ou o jaeeo? i Mas, enfim, ¢ esta & a grande questio que temos para en: frentar: existe uma imagem verdadeica que anula e inviabiliza 1 ote ou todas as demais? Por que temos que pensar de Forma dualista, antindmica, simplifieada? A natureza do cam- mks Laing (96. tw 13) Pe da sate mental vem contsibuindo para que comecemos 4 pensar de forma eifetente, ndo mais com eate paragon tis verdade nica © definitvs, mas sim em termor de conn Dlexidade, de simltancidade, de transverslidade de saberes, de “coastrucionismo”,de“reflexividade” Spink, 2009), Yeremos mais adiant, Anteriormente,argumentei que quando algo profsion sal nos diz que “trabalha na sade menta”, ele esth nos dh zendo que trabaha com questdes relacionadas a eale men tal ds pessows. as, na verdade, na pritica aeiteneial sed muito pouco tempo ats trabalha “aside mental” signi ficava dizer que se trabalhava com doengat ments, con hospicios, com manicémios! Mas, 0 que ¢‘doenga mental? Eo oposto de saide mental? Eo desequibrio menta? Dy sentido da express epatamosnos agora com um outro ‘tide mental, ou seja, com a idéia de que im estado mental sadio, portanto, poder ‘mos conch um estado normal. Ou dito de outea forma, de jum estado de bern-estas mental, ou de sanidade mental, on rn, fy de nto exist nenbuma forma de desordem mental A Orpanizagio Mundial da Sade (OMS) considera que sa de €0 “retado de completo Lan-estatBsico, mentale spel ¢ te apenas a ausénca de doengas. Com esta defnigho podeda ‘mos admitir que evoluimos um pouco, mas que continamos ol Emit dif eabelecer 0 que ¢ ete edo de complen bemestar. As vezesqustiono sei alguény aie) Batre, parece Sbvio, nas érnto fell define © que ‘em sr doens. Em muitos leon coconteamen define 4 sade como a auténcn de doengt; do mesma modo tue crv o emo doc pu en de Co emo ee PT eimcinaaty depen com um imp. O que é nor Se : Parece agora que aelagio entre os dos grandes sentidos fz ee oe us 201 2 {Una Insrrrurcio para Loucos, Doenres & Saos Aas de mani na rd ist, guano, nonuse ini, trem scone am ss bres, gor lar omer uy ant dels, smb ne sis aperinidae fga Antonin rau co stones da nie “La Réolton Suna” emcarts oe does dos hops pad Baga, 2005 109, Puen dat prosseguimento i discussio iniiads no capitulo amtesior,&necesirio um pereurso um poco longo, mas bastante lineressante e esclarecedos. Para iso vamos comes revisitando 6s primeinos passos de ura cigncia denominada “abenismo", piomeira no estido do que arualmente se conhece come “trans fomos ments”. A partir dai, vamos acompanhar suas mais Iimpoetantesteansformagies até chegatmos aoe dis aus, quand Faresnon usm andlise das questdes coneemporineas © das perspectvas nacionase ntesnacionais perinentes este campo, Quando falamos em alienismo comeeamos nos teferind & Philippe Pinel, © médico que ficou conbecido como 0 pai da Piqua, sucestora de aienismo, Pinel patcipow ativamente thos acontecimentos dh Revolugio Frances, que foi um processo (um periodo que marcou shistéra ds humana e, em parte ilevido «este mativ, suas ida efits ainda hoje repercutem fo nosta vidas Ta zt esto pss pce no poe : sit oc una ine Se iia Ya ncn lise Neth ore sto decade, que etme aetna ote be ev ee Sm debrpde dont Endo tat deve ee im pobre emierivl mendgonio fae thee Ses ‘co, detomia in tiie ngs alae reso ‘hospi que, ti, sles oop daria, hospitatidade, a Pu ong Rosen ~ in dos maine estudio uo dis tt dh meine as polo de ‘ss go mtr gen imi dP 0 Apia greg 2 4 des mars nie ele fs oa 19883867. Dav fra pe Sy as rospital criado por Sic Basilio, em Cesatéia 5 esa pac 20 ns ous iiss der nna oes a wrx ane tind com 2 Enfim, por meio de um longo procetso - que cestamente rio oi da noite pata o dia ~ o hospital fi eansformada em ‘nstituigio médin. Até « momento desta tansformacio, a Ton curs € 08 locos tinam mikiplossignificados — de deménios a cendeasados, de comédia ¢ tagédia, de erro ¢ verdade. Milt plos e phasis cram também os seus igeres e eepagos: suas © tos, mats e forests, igeeas e hospitais No século XVII, surgi uma nova modaldade de hospitsis, ‘nto mais escusivamentefilntzipicos, mas que passaram acu pic uma fungio de ordem sociale politica mais explicta, Batou ime referindo a0 Hospital Geral, ciado a pactir do eno de 1656, pelo Rei de Franca, Para o flévofa Michel Foucault o advento ‘do Flospital Geral foi de fandamentl impostncin para a def= higdo de um novo ‘ugar socal” pata 0 louco e a loucura sosiedade ocidental Ao estudae as origens da medicina moderna e da psigus: wa, Foucault vefeu-se a0 Hospital Ges como “A Grande xemnagio” ow “O Grande Enelassuramento”, aproveitanda inclusive uma expresso ulizada na Gpoca que destacava o fata se a instituigio exercer a pritca sistemstica e generalizada de holumanto « engengasio de tigniictivos eegmentoe socnin De Fito, o artigo XI do deceeto de Fundagio do Hospital Ger Uestinava-o aos pobses “de todas os sexes, lugares ides, de ‘qualquer qualidade de nascimento ¢ sea qual For sua condi, vilidos ou inwalidos, doentes ou convalescentes, curiveis ou in- rive (Foucault, 1978: 49), Nas palaras do pensador feaneds: Tata ce de recor, soir limentaraqueles que se apre sentam de espontinea vontade, ou agueles que para la ‘io encuminhados pela autridade rel o jodicinin Le ay E preciso também zl «pel subsiténcs, ple bon con- dt eon pend apc so fontrar seu ga al, mas que poder eu meneien, ‘str al. Essa tarts € confada aos dette nomen oti ida, e que ener ses pode on ‘nos prédios do Hospital como tatnbém em tide de de Pats sobre todos pares se intiipa (Rove 197899, 8 que dependem de sua elecimento foi delgado sobre toda a popniacio, uma estrrura semijuidca, uma espécie de entidade misitativa que, so lado dos podersjé consent itm dos uibunas, decide, juga eexcena. (.)Sobem? ait quate absolut, juiisio sem apelagbea, ie de srccusio contra © qual nada pode peevecee oe flek Pil Geral é um estrauho poder que a ter enoheg ‘tse x prise junign, us en ds ee Set ‘ercia da repressio. (Foucault, 197% 30) Assim, como poderos constata, ; tinha inicio ums grende ‘sunsigio, na qual o hospital de cada a le sofia uma metamorfo- ; os foram atuat no sentido as 20 novo expitito moderna, prnc. so Francesa, e acabaram por twansfor. nédicas. Em uma palwr, © hospital fol dle hurmani ls a eg Palmente apés a Revolu "las em institu rediclzado; fi trinsfoemado ‘ns insiigio médica por ex- celéaca. Em consonincia com o lea Igualdade, Liberace © raeridde, que gui oda revolicionssio todo o espace soci deveram ser democrtizados Foi asim que os hospitis pssaram ase objeto de profundss mudungas, Primi, Foam liketador visio intrnos que ali estavsm em decorréaca do der sutrittio do Antigo Regine. Por outro ldo, nove ns- vituigdes assstencaspassavam a ser eiadas pelo extad repli «ao (ofnaton, fran cana de cone cacle nce centeos de reailtgio}. © hospital foi perdendo cada ver sna sas funcBes de origem de caridadee depois de controle soci an mesma proporso, puso a assuie uma nova fl dhe: «de testa 08 enfermos. \intervengio médica no espago hospi eaquant espago «le ameaga soc, ue snterimente era eventual eparoxistica, sari see regular e constant 0 saber sobre o hosptl r= Initia ao medico agrupa ax docncas asim, abservi-las de va forma diferente, no dia, em seu euro © evolsio. Desa forma, prockoi-se um saber sobre as doengas ic n- foemado pelo modelo epistemolipco das ciéncias nats, an Avni havi sido posse conser. Mas este process gue denominaos de mediclizagio do Jnospialteve ds faces: hospital se toon a principal inst ‘ho métics, on sj, Fok apropriada pela medicina,sbsorvido or so naturezs em conteapartida a medina se toxnou un Jabere una pritica predominantementehospitlares.O questo signifier? Que, se por um lado © hospital sofia tsstormaeses Avhinenais com o processo de mediclzagio; por ou, 0 Adela centco da medina sofia tanaformagoes que pos Iiliarin 0 naseimenco da soatorocnic. Pars Foucault este Les 26) antes lugae de moriticasio‘e‘deeistorizagio™ tomarsense agar tle verdad, de sabes, de postvidade ‘Mas, este vinculo hietrico entre a medicina que estava sendo constituids nos moldes di nova insiuigSo tansfoerada ‘ests, o hospital, que estava sendo adequado a esta medicina Jhosptslar marcasam fortemente & natureza do modelo biomé- dco da medicina ocidental, que passou.a see caracterizada como prcslominantemente hospitilar: Este modelo médico (pois é Impowtante lembear que exstem ourrss medicinas, tals como a hhomeopatia, a medicinaayucvédicn ppunturs..) implica em uma relagio com a doenga enquanto ob- |cto abstrato e natural, e mio com o sujeito da expesiéncia da sloonca. Assim, no & apenas a psiquiateia que tem esta relagio yenética com © hospital (ou hospitalocénsica como se uss di- es), de sex expecialistca(priorizando 0 conbecimento isolado ie rgios, de partes do compo), wericalizada ¢ hierarquizada {hives enescentes de complesicae: primo, secundii, tec fio), centeada na daenea eno nos suits que tém as “doencas, -medicina teasbfica, a 2cu- © e8P860 de repro sidéncia médica, Leal tal-eseola, re Privegido de cna en cle que este novo modelo produzia um saber sem fess por dante 8, em contraparid, verdade que ene P ‘Mas vamos volar wm poueo pant observar com mais detz hes o proceso de tnssfurnyie der hospital Alaaceipico em pupal médico no caso da psiquiatea, ‘Ao chepae’s instinuigbes hospitalares, em nome de um nav oissor saber sobre as doencas, 0 médico sutra da flan- Wphi€ do cleo 0 poder administativo do hospital. Se ante- we © médico era convocado ao hospital & rar a lpuns casos mas graves; se freqientava oespaco lhe de modo eventual ¢ irregular (a mesma forma ex “en convocado mas psisdes, por exemple), ele agora se tor Ip petsonager fundamental do hospital. E assin que, como signal sobre asd Hasutot més do poder hospital, o médco Philippe Pint Pane nal grande obte de medicalizagio do Hospital Gemal ce Jars Fo 1793, Pine pasion a digit o Hoxptal de ieee (oma gs wedes do Hompital Gen), gusto anos apis oat esponsiveis pela clinica médica moderns, Fine Partcipow do grupo conheido como oF Idesingon, {fi {01 de enone importincin pars 0 pentamento Hoare, ineds no final do séulo XVINL Os Ideloges basaces bse vedadcinmente cents paca conkecinent don est denne eid, tomando como referéncia principal o n>, iki ds Hiowria Natura Para estes, “oconbocinents cnn Pieces cuit base eta a observaio emiicica dos fendmemen ‘ts coscam a reldade" Bercherie, 1980: 31), Ness tray fe Blostca,objetivaase 0 conhecimento do homens dan ie So ae Ihe &itmpresso elas suas experiencia, pare consigo PPRO f Data com o que Ihe é exterior. Este método anal AGAO/INTERVENGAO © POLITICA i ienica el Los Em suma, esta dimensio nos transporta&reflexio dos con: cxitos mais fundamentais da psiquiattia que, como vimos, fundada num contesto epistemolégico em que a realidade e ‘univoca da verdade! Assim & que os conceit priquisticos devem ser avaliados, contextuaizados ern umn terminado modelo de ciéncia que esti em plena transformaga Com base nesta concepyae podemos considerar que 6 pi 50 de reforma psiquiitica nio € uma invengio de psiquiat insatisfeitos ou insurgentes (como afirmam os defensores Piquiatsa), mas sim uma conseqincia natural de uma transfi ‘macio de propria ciéacia, Franco Baraglia considerava que a psiquiatra inka um # ‘obseuro” por haver separado um objeto fictico, ‘a doencs cexisténcia global e complesa dos sujetos ¢ do compo sox considerar a doenga um objeto natural, externo 20 hor Dsiquiateia passouw a se ocupas dela eno do sujeito que a ia. Os tratados de psiquiatsia clasifcam as doengas th como sendo objetos da natureza. Analisam os tipos, suas lsngase dstingSes: “as esquizotrenia diverse mu e tantos tipos as neuroses.” Ocuparam-se das doencas ¢ esqueceram-se dos sul ficarim apenas como pano de fundo das mesmas, Def do da idade, ou do sexo, ou da clase socal a docnga assumir tal ou qual caraterstica, curso on progndstion se 8 psiquiatria havin colocado 0 syjito entre parent ‘scupar-se da doenca, a proposta de Basaglia foi a d “a doenga entre parénteses” para que se Fosse possivel lo sujeito em sua experiéncia. Franco Basaglia se inspirow em dmund Huser, considerado o pai da fenomenclogia © autor tio conceito de “reducio ansligica” ou de colocar 0 conceito oite parénteses \ ida da doenga entze partnceses pode ser entendida como luma atinade epistémica isto é uma atitude de produgio de co- iihecimento, que significa a suspensio de um determinado con- “feito ¢ implica na possibilidade de novos contatos empiricos fin o fendimeno em questio, que, no caso, &2experigncia viv pelos sujetos. Desta forma, a doenca entre purénteses nto fica a negagio da existénca da ‘doenga’, em outras palavras, significa a recusa em acetue que exista uma experiéncia que \ produzit dot, softimento, diferenga ou mal-estar nfo € a 1 da expesiéneia que a psiquiatria convencionou denomi- dloenca mental. A estratégia de colocar doenga entre loses & a um 86 tempo, uma ruptura com o modelo conceal da psiguintsia que adoton o modelo ds céncias pura conhecer a subjetividade e terminou por objtivar 0 meco ea experiéncia humana i yesma media em que a doenga é posta entre paréateses, by sujeitos que estaram nevtealizados, invisiveis, op luos a meros sintomas de uma doenca abstrata. Desta Jorn possivel constatar que Basen (nspirado no uturgo Antonin Artaud) denominou “duplo da isto & 0 conjunto de pré-concepedes, precon- Js, yalores, juizos) relacionados & doenga mental jou seu trabalho em Trieste, Basaglia conheceu gue wstava sempee solictando um pente. Estou via ela, “quero me peatear; mas niio tenho fcino de um pente, tenho direto a um pentel”. Mas ninguém Ihe atendia: a obsessio pelo pente seria um mero sintoma psicdtico? Para que uma louca necesiata de um pent? (© ttansformaria em uma arma? © jogaria fora e pediria urn ‘out, © mais outa, ¢ outro ainda? Com o dominio da nogio de Adoengs mental, uma simples necessdade bisica, inclusive de a ‘ocnidado e autonomia, pode ser entendida como um mero sintoma. Nada mais & do sujeito: tuda se refere & doencal (Os autores d psiguiatsia eo assumem, mas Antipsiquiatsa 4 Psiguiatria Democritica obtigaram a psigquintria 4 abandonae ‘© conceit de duenga mental na medida em que provaram que ‘io contibuia em praticamente nada para entender e dar com (0s sujeitos assim clasificados: a resposta da psiguiatta foi exiar asilospsiqutricos Assim sendo, a psiquitsia passou a expetimentar novas defini ‘584s eis recentemente optou por sdatae os tems “isnstorno ‘mental’ (em portupués e espanhol) e ‘desordem mental (em ine ls) A legistcio brasileima utlizn a expressio ‘os portadotes| ‘ranstomo mental. Nao nos dia iia de alguém carregando fiardo, um peso enorme e eterno, inseparivel¢ indistingvel sujeto? Se formos levar ao limite idéia de portador, poser ‘mos considerar que todos nds carregimos o fado de nossa pk sonalidade e carte. Por outro lado, uma pessoa cotn trans ‘mental éuma pessos trnstomada, que & 9 mesmo que poss Em inglés 0 termo medal dionier nos semnete & pensat em ‘ordem, guebta da ordem, sem ondem, e af voltamos a0 pit sha questi: qual é ordem mental? © que & normalidade men Por estas sizdes no campo da sade mental e atengio pcos se tem utilzado fla de sueios ‘em’ saftimento psiguico on tal, pois a idéia de sofimento nos semete a pensar en ui {que sore, em uma experiénciavivida de um sujelto. Engi, se com a docngn entre parénteses nos deparamos com ‘osueito, com suas vicissitudes, seus problemas concretos do co tdi, seu traballo, saa fama, seus parentesewisinhos, seus pro- jetos e anseios, ito possibilita uma smmpliagio da nog de inte- sglidade no campo da sade mental e atengio psicossocial. Os servg0s jd no serio loca de repressio, exclusio, discipina, con ‘role ¢vigilincia pandpica (Foucault, 19773). Devem ser entenci- dog come dispositivos estatigicos, como lugares de acolhimen- to, de euidado e de trocas socials, Enquanto servigos que lidar comm as pessoas, © mio) com as doeusas, devem ser hygares de sociabiidede e produgio de subjetividades.E aqui jé estamos na “limensio ténico-assstencal’, ef pademos perceberalgumas de fuss interelages com a dimensio que aeibamos de analisat Por outro lado, se a louewrs/alienacio nio é sindnimo de periculosidade, de inacionalidade, de incapacidade civil, de exer- cio de cidadania, na ‘dimensio jusdico-polhica’ situa-se um onjunto de desafios eestratigias. A revisio de toda a legislacio lum primmizo sspecto, pois tanto 0 eéligo penal quanto o civil inca outs es normas socias esto repletos de referencias is aos sujeltos em sofrimento psiquico e epresentam obs- los sigitiativos 20 exercicio da cidadania. A concessio do infcio de Prestagio Continuada (BPC) previsto na Let Omg th Asistencia Socal (Las) é um born exemplo, na medida, je €restrito a pesons com diagnéstco de deficiéncia men- {gue o beneficdrio nlo pode tee nenhuma atividade profs [nem mesmo nas cooperativas e projetos de geracio de ‘ou economia solids), sendo um obsticulo, portanto, a as de incluso soci {vesto dos diteitas humanos assume agui uma expresso uh Trta-se de uma hata pela inlusio de novos sujeitos de m1 dlcito ¢ de novos direitos para os sujitos em ofrimento men- ‘al. Dineto a0 trabalho, 20 estado, 20 lazer, a0 export, cutuss, cnfim, 208 recursos que a sociedade oferece. “De volta cidade, senor cidadio”, diz 0 poeta Paulo Mendes Campos. ‘Um passo decisivo nesta dizecio foi dado com a promulgs- so da Lei 10.216 em 6 de absil de 2001. Embors 0 peojeto orignal tenha sido rjeitado, apés doze anos de traitagio, foi aprovado um substimtivo que dispae sobre “a protegio © os

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