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25 4.3. Mediagao de Conflitos A palavra mediacdo, derivada do latin mediatio (interveng&o, intercess&o), vem representar a aproximagdo das partes envolvidas em um conflito atravessadas Por um intermediario, denominado mediador, que busca criar dispositivos para que elas fagam uma autocomposig¢ao. Uma negociagdo para a resolu¢&o do conflito que Seja produzida e assumida pelas partes. Figueira Junior (1999:131) cita o renomado Processualista italiano Mauro Cappelletti que descreve a mediag&o como sendo uma forma de “justiga co-existencial” na medida em que busca uma resolug&o do conflito sem causar as manifestagdes de insatisfagéo téo comum em procedimentos normativos marcados pelas decisées estabelecidas nas sentengas judiciais, geralmente téo marcados pela violéncia simbdlica. Para Grunwlad (2009: 2) ao se reportar 4 mediacdo afirma que ela ultrapassa @ solugdo de conflitos, dispondo-se a transformar o contexto marcado pela Contrariedade em colaborativo, estimulando e vitalizando a comunicagao entre os individuos em conflito de modo a proporcionar o que jurisdigéo publica ndo possui condigées de oferecer, como rapidez e restabelecimento da relago social entre as partes A psicanalista Malvina Muszkat (2006) em entrevista ao jornal do Conselho Federal de Psicologia sinalizou que “a mediagdo é a arte de harmonizar conflitos. Ela parte de uma légica que se opde a disputa e procura encontrar solugdes compartilhadas.” O mediador 6 um elemento facilitador do processo de retomada do dialogo, ele busca possibilitar que as pessoas em conflito encontrem, elas mesmas, as saidas e alternativas que mais Ihes convém. Na mesma reportagem do jornal, a psicdloga Dorit Verea (2006:9), salienta que “muitos problemas nascem por dificuldades de comunicagéo e de compreenséo das prioridades alheias. As pessoas s&o diferentes e, as vezes, néo conseguem expressar e entender o outro. E, alguns casos, uma terceira pessoa imparcial pode ajudar a encontrar um denominador comum.”. Warat (2009:9) assinala a importancia da mediag&o enquanto experiéncia que fortalece a autonomia, aguga a percepgao das diferengas e encoraja a busca de 26 uma solugdo de conflitos com um sentido de autonomia e compreensao da nogao de cidadania. O autor declara que “as praticas sociais de mediagao se configuram num instrumento ao exercicio da cidadania, na medida em que educam, facilitam e ajudam a produzir diferengas e a realizar tomadas de decisées sem intervencdo de terceiros que decidem pelos afetados por um conflito. Falar de autonomia, de democracia e de cidadania, em certo sentido, é se ocupar da capacidade das Pessoas para se auto determinarem em relagao aos outros, auto determinarem-se na Produg&o da diferenga (produg&o do tempo com 0 outro). A autonomia como forma de produzir diferengas e tomar decisées com relagdo a conflitividade que nos determina e configura, em termos de identidade e cidadania’. Historicamente, a medigéo é considerada um método antigo vinculado inicialmente as praticas comerciais e empresarias. O Manual de referéncia sobre Teoria de Mediagao (2002:7), ao expor a historia recente sobre o tema, afirma que foi na década de 1970, nos Estados Unidos, que as praticas de medic&o foram resgatadas e que passou entéo a ser utilizada em areas mais amplas do relacionamento humano (familia, escolas, instituigdes policias entre outros).. Tal abrangéncia possibilitou a incorporagéo de muitas disciplinas como o direito, a psicologia, a sociologia, a antropologia, a filosofia, entre outras. Portanto, as praticas de medig&o séo compostas por uma viséo transdisciplinar do conhecimento, entendido aqui como o entrecruzamento das diferentes areas do conhecimento, produzindo atravessamentos que desestabilizam o dominio de qualquer disciplina (Barros e Passos, 2000: 9). A mediag&o pode ser aplicada em diversos niveis, como por exemplo: para evitar uma disputa, para criar um didlogo, para iniciar uma negociagao, para resolver questées pendentes, para promover a reconciliagao e restaurar as relagGes entre pessoas em conflito. As fungdes do mediador podem ser assim definidas: cooperador que ajuda a discutir com respeito as questées que envolvem o conflito; coordenador da discussao entre as partes, ressalta as convergéncias e divergéncias em torno do objeto do conflito de interesses; identificador dos pontos de atrito que originam o conflito entre as partes; motivador da criatividade na busca de alternativas para a solugao do 27 conflito, bem como auxilia as partes a descobrir seus reais interesses permitindo o Surgimento de um acordo entre as partes. So consideradas etapas para uma mediagao, segundo o Manual de referéncia sobre Teoria de Mediagdo (2002: 15-17): ¢ 1* Etapa - Pré mediagdo — inicio da conversa, quando o mediador conquista a confianga das partes envolvidas. O mediador deve assegurar, via a comunicac&o, de que haja um clima de respeito entre as partes. Neste momento o mediador explica o propdésito da mediagaéo e seus principios basicos. Assim como checara se ha interesse voluntario e capacidade das partes para participar da mediagao; « 2 Etapa - Ouvindo as partes — 0 objetivo desta fase 6 saber o porqué do conflito. O primeiro a falar deve ser informado que a outra parte tera direito ao mesmo tempo e tratamento no momento de seu relato; * 3* Etapa - Negociagao do acordo - Apés ouvir os relatos do conflito, o mediador deve ter em mente uma visdo global do problema, estabelecendo em que 4reas houve acordo e desacordo entre as partes, de modo a perceber claramente como o problema € enxergado pelos participantes. Importante nesta fase de negociago é fazer com que as partes envolvidas se coloquem uma no lugar da outra e cabe ao mediador registrar anotagées a medida em que as partes forem chegando a um acordo; 4° Etapa — Construgao de um acordo final — Cabe ao mediador fazer o resumo de todas as alternativas apresentadas para se solucionar 0 conflito. E © momento em que deve ser esclarecido aos participantes de que nao existe obrigagao de se fazer um acordo para sempre, ou seja, 0 que ficar decidido pode se estender até determinado momento. Pode ser que as partes desejam fazer acordos periédicos. Antes da assinatura do acordo, o mediador deixara claro que aquela solugéo é fruto de um entendimento entre as partes. Mesmo partes ndo tenham a chegado a um acordo o mediador deve entender que as que o desacordo ja configura uma escolha, um consenso das partes e deve ser respeitado. 28 A pratica da mediagao nao deve ser encarada como uma panacéia para os conflitos interpessoais, mas uma forma exploratoria interessante de abordar os embates do cotidiano das pessoas.

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