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MIKHAIL BAKETIN (V. N. Volochinov) Marxismo e Filosofia da Linguagem Problemas fundamentais do. Método SociolGgico ra Ciincia da Linguagem ticio de Rowan JAKORSON ‘apresensagdo de Manisa Yaountto tradugao de Mucus Lanuo Yana FRaresca Visina com a colaborarao de [LOcin Tesxenea Wisin € CARLOS HENRIQUE D. Caaoas Cruz ina digo EDITORA HUCITEC ‘Sto Pablo, 1990 PREFACIO No lio publicdo com a assinatra de V. N, Volochinov em Leningrado," 1929-1930, em duss edicdes sucssivas sob ot alo de Marksigm i flosdfia laiha (Marxism e Filosofia ds Tinguagem), tudo, desde a pagina de tla, $8 pode surpreen- ‘er ‘Acabou-se descobrindo gue o liveo em questo ¢ virias outras ‘obras pablicadas no final dos anos wintee comego dos anos tinta tomo nome de Volochioov — como, por exemple, um volume Sabre a doutrina do feudismo (1927) c alguns sais sobre a Tin- ‘guagem na vida ena posi, assim como sobre a estrutura do eau lado — foram, na verdade, esritos por Bakhtin (1895-1975), lator de obras Jeterminanes sobre @ potica de Dosoieski ¢ de Rabelais. Ao que parece, Bakhtin recusave-s a fazer concessbes 3 fraseologia da épeca e a certos dogmas impostos aos autores. Os depts © dtcpulos do. pesqusador, petisuarmente Volochinov {aascido em 1895, desaparecido pelo fim de 1930), com um pseu nim eserupulosamente observado € gragas a alguns reloques ‘obrigatcios no texto at6-n0 titulo, tentaram um. compromisso ‘que pecmitia preservar 0 essencial do grande trabalho, ‘© gue poderia surpreender igualmente. aguces Titres menos svisadoe da histria do obscurantismo que. da histria do penss: ‘mento cintifico, & 0 completo desaparecimento. do proprio name ‘esse eminente pesquisador de toda a imprensarussa durante quase lum quarto de culo (até 1963); quanto a seu livro sobre a filoso- fia da linguagem, s6 0 vemes mencionado nesse mesmo period em alguns raros estudos Hnglisticos do. Ocidente. Recentemente, gums citagbes dese Iivro foram fetes em poblicaes soveticas 4e tragem insigniicame, como a coletinea dedieada ao 75.° ani- versio de Bakhtin, cua edigio foi de apenas 1.500 exerplares (Tart, 1973), A obra em questio & reprodurida na série Jonua Linguarum (Hsia-Paris, 1972) etraduzida para o inglés (Nova Torque, 1973), mas esse trabalho, como outras obras primas do peasamento teSrico ° russo do mesmo pesiodo, permanece ainda quase inacesivel aos Teitores do seu. pals natal ‘Apesar de toda a singularidade da biograia do lvro e de sex autor, € pela novidade orginalidade de seu contetido que a ‘bea mais surpteende todo letor de expisto aberto. Esse volume, tujo subtitle diz Os problemas fondamentais do método socio- Hsico na eigacia da linguagem, antecipa as stunis exploragbes realizadas no campo da sciolngistica e, principalments, coa- Segue preceder as pesqusas semiicas de hoje e fkarthes novas tarefas de grande enverzadura, A “alten do signo",e do signo verbal em particular, que € estudada no livro conserva, ow melhor, adguite um grande valor sugestivo a luz dos debates semibtcns ‘contemporineos ‘Dostoiewski € 0 herbi preferdo de Bakhtin © a mancira como cle 0 define caracteriza, 40 mesmo tempo e da forma mss jst, sua prdpria metodolopia cientifen: "Nada The parece acsbado! todo problema permanece aberto, sem fornecer a minima alusto a uma soluedo definiiva”. Segundo Bakhtin, na estrutura da lin- ‘tuagem, todas as nogSes substanciaisformam um sistema inabalé- ‘el, constitaldo do pares indissolGveis e selidirios: o ecoaheck- mento e 2 compreensio, a cognigio @ 2 toca, 0 dilogo © 6 rmonslogo, sjam les ennciades ot terns, 4 intrioeueso entre © destinador © 0 destinatéio, todo signo provid de signifieagto « toda signficacio associada 20 signo, a identidade e a variabil- fade, ¢ universal © 0 particular, o socal © individual, a coesio 8 divsblidade, 2 enunciagio e o enancido, (© que mais desperta a atencdo ea criatividade do tetor é 2 parte final do lito, onde 0 autor discue © papel fundamental ¢ ‘ariado da citasio — patente om latente — em nossos enunciados interpreta os diversos meios que servem para adaptar esses fmpréstimos multformes e continues a0 contexto do dscarso, Roman Jekobson 10 carirvto 7 TEMA E SIGNIFICACAO NA LINGUA (© problema da significagzo & um dos mas dices da lingistica, [As tentativas de resolusio desse problema tm revelado 0 esreito Soliléquio da eiéncia linglstea com particular clareza. Com efit, 4 teorla que se apoia sobre uma compreensio passiva nio nos ‘460s meios de abordar os fundamenton ¢ as caracteristcas esi fiais da significagso lingustica. Dentro dos Timites da nossa i ‘estigagio, limitar-noremos s um exame muito breve superticis ‘essa questo. Procuaremos simplesmentetragar as grandes Lnhas ‘de uma investigagio produtva nesse campo. ‘Um sentido detinido © nico, uma significado unitiria, 6 uma propriedade que pertence a ead enumeiagao como um rodo. Vamos hamar o sentido da enunciacdo completa 0 seu femat. O tema deve ser nico. Caso contro, ndo teriamos nenhuma base para ‘efinir &enunciagi. O tema da enuncagio 6-na verdade, asin ‘como’ propria enunciagio, individual ¢ no reitervel. Ele se apeesenta como a expresso de uma sitcio histriea concreta {gue deu origem & cnuncagio. A’enunciagso: "Que horas $50?” tem um sentido diferente cada vez que € usada ¢ tambem, con- Seqlientemente, na nossa terminologia, um outro tema, que depende dia situagao histérica concreta (historia, auma escala microscép fe) em que € pronunclada c da qual consti na verdade un slemento, Concluise que o tema da enunciaclo & determinado nko s6 pelas formas ingistieas que entram na componigio (as palaves, 435 formas morfol6pcas ou sntticas, 0s sons, as enfoagoes), mas ‘qualmente pelos elementos nfo verbais da stuagio. Se perdermos ‘hase terme 6, naturatmento, cujelto e duvides, Pare nés, 0 tert “tai Sobre eualments rua. relimeao, © por isco fe i'alo dave eer contungido com 0 tema. ce una obra de atte, Fete SeSonidade emacs & 8G eatin ta pein ne Ue vista os elementos da situayio, estaremos tio pouco apts a ‘comprecader a enunciagio como se perdéssemos suas palaras mals limportantes. © tema da enunciagio € conceto, tio coneeto como (instante histérco ao gual el. perteace. Somente. a enunciagio omads em toda a sun amplitude conceia, como fenbmeno his \éric, possi um tema. Islo € 0 que So eatende por tema da nuncio, ‘Entretanio, s© nos Limitisemos 20 carder nfo riterivel © historcamente nico de cada enunciagio conereta, estariamos sendo mediocres dialéticos. Alm do tema, ou, mais exatamente, 10 interior dele, «enunciagio & igualmente dotade do uma significa. ‘0, Por sgniscagio, diferentemente do tema, eatendemos 0s tlementos dt enunciagso que si0 reilerdveise idenicos cada vez (gue slo repetidos. Naturalmente, esse elementos slo absratos {hndados sobre uma coavengao, cles nfo tem exstincia concreta independente, 0 que nlo os impede de formar uma pare inalent vel, indspensivel, da enusciagio. O tema da enunciagio € na. tssincia iredutvel a andlise. A significagio da enuncagio, 20 ‘aontrri, pode se analisada em) win conjunto de signiicagéesliga- das ao elementos lingisticos que a compdem. O tema da enunci- fo: "Que horas sio7”, tomado em ligagio indisolivel com a Sitaglo histrica concreta, nio pode set segmentado. A significe- fo. da enunciagdo: "Que horas slo?" & idéntica em todas as fnstineas hiséricas em que ¢ pronunciada; ela se compbe das Significagées de todas as palavras que fazem pate dela, das formas de suas relagies morfoldgicase snttias, da entoagdointerogs- © tema € um sistema de signos dindmico e complero, que procura adaptarte adoquadamente as condigdes de um dado momento da evolugao. O tema € uma reaguo da conscléncla em (virco ser em devi. A sigificagio & umn aparato tdonico bare @ Tealizayio do tema, Bem entice, & impossivel tragat uma fren teira mecinica absoluta entre a signficagzo © o tema, Nio hi tema sem signifeagio, e vice-versa. Além dso, € impossivel desi- nar a signficagto de ‘uma pelavraislada (por exemplo, no pro- eso de easinar ma lingua esangeira) sem fazer dela o elemento de um fema, isto sem construe Uma enunciagdo, um “exemplo Por outro lado, o tema deve apoiarse sobre uma certaestabiliinde da sigifeagio; caso contri, ele perdera seu elo com 0 que preie e0 que sgn, ou Sj, elt pee em sims, o su ‘0 estudo das Tinguas dos povos primitives e a paleontologia| contemporinea ds signifieagdesIevan-nos a uma conclusi acerca Le da chamada “complexidade” do pensamento primitive. O homem ‘réhistérco wsava uma mesma’ e snies palavra para dosgnar ‘manifestagdes muito diversas, que, do nosso ponto de vista, nfo apresentam nenhum clo ent si Alem disso, uma mesma ¢ nies pilavra podia designar conceitos diametralmente oposts: 0 alto 6-0 baixo, a tera €0 cfu, 0 bem o mal, ee “a sufclente diss”, diz Nicolow Marr, “que a palsontologia Linglistea contemporainea nos da possbidade de aceder, gragas Ac as investigagGey, ke cas em que as trib #6 tinham & ea liposieio uma neh palavra para eobrir todas 25 sgnlficagses fle que ® homanidade nha comtléscia”= Mas, perguntarse, sec4 que uma palavra onisignificante & realmente uma palava? Sim, ¢ pecisamente uma palavra. Ditemos sinda mais que, sum complexo sonoro qualquer Comportsse uma “nica sjgniicaga inertee imutivel, enao esse complexo nio seria luna palavra, no seria um signe, mas apenas um sia. A. mul Plicidade das sgnicacder ¢o indice que faz de wna palavra wna palavra. Em relagao 2 palava onisgnficante de que falava Marr, demos dizer o-seguinte fal palavra, de ato, nSo tom pratca” mente significado: ¢ um toma puro. Sua signilicagio & inseparsvel {a stuagao concreta em que se ealza. Sua sigifcago & diferente 44 cada ver, de acordo com a situagio. essa manera, 0 tema Absorve, solve em si significa, nto The deixando’ a poss- Dilidade de esttbilizar-se ¢ consolidat-se. Mas, 2 medida quo a linguagem so desenvolveu, que 0 seu estogue de complexos sonores aumentou, as significapies comecaram a establzar-se segundo as Tinhas que cram bésicas e mais freqlentes na vida da comunidade para a uiillzgio temética dessa ou daguela para ‘© tema, como dissemos, € um atibuto apenas da enunciagéo ‘completa; ele pode pertencsr 2 uma palava isolada somente se essa palavra opera ‘como uma enunciagio global. Assim, por ‘xemplo, a palavra onisigifcante de Marr sempre opera como ‘ume enunclagio completa (e-nio tem sigifeagies fixas precisa Fie Wlapas da Teoria gaétiea”, oe, eit, p. 28 Spodus'se dag, claramsente, que ‘tsmo” a pulnera da época ‘male raounda ds humanistee, de que fale Mar, nao ve asremiba SThnevestm) Atsa, um sna que neniiease Tudo seria mule Bosco apas de deseipenhar a fungio de sal, A eaparidade a Um sina adaptar-se as eonalgoee mutavels de ‘una itungio,€ Iulto peavena: "Na veréade, mucenga num sila Spnifiensubst> fuiebo eum inal por outro 130 mente por iso), Por outro lado, a significagio perience a um elemento ou conjunto de elementos na sua relagio com o todo EE claro que se abstrairmos por completo essa relagdo com 0 todo, (sto 6, com a enunciagso), perderemos a significagio. E por iso que lo se pode tracar una fronteira clara entre o tema e 8 Seniicago, "A mancra mais coereta de formular ¢ intertelagio do tems « da signiicagio 6 a sepuinte: o toma consi o estigio superior real da capacidade lngilstica de signifier. De fato, apenas 0 tema ‘Sgnifica de munca determinada. A significacio € 0 explo - Jerior da capacldade de sgniicar. A sioificagio no quet dizer ‘nada em si mesma, ela 6 apenas um potencll, una possibilidade ‘de signiicar no interior de um tema conerela. A investigagio ‘a significagao de um ou outro elemento linglistcn pode, sezendo fa delinigio: que demos, orientar-se para duas diegtes: para 0 fstigio superior, © tema; ness caso, tratarseie da investigagio a significagio contextual do uma dada palavra nas condigdes de luma enunciacio conceta. Ou entbo ela pode tender para 0 estiio Inferior, o da signifcagio: nesse cato, seré.a investigagio da ‘gnificago da palara no sistema da lingua, ov em outros fermos «vinvestigagio da pala dicionarizada. ara constituic uma cincia slide da signifcacso,€ importante cistingur bem entre 0 tema e a significagdo e compreender bem 2 sua interselagao. Até o momento ninguém compreenden a ime portincia dessa condua. TaisditingBes como as que so estabele— fem ene 0 sentido usual e oeaional de. uma alavra, entre 0 feu sentido central e 0s lateras, cate denotagso € conotagto, te, 840. fundamentalmente insaisfatSras. A tendénca bi Subjacente a todas esss discriminagbes — de atribuir maior valor 20 aspecto central, usual da significaao, pressupondo que esse aspecto realmente existe e 6 estével — € completamente facia. ‘Alga diso, ela defaria 0 tema incxplcado, uma vez que cle de ‘manera nenhuma poderia see reduzido A condigso de signiticaio ‘casional ou lateral das palaveas. ‘A distingio entre tema e signiticagdo adquire particular clareza fem conexio com 0 problema da compreentio, qe sbordaremos breverente aqui. 34 tiemos a gcasio de mencionar © modo Je compreensio paniva, proprio dos filélogos, que exclui « prior! ‘qualquer resposta. Qualquer tipo genuino de comprecisto deve Ser ativo deve conter ja-o germe de uma resposta. 86 @ com prcensio ativa nos permite aprcender o tema, pois a evolueio no pose ser apreendida senso com a ajuda. do um ouleo proceso bvoluive, Compreender a enunciagéo de outrem significa orientar- BI ‘se em relugio a ela, encontrar © scu lugar adequado no contexto sorrespondente. A cada palavra da enunclgio que estamos em proceso do comprcender, fazamos eoresponder Uma série do pa Frwrat nosis, formando uma réplia. Quaato mais aumesosas © substance forem, mais profunda e real 6 nossa compreensio, ‘Assim, cada um dos elementos sigifcativs isliveis de uma ‘enunciagio e a enunciagdo toda sio transeridos a8 nossas mentes pra um outro contexo, ativo ¢ responsive. A compreensio ¢ lima forma de’ ddlogo; la esté para eaupciaeio assim como tama replica esté para e outta no didlo. Compreeader & opor 4 palavra do locutor uma contrapalavra. S6 aa compreensio de uma lingua estrangeira & que se. procura. encontrar para cada ‘alavea ima palavra equivalent na propria lingua. B por iss0 que io tem senudo dizer que a significagao pertence a uma palatra fenquanto tal. Na verdade, a sigificagso pestence a uma palavea fenguanto tkago de unigo entre os ineslocutors, isto é, ela 50 ke Tealiaa no processo de compreensio alivae vesponsiva. A signi ficagio no es na palavea nem na alma do alante, asim como também nio esti ma alma do interlocutor. Ela &” 0 eleito da Interogao do locutor e do receptor prodizide através do material ‘de um determinado complexo sonore. £ como urna fais eltrica ‘que 36. se produz quando ha contato dos. dois_pélos opostes. ‘Aqucles que ignoram o tema (que s6 € acesivel a um sto Je ‘ompreesiio. ava e Fespoasva) © que, procurando detinic 0 fentido de uma palave, stinger 0 seu valor inferior, sempre estavel € idéntico a'si mesmo, come se quisessem acender uma lampada Sepors de terem coriado a corrente. So a corrente da comumicagio ‘verbal fornece & palavea a luz da sua significa. Passemos agora ao problema da inter-elagdo entre a apreciaglo a signticagto, cujo papel € muito importante na cienei, das Signfienpies Toda palavra usada na fala eal possul alo apenas ‘eae sigificagio no sentido objetivo, de contetdo, dessestermos, mar também um acento de var ov apreciavo,islo & quando lum conteido objetivo € expreso (dito ou escrito) pela fla viva, fle & sempre acompanhado por um acento aprecativo determin ‘do, Sem acento aprecativo, ado hi palavra [Bm que consste esse acento © qual 6a sua relagfo com a face cobjetiva da sgnficagio? © nivel mais bvi, que é 20 mesmo tempo o mais superficial ds apreciagso social contida na palavr, { transmitido aeavés da entoagdo expressive. Na majoria dav casor, sc entongao ¢ determinada pela situagio imediata © freqdentemente por suas cicunstincias mais efemerss, Ei ag um e280 clasico im 4e utlzagdo da entoagio no dscurso familiar: No Diério de um Eserltor, Dostoiewshi conta: “corta ver, num domingo, ja perto da note, eu tive ovasiio de faminnar a0 lado de wn grupo de seis operrios embriagndos, « fubitamente ae del conta de. que pomivel exprimir qualquer Densamento, qualquer sensagio, « mesmo raciocinlos profundos, través de um a © inleo evbrtantivo, por mais simples quo te {ostolerskt esta pensando aqui numa palavrinha eensurada de largo wsol. ms o que aconteceu, Primetro, um desses homens pronuncia com clareza e energla esse substantivo para expriml, Sresplta de glguma coisa que Una sldo di ante, a sua conte agin mals deadentora, Um outro Ine reponde repelindo 0 mesmo substantivo, mas com am tom e ama signfieaeao completamente Aiteentes, para contraviar a negagto do primeir, © terclro com ‘a brutcamente a iritast com © primero, itervém brutalmente ‘com paleio na conversa langaihe o mesmo substantive, que “oma agora o sentido de uma injurla. Nesap momenta, 0 segundo Intervém novimente parm injuriar tercelro que © ofenders. ‘O qué hi cara? quem ta pensando que é? & gente té conrereando tranailo'e si vem wooé e comers. bronquesr!” 86. que c= pensamento, elt 0 exprime pela mesma palaveinha magiea de ites, que designs de manetra tao spies umn certo objeto; 90 mesmo tempo, ele levanta 0 brago e bate no ombro do com- Danhelro. Mas eis que 0 quarte, © mals Jovem do grupo, ques falara até enti e que aparentemente seabura de encontrar folugio do problema que ertave na origem da eapste, exclams om um tom entusiasmado, lerantando e'mo: "Eureka “Ache, Sechelt” & ios que wosés peneam? ‘Nio, nade de "Eureka, nada de “Achel. Be sinplesmente repete 9 mesmo eubstantvo banldo do Stelonseio, uma Gnien palarra, mas com am tom de exelamarso Aarrebatada, com éxtase, aparontemente excesiva, pois o sexto homens, o mats earrancudo © mai velho dor mis, atha-o de lado fearrasa num instante o entusasmo do Jovem, repetindo com laa imponente vor de balao e um wm rabugento.. sempre a mesma paler, Interdita ma presenga de damas par sigaf=a? flaramente: ‘Mio vale @ pena arrebentar a ganganta, Ji. com- Dreendemos!" Assim, sem pronunelar uma sniea outra palara, ‘es repetiram ooisvezr seguldas sun palayra preferia, um depos fo outro, e se ueram compreender perfltamenta” pletas de PM Dostolev'k), 1008, tomo 8, p. 274-375 = mn As seis “falas” dos operirios sho todas diferentes, apesar do {ato de todas consistrem de uma mesma ¢ dnica palsvra. Essa palava, de foto, s6 constitu um suporte da entoagéo. A conversa & condurida por meio de entoagdes que exprimem as apreciagdes dos interlocutores. Essas apreciagdes, asim como as enfoagoes ‘correspondentes, so inteiramente determinadas pela stuapio cial Imediata em cujo quadro se deseavelve a conversa; € por iso aque elas no ttm necesidade de um suporte concreto. No regio familia, a entoagio as vezes nfo tem nada ver com 0 contesiso do discuso. O material enlostivo acumulado nterionmente contra muitas vezes uma sida em coastrugbes lingistcas que m0 ‘io absolatamente adaptadas 8 entoagio em questio. Mais ainda, 8 entoagio nto se integra no eontetdo intclectual, objetivo, da onstrugae. Quando exprimimos os nossos sentimentos, dames ‘muites vezes a uma palavra que velo A mente por acaso uma ntoagio expresiva e profunda. Ora, fregentemente,trata-se de {uma intereigao ou de uma Tocugdo varias de sentido. Quase todst 4s pessoas tém as suas interjlgdes © locugbes favoritas: pode-se Utllzarcorrentemente uma paavra de carga semintca mato grande pera revolver de forma poramente entoatva situagaes ow eset a vida cotidiana, seam elas menores ou graves. Encontram-se, fervindo de valvulas le semuranca eatoativa, expessoes como: “pois é, pois €°, “se, sei” "6, &, “pois ni, pois no”, fc A reduptcagao habitual dessaspalavrinhas, ito 60 alongamento atfcial da‘representagio sonora com o fim de'dar 2 entoacio ‘scumulada uma escapatéra, < multo caractristica. Pode-se, 6 Claro, promunciar mass palavriha favorit com vin infinidade de entoages diferentes, conforme as diferentes situagées ou dis posigdes que podem ocorrer na vida Em todos esses casos, o tema, que ¢ uma propriedade de cada ‘enunciagso (cada uma das enunciagies dos ses operdrios tinha tum tema préprio), realiza-se completa ¢ exclusivamente ateaves dda enfonsao expresiva, sem ajuda da significacio das palavias fu da articuagio gramatieal. Os acentos apreiatives des ordem ee um pequeno circulo soc fntimo. Podemos qualificilos como auxin marginals das sig- nifingées linge, Entrelanto, nem todos os julgamentos de valor sio como esses. [Bm qualquer enunciagSo, por maior que szja amplitude do seu ‘spectro semintioa e da audizncia social de que gors, uma enorme Jmportineia pertence 8 apreciagio. 6 verdade que a entoseio 10 trader edequadamente o valor aprecitivo; ese serve antes. de 134 mais nada para orentar excolha © 8 distribuiglo dos elementot mais earregados de sentido da enunciacto. Nio se pode construir Uma enunciagio sem modalidade apreclatva. Toda enuncaco ‘compreende antes de mals nada uma orentardo aprecitiva. & por Feso que, na-enanciagio viva, cada elemento conlém 30. mesmo tempo um sentido e uma apreciagio. Apenas of elementos abstatos considerados no sistema da lingua e no na esrutura da enunciagio ‘se apresentam desituides de qualquer valor apreiativ Por eats a construgio de um sistema lngiistco. absrato, os linglistas ‘hegaram a separar 0 epreciativa do sigifeativ, © a consierar © apreciativo como um elemento marginal da signficasio, como 4 expressio de uma relagia individual ente o Jocutore 0 objeto do seu dscurso, ‘Um lingista russ, G. Spt, fala da apresiago como de um valor conctativo da paliva. Ele procura etabelessr uma distingdo entre significagdo objetiva (denotativa) 4 conotagio aprecio- tiva, que ele coloca em esteras diferentes da reaidade. Esse tipo {e domarcagso entre 0 dentativo e 6 apreciativo parece-n0s com pletamente ieptimo; ela se Tundamenta sobre 0 fato de que as Fongies mais profendas da apreciagio alo sso perceptivels ma sperfce do kcurso, E, no entanto, a sgnficapi objetiva forma-se gragat a apreciagio; ola indita que uma determineda signifieagio objeiva eatrou no Rerizonte dos Hnterlocutores — fanto no horizonte imediato como no forizonte social mals amplo ‘eum dado grupo socal Alén deo, A apreciagdo que se deve © papel eritivo nas mudangas de slgnificagdo. A modanga de ignificagio € sempre, no final das contas, uma reavaliao: 0 ‘eslocamento de uma palavra determinada de um eontestoaprecie~ tivo para outro, A palavra ou ¢ elevada a um nivel superior, ou fbsinada a um inferor Iolar a significa da apreciago inevito- ‘eimente dest a primeira de seu Ingar na evolugio socal viva Conde ela esté sempre entelagada com a aprecagio) © torna-a tum objeto ontldgico, tansforma-a mum ser ideal, divoriado da fevotugaohistrica. justamente para compreender @ evolugéo histrica do tema «das sigifcagoes que o compsem que € indispensavellevar em Conta &apteciagdo social, A evolugio temintca na agua ¢ sempre Tigada a evolugio do horizonte apreiaivo de um dado grupo “assim gue Anton Marty define apreciagio, depots de ter fetuado Sule ‘mals aut © detathad das igntieagoes das Daisies, ‘VA. Marty, Unteruchungen cur" Grindlepung der Rigemetien Granmatil'wnd Sprachpnlowphie, Halle, 1908. Bs Social ¢ a evolugio do horizonte apresiativo — no sentido da totaidade de tudo que tem sentido e importincia aos hos de tum determinado grupo —€ intelzamente determinada ela ex: ppansio di intra esratura econdmica. A medida que a base eoo- hBmica se expande, ela promove uma real expansio no escopo de existéncia que & acessivel, compreensivel e vital para 6 home (0 ciador de gado pre-histrico nfo tinha preocupagdes, nfo havia muita coisa que realmente ¢ tocasse. O homem do fim da era capitaista std ditetamente relacionado com todas a5 cosas, seus Infeesses atingem os eantos mais remotos da terra'e mesmo a5 ‘mais distantes estas. Fsse alargamento do horizonte apreciativo etua-se de manera diléica. Os novos aspecos da exisénca, {que foram ineprados no cirvio do interese sci, que se torn Fam objetos da fala e da emogdo humana, alo coesstem paifca ‘mente com os elementos que se integraram & exséncin antes dels; pelo contriio, entam em Tuta com eles, submetem-nos a una eavaliago, fazem-nos mudar de Tagar no interior da uaidade do horizone aprecitivo. Essa evolugio dalticaeefletese na evolugso semintca. Uma nova sigificagio se descobre na antiga e através 4a antiga, mas a fim de entrar em contadigso com ela © de reconstrula (0 resultado & wma uta incesante dos acentot em cada érea semintica da eristincia, No hf nada na composigso do sentido ‘que possa colocar-se acima da evelucio, que seja independente {do alargamento dialético do horizonte socal. A. sociedade em ‘wansformagio alargase para integrar o ser em teansformacio. [Nada pode permanccer estivel nese processo. & por isso que 2 significalo, elemento abstrato igual a si mesmo, & absorvida pelo tema, ediacerada por suas eontradigdes vivas, para tetornar enfin sab a forma de uma nova signfiagio com uma etabidade e uma ‘dentidnde igualmente provissrias 136

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