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  • Angela Davis - Cap. Trabalho Doméstico

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    Angela Teberga de Paula
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    Capítulo "Trabalho DOméstico" do livro "Mulheres, raça e Classe" de Angela Davis

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    Pan. aa CIP-BRASIL. CATALOGAGAO NA PUBLICAGAO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ D292m Davis, Angela, 1944- ae Mulheres, raca ¢ classe / Angela Davis ; tradugao Heci Regina Candiani. - 1. ed. - Sao Paulo: Boitempo, 2016. Tradugao de: Women, race and class ISBN 978-85-7559-503-9 1. Mulheres - Estados Unidos - Histéria. 2. Sexo - Diferengas (Psicologia). 3. Racismo - Estados Unidos. 4. Feminismo. 5. Estados Unidos - Relagoes raciais. 6. Mulheres - Estados Unidos - Condigées sociais. I. Candiani, Heci Regina. II. Titulo. 1634484 CDD: 305.4 CDU: 316.346.2-055.2 SUMARIO PREFACIO A EDIGAO BRASILEIRA — Djamila Ribeiro. 1. OLEGADO DA ESCRAVIDAO: PARAMETROS PARA UMA NOVA CONDIGAO DA MULHER.. 2, © MOVIMENTO ANTIESCRAVAGISTA E A ORIGEM DOS DIREITOS DAS MULHERES.... 3. CLASSE E RAGA NO INICIO DA CAMPANHA PELOS DIREITOS DAS MULHERES.... RAcISMO NO MOVIMENTO SUFRAGISTA FEMININO. O SIGNIFICADO DE EMANCIPAGAO PARA AS MULHERES NEGRAS ays Epuca¢Ao E LIBERTAGAO: A PERSPECTIVA DAS MULHERES NEGRAS .. 7. O SUFRAGIO FEMININO NA VIRADA DO SECULO: A CRESCENTE INFLUENCIA DO RACISMO.. cd AS MULHERES NEGRAS E O MOVIMENTO ASSOCIATIVO 9. MULHERES TRABALHADORAS, MULHERES NEGRAS E A HISTORIA DO MOVIMENTO SUFRAGISTA... 10. MULHERES COMUNISTAS.. Lucy Parsons . Ella Reeve Bloor .. Anita Whitney. Elizabeth Gurley Flynn. Claudia Jones... 11. ESTUPRO, RACISMO E © MITO DO ESTUPRADOR NEGRO. 12. RAcISMo, CONTROLE DE NATALIDADE E DIREITOS REPRODUTIVOS.. r * . 3. A OBSOLESCENCIA DAS TAREFAS DOMESTICAS SE APROXIMA: UMA PERSPECTIVA DA CLASSE TRABALHADORA 225 = A OBSOLESCENCIA DAS TAREFAS DOMESTICAS g : UMA PERSPECTIVA DA CLASSE TRABALAADORA Osincontiveis afazeres que, juntos, s40 conhecidos como “tarefas domésticas” cia lat Towa, vara roups, amar scam, ene en compras etc: ~ 20 que tudo indica, consomem, em média, de 3 mil a4 ‘al horas do Lo ty uma dona de casa’, Por mais impressionante que essa estatistica sj ela ndo €sequer uma estimativa da atengao constante e impossivel de ser quantificada que as mes precisam dar as suas criangas. Assim como as obriga- gées marernas de uma mulher so aceitas como naturais, seu infinito esforgo como dona de casa raramente é reconhecido no interior da familia, As tarefas domésticas so, afinal de contas, praticamente invistveis: “Ninguém as percebe, aaceto quando no sao feitas ~ notamos a cama desfeita, nio o chao esfregado clustrado”. Invisiveis, repetitivas, exaustivas, improdutivas e nada criativas — esses so os adjetivos que melhor capturam a natureza das tarefas domésticas. Anova consciéncia associada ao movimento de mulheres contemporineo encorajou um ntimero crescente de mulheres a reivindicar que seus compa- | nheitos oferecam algum auxilio nesse trabalho penoso. Muitos homens jé co- mecaram a colaborar com suas parceiras em casa, alguns deles até devotando o Mesmo tempo que elas aos afazeres domésticos. Mas quantos desses homens se lbertaram da concepgio de que as tarefas domésticas sio “trabalho de mulher”? | Quantos deles néo caracterizariam suas atividades de limpeza da casa como | a “ajuda” as suas companheiras? ae | Se fosse possivel acabar com a ideia de que as tarefas domésticas sio um | tabalho da mulher e, a0 mesmo tempo, redistribui-las igualmente entre bomen | ‘mulheres, esta seria uma solugdo satisfatdria? Liberadas de sua associagio ‘hsiva com o sexo feminino, as tarefas domésticas deixariam de ser opressivas! Donets ose obis Ann Oakl , ir : ley, Womans Work, cit. p- 6. », Socialist Revlon, | Bubs Ehrenreich ¢ Deine English, “The Manufacture of Housework”, Socials Reo! "5.0. 26, out.-dez, 1975, p. 6. 226 Aves Dns “Embora a maioria das mulheres comemore com aegria oadvento do “dono de ‘ca desvincular o trabalho doméstco do sexo néo aterariaverdadeiramente se rtarez opresiva do trabalho em si Em tima andlise, nem as mulheres savas homens deveiam perder hors preciosss de vida em um trabalho que ‘io é nem estimulante, nem criativo, nem produtivo. ‘Um dos segredos mais bem guardados das ociedades capitalistas avansadas eavolvea ponbilidade~a real posblidade ~ de eansformar radicalmente a hnarureza das tarefas domésticas. Uma parte substancial das incumbencias do- tréstcas das donas de casa pose de fato ser incorporada na economia industria [Em outra palaras, as tare doméstcas no precsam mais ser consideradas necessria cimutavelmente una questio de carder privado, Equipestreinadas ‘chem pagas de trabalhadorasetabalhadores, indo de casa em casa, operando imiquinas de limpeza de alta teenologia, poderiam realizar de forma répida e icine 0 que a dona de casa atual fiz de modo tio drduo e primitivo. Por {que um manto de siléncio cobre essa possibilidade de redefinirradicalmente 4 natureza do tabalho doméstico? Porque a economia capitalise &estrutural- ‘mente hostildindustialzago das tarefis domésticas. A socializago das tareas ddoméstcas implica amplossubsidios governamentais, a fim de garantir que se torne acesivel is familias da classe trabalhadora, para as quais a nevessidade desseservgo é mais eidente. Uma ver que, em termos de lucro, o resulta- do seria pequeno, a industralizgio das tarefas domésticas — como todas as iniciatvas que aio geram lucro ~€ um andtema para a economia capitalista. CContudo, a répida expansio da frga de trabalho feminina significa que mais «mais mulheres consderam cada ver mais diffi se destacar como donas de «casa segundo os padres tradicionas. Em outras palaras, a industralizagdo das ‘areas domséticas, junto com suasocalizaio, est se tornando uma necessidade social concreta. As tarefas domésticas, enquanto responsabilidade individual reservada is mulheres trabalho feminino realizado sob condigdes téenicas pri ‘mitivas, Finalmente podem estar chegando ao ponto de obsolescénca histbrica. Embora as tarefis doméstcas, como as conhecemos hoje, possam vie a s© tomnarvelhas reliquias hstricas, as aitudes socais predominantes continua 4 associar a eterna condigio feminina a imagens de vassouras ¢ pis de lixos esfregées e baldes, aventais¢ fogécs,vasilhas e panclas. E é verdade que 0 tra- balho da mulher, de uma era histérica a outra, tem sido geralmente associado a0 ambiente doméstico. Ainda assim, o trabalho doméstico feminino nem sempre foi o que & hoje, uma ver. que, como todos os fenémenos socials, 25 Mouits, mea cust 227 acfas domésticassio um produto dinimico da hist forma que sistemas econdmicos surgem e drs 7 eS cascepen eere Como Friedrich Engels argumentaem sua cic ropredade privada do Bad adesiguldad seal comer i tio exitia antes do advento da propriedade privada omen da bistbria da humanidade, a divisio sexual do “deproduso econdmica era complementa, taba no insior dsiema cwroshoment crm respons por ayant eee calher legumes ¢ frutas, os dois sexos tinham incumbéncas econdminae neo mente esencas’sobrevivencia de sua comunidade. Umaver que dana pevodos, a comunidade era basicamente uma fama extend, papel aed das mulheres nas questbes domésticas sigicava qu els eam adequadanene ralorizadase respeitadas como membros produtivos da comunidade. ‘Acentralidade das incumbéncias doméstica das mulheres nas cultura pré- -

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