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CENGAGE Learning Teorias da Personalidade Duane P.. Schultz Ghee Cusal atelier Capitulo 6 Erik: Erikson: Teoria da Identidade 181 repetindo o padro de comportamento do seu pai biolégico e condenando o seu filho a0 estigma de ilegitimidade, algo que o préprio Erikson sentira to vivamente. Quando decidiu casar-se com Joan, ele o fez em trés ceriménias diferentes: uma judaica, ume protestante e uma civil. Joan largou seus interesses profissionais para tomar-se sua parceira inte lectual e editora o resto da vida, Ela deu uma base social e emocional estivel & sua vida e 0 ajudo. a desenvolver a sua abordagem de personalidade. A meia irma de Erikson comentou que “ele niic seria nada sem Joan” (citada em Friedman, 1999, p. 86). E Erikson concordou. Em 1933, reconhecendo a erescente ameaga nazista, os Eriksons emigraram para a Dinamar ca e depois para os Estados Unidos, instalando-se em Boston, Ele fundou uma clinica psicanali tica particular especializada no tratamento de criangas, afiliou-se & clinica de Henry Murray em Harvard, trabalhando no Consellio de Diagnéstico, Comegou a trabalhar também em um centro de orientagdo de delinquentes emocionalmente perturbados ¢ trabalhou na equipe do Hospital Geral de Massachusetts. Erikson comegou o seu trabalho de pés-graduagio em Harvard, pretendendo obter o Ph.D. em psicologia, mas foi reprovado no seu primeiro curso e decidiu que um programa académico formal era insatisfatorio. Em 1936, foi convidado para o Instituto de Relagdes Humanas na Uni- versidade de Yale, onde lecionou na escola de medicina e continuou o seu trabalho psicanalitico com criangas, Erikson e um antropélogo de Yale colaboraram num estudo sobre as priticas de criagao de filhos dos indios sioux de Dakota do Sul, Essa pesquisa reforgou a sua crenga na infiuéneia da cultura na infiincia. Ele continuou a expandir suas ideias no Instituto do Desenvol- vimento Humano da University of California em Berkeley. Ao contrario de muitos psicanalistas, queria que a sua experigncia clinica fosse a mais ampla possivel; portanto, procurava pacien- tes de diversas culturas e atendia aqueles que considerava normais bem como aos emocional- mente perturbados. Confusao de identidade Nas suas observagées sobre os povos indigenas norte-americanos nos estados de Dakota do Sul e da California, Erikson notou certos sintomas psicolégicos que nao podiam ser explicados pela teo- ria freudiana ortodoxa. Os sintomas aparentemente estavam relacionados a um senso de alienacio das tradigdes culturais e resultavam numa falta de imagem ou identidade clara do self. Esse fend- meno, que ele inicialmente denominou confusio de identidade, era semelhante ao problema que observara entre os veteranos emocionalmente perturbados da Segunda Guerra Mundial. Erikson constatou que esses homens ndo estavam sofrendo de confiitos reprimidos, mas sim de confusio provocada pelas experiéncias traumaticas de guerra e pelo fato de estarem temporariamente desar- raigados da sua cultura; ele descreveu a situacdo dos veteranos como uma confusdo de identidade quanto a quem e ao que eles eram. Em 1950, comegou a trabalhar no Austen Riggs Center em Stockbridge, Massachusetts, um Jocal de tratamento para adolescentes emocionalmente perturbados. Dez anos depois, voltou a Ha vard para lecionar num curso de pés-graduago e num curso popular de graduagaio sabre o ciclo de vida humana, aposentando-se em 1970. Aas 84 anos, publicou um livro sobre a velhice Eniretanto, depois de uma vida de elogios, honras e reconhecimentos, sentia-se, segundo sua filha, desapontado com o que havia conseguido. “Para esse homem eélebre, ainda era motivo de vergonha ter sido um filho ilegitimo” (Bloland, 2005, p. 51). Estagios Psicossociais do Desenvolvimento da Personalidade Erikson dividiu o crescimento da personalidade em oito estagios psicossociais. Os quatro primei- r0s sdio semelhantes aos estigios oral, anal, falico ¢ de laténcia de Freud. A principal diferenca entre as teorias é que Erikson enfatizava os correlates psicossociais, enquanto Freud se concentrava nos fatores biolégicos. 182 Teorias da Personalidad Estagios psicossociais do desenvolvimento Para Erikson, oito estdgios sucessivas que abrangem os estigins continuos. Ex cada um dees, emos de lidar bem ow mal com una erie, Erikson sugeriu que processo de evolugio era regido pelo que ele chamava de principio epigenético da maturago. Com isso, queria dizer que as forcas herdadas sio as caracteristicas determinantes dos estagios de evolugio. O prefixo epi significa “sobre”; entdo, o desenvolvimento depende de fatores genéticos. As forgas sociais e ambientais as quais somos expostos influenciam a forma pela qual as fases geneticamente predeterminadas se realizam. Dessa forma, 0 desen- volvimento da personalidade é afetado por fatores bioldgicos e sociais ou por variiveis pessoais e situacionais, Principio epigenético da maturagio A teoria de que 0 desenvolvimento bumano & regida por uma sequéncia de etqpas que dipendem de fatores genéticas ou hereditarias. Na teoria de Erikson, o desenvolvimento humano envolve uma série de conflitos pessoais. © potencial para esses conflitos existe no nascimento como predisposigdes inatas, que se tomam proeminentes nas varias fases quando 0 nosso ambiente requer determinadas adaptagdes. Cada confronto com 0 ambiente é denominado crise, a qual envolve uma mudanga de perspectiva, que Tequer que reconcentremos a nossa energia instintiva de acordo com as necessidades de cada esté- gio do ciclo da vida. Crise Para Erikson, 0 momento decisvo enfrentado em cada fase de desenvolvimento, Cada fase de desenvolvimento tem a sua crise ou momento decisivo particular que precisa de alguma mudanga no nosso comportamento ¢ na nossa personalidade. Nos podemos responder crise de maneira negativa ou positiva. S6 quando resolvemos cada um dos conflitos a personalida- de pode continuar a sua sequéncia normal de desenvolvimento e adquirir a forea para enfrentar 0 conflito da proxima fase. Se 0 conflito em qualquer uma das fases permanecer mal resolvido, tere- ‘mos menos probabilidade de nos adaptarmos aos problemas que surgiro posteriormente, Ainda & possivel um resultado positivo, mas este serd mais dificil de obter. Entretanto, Erikson achava que 0 ego tem de incorporar as maneiras negativas e positivas de lidar com as crises. Por exemplo, na infincia, a primeira fase de desenvolvimento psicossocial, podemos responder & crise de desamparo e dependéncia desenvolvendo um senso de confianea ou de desconfianga. A confianga, a forma mais bem adaptada e desejével de lidar com o problema, ¢ obviamente uma atitude psicolégica mais saudavel. Mas muitos de nds também desenvolvem um grau de desconfianga como uma forma de proteso, Se formos totalmente confiantes e crédulos, seremos vulneraveis js tentativas das outras pessoas de nos enganar ou manipular. Idealmente, em cada uma das fases de desenvolvimento, 0 ego consistiré basicamente na atitude positiva ou bem adaptada, mas ser sempre equilibrado por alguma parte da atitude negativa. Sé assim a crise po- deri ser considerada resolvida de forma satisfatéria. Erikson também propés que cada um dos oito estagios psicossociais propicia uma oportu- nidade para desenvolvermos as nossas forgas bisicas ou virtudes, que surgem quando a crise € resolvida satisfatoriamente, ¢ afirmou que elas so interdependentes. Uma forga bésica no ode se desenvolver enquanto a forga basica associada a fase anterior ndo for confirmada (veja Quadro 6.1), Capitulo 6 Erik Erikson: Teoria da Identidade 18 Forgas basicas doras derivadas da resolugao satisfatiria da Para Evikson, cavacteristicas¢ crengas motiva crise ena cada fase de desenvoliimenta Confianga versus desconfianga A fase oral sensorial do desenvolvimento psicossocial, que ¢ paralela a oral do desenvolvimento psicossexual de Freud, ocorre durante 0 primeiro ano de vida, época de nosso maior desamparo. € totalmente dependente dos cuidados basicos da mae para sobreviver € ter seguranga e afeto, Nessa etapa, a boca é de vital importancia, Erikson escreveu que a crianga “vive por meio da boca e ama com cla” (1959, p. 57). No entanto, 0 relacionamento entre a crianga e o seu préprio mundo nao é exclusivamente biol6gico, é social também. A interagio do bebé com a mae determi na se se incorporada & sua personalidade uma atitude de confianga ou desconfianga no relaciona~ mento futuro com o ambiente. Se a mie responder adequadamente s necessidades fisieas do bebé e lhe propiciar muito afe- to, amor e seguranea, a crianca desenvolverd um senso de confianga, uma atitude que caracterizari sua visio crescente de si mesma e dos outros. Dessa maneira, aprendemos a esperar “consistén- a, continuidade e estabilidade” de outras pessoas e situagdes no nosso ambiente (Erikson, 1950, p. 247). Erikson disse que essa expectativa proporciona o inicio da nossa identidade do ego ¢ que se lembrava de ter formado esse vinculo de confianga com sua mie. QUADRO 6.1 Estigios de desenvolvimento psicossocial e forcas basicas Formas positivas versus, Forcas Estagios Idades aproximadas __negativas de reagir 3 bdsicas Oral sensorial Nascimento-1 ano Confianga versus Esperanga’ desconfianga Muscular anal 1-3 anos Autonomia versus Vontade divida, vergonha Locomotora 3-5 anos Iniciativa versus culpa Objetivo genital Laténcia 6-11 anos Diligéncia versus inferioridade Competéncia Adolescéncia 12-18 anos Coesiio da identidade versus Fidelidade confustio de papéis dade 18-35 anos Intimidade versus isolamento Amor jovem adulta Adulto 35-55 anos Generatividade versus estagnagao — Cuidar Maturidade +55 anos Integridade versus desespero Sabedoria evelhice Por outto lado, se a mie rejeitar, ndo prestar atengZo ou for inconsistente no scu comporta- mento, a erianga se tornaré desconfiada, temerosa e ansiosa, Segundo Erikson, a desconfianga tam- bém pode ocorrer se a mie nfo focar sua atengao exclusivamente na crianga. Erikson argumentou que a me que volta a trabalhar ¢ deixa o filho aos cuidados de parentes ou em uma creche attisca- -se a desenvolver desconfianca na crianga. Embora o padrao de confianga ¢ desconfianga como uma dimens&o da personalidade seja estabelecido na inffincia, o problema pode ressurgir numa fase posterior do desenvolvimento. Por mplo, um relacionamento mae-filho ideal produz um alto grau de confianga, mas esse senso de 2 pode ser destruido caso cla morra ou saia de casa. Se isso ocorrer, a desconfianca pode seguran BY 184 Teotias da Personalidade suplantar a personalidade. A desconfianga da inf’incia pode ser alterada posteriormente na vida por meio do companherismo de um professor ou amigo carinhoso e paciente. ‘A forga basica de esperanga é associada a resolugio bem-sucedida da crise durante a fase oral sensorial. Erikson desereveu essa forga basica como a crenga de que os nossos desejos serdo sa- tisfeitos. A esperanga envolve um sentimento persistente de confianga, um sentimento que iremos manter apesar dos reveses temporérios Autonomia versus davida e vergonha Durante a fase muscular-anal nos segundo e terceiro anos de vida, que cortesponde fase anal de Freud, as criangas desenvolven rapidamente uma série de habilidades fisicas e mentais e fazem muitas coisas sozinhas: aprendem a se comunicar mais eficazmente e a andar, subir, empurrar, pu- xar e segurar ou largar um objeto. Elas se orgulham dessas habilidades e geralmente querem fazer ‘0 maximo possivel sozinhas. De todas essas habilidades, a mais importante para Erikson envolvia os atos de segurar e lar- gar algo, porque os considerava protétipos para reagir a conffitos posteriores em comportamentos ¢ atitudes. Por exemplo, o ato de segurar pode ser exibido de maneira carinhosa ou hostil. O de soltar pode se tomar um desabafo de ira destrutiva ou uma passividade relaxada, ponto importante é que durante essa etapa, pela primeira vez, as criangas conseguem exer- cer algum grau de escolha, experimentar o poder da sua vontade auténoma. Embora ainda depen- dentes dos pais, elas comegam a se ver como pessoas ou forgas por si mesmas e querem exercer 05 seus pontos fortes recém descobertos. A pergunta chave é: quanto a sociedade (na forma dos pais) permitira que as criangas se expressem e fagam tudo 0 que sio capazes de fazer? crise mais importante entre pais e fillos nessa fase geralmente envolve o treinamento para ir a0 banheiro, considerado o primeiro exemplo da sociedade tentando regular uma necessidade instin- tiva, Ensina-se a crianga a segurar e soltar somente nas horas e nos locais adequados. Os pais podem permitir a crianga ir adiante com o treinamento no seu proprio ritmo ou podem ficar irritados. Neste caso, podem negar-Ihe o livre arbitrio forgando o treinamento, mostrando impaciéncia e raiva quan- do ela nfo se comportar corretamente. Portanto, quando os pais obstruem e frustram as tentativas do fillio de exercer a sua independéncia, ele desenvolve sentimentos de divvida e um senso de vergonha em lidar com os outros, Embora a regidio anal seja 0 foco dessa fase devido 4 crise do treinamento do banheiro, pode-se ver que a expressiio do conflito é mais psicossocial do que biolégica. A forga basica que surge da autonomia é a vontade, que envolve a determinagiio de exercer a liberdade de escolha ¢ autolimitagdo diante das demandas da sociedade. Iniciativa versus culpa O estigio locomotor genital, que ocorre entre os trés e cinco anos, é semethante & fase filica no sistema freudiano. As capacidades motora e mental continuam se desenvolvendo e a crianga con- segue fazer mais coisas por conta propria; expressa um forte desejo de tomar a iniciativa em varias atividades. A iniciativa também pode se desenvolver na forma de fantasias manifestas no desejo de possuir o pai (no caso das meninas) ou a mae (no caso do meninos). Como os pais reagirio a essas atividades ¢ fantasias desencadeadas pelo se/f? Se eles punirem a crianga e inibirem essas demons- ages de iniciativa, ela desenvolvera sensagdes permanentes de culpa que afetardo as atividades voltadas para o self durante toda a vida. Na relagio edipiana, a crianga inevitavelmente falha, mas, se os pais orientarem essa situago com amor ¢ compreensio, ela adquiriré consciéncia do que é comportamento permissivel e 0 que no ¢, A sua iniciativa pode ser canalizada para metas realistas e socialmente sancionadas na pre- paragdo para o desenvolvimento da responsabilidade e da moralidade adultas. Na teoria freudiana, isso seria chamado de superego. A forga bisica chamada objetivo surge da ini ceber e buscar metas, ativa, O objetivo envolve a coragem de con- vsulo 6 sik Erikson: Teoria da Identidade 185 Diligéncia versus inferioridade A fase de laténcia de desenvolvimento psicossocial de Erikson, que ocorre dos 6 aos 11 anos, corresponde ao periodo de laténcia de Freud. A crianga comega a ir a escola e é exposta a novas infiuéncias sociais. Tanto em casa quanto na escola, a crianga aprende bons hébitos de trabalho estudo (que Erikson chamava de “diligéncia”) basicamente como um meio de conseguir elogios € obter a satisfagio extraida da execugdo bem-sucedida de uma tarefa. Os poderes cada vez maiores de raciocinio dedutivo ea habilidade de seguir as regras levam ao refinamento deliberado das habilidades exibidas na construgdo das coisas. Aqui as ideias de Eri- kson refletem os esterestipos sexuais do periodo em que ele propés a sua teoria. Na sua opinio, os ‘meninos construirio casas nas drvores ¢ aeromodelos e as meninas ido cozinhar e costurar. Contu- do, quaisquer que sejam as atividades associadas a essa idade, as criangas estio fazendo sérias ten- tativas de concluir uma tarefa com muita atengao, diligéncia e persisténcia. Nas palavras de Erik- son, ‘as habilidades bisicas de tecnologia silo desenvolvidas & medida que a crianga vai ficando pronta para lidar com utensilios, ferramentas e armas utilizados pelos adultos” (1959, p. 83). Novamente, as atitudes e comportamentos dos pais ¢ professores determinam em grande parte como as eriangas acham que esto desenvolvendo e utilizando as suas habilidades. Se forem repreendidas, ridicularizadas ou rejeitadas, provavelmente desenvolverdio sentimentos de inferi idade ¢ inadequago. Por outro lado, elogios e reforgos estimulam a sensagdo de competéncia e incentivam a luta constante. A forga bisica que surge da diligéncia durante a etapa de laténcia é a comperéncia. Ela envol- ve o exercicio da habilidade e da inteligéncia na busca e conclusto de tarefas. resultado da crise em cada uma dessas quatro fases da infaincia depende das outras pessoas. A resolugdo é uma fungdo mais do que € feito A crianca do que daquilo que ela pode fazer sozi- ‘nha, Embora as criangas adquiram cada vez mais independéncia do nascimento aos 11 anos, 0 desenvolvimento psicossocial continua, na sua maior parte, sob a infiuéncia dos pais ¢ professores, geralmente as pessoas mais importantes na nossa vida nessa época. ‘Nas quatro tltimas fases do desenvolvimento psicossocial, temos cada vez mais controle do nosso ambiente; escolhemos consciente e deliberadamente nossos amigos, faculdade, carrei- ra, cénjuge e atividades de lazer. Todavia, essas escolhas deliberadas so obviamente afetadas pelas caracteristicas de personalidade que se desenvolveram durante as fases do nascimento a adolescéncia. O fato de o nosso ego apresentar basicamente confianga, autonomia, inici diligéncia ou desconfianga, davida, culpa e inferioridade determinara o rumo da nossa vida Coesio da identidade versus confusao de papéis: a crise de identidade Aadolescéncia, entre os 12 ¢ 18 anos, &a fase na qual temos de enfrentar e resolver a crise da nossa identidade biisiea do ego. E quando formamos a nossa autoimagem, a integragio das ideias sobre nos mesmos € 0 que 0s Outros pensam sobre nds. Se esse processo for resolvido satisfatoriamente, © resultado ser um quadro consistente e congruente. Identidade do ego A autoinagem formada durante a adolescéncia que integra as nossas ideas quanto ao que somos ao que querens ser. Moldar uma identidade e aceita la so tarefas dificeis, geralmente realizadas com ansiedade. Os adolescentes fazem experiéncias com varios papéis e ideologias na tentativa de determinar os mais compativeis com eles. Erikson verificou que a adoleseéncia era um hiato entre a infiincia ¢ a idade adulta, uma moratéria psicolégica necesséria para dar & pessoa tempo e energia para repre- sentar papéis diferentes e viver com autoimagens também diferentes. AS pessoas que saem dessa fase com um forte senso de autoidentidade esto equipadas para enfrentar a idede adulta com certeza ¢ confianga, Aquelas que nfo conseguem atingir uma 186 Teorias da Personalidade identidade coesa ~ que passam por uma crise de identidade — apresentario uma confusio de papéis. Elas parecem no saber quem ou o que sto, qual é 0 seu lugar e 0 que querem se tornat; podem afastar-se da sequéncia normal da vida (educagdo, trabalho, casamento), como Erikson fez durante algum tempo, ou buscar uma identidade negativa no crime ou nas drogas. Até uma identi- dade negativa, como a sociedade a define, é preferivel a nenhuma identidade, embora nao seja tio satisfatéria quanto uma identidade positiva Crise de identidade O fracasso em adguirira identdade do ego durante a adolescncia Erikson observou o impacto potencialmente forte dos grupos de colegas no desenvolvimen- to da identidade do ego na adolescéncia. Notou que a associagio excessiva com grupos e cultos fanéticos ou uma identificagao obsessiva com icones da cultura popular podem limitar o desenvol- vimento do ego. A forga basica que deveria se desenvolver durante a adolescéncia é a fidelidade, que surge de luma identidade de ego coesa e engloba sinceridade, genuinidade e um senso de dever nos nossos relacionamentos com as outras pessoas. Intimidade versus isolamento Erikson considerava o inicio da fase adulta uma etapa mais prolongada do que as outras, estendendo- se do final da adoleseéncia até aproximadamente os 35 anos. Durante esse periodo, estabelecemos ‘nossa independéncia dos pais e das instituicées, como a faculdade, e comegamos a atuar de modo ‘mais aut6nomo como adultos maduros e responsiveis. Assumimos algum tipo de trabalho produ- tivo € estabelecemos relacionamentos intimos — amizades intimas e unides sexuais, Na opinido de Erikson, a intimidade nao se limitava aos relacionamentos sexuais, mas englobava também carinho € compromisso. Essas emocdes poderiam ser demonstradas abertamente, sem recorrermos a meca- nismos de protecdo ou defesa, e sem medo de perdermos o nosso senso de autoidentidade; podemos fundir a nossa identidade com a de outra pessoa sem submergi-la ou perdé-la no processo. Aqueles que nao conseguem estabelecer essas intimidades no inicio da fase adulta desenvol- ‘em uma sensago de isolamento. Eles evitam contatos sociais, rejeitam as outras pessoas e podem até se tomar agressivos em relagdo a elas; preferem ficar sds porque temem a intimidade, que veem como uma ameaga 4 identidade do seu ego. A forga bisica que surge da intimidade do inicio da fase adulta ¢ 0 amor, que Erikson con- siderava a maior virtude humana. Ele 0 descreveu como uma devogdo miitua numa identidade compartilhada, a fustio de uma pessoa com outra, Preocupaciio com as préximas geragdes (“generatividade”) versus estagnacio A idade adulta ~ aproximadamente dos 35 aos 55 anos — é a fase de maturidade na qual precisamos estar ativamente envolvidos no ensino e na orientagdo da proxima gerae4o, Essa necessidade vai além da nossa propria familia, Na opiniao de Erikson, nossas preocupagdes tornam-se mais amplas ¢ de maior alcance, envolvendo as geragdes futuras ¢ o tipo de sociedade na qual elas viverdio. A Pessoa no precisa ser pai ou mae para apresentar preocupaglo com as proximas geragdes, ¢ ter filhos também nao satisfaz automaticamente essa necessidade. Erikson acreditava que todas as instituigées — sejam comerciais, govemamentais, de servigos Sociais ou académicas — nos dio chances de expressar preocupagio com as proximas geragées. Portanto, qualquer que seja a organizagio ou atividade em que estejamos envolvidos, geralmente encontramos uma forma de nos tomarmos mentores, professores ou guiar os mais jovens para a melhora da sociedade como um todo. Quando as pessoas de meis-idade nfo conseguem ou ndo procuram uma vazio para a Preocupagiio com as proximas geragdes, elas podem ser tomadas por sentimentos de “estagnacio, Capitulo 6 Erik Eskson: Teoria da Identidade 187 tédio € empobrecimento interpessoal” (Erikson, 1968, p. 138). A forma como Erikson descreve essas dificuldades emocionais na meia-idade & semelhante & descrigao cle Jung da crise da meia- ~idade. Essas pessoas podem voltar a uma fase de pseudointimidade, satisfazendo-se de maneiras infantis, podem também se tomar fisica ou psicologicamente inviilidas devido ao fato de ficarem absortas nas suas proprias necessidades e comodidades. © cuidar € a forga basica que surge da preocupagiio com as proximas geragdes na fase adulta; Erikson a definiu como uma preocupagio ampla pelos outros e dizia que se manifestava na neces- sidade de ensinas, no s6 para ajudar os outros, mas também para formar a propria identidade. Integridade do ego versus desespero Durante a fase final do desenvolvimento psicossocial, maturidade e a velhice, confrontamo-nos com uma opgdo entre a integridade do ego e o desespero. Essas atitudes regem a forma como avaliamos a nossa vida como um todo, Nessa época, nossos maiores esforgos esto concluidos ou perto de o serem; examinamos a nossa vida e refletimos sobre ela, fazendo uma avaliagao final. Se olharmos para tris com um sentimento de realizagao e satisfago, achando que lidamos de maneira adequada com as vitérias e falhas da vida, pode-se dizer que temos integridade do ego, que envol- ve, em palavras simples, a pessoa aceitar o seu lugar e 0 seu passado. Por outro lado, se revisarmos a nossa vida com um senso de frustragio, aborrecidos porque perdemos oportunidades e arrependidos de erros que no podemos corrigir, enldo sentiremos de- sespero, Nos tornaremos frustrados com nés mesmos, desdenharemos dos outros ¢ ficaremos amargos em relagdo ao que poderiamos ter sido. Aos 84 anos, Erikson publicou um livro relatando os resultados de um estudo a longo prazo de 29 pessoas na faixa dos 80 anos cujos dados do hist6rico de vida vinham sendo coletados desde 1928. © titulo, Vital involvement in Old Age (Envolvimemo Vital na Velhice), indica a receita de Erikson para obtermos integridade do ego (Erikson, Erikson e Kivnick, 1986). As pessoas idosas precisam fazer mais do que refletir sobre o passado. Elas precisam continuar ativas, participantes vitais, bus- cando desafios e estimulos no seu ambiente, e se envolver em atividades como ser avés, voltar a estudar e desenvolver novas habilidades ¢ interesses. A forca basica associada a essa fase final do desenvolvimento € a sabedoria, que, deri- vada da integridade do ego, & expressa na preocupago desprendida com o todo da vida, Ela é transmitida as proximas geragdes numa integracdo de experiéncias que é mais bem deserita pela palavra heranca, Fraquezas Basicas Do mesmo modo que as forcas bisicas podem surgir em cada fase do desenvolvimento psicosso- cial, as fraquezas bisicas também podem. Nés observamos anteriormente que as formas bem ¢ mal-resolvidas de lidar com a crise de cada fase so incorporadas na identidade do ego numa espé- de equilibrio eriativo. Embora o ego deva ser composto basicamente de atitudes de adaptacdo, ele também contém uma parcela da atitude negativa. Fraquezas basicas Caracteristcas motivadoras derivadas da resolugio insatisfatéria da crise de desemvohiment, Num desenvolvimento desequilibrado, o ego & composto apenas de uma atitude: a bem ou mal-adaptada. Erikson denominou essa situagio de mau desenvolvimento, Quando sé a tendén- cia positiva e adaptiivel esta presente no ego, a situacdo ¢ chamada de “mal-adaptada”, Quando 36 a tendéncia negativa esta presente, ela ¢ chamada de “maligna”, adaptagdes podem levar a neuroses as malignidades podem levar a psicoses, 188 Teorias da Personalidade Mau desenvolvimento Una situagio gue acorre quando 0 ego &composto apenas de uma tnica maneira de lidar com conflts Erikson achava que ambos os problemas poderiam ser corrigidas com a psicoterapia. As mas adaptagdes, que sio distirbios menos graves, também podem ser aliviadas por meio de um proces- so de readaptagdo, auxiliado por mudangas ambientais, relagdes sociais de apoio ou uma adaptagao bem-sucedida numa fase de desenvolvimento posterior. O Quadro 6,2 apresenta uma relagto das caracteristicas de mau desenvolvimento de cada uma das oito fases. QUADRO 6.2 _As tendéncias de mau desenvolvimento de Erikson Fase “Maneira de Reagir 3 ‘Mau Desenvolvimento Oral sensorial Confianga Desajuste sensorial Desconfianga Afastamento Muscular anal ‘Autonomia Obstinacdo sem acanhamento Davida, Vergonha Compulsio Locomotora genital Iniciativa Crueldade Culpa Inibigao Laténeia Diligéncia Virtuosidade limitada Inferioridade Inércia Adolescéneia Coesdo da identidade Fanatismo Contlusiio de papéis Reptidio Tdade jovem adulta Intimidade Promiscuidade , Tsolamento Exclusividade Tdade adulta Preocupagao com as préximas geracées Superexpansio Estagnagzo Rejeigao Maturidadee velhice Integridade do ego Presungao Desespero Desdém Fonte: Adaptado de Vital involvement in old age, de Erik H. Erikson, Joan M, Erikson e Helen Q. Kivnick, com sutorizagio 4a W.W. Norton & Company, Inc. Copyright © 1986 by Erik H. Erikson, Joan M. Erikson e Helen Q. Kivaiek. Questées sobre a Natureza Humana Seria de se esperar que um teérico da personalidade que delineia as forcas basicas humanas ti- vesse uma visto otimista da natureza humana, Erikson pensava que, embora nem todos fossem bem-sucedidos na obtengio de esperanga, objetivo, sabedoria e outras virtudes, temos potencial para obter tudo isso. Nada na natureza nos impede, tampouco temos de inevitavelmente softer conflitos, ansiedade ¢ neuroses devido as forgas biolégicas instintivas. As teorias de Erikson permitem otimismo porque cada fase do crescimento psicossocial, em- bora centrada em tomo de crises, oferece a possibilidade de um resultado positivo. Nés somos capazes de resolver cada situagio de maneira ajustada e fortalecedora. Mesmo que falhemos numa fase e desenvolvamos uma resposta mal-adaptada ou uma fraqueza bisica, ainda ha esperanca de mudanga numa fase posterior. Nés temos potencial para direcionar conscientemente © nosso erescimento durante toda a vida. No somos exclusivamente produtos das experiéncias de infincia. Ainda que tenhamos pou- co controle durante as primeiras quatro fases do nosso desenvolvimento, obtemos cada vez mais independéncia e capacidade de escolher formas de responder as crises ¢ demandas da sociedade.

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