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O NAVIO NEGREIRO

Era um sonho dantesco o tombadilho


Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.

Tinir de ferros estalar de aoite


Legies de homens negros como a
noite,
Horrendos a danar

Negras mulheres, suspendendo s tetas


Magras crianas, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mes:

Presa nos elos de uma s cadeia,


A multido faminta cambaleia,
E chora e dana ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Silncio. Musa chora, e chora tanto
Que o pavilho se lave no teu pranto!
Auriverde pendo de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balana,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperana
Senhor Deus dos
desgraados!
Dizei-me vs, Senhor Deus!
Se loucura... se verdade
Tanto horror perante os
cus?!
mar, por que no apagas
Com a esponja de tuas
vagas
De teu manto este borro?...
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufo!

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