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caow2o17 (0 Paderoso Resumao » Arquiva » Resenha—O que 6 ciénciadaraliido? Tags Al Mowe Alfaguare Arqueiro Biografia Classico Companhia das Letras conrad cons a FICCAO scio cinta Filosofia George R. R.Martin Globo Grotic Mse Histéria sumer Intrinseca L&pm pocker Leya Litersrur Jovem Literatura Africana Literatura Fantistica Literatura Jovem Literatura Latina Literatura Nacional Literatura Policial mar Neil Gaiman Nova Fiontcira No fice4o osjaivs Panini Panini Books Politica Quadrinho Quadrinhos Record Roceo ROMANCE sexiane Suma de Letras O contéudo do Blog é protegido pela Creative Commons OOO) Este obra foi licenciado sob uma Licenga Creative Commons Atribuicio-NaoComercial-SemDerivados 3.0 Resenha ~ O que é cigncia da religid por Thiago em 06/08/14 Nota: BHBIS Sempre que digo a alguém que fiz mestrado em ciéncias da religido vejo aquela interrogagdo na cara da pessoa. Sim, eu sei que é uma drea pouco conhecida, por isso este texto aqui, para clarear um pouco e trazer a0 conhecimento de vocés esta area do conhecimento que acho tio bacana. Segue assim uma andlise do livro “O que é Ciéncia da Religiaio?” de Hans-Jiirgen Greschat, professor cemérito de Historia da Religido na Universidade de Marburgo, na Alemanha. Ao falarmos de ciéncia da religido, ciéncias da religido, ciéncia das religides, ou ainda, ciéncias das religides, parece que a principio estamos fazendo algo contraditério. Como fazer ciéncia com religido? De uma forma geral, mas ndo como regra, as ciéncias t&m como objeto algo preciso, entretanto “o que € facil para cientistas exatos é problematico para cientistas da religido”(GRESCHAT,2005). Afinal, 0 objeto de pesquisa desta area nao é algo palpdvel e nem exato, como podemos encontrar na biologia € na matemitica. O objeto religido & um termo de dificil definigao, podemos aceitar a hipdtese de nao termos um conceito fechado para essa palavra, entretanto ndo podemos negar sua existéncia. Greschat nos diria que “a palavra religido serve para especialistas de diversas disciplinas, embora nem sempre — ¢ nem em todos os lugares — denomine a mesma coisa.” (GRESCHAT,2005). Assim como a psicologia, que trabalha com a definigdo, ou com a dificil definigdo de idéia de alma, temos a Cigncias da religiio com um objeto também impreciso, o que torna a nipstwww.opoderaeoresumaa.comilvrosiresenha-o-que-e-ciencia-daeligian mo caow2o17 (0 Paderoso Resumao » Arquiva » Resenha—O que 6 ciénciadaraliido? investigagdo algo que necessita se apoiar na cigneia e no método para que a imprecis tome algo problemitico. dio de seu objeto nio se Bertrand Russel nos mostra que a relagdo entre ciéncia e religido sempre foi marcada pelo conflito. Uma. crenga religiosa difere de uma teoria cientifica, ao alegar a incorporagao plena de uma verdade eterna, a0 asso que a ciéncia é sempre experimental, esperando que as modificagdes em suas teorias atuais, mais cedo ‘ou mais tarde, sejam necessarias e ciente de que seu método é um daqueles logicamente incapaz de chegar a uma demonstragao final e completa, (RUSSELL, 2009b, p.6) Como Russel nos mostra, a proposta das duas difere na questo de uma verdade eterna na religido, ao passo que a ciéncia, mesmo que também busque respostas, trabalha com respostas provisérias. A ciéneias da religido, por se tratar de ciéneia busca um método para lidar de forma imparcial e distanciada de uma vivencia transcedental, Afinal o que torna cientifico um conhecimento no é sua veracidade ou a crenga que temos nele, mas sua metodologia, uma forma de conhecimento controlado por regras légicas, estabelecidas ¢ verificadas pela comunidade cientifica que o obrigam a uma fundamentagdo empirica, S6 pode ser qualificado como cientifico o conhecimento logicamente ordenado e obediente as prescrigdes metodoldgicas da disciplina que contemplam aquele objeto. Assim, a verdade ou qualidade de uma religido ndo é questionada nesta érea de conhecimento, A perspectiva dos cientistas da religido quanto a seu objeto difere tanto de observadores casuais quanto do olhar profissional de outros cientistas. semelhante a uma paisagem vista pelos olhos de um camponés — olhos que so diferentes de 0 de um cagador, ambientalista ou andarilho. (GRESCHAT,2005,P.23,24) A metodologia, dita acima, busca garantir esse olhar “diferente”, deve-se ter atengiio a essa idéia, pois, a0 tratar de religidio ndo estamos lidando com algo que é plausivel de andlises em laboratério, ou animais com padrdes de comportamento e sim com o ser humano e suas crengas, sua nogio de sagrado, sua busca por sentido, Assim: Ela nos obriga a levar a sério também os figis de outras religides e ndo somente usi-los como instrumentos ou estudi-los de um ponto de vista distante, como o de bidlogos que observam um grupo de chimpanzés, Nossas conclusdes sobre determinada religiosidade alheia esto corretas? (GRESCHAT, 200: p. 160). A anilise proposta no impede que o cientista da religido tenha suas crengas, mas metodologicamente busca impedi-lo de contaminar seus estudos acerca da religido com o olhar de sua op¢do religiosa, seja ela de matriz judaico-cristi ou no. Usarski (2006) utiliza a expresso de Udo Tworuschka onde a cineia da religido é vista como “filha emancipada da teologia”. Porém o autor continua nos mostrando que o discurso teolégico difere dos estudos da ciéncias da religiao. Além da independéncia institucional da sua disciplina-mae nas universidades, o cardter “emancipado” da Ciéncia da Religiio mostra-se, entre outros aspectos, na vasta extenso da sua Area de pesquisa e no seu ideal de neutralidade diante dos seus objetos. Diferentemente da Teologia, cujos representantes so geralmente comprometidos com 0 cristianismo tanto como referencia religiosa particular quanto como privilegiada matéria de analise, a Ciéncia da Religido € virtualmente itrestrita quanto aos fenémenos considerados por ela dignos de investigago. Aproxima-se de seus objetos por um interesse primario isento de motivos apologéticos ou missionarios. A consciéncia da “relatividade” ¢ a postura de um “ndo-ctnocentrismo” diante das expresses miltiplas no mundo religioso, “a capacidade potencial de abstragdo religiosa de si mesmo” “indiferenga” a respeito das contraditérias pretensdes da verdade com as quais o pesquisador é confrontado na realizado de seus projetos, sio competéncias-chave que caracterizam a Ciéncia da Religiao. (USARSKI,2006, P.17) Assim podemos perceber o campo da ciéncias da religido e o delinear de seu objeto. Para prosseguirmos com essa anilise se faz necessario explicitar que se entende aqui como religiao e conseqiientemente como sagrado, Partimos de uma andlise classica da sociologia, Durkheim nos mostra que a religido pode ser vista ‘como um fato sociail; e em As regras do método sociolégico, 0 autor & categérico: “toda explicagio psicoldgica para um fato social & necessariamente falsa”, Assim para Durkheim a religido, como um fato social, deve ser analisada através do seu método sociolégico, considerando como seu objeto de estudo apenas fatos sociais que ultrapassam as individualidades dos membros do grupo onde o fato social se encontra. nipstwww.opoderaeoresumaa.comilvrosiresenha-o-que-e-ciencia-daeligian ano caow2o17 (0 Paderoso Resumao » Arquiva » Resenha—O que 6 ciénciadaraliido? Segundo Ribeiro (2011) podemos compreender a religido pelo método de Durkheim da seguinte forma: Durkheim, cujo grande tema de estudo era a solidariedade social, vai procurar a resposta na separagio entre 0 sagrado ¢ 0 profano. Quando um grupo humano define algo como sagrado, retira-o do uso profano e 0 cerca de respeito. Aj aparece a religido como um conjunto de ritos e erengas compartilhados por um grupo (sociedade). Cumprem-se assim os requisitos: exterioridade (ritos e doutrinas, e nao a fé), generalidade (todos se referem a ela como real, inclusive quem a combate) e obrigatoriedade (profanagao é crime). Por isso, ndo ilusdo, mas é “a vida levada a sério”, Pode entao ser sociologicamente explicada: (1) romper com © senso-comum (tendéncia inata, reveréncia ao mistério...) (2) observar como “coisa” (as praticas, sem formular juizos de valor ou ter que acreditar no que dizem), (3) classificar (religides simples e complexas, nacionais e mundiais), (4) comparar a partir de um caso bem estudado, e (5) encontrar sua fungdo. Fique claro que a fungao social nao é o mesmo que propésito, finalidade ou intengdo. O conceito vem da biologia, quando estuda a fungo de um érgio dentro do aparelho e vé as consequéncia objetivamente observaveis de seu funcionamento, R. Merton trabalha muito bem esse conceito, que é chave para a sociologia (embora a teoria funcionalista de Parsons — que reduz, todos os fatos sociais 4 sua fungaio para a manutengao do sistema —tenha caido em desuso). (RIBEIRO, 2011). Assim, através do método proposto, o olhar do cientista da religidio para seu objeto garante a emancipagao da teologia como nos diz Tworuschka, Amauri Carlos Ferreira nos traz uma interessante anélise sobre a relagdo da cigncia e a religido no seu artigo sobre o filésofo Bertrand Russel. J conseguimos perceber no titulo do artigo o teor da provocagao, Viver sem Deus e sem religiao: a vida possivel no ateismo. O pensamento filoséfico cientifico, diferentemente do pensamento religioso busca a indagagdo, a investigagao, enfim a arte de fazer perguntas, de tal forma Ferreira pode propor, através da dtica de Russel, perguntas como E possivel viver sem Deus? E possivel viver sem religiiio? Para tais temos os que optam por uma resposta afirmativa e ‘outros que optam pela crenga na necessidade de um deus e de uma religido. A ciéncia da religidio, nio trabalha com esses tipos de perguntas, ou seja, ndo entra no campo da fé, e sim da andlise das religides, sem entrar no mérito de certo ou errado. Entretanto, uma drea que podemos considerar recente como esta acaba sofrendo preconceitos de alguns lados. AA teologia e a cigncia se encontram como fortes criticas da area aqui explicitada, As criticas cientificas so as mesmas que outras dreas como a ciéncias sociais, ciéncias politicas, antropologia e psicologia sofrem, por ndo se encontrarem com um trabalho de experiéncias laboratoriais e por terem um estilo impreciso de objeto. J4 0 preconceito teolégico parte da natureza diferente das duas reas, mesmo tratando de tema similar. Russel, em seu livro Religido e Ciéncia, itustra alguns preconceitos teoldgicos softidos pela ciéncia de um modo geral como o caso da vacina contra a variola e seu proceso de Um eclesidstico anglicano publicou um sermao no qual dizia que as piistulas sem divida eram decorrentes da inoculagao pelo Diabo, e muitos ministros escoceses se uniram em um manifesto que afirmava que isso era uma tentativa de confundir um julgamento divino, Entretanto, o efeito na diminuigZo na taxa de mortalidade infantil ocasionada pela variola foi tio notavel que os terrores teolégicos nao conseguiram ultrapassar 0 medo da doenga. No ano de 1885, diante do surto de variola em Montreal, a parte catélica da populagio resistiu A vacinagdo como apoio ao clero. Um dos padres afirmou ‘Se somos afligidos pela varfola, & porque tivemos um carnaval no invemo passado e banqueteamos a came, o que ofendeu ao senhor. Os padres Oblatos, cujas Igrejas estdo situadas no centro do distrito infestado, continuaram a condenar a vacinagao; os figis foram encorajados a confiar em exercicios de devogao de varios tipos; sob a sangdo da hierarquia, uma grande procissio foi ordenada com um apelo solene a Virgem, e 0 uso do rosario foi definitivamente obrigatério. (RUSSELL, 2009, p.75-76) © preconceito em relagio a cigncias da religido caminha de forma similar, pelo carter investigative em relago a um objeto que a teologia, nao importando aqui sua raiz, seja ela catdlica, protestante, judaica ou de coutras matrizes, trata com fé, de forma que nao cabe o carater investigativo, mesmo que, ressaltando, a cigncias da religido ndo trabalham com juizos de valor sobre a veracidade ou nao de uma crenga. Podemos assim chegar ao raciocinio que o preconceito sofridos pela ciéncias da religido sao fruto da falta de conhecimento a respeito da area. Da falta de compreensio de sua proposta e recorte. Para tal esclarecimento existe uma boa bibliografia da drea, como o livro de Hans- Jurgen Greschat, denominado O que é ciéncia da religiao? nipstwww.opoderaeoresumaa.comilvrosiresenha-o-que-e-ciencia-daeligian a0 caow2o17 (0 Paderoso Resumao » Arquiva » Resenha—O que 6 ciénciadaraliido? Frank Usarski traz no prefiicio da edigdo brasileira deste livro, que © mesmo traduziu, quatro razdes para recomendar e ressaltar a importancia dessa obra. Em primeiro, Usarski levanta a linguagem fécil e didatica usada por Greschat ao tentar explicar e responder o que seria a ciéncia da religido. A segunda razdo est no simples ¢ importante fato de o autor ser um cientista da religidio, uma area que mesmo abordando questées de cariter filoséfico trabalha com um método ligado as investigagdes sociais, O terceiro ponto esta na énfase que a obra faz a “personalizagao da ciéncia da religido” como uma area necessariamente multidisciplinar. Usarski diria que Hans-Jurgen Greschat distancia-se das geragdes anteriores de cientistas da religido e da tendéncia destes tiltimos a privilegiar os textos religiosos como principais referencias de pesquisa. 0 autor nao nega a importéncia de tais fontes, mas salienta que, além do problema de uma hieraquirzagio de objetos de estudo em desfavor de povos sem escrita, a vida religiosa — especificamente com relagdo a suas formas populares ~ manifesta-se de maneira multifacetada ¢ constitui uma totalidade cuja investigagao adequada requer abordagem multiangular. (USARSKI 2005,P.10). Assim Usarski deixa clara a proposta de Greschat em ressaltar a importincia de expandirmos o material cempirico, enfim, do cientista da religido nao se restringir apenas a materiais e questdes tebricas, o cientista da religio deve ir a campo, deve conhecer empiricamente seu objeto, deve analisd-lo com a pratica de um investigador social, como mostramos anteriormente com Durkheim, podemos também olhar através de Weber, que por sua vez ndo se indaga sobre as origens (ou causas) da religido, e sim sobre as condigdes nas quais as idéias religiosas so produzidas e difmdidas, e que efeitos elas tém na vida pratica das pessoas. 0 quarto motivo levantado por Usarski é enfatizar a autonomia da ciéneias da religidio, ou como o autor prefere, cigncia da religigo. Uma independéncia em relagao a teologia e em um sentido filoséfico, se demarcando com uma area distinta do conhecimento e tomando assim seu espago no meio académico. Dessa forma Greschat nos mostra a importincia eo terreno da ciéneia da religido, onde como no termo utilizado por Udo Tworuschka para se referir a tal érea como “filha emancipada da teologia”, Greschat em scu livro, ressalta essa emancipagdo dita por Tworuschka, como sendo uma ciéncia independente c imparcial. A imparcialidade é algo muito importante para o cientista da religido, Greschat nos diz. que: Depois de ler, observar e ouvir, chega o momento de vivenciar a religido alheia pesquisada. Vivenciar significa ao mesmo tempo ver, ouvir, cheirar, tocar e saborear. Em vez de olhar com espanto de dentro de seu ambiente doméstico para algumas exéticas trazidas de paises distantes, o pesquisador deixa-se cercar pela totalidade viva de uma religido alheia, (GRESCHAT, 2005, p. 160). Vale ressaltar aqui o termo utilizado pelo autor sobre a “religido alheia pesquisada”, onde se mostra interessante um distanciamento do pesquisador para com seu objeto de pesquisa para tentar garantir uma certa imparcialidade a pesquisa, entretanto no quer dizer que um religioso nao posso estudar caracteristicas de sua crenga, ou que um ateu ndo possa pesquisar sobre ateismo, desde que consigam manter um distanciamento necessario para o sucesso de seus estudos. Por ve7es tal distanciamento se torna complicado ea cigneia da religido em seu carter imparcial acaba nao se realizando, por vezes alguns pesquisadores se perdem no que diz respeito ao agir do cientista da religiao. Podemos coneluir que, através dos motivos apresentados por Usarski, a importincia de Greschat e de seu livro O que é religiao? temos em maos um livro introdutério sobre a drea que pode servir como um guia para os pesquisadores da area. Entretanto, como comegou a ciéneia da religido? Algo de comum acordo ¢ o fato de Friedrich Max Muller (1823-1900), inicialmente um estudante de linguas, como grego ¢ latim aos 18 anos na universidade de Leipzing, aos 22 anos resolveu estudar sdnscrito ¢ Muller se mudou para Paris com o intuito de estudar com um grande sanscritologista da época, Eugene Burnout, o qual o incentivou ao estudo do Veda. Assim transereveu o Rig Veda, um compendio de 10 livros ¢ 1.028 hinos. Pra tal feito, o mesmo dedicou 25 anos de sua vida ¢ foi patrocinado pela Companhia das indias Orientais. Através das memérias de Max Muller, podemos chegar ao que seria o inicio da ciéneias da religido. O mesmo chegou a ser reconhecido ¢ respeitado entre os indianos como se fosse um brahmane, pois sabia tanto ‘ou mais dos Vedas que os proprios brahmanes locais. O cientista da religido deve conhecer e estar proximo de seu objeto, assim como fez Max Muller. Hé diversas formas de realizar essa aproximag: tipdwoew opodrceoresimac.comivrasheserha--que-e-clenia do-digan sao ‘eschat mostra em seu livro algumas delas como a arte sacra, em suas

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