Data: 02/09/08
Aula 01
Dentre os clássicos, talvez o mais interessante seja o Caio Mário, até porque
a atualizadora é a Maria Celina Bodin de Moraes que é uma autora que está bem
atualizada com vários temas. Claro que a atualizadora acaba sofrendo algum tipo de
restrição, pois não pode alterar a substância da obra, então... Enfim, dos clássicos
talvez o Caio Mário.
Claro que os objetivos aqui são múltiplos, nem todo mundo quer só concurso
público, mas falando na realidade de concurso talvez se fizermos uma estatística pós
código civil em vigor, 80% das questões de prova encontram resposta nesses
enunciados. Mas não podemos levar esses enunciados para as provas, então quem
pensa em concurso tem que ler e vamos fazer remissão aqui, acolá, fazendo colas
lícitas em nossos códigos.
2Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Nós sabemos que esse sistema de isonomia formal caiu por terra, não resistiu
a realidade dos fatos, grandes guerras, crack da Bolsa de Nova Iorque e hoje nós
conhecemos o sistema de isonomia material, isonomia substancial.
Há algum tempo atrás era muito fácil separarmos o direito público do direito
privado. O que se dizia? Direito público, interesse público e direito privado, interesse
particular. Vejam que essa afirmativa infelizmente que encontramos em alguns
manuais, ela fazia todo sentido em uma época em que o Estado não intervinha nas
relações privadas, naquele ambiente o direito civil era direito privado e o interesse era
meramente particular, mas no contexto atual nós passamos a ter também interesse
público nas relações privadas.
Cláusulas Gerais
5Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Então, vejam que a idéia de que o Código francês era completo tinha que
objetivo? Tinha o objetivo de atribuir ao julgador a missão de resolver os conflitos de
interesses como se houvesse uma mera receita de bolo. Quer dizer, o código era
completo e, portanto não havia qualquer margem de liberdade para o julgador
solucionar os conflitos de interesses, não havia muito espaço para que o julgador
pudesse imprimir seus respectivos valores na resolução dos conflitos. Daí aquela
máxima: “dá-me os fatos, que eu te darei a norma”, como se fosse muito fácil a
solução de todos os conflitos.
Isso é muito importante porque o nosso código atual usa e abusa da técnica
de cláusulas gerais, é uma marcante do nosso código atual... Boa fé objetiva, função
social do contrato.
Então, o grande mérito das cláusulas gerais qual é? É viabilizar que novas
situações práticas possam vir a ser dirimidas, possam vir a ser enfrentadas à luz
dessas regras que tem uma maior elasticidade, uma maior capacidade de absorção.
O tema é importante primeiro porque o código usa muito essa técnica como
percebemos, também porque as cláusulas gerais também vêm de uma conexão com a
perspectiva da constitucionalização do direito civil.
2. Personalidade Jurídica
Enunciado nº 246: Art. 1.331: Fica alterado o Enunciado n. 90, com supressão
da parte final: “nas relações jurídicas inerentes às atividades de seu peculiar
interesse”. Prevalece o texto: “Deve ser reconhecida personalidade jurídica ao
condomínio edilício”.
Início da Personalidade
Outro argumento: o nascituro pode ser donatário, artigo 542; pode ser o
herdeiro, artigo 1798; pode haver reconhecimento de paternidade do nascituro, artigo
26 parágrafo único do ECA e artigo 1609 parágrafo único do Código Civil; o nascituro
tem direito a gestação saudável, realização de exames de pré-natal, artigo 7º do ECA.
Art. 542 do CC: A doação feita ao nascituro valerá, sendo aceita pelo seu
representante legal.
Art. 1.798 do CC: Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas
no momento da abertura da sucessão.
Art. 26, Parágrafo único do ECA: O reconhecimento pode preceder o
nascimento do filho ou suceder-lhe ao falecimento, se deixar descendentes.
Art. 1.609, Parágrafo único do CC: O reconhecimento pode preceder o
nascimento do filho ou ser posterior ao seu falecimento, se ele deixar
descendentes.
Art. 7º do ECA: A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à
saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o
nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de
existência.
Tradicionalmente são defensores dessa posição o Leoni, Francisco
Amaral, Teixeira de Freitas, tem alguns clássicos defendendo a teoria
concepcionista, a Silmara ??? Almeida... Essa é inclusive a perspectiva do direito
francês, o direito francês segue a teoria concepcionista.
Uma das autoras que inclusive defende essa posição, uma delas nós veremos
que é a Maria Helena Diniz, ela costuma dizer o seguinte: o nascituro tem
personalidade jurídica para o exercício dos direitos da personalidade, para situações
existenciais. Ela chama essa personalidade jurídica de personalidade jurídica formal,
estaria atrelado ao exercício de direitos da personalidade, mas o nascituro não teria
personalidade jurídica para o exercício de direitos patrimoniais que ela chama de
personalidade jurídica material. Quem acompanha essa expressão da Maria Helena
Diniz é o Flávio Tartuce que também tem uma boa obra, uma coleção nova.
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Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
É dentro desse cenário, desse novo cenário trazido por vários autores é que
o nascituro, por exemplo, ele tem personalidade jurídica para pleitear investigação de
paternidade, estamos falando de um direito à identidade pessoal. Toda discussão
envolvendo a possibilidade do nascituro pleitear alimentos, a questão dos alimentos,
pois os alimentos estão atrelados a subsistência, a dignidade da pessoa humana.
Questão recente decidida pelo STJ, no informativo 360 STJ, Resp 931 556
que diz respeito à questão do dano moral em favor do nascituro pelo falecimento do
genitor. Depois vale a pena dar uma olhada no julgado.
Em uma perspectiva clássica se dizia que pode até caber dano moral, esse
sujeito nem conheceu o pai, então valor do dano moral seria reduzido. Só que em uma
perspectiva tradicional que valoriza a dignidade da pessoa humana, se sustenta que
talvez justamente o fato de não haver sequer a oportunidade do nascituro conhecer o
pai, talvez o dano moral seria mais intenso do que em relação aos outros filhos vivos.
Então, o STJ veio nessa perspectiva de reconhecer ser devido dano moral,
inclusive um valor idêntico pela dor suportada pelo nascituro de sequer ter tido a
oportunidade de conhecer o pai.
Resp 399028 / SP
I - Nos termos da orientação da Turma, o direito à indenização por dano moral não
desaparece com o decurso de tempo (desde que não transcorrido o lapso
prescricional), mas é fato a ser considerado na fixação do quantum.
II - O nascituro também tem direito aos danos morais pela morte do pai, mas a
circunstância de não tê-lo conhecido em vida tem influência na fixação do
quantum.
III - Recomenda-se que o valor do dano moral seja fixado desde logo, inclusive
nesta instância, buscando dar solução definitiva ao caso e evitando inconvenientes
e retardamento da solução jurisdicional.
Nesse contexto, vale a pena ressaltar o Enunciado 01 do CJF que vai até um
pouco além, diga-se de passagem.
Vejam que isso vai contra a perspectiva clássica que sempre afirmou que ou
o sujeito tem personalidade jurídica ou não tem. Não existe esse negócio de o sujeito
ter personalidade jurídica em parte. Nessa nova perspectiva, o nascituro teria
personalidade jurídica apenas para concretização de situações existenciais.
Término da Personalidade
Quais são alguns dos efeitos da morte? Claro que um rol meramente e
exemplificativo. Como alguns dos efeitos da morte nós teremos a transferência da
propriedade, artigo 1784, prevê a teoria da saisine, inclusive é uma das exceções
àquela lógica geral de que a propriedade de móveis se transfere com tradição e o
imóvel com o registro, por ficção jurídica pelo simples falecimento já há a imediata
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Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Art. 1.784 do CC: Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos
herdeiros legítimos e testamentários.
Outro efeito: a extinção do poder familiar, a extinção do vínculo conjugal e a
extinção de contratos personalíssimos.
Art. 12, Parágrafo único do CC: Em se tratando de morto, terá legitimação para
requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer
parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau.
Art. 20, Parágrafo único do CC: Em se tratando de morto ou de ausente, são
partes legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os
descendentes.
O que justifica a proteção post mortem dos direitos da personalidade? Sem
dúvida é uma situação excepcional, porque já está cessada a personalidade jurídica,
mas o que justifica é o princípio da dignidade da pessoa humana. Os exemplos
clássicos de proteção pos mortem de direitos da personalidade são: a imagem e os
direitos morais do autor.
Tem uma questão que não há ainda uma resposta clara, a doutrina também
não vem enfrentando, é mais um dos problemas em que nós percebemos que não há
ainda uma solução clara. O que acontece no caso de reaparecimento de sujeito no
caso do artigo 7º, por exemplo? Esse é um problema que o código não sistematizou,
não regulamentou.
Nós veremos que o Código Civil atual tem uma preocupação central em
proteger a legítima expectativa de terceiros, justamente sobre o influxo, em
homenagem ao princípio da confiança, proteção da legítima expectativa.
Todo mundo lembra que a nulidade absoluta atinge interesse público. O que a
doutrina clássica sempre afirmou? Se a nulidade absoluta atinge interesse público, não
se protege interesse de terceiros no caso de nulidade, porque o interesse público
prevalece sobre eventual interesse de terceiros.
Todo mundo sabe que agora a simulação passa a ser causa de nulidade
absoluta, está lá no artigo 167 e olha o que diz o §2º do artigo 167: ressalvam-se os
direitos de terceiros de boa fé em face dos contraentes do negócio jurídico simulado.
Art. 167 do CC: É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se
dissimulou, se válido for na substância e na forma.
§ 2o Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do
negócio jurídico simulado.
Quer dizer, mesmo a simulação sendo uma causa de nulidade absoluta, o
artigo 67 protege os interesses de terceiros, por quê? Porque a proteção aos interesses
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Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
de terceiros passa a ser também matéria de ordem pública, porque a proteção aos
interesses de terceiros decorre do princípio da confiança, boa fé objetiva, ela tem uma
tendência de proteção a legítima expectativa de terceiros.
É só uma síntese, vamos ver isso com mais calma, mas é uma mudança aqui
na reflexão do direito privado.
Como situação de morte presumida nós temos a lei 9140/95 que envolve os
desaparecidos políticos a época do regime militar.
Comoriência
Artigo 8º do CC.
Não é necessário que o evento seja único, o que importa é que haja a efetiva
simultaneidade, a dificuldade em se apurar a efetiva precedência de falecimentos.
O efeito prático disso aqui vai para o âmbito do direito sucessório, porque se
há presunção de simultaneidade o efeito é a não transmissão de direitos sucessórios
entre comorientes.
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Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
3. Capacidade
Capacidade de Direito
O Tepedino traz aqui uma ponderação que parece interessante, ele diz o
seguinte: por exemplo, artigo 1618: só a pessoa maior de 18 anos pode adotar.
Quando o sujeito atinge os 16 ele já atinge a incapacidade relativa e, em tese, ele
pode praticar os atos da vida civil através da assistência.
Capacidade de Fato
Vamos para a capacidade de fato que aí sim nós temos vários aspectos, até
polêmicos aqui, de modo até menos abstrato.
Aqui a diferença é bem clara, porque é claro que um garoto de cinco anos
pode ser proprietário porque tem personalidade jurídica, tem capacidade de direito,
mas ele não pode alienar sozinho um imóvel porque ele não tem capacidade de fato.
Como nós sabemos absolutamente incapazes tem que ser representados sob
pena de nulidade absoluta, artigo 166, I.
Art. 171 do CC: Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o
negócio jurídico:
I - por incapacidade relativa do agente;
Tem uma questão importante, que pela letra fria do Código todo ato praticado
por um absolutamente incapaz, por um menor de 16 sem estar devidamente
representado conduziria a nulidade absoluta. Só que vejam, não é muito comum um
garoto de 15 anos ou até muito menos, por exemplo, celebrar um contrato de
transporte sozinho e ir para a escola. Ele chega na escola e celebra um contrato de
compra e venda da merenda.
Enfim, nós temos alguns atos socialmente aceitos que são efetivamente
praticados por menores de 16 anos sem que ninguém suscite a nulidade de tais atos.
Para essas hipóteses não previstas em lei, surge a chamada teoria do ato fato.
Teoria do ato fato, essa é a expressão mais usada, mas como sinônimo nós
teríamos a idéia de autorização presumida e o Leoni usa expressão autonomia, seria a
expressão utilizada lá no Direito alemão. No Brasil, a expressão mais utilizada seria a
teoria do ato fato.
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Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Qual o objetivo básico da teoria do ato fato? A teoria do ato fato busca
estabelecer critérios que venham a conferir validade a determinados atos praticados
por incapazes independentemente de representação ou assistência.
Uma questão aqui que agora estava resolvida no Código atual, é a seguinte:
no Código de 16 os ausentes estavam no rol dos absolutamente incapazes. A doutrina
já criticava muito o Código anterior por isso, porque o ausente a princípio é aquele que
abandona o seu domicílio sem deixar um administrador para seus interesses e o
absolutamente incapaz é aquele que não tem nenhum discernimento. Quer dizer, o
fato de alguém abandonar seu domicílio sem deixar um administrador para os seus
interesses não significa que o sujeito é totalmente desprovido de discernimento.
Esta questão está resolvida porque o Código não mais traz o ausente no rol
dos absolutamente incapazes. Quer dizer, esse aparente equívoco do Código de 16 foi
corrigido pelo legislador do Código em vigor.
Intervalo...
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Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Data: 02/09/08
Aula 01 – Parte 02
Há quem defenda, acho que essa não é uma posição que ganhe repercussão
no direito processual, porque na verdade essa discussão aqui ela tem natureza
processual, mas há quem defenda que a sentença tem natureza híbrida. Ela seria
híbrida, ela seria heterogênea porque na verdade essa sentença ela seria declaratória
em relação a ausência de discernimento e constitutiva em relação ao estado de
incapaz.
O Leoni, por exemplo, defende essa posição que talvez não agrade os
processualistas porque, como nós ressaltamos, toda sentença constitutiva pressupõe
uma carga de declaração.
Talvez numa visão mais atual, acho que já temos que acostumar a essa nova
dogmática, ao invés de falar em segurança jurídica acho que devemos começar a falar
em princípio da confiança. Na verdade, o princípio da confiança busca a proteção da
legítima expectativa, seria como que uma nova leitura da antiga segurança jurídica,
traduzida através da boa fé objetiva.
Só que ao mesmo tempo uma semana antes é claro que o sujeito era
ausente, desprovido de discernimento. Para essas situações se aplica o que a doutrina
chama de incapacidade natural.
Pergunta do aluno.
Resp 255271 / GO
RECURSO ESPECIAL 2000/0036843-1
Quer dizer, o enunciado 138 diz que excepcionalmente a vontade dos menores
de 16 deve ser levada em conta para situações existenciais, ou seja, situações de
natureza extrapatrimonial.
Art. 15 do CC: Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida,
a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica.
Pela lógica dos direitos patrimoniais é muito fácil, quem se manifesta ao
representante e o representado tem que seguir, agora a dúvida é: será que o
representante ele tem disponibilidade para assumir riscos em relação a própria vida do
representado? Quer dizer, a lógica da representação é toda voltada para a lógica dos
direitos patrimoniais.
Isso é importante por quê? O Enunciado nº 138 traz uma sistemática peculiar
a representação, no caso dos absolutamente incapazes, por conta do princípio da
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Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
O direito brasileiro já admitiu, isso antes do Código de 16, quando valiam aqui
as Ordenações de Portugal, as Ordenações Filipinas, Ordenações Manuelinas,
Ordenações Afonsinas, elas admitiam alegações dos intervalos de lucidez. Mas desde o
Código de 16, entendimento consolidado na doutrina e jurisprudência no sentido de
não se admitir a alegação de intervalo de lucidez para convalidar o negócio jurídico.
Art. 497 do CC: Sob pena de nulidade, não podem ser comprados, ainda que em
hasta pública:
I - pelos tutores, curadores, testamenteiros e administradores, os bens confiados à
sua guarda ou administração;
Tem o artigo 496, lembram daquela história da venda de descendente para
ascendente que pressupõe o consentimento dos outros descendentes e também em
regra do cônjuge? Também teríamos ali uma hipótese de impedimento, de fala de
legitimação.
Art. 666 do CC: O maior de dezesseis e menor de dezoito anos não emancipado
pode ser mandatário, mas o mandante não tem ação contra ele senão de
conformidade com as regras gerais, aplicáveis às obrigações contraídas por
menores.
Segunda: pode ser testemunha, art. 228, I e ainda pode testar, art. 1858
combinado com o art. 1860,§ único.
Art. 180 do CC: O menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para eximir-
se de uma obrigação, invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando
inquirido pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior.
Lembra aquela história do maior de 16 e menor de 18 que quando oculta a
sua própria idade acaba assumindo as obrigações daí decorrentes? É uma
peculiaridade também atrelada ao artigo 4º, inciso I.
A doutrina costuma afirmar que o artigo 180 decorre do princípio geral de que
ninguém pode se beneficiar da própria torpeza. Não está errado, está certo, mas numa
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Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
leitura atual podemos afirmar que o artigo 180 decorre da boa fé objetiva através de
um tema que veremos mais adiante, que é a idéia da (24’30’’). Boa fé objetiva através
da (24’35’’).
Só para não ficar no ar vou falar de maneira bem resumida. Qual é a idéia
básica aqui da (24’58’’)? Se eu violo uma determinada regra X, eu não posso exigir que
outrem cumpra aquela mesma regra X que eu estou transgredindo. A idéia básica é
essa, quer dizer, se eu descumpro uma determinada regra X eu não posso exigir que
outrem cumpra a quela regra X que eu estou violando.
Isso não tem a ver com exceção de contrato não cumprido, por exemplo?
Enquanto não cumpro minha prestação não posso exigir o cumprimento da prestação
oposta. Isso não tem a ver com o dolo recíproco do artigo 150? Se ambas as partes
agem dolosamente, nenhuma delas pode alegar o dolo em face da outra.
Art. 150 do CC: Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-
lo para anular o negócio, ou reclamar indenização.
Quer dizer, o código ali no artigo 180 foi feliz ao restringir essa sistemática
entre o 16 e 18 anos porque antes dos 16 o sujeito é absolutamente incapaz. A
hipótese é de nulidade absoluta, ou seja, interesse público. Vamos ver com calma que
não de aplica (26’11’’) em detrimento de interesse público.
Aqui, o inciso II do artigo 4º, traz para o Código situações que antes eram
previstas por leis extravagantes. O Código fala em ébrio, habitual, viciados em tóxicos
e os que por deficiência mental tenham o discernimento reduzido.
Vejam, se o sujeito quando pratica o ato, ele não tem discernimento por conta
de uma embriaguez que não é constante, quer dizer, ele não é ébrio habitual, mas
estava absolutamente bêbado quando celebrou o negócio jurídico, vejam que o
argumento aí a ser utilizado por muitos de agora em diante, vai ser o artigo 3º, III.
Quando o sujeito não tem discernimento por uma causa transitória é alegável o artigo
3º, III.
Na verdade, o pródigo em geral até tem discernimento dos atos da vida civil,
o problema do pródigo envolve atos de disposição patrimonial, ele padece de falta de
discernimento para atos que envolvam disposição patrimonial.
Se um pródigo causa um dano a outrem num ato que não envolva disposição
patrimonial, para esse ato o prodigo é capaz e não há como se cogitar de
responsabilidade civil indireta do curador.
Qual a remissão que eu já faria aí? Artigo 4º, IV combinado com o artigo 1782
para o artigo 932, II. Vamos lembrar o que? O pródigo é relativamente incapaz, mas só
para os atos de disposição patrimonial e a responsabilidade civil indireta tem que ser
interpretada à luz do artigo 1782.
Art. 4º, §único do CC: A capacidade dos índios será regulada por legislação
especial.
O §único do artigo4º do código civil diz o seguinte: a capacidade dos índios
será regulada por regulação especial. Quer dizer, remeteu para a legislação especial e,
ao invés de usar a expressão silvícola, usou a expressão índio.
E o Código remete para a legislação especial. Essa lei especial é a lei 6001/73.
Basicamente, a lei prevê que o negócio praticado entre um índio não acautelado e um
terceiro estranho a tribo é presumidamente nulo, salvo se demonstrar que o índio tinha
efetivo discernimento.
que enfrentam o tema, e não são todos obviamente, ressaltam que não se admite
benefício de restituição no Direito brasileiro.
Art. 8o do CC: Na proteção que o Código Civil confere aos incapazes não se
compreende o benefício de restituição.
Primeiro, por uma razão da tradicional segurança jurídica e aí talvez uma
leitura mais atualizada, como nós vimos, princípio da confiança que é a proteção da
legítima expectativa.
O que essa teoria a grosso modo busca limitar? Condutas contraditórias que
venham a atingir uma legítima expectativa.
Além da legítima expectativa, a boa fé objetiva e até a venire aqui, não nos
esqueçamos do artigo 2º, §3º da LICC: salvo disposição em contrário, a lei revogada
não se restaura por ter a lei reguladora perdido a vigência.
Emancipação
Só para não precisarmos decorar, por que o Código atual passou a exigir
explicitamente instrumento público quando toda a tendência do direito civil vem cada
vez mais no sentido de flexibilizar a forma e, aqui, o Código acabou aumentando o
rigor formal?
Art. 928 do CC: O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas
por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios
suficientes.
Então, primeiro tem que buscar no patrimônio dos pais e se não achar bens
no patrimônio dos pais aí sim vai para o patrimônio dos incapazes. Só que com a
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Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Pergunta do aluno.
Resposta: tem uma regrinha especial lá no artigo 934 que diz que a regra
geral é de que o responsável indireto quando indeniza tem o direito de regresso contra
o direto, a exceção é quando o responsável direto é um descendente seu. Então,
excepcionalmente nós teríamos aqui um regime de solidariedade passiva em que não
haveria um direito de regresso dos pais em relação ao filho.
Art. 934 do CC: Aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o
que houver pago daquele por quem pagou, salvo se o causador do dano for
descendente seu, absoluta ou relativamente incapaz.
Teria uma regra especial aqui que aniquilaria esse direito de regresso que era
próprio do regime de solidariedade passiva como veremos mais adiante. Não haveria
aquelas relações internas do regime de solidariedade passiva.
Art. 1.552 do CC: A anulação do casamento dos menores de dezesseis anos será
requerida:
I - pelo próprio cônjuge menor;
II - por seus representantes legais;
III - por seus ascendentes.
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Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Art. 1.551 do CC: Não se anulará, por motivo de idade, o casamento de que
resultou gravidez.
Essa questão da pena criminal parece ter sido revogada pelo Código Penal,
porque não há aqui mais aquela excludente de inimputabilidade, mas subsiste a
possibilidade do casamento antes dos 16 no caso de gravidez.
A dúvida é a seguinte: vamos supor que eles se casem aos 13 anos de idade
por causa de gravidez. Estão emancipados aos 13 anos? A maioria da doutrina entende
que sim, Silvio Rodrigues, Carlos Roberto Gonçalves, Pablo Stolze.
Contra essa posição: José Acir Lessa Giordani. Ele invoca como argumento
aqui a redação do artigo 1560, §1º: extingue-se em 180 dias o direito de anular o
casamento dos menores de 16 anos contado o prazo para o menor do dia em que
perfez essa idade, quer dizer, o prazo para anular o casamento pelo menor de 16 só
começa a fluir quando ele atinge os 16, por quê? Porque o código entendeu que só a
partir dos 16 ele tenha discernimento suficiente para isso.
O inciso III do artigo 5º, § único, traz uma regra em total desuso, prevê
emancipação aqui pelo exercício de emprego público efetivo.
Aqui, além de estar em desuso, o Código parece ter usado mal a expressão
porque emprego público estaria em tese atrelado a empresa pública e sociedade
economia mista. Os próprios civilistas quando comentam a questão a maioria diz o
seguinte: só para o caso de Administração Direta, autarquias e fundações que são
pessoas jurídicas de direito público. Então, o Código uso mal, de maneira atécnica a
expressão emprego público.
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Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Pergunta do aluno.
Resposta: em tese sim, tem até uma inter facie interessante que é a seguinte:
economia própria, salário mínimo é economia própria? O garoto ganha um salário
mínimo, será que ele emancipou? Pela Constituição sim.
Por isso, até o Pablo Stolze diz que dificilmente essa regra vai ser aplicada
no caso de aprendiz e no caso de jornada a tempo parcial. Nessas hipóteses se admite
a percepção de salário inferior ao mínimo legal, quer dizer, no caso de aprendiz, no
caso de jornada a tempo parcial.
Só para fechar aqui, uma última questão que é a seguinte: o Pablo Stolze
defende que se por ventura houver a emancipação pela relação de emprego deixam de
ser aplicadas regras específicas de proteção aos incapazes da legislação trabalhista.
Por exemplo, o artigo 439 da CLT diz que o menor de 18 tem que estar
devidamente assistido para lavratura lá do tempo de rescisão.
Art. 439 da CLT: É lícito ao menor firmar recibo pelo pagamento dos salários.
Tratando-se, porém, de rescisão do contrato de trabalho, é vedado ao menor de 18
(dezoito) anos dar, sem assistência dos seus responsáveis legais, quitação ao
empregador pelo recebimento da indenização que lhe for devida.
O Pablo Stolze diz que não faz nenhum sentido o sujeito ter sido
emancipado pela própria relação de emprego e ter que ser assistido para a lavratura
do termo de rescisão. Quer dizer que essa emancipação do Direito Civil projetaria para
as relações de Direito de Trabalho.
Art. 8º, §único da CLT: O direito comum será fonte subsidiária do direito do
trabalho, naquilo em que não for incompatível com os princípios fundamentais
deste.
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Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Fim da aula.
Data: 09/09/08
Aula 02
4. Direitos da Personalidade
Características Gerais
Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são
intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação
voluntária.
Desde que entrou em vigor o Código, a doutrina começou a refutar a
literalidade do artigo 11 porque se os direitos da personalidade fossem efetivamente
indisponíveis, efetivamente irrenunciáveis ninguém poderia posar nu, lutar boxe... Na
verdade, o que a doutrina afirma é que os direitos da personalidade são relativamente
indisponíveis.
Então, por exemplo, o Flávio Tartuce trabalha bem com isso... O Flávio
Tartuce ressalta, por exemplo, contrato vitalício de imagem o que acontece em
relação a alguns atletas, quer dizer, a cessão vitalícia de imagem parece colidir com a
indisponibilidade dos direitos da personalidade. Quer dizer, a qualquer momento o
sujeito pode voltar atrás no que tange a cessão da imagem.
Claro que a simples edição da imagem não configura dano moral, mas a forma
pela qual a edição possa vir a ser exteriorizada ao público pode sim configurar dano
moral. Quer dizer, não se admite uma renúncia irrestrita aos direitos da personalidade,
é isso que quer dizer o Enunciado 04 do CJF.
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Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Em relação a esse tema, talvez seja interessante a conexão com o artigo 852:
é vedado o compromisso para a solução de questões de estado, de direito pessoal de
família e de outros que não tenham caráter estritamente patrimonial.
Curioso lembrar que quando se fala na questão do bem de família legal, todos
se lembram está na lei 8009/90, aquela questão do único imóvel residencial, enfim...
Há uma forte tendência da jurisprudência do STJ em afirmar que se aplica a
impenhorabilidade do bem de família ainda que o titular do imóvel nele não resida,
exigência esta explicitamente prevista na lei 8009/90 que exige que haja residência no
imóvel.
Tem uma alteração recente aqui que vale a pena ressaltar no CPC. O artigo
649, X prevê que são absolutamente impenhoráveis até o limite de 40 salários mínimos
a quantia depositada em caderneta de poupança. Quer dizer, a impenhorabilidade de
até 40 salários mínimos em caderneta de poupança evidencia que a regra inspira no
princípio da dignidade da pessoa humana.
Inclusive é discutível essa posição do TST porque eles usam prazo de dois
anos invocando a emenda constitucional 45 que atraiu a competência para apreciar
dano moral para a Justiça do Trabalho e os créditos trabalhistas tem prescrição total
em dois anos.
42
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Pergunta do aluno.
Pergunta do aluno.
O que o Tepedino defende é que dentro da ótica do dano moral não haveria
consumação da lesão, portanto não haveria sequer o início do prazo prescricional.
Contra essa posição, quer dizer, o que a maioria da doutrina afirma é o que?
Os reflexos patrimoniais prescrevem. O Tepedino não desmente isso, ele apenas
refuta a questão envolvendo dano moral.
Essa segunda posição, que tem como um dos seus defensores o próprio
Flávio Tartuce, invoca precisamente a questão da constitucionalização do direito civil.
Quer dizer, apesar de estarmos diante de um crédito de natureza patrimonial, trata-se
de um crédito de natureza patrimonial que decorre da violação a dignidade da pessoa
humana.
vem a tona questões como proteção aos índios, homossexuais, aborto e assim por
diante.
O que essa corrente defende é que não caberia ao Estado definir os direitos
da personalidade, na verdade eles seriam pré-existentes ao ordenamento jurídico.
Vamos para o Código Civil, vamos ao artigo 12 diz: pode-se exigir que cesse a
ameaça ou a lesão a direito da personalidade e reclamar perdas e danos, sem prejuízo
de outras sanções previstas em lei.
Quer dizer, seria insatisfatório a luz do sistema que tivesse que se aguardar a
violação ao direito da personalidade para que o ordenamento jurídico pudesse então
reagir.
Enunciado 12, CJF: Art. 12: A primeira parte do art. 12 do Código Civil refere-se
às técnicas de tutela específica, aplicáveis de ofício, enunciadas no art. 461 do
Código de Processo Civil, devendo ser interpretada com resultado extensivo.
47
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Art. 461. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou
não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou, se procedente o
pedido, determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente
ao do adimplemento. (Redação dada pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994)
A tutela reintegratória tem que objetivos? O retorno ao status quo ante. Como
manifestações da tutela reintegratória nós teríamos o direito de resposta, a retratação
pública e a divulgação na mídia de sentença condenatória proferida em face do agente
causador do dano.
Por razões obvias, em que pese o Código apenas se referir ao cônjuge, essa
legitimação também se aplica ao companheiro, Enunciado 275 do CJF. Se quiserem
pode combinar o Enunciado 275 CJF combinado com o artigo 226, §3º da Constituição
(é o que prevê a união estável como uma espécie de família).
Enunciado 275, CJF: Arts. 12 e 20: O rol dos legitimados de que tratam os arts.
12, parágrafo único, e 20, parágrafo único, do Código Civil também compreende o
companheiro.
Parece não haver dúvidas justamente pelo fato de que a reparação por dano
moral nada mais representa do que um reflexo patrimonial. Só que a premissa do
artigo 943 é que haja violação do direito da personalidade de alguém em vida e aí a
obrigação de prestá-la ou o direito a reparação se transmite com a herança. É
diferente da hipótese do artigo 12, §único em que ocorre a lesão do direito da
personalidade de alguém já falecido.
Voltando para o artigo 12, §único, tem uma questão que é a seguinte: o
Código elencou os legitimados para a proteção dos direitos da personalidade do
falecido. Será que esses elencados do §único, eles agem na proteção do direito da
personalidade do morto ou agem na proteção de um direito da personalidade próprio?
Talvez os processualistas talvez resumissem... A legitimação é ordinária ou
extraordinária? Talvez a indagação viesse nesses termos.
Qual a idéia aqui da questão dos lesados indiretos? O Código elencou pessoas
próximas ao falecido, a idéia de que essas pessoas mais próximas acabariam
suportando um dano moral próprio ao presenciarem a violação da imagem ou do corpo
do falecido.
Tem um exemplo concreto que não se encaixa muito bem aqui, mas a
essência é a mesma: lembram da estudante vitimada por uma bala perdida numa
universidade aqui no Rio de Janeiro? A sentença de primeiro grau condenou por dano
moral a universidade não apenas em favor dela, vítima direta, mas em favor dos pais
porque os pais ao presenciarem o sofrimento da filha acabariam suportando um dano
moral próprio. Mesmo se não há aqui uma perspectiva de um dano moral reflexo, seria
dano moral reflexo, indireto.
49
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Contra essa posição o que a gente afirma? Vamos afirmar que não há como
se estranhar que haja direitos da personalidade do falecido porque na verdade se
justifica a proteção post mortem do direito da personalidade por conta da dignidade da
pessoa humana. Mas não é essa a tendência da doutrina.
Enunciado 05, CJF: Arts. 12 e 20: 1) As disposições do art. 12 têm caráter geral
e aplicam-se, inclusive, às situações previstas no art. 20, excepcionados os casos
expressos de legitimidade para requerer as medidas nele estabelecidas; 2) as
disposições do art. 20 do novo Código Civil têm a finalidade específica de regrar a
projeção dos bens personalíssimos nas situações nele enumeradas. Com exceção
dos casos expressos de legitimação que se conformem com a tipificação
preconizada nessa norma, a ela podem ser aplicadas subsidiariamente as regras
instituídas no art. 12.
Vamos para o artigo 13, porque ele comporta uma discussão importante.
Artigo 13: salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio
corpo quando importar diminuição permanente da integridade física ou contrariar os
bons costumes.
Pergunta do aluno.
Na verdade, este artigo traz outras questões que não encontram solução
firme, fatos novos, por exemplo: a questão da medicina preventiva que tem como
aferir a predisposição genética para determinadas doenças.
Quer dizer, a mulher constata que tem uma pré disposição a câncer de mama
e diante da simples pré disposição a mulher acaba suscitando e pleiteando a
possibilidade de retirada da mama.
Tem uma outra questão, não sei se já ouviram falar, a questão dos wannabes.
São as pessoas que tem compulsão para automutilação, as pessoas têm a compulsão
de retirar partes do seu corpo, quer dizer, sem dúvida há um tipo de patologia psíquica
em relação aos wannabes.
Pergunta do aluno.
Pergunta do aluno.
Vamos dar uma olhada no artigo 14. Sem dúvida é uma questão importante
também.
Esse artigo foi objeto de modificações. Há algum tempo a regra dizia que a
presunção era de que todos seriam doadores, tamanha foram as críticas que houve
alteração e agora a regra prevê que a decisão compete aos familiares.
54
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Só que o artigo 14 do Código Civil, lei posterior, diz que o próprio indivíduo
pode dispor de seu corpo post mortem. Será que o Código Civil, lei posterior, revogou
a lei do transplante? Não, o que a doutrina vem afirmando é a necessidade de uma
interpretação sistemática entre os dispositivos.
Quer dizer, a vontade manifestada pelo doador em vida prevalece sobre a dos
familiares. Nesse sentido, o Enunciado 277 do Conselho, tendo os autores como o
Venosa e Tepedino nesse sentido.
Enunciado 277, CJF: Art. 14: O art. 14 do Código Civil, ao afirmar a validade da
disposição gratuita do próprio corpo, com objetivo científico ou altruístico, para
depois da morte, determinou que a manifestação expressa do doador de órgãos
em vida prevalece sobre a vontade dos familiares, portanto, a aplicação do art. 4º
da Lei n. 9.434/97 ficou restrita à hipótese de silêncio do potencial doador.
Essa foi uma das questões específicas da prova PGE de direito civil.
Pergunta do aluno.
Só para ressaltar, essa vontade do doador em vida ela pode se dar, afirma a
doutrina, tanto por testamento quanto por qualquer documento idôneo. E mesmo que
essa vontade não tenha se manifestado por testamento, é da essência dessa
manifestação de vontade a revogabilidade, porque estamos tratando de um direito da
personalidade.
Intervalo...
Data: 09/09/08
Aula 02 – 2ª Parte
Vamos dar uma olhada no artigo 15. Diz o artigo 15: “ninguém pode ser
constrangido a submeter-se com risco de vida a tratamento médico ou intervenção
cirúrgica”.
Só que o artigo 15 diz que ninguém pode ser constrangido a submeter-se com
risco de vida a tratamento médico ou intervenção cirúrgica. Na verdade, a mera
transfusão sanguínea, por si só, não implica em risco de vida e em não implicando a
mera transfusão sanguínea em risco de vida, a questão não seria dirimida
especificamente pelo artigo 15.
Nós temos aqui, nesse caso específico, mais uma vez a questão da
ponderação de interesses envolvendo direitos da personalidade. Porque nós temos a
questão da liberdade religiosa, que é um direito da personalidade, consagrado
constitucionalmente versus o direito a vida, também resguardado em sede
constitucional.
Aqui, apenas ressaltar algo que vamos ver mais adiante, mas é preciso desde
logo afirmar que numa perspectiva contemporânea esse consentimento há de ser
necessariamente o chamado consentimento informado.
Inclusive, essa questão do dever de informação vem ganhando cada vez mais
repercussão... Na penúltima prova da PGE, na penúltima prova específica caiu uma
questão elaborada pelo Tepedino. Uma atriz famosa fez uma cirurgia plástica estética
e ficou horrorosa com a cirurgia. Ela ingressou com uma ação de responsabilidade civil
em face do médico. O médico provou por A+B que não houve falha no procedimento,
que aquela é uma variante do corpo humano, de cada 100 cirurgias 01 pode trazer
aquele resultado. Indagava-se qual seria o resultado da questão.
Então, sempre que se fala hoje em consentimento, como diz o Código, a idéia
é a do consentimento necessariamente informado a luz da boa fé objetiva.
Para não esquecermos disso, é bom fazer uma conexão entre o artigo 15 e o
artigo 422 que trata de boa fé objetiva.
Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a
tratamento médico ou a intervenção cirúrgica. Ver artigo 422 do CC
Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do
contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.
Olha que questão tormentosa: vamos supor que o paciente seja um
absolutamente incapaz, um garoto de 14 anos. Em tese, a manifestação de vontade do
absolutamente incapaz ela é desimportante, não é isso? O que vale é a vontade do
representante porque o representado não tem discernimento, portanto a vontade do
representado é desimportante.
Pergunta do aluno.
57
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Resposta: tem sistemática específica na Lei 9.434 sobre o tema. Por exemplo,
só se admite a doação de órgãos dos incapazes no caso de medula óssea desde que
haja autorização judicial. Salvo engano é o artigo 9º da Lei 9434/97, tem regra
específica.
Vamos lembrar:
Artigo 55,§ único da Lei 6015/73 que é quando o prenome expõe ao ridículo.
Art. 55, § único. Os oficiais do registro civil não registrarão prenomes suscetíveis
de expor ao ridículo os seus portadores. Quando os pais não se conformarem com
a recusa do oficial, este submeterá por escrito o caso, independente da cobrança
de quaisquer emolumentos, à decisão do Juiz competente.
Na mesma lei de registros públicos, artigo 56 que prevê que até 01 ano após
o atingimento da maioridade é possível a alteração do prenome.
Art. 56. O interessado, no primeiro ano após ter atingido a maioridade civil,
poderá, pessoalmente ou por procurador bastante, alterar o nome, desde que não
prejudique os apelidos de família, averbando-se a alteração que será publicada
pela imprensa. (Renumerado do art. 57, pela Lei nº 6.216, de 1975).
Erro de grafia, adoção: artigo 1627 do Código Civil e artigo 47, §5º do ECA. O
erro de grafia não em previsão legal.
Art. 58. O prenome será definitivo, admitindo-se, todavia, a sua substituição por
apelidos públicos notórios. (Redação dada pela Lei nº 9.708, de 1998)
Art. 43. O nome do estrangeiro, constante do registro (art. 30), poderá ser
alterado: (Renumerado pela Lei nº 6.964, de 09/12/81)
I - se estiver comprovadamente errado;
II - se tiver sentido pejorativo ou expuser o titular ao ridículo; ou
III - se for de pronunciação e compreensão difíceis e puder ser traduzido ou
adaptado à prosódia da língua portuguesa.
O que há de interessante e de novo é o seguinte: a doutrina sempre afirmou
que essas possibilidades da alteração de prenome são situações excepcionalíssima,
merecendo sempre interpretação restritiva.
Resp 220059 / SP
RECURSO ESPECIAL
1999/0055273-3
O nome pode ser alterado mesmo depois de esgotado o prazo de um ano, contado
da maioridade, desde que presente razão suficiente para excepcionar a regra
temporal prevista no art. 56 da Lei 6.015/73, assim reconhecido em sentença (art.
57). Caracteriza essa hipótese o fato de a pessoa ter sido criada desde tenra idade
pelo padrasto, querendo por isso se apresentar com o mesmo nome usado pela
mãe e pelo marido dela. Recurso não conhecido.
Resp 439636 / SP
RECURSO ESPECIAL
2002/0064690-4
Resp 538187 / RJ
Nesse primeiro, RESP 220059, foi uma hipótese de um sujeito que foi criado
pela mãe e pelo padrasto e a mãe e o padrasto sempre utilizaram um prenome distinto
daquele constante do registro.
Veja se não parece com surrectio envolvendo o direito ao nome? Qual a idéia
básica da surrectio? É uma atitude continuada que gera uma legítima expectativa em
favor de outrem, é uma decorrência da boa fé objetiva, é a idéia da surrectio. Vamos
ver isso com calma mais adiante, mas a conexão aqui acaba sendo inevitável. É uma
conduta reiterada que acaba gerando uma legítima expectativa. A grosso modo é isso.
Então, talvez seja admissível a aplicação desses institutos para proteção dos
direito da personalidade, mas talvez não seja possível em detrimento dos direitos da
personalidade. Quer dizer, não dá para se falar em supressio, por exemplo, em relação
à questão do nome, da imagem... Aquela questão da cessão vitalícia do direito a
imagem. Não vamos falar em supressio, em inércia prolongada gerando a perda da
expectativa de voltar atrás, porque nós aplicaríamos a supressio em detrimento do
direito da personalidade, não podemos aplicar o instituto em detrimento do interesse
público.
Pergunta do aluno.
61
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Resposta: é bastante pacífica, claro que erros bem evidentes de grafia, porque
na verdade a questão do erro de grafia estaria atrelada mera a ratificação, não seria
uma alteração, uma modificação, seria uma mera retificação e que estaria vinculada a
idéia da dignidade da pessoa humana.
Pergunta do aluno.
Pergunta do aluno.
Pergunta do aluno.
Resp 66643 / SP
Foi a hipótese de um filho que foi abandonado pelo pai e conseguiu alteração
do patronímico (sobrenome) pelo abandono do pai. Quer dizer, por razões existências o
STJ admitiu a supressão do patronímico paterno em homenagem a dignidade da
pessoa humana.
Art. 19. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que se dá
ao nome.
Na verdade, o pseudônimo não se confunde com apelido. O pseudônimo, na
verdade, é o nome utilizado usualmente por artistas, escritores e jornalistas visando a
sua identificação para fins profissionais.
Não estamos falando de apelido por que o apelido tem que característica? Ele
está atrelado normalmente a característica do indivíduo e o apelido em regra é
atribuído por terceiros. O apelido não tem como objetivo substituir o nome civil
propriamente dito, já o pseudônimo é o nome pelo qual o sujeito se intitula para fins
profissionais.
Então, essa proteção ao pseudônimo se faz relevante até para fins que não
apenas estritamente profissionais.
Pergunta do aluno.
Porque vejam, a idéia de intimidade aqui nesse caso está atrelada a idéia de
liberdade, o que vimos na nossa primeira aula? A dignidade da pessoa humana
comporta alguns subprincípios: liberdade, igualdade, integridade psicofísica e
solidariedade.
O que se afirma é que dentro desse contexto nós temos uma colisão entre
liberdade e solidariedade porque o exercício demasiado da liberdade acaba atingindo a
repercussão jurídica de terceiros, colidindo aqui com o princípio constitucional da
solidariedade.
Pergunta do aluno.
Pergunta do aluno.
Quer dizer que, a preocupação central estaria não em relação a esses reflexos
patrimoniais e sim em relação ao direito a identidade pessoal, que é o nosso caso aqui.
Esse é um tema muito árido, é um tema em que nós não temos verdades
absolutas. Vai muito até da convicção pessoal, da convicção religiosa, ideológica. É um
tema sem dúvida alguma muito controverso.
Numa perspectiva tradicional está dentro da boa fé, numa perspectiva atual é
extremamente discutível porque estamos falando de intimidade, privacidade, é uma
mera pré-disposição.
Domicílio
Art. 70. O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua
residência com ânimo definitivo.
Diante dessa definição, toda a doutrina, isso é clássico em todos os manuais,
traz aquela diferença entre morada, residência e domicílio.
É curioso porque a doutrina civilista não traz exemplos previstos em lei. Mas o
artigo 469 da CLT prevê que a transferência do empregado para outra localidade ela é
sempre temporária. Então na verdade, o empregado transferido para outra localidade
por um prazo de 02 anos, por exemplo, terá lá a sua residência, mas não terá lá o seu
domicílio voluntário.
Art. 71. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde,
alternadamente, viva, considerar-se-á domicílio seu qualquer delas.
Imagine um médico, profissional líber que passe 06 meses na Serra e 06
meses na praia. O Código brasileiro admite a possibilidade de pluralidade domiciliar.
Tem uma regra correspondente a essa no artigo 94, §1º do CPC: se o réu
tiver mais de um domicílio ele pode ser citado em qualquer deles.
Pergunta do aluno.
Para resumir, o inciso IV está dizendo que o domicílio das demais pessoas
jurídicas que não os entes federativos é a sua sede
O legislador anteviu esse problema no parágrafo 1º que diz lá: tendo a pessoa
jurídica diversos estabelecimentos em lugares diferentes cada um deles será
considerado domicílio para os atos nele praticados.
Regra especial, nesse caso não será a sede e sim o local onde o ato é
praticado. Qual é o objetivo dessa regra?
Pergunta do aluno.
Aliás, vou aproveitar e fazer uma conexão aqui, qual o objetivo desse
parágrafo 1º? É proteger aquele que negocia com a pessoa jurídica. Fazendo uma
conexão essa proteção acaba se tornando inócua, desnecessária, em relação de
consumo porque o consumidor pode demandar do seu próprio domicílio.
Sim, o Zeno Veloso tem uma obra específica sobre domicílio e acompanha a
posição do Zeno Veloso, o Tepedino e o Zeno Veloso diz que se o objetivo da
regra é proteger aquele que negocia com a pessoa jurídica nada impede que o
destinatário desta proteção venha a renunciá-la. Ou seja, cabe a renúncia da proteção
prevista no parágrafo 1º do artigo 75. Quer dizer, nada impede que aquele que
negocia com a pessoa jurídica fora de uma relação de consumo venha a renunciar ao
§1º e venha se valer do inciso IV, nada impede.
Só para fechar domicílio, vamos dar uma olhada numa questão específica do
chamado domicílio contratual sinônimo de domicílio especial que é sinônimo de foro de
eleição que está lá no artigo 78.
Contra essa posição o Ministro Rui Rosado já dizia o seguinte: o que está em
jogo, em circunstancia como essa são os princípios da boa fé objetiva e o artigo 5º,
XXXV da Constituição.
Fim da aula.
Data: 16/09/08
Aula 03
70
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
O Código Civil começa tratando da sistemática dos bens imóveis nos artigos
79 a 81.
Basicamente, esses imóveis por acessão intelectual eram tudo aquilo que não
era parte integrante do imóvel, mas se destinava ao uso, ao serviço ou
aformoseamento do imóvel. Quer dizer, o aparelho de ar condicionado, na época do
Código 16, seria um imóvel por acessão intelectual seria um imóvel. Não é parte
integrante, mas se destina ao uso do mesmo. As carteiras seriam também imóveis por
acessão intelectual.
71
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Essa categoria foi suprimida no Código atual, não mais subsiste a categoria
bens e imóveis por ascensão intelectual. Nesse sentido, além de toda a doutrina:
Carlos Alberto Gonçalves, Christiano Chaves, Tepedino, o Enunciado 11 do
Conselho da Justiça Federal.
Enunciado nº 11, CJF: Art. 79: Não persiste no novo sistema legislativo a categoria
dos bens imóveis por acessão intelectual, não obstante a expressão “tudo quanto se lhe
incorporar natural ou artificialmente”, constante da parte final do art. 79 do Código Civil.
Sem dúvida, pela leitura dos dispositivos, artigo 79: são bens imóveis o solo e
tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente. Quer dizer, o artigo 79 prevê o
imóvel por natureza, por acessão natural e por acessão artificial. E o artigo 80 prevê aí
a categoria dos imóveis por determinação legal, elenca as hipóteses de imóvel por
determinação legal.
Nós veremos que a questão dos imóveis por acessão intelectual hoje acaba se
conectando a um novo instituto jurídico que são as pertenças. O fato é que não
subsiste mais a categoria dos bens imóveis por acessão intelectual no direito brasileiro.
Vale a pena registrar que no artigo 80 nós temos aí a categoria dos imóveis
por determinação legal, não é isso? No inciso II há lá previsão em relação o direito a
sucessão aberta.
Qual o efeito prático disso aí? De se entender que o direito a sucessão aberta
é um imóvel de determinação lega. Um efeito prático que não constava explicitamente
do Código anterior e agora consta, mas já era consenso doutrinário jurisprudencial, é o
seguinte: cessão de herança, se a parte cedida supera 30 salários mínimos, em se
entendendo que o direito a sucessão aberta é imóvel por determinação legal, nós
temos o requisito formal, ou seja, o artigo 108 do Código Civil vai impor instrumento
público.
Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade
dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou
renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior
salário mínimo vigente no País.
Um instrumento prático seria a forma, por exemplo, para cessão de herança,
ela tem que necessariamente se dar por instrumento público. Está no artigo 108 do
Código Civil e agora está explicitamente no artigo 1793.
Art. 1.793. O direito à sucessão aberta, bem como o quinhão de que disponha o
co-herdeiro, pode ser objeto de cessão por escritura pública.
Outro efeito prático: a doutrina do direito sucessório ressalta que a renúncia a
herança, em regra, pressupõe a outorga do cônjuge tal qual se dá em relação aos
imóveis, ressalvado o regime de separação absoluta, mas em regra a renúncia a
herança pressupõe a outorga do cônjuge.
É claro que só tem relevância o inciso I dentro do lapso temporal em que esse
imóvel por acessão artificial é destacado do solo e se destina a ser colocado em outra
localidade. Exemplo disso: pavilhões de circo, parque de diversão, casa pré-fabricadas
ela se situa naquela localidade e ela se destina a ser retirada daquele local e ser
transposta para outro. Quer dizer, mesmo nesse lapso temporal em que tais imóveis
por acessão artificial se encontram destacados do solo, subsiste a categoria como
imóvel por quê? Por conta do critério finalismo, da destinação, como tais bens se
destinam a ser novamente imobilizados, os bens continuam a ser tratados como
imóveis.
Pergunta do aluno.
A gente vai ver que o Código Civil, até nessa sistemática dos bens, ela vem
muito inspirada pelo critério da destinação, pelo critério finalístico e enfim me parece
sustentável que a solução viesse nesse sentido.
Pergunta do aluno.
Resposta: bem móvel, a porta exposta a venda é bem móvel porque ela não
está ainda imobilizada.
Art. 82. São móveis os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por
força alheia, sem alteração da substância ou da destinação econômico-social.
Os bens móveis podem ser por natureza ou por determinação legal e os bens
móveis por natureza podem ser inanimados ou semoventes, qual a diferença? Os
inanimados eles não são suscetíveis de movimento próprios, quer dizer, só são
suscetíveis de movimento por força alheia. Exemplo: mesa, cadeira, etc... Os
semoventes seriam os animais que são susceptíveis de movimento próprio.
Quais seriam esses bens? Seriam bens ainda incorporados ao solo, mas que
se destinam a serem destacados e convertidos em bens móveis, exemplo, os frutos
pendentes, as árvores destinadas ao corte.
Quer dizer, no plano fático tais bens ainda seriam imóveis por acessão, mas se
eles estão destinados a um destacamento futuro, se entende que na medida em que
há essa finalidade de destacamento, esses bens desde logo podem vir a ser
qualificados como móveis por antecipação.
O efeito prático qual é? O regime jurídico aplicável, quer dizer, ninguém aqui
vai exigir instrumento público para alienação de frutos pendentes porque são bens
móveis por antecipação.
Resp 23195 / PR
RECURSO ESPECIAL 1992/0013657-5
A matéria não chega a ser explicitamente tratada no Código atual, mas vários
autores ressaltam que a sistemática dos bens móveis por antecipação estaria inspirado
no artigo 95 do Código Civil que diz: apesar de ainda não separados do bem principal,
os frutos e produtos podem ser objetos de negócio jurídico. Quer dizer podem ser
objeto de negócio jurídico autônomo justamente por serem bens móveis por
antecipação.
Art. 95. Apesar de ainda não separados do bem principal, os frutos e produtos
podem ser objeto de negócio jurídico.
Isso pode gerar algum tipo de problema até de cunho prático porque se
alguém celebra um contrato de compra e venda por instrumento público de uma
determinada área e essa área tem uma mata, se aquela mata inclusive consta no
registro, há uma legítima expectativa do comprador do terreno em obter o terreno com
toda a vegetação.
Sem dúvida essa sistemática pode trazer algum tipo de insegurança jurídica.
Quem até enfrenta essa questão é o Eduardo Ribeiro que escreve aqueles
comentários ao Código Civil da Forense. Ele entende que esse contrato de compra e
venda sobre o bem móvel por antecipação, feito por instrumento particular,
desvinculado de registro ele só vai ser oponível a eventuais adquirentes do imóvel que
tiverem ciência da relação contratual anterior.
75
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Justamente por quê? Em sendo um contrato sobre bem móvel esse contrato é
desprovido de qualquer sistema registral, é desprovido de qualquer mecanismo de
publicidade.
Ele inclusive chega a ressaltar que não bastaria conferir publicidade aqui com
caráter erga omnes a averbação desse contrato junto ao registro de títulos e
documentos, seria insuficiente, porque presumidamente as questões referentes ao
imóvel não se encontram no registro de títulos e documentos, mas apenas no registro
de imóveis.
Então, Eduardo Ribeiro defende que esse contrato de bem móvel por
antecipação só seria oponível a eventuais adquirentes do imóvel que tiverem ciência da
relação contratual anterior.
No contexto atual, nós temos bens móveis de valor muito mais expressivo do
que imóveis, aliás as grandes riquezas do mundo estão em bens móveis e não mais em
bens imóveis. Então seria injustificado esse tratamento diferenciado.
Art. 1.647: Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem
autorização do outro, exceto no regime da separação absoluta:
I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis;
Terceiro: os prazos para usucapião para bens imóveis são muito mais elevados
do que em relação a bens móveis.
Art. 1.239. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua
como sua, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra em zona rural
não superior a cinqüenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de
sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade.
Art. 1.240. Aquele que possuir, como sua, área urbana de até duzentos e
cinqüenta metros quadrados, por cinco anos ininterruptamente e sem oposição,
utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde
que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
É curioso porque essas duas modalidades de usucapião estão previstas
constitucionalmente e o que justifica a previsão constitucional é que nessas duas
modalidades a usucapião busca mitigar as desigualdades sociais.
Um dos requisitos exigidos tanto para uma quanto para outra modalidade é
que o usucapiente não seja proprietário de nenhum outro imóvel. Se ele tiver um
milhão aplicado ele pode usucapir, mas se ele tiver um imóvel que valha 30 mil reais
ele não pode usucapir. Sem dúvida alguma um privilégio demasiado em relação às
riquezas imobiliárias.
Art. 1.691. Não podem os pais alienar, ou gravar de ônus real os imóveis dos
filhos, nem contrair, em nome deles, obrigações que ultrapassem os limites da
simples administração, salvo por necessidade ou evidente interesse da prole,
mediante prévia autorização do juiz.
Então, persiste a crítica doutrinária cada vez mais incisiva no que tange a essa
diversidade de tratamento, ela seria injustificável diante da relevância que os bens
imóveis têm no contexto contemporâneo.
Pergunta do aluno.
Art. 85. São fungíveis os móveis que podem substituir-se por outros da mesma
espécie, qualidade e quantidade.
Os fungíveis são aqueles que podem ser substituídos por outros de mesma
quantidade, qualidade e espécie. E os infungíveis, a contrario sensu, não são
substituíveis por outro de mesma qualidade, quantidade e espécie. Isto está lá no
artigo 85.
77
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Querem ver outro efeito disso? Indiscutivelmente não cabe prisão civil do
depositário nesse caso, fora a questão que está sendo debatida no STF se cabe ou não
prisão civil do depositário, quer dizer a muito está chancelado entendimento que não
cabe prisão civil no depósito irregular, por quê? Porque se não cabe prisão civil do
mutuário não cabe prisão civil do depositário nesse caso, porque o depósito irregular
segue a lógica do contrato de mútuo.
obrigações infungíveis. Então, o regime jurídico aplicável varia de acordo com essa
aplicação.
Art. 313. O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida,
ainda que mais valiosa.
Essa lógica é aplicada com muito mais rigor nas obrigações infungíveis e vale
a pena a remissão para o artigo 1361 que prevê que a propriedade fiduciária
(alienação fiduciária) regida pelo Código Civil só se aplica a bem imóvel infungível.
Art. 86. São consumíveis os bens móveis cujo uso importa destruição imediata da
própria substância, sendo também considerados tais os destinados à alienação.
Os bens consumíveis por natureza estão na 1ª parte do artigo 86: são aqueles
cujo uso importa destruição imediata da substancia. Exemplo: os alimentos.
Pergunta do aluno.
Resposta: tem que ser uma garrafa de vinho rara. Claro que o vinho Galioto,
um vinho simples, que encontramos em qualquer local ele será um bem fungível. Mas
um vinho raro, que dificilmente será encontrado em qualquer localidade ele é
equiparado a bem infungível.
Essa questão da fungibilidade ou infungibilidade, ela tem que ser vista no caso
concreto. Costuma-se a dizer que tradicionalmente a moeda seria um bem fungível,
mas a moeda, a nota por parte de um colecionador ela vai ser o que? Infungível, quer
dizer, a fungibilidade ou infungibilidade ela vai ser apreciada a luz do caso concreto.
Pergunta do aluno.
Ela pode ser ainda sim substituível e ainda assim estar destinada a alienação,
quer dizer, são coisas diferentes, a alienação e destinação geram a consumibilidade,
ela vai ser juridicamente consumível sem que ela possa ser substituível por outro de
mesma qualidade, quantidade e espécie.
Cuidado que quando cai isso em prova o examinador joga com essas
situações excepcionais.
Art. 87. Bens divisíveis são os que se podem fracionar sem alteração na sua
substância, diminuição considerável de valor, ou prejuízo do uso a que se
destinam.
Art. 88. Os bens naturalmente divisíveis podem tornar-se indivisíveis por
determinação da lei ou por vontade das partes.
81
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
O que há de novo aqui? A questão do valor proporcional, quer dizer, para que
um bem seja divisível é preciso que as partes resultantes da divisão guardem valor
proporcional ao todo.
Art. 1.320. A todo tempo será lícito ao condômino exigir a divisão da coisa comum,
respondendo o quinhão de cada um pela sua parte nas despesas da divisão.
§ 1o Podem os condôminos acordar que fique indivisa a coisa comum por prazo
não maior de cinco anos, suscetível de prorrogação ulterior.
Outra hipótese que veremos com mais precisão lá no direito das obrigações,
nada impede a indivisibilidade convencional em obrigações pecuniárias. Isso vai ter
importância quando? Notadamente quando há pluralidade de credores ou de
devedores porque no silêncio das partes se há pluralidade de credores ou de
devedores e a prestação é pecuniária qual vai ser a lógica aplicável a essa obrigação?
A lógica das obrigações divisíveis.
Só que nós veremos que o regime de solidariedade ele é parecido, mas ele
não se confunde com o regime de indivisibilidade, nós temos distinção técnicas e
podem as partes desejar na verdade os efeitos da indivisibilidade e não o da
solidariedade. Nada impede a indivisibilidade convencional em obrigações pecuniárias.
Pode ainda a indivisibilidade ser jurídica, como exemplos temos: artigo 1326
que trata do direito real de servidão; artigo 1791, §único que trata da herança; artigo
1421 que trata de garantia real; artigo 28 da lei 6404/76 e ainda o artigo 1331,§2º.
Vamos supor que eu tenha três imóveis hipotecados para garantir uma dívida
de 100 mil. Pela letra fria do artigo 1421, se dos 100 eu já paguei 99.500,00 a garantia
real subsiste integralmente nos três imóveis, porque a garantia real é indivisível, o
pagamento proporcional da dívida não vai gerando a redução proporcional da garantia
real.
indivisível ser objeto de co-propriedade? Sem dúvida, ele não pode ser fracionado em
partes autônomas, em naturalmente distintas, mas nada impede que ele seja
fracionado em partes ideais. O próprio artigo 504 do Código Civil fala em condomínio
em coisa indivisível.
Art. 504. Não pode um condômino em coisa indivisível vender a sua parte a
estranhos, se outro consorte a quiser, tanto por tanto. O condômino, a quem não
se der conhecimento da venda, poderá, depositando o preço, haver para si a parte
vendida a estranhos, se o requerer no prazo de cento e oitenta dias, sob pena de
decadência.
Qual a importância prática dessa classificação? Na verdade, a principal
relevância aqui trazida pela doutrina seria o regime jurídico aplicável a hipótese de
extinção do condomínio, que vem disciplinado nos artigos 1320 a 1322.
Intuitivamente, sem ler o Código, se o bem for divisível talvez seja mais fácil
fazer a extinção do condomínio, cada um fica com uma parte proporcional e ponto. Se
for indivisível a questão vai ter que se resolver monetariamente quer dizer: um fica
com o todo e indeniza os demais, vai depender do caso concreto.
Só para se situar, por que isso? Todos sabem que condomínio é uma fonte
interminável de litígio, ninguém gosta de dividir nada, o que fez o Código? Sensível a
isso, ele oportuniza os demais o direito de preferência para evitar o ingresso de um
terceiro estranho a vida condominial, o que acirraria ainda mais os conflitos de
interesse.
Outro efeito prático no direito obrigacional, como vimos, a luz desse critério
da divisibilidade ou indivisibilidade nós temos a sistemática das obrigações divisíveis e
indivisíveis e temos ainda hipóteses nos artigos 1684, 1968, §1º e 2019 do Código
Civil.
84
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Art. 1.684. Se não for possível nem conveniente a divisão de todos os bens em
natureza, calcular-se-á o valor de alguns ou de todos para reposição em dinheiro
ao cônjuge não-proprietário.
Art. 1.968. Quando consistir em prédio divisível o legado sujeito a redução, far-se-
á esta dividindo-o proporcionalmente.
§ 1o Se não for possível a divisão, e o excesso do legado montar a mais de um
quarto do valor do prédio, o legatário deixará inteiro na herança o imóvel legado,
ficando com o direito de pedir aos herdeiros o valor que couber na parte
disponível; se o excesso não for de mais de um quarto, aos herdeiros fará tornar
em dinheiro o legatário, que ficará com o prédio.
Art. 2.019. Os bens insuscetíveis de divisão cômoda, que não couberem na
meação do cônjuge sobrevivente ou no quinhão de um só herdeiro, serão vendidos
judicialmente, partilhando-se o valor apurado, a não ser que haja acordo para
serem adjudicados a todos.
Outra classificação: Bens Singulares e Coletivos, artigos 89 a 91.
Art. 89. São singulares os bens que, embora reunidos, se consideram de per si,
independentemente dos demais.
Os bens singulares podem ser simples ou compostos. Nos bens singulares
simples as partes componentes se encontram interligadas naturalmente perdendo cada
uma delas a sua respectiva individualidade.
Exemplos tradicionais seriam um cavalo, uma árvore, quer dizer, sem dúvida
alguma são bens que representam somatório de várias partes componentes, mas cada
uma delas vai perdendo a sua individualidade quando se forma o todo.
Parágrafo único. Os bens que formam essa universalidade podem ser objeto de
relações jurídicas próprias.
Então, universalidade de fato representa um conjunto de bens com a
destinação unitária que é conferida pela vontade do seu titular. Exemplo: o rebanho, a
biblioteca e o fundo de empresa (conjunto de bens que envolvem o estabelecimento
empresarial).
Art. 92. Principal é o bem que existe sobre si, abstrata ou concretamente;
acessório, aquele cuja existência supõe a do principal.
Vale a pena registrar que essa questão aí bens acessórios ou principais
envolve não apenas especificamente os bens, mas também os direitos que também
podem ser principais ou acessórios.
86
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
E aí cuidado com o seguinte: vale a pena até fazer uma remissão, porque o
artigo 92 fala que o acessório é aquele cuja existência supõe a do principal e, de
maneira aparentemente contraditória, o artigo 1487 admite hipoteca para garantia de
dívida futura. Quer dizer, a hipoteca garantia acessória tendo existência
independentemente do principal, que seria justamente a dívida garantida.
Art. 1.487. A hipoteca pode ser constituída para garantia de dívida futura ou
condicionada, desde que determinado o valor máximo do crédito a ser garantido.
Tem outra discussão aqui introdutória que é a seguinte: qual é o critério para
a gente aferir o que é principal e o que é acessório? Nós temos basicamente dois
critérios:
Houve uma hipótese, uma novidade aqui do Código atual, mas houve uma
hipótese em que o Código aparentemente adotou o critério econômico, é o artigo
1255, §único.
Art. 1.255. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno alheio perde, em
proveito do proprietário, as sementes, plantas e construções; se procedeu de boa-
fé, terá direito a indenização.
Parágrafo único. Se a construção ou a plantação exceder consideravelmente o
valor do terreno, aquele que, de boa-fé, plantou ou edificou, adquirirá a
propriedade do solo, mediante pagamento da indenização fixada judicialmente, se
não houver acordo.
É basicamente o seguinte aqui: lembram da história das acessões, quer dizer,
o que acontece quando alguém vem a construir em terreno alheio?
Regra geral, aquele que constrói em terreno alheio perde a propriedade sobre
a construção em detrimento do proprietário do solo, não é isso? Porque, quem é o
proprietário do solo principal adquiria propriedade sobre a construção.
Só que nós veremos que o artigo 1255, §único traz uma exceção, na chamada
acessão invertida, nesse dispositivo está previsto que: se o sujeito construiu de boa fé
87
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Intervalo.
Data: 16/09/09
Aula 03 – 2ª Parte
Por outro lado, os frutos são utilidades que a coisa periodicamente produz, a
percepção dos frutos não abala a substancia do bem, da coisa.
Além das naturais, os frutos podem ser industriais que são aqueles que
decorrem da atuação humana, exemplo clássico, a produção de uma fábrica.
Temos por último os frutos civis que são os chamados rendimentos e como
exemplos típicos nós teríamos os aluguéis e os juros. Inclusive os frutos civis são
mencionados nos artigos 1215, 1398 e 1395.
Tem outra discussão também que decorre desse aspecto que é a seguinte: lá
nos direitos reais... Lembra a história da percepção dos frutos pelo possuidor de boa e
de má fé? Isto está lá nos artigos 1214 a 1216. O Código, no artigo 1214, prevê que o
possuidor de boa fé tem direito aos frutos percebidos.
Art. 1.214. O possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela durar, aos frutos
percebidos.
Vamos aplicar o que acabamos de ver hoje... Os frutos percebidos são os que
já foram destacados não é? Então, se eles já foram destacados, eles não tem mais
uma relação de acessoriedade, diferentemente do que ocorre com os frutos pendentes
que ainda estão vinculados a coisa, então são ainda acessórios.
O possuidor de boa fé tem que restituir o principal que é a coisa, ainda que
ele esteja de boa fé, ele tem que devolver a coisa.
O Código, no artigo 1214 diz que o possuidor de boa fé apesar de ter que
devolver a coisa ele vai pode reter os frutos percebidos porque ele sendo percebidos,
esses frutos não são mais acessórios e, portanto inaplicável o princípio da gravitação
jurídica, entenda-se acessório acompanha o principal, quer dizer, o acessório gravita
em torno do principal e por isso ele acompanha o principal.
89
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Art. 1.214. O possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela durar, aos frutos
percebidos.
Parágrafo único. Os frutos pendentes ao tempo em que cessar a boa-fé devem ser
restituídos, depois de deduzidas as despesas da produção e custeio; devem ser
também restituídos os frutos colhidos com antecipação.
O possuidor de boa fé pode reter os frutos percebidos, está claro no artigo
1214, e os produtos? Será que o possuidor de boa fé pode reter os produtos? Porque o
artigo 1214 só se refere aos frutos.
O que uma primeira posição vai dizer aqui? Tem duas correntes. A 1ª vai dizer
que pode reter os frutos e por que ele só pode reter os frutos? Porque a percepção dos
produtos abalaria a própria substância do bem e o abalo a substancia do bem violaria
o direito de propriedade.
Além disso, a redação do artigo 1232 diz: os frutos e mais produtos da coisa
pertencem, ainda quando separados, ao seu proprietário, salvo se por preceito jurídico
especial couberem a outrem.
É discutível a percepção por analogia, porque a percepção dos frutos tem uma
sistemática bastante distinta da percepção dos produtos. Mas temos duas posições, é o
reflexo prático dessa classificação.
Vamos nos lembrar inclusive que quanto aos frutos e produtos nós temos a
redação do artigo 95 que diz: apesar de ainda não separados do bem principal os
frutos e produtos podem ser objetos de negócio jurídico.
Art. 95. Apesar de ainda não separados do bem principal, os frutos e produtos
podem ser objeto de negócio jurídico.
Nós vimos que o artigo 95 inspira a sistemática dos bens móveis por
antecipação e aí percebam que em se entendendo que os frutos e produtos podem ser
bens móveis por antecipação, eles deixam de ser acessórios por antecipação.
90
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Por último, outra classificação. Os frutos quanto a seu estado podem ser:
pendentes, que são aqueles ainda unidos ao principal; percebidos ou colhidos, são
aqueles já separados, destacados.
Obs: artigos que tratam dessa classificação nós temos o artigo 237, §único;
artigo 242, §único; artigo 563 e ainda artigos 1214 a 1216 fazer a remissão desses
artigos lá para o artigo 95.
Art. 237. Até a tradição pertence ao devedor a coisa, com os seus melhoramentos
e acrescidos, pelos quais poderá exigir aumento no preço; se o credor não anuir,
poderá o devedor resolver a obrigação.
Parágrafo único. Os frutos percebidos são do devedor, cabendo ao credor os
pendentes.
Art. 242. Se para o melhoramento, ou aumento, empregou o devedor trabalho ou
dispêndio, o caso se regulará pelas normas deste Código atinentes às benfeitorias
realizadas pelo possuidor de boa-fé ou de má-fé.
Parágrafo único. Quanto aos frutos percebidos, observar-se-á, do mesmo modo, o
disposto neste Código, acerca do possuidor de boa-fé ou de má-fé.
Art. 563. A revogação por ingratidão não prejudica os direitos adquiridos por
terceiros, nem obriga o donatário a restituir os frutos percebidos antes da citação
válida; mas sujeita-o a pagar os posteriores, e, quando não possa restituir em
espécie as coisas doadas, a indenizá-la pelo meio termo do seu valor.
Art. 1.214. O possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela durar, aos frutos
percebidos.
Parágrafo único. Os frutos pendentes ao tempo em que cessar a boa-fé devem ser
restituídos, depois de deduzidas as despesas da produção e custeio; devem ser
também restituídos os frutos colhidos com antecipação.
Art. 1.215. Os frutos naturais e industriais reputam-se colhidos e percebidos, logo
que são separados; os civis reputam-se percebidos dia por dia.
Art. 1.216. O possuidor de má-fé responde por todos os frutos colhidos e
percebidos, bem como pelos que, por culpa sua, deixou de perceber, desde o
momento em que se constituiu de má-fé; tem direito às despesas da produção e
custeio.
Os frutos podem ser ainda estantes: são aqueles separados e armazenados
para a venda; percipiendos que são aqueles que deveriam ser, mas não foram
percebidos. Os frutos percipiendos estão previstos no artigo 1216 que diz que o
possuidor de má fé tem que indenizar os frutos percipiendos.
Temos por último os frutos consumidos, que não mais existem porque foram
utilizados.
O artigo 93 diz lá: são pertenças os bens que não constituindo partes
integrantes se destinam de modo duradouro, ao uso, serviço ou aformoseamento de
outro.
Art. 93. São pertenças os bens que, não constituindo partes integrantes, se
destinam, de modo duradouro, ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de outro.
O que dá para perceber aqui? Que essa definição de pertenças se encaixa na
antiga definição dos bens imóveis por acessão intelectual. Quer dizer, os antigos bens
imóveis por acessão intelectual passam a ter a natureza jurídica de pertença. Houve,
portanto uma mudança na natureza jurídica.
Princípio da gravitação jurídica que está previsto no artigo 233 do Código Civil
que ressalta que a obrigação de dar o principal quer a presunção de dar o acessório.
Art. 233. A obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios dela embora não
mencionados, salvo se o contrário resultar do título ou das circunstâncias do caso.
Cuidado porque em relação às pertenças há a regra especial do artigo 94 que
ressalta que a obrigação de dar o principal não gera a presunção de dar as pertenças.
Quer dizer, a pertença é um acessório sobre o qual não incide o princípio da gravitação
jurídica, artigo 94, e sempre sugiro uma remissão recíproca: artigo 94 e artigo
233.
Art. 94. Os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal não abrangem
as pertenças, salvo se o contrário resultar da lei, da manifestação de vontade, ou
das circunstâncias do caso.
Diz o artigo 94: os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal não
abrangem as pertenças, salvo se o contrário resultar da lei, da vontade ou das
circunstancias. Claro que é uma presunção relativa.
Pergunta do aluno.
92
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Pergunta do aluno.
Há certa resistência por parte de alguns porque não há uma vinculação física
em relação ao bem, mas a vinculação finalística qualificaria a pertença como acessório.
Na verdade, seria um acessório em relação ao qual não se aplicaria a gravitação
jurídica por força de regra especial do artigo 94.
Pergunta do aluno.
Vale a pena uma remissão... Cuidado a regra geral é o artigo 233, a especial é
o artigo 94 e tem uma especial da especial que é o artigo 566, I que diz: o locador é
obrigado. Inciso I: a entregar ao locatário a coisa alugada com suas pertenças, salvo
cláusulas expressa em contrário.
Justamente por conta do critério funcional nada impede que a pertença tenha
um valor superior ao principal, nada impede. Porque na verdade o critério
determinante para definir o que é principal e o que é acessório não seria o critério
econômico e sim o critério funcional.
Caiu em uma prova a pouco tempo, em uma prova objetiva dizendo que os
armários embutidos seriam imóveis por acessão intelectual, o gabarito certo. Na
93
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
verdade, os armários embutidos são pertenças, porque não existem mais imóveis por
acessão intelectual no direito brasileiro. Houve uma confusão na hora de definir.
Vamos tratar agora... Vamos aproveitar para falar das partes integrantes. Há
uma discussão se as partes integrantes seriam acessórios? A duvida é: as partes
integrantes são acessórios? Definição de partes integrantes: as partes integrantes são
partes concretas que entram na unidade que compõe o bem. Essas partes integrantes
podem ser essenciais ou não essenciais.
As partes integrantes não essenciais são aquelas que podem ser objeto de
relação jurídica autônoma.
Olha a conexão que dá para fazer... Essa questão das partes integrantes não
essenciais está atrelada a figura do bem singular composto que vimos hoje. O bem
singular composto é aquele que decorre da conjugação de diversas partes integrantes,
mas que não perdem a sua individualidade.
Havia até uma regra no Código de 16 que não foi repetida no atual, que era o
artigo 61, III do Código de 16 que dizia que era acessório ao solo as obras de
aderência permanente.
Essas duas modalidades que vimos agora a pouco, física ou jurídica, seriam
exemplos de conservação estática, então a perspectiva tradicional entraria na definição
de conservação estática.
Exemplo bem claro disso: piscina numa residência para mero deleite sem
dúvida é benfeitoria voluptuária. A piscina numa escola talvez entre como benfeitoria
útil. Agora, piscina numa escola de natação seria benfeitoria necessária, pois busca
viabilizar a normal exploração econômica do bem.
Por que quando alguém realiza uma despesa, um melhoramento que busca
viabilizar a destinação econômica do bem, na verdade essa melhoria e essa despesa
vem buscar o que? A função social da propriedade e da empresa, matéria de ordem
pública no contexto atual. E esse contexto privilegiaria uma tutela específica, uma
tutela privilegiada em favor da hipótese de conservação dinâmica integrando a
definição de benfeitoria necessária. Quem defende isso é o Carlos Roberto
Gonçalves e o Arnaldo Rizzardo.
O que talvez fique mais difícil em termos práticos? Talvez fique mais delicado
em termos práticos diferenciar uma benfeitoria de uma construção, porque tanto na
benfeitoria quanto no inciso V do artigo 1248 a melhoria decorre da intervenção
humana, nas outras hipóteses é muito fácil diferenciar, mas no inciso V a questão se
torna delicada.
Cuidado porque tem uma posição aqui minoritária defendida pelo Pablo
Stolze. Ele, de forma minoritária, sustenta que há construção quando há aumento de
98
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
volume. Então, pela posição do Pablo Stolze se tenho uma casa de 3 quartos, 2
suítes, eu faço um puxadinho para botar mais uma suíte é construção porque houve
aumento de volume. Para a maioria da doutrina, não, isso é exemplo típico de
benfeitoria útil.
O que vou dizer agora será muito importante mais para a frente, seguinte: a
lógica da indenização por benfeitoria, ela decorre do que? Toda a sistemática da
indenização por benfeitorias, ela decorre da vedação ao enriquecimento sem causa que
inspira a necessidade de indenização por benfeitorias.
Sabendo-se disso, o que dá para inferir aqui? Que há uma tendência muito
significativa, tanto da doutrina quanto da jurisprudência, em equiparar, em estender,
em aplicar analogicamente a sistemática da indenização por benfeitoria para os casos
de construção.
Tem uma hipótese inclusive que é ultra sensível, isso cai de vez em quando,
que é a seguinte: possuidor de boa fé, ele tem direito a ser indenizado pelas
benfeitorias necessárias e úteis, com direito de retenção. Artigo 1219.
Art. 1.255. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno alheio perde, em
proveito do proprietário, as sementes, plantas e construções; se procedeu de boa-
fé, terá direito a indenização.
99
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Enunciado nº 81, CJF: Art. 1.219: O direito de retenção previsto no art. 1.219 do
Código Civil, decorrente da realização de benfeitorias necessárias e úteis, também se aplica às
acessões (construções e plantações) nas mesmas circunstâncias.
Há quem critique essa posição porque esses melhoramentos podem ter sido
realizados por terceiros com o objetivo de beneficiar aquele possuidor. Quer dizer, pode
ter havido um ato de liberalidade de terceiro com intuito de beneficiar aquele
possuidor.
Bens Públicos
Enunciado nº 287, CJF: Art. 98: O critério da classificação de bens indicado no art. 98
do Código Civil não exaure a enumeração dos bens públicos, podendo ainda ser classificado
como tal o bem pertencente a pessoa jurídica de direito privado que esteja afetado à prestação
de serviços públicos.
Quer dizer, um bem de direito privado pode ser equiparado ao status de bem
público se ele tiver afetado, destinado a uma finalidade social com os efeitos práticos
daí decorrentes: impenhorabilidade, impossibilidade de usucapião e assim
sucessivamente.
Só que o §único do artigo 99 traz aqui uma novidade... Vou orientar para o
direito civil, pois há administrativistas que defendem que essa regra tem que ser
ignorada, há muitas críticas sobre o §único.
Tem uma primeira posição defendida pelo Christiano Chaves de Farias com
Nelson Rosenvald e é também a posição do Pablo Stolze no sentido de que a regra
se aplicaria as empresas públicas e as sociedades de economia mista.
101
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
São bons autores, mas parece que há um equívoco aí, porque o Código fala
em que? Pessoa jurídica de direito público que se tenha dado estrutura de direito
privado. Empresa pública e sociedade de economia mista é pessoa jurídica de direito
privado a Constituição prevê lá no artigo 173.
Enunciado nº 141, CJF: Art. 41: A remissão do art. 41, parágrafo único, do Código
Civil às “pessoas jurídicas de direito público, a que se tenha dado estrutura de direito privado”,
diz respeito às fundações públicas e aos entes de fiscalização do exercício profissional.
Art. 41, Parágrafo único. Salvo disposição em contrário, as pessoas jurídicas de
direito público, a que se tenha dado estrutura de direito privado, regem-se, no que
couber, quanto ao seu funcionamento, pelas normas deste Código.
Art. 100. Os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são
inalienáveis, enquanto conservarem a sua qualificação, na forma que a lei
determinar.
Art. 101. Os bens públicos dominicais podem ser alienados, observadas as
exigências da lei.
Aplicando o Enunciado, nós podemos ter bens pertencentes a conselhos
profissionais e fundações públicas que estejam afetados e que ainda assim sejam
qualificados como dominicais e conseqüentemente alienáveis. Isso causa perplexidade
aos administrativistas.
Fim da aula.
Data: 23/09/08
Aula 04
Então, é possível superar a letra fria da norma porque o objetivo da regra não
é a proteção da família como instituição jurídica e social, a proteção é da dignidade da
pessoa humana.
Essa conduta, pela segunda posição, atentaria contra boa fé objetiva mais
precisamente em que aspecto? Lembra aquela teoria da contradição com a própria
conduta, venire contra factum proprium? Quer dizer, na prova quem colocou boa fé
objetiva levou quase tudo, apesar da banca da magistratura estadual ser
tradicionalmente muito rigorosa, mas quem falou boa fé objetiva levou quase tudo.
Mas se formos analisar de maneira mais profunda a questão envolve a aplicação da
venire contra factum proprium (contradição com a própria conduta).
Então, o fiador tem responsabilidade sem ter o débito, quer dizer, a lógica
estabelecida no dispositivo parece ser incompatível com o princípio da isonomia
material e há outro argumento... Inclusive essa questão já foi dirimida há algum tempo
atrás dirimida pelo STF. Hoje a posição dos Tribunais Superiores é favorável a aplicação
da lei, mas há outro julgado no STF em que se entendeu como inconstitucional a regra
e esse julgado é RE 352.940-4.
Contra essa tese o que se argumenta? Se não couber penhora dos bens do
locador haverá uma diminuição das garantias e qual é a tendência em havendo
diminuição das garantias? Diminuição da oferta e aumento no preço dos aluguéis. Quer
dizer, essa suposta segunda posição acabaria por via oblíqua atingindo o direito social
a moradia porque haveria uma diminuição das garantias e conseqüentemente um
aumento nos preços dos aluguéis.
1. A Corte local considerou válido o título executivo, uma vez que fora fundado no
contrato principal e em aditivo firmado pelas partes, com cláusula extensiva da
responsabilidade fidejussória até a desocupação do imóvel.
2. Diante do contexto fático delineado pelo acórdão recorrido, inaplicável o
enunciado de nº 214 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça, por referir-se
apenas à hipótese de aditamento contratual sem anuência do fiador.
3. Pacífico o entendimento deste Superior Tribunal de ser penhorável o imóvel
familiar dado em garantia de contrato locativo, em face da exceção introduzida no
inciso VII do art. 3º da Lei nº 8.009/1990 pelo art. 82 da Lei do Inquilinato.
4. Agravo regimental improvido.
Mais, o inciso III prevê aqui a questão dos alimentos pelo credor de pensão
alimentícia. O STJ também recentemente ressaltou que esses alimentos a que refere o
artigo 3º abrange os alimentos devidos pela prática de atos ilícitos. Então, não seriam
apenas os alimentos decorrentes do direito de família, abrangendo também os
alimentos decorrentes de atos ilícitos, Agravo Regimental no Agravo 772614.
7. Pessoa Jurídica
Pergunta do aluno.
110
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Olha só, chegamos a mencionar na primeira aula aquela questão dos entes
despersonalizados, que dizer, excepcionalmente alguns entes despersonalizados
também têm aptidão para adquirir diretos e de contrair obrigações, mencionamos a
sociedade de fato, massa falida, espólio, enfim... E chegamos a ressaltar aquela
questão do condomínio edilício. Vimos que há uma boa parte da doutrina em ressaltar
que o condomínio edilício tem personalidade jurídica e, na verdade, um dos
argumentos centrais para suscitar o condomínio de edilício como sendo dotado de
111
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Art. 63, § 3º: No prazo de 24 horas após a realização do leilão final, o condomínio,
por decisão unânime de Assembléia-Geral em condições de igualdade com
terceiros, terá preferência na aquisição dos bens, caso em que serão adjudicados
ao condomínio.
Estou trazendo essa discussão novamente aqui nesse momento por quê?
Porque o artigo 44 elenca as pessoas jurídicas de direito privado e talvez haja algum
tipo de dificuldade de se enquadrar o condomínio numa dessas figuras. Talvez haja
dificuldade em encaixar o condomínio como uma associação, uma sociedade e muito
menos em relação a fundação, instituição religiosa e partido político.
Enunciado 144, CJF: Art. 44: A relação das pessoas jurídicas de direito privado
constante do art. 44, incs. I a V, do Código Civil não é exaustiva.
Enunciado 90, CJF: Art. 1.331: Deve ser reconhecida personalidade jurídica ao
condomínio edilício nas relações jurídicas inerentes às atividades de seu peculiar interesse.
(Alterado pelo En. 246 – III Jornada).
Enunciado 246, CJF: Art. 1.331: Fica alterado o Enunciado n. 90, com supressão da
parte final: “nas relações jurídicas inerentes às atividades de seu peculiar interesse”. Prevalece
o texto: “Deve ser reconhecida personalidade jurídica ao condomínio edilício”.
Associações
Art. 53, Parágrafo único. Não há, entre os associados, direitos e obrigações
recíprocos.
A respeito do tema, associação, a Constituição Federal estabelece o princípio
da liberdade associativa, artigo 5º, XVII e XVIII. A exceção a liberdade associativa qual
é, prevista na Constituição? A questão do caráter paramilitar, só se veda as associações
com caráter paramilitar.
Fundações
Art. 62. Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública ou
testamento, dotação especial de bens livres, especificando o fim a que se destina,
e declarando, se quiser, a maneira de administrá-la.
Percebam que ainda que haja dotação patrimonial por escritura, por exemplo,
essa dotação patrimonial eventualmente pode vir a ser impugnada por fraude contra
credores. Nada impede que essa dotação patrimonial venha a ser anulada por fraude
contra credores, quer dizer, se essa dotação patrimonial conduz o doador a um estado
de insolvência, os seus credores quirografários poderão suscitar a invalidação dessa
dotação patrimonial.
Art. 549. Nula é também a doação quanto à parte que exceder à de que o doador,
no momento da liberalidade, poderia dispor em testamento.
Outro passo para a criação das fundações é a elaboração do estatuto e essa
elaboração do estatuto pode ser direta ou fidejussória. Direta é quando o próprio
114
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
instituidor elabora o estatuto e fidejussória no caso do artigo 65, que é quando atribui
a um terceiro a missão de elaborar o estatuto.
Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a
inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário,
de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas
as alterações por que passar o ato constitutivo.
Pergunta do aluno.
Art. 169. O negócio jurídico nulo não é suscetível de confirmação, nem convalesce
pelo decurso do tempo.
Uma questão importante, e que às vezes cai em prova, é o seguinte: artigo
62, §único: a fundação somente poderá constituir-se para fins religiosos, morais,
culturais ou de assistência. “Somente” sugere rol taxativo, não é? Sim.
Por que vejam bem, o que temos na fundação como nós vimos? Personalidade
jurídica atribuída a um conjunto de bens, a um acervo patrimonial. O que justifica a
atribuição dessa personalidade jurídica a esse acervo patrimonial? É os fins a que ela
se dirige e necessariamente uma finalidade envolvendo interesse social.
Então, o que a segunda corrente defende é que o rol aqui não é taxativo, na
verdade o que importa é que a fundação tenha finalidade de atendimento ao interesse
social, ainda que o interesse social não esteja elencado no parágrafo único. Quer dizer,
é possível a constituição de uma fundação com o objetivo de proteção ao meio
ambiente, para finalidade e pesquisa científicas? Para a segunda posição, sem dúvida
alguma. Nesse sentido Enunciados 8 e 9 do Conselho ressaltando que o rol é
meramente exemplificativo, o que importa é o interesse público.
Enunciado 08, CJF: Art. 62, parágrafo único: A constituição de fundação para fins
científicos, educacionais ou de promoção do meio ambiente está compreendida no Código Civil,
art. 62, parágrafo único.
Enunciado 09, CJF: Art. 62, parágrafo único: Deve ser interpretado de modo a excluir
apenas as fundações com fins lucrativos.
Outra questão que cai de vez em quando, caiu na última prova para AGU. O
artigo 66 diz lá: velará pelas fundações o MP do estado onde situadas. Então, cabe ao
MP velar pelas fundações. Justificável, porque a fundação busca o atendimento do
interesse público.
EMENTA:
I. ADIn: legitimidade ativa: "entidade de classe de âmbito nacional" (art. 103, IX, CF): Associação
Nacional dos Membros do Ministério Público - CONAMP 1. Ao julgar, a ADIn 3153-AgR, 12.08.04, Pertence,
Inf STF 356, o plenário do Supremo Tribunal abandonou o entendimento que excluía as entidades de
classe de segundo grau - as chamadas "associações de associações" - do rol dos legitimados à ação
direta. 2. De qualquer sorte, no novo estatuto da CONAMP - agora Associação Nacional dos Membros do
116
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Ministério Público - a qualidade de "associados efetivos" ficou adstrita às pessoas físicas integrantes da
categoria, - o que bastaria a satisfazer a antiga jurisprudência restritiva. II. ADIn: pertinência temática.
Presença da relação de pertinência temática entre a finalidade institucional da entidade requerente e a
questão constitucional objeto da ação direta, que diz com a demarcação entre as atribuições de
segmentos do Ministério Público da União - o Federal e o do Distrito Federal. III. ADIn: possibilidade
jurídica, dado que a organização e as funções institucionais do Ministério Público têm assento
constitucional. IV. Atribuições do Ministério Público: matéria não sujeita à reserva absoluta de lei
complementar: improcedência da alegação de inconstitucionalidade formal do art. 66, caput e § 1º, do
Código Civil (L. 10.406, de 10.1.2002). 1. O art. 128, § 5º, da Constituição, não substantiva reserva
absoluta à lei complementar para conferir atribuições ao Ministério Público ou a cada um dos seus ramos,
na União ou nos Estados-membros. 2. A tese restritiva é elidida pelo art. 129 da Constituição, que, depois
de enumerar uma série de "funções institucionais do Ministério Público", admite que a elas se acresçam a
de "exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis com sua finalidade, sendo-
lhe vedada a representação judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas". 3. Trata-se, como
acentua a doutrina, de uma "norma de encerramento", que, à falta de reclamo explícito de legislação
complementar, admite que leis ordinárias - qual acontece, de há muito, com as de cunho processual -
possam aditar novas funções às diretamente outorgadas ao Ministério Público pela Constituição, desde
que compatíveis com as finalidades da instituição e às vedações de que nelas se incluam "a representação
judicial e a consultoria jurídica das entidades públicas". V - Demarcação entre as atribuições de segmentos
do Ministério Público - o Federal e o do Distrito Federal. Tutela das fundações. Inconstitucionalidade da
regra questionada (§ 1º do art. 66 do Código Civil) -, quando encarrega o Ministério Público Federal de
velar pelas fundações, "se funcionarem no Distrito Federal". 1. Não obstante reserve à União organizá-lo e
mantê-lo - é do sistema da Constituição mesma que se infere a identidade substancial da esfera de
atribuições do Ministério Público do Distrito Federal àquelas confiadas ao MP dos Estados, que, à
semelhança do que ocorre com o Poder Judiciário, se apura por exclusão das correspondentes ao
Ministério Público Federal, ao do Trabalho e ao Militar. 2. Nesse sistema constitucional de repartição de
atribuições de cada corpo do Ministério Público - que corresponde substancialmente à distribuição de
competência entre Justiças da União e a dos Estados e do Distrito Federal - a área reservada ao Ministério
Público Federal é coextensiva, mutatis mutandis àquela da jurisdição da Justiça Federal comum e dos
órgãos judiciários de superposição - o Supremo Tribunal e o Superior Tribunal de Justiça - como, aliás, já o
era sob os regimes anteriores. 3. O critério eleito para definir a atribuição discutida - funcionar a fundação
no Distrito Federal - peca, a um só tempo, por escassez e por excesso. 4. Por escassez, de um lado, na
medida em que há fundações de direito público, instituídas pela União - e, portanto, integrantes da
Administração Pública Federal e sujeitas, porque autarquias fundacionais, à jurisdição da Justiça Federal
ordinária, mas que não tem sede no Distrito Federal. 5. Por excesso, na medida em que, por outro lado, a
circunstância de serem sediadas ou funcionarem no Distrito Federal evidentemente não é bastante nem
para incorporá-las à Administração Pública da União - sejam elas fundações de direito privado ou
fundações públicas, como as instituídas pelo Distrito Federal -, nem para submetê-las à Justiça Federal. 6.
Declarada a inconstitucionalidade do § 1º do art. 66 do Código Civil, sem prejuízo, da atribuição ao
Ministério Público Federal da veladura pelas fundações federais de direito público, funcionem, ou não, no
Distrito Federal ou nos eventuais Territórios.
Essa mesma ADIN vem em harmonia com o Enunciado 147 que diz: o Código
Civil atribui ao MPE o dever de velar pelas Fundações de direito privado, mas o Código
Civil não afasta do MPF a atribuição de velar pelas fundações públicas da
Administração Federal.
O Enunciado 147 ressalta ainda que o MPF também tem atribuição para
fiscalizar os atos de fundações que recebam verbas da Administração Pública Federal.
Tem uma pegadinha aqui que mais uma vez caiu na prova da AGU: vamos
supor que uma fundação tenha a sua atividade desenvolvida dentro de mais um
estado, quer dizer que, uma mesma fundação atua no Rio, São Paulo, Minas. Se
aplicarmos a lógica do direito administrativo o que talvez viéssemos a imaginar aqui?
117
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Pergunta do aluno.
Resposta: talvez em termos práticos possa surgir, porque o Código diz aqui:
caberá o encargo em cada um deles ao respectivo MP. Pela lógica do Código, temos
que verificar se o ato fiscalizado ele é praticado num estado ou em outro, mas é claro
que eventualmente isso, em termos práticos, possamos ter algum tipo de problema
prático porque um ato praticado por estado pode ter repercussão direta em outro. Mas
talvez entender que o MPF viesse a dirimir essa contenda violaria a autonomia dos
entes federativos.
Antes do Código atual já havia a Súmula 227 do STJ que diz: cabe dano
moral a favor de pessoa jurídica.
É claro que quando a Súmula diz que cabe dano moral a Súmula esta se
referindo a honra objetiva, porque pessoa jurídica não tem honra subjetiva, ou seja, a
reputação da pessoa jurídica.
O Código atual trata do tema no artigo 52, Código que é posterior a Súmula,
trata do tema no artigo 52 que diz: aplica-se as pessoas jurídicas no que couber a
proteção dos direitos da personalidade.
Se cair isso numa prova dissertativa é claro que o examinador não vai querer
ouvir só isso... Há uma segunda posição, defendida pelo Gustavo Tepedino segundo
a qual não cabe dano moral em favor de pessoa jurídica.
Outro ponto: o dano moral é in re ipsa, em termos práticos quando se diz que
o dano moral é in re ipsa o que se afirma é que a vítima não tem o ônus de comprovar
a dor do sofrimento. Quer dizer, na verdade todos esses mecanismos especialíssimos
de proteção ao dano moral decorrem do princípio da dignidade da pessoa humana. O
que o Tepedino afirma é que se estendermos o dano moral a pessoa jurídica nós
estaremos estendendo a dignidade da pessoa humana em favor da pessoa jurídica.
Então, na verdade atribuir dano moral a pessoa jurídica seria como que
amesquinhar, aviltar o papel de destaque que a pessoa física ocupa no ápice
ordenamento jurídico.
Pergunta do aluno.
Outro tema muito importante aqui, que é meio civil e meio empresarial, é a
questão da desconsideração da personalidade jurídica.
Tem uma expressão que também é muito conhecida, vem lá do direito inglês
e do direito americano... Alguns também chamam a desconsideração da personalidade
jurídica de teoria da penetração. Se tivéssemos que definir a teoria da desconsideração
em poucas palavras talvez as mais apropriadas seriam as seguintes: é o rompimento
da autonomia patrimonial.
Artigo 28 da lei 8078/90 que é o CDC; temos ainda o artigo 18 da lei 8884/94
que trata de normas de concorrência; temos ainda o artigo 4º da lei 9605/98 (meio
ambiente) e ainda o artigo 50 do Código Civil.
Vários autores aqui criticam a forma pela que o direito brasileiro trata o tema,
especialmente o artigo 28 do CDC, porque vejam, na gênesis do instituto qual era a
idéia básica da desconsideração? A desconsideração se aplicava atrelada a idéia de
abuso do direito. Lembra daquele caso: o marido sócio de 99,99% e a mulher 0,01% e
ela nunca foi a empresa, nem sabe o que acontece.
121
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Vejam que nesse caso a própria criação da pessoa jurídica é uma fraude,
houve um abuso do direito de constituir pessoa jurídica, por que o único objetivo da
pessoa jurídica qual foi? Estabelecer autonomia patrimonial. Então, tradicionalmente a
idéia da desconsideração está atrelada a idéia de fraude, a idéia de abuso no direito de
criar a pessoa jurídica.
Vejam que foi justamente essa promiscuidade que foi contemplado no artigo
28 do CDC... O CDC fala em ato ilícito, relação dos estatutos sociais e os autores mais
especializados criticam essa abrangência da desconsideração no Brasil.
O que a maioria da doutrina defende aqui? Defende que, com o §5º, o caput,
toda a descrição do caput passa a ser letra morta porque o §5º diz o que? Não precisa
de ter fraude, não precisa de ter ato ilícito, não precisa de nada daquilo... Se houver
dificuldade do consumidor receber o que lhe é devido, o §5º autorizaria a
desconsideração da personalidade jurídica. Quer dizer, numa interpretação sistemática,
o CDC teria adotado a teoria objetiva, teoria menor.
Pergunta do aluno.
Resposta: Nós vamos ver daqui a pouco no Código Civil que a menor não é
sinônimo de objetiva e a maior não é sinônimo de subjetiva... Vamos deixar para ver
daqui a pouco, pois acho que no Código Civil ficará mais claro.
ainda que não haja abuso, ainda que não haja fraude, mas na verdade aniquilaríamos
a autonomia patrimonial.
Vejam que quem defende essa tese vai afirmar o seguinte: a autonomia
patrimonial é matéria de ordem pública, porque ela representa um fator de
encorajamento a investimento no setor produtivo, porque se não houver a autonomia
patrimonial ao invés de investir no setor produtivo o sujeito notadamente vai investir
no mercado especulativo, financeiro.
Tem outro argumento que é o seguinte: o §1º artigo 28 do CDC foi vetado e
na verdade é incontroverso que esse veto aqui decorreu de equívoco, o veto era para o
§5º.
Pergunta do aluno.
Não há uma regra no direito positivo nesse sentido, mas a boa doutrina
ressalta que primeiro devem ser buscados os patrimônios dos sócios administradores
que incorreram na irregularidade.
Pergunta do aluno.
Intervalo...
Data: 23/09/08
Aula 04 – 2º Parte
Tem uma maneira simples de enfrentar a questão que é a tese defendida por
Flávio Tartuce. Ele diz que quando o enunciado diz que é cabível desconsideração
em favor da pessoa jurídica, o enunciado estaria autorizando uma pessoa jurídica
credora a pedir a desconsideração de uma pessoa jurídica devedora. A teoria da
desconsideração ela também se aplica no caso de pessoa jurídica credora.
Afora essa alegação, uma coisa não exclui a outra, o que se entende é que
numa perspectiva civilística quando a pessoa jurídica pede a gratuidade ela está
pedindo a sua própria desconsideração, em seu próprio benefício. Porque quando a
pessoa jurídica pede a gratuidade ela está pedindo um tratamento equiparado de
pessoa física, então, na verdade o pedido da gratuidade por pessoa jurídica não
deixaria de ser uma desconsideração da pessoa jurídica em seu próprio benefício,
porque na verdade a gratuidade se dirige apenas a pessoa física. E, quando a pessoa
jurídica postula a gratuidade, ela está postulando um tratamento equiparado ao de
pessoa física.
Tem outro exemplo que teve até julgado recente do STJ... Empresa
notadamente familiar: são sócios lá os pais e os filhos, o imóvel pertence a pessoa
jurídica, mas no imóvel residem os familiares.
Veja como precisamos repensar o direito civil! Vamos supor que aquele
município que esteja inacessível e naquela data o credor está em outro município no
qual o devedor o procura para efetuar o pagamento e o credor simplesmente diz “aqui
eu não recebo, porque o local acordado é lá”. Essa recusa do credor, em uma
perspectiva tradicional, seria uma recusa justificada, pacta sunt servanda. Ocorre que
esse credor inobserva o dever anexo de cooperação decorrente da boa-fé objetiva.
A questão ganha maiores contornos quando a gente vem aqui para baixo,
quando a agente começa a falar do fato humano. Aqui, nós temos a vontade humana
produzindo efeitos jurídicos. Se essa vontade é emitida em desarmonia com o
ordenamento jurídico surge o chamado ato ilícito.
O ato ilícito stricto sensu é aquele do artigo 186, que é o ato ilícito tradicional
(conduta, dano, dolo ou culpa e nexo causal). Para quem estudou no Código de 16 era
o artigo 159 e agora é o artigo 186 do Código atual.
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito.
O ato antijurídico seria o artigo 187, abuso do direito. O artigo 187 diz lá:
também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
128
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa fé ou
pelos bons costumes.
Veja que pela literalidade do artigo 187 o abuso de direito é ato ilícito. Se cair
numa prova objetiva dizendo “abuso de direito é ato ilícito” está certo, o Código Civil
diz isso.
Por que essa segunda corrente defende essa distinção? Porque a redação
literal do artigo 187 apenas reforça a corrente tradicional, dentro ali do ato ilícito, nós
teríamos tanto o artigo 186 quanto o artigo 187 pela literalidade.
Quando se diz que no ato ilícito se viola os limites formais impostos pelo
legislador, o que se está dizendo é que no ato ilícito o sujeito viola frontalmente uma
regra de direito positivo. Ao passo que no abuso, se dá a violação dos limites
axiológico-normativos, ou seja, a violação dos limites valorativos.
Quando falamos em valor nos lembra princípios que nos lembra abstração,
então no abuso do direito o sujeito exerce um direito em desarmonia não com a
literalidade do Código, mas ele exerce um direito em desarmonia com os valores, com
os princípios que irradiam pelo sistema.
Aquele exemplo da piscina, é um exemplo que está correto, talvez não seja o
melhor dos exemplos, porque nele fica claro que aquele que incorreu no abuso tinha
intenção de prejudicar outrem, só que essa intenção de prejudicar outrem não é
pressuposto para configuração do abuso no Brasil. Não se exige para a configuração
do abuso do direito a intenção de prejudicar outrem, isso significa dizer que o direito
brasileiro não adota a teoria dos atos emulativos. E pela teoria dos atos emulativos só
há abuso se houver intenção de prejudicar outrem.
Lá sim o legislador adotou a teoria dos atos emulativos. Nós veremos mais a
frente que toda construção doutrinária jurisprudencial é no sentido de superar a
literalidade do artigo 1228, §2º. Mas, enfim foi a postura do direito positivo.
Art. 475. A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato,
se não preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos,
indenização por perdas e danos.
Pela teoria do adimplemento substancial o que se defende é: se uma das
partes cumpriu substancialmente as suas prestações (pagou 98 de 100) não poderá o
outro contratante exigir a resolução do contrato, mas apenas o cumprimento das
prestações remanescentes.
Onde está previsto em lei? Não está e se tivesse previsão legal isso não seria
exemplo de abuso de direito... Qual é a premissa do abuso de direito? Que não haja
vedação legal, porque se há vedação legal em determinada conduta o ato é ilícito, ele
entra a na sistemática do artigo 186, quer dizer, a lógica é: aquele que recebe quase
tudo e exige a resolução está incurso no abuso do direito de exigir a resolução do
contrato.
Enunciado 361, CJF: Arts. 421, 422 e 475: O adimplemento substancial decorre dos
princípios gerais contratuais, de modo a fazer preponderar a função social do contrato e o
princípio da boa-fé objetiva, balizando a aplicação do art. 475.
Enunciado 371, CJF: Art. 763: A mora do segurado, sendo de escassa importância,
não autoriza a resolução do contrato, por atentar ao princípio da boa-fé objetiva.
Esse exemplo é muito importante para a atual perspectiva do direito civil, pelo
seguinte: qual a natureza jurídica do direito do outro contratante entre a resolução ou
o cumprimento da prestação? Não é direito potestativo? Porque a escolha dele tem
que o outro contratante que se sujeitar.
130
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
O que a boa-fé objetiva traz de novo? Mesmo direitos potestativos devem ser
exercidos em harmonia com os valores do sistema, quer dizer, é possível que tenhamos
abuso de direito potestativo. Mesmo os direitos potestativos se submetem aos
princípios.
Pergunta do aluno.
Pergunta do aluno.
Quer ver uma projeção disso lá para a exceção de contrato não cumprido que
dá para a gente imaginar? Vamos ver que dentro da lógica da exceção de contrato não
cumprido se sustenta que se uma das partes cumpre parcialmente as suas prestações
a outra também não vai poder exigir o cumprimento da prestação. Quer dizer, se eu
cumpro parte das minhas prestações, eu não posso exigir o cumprimento dela, é a
exceptio non rite adimpleti contractus. Está dentro da exceção de contrato não
cumprido e vamos ver lá.
Pergunta do aluno.
Resposta: o artigo 477 está dentro do capítulo do contrato não cumprido, mas
a doutrina chama o artigo 477 de exceção de insegurança, questão lá do Pontes de
Miranda... É quando há uma desproporção econômica superveniente que autoriza
exigir antecipadamente. Na verdade aqui a gente tem uma regra positivada que se
inspira na boa fé objetiva e que impõe essa exigibilidade antecipada. Quando a lei
tipifica determinada conduta inspirada num princípio, a gente não vai falar em abuso
vai se falar em ato ilícito.
Art. 477. Se, depois de concluído o contrato, sobrevier a uma das partes
contratantes diminuição em seu patrimônio capaz de comprometer ou tornar
duvidosa a prestação pela qual se obrigou, pode a outra recusar-se à prestação
131
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
que lhe incumbe, até que aquela satisfaça a que lhe compete ou dê garantia
bastante de satisfazê-la.
Outro exemplo: cobrança antecipada de juros no caso de pagamento
antecipado da dívida. O CDC proíbe, então a instituição financeira que cobra
antecipadamente em relação de consumo é ato ilícito.
Vamos ver que o Código Civil não proíbe explicitamente essa conduta, mas a
gente vai poder falar no Código Civil em abuso de direito porque veremos que há
valores que coíbem essa conduta em que pese o silencio do Código Civil.
Art. 303. O adquirente de imóvel hipotecado pode tomar a seu cargo o pagamento
do crédito garantido; se o credor, notificado, não impugnar em trinta dias a
transferência do débito, entender-se-á dado o assentimento.
O que parte da doutrina começou a sustentar foi que a recusa do credor na
assunção de dívida, no caso do artigo 303, a recusa tem que ser justificada. O Código
não exige justificativa, ao contrário, pela literalidade do Código é direito potestativo do
credor aceitar ou não.
Enunciado 353, CJF: Art. 303: A recusa do credor, quando notificado pelo adquirente
de imóvel hipotecado comunicando-lhe o interesse em assumir a obrigação, deve ser
justificada.
Pergunta do aluno.
Quem defende essa segunda posição com muita ênfase, mais uma vez, é o
Gustavo Tepedino.
Vejam, o Tepedino procurou o Moreira Alves, que foi quem fez a redação
do artigo 187, para indagar se era ilícito mesmo, se não tinha diferença nenhuma e aí
o Moreira Alves respondeu exatamente o que está no quadro, que na verdade temos
um ato ilícito lato sensu que se subdivide no stricto sensu e no ato antijurídico.
Quando o artigo 187 diz que o abuso é ato ilícito está falando em ato ilícito lato sensu,
que é a posição da 2ª corrente.
Pergunta do aluno.
Tem uma diferença que sintetiza bem a distinção aí: no ato jurídico stricto
sensu há liberdade de iniciativa, ao passo que no negócio jurídico há liberdade de
iniciativa e de regulamentação.
Nós temos que tomar cuidado, porque os clássicos costumam dizer que no
negócio jurídico há uma plena liberdade de iniciativa e de regulamentação. Na
verdade, no contexto atual não há mais plena liberdade de regulamentação, por tudo
que já começamos a ver, porque o Estado intervém nas relações privadas limitando
essa liberdade de regulamentação.
Sobre essa dicotomia, o Código Civil adota o sistema dualista, por que sistema
dualista? No Código Civil, os negócios jurídicos estão disciplinados nos artigos 104 a
184 e os atos jurídicos em sentido estrito no artigo 185.
Vamos ler o 185 que tem uma questão aqui importante, o único artigo que
trata dos atos jurídicos stricto sensu diz lá: aos atos jurídicos lícitos que não sejam
negócios jurídicos aplicam-se, no que couber, as disposições do título anterior.
O Código está dizendo que aos atos jurídicos em sentido estrito se aplica a
sistemática dos negócios, no que couber. Nem tudo que está lá se aplica aqui, não e
isso? Exemplo: condição, termo e encargo são elementos acidentais dos negócios
jurídicos. Exemplo clássico: doar-te-ei o imóvel se passares no vestibular. “Se passares
no vestibular”, condição suspensiva.
Então, condição, termo e encargo que estão lá tratados nos capítulos dos
negócios jurídicos representam institutos inaplicáveis aos atos jurídicos stricto sensu,
porque é pressuposto a condição, ao termo e ao encargo que haja liberdade de
regulamentação que não se faz presente nos atos jurídicos em sentido estrito.
Fim da aula.
Data: 30/09/08
Aula 05
Tem mais um Julgado aqui que vale a pena ressaltar, apesar de não termos
chegado lá ainda, mas já chegamos a falar em venire, não é? Numa das poucas
ocasiões em que o STJ explicitamente se manifestou acerca da venire, foi no último
Informativo que foi o seguinte:
Direito Empresarial... Uma pessoa emitia uma duplicata e ela circulou, foi
endossada sem o aceite. O STJ entendeu que apesar da ausência do aceite aquela
duplicata era válida e eficaz, porque o aceitante apesar de ser pessoa jurídica diversa
do emitente era administrada pelo mesmo sócio controlador do emitente. A mesma
pessoa física, o mesmo administrador controlava, administrava a pessoa jurídica
emitente e a pessoa jurídica ao qual incumbia o aceite.
Nesse caso, o STJ aplicou a venire contra factum proprium dizendo que não
pode a pessoa jurídica aceitante se recusar ao aceite na medida em que ela é
administrada pelo mesmo sócio que gerencia a pessoa jurídica emitente.
Foi interessante porque foi, entre aspas, eu não colocaria isso em uma prova,
mas foi entre aspas, uma desconsideração da personalidade jurídica distinta para
aplicar a venire, porque na verdade as pessoas jurídicas eram diversas, mas a pessoa
física controladora era a mesma. RESP 957769.
Na última aula paramos naquela dicotomia ato e negócio jurídico. Para grande
parte da doutrina a dicotomia para aí. Só que nos vimos no quadro dispositivo que
para muitos há uma terceira via que seria o ato fato, que ficou faltando comentar.
Exemplos de ato fato: artigos 1264 a 1266 que tratam lá na parte especial do
chamado achado do tesouro. Outro exemplo: para muitos a ocupação, artigo 1263.
Art. 1.263. Quem se assenhorear de coisa sem dono para logo lhe adquire a
propriedade, não sendo essa ocupação defesa por lei.
Lembram da ocupação? Aquisição originária de bem imóvel da coisa sem
dono? Vamos ver mais adiante e ainda a especificação, artigo 1269: aquele que
trabalhando em matéria prima, em parte alheia ou não tiver espécie nova, desta será
proprietário se não puder restituir a forma anterior.
Há uma semelhança aí, porque muitos inclusive não concebem o ato fato
como categoria autônoma, para muitos nós teríamos apenas os atos jurídicos e os
negócios jurídicos.
Mas qual seria uma diferença essencial entre ato fato e os atos jurídicos
stricto sensu? Nós vimos que nos atos jurídicos stricto sensu é irrelevante a vontade
para a produção dos efeitos, as conseqüências decorrem da lei. Só que a prática do
ato jurídico stricto sensu pressupõe manifestação de vontade. No ato jurídico, a
vontade não é determinante para as conseqüências, mas ela é determinante para a
sua respectiva prática.
No ato fato não. No ato fato, a vontade para a prática do ato fato ela é
desimportante, o ordenamento jurídico mira nos efeitos, nas conseqüências.
A teoria dos vícios do negócio jurídico ela é inaplicável aos atos fatos. Nada
impede, por exemplo, que o tesouro seja achado por um incapaz independentemente
de representação ou assistência. Quer dizer, o incapaz pode praticar atos fatos
diferentemente do que ocorre com os atos jurídicos stricto sensu, quer dizer, em regra
os incapazes têm necessariamente que ser representados ou assistidos.
Há quem diga que o Emílio Betti (autor italiano) defende que o ato fato não
seria uma espécie autônoma, seria uma modalidade de fato jurídico stricto sensu.
Por que o Emílio Betti pensa dessa forma? Porque no ato fato a vontade,
como vimos, ela é desimportante. Só que na verdade essa posição é minoritária e no
Brasil ela não teve receptividade porque o fato jurídico stricto sensu decorre de um
acontecimento natural, o ato fato não, ele decorre da vontade só que ela é tida como
desimportante pelo ordenamento jurídico, o ato fato não decorre de um evento
natural, de um evento da natureza.
Artigo 105 diz lá: a incapacidade relativa de uma das partes não pode ser
invocada pela outra em benefício próprio, nem aproveita aos co interessados capazes,
salvo se neste caso, for indivisível o objeto do direito ou da obrigação comum.
Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio
jurídico:
I - por incapacidade relativa do agente;
Art. 177. A anulabilidade não tem efeito antes de julgada por sentença, nem se
pronuncia de ofício; só os interessados a podem alegar, e aproveita exclusivamente
aos que a alegarem, salvo o caso de solidariedade ou indivisibilidade.
O artigo 106 trata da impossibilidade do objeto. Aqui vamos lembrar o
seguinte: a impossibilidade do objeto tradicionalmente ela pode ser física ou jurídica.
Art. 106. A impossibilidade inicial do objeto não invalida o negócio jurídico se for
relativa, ou se cessar antes de realizada a condição a que ele estiver subordinado.
Há certo debate, pode ser que seja importante numa prova oral, mas em
relação ao objeto já se discutiu se esse objeto a que se refere o artigo 104, II seria o
objeto material ou se seria objeto jurídico.
Só que na verdade hoje vem se argumentando que a coisa por si só ela não é
juridicamente impossível porque, por exemplo, ninguém pode duvidar que há negócio
jurídico válido se houver, por exemplo, um contrato de transportes para o entorpecente
necessário a levar tal material para determinada análise laboratorial.
Quer dizer, nada impede que o poder público venha a confiscar material
entorpecente, celebre um contrato de transporte destinando o entorpecente para o
laboratório e obviamente que o objeto desse negócio jurídico envolvendo o transporte
de entorpecente vai ter um objeto lícito.
O Caio Mario, por exemplo, diz que sim, são expressões sinônimas. Só que
na verdade a tendência principalmente diante do Código atual é no sentido de
diferenciar o objeto ilícito do juridicamente impossível. Porque vejam o objeto
juridicamente impossível não produz efeitos jurídicos em decorrência de determinada
vedação legal.
Essa diferença parece ter se reforçado no Código atual, porque como veremos
ainda hoje, o Código explicitamente diferencia as condições ilícitas das condições
140
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
juridicamente impossíveis, isto está no artigo 123, I e II. O inciso I prevê as condições
juridicamente impossíveis e o inciso II prevê as condições ilícitas.
Teríamos ainda, como elemento diferenciador, o artigo 883: não terá direito a
repetição aquele que deu alguma coisa para obter fim ilícito, imoral ou proibido por lei.
No final “proibido por lei” entenda-se juridicamente impossível.
Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade
dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou
renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior
salário mínimo vigente no País.
Forma ad probationem tantum é quando há uma determinada forma exigida
para a comprovação do negócio.
Quer dizer, a forma escrita seria uma forma ad probationem tantum\ para
negócios que suplantem o décuplo do salário mínimo e aí, numa ótica civilista, muitos
começaram a dizer o seguinte: na verdade não tem diferença prática nenhuma, porque
se a forma é indispensável para a comprovação do ato, quer dizer, na verdade a forma
vai acabar sendo um pressuposto para exigibilidade, para a eficácia do ato.
141
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Exceções ao artigo 108: artigo 61, §5º da Lei 4380/64 (Sistema Financeiro da
Habitação), artigo 38 da Lei 9514/97 (Sistema de Financiamento Imobiliário) e no
artigo 89 da Lei 6404/76 incorporação de imóvel para integrar o capital social de SA.
Acho que uma remissão para esses dispositivos já resolve e ainda em relação
a forma dar uma olhada no artigo 109: no negócio jurídico celebrado com a cláusula
de não valer sem instrumento público este é da substancia do ato.
Quer dizer, podemos ter um determinado tipo negocial que não demande
forma escrita e as partes podem convencionar a necessidade da observância de
instrumento particular ou público, quer dizer, forma escrita e essa forma escrita, ainda
que por instrumento particular previamente convencionado, integraria a substancia do
ato.
Para fecharmos os elementos essenciais temos ainda uma última questão que
é muito importante que é a seguinte: se a causa do direito brasileiro é um elemento
essencial do negócio jurídico.
142
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Regra geral, o motivo não tem relevância jurídica. Exceções: artigo 140 do
Código atual, artigo 137 e artigo 166, III.
Art. 140. O falso motivo só vicia a declaração de vontade quando expresso como
razão determinante.
Art. 137. Considera-se não escrito o encargo ilícito ou impossível, salvo se
constituir o motivo determinante da liberalidade, caso em que se invalida o negócio
jurídico.
Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando:
III - o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito;
São hipóteses em que veremos que o Código dá relevância ao motivo, mas a
regra geral é de que motivo não tem relevância jurídica porque se trata de um
elemento meramente psíquico, elemento subjetivo.
Pergunta do aluno.
Resposta: se artigo 758 seria uma exceção ao artigo 108? Não, porque o
artigo 108 exige instrumento público para transferência de direito real e o seguro, a
143
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
principio, uma relação de natureza obrigacional. Então, na verdade o que o artigo 108
impõe é forma pública quando há transferência de direito real, que não seria o caso
propriamente do contrato de seguro.
Como o próprio nome já nos sugere, os elementos naturais são aqueles que
decorrem naturalmente da celebração do negócio independentemente de previsão
contratual.
Art. 448. Podem as partes, por cláusula expressa, reforçar, diminuir ou excluir a
responsabilidade pela evicção.
Também se admite a chamada cláusula no estado em que se encontra. A
jurisprudência também admite a chamada cláusula no estado em que se encontra.
Essa cláusula, em tese, tem um condão de afastar os vícios redibitórios que é muito
comum em objetos usados.
Vou sugerir essa remissão porque é importante, nós vimos que o artigo 448
explicitamente autoriza as partes excluírem a responsabilidade pela evicção. Só que
essa possibilidade explicitamente contemplada pelo artigo 448 é inaplicável em
contrato de adesão, artigo 424.
Art. 424. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia
antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio.
Sugiro a remissão do artigo 448 para o artigo 424 que diz lá: nos contratos de
adesão são nulas as cláusulas que estipulem a renuncia antecipada do aderente a
direito resultante da natureza do negócio. “Direito resultante da natureza do negócio”
diz respeito justamente a que? Aos elementos naturais do negócio jurídico.
Pergunta do aluno.
específica dos riscos da evicção, quer dizer, o contrato exclui a responsabilidade pela
evicção por conta de um determinado fato, a usucapião em favor de Pedro.
Art. 449. Não obstante a cláusula que exclui a garantia contra a evicção, se esta se
der, tem direito o evicto a receber o preço que pagou pela coisa evicta, se não
soube do risco da evicção, ou, dele informado, não o assumiu.
Então, na verdade, a área aqui ela vai ter que ser analisada no caso concreto,
se for exoneração específica, por exemplo, é indiscutível que o contrato é aleatório.
Vamos deixar para ver isso mais adiante para ficar melhor sistematizado.
Elementos Acidentais
Sobre essa questão da interpretação, quer dizer, qual delas vai prevalecer: se
é a vontade declarada ou se é a vontade interna? Tem duas correntes que são as
clássicas, são as duas correntes tradicionais:
Essa teoria parece um absurdo hoje, a gente imaginar que a vontade interna
vai sempre prevalecer sobre a vontade declarada. Mas ela já fez sentido num outro
contexto, no contexto em que o princípio da autonomia privada era um valor absoluto.
145
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Quer dizer, era um contexto em que o Estado não intervinha nas relações privadas, a
vontade individual era o valor absoluto e, portanto fazia sentido a teoria da vontade.
Essas duas teorias são teorias extremadas, são as duas teorias clássicas, uma
defendendo sempre a vontade interna e a outra sempre defendendo a vontade
declarada.
O artigo 113 prevê explicitamente a boa fé objetiva dentro de uma das suas
funções que é exatamente a da interpretação dos negócios jurídicos. Diz lá o artigo
113: os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa fé e os usos do
lugar da sua celebração. A doutrina é unânime em afirmar que o artigo 113 se refere a
boa fé objetiva.
Nós veremos que a boa fé objetiva tem uma tríplice função e uma delas é de
interpretação, artigo 113. Então, o artigo 113 ao contemplar a boa fé objetiva reforça o
princípio da confiança.
Vamos dar uma olhada no artigo 112: nas declarações de vontade se atenderá
mais a intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem.
Porque, olha só, diz o artigo 112: nas declarações de vontade se atenderá
mais a intenção nelas consubstanciada... “Nelas” se refere às declarações.
Pergunta do aluno.
Resposta: aí o artigo 112 junto com o artigo 113, que ressalta a boa fé
objetiva, afasta a teoria da vontade e aí a conseqüência que a doutrina traz é a
seguinte: o artigo 112 com o artigo 113 evidencia a adoção do princípio da confiança,
porque o artigo 112 alterando a sistemática anterior se afasta do aspecto meramente
subjetivo, não conjuga mais a intenção com a vontade e sim com a declaração. E o
artigo 113 impõe que essa declaração tem que ser interpretada em harmonia com a
boa fé objetiva que gera proteção da legitima expectativa. Então, numa interpretação
sistemática, princípio da confiança.
Vamos olhar agora um tema de dificílima aplicação pratica, mas que vem
caindo com muita freqüência que é a reserva mental sinônimo de reticência. Artigo
110.
Repetindo:
Reserva Mental
Então, vamos para a reserva mental, artigo 110, que é sinônimo da reticência.
Então, na reserva mental, diz o artigo 110, o sujeito declara algo com a
reserva mental de não querer aquilo que manifestou, daí a expressão reticência, o
sujeito é reticente em relação aquilo que declarara.
O que está claro aqui na reserva mental? Que há uma divergência entre a
vontade declarada e a vontade interna. E aí é preciso ressaltar que essa divergência
entre a vontade declarada e a vontade interna. É preciso ressaltar que essa
divergência entre a vontade declarada e a vontade interna é uma divergência
intencional, para diferenciar inclusive a reserva mental do erro, do dolo, da coação e,
apesar do silêncio do artigo 110, a doutrina predominante ressalta que também é da
essência da reserva mental a finalidade do declarante de enganar o declaratário.
Para fins de concurso, ninguém é obrigado a lembrar, mas tem regra explicita
nesse sentido no artigo 244 do Código Português que é de onde a doutrina extrai esse
requisito.
Qual o exemplo que a doutrina sempre trás sempre que fala da reserva
mental? Imagine que você tem um amigo em dificuldades financeiras, jamais
emprestaria dinheiro a esse sujeito porque é dinheiro que vai e não volta. Só que o
sujeito está no parapeito de uma janela ameaçando se matar e na eminência do
suicídio do amigo você declara a vontade de emprestar com a reserva mental de não
querer aquilo que manifestou.
É isso que diz o artigo 110, vamos reler: a manifestação de vontade ainda que
o seu autor tenha feito a reserva mental de não querer o que manifestou, salvo se dela
o destinatário tinha conhecimento. Então, dá para fazer uma conexão clara entre
reserva mental e princípio da confiança.
Tem uma questão aqui que o Código não enfrentou que é a seguinte: se o
declaratário sabe da reserva mental vai prevalecer a vontade interna, qual é o efeito
prático sem pensar em termos técnicos? Aquele negócio verbalizado, exteriorizado não
vai prevalecer. Não vai prevalecer, entre aspas, a que título? Qual é a natureza jurídica
daquele negócio que havia sido exteriorizado? Porque o artigo 110 não diz se esse
negocio é nulo, anulável, inexistente.
Por que se diz que o negócio seria inexistente? O artigo 110 ele diz assim: a
manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor tenha feito a reserva mental,
salvo de o destinatário tinha conhecimento.
Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se
válido for na substância e na forma.
Ainda na reserva mental do artigo 110 acho que vale a pena uma remissão do
artigo 110 para o artigo 1899.
Silêncio
150
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Vamos dar uma olhada no silêncio. Artigo 111: o silêncio importa anuência
quando as circunstancias ou os usos os autorizarem e não for necessária a declaração
de vontade expressa. O artigo 111 deixa claro que nem sempre quem cala consente.
Qui tacet, consentire videtur. O artigo 11 rechaça a idéia de que cala consente.
Antes de mais nada, não confundir silêncio com declaração tácita de vontade.
O silêncio como todos nós sabemos representa uma abstenção total, já a declaração
tácita é aquela extraída do comportamento de determinada pessoa. Que dizer, o
sujeito não diz sim e nem não senão seria declaração expressa, mas desenvolve uma
determinada conduta em relação ao qual é possível extrair a sua vontade.
Então, fica claro e evidente que em regra inaplicável o artigo 111 no caso de
assunção de divida, artigo 299. Porque em regra a assunção de dívida pressupões o
que? Consentimento expresso do credor. Então, silencio na assunção de divida, não vai
gerar a presunção de concordância.
O Código aqui andou muito bem, cuidado com esse detalhe aí, porque o
Código Civil diz que os negócios jurídicos benéficos e a renuncia interpretam-se
estritivamente. O Código não disse restritivamente, não são sinônimos.
Vamos ver um exemplo disso. Vamos fazer uma conexão desse dispositivo
com o artigo 387. Sugiro uma remissão recíproca: artigo 114 e artigo 387.
Fim da aula.
Data: 30/09/08
Aula 05 – 2º Parte
É a lei que diz que o pacto só produz efeito se houver o casamento, portanto
falta o requisito voluntariedade. Quer dizer, para que haja condição é preciso que o
negócio se subordine a um evento futuro incerto por conta da manifestação de
vontade e não por força de lei. Porque se a lei impõe um determinado requisito para a
eficácia do ato, nós não estamos diante de uma condição propriamente dita.
Vamos supor, vendo esse imóvel de 100 mil reais se for adotado instrumento
público. Nós não temos aí uma condição suspensiva, a adoção de instrumento público
na verdade é requisito legal para a validade e eficácia do ato.
Pergunta do aluno.
Outro elemento que nós vimos é que o evento tem que ser futuro. Em relação
a essa exigência, não confundir as condições as condições que estamos vendo agora
com as chamadas condições impróprias.
E o evento tem que ser incerto, por quê? Porque se o evento for futuro e
certo nós estaremos diante da hipótese de termo.
Vamos nos lembrar, ainda dentro dessa visão introdutória, dos chamados atos
puros que são aqueles que não admitem condição.
Nós vimos na aula passada que uma das modalidades de atos puros são os
atos jurídicos em sentido estrito porque neles não há liberdade de regulamentação, só
liberdade de iniciativa. Então, como não há liberdade de regulamentação nos atos
jurídicos em sentido estrito, os efeitos decorrem da lei, então não cabe condição.
Cuidado aqui com o seguinte: o artigo 121 tratando da condição diz assim:
“derivando exclusivamente da vontade das partes...”. Só que a doutrina é bastante
insegura no sentido de afirmar que a condição também se aplica a negócios jurídicos
unilaterais.
Pergunta do aluno.
Remissão do artigo 125 para o artigo 131, por que na pendência da condição
suspensiva (em tese) não há aquisição de direito? Porque o evento é futuro e incerto.
Se o evento não se consumar o negócio jamais produzirá efeitos.
A doutrina clássica costuma dizer que nesse período de pendência, aquele que
aguarda o advento da condição suspensiva, teria uma mera expectativa de direito.
Clóvis Beviláqua já dizia isso e outros.
O efeito prático seria que esse direito expectativo ele não pode ser afastado
por legislação posterior, quer dizer, eventual modificação legislativa não atingirá o
direito expectativo adquirido caso haja o implemento da condição.
adquirido e essa posição parece resolver um aparente conflito entre esse artigo 125
com o artigo 6º, §2º da LICC.
Sugiro então a remissão desse dispositivo artigo 125 para o artigo 6º, §2ª da
LICC para lembrarmos desse aparente conflito.
Tem outra questão que é a seguinte: vamos supor que haja um negócio
sujeito a condição suspensiva sem qualquer limite temporal para a ocorrência dessa
condição suspensiva. Quer dizer, doar-te-ei um imóvel se passares no vestibular.
Quem cuida do tema aqui diz que se não houver prazo pré-estabelecido é
possível que uma das partes venha a requerer em juízo a fixação de um prazo
razoável. Porque, vejam, a ausência total de limite temporal a condição suspensiva
geraria uma indefinição ad eternum em relação ao direito focado no negócio. Quer
dizer, a inexistência de limites temporais ao implemento da condição suspensiva, traria
insegurança jurídica.
Pergunta do aluno.
Quer dizer, não seria hipótese da parte contratante originária pleitear a fixação
judicial em detrimento do sucessor. A legitimação seria daquele que integra naquele
momento... Daquela que tenha a titularidade do direito expectativo.
Vamos dar uma olhada no artigo 126: se alguém dispuser de uma coisa sobre
condição suspensiva e pendente esta fizer quanto àquela novas disposições, estas não
terão valor realizada a condição se com ela forem incompatíveis.
Alguns aspectos aqui importantes: há uma primeira posição que ressalta que
o artigo 126 consagraria a retroatividade da condição suspensiva. Essa primeira
corrente é defendida pelo Arnaldo Rizzardo e pelo Washington de Barros
Monteiro.
Pergunta do aluno.
Art. 85. São fungíveis os móveis que podem substituir-se por outros da mesma
espécie, qualidade e quantidade.
Tem outra hipótese que tem tudo a ver com o princípio da confiança. Se a
gente estiver diante de um negócio envolvendo bem imóvel, essa condição suspensiva
tem que estar averbada no registro. Porque o artigo 126, ao supostamente trazer
esses efeitos ex tunc como quer a 1ª corrente, acaba gerando oponibilidade erga
omnes, porque ela atinge terceiros adquirentes. Na verdade, a condição tem que estar
registrada para que haja a proteção a legítima expectativa de terceiros.
Pergunta do aluno.
Resposta: ainda que não haja uma previsão explicita, se tiver resolve, mas a
condição, elemento acidental do negócio jurídico e a condição ela não se presume, ela
pressupõe acordo de vontade. Então, em tese a condição ela deve constar no
instrumento, digo instrumento público se for bem imóvel.
Agora, se for bem imóvel não sujeito a registro, a regra não se aplicará em
face de terceiros adquirentes de boa fé. Posição essa majoritária em sede doutrinária.
Tem até uma regrinha aqui, que parece deixar bem claro essa solução, em
relação aos frutos que é o artigo 237, §único trata da teoria dos riscos e diz assim: os
frutos percebidos são do devedor cabendo ao credor os frutos pendentes.
Quer dizer, se alguém tem uma obrigação de dar e a obrigação de dar pode
decorrer do implemento da condição suspensiva, o artigo 237, §único diz que quem
tem obrigação de dar, o devedor que tinha obrigação de dar tem direito aos frutos
percebidos antes da tradição.
A coisa perece para o dono (res perit domino) e, na verdade a coisa vai
perecer para quem? Para o atual titular do direito, quer dizer, ele é que vai suportar os
riscos pela perda ou deterioração sem culpa. Não vai ser o credor condicional, vai ser
aquele que a época do perecimento titularizava o bem, está lá no artigo 234 1ª parte
que veremos mais adiante.
Art. 234. Se, no caso do artigo antecedente, a coisa se perder, sem culpa do
devedor, antes da tradição, ou pendente a condição suspensiva, fica resolvida a
obrigação para ambas as partes; se a perda resultar de culpa do devedor,
responderá este pelo equivalente e mais perdas e danos.
E tem outra questão ainda em relação às benfeitorias, porque se for efeitos
retroativos em geral como quer a primeira corrente todas as benfeitorias realizadas
terão que ser indenizadas.
Nesse caso, é aplicado por analogia o artigo 505 que trata da retrovenda que
é o seguinte: o alienante transfere a propriedade, só que o alienante se reserva o
direito potestativo de reaver o bem dentro de um determinado prazo. Condição, não é
isso?
159
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Art. 127. Se for resolutiva a condição, enquanto esta se não realizar, vigorará o
negócio jurídico, podendo exercer-se desde a conclusão deste o direito por ele
estabelecido.
Na condição resolutiva, o negócio vai produzindo efeitos até que haja o
implemento da condição resolutiva. É o inverso da suspensiva. A condição resolutiva é
aquela que tem por efeito resolver, extinguir os efeitos do negócio e daí a expressão
resolutiva.
Art. 119, § único do CC/16: A condição resolutiva da obrigação pode ser expressa,
ou tácita; operando, no primeiro caso, de pleno direito, e por interpelação judicial,
no segundo.
Art. 475. A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato,
se não preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos,
indenização por perdas e danos.
Atualmente ninguém mais fala em condição resolutiva tácita, quando a
doutrina se refere ao artigo 475 a expressão utilizada é cláusula resolutiva tácita.
O que está lá no artigo 475 é que se uma das partes descumpre o contrato a
outra pode pedir a resolução. Vejam que não estamos diante de uma condição
efetivamente, primeiro porque ela é tácita e a condição pressupõe acordo de vontades.
Vejam que esse efeito resulta da lei, quer dizer, além de tácita ela se opera ex
vis legis, então o Código anterior cometia uma impropriedade ao inserir o dispositivo
no capítulo das condições.
160
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
O artigo 127 diz lá: se for resolutiva a condição, enquanto esta se não realizar,
vigorará o negócio jurídico podendo exercer desde a conclusão deste o direito por ele
estabelecido. Quer dizer, o que o artigo 127 diz é o que acabamos de mencionar:
enquanto não houver o implemento da condição resolutiva o negócio produz efeitos.
Percebam o seguinte: quando o artigo 1359 diz que quem tem propriedade
resolúvel transfere propriedade resolúvel o que ele está dizendo é que se o donatário
naquele nosso exemplo falecer antes do doador o terceiro adquirente perde o bem
para o doador, não é isso? Ou seja, em termos práticos o que o Código está
estabelecendo é que neste caso a condição resolutiva vai produzir efeitos retroativos.
O que uma parte da doutrina diz? Que o artigo 128 consagra a retroatividade
das condições resolutivas, quer dizer, aquela 1ª corrente de lá se projeta para cá. Vai
dizer que o artigo 128 prevê a retroatividade das condições resolutivas.
Cuidado, olha que pergunta capciosa: tem tutela possessória? Não, ele pode
se defender através de outros instrumentos que não tutela possessória. Quem vai ter
tutela possessória é o atual titular do direto, não é isso? O titular do direito expectativo
vai se valer de cautelar enfim, mas não de tutela possessória.
Agora, há uma situação mais delicada ainda que é a seguinte: em que medida
o titular do direito expectativo pode exercer medidas conservativas em detrimento do
atual titular do bem?
162
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Pode ser que o atual titular venha desempenhando condutas que venham a
deteriorar, a gerar o perecimento do bem objeto da condição. Vejam que se ficar
evidenciado que a conduta do atual titular do direito tende a perecimento ou a
deterioração do objeto sujeito a condição, o titular do direito expectativo tem
legitimidade para adotar as medidas conservativas daí decorrentes.
Por que é discutível no mínimo essa hipótese? Por conta do artigo 199, I que
diz que não corre prescrição na pendência da condição suspensiva. Quer dizer, na
verdade se não corre prescrição, parece faltar interesse para o titular do direito
expectativo em interromper a prescrição.
Vamos fechar com uma última classificação que é breve. São as chamadas
condições perplexas ou contraditórias. Artigo 122, 2ª parte: as condições contraditórias
ou perplexas são aquelas que privam de todo efeito o negócio jurídico. O artigo 122 diz
que essas condições são vedadas, são defesas pelo ordenamento jurídico.
Art. 122. São lícitas, em geral, todas as condições não contrárias à lei, à ordem
pública ou aos bons costumes; entre as condições defesas se incluem as que
privarem de todo efeito o negócio jurídico, ou o sujeitarem ao puro arbítrio de uma
das partes.
Exemplo típico: o sujeito faz um testamento e diz lá “deixo este imóvel para
fulano, se fulano morrer antes de mim”. Condição perplexa ou contraditória porque
acaba privando todo negocio de efeito.
Tem outro exemplo: dôo a José a casa se vendê-la antes para Francisco.
Condição perplexa, contraditória.
163
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Fim da aula.
Aula 06 – 07/10/08
No caso concreto era duas pessoas jurídicas, uma delas com um maior
potencial econômico do que a outra, entretanto ambas demonstravam estruturação
suficiente para exercer a defesa dos seus respectivos interesses no domicílio contratual
eleito.
seria uma condição simplesmente potestativa, então “se me formar”, “se eu viajar ao
exterior” teríamos aí condições simplesmente potestativa.
Essas condições meramente potestativas estão vedadas pelo art. 122, parte
final. Diz o art. 122 o seguinte: são licitas em geral todas as condições não contrárias a
lei, a ordem pública ou aos bons costumes. Entre as condições defesas, se excluem a
que privarem de todo negócio jurídico ou o sujeitarem ao puro arbítrio de uma das
partes. Então, as condições meramente potestativas são aquelas que se sujeitam ao
puro arbítrio de uma das partes.
Uma manifestação prática do art. 122 parte final, nós encontramos no art.
489, que é o seguinte: o art. 489 está dentro do capítulo da compra e venda. Regra
geral as partes são livres para estabelecerem os critérios pra definir o preço da compra
e venda, princípio da autonomia privada. Quer dizer, podem as partes fixar o preço de
acordo com taxa de balcão ou de acordo com taxa de bolsa? Sim, podem as partes
atribuírem a fixação dos preços a terceiros? Sem dúvida alguma.
Nesse sentido, nós temos vários autores, nós temos aí o Francisco Amaral,
Orlando Gomes, Gustavo Tepedino e Eduardo Ribeiro.
Pergunta de aluno.
Pergunta de aluno.
Porque a não concretização da compra e venda, não depende do puro arbítrio, quer
dizer, se o bem corresponde as qualidades esperadas em relação aquilo que foi
compactuado, o princípio da conservação e o princípio da boa fé objetiva vão impor a
celebração do contrato. Então, não teríamos aqui propriamente uma condição
puramente potestativa. Talvez tenhamos aqui um exemplo de condição simplesmente
potestativa, porque vai depender da vontade, sem dúvida, mas conjugadas a outros
elementos. Não é bem a cláusula “se me aprouver”, porque aqui a boa fé objetiva e a
conservação vão funcionar como uma baliza para essa manifestação de vontade.
Pergunta de aluno.
Então, condições como: “se mudar de religião” seria uma condição ilícita
porque atenta contra um valor fundamental, qual seja, liberdade religiosa. A condição
que tem por efeito negar o acesso a profissão, também seria uma condição ilícita. Não
se esqueçam que dentro das condições ilícitas, veremos isso daqui a pouco, temos
ainda as condições de fazer coisa ilícita, “se matares”, “se roubares”...
Vamos para a última classificação, porque essa última vai nos levar a todas as
classificações que vimos até aqui. Vai trazer algo extremamente novo aqui para o
nosso direito civil.
O código civil elenca as condições invalidantes no art. 123. Diz o art. 123:
invalidam os negócios jurídicos que lhe são subordinados; inciso I: as condições física
ou juridicamente impossíveis quando suspensivas. Cuidado que isso aqui é fonte de
pegadinha.
168
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Olha só, vamos tentar entender o sistema. Nós vimos que as condições
juridicamente impossíveis se distingue das ilícitas por conta do grau de violação ao
ordenamento jurídico, as ilícitas são mais graves do que a juridicamente impossíveis.
Tem uma ligeira discussão aqui, porque o código fala aqui no inciso I que são
invalidantes as condições físicas ou juridicamente impossíveis quando suspensivas.
Esses autores não costumam fazer menção, mas me parece que se quisermos
defender essa segunda posição é sustentável invocar por analogia o art. 106 para
defender essa corrente.
O art. 106 diz que a impossibilidade inicial do objeto não invalida o negócio se
for relativa. Então, o que poderíamos afirmar? Que a condição fisicamente impossível
relativa também não invalida o negócio jurídico.
Pergunta de aluno.
Aqui, cuidado com o inciso II. O art. 123, II diz que são invalidantes as
condições ilícitas ou de fazer a coisa ilícita. Nós vimos que a condição de fazer a coisa
ilícita não se confunde propriamente com as condições ilícitas.
Tem uma questão importante que os manuais não costumam fazer alusão,
olha só: o art. 123, II explicitamente diz que são invalidantes a condição de fazer coisa
ilícita: se matares, se roubares, se estuprares, condição invalidante. A dúvida é: e a
condição de não fazer a coisa ilícita? Quer dizer, “se não matares fulano”, por exemplo,
seria uma condição de não fazer coisa ilícita.
O que o Caio Mário ressalta aqui? Que essa condição de não fazer coisa ilícita
também seria invalidante. Porque, na verdade, não fazer coisa ilícita é um dever
jurídico primário. Então, condições como: se não matar, se não roubar, se
enquadrariam por analogia no at. 123, II como condições invalidantes.
Cuidado com mais essa pegadinha. Nessa hipótese, em que a condição de não
fazer coisa impossível, como falta o elemento incerteza a condição será sempre
inexistente seja suspensiva ou resolutiva. Na parte final o art. 124 não distinguiu.
O termo pode ser inicial ou final. Termo inicial sinônimo de termo suspensivo
e termo final sinônimo de termo resolutivo.
usufruto vitalício, aquele que perdura durante toda a vida do usufrutuário, quer dizer, a
morte do usufrutuário será o termo resolutivo.
Em regra, no plano prático o termo é quase sempre não essencial, quer dizer,
se o locador não recebe o aluguel no dia 5 é claro que interessa ao locador recebê-lo
no dia 15 ou dia 20. Se o mutuário não paga a prestação no dia 10 é claro que
interessa ao mutuante recebê-la no dia 20.
E, para fechar questão com chave de outro, o que seria necessário me parece
consolidar lá? Lembra da diferença da mora para o inadimplemento absoluto? Nós
veremos com calma mais adiante, mas é inevitável aqui essa conexão.
Pergunta de aluno.
Tem uma regrinha, que inclusive confirma que a hipótese aqui se restringe a
mora do devedor, é o art. 395, §único que vamos ver mais adiante. O art. 395, §único
diz: se a prestação devido a mora se tornar inútil ao credor, este poderá enjeitá-la e
exigir a satisfação das perdas e danos.
O prof. Araquém de Assis ele costuma dizer que o art. 395, §único estabelece
o chamado caráter transformista da mora, quer dizer, a mora se transmudando no
inadimplemento absoluto.
172
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Exemplos: art.130. O art. 130 é aquele que diz que o titular do direito
expectativo pode praticar atos destinados a conservá-los. Ora, se o mero titular do
direito expectativo pode adotar medidas conservativas, com muito mais razão na
hipótese de termo, porque no termo, vimos na aula passada o art. 131, já há aquisição
do direito, não há apenas o seu exercício. Então, obviamente a regra do art. 130
prevista para a condição também se aplica ao termo.
Outra regra aplicável, art. 126, que é aquele que diz que na pendência da
condição suspensiva, uma das partes pratica um ato de disposição patrimonial, em
regra, com o implemento da condição suspensiva, aquela disposição patrimonial se
desconstitui o que para muitos corresponderia ao efeito retroativo das condições
suspensivas.
Nós trouxemos várias ponderações a isso: tem que estar registrado, não se
aplica a terceiros de boa fé em se tratando de bem imóvel, a regra, enfim tudo aquilo
que vimos no 126 se aplicaria a hipótese de termo.
Também seria aplicável aqui, ao termo, o disposto nos arts. 123, I e 124.
Nesses dispositivos o código traz aquela diferença de tratamento entre as condições
impossíveis, suspensivas ou resolutivas. Essa mesma diversidade seria aplicada no
caso de termo impossível. Exemplo de termo impossível: 31 fevereiro, exemplo que a
doutrina sempre traz.
Se esse termo impossível for inicial, vamos aplicar por analogia o art. 123, I
porque se for termo inicial ele vai se equiparar a condição suspensiva e, portanto esse
termo impossível será invalidante. Se for resolutiva vamos aplicar o art. 124, ou seja,
o negócio vai produzir efeito como se tal condição não houvesse sido pactuada.
Porque se o negócio jurídico é oneroso, nós não temos propriamente encargos, mas
sim contraprestações recíprocas.
Tem uma questão que sempre foi objeto de debate e o código agora se
posicionou sobre essa questão que é a discussão se a doação com encargo é gratuita
ou onerosa. A mesma lógica vale para o comodato com encargo, a mesma discussão.
Sempre houve duas posições sobre o tema, qual era a predominante? Podemos dizer
que essa é a predominante na doutrina.
O art. 441, §único tratando dos vícios redibitórios diz assim: é aplicável a
disposição desse artigo as doações onerosas. E o art. 562, talvez de maneira mais
enfática, diz lá: a doação onerosa pode ser revogada por inexecução do encargo.
Então, a literalidade do código se refere a doação com encargo como sendo doação
onerosa, o que é objeto de repúdio por parte da doutrina majoritária.
Então, se cair isso na prova dissertativa claro tem que se discorrer sobre o
tema. Se cair na prova objetiva, acho que é uma questão mal formulada, mas a letra
fria do código diz que a doação com encargo é onerosa. Talvez seja um caminho mais
seguro.
Há uma regrinha que vamos ver mais adiante, é o art. 553, §único que diz
que se o cumprimento do encargo atende ao interesse geral (expressão do código), o
MP tem legitimidade para exigir o cumprimento do encargo.
Isso que acabamos de ver, que o encargo não tem natureza suspensiva, está
explicito no art. 136. Então, a idéia de que o encardo não gera qualquer efeito
suspensivo está no art. 136, diz lá: o encargo não suspende a aquisição e nem o
exercício do direito, salvo quando expressamente imposto no negócio pelo disponente
como condição suspensiva. Nesse caso, obviamente deixamos de ter o encargo e
passamos a ter uma condição suspensiva.
O art. 137 é novidade, ele na existia no código anterior e ele trata do encargo
ilícito ou impossível.
Vamos construir um raciocínio para não precisar decorar, a dúvida qual seria?
Se esse encargo ilícito ou impossível se ele seria invalidante ou inexistente, não é isso?
É claro que o encargo ilícito é impossível e ele tem que ser repudiado, mas a duvida é
se o repúdio ao encargo contamina ou não o negócio jurídico.
A regra geral é que o encargo não produz efeito suspensivo. O encargo não
impede a aquisição no exercício de direitos, como conseqüência, regra geral, o encargo
ilícito ou impossível será inexistente.
Nós temos mais uma hipótese em que o código trás repercussão jurídica ao
motivo.
A doutrina não costuma trazer exemplos aqui, mas vamos supor que alguém
tenha duzentos mil, faça um testamento em favor de um amigo (ele não tem herdeiros
necessários) dispondo dos duzentos mil a seu favor atribuindo a ele o encargo de
utilizar todo o montante para a construção de uma casa de prostituição.
Esse art. 137 vem caindo com muita freqüência em questões objetivas.
175
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Pergunta de aluno.
No art. 166, III o motivo determinante tem que ser comum a ambas as
partes, quer dizer, há essa distinção. Na verdade, no art. 166, III a regra vai se aplicar
a negócios jurídicos bilaterais, mas sem dúvida há uma conexão entre o art. 137 e o
art. 166.
São duas novidades legislativas, o art. 166, III que veremos mais adiante
também é novidade. Na verdade é uma sintonia, talvez seja precipitado afirmarmos
que seria a mesma coisa, mas há uma sintonia sem dúvida alguma.
Então, no código atual como vício social nós passamos a ter a fraude contra
credores. A simulação saiu do capítulo dos efeitos, e agora é tratada no art. 167 que
veremos mais adiante.
O código agora acima do art. 138, quando abre a sessão I, no título está lá
colocado: o erro ou ignorância. Qual a diferença básica entre o erro e a ignorância? No
176
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
O erro gera anulabilidade por quê? Porque ele gera vício de consentimento,
vejam que só há vício de consentimento na hipótese de erro essencial. Porque como
erro essencial incide sobre elementos determinantes, o sujeito não teria celebrado o
negócio se não tivesse incorrido em erro.
Isto está claro no art. 138 1ª parte que diz: são anuláveis os negócios
jurídicos quando as declarações de vontade emanarem de erro substancial.Então,
apenas o erro substancial conduz a anulabilidade
Tem um exemplo que o Humberto Júnior traz que é bem interessante. Vamos
supor que alguém incorra num equívoco sobre a coloração de um determinado metal
adquirido. Só que o sujeito comprou aquele metal para ser utilizado como matéria
prima e aquele metal vai ser fundido para a construção de um outro produto e, com a
fundição, aquele material vai perder a coloração originária.
O sujeito pode dizer o que? O meu erro é essencial, eu contei que aquela
peça seria azul, quando na verdade ela é preta. Ainda que demonstrado requisito
subjetivo seria preciso demonstrar a substancialidade do erro a luz do princípio da boa
fé objetiva, a luz do princípio da conservação.
Outro requisito que a doutrina traz: o erro deve real. Na verdade, o erro real
que a doutrina costuma trazer significa prejuízo ao declarante.
INTERVALO.
Vamos partir para o tema mais árduo e relevante aqui que é questão da
escusabilidade. Vamos ver por partes para a gente sistematizar a questão.
178
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Então, aquele que incorre num erro escusável, e venha a atingir o outro
contratante de boa fé com a invalidação do negócio, se sujeita a reparação pelo
interesse negativo.
espera maior cuidado, maior diligencia do que de uma pessoa rude e sem nenhuma
instrução.
Defendem, inclusive, a aplicação por analogia do art. 152 que trata de coação.
O art. 152 diz que no apreciar a coação ter-se-ão em conta o sexo, a idade, a
condição, a saúde, o temperamento do paciente e todas as demais circunstancias que
possam influir na gravidade dela.
Quer dizer, aplicando por analogia o art. 152 nós nos distanciaríamos da
questão do homem médio e analisaríamos essa diligencia normal a luz das
características do declarante.
Da segunda posição nós vamos extrair duas por isso que na verdade são três
correntes no total.
Pergunta de aluno.
Resposta do Prof: porque o que se exige, de acordo com essa perceptiva aí, é
que o erro seja perceptível, não se exige que o erro tenha sido percebido. Isso é muito
importante, primeiro pelo seguinte: se por ventura o outro contratante percebeu, nós
saímos do erro e vamos para o dolo por omissão art. 147. Mais importante
dogmaticamente, se o legislador exigisse que a outra parte tivesse percebido, nós
estaríamos no terreno da boa fé subjetiva. Quando o legislador simplesmente diz
“basta que o erro seja perceptível” nós estamos no terreno da boa fé objetiva.
Na verdade, o art. 113 do código civil diz que a interpretação dos negócios
deve se dar a luz do princípio da boa fé objetiva. Então, para essa primeira subdivisão
o princípio da confiança exclui a escusabilidade do erro.
O que está implícito nisso aí? Deveres anexos. Uma das conseqüências da boa
fé objetiva são os chamados deveres anexos e um dos deveres anexos é justamente os
deveres anexos de cuidado, de diligencia.
181
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Por isso que quando o código diz “sabe ou deveria saber”, o código vem em
harmonia com a boa fé objetiva. Porque quem não sabe, mas deveria saber está
agindo de boa fé subjetiva, mas está violando a boa fé objetiva. Então, quando o
código diz que o erro tem que ser perceptível, o código está impondo ao declaratário
um dever anexo de cuidado.
Por outro lado, o Tepedino diz o seguinte: quando se exige que o erro tem
que ser escusável, o que está se impondo ao declarante? Dever anexo de cuidado.
Porque quando se diz que o erro tem que ser escusável o que se afirma? O erro
grosseiro não socorre ao declarante e o erro grosseiro é aquele que decorre da
inobservância do dever anexo de cuidado.
Então, percebam bem, o art. 138 diz que o erro tem que ser perceptível ao
declaratário, essa perceptibilidade ao declaratário impõe ao declaratário o dever anexo
de cuidado. Por outro lado, quando se exige que o erro tem que ser escusável, o que
se impõe ao declarante é um dever anexo de cuidado.
O Tepedino vem e diz que não faz nenhum sentido o enunciado 12, porque o
enunciado 12 diz que o princípio da confiança exclui a escusabilidade. Não faz sentido
por que, defende o Tepedino? Porque da boa fé objetiva resultam deveres anexos não
apenas para o declaratário, mas também para o declarante. Os deveres anexos, dentre
os quais o dever de cuidado, vinculam declarante e declaratário.
Pergunta de aluno.
Para não sermos contraditórios na hora da prova: quando se exige que o erro
seja perceptível, isso está tanto na 2ª quanto na 3ª corrente, quando se passa a exigir
a perceptibilidade do erro, qual é a conseqüência? É não mais falar em reparação a
interesse negativo, porque a reparação ao interesse negativo pressupõe o que? Que o
simples erro escusável atinja o terceiro, outro contratante de boa fé.
Quando se diz que o erro tem que ser perceptível ao declaratário, ele violou a
boa fé objetiva e, portanto não mais se cogita de reparação a interesse negativo.
Pergunta de aluno.
Resposta do Prof: a questão acaba sendo mais dogmática do que prática, mas
ela vai gerar um reflexo talvez no campo processual. Porque a preocupação com o
ônus probatório vai ser diferente. Por exemplo, houve uma hipótese antes do código
atual de que uma construtora adquiriu um terreno para construir um edifício de 10
andares. Desconhecendo uma legislação urbanística que proibia edificação (gabarito) a
partir do 4º andar. O que se entendeu anteriormente? Erro inescusável. Para uma
construtora o erro é inescusável, era indispensável que a construtora verificasse toda a
legislação urbanística à época.
As hipóteses de erro essencial estão previstas no art. 139. O art. 139 prevê
essas modalidades de erro, como sendo modalidades de erro essencial. O error in
negotio é o erro sobre a própria natureza do negócio. Está no art. 139, I, 1ª parte. O
sujeito supõe estar celebrando uma compra e venda quando na verdade está
celebrando uma doação. O erro incide sobre a própria natureza do negócio.
183
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Error in persona, que está no art. 139, II, é o erro sobre a pessoa, sobre as
qualidades de uma pessoa. E o error in persona ganha maior relevância em contratos
gratuitos, em contratos personalíssimos como é o caso do mandato e sociedade. E há
todo um contexto específico em relação ao casamento que tem inclusive sistemática
própria, art. 1557, I, inclusive regras próprias de direito de família.
error in negotio e error in corpore. Só que no Brasil o erro obstáculo não traz
repercussão prática porque o erro obstáculo também gera anulabilidade.
Pergunta de aluno.
Pergunta de aluno.
Bom, ficou faltando aqui acrescentar também uma questão também muito
importante, que é a questão do erro de direito.
O nosso código civil, no art. 139, III, explicitamente prevê o erro de direito
como causa de anulabilidade e, aqui, vamos tomar cuidado com o seguinte: quando
entrou em vigor o código, alguns começaram a afirmar que o art. 139, III era uma
exceção ao art. 3º da LICC.
Então, na verdade, o art. 139, III não colide com o art.3º da LICC, ao
contrário, as regras estão em harmonia, porque o art. 139, III permite a alegação de
erro de direito para a invalidação do negócio jurídico e não para o descumprimento da
norma.
Lendo o dispositivo fica claro, diz o inciso III: sendo de direito e não
implicando recusa a aplicação da lei for o motivo único ou principal do negócio. Para
lembrar disso, fazer uma remissão quando o código diz “não implicando recusa a
aplicação da lei” para o art.3º da LICC para lembrarmos que as regras estão em
sintonia.
O art.140 é uma regra importante, porque ele traz mais uma hipótese em que
o motivo tem repercussão jurídica. Lembrando que a regra geral é no sentido de que o
motivo não tenha essa repercussão. Diz o art. 140 que o falso motivo só vicia a
declaração de vontade quando expresso como razão determinante.
Vamos supor que alguém faça uma doação a fulano e explicitamente ressalte
que está doando a fulano porque fulano salvou a vida de seu filho em determinado
incêndio. Quer dizer, o motivo da doação explicitamente mencionado é o fato do
donatário ter salvado o filho do doador.
porque o motivo da era aquisição do 10º andar, era a construção do edifício. Então, o
falso motivo vai viabilizar a anulação do negócio jurídico.
Aqui, toda a doutrina afirma, e o próprio art. 140 ressalta, que esse falso
motivo tem que ser expresso, demanda declaração expressa.
Pergunta de aluno.
Resposta do Prof: foi isso que decidiu a jurisprudência paulista quando ficou
demonstrado na semana seguinte se viu que não havia clientela alguma e quando o
contrato assegurava ao adquirente uma clientela substancial, quer dizer, haveria aí um
suposto falso motivo.
Observem que essa exigência aqui de que o falso motivo seja expresso vem
em harmonia dom o princípio da confiança, legitima expectativa do declaratário.
O art. 141 diz assim: a transmissão errônea da vontade por meios interpostos
é anulável nos mesmos casos em que o é a declaração direta.
Quando é que vamos aplicar o art. 141? Quando o declarante exterioriza a sua
vontade na ausência do declaratário, porque aqui nesse caso a declaração de vontade
se dá por meios interpostos.
Toda doutrina afirma que essa expressão “meios interpostos” a que se refere
o art. 141 abrange não apenas interposta pessoa, que seria o chamado mensageiro ou
núncio, mas também meios alternativos de comunicação como fax e email. 51:17
Pergunta de aluno.
Pergunta de aluno.
Resposta do Prof: para fins de formação dos contratos. Email online também é
considerado presente para fins de formação dos contratos, mas é considerado
ausentes para fins do art. 141 do código civil. Porque lá realmente para a formação
dos contratos nós veremos que “presentes” não significa apenas presença física, mas
também a possibilidade de comunicação imediata. Mas aqui não, no art. 141 basta a
ausência física.
Vejam, o que o Humberto Theodoro Júnior defende? Ele defende que o art.
141 se aplica na hipótese do mensageiro. Ou seja, na hipótese em aquele o sujeito
que exterioriza a vontade o faz de acordo e necessariamente como um mero
instrumento do declarante.
E mais, vamos supor que não haja erro por parte do representante, vamos
supor que o representante tenha atuado fora dos poderes que lhe tenham sido
cometidos pelo representado. Quer dizer, ao invés de ocorrer num equívoco, o
representante extrapola os poderes que lhe foram conferidos pelo representado.
Em síntese esse art. diz que se o outro contratante sabe que o representante
extrapolou os poderes o outro contratante assume o risco de uma simples gestão de
negócios.
Pergunta de aluno.
Pergunta de aluno.
Resposta do Prof: o art. 141 diz “a transmissão errônea da vontade por meios
interpostos”. Quer dizer, o mensageiro seria um meio interposto, ele seria um mero
veículo para manifestação de vontade do próprio declarante. Só que o representante
não é um mero veículo, não é um simples meio interposto para a vontade do
declarante porque o representante manifesta a sua própria vontade vinculando o
representado.
Pergunta de aluno.
Pergunta de aluno.
Quem defender que o erro não precisa mais ser escusável, se falar em culpa
in eligendo vai estar sendo contraditório, porque se pouco importa a escusabilidade do
erro o que importa é o princípio da confiança, pouco importa a culpa em in eligendo.
Porque na verdade a preocupação seria apenas em relação a legítima expectativa do
declaratário. Quer dizer, há uma certa coerência porque esses autores defendem a
escusabilidade do erro.
O art. 144 merece menção aí, é novidade, porque ele vem em harmonia com
o princípio da conservação dos atos e negócios jurídicos. Diz o art. 144 que o erro não
prejudica a validade do negócio quando a pessoa a quem a manifestação de vontade
189
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
O que o art. 144 diz aqui? Pelo princípio da conservação o negócio jurídico
não será anulado.
Discordando dessa posição nós temos o Gustavo Tepedino que defende que o
art. 144 se aplica até o momento de oferecimento de resposta da ação anulatória
proposta pelo declarante.
Pergunta de aluno.
Pergunta de aluno.
Pergunta de aluno.
FIM.
Aula 07 - 14/10/08
Não sei se já viram, saiu o Informativo 370 do STJ e acho que saiu ali um
julgado que pode nos ajudar, fica só como sugestão sem nenhuma pretensão de
equacionar porque a questão é processual.
Mas olha só, o julgado do Informativo 370 diz que no caso de extinção do
processo sem resolução de mérito, em relação aos ônus sucumbenciais, cabe ao juízo
verificar qual parte deu causa a extinção do processo ou qual litigante seria
sucumbente acaso o julgado fosse o mérito da questão.
Quer dizer, com esse julgado do último Informativo me parece que não
teríamos dificuldade em salientar que haveria extinção do processo sem resolução de
mérito e os ônus sucumbenciais ficariam a cargo do réu. Porque na verdade a conduta
do réu é que deu causa a extinção do processo sem resolução de mérito e acaso fosse
julgado o pedido, haveria acolhimento da pretensão autoral. RESP 1072814. Talvez
esse julgado dê para equacionar pelo menos a questão dos ônus sucumbenciais.
Tal qual vimos na aula passada, vamos aproveitar na aula de hoje o seguinte:
o dolo pode ser principal, sinônimo de essencial, sinônimo de determinante ou pode o
dolo ser acidental.
Pergunta de aluno.
Há uma questão aqui que é delicada que é a seguinte: mais adiante vamos
ver com calma, mas vou fazer esse comentário para podermos tratar de uma questão,
quais são as duas categorias tradicionais de inadimplemento? A mora e o
inadimplemento absoluto.
Nós veremos que boa parte da doutrina mais atualizada vem ressaltando que
essas duas categorias tradicionais, a mora e o inadimplemento absoluto, teriam se
tornado insuficiente na luz da boa fé objetiva.
192
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Então, como vamos separar isso? Como vamos distinguir quando a hipótese
configura dolo por omissão e conseqüentemente gera anulabilidade e quando é que a
circunstância fática vai gerar violação positiva do contrato, ou seja, vai gerar
inadimplemento?
O art. 148 trata do dolo de terceiro. O negócio jurídico é firmado entre A & B
e o dolo aqui é praticado por um terceiro. A doutrina costuma lembrar o exemplo dolo
do corredor, terceiro estranho ao contrato. Vamos supor que o terceiro induza uma das
partes em erro, dolo de terceiro.
deveria saber, o negócio jurídico vai ser válido e o terceiro responde por perdas e
danos, princípio da confiança.
Por outro lado, se o B sabe ou deveria saber ele não tem uma legítima
expectativa e, portanto a ele não se aplica o princípio da confiança. A conseqüência
natural qual vai ser? Anulabilidade sem prejuízo de perdas e danos.
Na verdade, o art. 148, que trata do tema, é uma demonstração muito clara
do princípio da confiança. Diz o art. 148: pode também ser anulado o negócio jurídico
por dolo de terceiro se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter
conhecimento.
O código aqui andou muito bem, porque ele falou tivesse ou devesse ter,
porque percebam, se o legislador exigisse que o B tivesse conhecimento, nós teríamos
dois problemas aqui. Primeiro, nós estaríamos no terreno da boa fé subjetiva e,
segundo, se o B sabe do dolo de terceiro, ele no mínimo está em curso num dolo
próprio por omissão.
E a parte final diz: em caso contrário ainda que subsista, o negócio o terceiro
responderá por perdas e danos.
Muito cuidado aqui com uma pegadinha que é a seguinte: o art. 148 na 1ª
parte diz que se o B sabe ou deveria saber do dolo do terceiro o negócio é anulável, só
vamos tomar cuidado aqui com o seguinte: o examinador pode jogar uma hipótese em
que o B sabe ou deveria saber de um dolo acidental do terceiro. Se o dolo do terceiro
for acidental, a solução não é a do art. 148 1ª parte, porque o dolo acidental
acabamos de ver, art. 146, não conduz anulabilidade ele gera apenas perdas e danos.
Então, quando o art. 148 diz que se o B sabe ou deveria saber, gera
anulabilidade, ele está presumindo que o dolo de terceiro é um dolo essencial. Se for
acidental ,a solução não é a contemplada no art.148, a solução será perdas e danos e
o negócio jurídico será válido.
Por exemplo, na hipótese da coação por terceiro do art. 154... O art. 148 não
prevê a solidariedade passiva entre B e o terceiro, diferentemente da hipótese da
coação por terceiro do art. 154. O art. 154 quando trata da coação por terceiro, em
hipótese idêntica a essa, diz que se o B sabe ou deveria saber da coação de terceiro há
anulabilidade e ambos respondem solidariamente por perdas e danos.
A grosso modo, veremos mais adiante, que o art. 942 prevê uma cláusula
geral de solidariedade passiva em sede de responsabilidade civil. O que o art. 942 diz é
que se há mais de autor do ilícito, todos respondem solidariamente e, além de invocar
o art. 942, na prova dissertativa dá para colocar o seguinte: a mesma lógica que
impulsiona a repressão a coação por terceiros, contemplada no art. 154, se justificaria
para reprimir o dolo de terceiro. Quer dizer, não haveria razão de tratamento
diferenciado entre a coação por terceiro e o dolo de terceiro. A sistemática da coação
por terceiro está no art. 154.
Pergunta de aluno.
Resposta: claro que aqui vamos ter que fazer uma interpretação elástica do
art. 942, na verdade a jurisprudência o faz em sede de responsabilidade civil. Quando
o código diz “se a ofensa tiver mais de um autor”, na verdade “o autor” poderia causar
ao ilícito tanto através de conduta comissiva quanto omissiva. Quer dizer, a gente teria
que... Uma interpretação elástica sem dúvida.
Vamos pensar: o art. 148 existe por quê? Por conta do princípio da confiança
e o princípio da confiança busca proteger a outra parte inserida no negócio jurídico. Se
estivermos diante de um negócio jurídico unilateral, quer dizer, cede a lógica do art.
148 e incide a regra geral do art. 145 e do art. 146.
Diz o art. 149: o dolo do representante legal de uma das partes só obriga o
representado a responder civilmente até a importância do proveito que teve. “Até a
importância do proveito que teve” o representado responde pelo dolo representante
legal, por quê? Vedação ao enriquecimento sem causa. Sugiro a remissão aí ao artigo
149 1ª parte para os artigos 884 a 886, são os artigos do código que tratam de
vedação ao enriquecimento sem causa.
E o art. 150 trata do famoso dolo recíproco. Todos devem se lembrar que se
ambas as partes agem dolosamente nenhuma delas pode alegar o dolo em face da
outra. Tradicionalmente, a doutrina aqui ressalta que o art. 150 se inspira naquele
princípio geral, segundo o qual ninguém pode se beneficiar da própria torpeza.
Claro que essa afirmativa está corretíssima, mas é possível fazer uma
correlação entre o art. 150 e o princípio da boa fé objetiva através da tu quoque. O
dolo recíproco é uma manifestação clara da tu quoque que é um dos desdobramentos
da boa fé objetiva.
A grosso modo, na tu quoque aquele que viola uma determinada regra não
pode exigir que outrem cumpra aquela mesma regra que ele está transgredindo. Se eu
ajo dolosamente, não posso alegar o dolo da outra parte buscando anular o negócio
jurídico.
Pergunta de aluno.
Quer dizer, essa é a diferença essencial, a tu quoque está muito atrelada a idéia de
que ninguém pode se beneficiar da própria torpeza, sem dúvida alguma há uma
correlação entre a tu quoque e esse princípio geral de direito.
Pergunta de aluno.
O dolos malus é o que estamos vendo até aqui, aquele que gera
anulabilidade, vício de consentimento. Tradicionalmente, a doutrina invoca o dolos
bonus em relação a alguns exageros usualmente praticados pelo comércio e,
tradicionalmente, a doutrina antes do CDC era unânime em ressaltar que dolos bonus
não traria nenhuma conseqüência jurídica. É uma pratica reiterada do comércio, seriam
dolos ponderáveis diante da prática social reiterada.
O que hoje se vem sustentando é que não se admite dolos bônus se essa
pratica empresarial for suscetível de induzir o consumidor em erro por conta do art. 37
do CDC que veda a questão da publicidade enganosa.
Os autores mais atualizados vêm dizendo que não é que tenha sido aniquilada
a figura do dolos bonus, na verdade a análise acaba sendo casuística. Porque alguns
exageros não são suscetíveis de induzir o consumidor em erro.
Tem outra vertente para o dolos bonus, essa questão da prática reiterada do
comércio é a mais conhecida. Mas há quem diga que haveria também dolos bonus
quando o sujeito age com a intenção de prejudicar outrem por uma razão superior.
Quer dizer, quando o sujeito busca enganar outrem com a intenção de beneficiar a
pessoa enganada.
Então, fica claro que para fins de coação o art. 152 permite que o Juiz possa
levar em conta as circunstancias, as peculiaridades do caso concreto. Portanto, o art.
152 literalmente afasta a perspectiva do homem médio.
Outra questão importante aqui é a seguinte: a coação pode ser física, moral
ou acidental. Também é uma questãozinha tradicional em provas objetivas. Posição
amplamente dominante é no sentido de que a coação física gera a inexistência e por
quê? Porque na coação física não há manifestação de vontade.
sujeito teria liberdade, teria a possibilidade de não optar em celebrar o contrato, mas a
tendência hoje é no sentido de se afirmar que haveria hipótese de coação física.
Outro exemplo: imagine um sujeito que tem uma lanchonete a venda, numa
comunidade violenta. Está a venda a um ano e não consegue vender de jeito nenhum.
Depois de um ano, os traficantes da área decidem comprar o imóvel dentro daquele
preço ofertado só que obviamente exercendo constrangimento, exercendo ameaça. Em
tese, teríamos uma hipótese de coação acidental, cabendo apenas perdas e danos.
Para não sermos repetitivos, a lógica da coação por terceiro está no art. 154 e
155. A lógica é a mesma do dolo terceiro, quer dizer, o que inspira o art. 154 e o art.
155 é o princípio da confiança.
Pela literalidade do código, essa solução não seria adequada, porque o art.
151 diz que a coação deve ser direcionada ao paciente, a sua família ou seus bens. E
aí o §único trouxe uma novidade, porque alguns indagavam o seguinte: e se não for
direcionado a família e se for com um amigo, uma pessoa próxima do coagido? O
§único nesse caso permite ao Juiz decidir por equidade, diz o §único: se disser respeito
199
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
a pessoa não pertencente a família do paciente, o Juiz com base nas circunstancias
decidirá se houve coação.
Você pode ter um vizinho que você não tem contato nenhum e a coação é no
sentido de tirar um braço do vizinho, de estuprar a vizinha, seja lá o que for. Na
verdade, o parâmetro para a aplicação do §único não é apenas o grau de proximidade,
mas também a natureza do bem jurídico ameaçado, porque dependendo da natureza
do bem jurídico ameaçado princípio constitucional da solidariedade justificaria o vício
de consentimento ainda que ausente tal proximidade.
Art. 153 diz que não se considera coação a ameaça do exercício normal de
um direito e nem o simples temor reverencial. Então, claro que não há coação se o
credor ameaça ingressar em juízo para cobrar o devedor. A mãe que ameaça ingressar
em juízo para pleitear investigação de paternidade do suposto pai da criança.
Quer dizer, eu sou o credor dela e percebo que o outro contratante praticou
algum crime de falsidade e na verdade imponho uma confissão de dívida superior a
dívida real sob pena de denúncia por crime de falsidade. Nós teríamos uma hipótese
de exercício abusivo de direito.
Outro exemplo, que hoje já está inadequado: imagine o marido que flagre a
mulher em adultério e constrange a mulher em realizar um instrumento de confissão
de dívida sob pena de denunciá-la pelo antigo ilícito penal praticado. Nós teríamos uma
hipótese de exercício abusivo de direito.
E o código diz ainda que o temor reverencial afasta a coação. Quer dizer, o
temor reverencial, a grosso modo, são situações que envolvem relação especial de
respeito, de obediência. Quer dizer, na verdade quando há temor reverencial há
sempre um impulso espontâneo de não desagradar a outra parte.
subordinação, esse temor reverencial por si só noção gera coação. Então, relação
patrão empregado.
Agora é claro que o art. 153 está dizendo que um simples temor reverencial
não gera coação, nada impede que em concreto se demonstre a existência de
constrangimento.
Esse instituto não era contemplado no código anterior. Basicamente o que diz
o art. 156 é que no estado de perigo alguém assume uma obrigação excessivamente
onerosa diante da necessidade de salvar-se ou a pessoa de sua família de grave dano
conhecido pela outra parte.
O caput do art. 156 fala em dano a própria pessoa ou a sua família. Lembra
aquela história da coação se for em relação a terceiro? A mesma coisa no §único do
art. 156: tratando-se de pessoa não pertencente a família do declarante, o juiz decidirá
conforme a circunstancia. Então, tudo aquilo que dissemos lá vale para cá, para não
sermos repetitivos
Outro exemplo que nos será útil daqui a pouco: imagine que o sujeito tem um
filho seqüestrado e precisa pagar o resgate. O resgate é 150 mil reais e o sujeito tem
um imóvel que vale 500 mil. Para pagar o resgate ele vende por 150 mil, o imóvel que
vale 500 mil. Só tem graça o exemplo se aquele que compra sabe da situação de
inferioridade da outra. Mas em tese é aplicável o estado de perigo.
Percebam que o estado de perigo aqui ele se aproxima muito da coação por
conta do dolo de aproveitamento, há uma semelhança aqui entre os institutos, entre o
estado de perigo e coação. A diferença essencial é que na coação a ameaça, o
201
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Pergunta de aluno.
Vamos supor... Numa situação como essa é situação é menos delicada porque
a situação é tão flagrante que talvez em sede probatória o ônus seja praticamente
invertido aí. Mas vamos supor uma hipótese mais delicada em que não haja não haja a
possibilidade de demonstração efetiva de dolo do aproveitamento, pode piorar até.
Pergunta de aluno.
Pergunta de aluno.
Pergunta de aluno.
Agora, vamos aproveitar até para ver a indagação do colega que foi sobre a
aplicação do art. 157,§2º não é isso? Sim. Sem dúvida, o enunciado 148 do Conselho
vem no sentido de que o art. 157, §2º é aplicável por analogia ao estado de perigo e é
por analogia porque o art. 157, §2º trata de lesão. Diz lá: não se decretará a anulação
do negócio se for oferecido suplemento suficiente ou de a parte favorecida concordar
com a redução do proveito.
Nós podemos ter hipótese porque vejam, a premissa do art. 157,§2º qual é?
Que a parte beneficiada tome a iniciativa em se predispor a reequilibrar o negócio. Nós
podemos ter hipótese de que tal iniciativa não seja efetivada. Quer dizer, nenhuma das
partes busque a revisão, tanto o autor quanto o réu convergem no sentido da anulação
e ainda que inaplicável o art. 157,§2º nessa hipótese, a solução viria por eventual
remuneração por serviços prestados por conta da vedação do enriquecimento sem
causa.
204
Módulo de Direito Civil – Fabrício Car lho
Agora, fica claro o seguinte, o art. 157,§2º permite o que? Que a parte
beneficiada se predisponha a reequilibrar o contrato que conseqüentemente afaste o
cabimento da anulação.
A revisão, ela não vem em harmonia com o equilíbrio econômico, não vem em
harmonia com a boa fé objetiva? E, mais, tem outro princípio muito significativo aqui
que é o princípio da conser ção dos atos e dos negócios jurídicos. Então, todos esses
valores que mencionamos aqui respondem a duas questões.
Primeira, a outra parte é obrigada a aceitar, quer dizer desde que haja um
efetivo reequilíbrio econômico? Sim. E responde com mais clareza uma outra pergunta
que me parece mais sensível, o art. 157,§2º em sua literalidade autoriza apenas ao
beneficiado modificar. E pela solução literal, o prejudicado teria que tomar iniciativa
apenas para anular. É o que diz o art. 157,§2º.
Só que essa literalidade há de ser superada, quer dizer, nada impede que o
prejudicado ao invés de pedir a anulação opte por pleitear a revisão judicial do negócio
jurídico. E aí pelos fundamentos que vimos: equilíbrio econômico, boa fé objetiva,
conser ção... Nesse sentido, Enunciados 149 e 291 do Conselho da Justiça Federal.
Isso que estamos tratando se aplica tanto a lesão quanto ao estado de perigo,
por analogia.
INTERVALO.
Lesão, no código civil art.157 e no CDC art. 6º,V; art. 39,V e art. 51, IV.
Diz o art. 157: ocorre a lesão quando uma pessoa sobre premente
necessidade ou por inexperiência se obriga a prestação manifestamente
desproporcional ao valor da prestação oposta.
Quer dizer, a maior parte das legislações costumava afirmar que haveria lesão
se a desproporção superasse 50% do valor, era praxe. Só que se percebeu com tempo,
que esse sistema de tarifação rígida colide com a própria perspectiva da lesão.
Quer dizer, na verdade essa dicotomia lesão enorme e enormíssima não tem
nenhuma importância prática no nosso direito atual.
Esse é inclusive um dos pontos que diferencia lesão de estado de perigo, são
institutos muito parecidos porque o art. 156, que vimos agora a pouco, quando o
legislador fala em estado de perigo, ele fala em salvar-se ou a pessoa de sua família.
Então, na verdade o estado de perigo, com a expressão salvar-se o que está em jogo é
basicamente a vida ou a integridade física. Ao passo que na lesão o que impulsiona o
sujeito a assumir a obrigação desproporcional é uma necessidade contratual.
Vejam que não se exige necessidade econômica por quê? Porque o que está
em jogo na lesão é justiça contratual e não justiça distributiva. Então, pode um sujeito
rico assumir uma obrigação desproporcional diante de uma necessidade contratual e
configurável será a lesão.
Pergunta de aluno.
Cabe lesão em contrato aleatório? Posição tradicional, não cabe. Essa posição
é defendida pelo Caio Mário e por quê? Porque a possibilidade de desequilíbrio
econômico em contratos aleatórios é inerente ao risco. Quer dizer, a possibilidade de
desequilíbrio econômico é inerente ao risco que envolve os contratos aleatórios.
A 1ª posição vai dizer que não justamente por esse fundamento, quer dizer,
na medida em que as partes celebraram um contrato de risco obviamente que elas
assumiram uma possibilidade de desequilíbrio.
Quer dizer, por essa 2ª posição qual seria a função do princípio do equilíbrio
econômico dos contratos aleatórios? Não seria resguardar a paridade nas
conseqüências econômicas porque elas podem ser desproporcionais, o contrato é de
risco. Mas o princípio do equilíbrio econômico impõe que os riscos assumidos pelas
partes, no momento da celebração do contrato, sejam proporcionais.
Naquele ano, por uma questão climática, o sujeito colheu apenas 5 kg, a 2ª
corrente nesse caso vai dizer o que? Não cabe lesão. Houve um desequilíbrio
econômico entre as prestações, mas a princípio o risco assumido pelas partes era
proporcional.
207
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Mudando um pouquinho: vamos supor que o sujeito pague 500, a outra parte
colheu 5kg, só que analisando os últimos 20 anos se percebe que aquele sujeito
sempre colheu algo entorno de 5 kg.
Vejam que nesse caso não houve um mero desequilíbrio econômico entre as
prestações. No momento em que o contrato aleatório foi celebrado os riscos assumidos
pelas partes eram flagrantemente desproporcionais.
É claro que nesse exemplo, que é o exemplo da Anelise Becker, que os outros
autores trazem acabamos entrando mais uma vez numa zona cinzenta. Porque vejam
que temos aqui potencialmente aplicável o dolo por omissão, porque obviamente o
sujeito se omitiu acerca da possibilidade de colher efetivamente os 20 kg esperados
pela outra parte.
Claro que teremos zonas cinzentas entre o dolo por omissão e a lesão. A
vantagem prática da lesão qual é? É que a configuração da lesão se dá a luz dos
elementos eminentemente objetivos, o dolo por omissão pressupõe a demonstração do
elemento subjetivo.
Sobre isso Enunciado 290 que diz que a parte tem o ônus de comprovar a
desproporção manifesta e a premente necessidade ou inexperiência. Quer dizer, não se
presume no Código Civil a premente necessidade ou inexperiência, a parte tem que
demonstrar. Mas uma vez demonstrado esses dois requisitos, na verdade o legislador
estaria presumindo o dolo de aproveitamento, quer dizer, o dolo de aproveitamento é
presumido.
Isso tem importância prática sim pelo seguinte: porque o enunciado 150 diz
simplesmente que se dispensa o dolo de aproveitamento. A Anelise Becker, Humberto
Theodoro e Tepedino afirmam que o dolo de aproveitamento é presumido e a
presunção relativa.
Por quê? Vê se não dá para fazer uma conexão, e é isso que a Anelise Becker
faz, Tepedino e Humberto Theodoro, entre essa afirmativa e o princípio da confiança?
Se a lesão se configurasse de maneira eminentemente objetiva em relação ao suposto
beneficiado, quer dizer, se não fosse possível discutir qualquer dolo de aproveitamento
em relação a outra parte nós não poderíamos nesse caso atingir eventual legítima
expectativa dessa outra parte? Quer dizer, o que a Anelise Becker resguarda é a
possibilidade do suposto beneficiado demonstrar que não houve qualquer dolo de
aproveitamento. Que o valor foi muito inferior porque a outra parte tinha intenção de
lhe beneficiar, havia um ânimo de liberalidade. Ou ainda, o sujeito pagou um preço
superior ao de mercado, porque ele é um colecionador por exemplo. O sujeito é um
colecionador e se justificava por parte do colecionador um valor superior ao de
mercado.
Outro exemplo: imagine que aquele bem adquirido tem um valor especial por
conta de afeição familiar, quer dizer, um objeto de família. Quer dizer , se justificaria
um valor muito superior que ele pago e não haveria a principio a hipótese de dolo de
aproveitamento.
Essa 2ª posição defende que na verdade que nós teríamos uma presunção
relativa de dolo de aproveitamento. Não é que se dispense, na verdade o dolo de
aproveitamento seria presumido pelo legislador.
Lembram o art. 157,§2º que aplicamos por analogia ao estado de perigo? Diz
que não se decretará a anulação se o beneficiado se predispor a reequilibrar o
contrato. A Anelise Becker, acompanhada pelo Tepedino e Humberto Theodoro diz que
esse dispositivo, art. 157,§2º, vem em harmonia com o princípio da confiança. Porque
vejam, a lesão não pressupõe a demonstração do dolo de aproveitamento, não é isso?
Não pressupõe demonstração, entre aspas, a má fé do outro contratante, coloquemos
assim.
Por isso esses mesmos autores que fazem essa conexão entre o art. 157,§2º e
o princípio da confiança, dizem que lá no estado de perigo só o prejudicado pode
tomar a iniciativa de invocar o art. 157,§2º, por quê? Porque no estado de perigo a
outra parte age com dolo de aproveitamento e se a outra parte age com dolo de
aproveitamento não se projetaria o principio da confiança em seu respectivo benefício.
Eles defendem que cabe a aplicação por analogia do art. 157,§2º no estado
de perigo, só que com essa aplicação analógica apenas o prejudicado poderia invocar o
art. 157,§2º, mas não o beneficiado, porque em relação ao beneficiado não se
projetaria o princípio da confiança, posição defendida por esses autores.
Pergunta de aluno.
Pergunta de aluno.
O art. 156 não restringe quando trata de perigo, ele simplesmente diz que
assume a obrigação excessivamente onerosa. Um dos exemplos clássicos de estado de
perigo se dá justamente na promessa de recompensa que tem natureza jurídica de
negócio unilateral.
Lembrando que a lesão no CDC gera nulidade, está lá no artigo 51, IV do CDC
e é curioso que o mesmo CDC que prevê nulidade dá privilégio a revisão judicial em
detrimento da invalidação. Art. 51, §2º do CDC.
Tem alguns autores que dizem que a lesão pode ser usurária ou real e a
grande característica da lesão usurária, sinônimo de real, é a exigência de dolo de
211
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Essa lei inclusive foi quem trouxe inicialmente a lesão para o direito brasileiro,
a lesão veio para o Brasil inicialmente como um tipo penal e depois veio contemplada
no CDC e no Código Civil.
O Christiano Chaves ainda joga mais coisa aí no meio, diz ainda que tem lesão
consumerista e a lesão consumerista tem a peculiaridade de só exigir desproporção
manifesta. Quer dizer, a peculiaridade da lesão consumerista é que, além de dispensar
o dolo de aproveitamento, ela também dispensa o elemento subjetivo que é a
premente necessidade ou a inexperiência.
Pergunta de aluno.
Pergunta de aluno.
Vamos ver isso com calma mais adiante, mas é possível projetar o art. 157,
§1º para uma hipótese anterior a própria novação praticada.
Pergunta de aluno.
Resposta do Prof: se for nulo por violar o CDC é mais simples. Se for anulável,
a questão, me parece, acaba se tornando casuística. Normalmente é CDC, nulidade.
Agora, se tiver fora do CDC, se for anulabilidade, o que podemos discutir? Olha como a
análise é casuística! Na anulabilidade cabe ratificação, então cabe novação de
obrigação anulável. O art. 367 inclusive prevê isso, prevê que cabe novação de
obrigação anulável, mas não cabe de obrigação nula.
Por outro lado, o que dá para tentarmos defender aqui? Dá para tentarmos
defender que essa novação foi fruto de uma premente necessidade. Na verdade, se
havia iminência de cobrança judicial, se havia iminência de perda de bens
indispensáveis a subsistência, o que daria para tentarmos sustentar sendo tendencioso
aqui para a defensoria pública? Dá para tentarmos sustentar a lesão, agora, qual o
grande cuidado? Desde que não ultrapassado o prazo decadencial de 04 anos, porque
o prazo para suscitar anulabilidade por todos esses aspectos é de 04 anos, é o art. 178
que vamos ver mais adiante.
Vamos para fraude contra credores. Fraude contra credores art. 158 ao art.
165.
Eventus damni o próprio nome já sugere: evento danoso. Então, é preciso que
a alienação cause prejuízo aos credores. Quer dizer, a alienação vai causar prejuízo aos
credores quando ela gerar ou agravar a insolvência. Por isso costuma-se afirmar o
seguinte: só há eventus damni no caso de alienação de bens penhoráveis, porque a
alienação de bem impenhorável não causa prejuízo aos credores, porque sendo
impenhorável aquele bem não era instrumento de garantia.
Só temos que tomar cuidado com o seguinte: concilium fraudis não lembra
conluio? Concilium fraudis parece sugerir conluio. Conluio entre quem? Entre o devedor
alienante e o adquirente. Só que o Código Civil não exige conluio, art. 159.
Outro cuidado e isso cai muito em prova objetiva. Então, esse elemento
subjetivo ele é exigido em relação ao devedor, mas ele não envolve necessariamente o
adquirente. O adquirente não precisa necessariamente estar de má-fé, não se exige o
conluio.
Agora, por que o art. 159 exige que essa insolvência do devedor seja ao
menos aparente para o adquirente? Para resguardar a legítima expectativa. Percebam
que foi uma espécie de ponderação de interesses feita pelo legislador. Na fraude contra
credores nós temos dois interesses em conflito. Nós temos os interesses dos credores
e temos também os interesses dos adquirentes. Ponderando esses interesses, o
legislador diz: o adquirente será atingido se ele sabia ou deveria saber.
Vamos supor que essa alienação que conduz o devedor a insolvência seja
uma alienação gratuita. Qual é a ponderação aí? Credores versus terceiro que recebe a
título gratuito. Tem que se proteger inexoravelmente quem? Os credores.
Pergunta de aluno.
Na verdade, o que a doutrina afirma é que para aplicar o art. 158, que fala
em atos de transmissão gratuita ou remissão de dívida, a interpretação há de ser
elástica.
Por exemplo: vamos supor que ao invés de fazer doação ou perdoar a dívida,
aquele sujeito tem um único imóvel que é penhorável e aí gratuitamente ele concede
uma servidão para o vizinho. Essa servidão não gera um esvaziamento econômico do
bem? E esse esvaziamento econômico do bem pode gerar o que? O estado de
insolvência e em tese aplicável o art. 158.
Pergunta de aluno.
Pergunta de aluno.
O §1º do art. 158 traz uma afirmativa que de acordo com alguns seria uma
exceção, mas na verdade não é exceção, só confirma a regra. O §1º do art. 158 diz
assim: igual direito assiste aos credores cuja garantia se tornar insuficiente.
Tem até um enunciado sobre esse §1º, é o enunciado 151 do CJF que
basicamente diz que para aplicar o §1º não é necessário que haja um prévio
215
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Sabe qual é o cuidado que temos que tomar aqui? É na hipótese de sucessão.
Se há, por exemplo, cessão de crédito. Vamos supor que o crédito seja anterior a
alienação, mas ele seja cedido posteriormente.
O que é sucessão? A grosso modo, vamos ter que trabalhar isso melhor lá em
obrigações, mas a grosso modo na sucessão muda um dos sujeitos, mas a relação
jurídica permanece a mesma. Quer dizer, o sucessor tem os mesmo privilégios, as
mesmas garantias do credor originário. Então, veja que o cessionário vai poder alegar
fraude contra credores, na medida em que o crédito surgiu antes do ato de alienação.
Acho que se cair isso será uma tragédia coletiva! Vamos imaginar que o fiador
ou avalista, vamos supor o seguinte: o devedor principal praticou atos de alienação
que o conduziram a insolvência. O credor, sabendo da insolvência do devedor, vai no
fiador ou vai no avalista e o fiador vai lá e efetua o pagamento da dívida.
Quando o fiador paga a dívida, nós não estamos diante de uma hipótese de
pagamento pelo terceiro interessado? Pagamento pelo terceiro interessado vai gerar o
que? Subrogação legal, art. 346, III. E quando há subrogação, há sucessão. Então,
esse fiador, quando exercer a via de regresso, vai poder alegar fraude contra credores,
porque na verdade em havendo sucessão ele vai ocupar a mesma posição jurídica
daquele credor que fora satisfeito.
Vamos tomar cuidado com o seguinte: regra geral, o credor para suscitar
fraude contra credores tem que ingressar com ação pauliana. Exceções, quer dizer,
hipóteses em que cabe alegação de fraudes contra credores independentemente de
ação pauliana:
Tem outra hipótese ainda que é a do art. 548. O art. 548 trata de doação
universal. Diz o art. 548 o seguinte: é nula a doação de todos os bens sem reserva de
parte ou renda suficiente para subsistência do doador.
Então, cuidado para não se embolar. Se a doação atinge a solvência, mas não
atinge a subsistência, anulabilidade, fraude contra credores, ação pauliana. Agora, se a
doação atinge a subsistência e consequentemente a solvência, nulidade absoluta,
independe de ação pauliana.
FIM.
Aula 08 – 21/10/08
Outro ponto importante aqui para finalizar o tema é o seguinte: o art. 161 do
código civil, se interpretado literalmente, parece sugerir que na ação pauliana o
litisconsórcio seria passivo facultativo, por quê? Porque o art. 161 na parte final diz lá:
a ação nos casos dos artigos 158 e 159 poderá ser intentada contra o devedor
insolvente, a pessoa que com ele celebrou a estipulação considerada fraudulenta ou
terceiros adquirentes que hajam procedido de má fé.
Então, por conta dos limites subjetivos da coisa julgada, resta claro que
apesar da literalidade do art. 161 falar “ou” entenda-se “e”, ou seja, na ação pauliana o
litisconsórcio é passivo necessário. Limite subjetivo da coisa julgada, na medida e que
217
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
tal reconhecimento da fraude contra credores vai atingir não apenas o devedor, mas
também terceiro adquirente.
Remissão para o art. 472 do CPC que trata de limites subjetivos da coisa
julgada e, para ficar mais claro ainda, remissão para o art. 47 do CPC que trata de
litisconsórcio necessário, porque via ficar claro que a hipótese é na verdade de
litisconsórcio passivo necessário.
Tem outro ponto também importante aqui: pela letra do código civil, é
incontroverso o que a fraude contra credores geraria anulabilidade. O código civil
textualmente diz que a fraude contra credores gera anulabilidade e isso está no art.
171, II confirmado pelos artigos 165 e 182.
O art. 171, II diz lá: além dos casos expressamente declarados na lei é
anulável negócio jurídico. E aí vem i inciso II: fraude contra credores. Confirmado por
esses dois dispositivos, por quê? Porque o art. 182 basicamente diz que anulado o
negócio jurídico haverá o retorno das partes ao status quo ante, esse é o efeito da
invalidade do negócio jurídico.
Aí o art. 165, que está dentro do capítulo da fraude contra credores diz lá:
anulados os negócios fraudulentos a vantagem resultante reverterá em proveito do
acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores.
Todos esses dispositivos, art. 171, II; art. 182 e art. 165 afirmam
peremptoriamente que a fraude contra credores gera anulabilidade. Prova objetiva o
gabarito é sempre esse.
Essa segunda posição defende que a fraude contra credores gera ineficácia
relativa. Qual seria o efeito prático disso? Vamos supor que tenhamos um devedor que
tenha lá três credores, aí o devedor praticou um ato de disposição patrimonial para um
terceiro. Vamos supor que o bem, objeto da disposição patrimonial, tenha valor de
mercado de 100 mil reais e o C1 tem direito a 10 mil, o C2 50 mil e o C3 80 mil. Vamos
supor que esse ato de disposição patrimonial tenha conduzido ou agravado a
insolvência do devedor, para caracterizar a fraude contra credores.
Pela tese tradicional, que é a que está escrita no código, a fraude contra
credores gera anulabilidade. Então, se o C1 propõe ação pauliana, qual vai ser o efeito
prático da invalidação dessa alienação aqui? Retorno ao status quo ante. Quer dizer, na
verdade a invalidação desse ato acabaria beneficiando não apenas o credor
demandante, mas também os demais.
sustentar que eventual reconhecimento da fraude contra credores não vai invalidar a
transferência do domínio aqui. O reconhecimento da fraude contra credores vai gerar
uma sentença que vai reconhecer a ineficácia dessa alienação apenas em relação ao
credor demandante. Ou seja, não haverá desconstituição por completo do ato de
transferência, na verdade essa alienação apenas não produzirá efeitos em relação a
C1.
Então, se por ventura houver alienação judicial desse bem transferido, com o
produto dessa alienação judicial for apurado 100 mil reais em se entendendo que a
tese vencedora é a da eficácia relativa, o que vai acontecer? 10 mil para o C1 e os 90
mil remanescente ficam com o adquirente, diferentemente do que ocorreria com a tese
da anulabilidade onde todo o montante reverteria em favor dos demais credores.
Nós vimos que o concilium fraudis não se exige para os atos de disposição
gratuita e remissão de dívida. Então, a segunda posição melhor protegeria a legitima
expectativa do terceiro adquirente, mas é posição minoritária.
Pergunta de aluno.
Tem uma questão que é processual, que vou falar por desencargo de
consciência, que é a Súmula 195 do STJ.
esse sujeito vai fazer aqui para se defender? Embargo de terceiro, o pólo ativo vai ser
o terceiro e o pólo passivo vai ser o credor.
Vamos supor que no prazo para resposta desse embargo de terceiro o credor
reconheça que não houve fraude a execução e que a alienação foi anterior ao ato
citatório. Como ele reconhece que o ato foi anterior, ele alega aí fraude contra
credores.
Uma, porque o veículo próprio para suscitar fraude contra credores é a ação
pauliana, ressalvadas as duas exceções que vimos na aula passada, mas a via
adequada é a ação pauliana.
Pergunta de aluno.
Resposta do Prof: isso, mas ainda assim esbarraríamos nos problemas dos
limites subjetivos.
partes não podem confirmar o negócio que atenta contra o interesse público. Já a
anulabilidade é ratificável, art. 172.
Até a algum tempo atrás era uma diferença clássica entre nulidade e
anulabilidade. Só que ultimamente vem ganhando cada vez mais espaço uma segunda
posição e essa posição defende que o reconhecimento da anulabilidade também
produz efeitos ex nunc.
Se vier na prova objetiva dizendo que o ato nulo não convalesce pelo decurso
do tempo ou se vier dizendo que o reconhecimento da nulidade é imprescritível está
certo, art. 169, parte final.
Pergunta de aluno.
Humberto Theodoro diz que nesse caso ainda que haja imprescritibilidade do
ato nulo, se estão prescritas todas as pretensões patrimoniais do contrato já
executado, careceria o autor de interesse processual no reconhecimento da nulidade.
Ainda que haja imprescritibilidade, não haveria utilidade e necessidade do
reconhecimento da nulidade, na medida em que estariam prescritas todas as
pretensões patrimoniais daí resultantes.
Pergunta de aluno.
222
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Muito cuidado com art. 179 que é novidade legislativa, seguinte: o art. 178
prevê o prazo para as causas gerais de anulabilidade, mas obviamente nada impede
que o legislador contemple causas específicas de anulabilidade fora das causa gerias.
Para essas causas específicas de anulabilidade nós vamos aplicar o art. 179 e
o art. 179 basicamente diz que para essas causas específicas de anulabilidade:
presunção relativa de que o prazo é de dois anos. Presunção relativa porque
obviamente nada impede que a regra específica, além de contemplar essa causa
especial de anulabilidade, também contemple um prazo especial.
Quer dizer, se a regra específica diz que determinado ato é anulável e prevê
um prazo x, claro que vamos aplicar o prazo x, mas no silêncio da regra específica
quanto ao prazo aplicar-se-á o prazo de 2 anos do art. 179.
Cuidado porque esse art. 179, que prevê o prazo de 2 anos, se encaixa
perfeitamente na hipótese do art. 496 que é aquela historia da venda de ascendente
para descendente.
Uma das alterações aqui é que o código atual no art. 496 expressamente diz
que é anulável, o código anterior não dizia se era nulo ou se era anulável. Quer dizer, é
uma causa específica de anulabilidade, o art. 496 não prevê prazo e o prazo será de 2
anos. Nesse sentido Enunciado 368 do Conselho.
Então, faria a remissão do art. 179 para o art. 496 combinado com o
enunciado 368 e aí claro faria a remissão no sentido oposto: lá do art. 496 eu faria
para o art. 179 do código civil combinado com o enunciado 368.
Pergunta de aluno.
Pergunta de aluno.
Resposta do Prof: o código anterior não dizia se era nulo ou anulável essa
venda de ascendente a descendente, então, como o código era omisso, o STF num
determinado momento entendia que a hipótese era de nulidade absoluta.
223
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
O art. 179 acaba por completo sepultando a Súmula 494 do STF, que já tinha
sido afastada pela jurisprudência do STJ e o prazo não é mais de 20 anos, mas cuidado
que os códigos ainda faz referencia a Súmula.
O art. 166, I diz que gera nulidade absoluta o negócio celebrado por pessoa
absolutamente incapaz. A ressalva aqui ao negócio praticado por absolutamente
incapaz qual é? Teoria do ato fato.
O inciso II também não traz grandes questões, ele fala do objeto ilícito,
impossível ou indeterminável, já vimos essa questão no momento anterior.
O inciso III traz uma novidade. O inciso III diz: o motivo determinante comum
a ambas as partes for ilícito. Quer dizer, se caísse numa prova dissertativa, primeira
coisa é lembrar da diferença motivo e causa. Motivo as razões subjetivas e a causa os
efeitos mínimos necessários a configuração de um negócio jurídico.
É importante essa regra por quê? Porque a regra geral é de que o motivo não
tem repercussão jurídica justamente por envolver razão de natureza subjetiva e o art.
166 inciso III é uma das exceções a essa afirmativa geral, porque no art. 166, III o
motivo passa a ter repercussão jurídica.
Só que o que a doutrina costuma afirmar aqui é o seguinte: no art. 166, III
esse motivo determinante ele é comum a ambas as partes porque em regra o motivo
não tem relevância jurídica por quê? Princípio da confiança, legítima expectativa. Só
que aqui o motivo ilícito é comum a ambas as partes, então quando o motivo acaba
sendo comum a ambas as partes, o motivo acaba integrando o próprio conteúdo do
negócio jurídico.
Então, obviamente como o art. 166, III o motivo é comum a ambas as partes
não há porque se cogitar de principio da confiança.
Pergunta.
Pergunta.
Resposta: aí acaba gerando uma certa polêmica porque olha só: o jogo não
autorizado traz que conseqüência? Obrigação natural e não há responsabilidade, mas
há o débito.
Tanto é que a doutrina, nós vamos ver mais adiante, tanto a doutrina quanto
a jurisprudência em relação a divida de jogo dividem muito bem: divida de jogo
regulamentada, que é exigível judicialmente, tem até um Informativo do STJ que
vamos ver mais adiante. Existe a dívida de jogo não autorizado aí sim obrigação
natural e a dívida de jogo proibido.
Pergunta.
Resposta: mas aí a conseqüência não seria a nulidade do art. 166, III. Não
aplicaríamos esse artigo, vamos aplicar uma regra especial que tem lá na parte de
contrato de mútuo, te digo depois, tem uma regrinha específica lá no contrato mútuo
para prática de jogo.
Então, o sujeito que tem um filho, por exemplo, não pode doar além da
metade do seu patrimônio, diz o art. 549, no momento da liberalidade.
Vamos supor que o sujeito tenha 500 em patrimônio e tenha um filho. O que
ele faz? Ele doa 250, respeitou o art. 549. Um mês depois ele tem 250 e aí ele doa
125, respeitou o art. 549 e vai fazendo isso sucessivamente.
Numa interpretação literal, todas essas doações respeitaram o art. 549 porque
no momento da liberalidade ele apenas dispôs de metade, só que essas sucessivas
doações são praticadas em fraudes a lei, porque essas sucessivas doações atentam
contra a legítima dos herdeiros necessários.
Outro exemplo: art. 1.301, direito de vizinhança. Diz o art. 1.301, caput: é
defeso abrir janelas ou fazer eirado, terraço ou varanda a menos de metro e meio do
terreno vizinho. O objetivo da regra é resguardar intimidade, privacidade.
Então, o grande cuidado aqui é nós não usarmos a fraude a lei de maneira
atécnica, porque muita gente usa a fraude a lei para situações em que há uma frontal
violação ao ordenamento jurídico e na verdade a fraude a lei se diferencia do ato ilícito
propriamente dito.
Pergunta.
O Pontes de Miranda traz uma definição que eu acho que equaciona bem a
sua pergunta, ele diz que na fraude a lei o sujeito se utiliza da lei para violar a própria
lei. Quer dizer, é da essência da própria lei que aquela conduta se amolde
aparentemente a um determinado preceito normativo, requisito esse que não é exigido
para configuração do abuso de direito. Quer dizer, na fraude a lei há sempre um
aparente dispositivo legal que dá suporte aquela conduta e esse requisito obviamente
não se exige para o abuso. No abuso, podemos ter uma hipótese que o ordenamento
jurídico não preveja qualquer solução, mas haja uma limitação principiológica, por
exemplo.
Quer dizer, na fraude a lei o Ponte de Miranda quer ressaltar que o sujeito se
vale de determinada regra para alcançar objetivos que o ordenamento jurídico não
efetivamente deseja em relação aquele dispositivo legal.
Para prova objetiva vale a pena nós olharmos o art. 166, VII (mais para prova
objetiva ou oral). O art. 166, VII diz: a lei taxativamente o declarar nulo ou proibir-lhe
a prática sem cominar sanção.
Agora a parte final é que chama mais atenção “ou proibir-lhe a prática sem
cominar sanção”. Essa é a chamada nulidade virtual ou implícita. Então, nessas
hipóteses o código usa expressão como: não deve, não pode, não se admite.
Exemplos: artigos 380, 426, 483, 485 e 547.
Esse último art. é o art. 547, §único que é aquela história de doação com
cláusula de reversão em que o doador transfere para o donatário e aí o doador diz
“olha donatário se você morrer antes de mim, os bens voltam para mim” e aí o §único
do art. 547 diz assim: não prevalece cláusula de reversão em favor de terceiros. “Não
prevalece”, o legislador proibiu sem combinar sanção. Nulidade virtual.
Um exemplo clássico de simulação: art. 550. O art. 550 diz que a doação do
cônjuge adúltero ao seu cúmplice pode ser anulada pelo outro cônjuge ou por seus
herdeiros necessários até 2 anos depois de dissolvida a sociedade conjugal. Essa
doação é anulável.
O que o sujeito faz? Para se esquivar aos efeitos do art. 550, em conluio com
a amante, ele faz uma compra e venda que busca esconder a doação, exemplo típico
de simulação.
Então, aquele exemplo da compra e venda para a amante que busca esconder
a doação é exemplo típico de simulação relativa. O negócio simulado, aparente é a
compra e venda e o negócio dissimulado é a doação.
Pergunta.
Claro que isso é exemplo típico de simulação inocente no direito civil, mas que
trás reflexos no direito tributário. Se for compra e venda, o tributo é municipal e se for
doação o tributo é estadual.
Outro exemplo: imagine um parente seja o único da família que tenha bens, a
todo momento ele é instado a ser fiador dos familiares e o que ele faz? Uma simulação
de venda de seus bens com o único objetivo de ser constantemente instado pelos
familiares, quer dizer, uma simulação inocente e absoluta. Temos aqui, portanto
classificações distintas.
Parece inclusive fazer sentido, era anulabilidade por quê? Interesse particular,
prejuízo a determinada pessoa. Na medida em que a simulação passa a ser causa de
nulidade a matéria passa a ser de ordem pública. Não seria razoável, mas vai que uma
229
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Nesse sentido Enunciado 152 que diz: toda simulação, inclusive a inocente, é
invalidante.
Bom, para aplicar a parte final do art. 167 fica claro que a simulação tem que
ser absoluta ou relativa? Tem que ser relativa porque o código fala “é nulo o negócio
dissimulado, mas subsistirá o que se dissimulou”.
Então, a primeira premissa é que a simulação seja relativa, tem que ter o
simulado e o dissimulado e aí diz “subsistirá o que se dissimulou se válido for na
substancia e na forma”. Quer dizer, vai ser válido o dissimulado se o dissimulado for
válido na substancia e na forma, e quando que o dissimulado vai ser válido na
substancia e na forma? Quando não atingir interesse juridicamente protegido de
terceiros. Então a premissa para aplicar o art. 167 parte final é que a simulação seja
relativa e inocente.
Pergunta.
Dá para perceber que o art. 167 parte final, que permite em tese o
aproveitamento do negócio dissimulado, vem em harmonia com o princípio da
conservação dos atos e dos negócios jurídicos.
Pergunta.
Resposta: ação judicial. Aqui, me parece que a via adequada seria a tutela
jurisdicional, quer dizer, a simulação pode ser suscitada através dos mecanismos que
vimos e aí se facultaria a possibilidade de suscitar a preservação do negócio
dissimulado pela via jurisdicional, quer dizer, extrajudicialmente me parece inadequada
a possibilidade.
Pergunta.
230
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Pergunta.
Pergunta.
Resposta: o enunciado 152 é o seguinte: ele diz que toda simulação inclusive
a inocente é invalidante, mesmo quando ela for relativa, se for absoluta é isso mesmo
invalida e ponto final, se ela for relativa, o que vai acontecer? A simulação inocente ela
vai invalidar o negócio simulado e vai prestigiar o dissimulado, quer dizer, haveria a
invalidação apenas do negócio aparente, mas haveria o aproveitamento do
dissimulado.
Pergunta.
Pergunta.
Resposta: se for absoluta inocente o que vai acontecer? Vai anular e ponto
final, não vai produzir efeito, entre aspas, algum. Agora, se for inocente e relativa aí
vai aproveitar o dissimulado.
Nós vimos que no código de 16 havia uma regra idêntica ao dolo recíproco só
que para simulação, era no mesmo artigo 104 do código de 16: nenhuma das partes
em conluio na simulação pode suscitar simulação em face da outra.
Só que nós vimos que nosso código atual é omisso, ele não reproduziu essa
regra do legislador de 16 e aí qual é grande risco que corremos? É dizer que, apesar
do silencio do código, a solução seria a mesma por conta da tu quoque, por conta da
boa fé objetiva.
Só que não é e por quê? Por que não dá para aplicar tu quoque na simulação?
Porque houve uma mudança na natureza jurídica da simulação, ela era causa de
anulabilidade e agora passou a ser causa de nulidade absoluta, ou seja, há interesse
público no reconhecimento da simulação.
Tem até um enunciado sobre o tema, que é o Enunciado 294 do Conselho que
afirma lá que sendo a simulação uma causa de nulidade pode qualquer das partes
alegá-la contra a outra.
INTERVALO.
Exemplo: vamos supor que eu seja um empresário, vou passar seis meses
fora e preciso transferir os poderes de administração a outra pessoa. Em tese, do que
as partes se valem para isso? Mandato.
Então, na verdade, tem uma síntese muito bem trazida por Arnaldo Rizzardo
quando trata do tema e ele diz que no negócio fiduciário o meio excede o fim, por
quê? Porque o meio utilizado pelas partes é muito maior do que a própria finalidade
por elas objetivada.
Um exemplo que sempre cai é o mandato em causa própria do art. 685, como
acontece no mandato em causa própria a grosso modo? Eu quero vender um imóvel
para ela, vamos imaginar que eu esteja fora daquela localidade por 06 meses, se eu
quero transferir a propriedade o tipo adotado é a compra e venda.
E aí sem ler o art. 685, o que vou dizer agora cai muito em prova objetiva. O
mandato em regra ele não é um contrato personalíssimo? Extingue com o falecimento,
o mandatário tem que prestar conta, mandato é um contrato intuito personae. Por que
o mandato em regra é intuito personae? Porque o mandato gera transferência dos
poderes de administração que pressupõe uma relação especial de confiança.
233
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Pergunta.
Pergunta.
Pergunta.
Resposta: a hipótese não seria de contrato consigo mesmo e se isso não gera
anulabilidade? O contrato consigo mesmo está no art. 117 que diz: salvo se o permitir
a lei ou representado, é anulável o negócio jurídico em que o representante no seu
interesse ou por conta de outrem celebrar consigo mesmo. Quer dizer, o art. 117
proíbe, em tese, que o mandatário celebre negócios jurídicos em seu próprio nome e
ao mesmo tempo em nome do mandante. Quer dizer, ele proíbe que o mandatário
compre aquele imóvel, objeto do mandato, quer dizer, outorgo poderes a ele para
vender o imóvel a um terceiro e aí o art. 117 está dizendo que é anulável se ele
234
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
comprar aquele imóvel em seu próprio nome. Só que o art. 117 diz “ressalvadas as
previsões legais”, então entra na exceção do art. 685. Vamos ver com calma mais
adiante.
Agora voltando aqui a questão, olha só: simulação não parece com negócio
fiduciário, negócio dissimulado? Se parece bastante. Só que na simulação, há uma
divergência intencional entre a vontade declarada e a vontade real dos contratantes.
Quer dizer, a finalidade das partes ela não está explicitada pelo contrato.
Pergunta.
Vamos imaginar que nós dois sejamos amigos de longa data e sejamos
empreiteiros, eu renomado e você iniciante e aí vamos supor que eu tenha uma
máquina de grande porte que é indispensável a obtenção de determinada obra que
você está na iminência de celebrar o contrato.
Isso inclusive pode trazer efeitos práticos, vamos supor que você termine a
obra e não restitua e o negócio aparente foi a compra e venda. Vejam que para o
alienante vai surgir o interesse em suscitar a nulidade da simulação inocente e relativa
e aí qual vai ser o interesse? Reconhecer como nula a compra e venda e garantir a
subsistência da validade com contrato de comodato, essa lógica não se aplica no
negócio fiduciário indireto, por quê? Porque a vontade real das partes ela foi
exteriorizada no contrato, ela corresponde a vontade real.
Quer dizer, quando eu faço mandato para transferir a minha propriedade para
ela, eu estou me utilizando do mandato com o objetivo de transferência de domínio e
essa intenção transferência de domínio ela consta claramente do negócio jurídico.
Pergunta.
Resposta: qual seria a diferença? Lá tem que ficar claro que estou
transferindo a propriedade resolúvel e com a consistência de propriedade resolúvel vai
ficar claro que aquela propriedade do adquirente ela é temporária, diferentemente
dessa hipótese em que é uma suposta transferência de propriedade definitiva, quando
a real intenção das partes é o comodato e não a efetiva transferência de domínio.
Tem um ponto aqui, vamos registrar aqui o seguinte: vejam que no caso de
simulação é possível que haja prejuízo a credores. Quer dizer, lembra aquela história
em que eu tenho um monte de parente que fica me pedindo para ser fiador e eu fico
236
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
me esquivando de tais pedidos? O que eu faço? Simulo uma compra e venda e quando
simulo a compra e venda dos meus bens a terceiros eu não posso estar me conduzindo
a insolvência?
Pergunta.
Conversão do ato nulo está no art. 170. Art. 170 diz: se, porém o negócio
jurídico nulo contiver os requisitos de outro, subsistira este quando o fim a que
visavam as partes permitir supor que o teriam querido se houvessem previsto a
nulidade.
em relação aquilo que as partes declararam, mas seria válido se as partes tivessem
optado por outro tipo negocial.
Já está começando a delinear que idéia aí? Que com o art. 170 se permite a
conversão do tipo negocial nulo A para o tipo negocial C que é aquele que em tese
seria válido caso as partes tivessem por ele optado.
Pergunta.
Resposta: 1ª que o negócio seja nulo, 2ª que o negócio seja nulo em relação
aquilo que as partes declararam, mas seria válido se as partes tivessem optado por
outro tipo negocial.
Pergunta.
Tem outro exemplo muito bom, não sei se vocês estão lembrados do art. 191
que prevê a renuncia da prescrição, só que o art. 191 diz que não se admite a renuncia
antecipada da prescrição, só cabe depois que o prazo prescricional já estiver ultimado.
Então, a renuncia antecipada da prescrição é nula, nulidade absoluta. Só que essa
renuncia antecipada da transcrição, que é nula por força do art. 191, ela pode ser
convertida para o art. 202, VI.
A grosso modo, o art. 202,VI diz que quando o devedor reconhece o direito
do credor ele interrompe a prescrição. Quer dizer, se o devedor pede parcelamento da
dívida o próprio devedor está interrompendo o prazo prescricional.
Cuidado com o art. 178 porque ele não diz que a hipótese retratada é a de
ratificação tácita. O art. 178 estabelece o prazo de 04 anos para suscitar anulabilidade,
se a parte interessada não invoca anulabilidade em 04 anos, ratificação tácita. Quer
dizer, o código não diz no art. 178 que ali a hipótese é de ratificação tácita, mas claro a
não alegação da anulabilidade dentro do prazo de 04 anos vai gerar ratificação tácita.
Agora, muito cuidado aqui com o art. 174 que é a outra hipótese de
ratificação tácita que mencionamos. Art. 174: é escusada a confirmação expressa
quando o negócio já foi cumprido em parte pelo devedor ciente do vício que o
inquinava. Quer dizer, o art. 174 está dizendo que se o devedor tem ciência do vício e
ainda assim cumpre a prestação, ele está tacitamente ratificando.
Claro que essa iniciativa de cumprir conscientemente a prestação tem que ser
uma iniciativa livre, claro que se ele está sujeito a coação não se vai falar em
ratificação tácita.
Outro exemplo: se, mesmo depois de ciente do vício, aquele devedor aliena
ou consome o bem objeto do negócio anulável, ele está desenvolvendo uma conduta
incompatível com a intenção de anular. Se ele oferece uma garantia hipotecária ou
uma garantia fidejussória, o oferecimento dessas garantias seria incompatível com a
vontade de anular.
Hoje, se formos dissertar sobre isso, o que vamos usar para justificar essa
interpretação elástica do art. 174?Vamos poder usar com tranqüilidade a boa fé
objetiva através da venire contra a factum proprium, lembra da contradição com a
própria conduta? Não desenvolvemos muito o tema, mas chegamos a mencionar aqui.
Quer dizer, a venire contra factum proprium que é a teoria da contradição com a
própria conduta. Numa releitura do art. 174 podemos claramente mencionar que o
dispositivo se influencia, claro, pela boa fé objetiva.
Tem um argumento que aqui me parece bem prático, não cabe ratificação
tácita? A ratificação tácita ela independe de qualquer formalidade. Então, sustentam
esses autores que se cabe ratificação tácita, não haveria razão para ratificação
expressa necessariamente obedecer a forma do negócio a ser confirmado. Quer dizer,
a admissibilidade da ratificação tácita, demonstra o que? Que a ratificação seria um ato
não solene, na medida em que o código não admite a ratificação tácita. E mais, esses
autores afirmam que a ratificação seria um negócio jurídico distinto do negócio a ser
confirmado.
Pergunta.
O Humberto Theodoro Júnior chega a dizer que aqui a tese da defesa, quando
invoca a anulabilidade, seria mais um exemplo daquelas hipóteses de defesa indireta
de mérito como é a exceção de contrato não cumprido.
O art. 182, que já mencionamos aqui hoje, é aquele que diz que anulado o
negócio jurídico restituir-se-ão as partes ao estado em que antes dele se achavam e,
não sendo possível restituí-las, serão indenizadas com o equivalente. Então, o art. 182
está dizendo que tanto a nulidade quanto a anulabilidade geraria em tese o retorno ao
status quo ante e, não sendo isso possível, as partes serão indenizadas pelo
equivalente.
Antes de mais nada, se não for possível o retorno ao status quo ante e houver
a indenização com o equivalente, é preciso tomar cuidado para que não haja
enriquecimento sem causa. Ou seja, na hipótese em que houver o retorno ao status
quo ante, algumas regras que veremos mais adiante terão que ser observadas.
Por exemplo: se o terceiro fez benfeitorias no bem e ele era de boa fé,
aplicável a sistemática do art. 1219. Quer dizer, haverá o retorno ao status quo ante,
mas o terceiro de boa fé tem que ser indenizado pelas benfeitorias necessárias e úteis
tendo inclusive direito de retenção.
Se o terceiro de boa fé fez construções, aplicar o art. 1.255 que diz que
construtor de boa fé tem direito a ser indenizado.
O que estou ressaltando é que esse retorno ao status quo ante não afasta a
incidência de regras especiais que buscam evitar enriquecimento sem causa. E mais, o
código diz retorno ao status quo ante e, não sendo possível restituí-las, serão
indenizadas com o equivalente. Só vai haver indenização pelo equivalente se não for
possível a restituição.
Pergunta.
Fazer remissão para o art. 113 que trata de boa fé objetiva, porque o art. 113
prevê a boa fé objetiva como um ??? de interpretação, a boa fá objetiva dentro da
função de interpretação. A gente vai lembrar que a boa fé objetiva vai gerar essa
impossibilidade jurídica de retorno ao status quo ante.
Vejam o que fez o art. 167,§2º. O art. 167 trata da simulação, nulidade
absoluta e aí o §2º diz: ressalvam-se os direitos de terceiros de boa fé em face dos
contraentes do negócio jurídico simulado. O art. 167, §2º está dizendo que o
reconhecimento da nulidade absoluta decorrente da simulação não atinge terceiros de
boa fé, porque a proteção a terceiros de boa fé notadamente passa a ser também
matéria de ordem pública.
Então, se fizermos a remissão do art. 182 para o art. 113 e para o art.
167,§2º, acho que fica mais fácil de lembrarmos disso.
Vamos dar uma olhada no art. 184 que trata da chamada redução, é o
instituto da redução no negócio jurídico.
Tem um brocardo conhecido na doutrina que diz que o art. 174... A idéia
dessa expressão que está no quadro, basicamente diz o que? Que a invalidade de
parte do negócio não necessariamente contamina a sua totalidade.
redução o contrato vai se reduzir as demais cláusulas válidas, mas a natureza jurídica
do negócio permanece a mesma.
Para que caiba a redução é preciso que essa invalidade parcial não atinja a
causa do negócio jurídico. Quer dizer, vamos imaginar que haja um contrato pelo qual
alguém se comprometa a construir um parque industrial e essa construção tem uma
cláusula dizendo que vai se dar com material importado. Vamos supor que haja
vedação a importação de tais materiais. Apenas uma das cláusulas é inválida, mas a
invalidade dessa cláusula acaba atingindo a própria causa do negócio jurídico e aí
obviamente não será possível a redução. Quer dizer, a invalidade deve envolver uma
cláusula que não seja substancial, determinante.
FIM.
Aula 09 – 28/10/08
Prescrição e Decadência
Uma vez exercida a escolha dentro do prazo decadencial, quer dizer, uma vez
que o credor opte pela entrega do carro ou da jóia vai surgir para o credor um direito
244
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
subjetivo e o prazo para o exercício dessa pretensão por ele optada vai ter natureza
prescricional. Então, na verdade nós temos na mesma circunstância prazo decadencial
e prazo prescricional.
O art. 189 acabou resolvendo uma questão antiga, que na verdade não tem
muito efeito prático, de que a pretensão ela nasce do descumprimento do dever
jurídico. O art. 189 diz lá: violado o direito nasce para o titular a pretensão, quer dizer,
a pretensão resulta da violação do dever jurídico.
de que o prazo prescricional se inicia a partir da lesão ao direito ao passo que o prazo
decadencial não se iniciaria a partir da lesão.
Não está errado afirmar isso, mas na verdade essa não é a diferença em
essência entre os institutos, essa é uma diferença que decorre da própria distinção
entre direito subjetivo e direito potestativo.
Regra que gerou muita discussão é a do art. 190 que diz que a exceção
prescreve no mesmo prazo em que a pretensão. É incontroverso que essa expressão
“exceção” contida no art. 190 diz respeito à exceção em sentido amplo, ou seja, todo
meio de defesa.
Quando surgiu o código, houve quem defendesse que teria havido uma falha
na redação do art. 190, alguns autores chegavam a afirmar que quando o art. 190 fala
em exceção muitos diziam: entenda-se execução. Muitos diziam que na verdade o
código tinha pretensão de ressaltar que a execução prescreveria no mesmo prazo em
que a pretensão, porque a idéia da exceção prescrever junto com a pretensão não
faria sentido.
Mas vejam que a compensação, uma tese defensiva, que se embasa numa
pretensão que deveria ter sido argüida através da ação autônoma, quer dizer, a
compensação resulta de um direito de crédito que o B tem em relação ao A. Se a
pretensão que o B tem em relação ao A está prescrita, também prescreve a tese
defensiva compensação.
Tem outro exemplo, bem antigo, e quem traz é o Savigny que defende aquela
teoria subjetiva da posse que diz: no nosso código atual, a grosso modo, o art. 445
prevê lá prazos para que as partes possam suscitar vício redibitório, 30 dias para móvel
e 1 ano para imóvel com algumas peculiaridades que veremos mais adiante.
Vamos supor que o sujeito venha a adquirir um bem com vício redibitório e
deixa transcorrer em ??? o prazo previsto para provocação dos vícios redibitórios.
Posteriormente, ultrapassado esse prazo, o alienante ingressa em juízo, exigindo
cumprimento de prestações inadimplidas pelo adquirente.
Pergunta.
Resposta: mas aqui a ação autônoma não é no sentido de que ele teria que
propor uma ação, aqui o enfoque do art. 190 é diferente. Na verdade, a compensação
seria uma exceção imprópria por quê? Porque ela resulta de uma pretensão.
Pergunta.
Pergunta.
Resposta: isso, na verdade o art. 190 do código civil, ele não se aplicaria a
essas exceções propriamente ditas, por quê? Porque o que pode prescrever ou não é a
247
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
pretensão do autor, mas enquanto ele não exerce a pretensão, não há inércia pela
outra parte por não suscitar aquela tese que é eminentemente defensiva.
Por exemplo, coisa julgada, ninguém vai alegar coisa julgada se não for
devidamente provocado, então na verdade o art. 190 se aplicaria apenas a essas
exceções impróprias que, aliás, nesse caso seria possível se cogitar de inércia por parte
daquele que deixou de exercer a pretensão que embarga a tese defensiva.
Vimos na aula passada, quando tratamos da conversão do ato nulo, que essa
renúncia antecipada pode ser convertida como uma causa da prescrição (art. 202, VI)
que é quando o devedor reconhece o direito do credor.
O Pontes de Miranda é que fazia uma ressalva a esse exemplo e dizia “sem
dúvida a renuncia antecipada pode ser convertida por essa causa interruptiva, salvo se
o devedor está renunciando a prescrição com o intuito inequívoco de sustentar a
improcedência do pedido”. Quer dizer, pode ser que o devedor esteja renunciando não
com o objetivo de cumprir o pactuado, é possível que o devedor renuncie porque ele
quer ver aquela pretensão, aquele pedido julgado improcedente.
É claro que nesse caso não dá para falar na conversão porque a conversão
pressupõe que o devedor esteja reconhecendo o direito do credor. Ressalvada essa
hipótese excepcional, seria admissível a conversão para o art. 202, VI.
Não é preciso decorar isso, qual é o objetivo do art. 192 ao vedar a renuncia
antecipada? É prestigiar a livre manifestação de vontade. Imagine se é admissível a
renuncia antecipada no contexto das relações contratuais contemporâneas em que a
regra é dos contratos de adesão. Quer dizer, a regra seria sempre a da renuncia
antecipada e com isso a paz social tão almejada pela prescrição não seria atingida.
Além disso, o art. 191 diz que essa renuncia da prescrição não pode prejudicar
terceiro.
Isso pode ter reflexo práticos, por exemplo, no caso do tutor e do curador
que não tem disponibilidade sobre os interesses do tutelado e do curatelado e,
portanto ele não pode renunciar a prescrição, seria uma renuncia gratuita.
Todos devem saber que com a lei 11280/06 houve a revogação do art. 194 do
código civil e a alteração do art. 219,§5º do CPC e como conseqüência o juiz deve
reconhecer de ofício a prescrição. Quando entrou em vigor a lei, muitos começaram a
sustentar que a lei 11280, ao impor o reconhecimento de ofício da prescrição, teria
revogado tacitamente o art. 191 do código civil, porque, para muitos, se o Juiz deve
reconhecer de ofício, a matéria seria de ordem pública e em sendo de ordem pública,
irrenunciável. Quer dizer, haveria uma incompatibilidade entre a lógica do
reconhecimento de ofício e o cabimento de renúncia, porque a renúncia pressupõe
disponibilidade.
Vem ganhando cada vez mais espaço uma posição que é defendida pelo
Arruda Alvim que, visando compatibilizar os institutos, defende que o Juiz não pode
reconhecer de ofício a prescrição antes de transcorrido o prazo para a resposta do réu.
Dentro desse contexto, o que se afirma é que não mais se admitiria aquela
renuncia tácita em juízo, a renúncia tem que ser expressa. Quer dizer, se o réu oferece
resposta e se omite aí sim o Juiz pode reconhecer de ofício a prescrição.
Quem for fazer prova para a advocacia pública tem uma observação
importante: o Leonardo Matieto acrescenta uma ponderação a essa afirmativa do
Arruda Alvim e diz o seguinte: o Juiz, sem dúvida alguma, não deve reconhecer de
ofício antes de ouvir o réu, salvo se o réu é a Fazenda Pública. Se o réu for Fazenda
249
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Pública, o Juiz pode decretar de ofício sem ouvir a fazenda, porque o advogado público
não pode renunciar da prescrição.
Pergunta.
Resposta: para uma prova de advocacia pública não, agora, fora do âmbito
talvez seja sustentável se usado por analogia principalmente em âmbito federal, os
valores são altos para dispensa, é sustentável no plano acadêmico. Para concurso acho
que é precipitado defender a tese.
Por isso que o art. 882 diz que o pagamento de divida prescrita é irrepetível,
porque na verdade a prescrição não gera o aniquilamento do direito em si, mas apenas
da pretensão.
O Barbosa Moreira tem uma frase curiosa sobre isso que diz o seguinte: na
verdade, a prescrição ela não retira a arma do credor, a prescrição ela concede um
escudo ao devedor para que ele venha a se valer desse escudo caso em que ele
pretenda se valer do escudo. Quer dizer, pela sistemática geral a reforma vem em
desarmonia, em descompasso com toda a sistemática geral da prescrição.
Tem outro detalhe de ordem até prática: o Juiz com a inicial, ele não tem
elementos suficientes para afirmar que houve prescrição, porque a prescrição ela
admite causa de impedimento, de suspensão e de interrupção. Com a simples inicial o
Juiz nem sempre tem acesso a tais informações em relação a esses fatos preclusivos.
Só que a lei 11280 trouxe um reflexo para o âmbito processual com essa
questão, vamos pensar antes e depois da lei.
Vamos pensar antes da lei: vamos supor que o autor ingresse em juízo
exercendo uma pretensão prescrita, o réu se defende por outros argumentos que não
a prescrição, o juiz iria lá e acolheria a pretensão autoral, o réu apela insistindo nos
fundamentos originários sem suscitar a prescrição, tribunal confirma a sentença e aí o
advogado vê que cochilou, deveria ter alegado a prescrição e não alegou.
Para haver embargo de declaração o julgado tem que ser omisso, obscuro ou
contraditório. Antes da lei aquele julgado não era omisso, nem obscuro e nem
contraditório. Com a superveniência da lei 11280, ainda que não alegada a prescrição,
o julgado era omisso porque o Juiz no tribunal tinha que reconhecer de oficio. Com a
nova sistemática inaugurada pela lei 11280 o reflexo processual mais importante é o
cabimento de embargo declaratório para fins de pré-questionamento.
Tem outra questão que resulta do art. 193 porque ele diz que a prescrição
pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição.
Vejam, o art. 193 não autoriza de maneira alguma que na execução a parte
venha a suscitar prescrição não suscitada na fase de conhecimento. O próprio CPC traz
2 artigos que evidenciam isso. São os artigos 741, VI e 475L, VI que prevê que a parte
na execução, nos embargos ou na impugnação pode alegar prescrição decorrente de
circunstancias posteriores a coisa julgada.
Nós não estamos aqui diante de uma causa preclusiva, de uma interrupção
do prazo prescricional anterior. Surge um novo prazo prescricional, a importância
251
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
prática disso hoje nós veremos já que o art. 202 caput do código atual diz que agora a
prescrição só pode ser interrompida uma vez.
Pergunta.
Na verdade sob o enfoque do direito material, quer dizer, o sujeito tem uma
pretensão para ingressar em juízo e obter o titulo, obtido o titulo, surge a pretensão de
fazer valer aquilo que havia sido ???, em que pese toda a simplificação das reformas
processuais recentes.... Até hoje não vi nenhum processualista defendendo posição
distinta.
Pergunta.
Pergunta.
Pergunta.
Pergunta.
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Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Resposta: isso, só que com cuidado daquela crítica trazida pelos próprios
processualistas, na verdade cabe sim reconhecimento de ofício, mas seria no mínimo
salutar que houvesse um contraditório mínimo a respeito do conhecimento da
prescrição até porque nós podemos ter aspectos fáticos que tenham propiciado
impedimento, suspensão e interrupção do prazo prescricional. Quer dizer, acho que vai
depender um pouco da visão que vamos ter acerca do tema. Se prestigiarmos, como
fez o legislador, a idéia do tema de economia processual, talvez o reconhecimento de
ofício não seja tão simples assim como quis o legislador.
Pergunta.
Pergunta.
Vamos dar uma olhada agora... Sugere uma série de reflexos até de ordem
processual que na verdade acaba não se esgotando, querem ver uma discussão que
tem de surgir no âmbito processual? É o art. 22 do CPC que fala daquela história em
que o réu não alega uma determinada tese defensiva, alega posteriormente e com
essa alegação ele acaba aniquilando a pretensão do autor. O dispositivo diz o que? Que
a pretensão do autor não vai ser acolhida, mas pelo retardamento causado do
julgamento da lide ele vai ter que pagar as custas, a questão dos honorários, não vai
ter direito a honorários, uma série de conseqüências.
Esse artigo cai muito em prova objetiva de 1ª fase e qual é a pegadinha que o
examinador joga? O art. 195 fala em relativamente incapaz, ele troca a redação do art.
195 e joga absolutamente incapaz. Ele diz “que o absolutamente incapaz tem
pretensão ressarcitória em face do representante que não exercer a pretensão no
prazo adequado”.
Muito cuidado com uma posição minoritária defendida pelo Gustavo Tepedino,
que é peculiar, que diz o seguinte: o art. 195 ele prevê tanto a responsabilidade civil do
assistente do relativamente incapaz quanto do representante legal da pessoa jurídica.
O que acontece com os juros que antes fluíam em face do credor originário?
Vão continuar a fluir em favor do cessionário e o que acontece com o prazo
prescricional? A mesma coisa, a prescrição iniciada contra o credor originário vai
continuar fluir naturalmente em face do novo credor. É isso que diz o art. 196.
Então, é claro que a premissa para a aplicação do art. 196 é que haja
sucessão, ou seja, ele se aplica para a cessão de crédito, mas não se aplica para
novação subjetiva ativa. Porque se houver novação subjetiva ativa além de mudar o
credor vai surgir uma nova relação jurídica e, portanto nós não estaremos diante de
uma hipótese de sucessão, o prazo prescricional vai começar do zero.
E aí quando o prazo volta a fluir? Se não houver partilha antes para H2 e H3,
o prazo volta a fluir quando H1 fizer 16 anos. Mas cuidado com essa armadilha, porque
se não pensarmos bem tendemos a falar 18 anos. Mas na verdade não corre
prescrição contra absolutamente incapaz, mas flui contra relativamente incapaz, então
se não houver partilha antes para H2 e H3 o prazo vai fluir quando H1 fizer 16 anos.
Questão simples que caiu na prova da Defensoria, não havia esse dispositivo
no código anterior, é o art. 192 do código civil. Dentro desse ambiente em que a
prescrição seria matéria de ordem pública, o art. 192 do código passa a dizer que os
prazos de prescrição não podem ser alterados por acordo das partes.
Pergunta.
Por exemplo: o art. 197, I diz que não corre prescrição entre cônjuges na
constância da sociedade conjugal. Então, se a dívida é contraída quando casados a
pendência do casamento vai ser uma causa de impedimento, o prazo não vai sequer
começar. Se eles são solteiros, amigos e surge a dívida, há o vencimento e
posteriormente venha a se casar nós teremos uma causa de suspensão.
Quem discorda dessa posição de maneira isolada é o Ricardo Fiuza, que tem
uma posição discordante que na verdade o argumento aqui seria basicamente o fato
de como a prescrição busca a paz social, as causas de impedimento, suspensão e
interrupção se submeteriam a um rol taxativo, porque essas causas estão de algum
modo dificultando o atingimento da paz social. Só que claro, numa perspectiva civil e
constitucional, essa visão acabaria não resistindo a aplicabilidade em relação a união
estável.
Pergunta.
O art. 197, II diz que não corre prescrição entre ascendentes e descendentes
durante o poder familiar, cuidado com a armadilha na prova objetiva “durante o poder
familiar”. Quer dizer, se houve emancipação, por exemplo, cessa o poder familiar, volta
a fluir. Se houve adoção e obviamente a destituição do poder familiar, o prazo volta a
fluir da prescrição em relação ao pai biológico e passaremos a ter uma causa
suspensiva em relação ao adotande.
Sabe o que é tormentoso aqui e a doutrina não faz alusão? Vamos supor que
o pai tenha uma dívida em relação ao filho e o pai emancipa voluntariamente o filho,
qual seria o efeito da emancipação voluntária em tese? O início do prazo prescricional,
só que isso beneficia o próprio pai que concedeu a emancipação voluntária.
O inciso III prevê que não corre prescrição entre tutelados e curatelados e
seus tutores e curadores durante a tutela ou curatela. O objetivo da regra é proteger a
relação entre tutor e tutelado e curador e curatelado.
Até porque tal qual a tutela, a guarda é um dos meios de colocação em família
substituta e a mesma lógica que busca prestigiar harmonia entre tutores e tutelados se
justificaria para resguardar a relação entre o guardião e o incapaz.
Vamos fechar esse primeiro tempo com uma perguntinha de prova oral? O art.
197 que acabamos de ver diz lá “não corre a prescrição”, o art. 198 artigo, que
veremos após o intervalo, diz assim “também não corre a prescrição”. Por que o
legislador não trouxe um artigo só tratando de todas as hipóteses? Não parece fazer
sentido termos dois dispositivos para tratar da mesma questão.
Há uma razão de técnica legislativa, porque vejam bem, no art. 197 que
acabamos de tratar, o objetivo do legislador é proteger relações socialmente
importantes. Quer dizer, no inciso I o casamento, o inciso II o poder familiar e o inciso
III a tutela e a curatela.
Qual o efeito prático dessa afirmativa em que o art. 197 busca a proteção da
relação? É que a incidência do art. 197 é bilateral. Porque vejam, quando o código diz
que não corre prescrição entre os cônjuges, o objetivo do art. 197 não é proteger um
dos indivíduos em relação ao casamento e sim a relação em si. Conseqüentemente não
corre prescrição entre cônjuges, não corre prescrição entre ascendentes e
descendentes, não corre prescrição entre tutor e tutelado e entre curador e curatelado,
porque o objetivo não é a proteção unilateral e sim a proteção da relação.
Já no art. 198, que passaremos a ver daqui a pouco, não. Nele a regra busca
proteger determinada pessoa. Por exemplo: no inciso I, como nós sabemos, se diz lá
que não corre prescrição contra absolutamente incapaz, mas corre a favor do
absolutamente incapaz. O objetivo da regra não é a proteção da relação e sim a
proteção do incapaz especificamente.
Intervalo...
Prosseguindo, vamos começar a análise do art. 198, I. Este artigo prevê que
não corre prescrição contra absolutamente incapaz. Tem uma questão aqui que é
importante e é a seguinte dúvida: vamos supor que a hipótese seja de incapacidade
absoluta superveniente, quer dizer, as partes celebram contrato no estado de capazes,
vencida a dívida, a prestação não é cumprida e um dos contratantes se torna
deficiente mental. A dúvida é: se para aplicar o art. 198, I como causa suspensiva da
prescrição, é pressuposto que haja sentença de interdição? A dúvida, portanto é se a
sentença de interdição é pressuposto para aplicação do art. 198, I no caso de
incapacidade absoluta superveniente.
capacidade, a incapacidade resulta da sentença. Por isso vimos na primeira aula que a
posição hoje predominante é no sentido de que a sentença não tem natureza
constitutiva. Então, enquanto não houver sentença, o sujeito é capaz e, portanto ele
não é beneficiado pela regra do art. 198, I.
Então, entendendo que o deficiente mental não pode ser prejudicado por
eventual desídia de seus familiares ou pela demora da prestação jurisdicional, vários
autores afirmam que a sentença não seria pressuposto a aplicação do art. 1908, I.
Agora, para aplicar o art. 198, I é preciso que haja comprovação de que na época do
ato, o sujeito já padecia da ausência de discernimento, em se comprovando...
Percebam, seria uma espécie de efeitos retroativos da sentença de interdição, para fins
de suspensão ou impedimento do prazo prescricional.
Eu fiz uma pesquisa no STJ e achei um julgado em favor dessa segunda tese:
RESP 550615 e para a primeira tese, um julgado mais antigo Recurso Ordinário em
Mandado de Segurança, ROMS 20512, STJ.
O sujeito tinha prazo de 120 dias para impetrar mandado de segurança, enfim
não se valeu do prazo em que pese a interdição ter sido pronunciada posteriormente, o
STJ entendeu que não caberia impetração do mandado de segurança porque escoado
o prazo de 120 dias, em pese a interdição reconhecida após esse prazo, não admitiu
efeitos retroativos para fins de suspensão do prazo de 120 dias.
O inciso II a princípio não traz muita dificuldade, diz lá: contra os ausentes do
país, dos estados e dos municípios... É claro e evidente que a regra se aplique ao DF, o
legislador atual não corrigiu a lacuna do código de 16.
Acho que dá para fazer um meio termo, por que qual é a ratio do dispositivo
aqui? A ratio não é impedir que venha a se consumar a prescrição para aquele que
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Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
está fora do país atendendo interesse público. Se nós pensarmos que as empresas
públicas e sociedades de economia mista podem prestar serviço público ou
desenvolver atividade econômica, parece no mínimo sustentável, tratamento
diferenciado.
Quer dizer, o sujeito está no exterior a favor de uma empresa pública que
presta serviço público, ele está no exterior em homenagem ao interesse público e
conseqüentemente mais plausível, mais justificável a aplicação do art. 198, II. Se por
ventura a empresa pública ou sociedade de economia mista desenvolve atividade
concorrencial, atividade eminentemente econômica, talvez perca força a tese da
aplicação do art. 198, II.
Vamos para o artigo 199, I que diz que não corre prescrição pendendo
condição suspensiva. A regra parece obvia porque uma das premissas da prescrição é
que haja lesão ao direito, que haja a pretensão e se há pendência de uma condição
suspensiva, como nós vimos, o negócio jurídico não é se quer eficaz. Quer dizer, ele
não produz efeitos enquanto não houver implemento da condição suspensiva.
Há uma ponderação aqui, mais uma vez do Câmara Leal, que nesse caso é
seguido por Humberto Theodoro Júnior e também pelo Tepedino, dizendo o seguinte:
vamos supor que alguém tem uma pretensão embasada num título contestado
judicialmente, se for um titulo extrajudicial na ação anulatória, se for um titulo judicial
na ação rescisória. Quer dizer, tem um questionamento judicial acerca da validade do
título que embasa a pretensão do autor. Vejam, a efetividade da pretensão autoral não
está subordinada a prestação jurisdicional? Se a prestação jurisdicional refutar o título,
cessa a pretensão; se a prestação jurisdicional reconhecer como válido o título, a
pretensão ela é exercitável.
Então, na verdade, esses autores defendem que quando alguém tem uma
pretensão embasada num título de objeto de questionamento judicial, a efetividade
dessa intervenção ela estaria subordinada ao resultado da prestação jurisdicional e o
resultado a prestação jurisdicional é um resultado futuro e incerto. Então, a pendência
de questionamento judicial sob um título do qual resulta a pretensão geraria uma
causa de impedimento ou suspensão do prazo prescricional. Posição defendida pelo
Câmara Leal, Humberto Theodoro Júnior e Gustavo Tepedino.
E o inciso II diz que não corre prescrição não estando vencido o prazo, quer
dizer, na verdade não estando vencido o prazo não houve lesão ao direito. Esses dois
dispositivos eles são muito aplicados lá na usucapião.
Vamos ver mais adiante o art. 1244 diz que as causas de impedimento,
suspensão e interrupção da prescrição também gera o impedimento, interrupção e
suspensão do prazo para usucapião. Então, tudo isso que estamos vendo para a
prescrição, para o art. 1244 se aplica também para a usucapião.
261
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Seria uma hipótese excepcional em que aquele que vem usucapir propriedade
resolúvel também vai adquirir propriedade resolúvel, apesar da usucapião ser aquisição
originária. Usamos o art. 199, I e II com base no art. 1244.
Pergunta.
O inciso III diz que não corre prescrição pendendo ação de evicção, aqui a
questão é bem clara, por que na evicção o que nós teremos? Exemplo prático, furto do
automóvel: o meliante furta o automóvel e aí o meliante transfere o bem para o A, o A
para o B, o B para o C e o C para o D.
Tem uma regra no art. 321 nº2 do código português e para justificar essa
afirmativa dá para trazer a colação o art. 183 do CPC o qual prevê que por justo
impedimento é possível mitigar as lógicas dos códigos processuais peremptórios. Ainda
que peremptório o prazo, se houver justo entendimento, o art. 183 do CPC admite a
concessão da dilação de eventual prazo peremptório. Claro que não é a mesma coisa
da prescrição, estaríamos falando basicamente de preclusão, mas o mesmo raciocínio
aqui aplicado.
Numa interpretação macro aqui, o art. 202 traz três incisos para causas
interruptivas. Nos incisos de I a V quem interrompe a prescrição é o credor, quer dizer,
regra geral a interrupção da prescrição de corre de uma iniciativa do credor. Só que
anomalamente no inciso VI prevê uma hipótese em que o próprio devedor interrompe
a prescrição (art. 202, VI).
O que estou querendo dizer é que o objetivo central é evitar que o credor
reiteradamente interrompesse a prescrição, o prazo voltaria do zero e ele sempre
preservaria a possibilidade do exercício da pretensão.
Vamos fazer uma reflexão crítica aqui sobre isso, vamos imaginar que haja um
prazo prescricional de 10 anos, prazo ordinário, venceu a dívida ontem. O inciso VI
prevê que o devedor interrompe a prescrição quando ele próprio reconhece o direito
do credor.
263
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Vamos supor que dois dias depois de vencida a dívida o devedor reconheça o
direito do credor, sem nenhum motivo, interrompeu a prescrição não é isso? Pela
literalidade do art. 202 não cabe mais interrupção, não dá para pensar ou no mínimo
sustentar aí fraude a lei, abuso do direito? Porque vejam que uma interrupção
provocada sem motivo pelo devedor dois dias depois de vencida a pretensão,
aniquilaria do credor a possibilidade, por completo, de provocar qualquer outra causa
interruptiva.
Tem mais uma ponderação e que é defendida pelo Tepedino que é o seguinte:
a grosso modo, no inciso I interrompe a prescrição o credor que ingressa em juízo, nos
incisos de II a V o credor interrompe por outros meios (protesto cambial, quando
constitui em mora o devedor, etc...).
Olha o problema que pode surgir aqui: vamos imaginar que o credor efetue
protesto cambial, interrompeu a prescrição, depois do protesto o prazo volta a fluir do
zero. Antes de consumado o prazo prescricional o credor ingressa em juízo, se
aplicarmos literalmente o art. 202, caput o que vamos dizer? Não interrompe de novo e
o risco seria a consumação da prescrição na pendência da prestação jurisdicional. Quer
dizer, você exercer uma pretensão em juízo antes de ultimado o prazo, poderia vir a
ser prejudicado com a consumação da prescrição inclusive por conta de eventual
delonga na prestação jurisdicional.
Então, o que o Tepedino afirma aqui é que na verdade o art. 202, I teria o
condão de propiciar uma segunda causa interruptiva da prescrição.
Pergunta.
Resposta: talvez o que o autor esteja querendo dizer é que na verdade não
seria admissível dentro dessa mesma ótica do Tepedino, não seria admissível que não
venha a se admitir uma segunda causa interruptiva quando o credor ingressa em juízo,
porque é via própria para o exercício da pretensão.
Pergunta.
Resposta: esse inciso I aqui, o Tepedino não chega a dizer isso não, mas seria
facilmente adaptável, aplicado por analogia nessa mesma lógica, ao inciso II (protesto
medida cautelar).
Acho delicado a aplicação por analogia do ato judicial que constitui em mora o
devedor, porque na verdade se ele já protestou cambialmente, por exemplo, quer dizer,
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Acho que fica melhor equacionado, para não se correr risco, a tese do
Tepedino é mais segura, quer dizer, seria admissível uma 2ª causa interruptiva quando
essa 2ª causa for um ingresso em juízo no exercício da pretensão. Sob pena de
corrermos o risco de vermos uma pretensão consumada quando o sujeito ingressou na
via judicial antes de ultimado o prazo prescricional, acho que fica mais sistematizado,
acho que se corre menos risco.
Vamos ver então as principais hipóteses. O inciso I começa dizendo assim: por
despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o interessado a
promover no prazo e na forma da lei processual ...
Pergunta.
Para prova de processo civil, sugiro até que conversem com prof. de processo,
até já conversei com alguns e todos afirmam peremptoriamente rol taxativo cabe ao
credor interromper por outros meios.
Tem outra questão importante que é a seguinte: vamos supor que tenha um
contrato com cláusula compromissória. Então, diante dessa cláusula as partes se
comprometeram levar todo e qualquer litígio ao juízo arbitral. Se há cláusula
compromissória e uma das partes provoca o juízo arbitral, a provocação do juízo
arbitral interrompe o prazo prescricional? Quer dizer, é possível aplicar extensivamente
o art. 202, I ao ingresso no juízo arbitral se há cláusula compromissória? Se há
cláusula compromissória, a via adequada para a parte buscar a admissão de qualquer
litígio, a princípio não seria via judicial, seria via arbitral e na verdade a via arbitral
seria aplicável por analogia a hipótese desde que haja cláusula compromissória.
266
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Vamos tomar cuidado aqui com o seguinte: pelo art. 202, I ou o despacho
liminar ou a citação interrompe, exceções: litispendência e coisa julgada. Porque na
hipótese tanto de litispendência como de coisa julgada, o efeito interruptivo se deu na
relação processual anterior. Então, o reconhecimento da litispendência ou da coisa
julgada, afastaram o efeito interruptivo do despacho ou da citação da segunda relação
processual.
Querem ver outro exemplo mais delicado ainda em que não há sequer a
titularidade do direito? Seguro, vamos supor que haja um contrato de seguro firmado,
vamos supor que a seguradora seja responsável por um contrato de transporte e haja
um terceiro que tenha dado causa a um acidente decorrente daquele contrato de
transporte.
abrange a falência. Só que nós vimos que o art. 6º da lei de falência diz que um dos
efeitos de sentença de falência é a suspensão do prazo prescricional.
O que o art. 397, §único traz de novo, está lá na parte final que diz: não
havendo termo a mora se constitui mediante interpelação judicial ou extrajudicial. O
legislador passa a prever a possibilidade da interpelação extrajudicial interromper a
prescrição, novidade do código.
Tem outro argumento que acho mais convincente, é a alteração que nós
vimos do art. 202, III que agora prevê que o protesto cambial interrompe, outra
novidade, e o protesto cambial tem natureza extrajudicial. Quer dizer, seria
desarrazoado, numa interpretação sistemática, que o protesto cambial de natureza
extrajudicial interrompa a prescrição e a interpelação judicial constitutiva da mora não
produzir o mesmo efeito. Defendem essa posição Humberto Theodoro Júnior e
Gustavo Tepedino.
Pergunta.
Pergunta.
Tem uma exceção a isso só que é o art. 206, §1º, I pretensão do hospedeiros
ou fornecedores de víveres, enfim, o prazo era de 6 meses e agora passou para 1 ano,
mas em regra os prazos ou foram mantidos ou reduzidos. Prazo ordinário era de 15, 20
ou 10 e agora sempre de 10 anos.
Nesse sentido, Enunciado 50 do CJF e tem inúmeros julgados, mas vou dar o
último Informativo, Informativo nº 368 do STJ, RESP 966319.
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Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Outra questão aqui pertinente é a seguinte: o art. 2028 ele é regra do direito
intertemporal não apenas para prescrição, mas também para usucapião, é regra geral
de direito intertemporal.
Só que vejam, 15 dali para frente mais 9 que passaram daria 24, prazo maior
do que o código de 16 quando o objetivo do legislador foi reduzir o prazo. Então, a
doutrina que também já construiu a idéia de afirmar o seguinte: o prazo do novo
código se aplica a vigência tendo como limite temporal o prazo do código de 16. Então,
o prazo vai começar a fluir a partir da vigência, mas esse computo a partir da vigência
não pode superar o prazo da legislação de 16.
Nesse sentido Enunciado 299 do Conselho que diz a mesma coisa, só que com
outras palavras que particularmente acho mais confusa, mas pode o examinador jogar
lá na prova objetiva, ele diz assim: “O prazo flui a partir da vigência, salvo se, contado
dessa forma, o prazo for maior do que o código velho porque se for maior do que o
prazo do código velho a gente passa a aplicar o código de 16”.
Só que o art. 207 desmente essa afirmativa anterior, ele diz que salvo
disposição legal em contrário não se aplicam a decadência as normas que impedem,
suspendem ou interrompe a prescrição.
Vamos jogar decadência legal para um lado e convencional para outro, prova
objetiva. Decadência legal é irrenunciável, art. 209. A decadência convencional é
renunciável, principio da autonomia privada.
FIM.
Aula 10 – 04/11/08
Por que essa lógica teria se tornado insuficiente a luz da boa fé objetiva? Por
conta dos deveres anexos e indiscutivelmente os deveres anexos vinculam não apenas
o devedor, mas também o credor.
Então, diante dos deveres anexos da boa fé objetiva, que vinculam ambas as
partes, o que sustenta que não mais seria admissível a lógica de que na relação
obrigacional de que não apenas o credor exerce pretensões em relação ao devedor, na
verdade o devedor também exerce pretensões em relação ao credor, notadamente no
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Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
que diz respeito aos deveres anexos. Daí a afirmativa de que a relação obrigacional
deixa de ser uma relação de subordinação e passa a ser uma relação de cooperação.
Essa visão ainda bastante introdutória, nos remete a uma outra questão que é
a idéia da obrigação como um processo. Idéia muito bem trabalhada pelo Clóvis Couto
e Silva, repetida por outros autores e muito bem difundida pela Judite Martins Costa e
pelo Gustavo Tepedino, que é a idéia da obrigação como um processo.
Tem um caso que costumo comentar em sala porque ele ilustra bem isso, foi
um caso concreto que aconteceu na Justiça do Trabalho: foi feito um acordo entre o
reclamante e o reclamado e por esse acordo o reclamado se comprometeu a pagar ao
reclamante mil reais na secretaria da Vara, numa determinada data X. O reclamado
compareceu na data convencionada, pagou os mil reais só que em moedas de 50
centavos, despejou as moedas lá no balcão. Posteriormente o reclamante ingressou
com uma ação por danos morais e nesta ação por danos morais foi feito um novo
acordo só que agora no valor de dois mil reais, quer dizer, o dobro do acordo anterior.
Esse exemplo demonstra que no contexto atual não basta um mero acordo e
respectivo cumprimento, é preciso que haja a observância dos deveres anexos, nesse
caso o dever anexo de cooperação e de colaboração. Quer dizer, num outro contexto,
seria inimaginável essa solução porque o acordo foi cumprido e a moeda tem curso
forçado no território nacional, sem dúvida é uma nova perspectiva no direito
obrigacional.
Muitos no passado criticavam a teoria dualista porque muitos diziam que essa
teoria não teria importância prática, muitos afirmavam onde há o débito, há
responsabilidade e onde há responsabilidade, há o débito.
272
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Tem até um Julgado do STJ, Informativo 315, que era uma dívida envolvendo
agenciador de jóquei clube e essa atividade é regulamentada legislativamente, o STJ
ressaltou que aquela obrigação era de natureza civil e não natural.
Vamos tomar cuidado para não confundir, dar esmola para uma pessoa
carente é obrigação natural? Não, ou seja, não confundir obrigação natural com mero
dever de consciência, porque é da essência da obrigação natural que não haja
responsabilidade, mas que haja débito, quer dizer, na obrigação natural há débito.
Quem traz uma leitura diversa dessa que nós estamos colocando aqui, que é
pacificada, quem diverge disso é o Arnaldo Rizzardo que traz a lógica da obrigação
natural encampando o dever de mera consciência, mas é uma posição isolada.
Vamos nos lembrar aqui de uma regra que já vimos aqui na aula anterior que
está dentro desse contexto agora, que é aquela regra do artigo 882: aquela questão
da irrepetibilidade de pagamento de dívida prescrita, vocês estão lembrados? Basta
recordar o que vimos na aula passada, quer dizer, quando há obrigação natural o
pagamento é devido, ele apenas não é exigível porque não há responsabilidade, mas
há o débito.
Para justificar essa posição, vale a pena trazer a colação o art. 191 que vimos
na aula passada, que traz a renuncia da prescrição. Quando o sujeito renuncia a
prescrição ele vai cumprir uma obrigação natural e aí o art. 191 diz que a renuncia da
prescrição... Diz que não pode prejudicar terceiro. Então, pela própria sistemática do
art. 191 é possível se afirmar que teríamos essa outra exceção aí.
Uma interpretação, claro que por analogia, porque os institutos são diferentes,
novação é uma coisa e interrupção da prescrição é outra, mas enfim é no mínimo
sustentável essa visão sistemática.
Para registro, saiu um Julgado no Informativo nº 362 do STJ dizendo que não
ofende a ordem pública a concessão do exequato para citar alguém no Brasil para que
se defenda em ação de cobrança de divida de jogo autorizado em estado estrangeiro.
Propter rem basicamente significa “por causa do bem”, qual a idéia básica
desse tipo de obrigação? A característica básica é que a obrigação propter rem decorre
de um direito real pré existente. Ou seja, de um direito real surge uma relação jurídica
obrigacional, o exemplo mais conhecido é o das quotas condominiais.
O código atual deixa claro a natureza propter rem no art. 1345, diz que o
adquirente de unidade responde pelos débitos do alienante em relação ao condomínio
inclusive multas e juros moratórios.
Tem um Julgado aqui do STJ sobre essa questão no Informativo nº 341. Ele
diz que o arrematante do imóvel arca com as quotas condominiais pretéritas e
eventualmente ele terá direito de regresso, mas cabe ao arrematante suportar as
quotas condominiais justamente por se tratar de obrigação propter rem
Pergunta.
Pergunta.
275
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Também vem sendo tratado pela jurisprudência como obrigação propter rem
as normas que impõe a preservação ambiental. Quer dizer, se o alienante descumprir
uma norma ambiental e for necessário reflorestamento de parte da área, quem vai
responder vai ser o adquirente. RESP 343741 e RESP 282781.
Vamos dar início agora a análise da chamada teoria dos riscos, que vem
disciplinada nos artigos 233 e seguintes. Todos seguramente sabem que o direito
brasileiro adota o chamado sistema obrigacional, ou seja, a luz do sistema obrigacional
o contrato não tem o condão de transferir a propriedade.
Quem enfatiza muito esta questão é o Tepedino, ele diz que a teoria dos
riscos ela ganha uma repercussão significativa no Brasil por conta do sistema
obrigacional porque se no Brasil o contrato transferisse a propriedade, a teoria do risco
não teria tanta relevância porque o contrato por si só já transferiria a propriedade e aí
a solução viria com menos dificuldade. Aplicaríamos até aquela lógica res perit domino,
ou seja, a coisa perece para o dono.
A grosso modo, qual seria o primeiro caminho para o credor? Ele é obrigado a
aceitar o bem deteriorado? Não, o primeiro caminho para o credor seria rejeitar a
coisa. O outro caminho seria aceitar o bem com abatimento do preço, ressaltando
inclusive que esse direito de escolha para o credor que decorre da deterioração tem
natureza jurídica de direito potestativo.
Vamos começar a conjugar para criar um sistema, isso cai muito em prova
objetiva, e normalmente não se tem o código em mão. Então vejamos: a 1ª hipótese é
de perda sem culpa, se não há culpa não cabe perdas e danos. A 2ª hipótese é de
perda, não há como o credor exigir a prestação acordada. Então, perda sem culpa qual
é a solução aí? Resolve-se a obrigação, art.234, 1ª parte, que significa retorno aos
status quo ante.
277
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Exceção ao art. 234, 1ª parte: existem algumas e vou destacar duas que são
as principais. O art. 393, parte final que diz: o devedor não responde pelos prejuízos
resultantes de casos fortuitos ou força maior se expressamente não se houver por eles
responsabilizado. Quer dizer, o próprio art. 393 permite assunção de riscos pelo
devedor para caso fortuito e força maior, então, se houver tal assunção a princípio a
solução não vem com o art. 234, 1ª parte, quer dizer, o devedor responderá por
perdas e danos.
Cuidado com o seguinte: o art. 393, parte final é exceção, só que tem uma
exceção da exceção: não se aplica o art. 393, parte final em se tratando de contrato
de adesão por força do art. 424 que diz que nos contratos de adesão são nulas a
cláusulas que estipulem a renuncia antecipada do aderente a direito resultante da
natureza do negócio.
Tem lá outra exceção bastante expressiva ao art. 234, 1ª parte que está no
art. 399 que é aquela hipótese do devedor em mora, ele reponde ainda que por caso
fortuito ou por força maior, se esses eventos ocorrerem durante o atraso injustificado,
durante a mora.
Vamos supor que a parte tenha pago apenas 30% do bem, um financiamento
por exemplo, e haja o perecimento culposo. É claro que não vai ser o equivalente ao
valor integral do bem e mais as perdas e danos porque haveria enriquecimento sem
causa. Se nenhum montante foi pago, nós não teremos o equivalente, nós só teremos
perdas e danos. Então, equivalente entenda-se daquilo que havia sido objeto de
pagamento.
Pergunta.
Resposta: sim, vamos ver no art. 399 que o código, antes da parte final, diz
“salvo se provar isenção de culpa”. Só que vamos ver que esse artigo na verdade gera
278
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
muita polêmica. Primeiro, porque se não há culpa... Porque vejam, o art. 399 trata de
caso fortuito e força maior, não é isso? Então, numa primeira perspectiva se afirma que
não faria sentido a isenção de culpa porque o art. 399 está tratando de caso fortuito e
força maior e se é essa a hipótese não haveria culpa.
Aí uns tentam salvar o dispositivo dizendo que na verdade não seria culpa no
evento e sim culpa no atraso, na mora. É o que a maioria afirma, só que a bem da
verdade, nós veremos que se não há culpa na mora, se não há culpa no atraso, não há
mora do devedor, o art. 396 que prevê como requisito subjetivo para a mora do
devedor que haja culpa dele. Então, na verdade se não houve culpa no atraso, não
haveria mora do devedor por força do art. 396, ou seja, o legislador perdeu uma boa
oportunidade de suprimir a expressão “isenção de culpa”.
Mas enfim, a questão não envolveria a culpa na perda em si. Isso é pacifico, a
discussão é seria a culpa na mora ou não, ou seja, não repercute aqui na nossa
questão especificamente.
Diz o art. 313 que o credor não é obrigado a receber prestação diversa da que
lhe é devida ainda que mais valiosa, ou seja, a idéia do pacta sunt servanda, quer
dizer, o bem deteriorado não corresponde as qualidades originárias do bem e por isso o
credor não é obrigado a aceitar o objeto deteriorado.
Vale a pena fazer um registro, que os civilistas em geral não fazem, mas me
parece oportuno. O código civil trouxe toda a sistemática da deteriorização, com ou
sem culpa enfim, direito potestativo, escolha. Mas vejam se aplicável, se cabível a
espécie, toda essa sistemática do código civil não exclui o cabimento de tutela
especifica e lembrando que o legislador processual prevê a tutela especifica para as
obrigações de dar, artigo 461A do CPC. Quer dizer, nada impede que o credor, ao invés
de optar pela resolução, pelo abatimento do preço, imponha ao devedor um reparo do
bem deteriorado, inclusive com todas as medidas aplicáveis lá na tutela especifica.
Pergunta.
279
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
O art. 237 em sua literalidade não traz muita dúvida não, é o seguinte: até
aqui nós vimos hipóteses de que entre a celebração do contrato e a tradição há um
bem que ou se perdeu ou se deteriorou. É possível que ocorra o contrário, é possível
que entre a celebração do contrato e a tradição aquele bem venha a sofrer
melhoramentos, acréscimos. Quer dizer, tais melhoramentos ou acréscimos sobrevindo
a coisa, podem vir a causar valorização ao bem.
Pergunta.
O que o art. 237 basicamente diz? Até a tradição, o bem pertence ao devedor,
então os melhoramentos ou acréscimos sobrevindos ao bem também pertence ao
devedor (principio da gravitação jurídica). Então, como esses melhoramentos ou
acréscimos pertencem ao devedor, o art. 237 autoriza o devedor a exigir o aumento do
preço acordado.
Então, sempre fazer a remissão aí do art. 237 para o art. 96, §1º trata de
benfeitoria voluptuária, combinado com o art. 422 que trata da boa fé objetiva.
Pergunta.
Pergunta.
280
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Pergunta.
Pergunta.
Resposta: porque o art. 450, §único é como se ele tivesse uma regra
específica porque na evicção especificamente, o legislador prevê o preço. Seja evicção
total ou parcial, será o do valor da coisa na época em que se venceu e proporcional ao
desfalque sofrido em caso de evicção parcial.
Na verdade, nós temos uma regra específica de evicção porque ela decorre de
causa anterior a própria aquisição do domínio. Na hipótese suscitada pelo colega, a
desvalorização me parece decorreria de causa superveniente, a questão me parece
ficaria mais afinada com a própria lógica da onerosidade excessiva porque a evicção
tem pressupostos bem distintos, ela decorreria de causa pré-existente.
Pergunta.
Só que vamos ver que o CDC teve uma postura mais protetiva, ele não exige
imprevisibilidade e extraordinariedade, o objetivo é a proteção do consumidor. Então, o
próprio âmbito da onerosidade excessiva vai avaliar se é relação de consumo ou se é
relação sujeita ao código civil. Quer dizer, numa compra de maquinários, a lógica
aplicada é a do código civil e não a do CDC, vai variar de acordo com a circunstancia.
Pergunta.
Resposta: não necessariamente, olha só, a doutrina não chega a fazer essa
restrição, ao contrario, alguns chegam a afirmar (essa posição é minoritária) que
melhoramentos diferenciaria da benfeitoria para diferenciar o art. 237 da lógica das
benfeitorias. Porque a benfeitoria decorre necessariamente da atuação humana e há
quem defenda que, quando o código usou a expressão melhoramentos, ele estaria
281
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Pergunta.
Só que cuidado aqui, vamos olhar o art. 241, porque isso aqui dá pano para
manga e pode se enrolar. O art. 241 trata de obrigação de restituir e ele diz assim: se
no caso do art. 238 sobrevier melhoramento ou acréscimo a coisa sem despesa ou
trabalho do devedor, lucrará o credor desobrigado de indenização. Quer dizer, os dois
dispositivos demonstram que o melhoramento e o acréscimo podem decorrer ou não
de trabalho ou despesa.
Agora, muito cuidado com essa aplicação por analogia aqui porque no art. 241
o legislador está dizendo que lucrará o credor. Quem é o proprietário da obrigação de
restituir? O credor, qual é a lógica do código civil? A coisa não perece para o dono?
Não é o dono que suporta os riscos pela perda ou declaração sem culpa? Se o
proprietário arca com os riscos, o proprietário se beneficia com eventuais
melhoramentos que independem da atuação humana. Quer dizer, se houver uma
avulsão (deslocamento abrupto de terra)? Quem vai se beneficiar é o proprietário
282
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
porque se a coisa perece para o dono é justificável que o dono também se beneficie de
eventual melhoramento que não dependa da atuação humana.
Então, muito cuidado, porque vejam bem, vamos usar por analogia o art. 241
só que no art. 241 quem lucra é o credor, porque o proprietário na obrigação de
restituir é o credor.
Usando por analogia a obrigação de dar, quem é que vai lucrar? É o devedor,
é por analogia, mas na verdade o art. 241 fala em credor, mas na obrigação de dar vai
ser o devedor. Ou seja, se esse melhoramento ou acréscimo ocorrer de avulsão, o
devedor vai poder exigir aumento do preço, porque se ele suporta os riscos pela perda
ou deteriorização é justificável que o devedor proprietário venha a se beneficiar de
eventuais melhoramentos que independam da conduta de terceiros.
Vamos pensar o seguinte: aplicando o art. 1219 ele traz o mesmo tratamento
para benfeitoria necessária e útil, ou seja, pelo art. 1219 se o possuidor for de boa fé,
o devedor vai poder exigir no caso de benfeitoria útil, vai aplicar o art. 237 para
benfeitoria útil.
Por isso é criticável essa postura do código que seria na verdade defensável
aqui a aplicação por analogia do art. 35 da lei de locações e do art. 505 do código civil.
Nessas hipóteses, o que diz o legislador? O locatário ele só tem direito de exigir
indenização por benfeitorias necessárias e as úteis se autorizadas e por quê?
Obrigação de restituir.
No art. 505, pacto de retrovenda, lembra daquela história? Eu vendo para ela,
me reservo o direito potestativo de reaver o bem, o art. 505 diz que o proprietário
resolúvel, ela que adquiriu o bem, ela só tem direito a ser indenizada pela benfeitoria
necessária e a útil se autorizada. Quer dizer, se estou registrando isso por dois
motivos: dá para discutir isso numa prova dissertativa se não tiver limite de linhas ou
se a prova não for tão dissertativa assim, não se esqueçam que temos duas regras
especiais aqui que afastam a incidência dessa solução geral. Quer dizer, essa solução
por analogia não se aplica no caso de locação e no caso de pacto de retrovenda, isso é
incontroverso temos aí regras especiais.
caso de perecimento ou dolo sem culpa, a obrigação de dar os riscos correm para o
devedor e na obrigação de restituir os riscos correm para o credor.
É isso que ressalta o art. 238: se obrigação for de restituir coisa certa e esta
sem culpa do devedor se perder antes da tradição, sofrerá o credor a perda e a
obrigação se resolvera, ressalvados os seus direitos até o dia da perda. Então, se
estivermos diante de uma locação, até o dia da perda o locador fará jus aos aluguéis
correspondentes, quer dizer, o art. 238 ele nada mais estabelece do que res perit
domino.
O art. 239 não traz grandes ponderações aqui não, sem ler o dispositivo, trata
de perda com culpa na obrigação de restituir. Sem precisar ler o código qual é a
solução? Equivalente mais perdas e danos, está lá no art. 239.
O art. 240 tem duas partes. A primeira menos problemática, na primeira parte
o art. 240 trata de deterioração sem culpa na obrigação de restituir. Então, se não há
culpa, nós já sabemos que não cabe perdas e danos, ressalvadas as exceções que
vimos e na verdade há aqui uma peculiaridade, porque o bem se encontra deteriorado,
mas ele pertence ao próprio credor. Então, na verdade qual é a única solução aqui?
Receber o bem deteriorado.
Chamo muito atenção para a parte final do art. 240: se por culpa do devedor
observar-se-á o disposto no art. 239. Então, se for deterioração com culpa, aplica-se o
art. 239 e ele diz o equivalente e mais perdas e danos. Está certo isso? Não, está
errado, o código falhou aqui porque estamos falando de deterioração com culpa e
quando a gente ouvir deterioração temos que lembrar de que?
Então qual foi o equivoco do código? Foi se valer de uma regra de perda para
equacionar uma hipótese que é de deterioração, enunciado 15.
Intervalo.
Vamos prosseguir com as obrigações de dar coisa incerta, artigos 243 a 246.
será indicada ao menos pelo gênero e pela quantidade. Porque se não houver um
mínimo indicação de gênero e quantidade, o objeto será indeterminado e sendo
indeterminado não haverá negocio jurídico válido.
Tem uma discussão na doutrina que não tem muito efeito prático, vários
autores, Carlos Roberto Gonçalves, Arnaldo Rizzardo criticam a expressão gênero do
art. 243, para eles, melhor seria a expressão espécie. Lembram do projeto 6960 que
está arquivado no congresso? Esse projeto alteraria a redação do art. 243 e, ao invés
de gênero, o projeto inseriria a expressão espécie.
É uma discussão que não tem efeito pratico porque o que muitos afirmam é
que na verdade essa expressão gênero não corresponde necessariamente a definição
gênero no sentido técnico e jurídico, gênero no sentido de espécie.
O art. 252, IV trata de obrigação alternativa, por isso vem por analogia, diz o
art. 252, IV que se o titulo deferir a opção a terceiro e este não quiser ou não puder
exercê-la caberá ao juiz a escolha se não houver a acordo entre as partes.
A parte final do art. 244 vincula o devedor ao chamado termo médio, diz o
art. 244: nas coisas determinadas pelo gênero e pela quantidade a escolha pertence
285
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
ao devedor, se o contrário não resultar no título da obrigação, mas não poderá dar a
coisa pior e nem será obrigado a prestar a melhor.
Tem uma posição que podemos dizer hoje que está superada, que é uma
posição defendida pelo Silvio Rodrigues, manuais fazem alusão a essa posição dele. O
Silvio Rodrigues diz o seguinte: na verdade, o art. 244 teria vinculado apenas o
devedor ao termo médio e como conseqüência, afirma Silvio Rodrigues, se as partes
atribuírem a concentração ao credor este poderá exigir “a nata do gênero”. Quer dizer,
para o Silvio Rodrigues o legislador teria apenas vinculado devedor ao termo médio, o
credor poderia escolher o melhor.
Só que essa posição, ela vem sendo cada vez mais repudiada, porque na
verdade essa solução seria incompatível com o principio da boa fé objetiva. Na
verdade, o que inspira o art. 244 seria o princípio da boa fé objetiva e a vedação ao
enriquecimento sem causa.
Tem uma regrinha que traz uma exceção ao art. 244, parte final que é o art.
1931 lá no direito sucessório, diz lá: se a opção foi deixada ao legatário este poderá
escolher, do gênero determinado, a melhor coisa que houver na herança. Quer dizer, o
legatário não se vincula ao termo médio, se a escolha do objeto do legado lhe for
atribuída, art.1931 que é uma exceção ao art. 244, parte final.
Pergunta.
Claro que o art. 245 fala “certificado da escolha o credor”, pressupondo que a
concentração foi feita pelo devedor. Se por ventura, as partes atribuírem a
concentração ao credor entenda-se certificado da escolha o devedor.
Isso pode ter algum efeito prático? Por conta do artigo seguinte. A grosso
modo, vamos ver daqui a pouco, que na obrigação de dar coisa incerta o devedor ele a
principio continua a responder ainda que por caso fortuito ou por força maior.
O art. 246 é uma regra que cai com alguma freqüência, seguinte: regra geral,
o devedor se exonera na hipótese de caso fortuito ou de força maior. O art. 246 é uma
exceção ao art. 393, 1ª parte que diz que o devedor não responde por caso fortuito ou
por força maior. Por quê? Vou dar um exemplo: vamos supor que eu tenha me
comprometido a entregar 5 cavalos ao credor quaisquer e se tenho lá no meu sítio 10
cavalos e os 10 vem a falecer sem dolo ou culpa, eu estou exonerado? Não, eu que
corra atrás de outros 5 para cumprir o que havia sido pactuado porque genus
nunquam perit, o gênero nunca perece. É o que consta no art. 246.
Diz o art. 246: antes da escolha não poderá o devedor alegar perda ou
deterioração da coisa ainda que por força maior ou caso fortuito. Antes da escolha em
tese por quê? Porque depois a obrigação passaria a ser de dar coisa certa.
Pergunta.
287
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Piorando um pouco, eu tenho que entregar 5 dos 10, vamos supor que
venham a perecer 7 sem dolo ou culpa, restam 3, mas a obrigação era de entregar 5.
Aplicável por analogia a sistemática da deterioração sem culpa.
Será que vai caber mesmo sempre isso? Não, teoria do inadimplemento
substancial. Enunciados 361 e 371 que tratam da teoria do inadimplemento
substancial. Claro que o credor pode provar que só lhe interessa 49, mas a principio
aplicável a teoria do inadimplemento substancial.
Disco de vinil, vamos supor que não haja mais aquele disco de vinil disponível
no mercado, também inaplicável o art. 246. Quer dizer, o que a doutrina ressalta com
esses exemplos esparsos é que o art. 246 estabelece presunção relativa,
resumidamente é isso. Quer dizer, a principio, o devedor não responde, salvo se ficar
evidenciado que na verdade o devedor não teria como efetivamente cumprir o
pactuado.
288
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Pelo projeto 6960 parte final o art. 246 ficaria assim: salvo dívida genérica
limitada e quando se extinguir toda a espécie na qual a prestação se compreende.
Pergunta.
Resposta: depende, nada impede que se tenha obrigação de dar a coisa certa
envolvendo um bem fungível. Por exemplo, esse hidrocor, nada impede que
contratualmente se estabeleça especificações desse hidrocor aqui, nº de serie, enfim
nos teríamos a principio uma obrigação de dar coisa certa fungível, a autonomia
privada comportaria isso. Mas na ausência de qualquer elemento especifico envolvendo
a relação contratual, nós teremos a obrigação de dar coisa ??? com alguns
temperamentos.
Porque diante da fungibilidade, por exemplo, seria aplicado o art. 246 salvo se
houver alguma circunstancia especifica claro, se esse hidrocor tiver algum interesse
familiar, se for objeto de uma doação por um parente querido. Quer dizer, em tese, nós
teríamos uma obrigação de dar coisa certa pela autonomia privada se as partes assim
convencionarem, mas na ausência de algum ingrediente especifico nós teremos uma
sistemática anômala, porque dada a fungibilidade aquele bem é substituível por outro
de mesma qualidade, quantidade e espécie.
Essa classificação é importante para nós aqui, porque esses dispositivos, art.
247 ao art. 249, tratam das conseqüências do inadimplemento das obrigações de fazer.
Fica bem simples agora a leitura dos dispositivos, olha só, o art. 247 diz lá:
incorre na obrigação de indenizar perdas e danos o devedor que recusar a prestação a
ele só imposta ou só por ele exeqüível. Sem duvida, o art. 247 trata de obrigação de
fazer infungível.
Percebam que o art. 247 só se refere às perdas e danos porque o código civil
é de ???, faltou revisão aqui, então é importante fazer a remissão do art. 247 do
código civil para o art. 461 do CPC para lembrarmos que além das perdas e danos
cabe a tutela especifica.
O art. 249 diz lá: se o fato puder ser executado por terceiro, será livre ao
credor mandá-lo executar as custas do devedor, havendo recusa ou mora deste sem
prejuízo da indenização cabível. Sem duvida o art. 249 trata da obrigação de fazer
fungível. Vale inclusive a referencia desse art. 249, caput do código civil para o artigo
art. 634 do CPC.
O código atual trouxe uma novidade no §único do art. 249 que traz para o
código civil mais uma hipótese de autotutela, diz lá: em caso de urgência pode o
credor independentemente de autorização judicial, executar ou mandar executar o fato
sendo depois ressarcido. O pressuposto é que haja urgência, sem duvida, estamos
diante de um conceito indeterminado.
Obs: talvez essa regra não existisse se o código civil fosse editado hoje,
porque toda a tendência do direito civil é cada vez mais repudiar a hipótese de
autotutela e no contexto atual nós temos os mecanismos de tutela jurisdicional de
urgência que não existiam em ??? então talvez a regra não viesse a tona caso o código
fosse editado hoje.
Eu vou fazer uma inversão aqui, ao invés de tratar de obrigação de não fazer,
eu vou começar com as alternativas e depois voltamos para as obrigações de não
fazer.
Diz lá o dispositivo o seguinte: se uma das duas prestações não puder ser
objeto de obrigação ou se tornada inexeqüível subsistirá o débito quanto a outra.
291
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Então, se eu tenho que entregar o carro ou a jóia, o que o art. 253 está dizendo? Se
perece o carro, há concentração automática na jóia e o art. 253 na concentração legal
exclui perdas e danos, apenas diz que concentra na remanescente.
Diante disso, a doutrina firma que temos duas hipóteses de aplicação do art.
253, uma primeira mais simples, é se o perecimento se dá sem culpa de uma das
prestações. Porque se o perecimento não culposo a principio o devedor não responde
por perdas e danos, então a solução é concentrar automaticamente na remanescente.
Pensando numa prova dissertativa, só não vai aplicar isso quando? Naquelas
exceções, lembra que o devedor assume os riscos pelo fortuito, quer dizer, se o
devedor assume os riscos pelo fortuito e a concentração cabia ao credor, por exemplo,
aí vai poder optar ou pela subsistente ou pelo equivalente mais perdas e danos, mas
regra geral com perecimento sem culpa de uma concentra automaticamente na outra e
não há que se falar em perdas e danos.
O art. 254 traz uma redação extremamente confusa que diz: se por culpa do
devedor não se puder cumprir nenhuma das prestações, não competindo ao credor a
escolha, ficará aquele obrigado a pagar o valor da que por último se impossibilitou
mais as perdas e danos que o caso determinar.
Qual a diferença do art. 254 para o art. 253? É que no art. 254 a
impossibilidade por culpa se dá nas duas prestações e no art. 253 a impossibilidade é
de apenas uma, quer dizer, as duas se tornam impossíveis por culpa do devedor não
competir ao credor a escolha.
Vamos pensar aqui imaginando na prova objetiva, olha só, nós acabamos de
ver no art. 253 que tenho que entregar o carro ou a jóia, a concentração não cabe ao
credor, cabe a mim e eu dou causa ao crescimento culposo do carro, o que acontece?
Há concentração automática na jóia. Então, a obrigação que era alternativa passa a ser
de dar coisa certa, se eu dou causa ao oferecimento culposo da jóia é o equivalente da
jóia mais perdas e danos. Por isso, o equivalente do que por ultimo se perecer, mais as
perdas e danos, quer dizer, o art. 254 é uma decorrência do art. 253.
Por isso, inclusive muitos autores dizem que aquela segunda solução do art.
253 não está prevista no código, mas se interpretarmos sistematicamente aquela
segunda hipótese do art. 253 ela está implicitamente prevista no art. 254 porque a
292
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
premissa do art. 254 é a de que possamos aplicar o art. 253 naquela segunda
circunstancia.
Querem ver uma situação delicada e que o código também não enfrenta?
Vamos supor que temos a obrigação alternativa de dar o carro ou a jóia, a
concentração cabe ao devedor e embriagado e em excesso de velocidade destruiu o
carro. Concentração automática na jóia.
Vamos supor que haja o perecimento da jóia por caso fortuito e força maior,
se a gente for aplicar literalmente o código qual seria a solução? Resolve-se e o credor
nada poderia exigir. Mas, percebam que hoje, houve anteriormente um perecimento
culposo, então na verdade o que se sustenta é que nesse caso o credor poderia optar
pelo equivalente mais perdas e danos daquela primeira prestação perecida. Quer dizer,
nós não poderíamos aplicar nua e cruamente o direto positivo a luz do principio da boa
fé objetiva, seria possível o credor invocar o equivalente mais perdas e danos da
primeira prestação.
O único autor que achei tratando desse tema foi o Arnaldo Rizzardo, ele
explicitamente defende essa posição.
O art. 255 trata aí de uma hipótese que difere da que vimos até aqui porque
no art. 255 a concentração cabe ao credor e aí claro que a lógica é diferente porque se
a concentração cabe ao credor e há o crescimento culposo de uma das duas
prestações sem duvida há uma frustração ao direito potestativo do credor.
O art. 255, 1ª parte diz: quando a escolha couber ao credor e uma das
prestações tornar-se impossível por culpa do devedor, o credor terá direito de exigir a
prestação subsistente ou o valor da outra, com perdas e danos. Aí o código diz que o
credor pode exigir a prestação subsistente ou o valor da outra, com perdas e danos.
Qualquer que fosse a escolha do credor ele poderia exigir perdas e danos.
Inclusive o Leoni se apega bastante a literalidade do art. 255, porque ele diz: o credor
terá direito de exigir a prestação subsistente ou o valor da outra, com perdas e danos.
Quer dizer, essa vírgula teria o condão de propiciar ao credor possibilidade de exigir
perdas e danos, em qualquer das duas hipóteses.
A parte final do art. 255 resolve uma pergunta que normalmente é feita pelo
espírito de porco, seguinte: e se a jóia estiver dentro do carro? A parte final do art.
255 diz: se por culpa do devedor, ambas as prestações se tornarem inexeqüíveis,
poderá o credor reclamar o valor de qualquer das duas mais perdas e danos.
Para fechar, questão que cai sistematicamente e caiu nesta ultima prova para
advogados do BNDES. Não confundir obrigação alternativa com obrigação facultativa.
Na obrigação facultativa, que não tem previsão legal, não tem sistematização
legal, a prestação devida é apenas uma, porém, se reserva ao devedor a prerrogativa
de se eximir do vinculo obrigacional cumprindo prestação diversa.
Pergunta.
Resposta: não necessariamente, vai depender do que for acordado, quer dizer,
pelo principio da autonomia privada. Claro que, em termos práticos, o credor
normalmente vai barganhar isso, mas enfim nada impede que tenhamos um valor
similar e a prestação facultativa tendo que ser cumprida no mesmo prazo da prestação
principal.
294
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Pergunta.
FIM.
Aula 11 – 11/11/08
Só que, vamos tomar cuidado, porque o nosso código atual trouxe o §único
ao art. 1382, esse parágrafo não havia no código de 16, não existia antes e esse
§único agora diz: se o proprietário do prédio dominante se recusar a receber a
propriedade do serviente ou parte dela, caber-lhe-á custear as obras. Ou seja, com a
inserção do §único parece que o art. 1332 não mais trata de obrigação facultativa
propriamente dita porque esse parágrafo permite ao dono do prédio dominante
recusar o abandono e, obviamente, dentro da lógica das obrigações facultativas como
vimos, o credor não pode se recusar a receber a prestação facultativa, é um direito
295
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Vamos dar uma lida no art. 534, só nesse contexto que estamos vendo aqui,
diz lá: pelo contrato estimatório, o consignante entrega bens móveis ao consignatário e
fica autorizado a vendê-los pagando aquele preço ajustado, salvo se preferir, no prazo
estabelecido restituir-lhe a coisa consignada.
Por que muitos autores afirmam aqui que nós teríamos uma obrigação
facultativa? Porque o código diz “salvo se preferir”. Quer dizer, a obrigação a principio é
de vender e pagar o preço esperado pelo consignante, salvo se o signatário preferir
restituir-lhe a coisa consignada. Então, essa expressão “salvo se preferir” vários
autores afirmam que teríamos uma obrigação facultativa e nesse sentido temos
Gustavo Tepedino, Venosa, Arnaldo Rizzardo e Maria Helena Diniz.
Isso não chega a ser unânime, temos alguns autores que defendem que no
contrato estimatório, apesar da redação “salvo se preferir” do art. 534, alguns afirmam
que nós teríamos aqui uma obrigação alternativa.
Um dos argumentos seria a redação do art.535 que diz lá: o consignatário não
se exonera da obrigação de pagar o preço se a restituição da coisa na sua integridade
se tornar impossível ainda que por fato a ele não imputável.
Lembra da obrigação alternativa de que se perece uma das duas sem culpa,
concentração automática na outra (art. 253)? Quer dizer, o que essa 2ª corrente afirma
é que o art. 535 vem em harmonia com o art. 253 porque na verdade o art. 535
estaria estabelecendo uma concentração automática na remanescente, de maneira
coerente com uma das obrigações alternativas no art. 253.
Inclusive, esse argumento está dizendo que se fosse facultativa, o art. 535
seria desnecessário, porque se a obrigação de restituir é a prestação facultativa e há o
perecimento sem culpa da prestação facultativa, é claro que a prestação principal
permanece intacta. Quer dizer, o art. 535 seria desnecessário se por ventura se
tratasse de obrigação facultativa.
296
Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Salvo engano, nós pulamos as obrigações não fazer, não é isso? Sim, então
vamos lá. Obrigações de não fazer.
Elas estão disciplinadas nos artigos 250 e 251 e são sinônimo de obrigação
negativa. O próprio código civil usa essa terminologia obrigação negativa no artigo 390
e sugiro a remissão desses artigos 250 e 251 para o art. 390 que diz: nas obrigações
negativas o devedor é havido por inadimplente desde o dia em que executou o ato de
que se devia abster. Então, o art. 390 usa a expressão “obrigação negativa”, se
referindo as obrigações de não fazer.
Um campo muito fértil das obrigações de não de fazer, sempre foi os dos
direitos reais, tanto os direitos reais quanto os direitos da personalidade, sempre
propiciaram um âmbito muito fértil para a aplicação das obrigações de não fazer. Todos
sabem que em decorrência de um direito real, de um direito da personalidade surge
quase sempre um dever de abstenção que goza inclusive de oponibilidade erga omnes.
Tinha até uma questão que era discutida no direito empresarial e que agora o
código civil positivou, que era aquela discussão sobre a cláusula de não
restabelecimentos, estão lembrados? A discussão se o alienante, quando ele vendia o
estabelecimento, se ele poderia ou não se restabelecer na mesma localidade, na
mesma atividade se não houvesse cláusula proibitiva.
Quer dizer, toda discussão envolvia o que? Obrigação de não fazer decorrente
do dever anexo. O código agora trata do tema no art. 1147 que diz: não havendo
autorização expressa, o alienante do estabelecimento não pode fazer concorrência ao
adquirente nos 5 anos subseqüentes a transferência. Quer dizer, o art. 1147 impõe
uma obrigação de não fazer, sem dúvida sob a inspiração da boa fé objetiva.
mas por outro nós temos um legítimo interesse de acesso ao trabalho por parte do ex-
executivo.
Cuidado, caiu na prova para MPT, o art. 251 que além de contemplar perdas e
danos ele também prevê tutela especifica e qual seria a tutela especifica aí? O
desfazimento.
Pergunta.
Resposta: o nosso código atual, inclusive sobre essa questão, houve uma
mudança do código de 16 exatamente sobre esse tema aí.
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Módulo de Direito Civil – Fabrício Carvalho
Estou ressaltando isso porque soa muito estranho o fato de que toda a
doutrina afirma que essa classificação seria subjetiva, toda a doutrina afirma
“obrigação divisíveis, indivisíveis e solidárias classificação subjetiva”. Por que parece
estranho? Porque o que é divisível ou não é a prestação e a prestação é justamente o
objeto da relação obrigacional.
Só que na verdade essa classificação é tida como subjetiva porque ela ganha
relevância quando há pluralidade subjetiva, quer dizer, ela ganha relevância quando há
mais de um credor e ou quando há mais de um devedor. Quando não houver
pluralidade subjetiva, aplicável o art. 314 que estabelece a presunção de
indivisibilidade nas obrigações simples.
Diz o art. 314: ainda que as obrigações tenham por objeto prestação divisível,
não pode o credor ser obrigado a receber e nem o devedor a pagar por partes se
assim não se ajustou.
Quando o art. 257 usa a expressão iguais, entenda-se iguais sob o aspecto
quantitativo, então a presunção do art. 257 é de que se a divida é de 30 mil
envolvendo 3 devedores, cada um deles responde por 10 mil e obviamente nós
estamos diante de uma presunção relativa. Quer dizer, nada impede que as partes
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Uma das novidades que o código trouxe sobre o tema é o art. 258, não havia
esse dispositivo antes e diz assim: a obrigação é indivisível quando a prestação tem
por objeto uma coisa ou um fato não suscetíveis de divisão por sua natureza, por
motivo de ordem econômica ou dada a razão determinante do negócio jurídico. Na
prática, quase sempre a obrigação vai ser indivisibilidade por sua própria natureza da
prestação.
Só que o código diz que além da indivisibilidade pela natureza nós teríamos
também a indivisibilidade por motivo de ordem econômica. Quer dizer, notadamente
haverá indivisibilidade por motivo de ordem econômica, quando? Quando do
fracionamento, da divisão, as partes resultantes não obtenham valor proporcional.