IntRopUGAO
Educando para a criatividade em engenharial?!
por GEORGE A. Woon JR.
Uina faceta da engenharia, como é praticada na indistria, & 0 processo eriativo. Vamos definir
eriarividade como Rollo May define em seu livro The Courage to Create (A coragem de eriar)!"). £ “o
rocesso de trazer algo novo para dentro da rotina”. A maior parte da engenharia tem pouco a ver com
a criatividade em seu total significado. Muitos engenheiros escolhem néo entrar em um empreendimento
Criativo e preferem a drea de andilise, teste € aprimoramento de um produto ou processo. Muitos outros se
satisfazem na drea gerencial ou em atribuigdes de negécio e assim saem da drea criativa da engenharia,
como discutiremos aqui.
Em principio, quero ressaltar que 0 desempenho menos criativo ndo & menos importante ou satis-
Jatério para muitos engenheiras do que a experiéncia criativa para nds com a vontade de criar. Seria
um falso objetivo para todas as escolas de engenharia assumir que seu propdsito & fazer com que todos
0s engenkeiros sejam criativos e 0 sucesso seja medido pelo “quociente de criatividade” dos seus
graduados.
Por outro lado, para o estudante que tem uma natureza criativa, a vida de altas aventuras 0 espera
se ele puder se encontrar em um ambiente académico que reconheca suas necessidades, aumente suas
habilidades e 0 prepare para um lugar na indiistria em que seu potencial possa ser desenvolvido.
Em nossa conversa, vou revelar 0 proceso criativo como ew o tenho entendido e testemunhado em
‘outras pessoas. Entit, temtarei indicar esses aspectos de meu treinamento que pareceram me preparar
melhor para um papel criativo ¢ como exses conhecimentos e essas atitudes poderiam ser reforgados
‘para wma carreira de engenharia, nas escolas e faculdades de hoje em dia.
Durante uma carreira de aproximadamente trinta anos como projetista de méquinas, jé participet
de muitos momentos criativos. Eles so clasificados como os de maior pontuagéo no meu histérico
profissional. Quando fui 0 idealizador, senti muita alegria e uma imensa satisfacdo. Quando eu estive
com outros em seus momentos criativos, também fui tomado pela alegria deles. Para mim, um momento
Criativo & a melhor recompensa que a profissao de engenheiro pode dar:
Deixe-me contar uma experiéncia de oito anos atrés, quando eu soube de um documento entregue
por wm homem criativo a respeito de um imenso momento criativo. Na First Applied Mechanisms Con-
ference (Primeira Conferéncia de Meciinica Aplicada), em Tulsa, Oklahoma, havia um artigo intitulado
“The Four-Bar Linkage as an Adjustment Mechanism” (O mecanismo de quatro barras como um meca-
nismo de ajuste).("!] Ele foi apresentado com dois outros artigas académicos que versavam sobre “como
se faz”, com grafico e equacdes de interesse para engenheiros na andlise dos problemas de seu meca-
nismo, Esse trabalho continka apenas uma equacao elementar e cinco figuras ilustrativas; eu me lembro
agora com mais clareza desse artigo do que de qualquer outro artigo de que eu tenha ouvido falar nas
conferéncias de mecanismos. O autor era Keivan Towfigh, e ele descreveu a aplicacdo das caracteristi-
cas geométricas do centro instantineo do acoplador de um mecanismo de quatro barras.
O problema de Towfigh foi apenas propiciar um simples ajuste de rotacéo para wm espetho os-
cilante de um galvanémetro dptico. Para atingir esse objetivo, ele precisava girar toda a estrutura
do galvandmetro em torno de um eixo passando pelo centro do espetho e perpendicular a seus pivés.
Allta rigidez do sistema apés 0 ajuste era essencial, com um espaco disponivel muito limitado e baixo
custo requerido, uma vez que mais de dezesseis unidades de galvandmetros eram usadas no instru-
‘mento completo.* A teoria do centro
instantineo de rotagio
seri mais bem explicada
10 Capitulo 6.
(pesquisa)
(idealizagaio)
(frustraga0)
CINEMATICA € DINAMICA DOS MECANISMOS CAPITULO 1
A solucdo apresentada foi montar 0s elementos do galvanémetro no acoplador de um mecanismo de
quatro barras, eujos elos se restringiam a uma tinica peca, plastica e flexivel. O mecanismo foi projetado
de tal forma que 0 centro do espelho se localizava no centro instantineo” do mecanismo na metade do
movimento de ajusie (ver Figura 4). E em torno desse ponto geométrico particular (ver Figura 1) que
4 rotacio pura ird ocorrer e, com o dimensionamento adequado do mecanismo, que a condigao de ro-
tacio sem translacdo poder ser realizada, de forma suficientemente precisa, para os dngulos de ajuste
necessérios.
Infelizmente, esse trabalho ndv recebeu o real reconhecimento dos juizes da conferéncia. Ainda
assim, foi, indiretamente, uma descrigdéo de um excelente momento criativo na vida de um homem
criativo.
Vamos olhar esse artigo juntos e seguir os passos que 0 autor provavelmente seguiu para chegar ao
objetivo. Eu nunca tinha visto 0 sr. Towfigh desde entao, ¢ agora devo descrever, de modo geral, 0 proces-
so criativo, que pode estar incorreto em alguns detalhes mas que, tenko certeza, é surpreendentemente
prbximo da versio original que ele contaria.
0 problema do galvandmetro foi apresentado para o sr. Towfigh pela geréncia. Foi, sem divvida,
descrito como algo do tipo: “Em nosso novo modelo, nds precisamos methorar a estabilidade do ajuste
do equipamento ¢ manter 0 baixo custo. O espaco é critico, assim como 0 peso ¢ baixo. A aparéncia final
deve ser limpa, pois os consumidores gostam do equipamento moderno, fino, e vamos perider mercado
‘para os concorrentes se no nos mantivermos na frente deles em todas esses aspectos. Nosso projetisia
industrial fez um esboco, de que todos nés do setor de vendas gostamos eno qual vocé poderia fazer 0
‘mecanismo se encaixar”
Entéo, seguiu uma lisia de especificagBes que 0 mecanismo deveria ter, o prazo em que o novo mode-
lo deveria estar em producéo e, com certeza, o requisito para alguma nova caracteristica que resultaria
em tirar uma forte vantagem competitiva no mercado. Quero apontar que o ajuste do galvandmetro foi
‘provavelmente apenas uma melhoria dentre tantas outras. O orcamento e os prazos permitidos foram
‘pouco mais que suficientes para a realizacao do reprojeto, desde que o custo fosse coberto pela previ-
‘sao de vendas do instrumento resultante. Para cada mil délares gastos em engenharia, um equivalente
‘aumento nas vendas ou redugdo no custo do processo deveria ser atingido em um patamar muito acima,
comparado ao retorno se o dinheiro fosse investido em outro lugar:
Chegando a esse ponto do projeto, o sr. Towfigh deveria ter um completo conhecimento do equipa-
mento que estava projetando. Ele deveria ter analisado modelos previamente existentes. E ter ajustado
‘muitas vezes 0 espetho de outras miquinas jé existentes. Ele deve ter tido a habilidade de viswalizar a
funco de cada elemento do equipamento em sua forma mais bisica
Em segundo lugar, ele deve ter perguntado a si mesmo (como se fosse um consumidor) quais ope-
rages € manutencoes requeridas o frustrariam mais. Ele teve de determinar qual delas deveriam ser
‘melhoradas até o prazo final do projeto. Neste caso, ele focou no ajuste do espelho. Ele considerou 0
requisito da rotagéo sem translacao. Determinou o dngulo mésximo que seria necessério e a translaciio
permissivel que néo afetasse a exatidao do equipamento. Ele reconheceu a necessidade do ajuste de ape-
nas um movimento. Passou algumas horas pensando em todas as formas possiveis de rotagiio que havia
visto emt tarno de um ponto arbitrério. Rejeitou todas as solucdes que Ihe ocorriam, pois pensava que
em cada caso existiria uma maneira melhor de fazer. As ideias tinham muitas partes, envolvendo guias,
pivés, parafusos demais, ou eram muito sensiveis d vibragao ou muito grandes.
Ele pensou no problema aquela tarde e em outros momentos enquanto procedia com o projeto de
outros aspectos do equipamento, Voltou para aquele problema por virias vezes durante os dias seguin-
tes. O tempo estava se esgotando. Ele era um especialista em mecanismos e visualizou um monte de
‘manivelas e barras movendo os espelhos. Entao, um dia, provavelmente depois de ter divigido a atengaoINTRODUGAO
ara outra coisa, repensando no dispositivo de ajuste, uma imagem do sistema com base em uma das
caracteristicas elementares de um mecanismo de quatro barras Ihe ocorreu.
Eu estou certo de que era uma imagem visual (do clara como se estivesse no papel. Provavelmen-
te nao estava completa, mas envolvia duas inspiragées. Primeiro foram as caracteristicas do centro
instantineo.* (Ver figuras 1, 2 e 3.) Segundo foi o uso de juntas dobraveis flexiveis que levam a uma
6 peca moldada em plastico. (Ver Figura 4.) Tenho certeza de que naquele momento ele jé achava
que a soluedo estava certa, Ele estava esfuziante. Estava pleno de alegria. O prazer ndo era por
saber que seus superiores ficariam impressionados ou porque sua seguranga dentro da companhia
estava garantida, Era 0 prazer de uma vit6ria pessoal, a consciéncia de que ele havia conquistado,
O processo criativo jé foi documentado por muitos outros mais qualificados para analisar o trabalho
da mente humana do que eu. Gostaria ainda de apontar, nesses minutos remanescentes, como a edu-
cagito pode melhorar esse processo ¢ ajudar muitos engenheiros, projetistas e desenhistas a estender 0
potencial criativo,
(O elemento-chave que eu vejo no esforgo criativo, que tem um grande peso na qualidade e no resulta-
do da criatividade, é a visdo e 0 conhecimento basico que dé forcas ao sentimento de que a solucdo certa
foi alcangada, Nao tenho diividas de que o principio mecénico fundamental aplicével na érea em que o
esforco criativo esti sendo realizado tem de estar vivo na mente do criador. As palavras que the foram da-
das na escola devem descrever elementos reais, que tenkam significado fisico e visual. F = m.a (segunda
lei de Newton) deve trazer uma imagem em sua mente real o sufciente para ser tocada,
‘Se uma pessoa decide ser um projetista, 0 treino deve incentivé-la a uma curiosidade continua em
saber o fiuncionamento de cada maquina que conhece. Ela deve notar cada elemento e ver mentalmente
seu funcionamento, mesmo que a méquina esteja parada. Penso que esse tipo de conhecimento sélido
e baisico aliado d experiéncia fisica de construir em niveis cada vez mais criticos torna possivel aceitar
que uma solugéo experimentada seja “a correta”.
Deve-se notar que algumas vezes, para todos nds, a solucdo inspirada tida como “correta” como
‘passar do tempo se mostrou errada, Esses acontecimentos nao devem desvirtuar o processo, mas indicar
‘que a criatividade é baseada no aprendizado e as fathas tendem a methorar o julgamento do engenheiro
4 medida que ele amadurece. Os periodos de falhas sao negativos, no crescimento de um jovem enge-
mheiro, quando resultam no medo de aceitar um novo desafio ¢ implicam um cuidado excessivo que inibe
a repetigao de outros processos criatives.
Quais seriam os aspectos mais significativos no curriculo de formagéo de um engenheiro, que aju-
dariam na transformacao de um estudante potencialmente criativo em um engenheiro verdadeiramente
criativo?
Primeiro, é 0 conhecimento basico e sélido em Fisica, Matemética, Quimica e naquelas discipli-
nas relacionadas di rea de interesse. Esses fundamentos deveriam ter significado fisico para 0 estu-
dante e a vivéncia que lhe permitiria explicar seus pensamentos para um leigo. Muitas vezes, palavras
téenicas sao usadas para cobrir conceitos confusos. Elas servem apenas para 0 ego da pessoa, € ndo
para educar o ouvinte.
Segundo, é 0 crescimento da habilidade de visualizacio do estudante. O projetista criativo deve ter
a habilidade de mentalizar a imagem que esté criando. O editor do livro Seeing with the Mind's Eyel”2/
(Vendo com othos da mente) escrito por Samuels e Samuels, diz no preficto:
(Eureca!)
(anilise)
* Definido no Capitulo 6.CCINEMATICA € DINAMICA DOS MECANISMOS CAPITULO 1
0 prodato final de Keivan Towtigh
“(oo) viswalizagaio € a forma como pensamos. Antes das palavras havia imagens. A visualizagdo é 0
coracdo da biomaquina. O cérebro humano se programa por meio de imagens. Andando de bicicle-
1, dirigindo wm carro, aprendendo a ler facendo um bolo, jogando golfe — todas essas habilidades
sio adguiridas por meio do processamento de imagem. Visualizacao é a suprema ferramenta do
consciente.”
Obviamente, 0 inventor de um nove mecanismo ou produto deve se superar nessa drea,
Para mim, um curso de geometria descritiva é.a parte do treinamento de um engenheiro que melhora
a habilidade para visualizar conceitos tedricos e reproduzir graficamente os resultados. Essa habilidade
éessencial quando alguém se dispde a projetar uma peca de um novo equipamento, Primeiro, ele visua-
liza uma série de méquinas completas com espacos onde estdo os problemas ou dreas desconhecidas.
Durante esse tempo, algumas diregdes que o desenvolvimento do projeto poderia seguir comegam a se
formar. A melhor imagem é desenhada no papel ¢ entao revisada por outros ao redor até que finalmente,
surja um conceito bésico.
terceiro elemento é a construgao do conhecimento do estudante, que pode ser ou tem sido feita
‘por outros, com conhecimentos especializados diferentes daqueles que ele possa ter. E a drea cuja expe-
riéncia seré acrescida d carreira, enquanto ele mantiver um entusiasmo na curiosidade. A engenhariaIntRopuGAO
criativa & um proceso em construciio. Ninguém pode desenvolver um novo conceito envolvendo prin-
cipios sobre os quais nao tenka conkecimento. O engenkeiro criativo alha para os problemas na luz do
que ele tem visto, do que aprendeu e experimentou, ¢ vé novas maneiras de combiné-los para suprir
novas necessidades,
Quarto é 0 desenvolvimento da habilidade do estudante de expressar o conhecimento para os outros.
Essa comunicacao deve envolver néo apenas habilidades técnicas utilizadas por técnicos, mas também
incluir habilidade de dividir conceitos da engenharia com operadores destreinados, homens de negécio
€ 0 piiblico em geral. O engenheiro raramente terd a oportunidade de desenvolver um conceito para
outras pessoas, se ndo puder passar entusiasmo e confianca em sua ideia. Muitas vezes, ideias verdadei-
ramente engenhosas sao perdidas porque 0 criador nao soube demonstrd-las com nitidec para aqueles
que a financiariam ou a comercializariam.
Quinto é 0 conhecimento do estudante nas resultados fisicos da engenharia. Quanto mais ele vé
méquinas realizando trabathos reais, mais criativo ele se tornaré como projetista. O estudante de enge-
tnharia deve ser requisitado para operar ferramentas, fazer produtos, ajustar maquinas e visitarfabricas,
E-com esse tipo de experiéncia que ele methora o julgamento em relacéo ao que faz uma boa méquina,
quando a aproximacao serd suficiente e até onde a otimicagao deveria chegar.
Frequentemente se ouve que muitas teorias tém sido desenvolvidas na engenharia durante as décadas
passadas e que as faculdades € universidades nao tém tido tempo para o bdsico, que mencionei anterior-
‘mente. Sugere-se que a indistria preencha as éreas priticas que ax faculdades ndo tiveram tempo para
desenvolver, para que entao o estudante possa se expor a novas tecnologias. Em certo ponto, entendo €
concordo com esse método, mas acho que ha wm lado negativo que necesita ser reconhecido. Se um en-
genheiro potencialmente criativo sair da faculdade sem 0 conhecimento necessirio para alcangar algum
sucesso criativo no primeiro emprego, o entusiasmo pela criatividade é frustrado e o interesse desaparece
‘antes mesmo que a methor companhia possa dar o devido suporte para 0 seu sucesso. Portanto, o resultado
de “ensinar 0 bisico” depois é normalmente tirar do estudante dotado em engenharia a oportunidade de
se expressar visual e fisicamente. A tarefa de desenvolver méguinas torna-se entio predominante para os
sgraduados em cursos técnicos ¢ escolas preparatérias,ficando perdida a contribuicio eriativa de univer-
sitdrios brilhantes para produtos que poderiam enriquecer a vida de todos,
Como disse no inicio, nem todos os estudantes de engenharia tém o desejo, a vontade ¢ 0 entusiasmo
essenciais para o esforco criativo. Ainda sinto profundamente a necessidade de enriquecimento do po-
tencial para aqueles que 0 querem. Que a tecnologia em expansdo torna dificil a decisao do curso para
ambos estudantes e professores, é certamente verdade. A vanguarda do pensamento académico tem uma
significativa atragao para o professor e o estudante. Sinto ainda que o desenvolvimento de um forte co-
nhecimento bésico, habilidades para visualizar, para comunicar, para respeitar o que tem sido feito, para
ver € sentir o mecanismo real no deve excluir ou ser excluido pela excitagdo de algo novo. Acredito que
existe um equilibrio no curriculo que poderé ser alcancado para melhorar a eriatividade latente em todos
os estudantes de engenharia e ciéncias. Isso pode dar uma base firme para as que buscam uma carreira
no desenvolvimento de méquinas ¢ ainda incluir a excitacdo em relagdo as novas tecnologias.
Espero que essa discussio tenha ajudado na gerasiao de pensamentos, promovendo sugestBes cons-
trutivas que podem levar mais estudantes de engenharia a encontrar a imensa satisfagiio do momento
criativo no meio industrial. Escrevendo este artigo, dispensei um tempo considerdvel refletindo sobre
‘meus anos na engenharia e gostaria de finalizar com 0 seguinte pensamento. Para aqueles que, como
nds, conheceram esses momentos durante suas carreiras, 0 dpice de um esforgo criativo bem-sucedido
est entre 0s nossos momentos mais prazerosos.
A descrigdo do st, Wood na sua experiéneia de criatividade em projetos de engenharia e
60s fatores educativos que 0 influenciaram também esto proximos da experiéncia deste autor.
O estudante é estimulado a seguir sua receita para uma completa base nos fundamentos da