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E RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Ministério do
Ministério do Ambiente
Ambiente,edo
doOrdenamento
Ordenamentodo
doTerritório
Território
e do Desenvolvimento Regional
CONECTIVIDADE FERROVIÁRIA
NAS REGIÕES CENTRO E NORTE
COM CASTELA E LEÃO
E ALÉM-PIRINÉUS
Lisboa
FICHA TÉCNICA
Título: Conectividade Ferroviária nas Regiões Centro e Norte com Castela e Leão e
Além-Pirinéus
Estudo concluído em Novembro de 2009. Para efeitos de edição, procedeu-se à actualização, com
dados de 2010, do Ponto 8- Apêndice.
O presente estudo foi realizado no âmbito dos trabalhos técnicos preparatórios do exercício de
prospectiva territorial, desenvolvido pelo DPP para o Sistema Urbano do Litoral da Região do
A Directora-Geral,
Manuela Proença
1) Introdução: Enquadramento geográfico e Objectivos
1
a que se vem observando continuamente de alguns anos até presente, como resultado
prático de uma conjuntura onde a reduzidos níveis de investimento e modernização se
junta a incapacidade dos Poderes Públicos levarem à prática uma política de
internalização de “custos externos” das actividades transportadoras. A perspectiva de
constituição num futuro próximo de um mercado internacional de emissõres, a par com
a incapacidade dos Estados atenderem sózinhos, o financiamento da manutenção de
infra-estruturas rodoviáras, sujeitas a tráfegos intensos, e grandes exigências de
trabalhos de manutenção corrente, é, todavia, um factor susceptível de introduzir
grandes mudanças, a curto e/ou médio prazo, com Estados-Membros da União Europeia
como França a manifestarem intenção de cobrança generalizada de “ecotaxas” pelo uso
das suas redes viárias.
2
da Região Centro, evidenciando o respectivo território uma densidade populacional que
é, comparativamente, um quinto da média Regional e Nacional Portuguesa. Em
Castilla-y-León, algumas das principais cidades localizam-se num eixo a Nordeste da
chamada “Cordilheira Central”, fronteira natural separando as Mesetas Norte e Sul,
correspondendo ao corredor terrestre ligando Madrid ao Cantábrico e a França.
Valladolid-cidade, capital autonómica, possuía, em 2008, mas de 300.000 habitantes,
Burgos (mais de 177.000 indivíduos) aproximava-se das duas centenas de milhar, León
(135.000 habitantes) e Palência (83.000 habitantes) assumem-se como nós de
comunicações importante, nas relações com Astúrias e Cantábria. No Noroeste de
Castilla-y-León, as cidades existentes possuem dimensões mais reduzidas, sobressaindo
todavia Salamanca (135.000 habitantes) e Zamora (66.000 habitantes). A dimensão
relativamente grande das cidades de Castilla-y-León, combinadas com uma densidade
populacional baixa, não deixa grandes dúvidas quanto a uma grande proporção de
população urbana, e existência de grandes espaçoes rurais intermédios despovoados.
O ponto de partida que existe, a nível das redes ferroviárias da Região Centro e de
Castilla-y-León está longe de satifazer qualquer estratégia de desenvolvimento
transfronteiriço, orientada no sentido da constituição de uma “Euro-Região”. Existem,
3
sem dúvida, um conjunto de ferrovias históricas, que não tendo sido concebidas num
contexto de “Integração Europeia”, vão funcionando no sentido de satisfazer
marginalmente as solicitações logísticas que cabem, de forma residual, ao modo
ferroviário. Como adiante se verá em maior detalhe, não existem, práticamente (2009),
serviços ferroviários de passageiros entre as duas regiões, facto que traduz bem a
marginalidade completa, senão mesmo insignificância, do modo ferroviário, segundo
uma perspectiva transfronteiriça. Todavia, numa lógica nacional e interna aos Estados
de que fazem parte, os territórios da Região Centro e da Comunidad Autónoma de
Castilla-y-León, estão longe de serem “territórios marginais” para o transporte
ferroviário, sendo atravessadas por diversos itinerários de inegável importância, e, no
caso concreto de Espanha, tem-se inclusivamente assitido a um surto recente de grandes
investimentos, onde se destaca a inclusão de cidades como Segóvia e Valladolid na
Rede Transeuropeia de Alta Velocidade, no âmbito da constituição gradual de uma rede
tentacular, irradiante de Madrid para o Cantábrico, País Basco e França, por um lado, e
Galiza e Portugal, por outro.
4
Figura1: A Rede Ferroviária do Norte e Centro de Portugal e a sua integração Ibérica
5
Finalmente, deverá referir-se que os grandes investimentos ferroviários, cuja
concretização se prevê ocorrer num horizonte temporal mais ou menos distante,
afiguram-se susceptíveis de alterar significativamente as funcionalidades entre ambas as
regiões, designadamente a futura Linha de Alta Velocidade (LAV) Aveiro-Viseu-
Salamanca, inserida, naturalmente, numa rede onde se conta não apenas o lado
Espanhol, mas igualmente o novo corredor Norte-Sul, a estabelecer ao longo da fachada
Atlântica de Portugal. Até lá, um conjunto de intervenções nas linhas convencionais,
constituirá o lado mais visível do investimento ferroviário articulando Centro e Castilla-
y-León, com reflexos mais marcantes na vertente logística, e de maior abertura dos
acessos portuários localizados em Portugal, a um vasto território privado de contacto
directo com o mar. A análise dos diversos investimentos previstos em sede de QREN
(2007-2013), assim como do PEIT (Plano Estrategico de Infraestructuras y Transportes
2005-2020), constituirá o essencial do presente trabalho, formulando-se na base das
directrizes de ambos os documentos, diversos cenários evolutivos e respectivas visões,
para os horizontes temporais de 2015, 2020, 2025 e 2030 e além.
6
2) A Situação de Base (2009) em Portugal: Descrição dos corredores ferroviários
existentes, incluindo tipologia da infra-estrutura e serviços existentes (passageiros e
logística);
7
a) Histórico
Construída com capitais Franceses (Societé Financiére de Paris), foi explorada, desde a
sua inauguração até 1947, pela “Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses da
Beira Alta”, período após o qual se integrou na concessão quase-única da CP. Garantida
a ligação a Salamanca em Fuentes de Oñoro em 1886, a Linha da Beira Alta, passaria a
contar, desde 1895, com o trânsito do serviço de luxo “Sud-Express”, estabelecido entre
Lisboa e a fronteira Pirenaica de Hendaye, e garantindo assim uma relação Lisboa-Paris,
com transbordo, motivado pela inexistência, nessa época, de material circulante apto a
funcionar em bitolas diferentes, através de mudança de eixos.
1
Viseu foi ignorada pelo traçado da Linha da Beira Alta, para que se evitasse a construção de um
atravessamento do Rio Dão, no trajecto compreendido entre a cidade e Mangualde. Eventualmente, Viseu
acabaria por ver-se ligada à rede ferroviária através da Linha do Dão (e mais tarde Vouga), em bitola
métrica, a partir de Santa Comba-Dão, numa situação que durou cem anos (1890-1990). A Companhia
dos Caminhos de Ferro Portugueses da Beira Alta, solicitaria ao Governo do Estado Novo, uma
concessão para a construção de um ramal de via larga, de Mangualde a Viseu, por um lado, e a Gouveia,
por outro, na base das directrizes do Plano Ferroviário de 1927 (último elaborado em Portugal), tendo, no
entanto sido indiferida a sua pretensão. A cidade de Pinhel, por seu turno, foi contemplada com uma
estação, localizada na orla do concelho, com a cidade, sede de Município, a ficar a cerca de 20 Km.
8
dada a inexistência de grandes relações comerciais com Espanha, e parte do capital da
“Companhia da Beira Alta” cedo foi dominado pela “Companhia Real dos Caminhos de
Ferro Portugueses” (futura CP). A secção Pampilhosa-Figueira da Foz, na qual se
depositavam grandes expectativas de geração de tráfego Atlântico, languideceu,
relegada para a condição duma linha de índole local. Já integrada na CP, a linha vive um
momento importante, quando, de meados dos anos 50 até à primeira metade da década
seguinte, as numerosas obras de arte existentes entre Pampilhosa e Vilar Formoso são
reforçadas, de 16 ton/eixo para 22,5 ton/eixo, ao abrigo de um programa financiado pela
NATO. A partir dessa época e até além da integração Europeia, a Linha da Beira Alta
torna-se o mais importante itinerário ferroviário ligando Portugal ao estrangeiro, dado
ser o único isento de utilização de locomotivas específicas, com menos carga por eixo, e
consequentemente, capacidades inferiores, em esforço de tracção.
b) Tipologia da infra-estrutura
2
Ver Directório da Rede Ferroviária Nacional 2010, REFER.
3
Designação de um ponto de cruzamento e resguardo, em plena via, cujos aparelhos e sinalização de
apoio, são controlados à distância.
9
A superestrutura de via é constituída por troços de carril alternantes no tipo 54 Kg/m e
60 Kg/m, soldado em “barras longas”, e assente geralmente em travessa de betão
monobloco, fixada por intermédio de “prego elástico”. As cargas máximas admissíveis
ao longo de toda a infra-estrutura, determinadas pelas obras de arte, enquadram-se na
categoria “D4”, a mais elevada da rede, correspondendo a 22,5 ton/eixo, e 8 ton/metro
linear. O “contorno de referência”4 da Linha da Beira Alta, corresponde ao tipo CPb+,
sendo a categoria mais elevada da rede nacional. A Linha da Beira Alta modernizada
enquadra-se nos patamares de velocidades máximas admissíveis, compreendidas entre
120 e 160 Km/h.
Todo o trajecto Pampilhosa-Vilar Formoso está equipado com fibra óptica de apoio às
telecomunicações de suporte à exploração, assim como se encontra em pleno
funcionamento o sistema de rádio-solo, permitindo comunicação em tempo real com
todas composições em movimento.
4
O “contorno de referência” é definido pelas dimensões máximas em largura, e sobretudo em altura, dos
veículos autorizados a circular numa determinada linha. Trata-se de um factor de relevância, atendendo-se
a uma crescente importância de tráfego intermodal, com incidência particular no transporte integral de
camiões TIR (40 ton) ou semi-reboques através de via férrea.
10
Entre 1996 e 1997, a Linha da Beira Alta passou a estar equipada de catenária,
permitindo o emprego de tracção eléctrica na totalidade dos trajectos entre as áreas
metropolitanas de Lisboa ou Porto, e a estação fronteiriça de Vilar Formoso. O sistema
de electrificação é, na práctica, idêntico ao da maior parte da rede electrificada de
Portugal em “potencial elevado” (25 kV) e corrente alternada à frequência “industrial
universal” de 50 Hz. Aquando da modernização do eixo Pampilhosa-Vilar Formoso,
decorrida na segunda metade dos anos 90 do séc.XX, decidir-se-ia implementar, de
forma pioneira em Portugal, a variante 2x25 kV,5 em virtude do perfil longitudinal da
linha obrigar a um emprego de um maior número de subestações de tracção, caso fosse
adoptada a electrificação tradicional em 25 kV, 50 Hz.
A energia eléctrica é fornecida à catenária da Linha da Beira Alta por intermédio de três
“subestações de transmissão”: Mortágua, Gouveia e Sobral-Avelãs, com a primeira
alimentada a partir do aproveitamento hidroeléctrico de Aguieira (Mondego-Dão), e as
segundas desde Pocinho (Douro), em trifásico 220 kV.
A Linha da Beira Alta vai contar num horizonte temporal de curto/médio prazo, com
um acesso directo a uma das novas “Plataformas Logísticas” inscritas Programa
“Portugal Logístico” (QREN 2007-2013). Esta plataforma, de carácter inter-modal,
localizar-se-á nas proximidades do apeadeiro de Gata, a pouca distância da Guarda
(lado Vilar Formoso). Está prevista igualmente a construção de um novo terminal de
mercadorias na estação de Pampilhosa, junção da Linha da Beira Alta com o itinerário
Lisboa-Porto e o acesso directo à Figueira da Foz (dito “Ramal de Cantanhede”).
5
No sistema de 1x25 kV tradicional, a alimentação da rede aérea processa-se tão-somente a partir do
abaixamento do potencial da rede geral da REN para valores próximos do nominal (geralmente 27,5 kV),
por intermédio dos transformadores existentes nas “subestações de transmissão/tração”. A variante 2x25
kV, permitindo poupar o número de subestações, consiste fundamentalmente numa construção particular,
na qual o ponto médio de secundário do transformador da subestação é ligado à terra (carril), obtendo-se
assim em cada extremo, uma fase e uma contra-fase homóloga (+27,5 kV e -27,5 kV), em oposição
permanente, no seu ciclo sinusoidal. Ambas, fase e contra-fase, são ligadas entre si, por intermédio de um
auto-transformador, cujo ponto médio permanecerá sempre ligado à terra, em cada 10-15 Km, permitindo
esbater consideravelmente perdas de tensão em linha, particularmente em trajectos montanhosos. O
sistema tem vindo a ser adoptado de forma crescente, tanto em vias convencionais, como linhas de “Alta
Velocidade”, de que é exemplo a LAV Madrid-Barcelona-França.
11
d) Tipologia dos serviços e operadores
6
Até 1990, era possível aceder a Viseu por modo ferroviário, sendo para tal necessário proceder-se a um
transbordo para a via métrica do Dão, em Santa Comba-Dão. Com a desactivação simultânea do sistema
de vias métricas do Dão e Vouga, Viseu ficou desprovido de qualquer tipo de ligação ferroviária ao
mundo exterior.
12
Evolução dos Serviços Internacionais de Passageiros, na Linha da Beira Alta
Tipologia da Ano de 1983 Ano de 2009
oferta de serviços
internacionais na
Linha da Beira
Alta
Directos • Rápido “Sud-Express” Lisboa(SA)- • Rápido “Sud-Express”
Pampilhosa-Guarda-Vilar Formoso-Fuentes de Lisboa(SA)-Pampilhosa-Guarda-
Oñoro-Salamanca-Medina del Campo- Vilar Formoso-Fuentes de
Valladolid-Burgos-Miranda de Ebro-Vitoria- Oñoro-Salamanca-Medina del
San Sebastian-Irún-Hendaye-Paris(Austerlitz), Campo-Valladolid-Burgos-
com carruagens “couchettes” SNCF directas Miranda de Ebro-Vitoria-S.
Lisboa-Paris (mudança de eixos em Hendaye). Sebastian-Irún-Hendaye
• Rápido “Internacional” Porto(C)- (correspondência até Paris, pelo
Pampilhosa-Guarda-Vilar Formoso-Fuentes de serviço TGV).
Oñoro-Salamanca-Medina del Campo-
Valladolid-Burgos-Miranda de Ebro-Vitoria-
San Sebastian-Irún-Hendaye-Paris(Austerlitz),
com carruagens “couchettes” SNCF directas
Porto-Paris (mudança de eixos em Hendaye).
Indirectos, com • Rápido “Iberia-Express” Fuentes de Oñoro- Não há qualquer tipo de serviço,
transbordo em Salamanca-Medina del Campo-Valladolid- de continuidade à oferta regional
Vilar Formoso ou Burgos-Miranda de Ebro-Vitoria-S.Sebastian- existente no lado Português.
Fuentes de Oñoro Irún-Hendaye/Orduña-Bilbao(Abando).
• Rápido “TER” Fuentes de Oñoro-Salamanca-
Avila-Madrid (P.Pío).
• Regionais Fuentes de Oñoro-Fuentes de San
Esteban-Salamanca-Medina del Campo-
Valladolid (Campo Grande).
Fontes: Guias Horários CP e RENFE, 1983; Horários CP em www.cp.pt
13
o serviço garantir (hoje em termos muito precários) uma ligação Portugal-França que
vai escapando e resistindo ao radiocentrismo de Madrid.
7
Ver Relatórios do Observatório Transfronteiriço (OTEP) do MOPTC, 2001 e 2006, com uma quota de
mercado para o transporte ferroviário internacional de cargas entre Portugal e Espanha de 3%, relativa a
1999 e 2000, e de 2%, para os anos seguintes.
14
fronteira, atendendo-se sobretudo ao esforço maciço de construção de auto-estradas
(A23 e A25 do lado Português; A62 do lado Espanhol), empreendido no mesmo
período.
No cômputo das quatro fronteiras ferroviárias activas8, através da Linha da Beira Alta e
da Vilar Formoso/Fuentes de Oñoro processa-se grosseiramente metade do tráfego
ferroviário internacional de carga, consistindo o mesmo primordialmente nas relações
Portugal-Espanha e Portugal-França. A importância relativa da Linha da Beira Alta e da
fronteira de Vilar Formoso Fuentes de Oñoro pode ser ilustrada sucintamente,
atendendo-se ao número anual de vagões processados:
8
Valença/Tuy, Vilar Formoso/Fuentes de Oñoro, Marvão-Beirã/Valencia de Alcantara e Elvas/Badajoz,
encontrando-se suspensos desde 1985 os movimentos através de Barca de Alva/Fregeneda.
15
Todas as mercadorias trans-pirenaicas oriundas ou destinadas a Portugal são
transportadas em vagões Transfesa9, de eixos ou bogies intermutáveis, submetendo-se a
uma operação de cerca de uma hora (para composições completas), nas instalações de
Hendaye, nas quais os eixos de 1668mm, utilizados nas linhas de bitola larga Ibérica,
são substituídos por outros, de 1435mm, de padrão UIC ou Europeu, permitindo a
continuidade da viagem sem recurso a qualquer tipo de baldeação.
9
Grupo Espanhol, de origem Galega, fundado em 1943 pelos Hermanos Fernandéz Lopéz, em Badajoz, a
Sociedade Transfesa, apresenta-se hoje como um dos grandes operadores logísticos Europeus, possuindo
um parque de quase 8000 vagões de eixos e bogies intermutáveis, aptos ao transporte ferroviário de carga,
da Península Ibérica para virtualmente qualquer outro ponto da rede Europeia (as operações Ibéria-
Turquia, através do Estreito do Bósforo, constituem-se como as mas recentes do operador, tendo-se
iniciado em 2003). A Transfesa foi pioneira no emprego de vagões de eixo intermutável, quando no ano
de 1950, começou a transportar citrinos de Espanha para França e para o Reino Unido: as operações
demasiadamente morosas de baldeação não eram compatíveis com a natureza “perecível” da carga,
surgindo assim o serviço regular Espanha-França sem transbordo, graças às novas instalações de mudança
de eixos, localizadas em Hendaye, permitindo reduzir uma paragem forçada de uma semana para apenas
um par de horas. Actualmente a Transfesa possui uma multiplicidade de movimentos de carga, com
vagões oriundos de Espanha e (em menor escala Portugal), destinados a França, Alemanha, Reino Unido,
Eslováquia, etc. destacando-se da grande variedade das cargas transportadas, os componentes para a
indústria automóvel ou os electrodomésticos. O Grupo Transfesa acabaria entretando por diversificar as
suas actividades a outros sectores, além do ferroviário, no mesmo se incluindo, na actualidade, nomes do
mundo empresarial Galego, como Pescanova (alimentar-pescado), Zeltia (Laboratórios e Farmácia),
Frigolouro (enchidos regionais), Fontecelta (água mineral) e Corporación Noroeste (cimenteira,
comparticipada pela Cimpor de Portugal).
16
Volume de carga (103 ton) internacional em modo ferroviário por origem/destino
Ano de 2004 Descarga Carga Total
Espanha 585080 432393 1017473
França 12327 1417 13744
Outros UE-15 13078 3595 16673
Total UE-15 610485 437405 1047890
Outros 179 11535 11714
Total 2004 610664 448940 1059604
Ano de 2006 Descarga Carga Total
Espanha 467008 588820 1075829
França 179 25 204
Outros 3373 381 3654
Total UE-25, 2006 490460 589227 1079587
Fonte: 4º e 5º Relatório do Observatório Transfronteiriço (MOPTC), 2005 e 2006
Dado o seu carácter recente, afigura-se ainda difícil avaliar o efeito da entrada de
operadores ferroviários privados, no segmento da carga internacional. Contrariamente à
prática corrente dos operadores incumbentes, CP-Carga e RENFE-Cargas, o consórcio
Takargo-Comsa processa todas as suas operações de forma integrada, sem sujeitar as
composições completas a troca de locomotiva e tripulação na fronteira. Contorna os
diferentes tipos de “cab-signalling” com locomotivas aptas a funcionar indistintamente
em ambos os sistemas empregues nos duas redes (REFER e ADIF). E ainda privilegia o
17
uso de locomotivas Diesel-Eléctricas de última geração, como meio de suprir
simultaneamente a ausência de catenária nos ramais particulares (permitindo a
polivalência das locomotivas na função “manobras”), e ainda a diferença de
electrificação nas linhas convencionais de Portugal e Espanha (monofásico 25 kV 50
Hz, versus 3 kV corrente contínua), sem recurso a material poli-tensão10.
Este pequeno troço (inferior a 2 Km) é constituído pela ligação internacional da Linha
da Beira Alta à estação vizinha de Fuentes de Oñoro, “término municipal” de Castilla-y-
León o qual, na prática, está fisicamente ligado em malha urbana ao seu vizinho
Português de Vilar Formoso, Freguesia do Concelho de Almeida. O troço, apesar de em
todas as características de superestrutura de via se apresentar idêntico à restante Linha
10
Presentemente (2009), os operadores associados Comsa e Takargo (Mota-Engil) não efectuam mudança
de locomotiva nos seus serviços transfronteiriços. O seu material de tracção, homologado para as redes
ADIF e REFER, é compatível com os diferentes tipos de “cab-signalling” e telecomunicações existentes
de ambos os lados da fronteira.
11
Consistindo na prática, no transporte de camiões TIR completos (40 ton) em vagões específicos para
esse fim. A tecnologia eleita pela Takargo-Comsa é a de tipo “Modalhor”, com as operações de
embarque/desembarque a fazerem-se rapidamente através de um sistema de basculação lateral.
12
Presentemente a Takargo possui outras operações que se processam através da Linha do Leste e Ramal
de Cáceres (fronteira de Marvão e Valência de Alcântara), pela qual passam as suas composições de
contentores entre Lisboa e Riachos-Torres Novas e Madrid-Vicalvaro ou Barcelona.
18
da Beira Alta (e da sua continuidade para Salamanca), não dispõe de electrificação13, e a
regulação da circulação entre estações vizinhas de ambas as redes é realizada através de
comunicações telefónicas. A ausência de catenária entre as estações fronteiriças
Portuguesa e Espanhola, faz com que, na práctica, todas as operações de mudança de
locomotiva (eléctrica/Diesel ou vice-versa) sejam hoje centralizadas em Vilar Formoso,
facto todavia irrelevante para as companhias logísticas privadas, cuja operação regular,
iniciada em 2009, assenta no uso exclusivo de locomotivas Diesel-eléctricas
interoperáveis.
13
A extensão máxima da catenária 25 kV 50 Hz do lado Português, termina, com efeito, em território
Espanhol (50m), onde se localizam dois postes de suporte. Esta curiosidade resulta do facto do projecto
inicial de modernização do eixo “Beira Alta”, concluído em 1997, contemplar a extensão da tracção
eléctrica até à estação de Fuentes de Oñoro, local onde seriam centralizadas as manobras de troca de
locomotiva. A mudança aparente de planos explica esta penetração da linha eléctrica em território
Espanhol, sem qualquer utilidade prática, para além de permitir manobras, e constituir ponto de união
futura com a electrificação Medina-Salamanca-Portugal, cujo projecto de engenharia se encontra
concluído e redactado desde 2004.
19
2.2) O “corredor Beira Baixa” (Entroncamento-Abrantes-Castelo Branco-Covilhã-
Guarda);
20
a) Histórico
A Linha da Beira Baixa foi aberta em duas secções pela Companhia Real dos Caminhos
de Ferro Portugueses (antecessora da CP, de capitais predominantemente Franceses):
Abrantes-Covilhã em 1891, e Covilhã-Guarda dois anos mais tarde. A “Ligne
Internationale de la Beira Baixa” teria ainda um terceiro troço que ficaria por construir:
a pequena concordância de evitamento da Guarda, permitindo o encaminhamento
directo, de Sul, para a fronteira de Vilar Formoso, sem necessidade de reversão na
estação de entroncamento com a Linha da Beira Alta.
Na prática, a Linha da Beira Baixa não conseguiu assumir-se como o grande eixo
natural de comunicação entre Lisboa e Vilar Formoso, apesar de constituir um itinerário
mais curto e directo. A Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses acabaria
por canalizar a maior parte dos tráfegos internacionais (já de si modestos) via Linha do
Norte e Pampilhosa, num contexto de dominância dos capitais da Companhia dos
Caminhos de Ferro da Beira Alta. A vocação internacional da Linha da Beira Baixa
apenas emergirá mais de 120 anos após a sua abertura, e em pleno séc.XXI, em
resultado das extensas obras de modernização em todo o seu trajecto (incluindo-se a
construção da “concordância” da Guarda), actualmente (2009) em curso.
b) Tipologia da Infraestrutura
21
A Linha da Beira Baixa apresenta a particularidade de incorporar alguns ramais
internos, de cariz industrial, com destaque para o troço de 7 Km, compreendido entre
Mouriscas-A (Km 15), e a Central Termoeléctrica do Pego, construído pela EDP em
1992. Este ramal, exclusivamente dedicado ao movimento de carvão (importado a partir
de Sines) e cinzas (destinadas às cimenteiras da Península de Setúbal), integra-se no
chamado “Itinerário dos Granéis” Sines-Pego, e inclui uma importante obra de arte
rodo-ferroviária, permitindo a travessia do Rio Tejo, a montante de Abrantes. A partir
de Rodão (Km 63), há igualmente um ramal industrial (2 Km), destacando-se da Linha
da Beira Baixa, com a finalidade de abastecer de rolaria de madeira o complexo de pasta
celulósica aí existente.
A Linha da Beira Baixa é constituída inteiramente por uma via única, cuja
superestrutura, heterogénea, reflecte as diversas etapas de um processo de modernização
em curso, e cuja conclusão ainda não teve lugar. Assim, de Abrantes até Mouriscas-A, a
superestrutura de via é constituída por carril de 54 Kg/m, soldado em “barras longas”, e
assente em travessa de madeira, alternando com alguns troços equipados com travessa
de betão bi-bloco14, fixada elásticamente por intermédio de placa ou “nabla”15. As
cargas máximas admissíveis ao longo de toda a infra-estrutura, determinadas pelas obras
de arte, enquadram-se na categoria “D4”, a mais elevada da rede, correspondendo a 22,5
ton/eixo, e 8 ton/metro linear, com o “contorno de referência” correspondendo ao tipo
CPb+.
De Mouriscas-A (Km 15) a Castelo Branco (Km 93) a Linha da Beira Baixa apresenta
uma superestrutura caracterizada por carril de 54 Kg/m, soldado em “barras longas” e
assente predominantemente em travessa de madeira, sobretudo no longo trajecto inscrito
na margem direita do Tejo, entre Mouriscas-A e Rodão. De Rodão a Castelo Branco é
utilizada com maior incidência a travessa de betão bi-bloco. As cargas máximas
admissíveis ao longo de toda a infra-estrutura, determinadas pelas obras de arte,
enquadram-se na categoria “D2”, correspondendo a 22,5 ton/eixo, e 6,4 ton/metro
linear, com o “contorno de referência” correspondendo ao tipo CPb.
14
A travessa de betão bi-bloco diferencia-se da monobloco, na medida em que é constituída por duas
partes laterais de betão (onde assentam os carris), unidas entre si por um perfil em “L”, de aço.
15
Designação técnica da fixação elástica mais comum nas travessas de betão “bi-bloco”.
22
De Castelo Branco (Km 93) à Covilhã (Km 165), mantêm-se as características de
superestrutura do troço de Mouriscas-A a Castelo Branco, com alguma predominância
da travessa de betão de tipo “bi-bloco”.
À data de escrita (2009), o troço final da Linha da Beira Baixa, da Covilhã (Km 165) à
Guarda (Km 212) não tem qualquer movimento, encontrando-se suspenso o tráfego,
como consequência de extensos trabalhos em curso, de renovação integral da
superestrutura, incluindo consolidação da plataforma de via e reforço das obras de arte
metálicas. Quando reabrir, em finais de 2011, o troço apresentar-se-á sem qualquer tipo
de restrições de carga, beneficiando ainda de electrificação. Antes do início das obras
actualmente em curso, o troço Covilhã-Guarda da Linha da Beira Baixa apresentava
uma superestrutura datando da época da sua inauguração, em finais do séc.XIX: carril
de 33 Kg/m e obras de arte metálicas por reforçar, limitando as cargas máximas
admissíveis à categoria “A” (16 ton/eixo).
23
A Linha da Beira Baixa viu-se equipada parcialmente de electrificação, pela primeira
vez no ano de 1995, com a inclusão de parte do seu trajecto no “Itinerário dos Granéis”
Sines-Pego. Nessa altura, entrou em exploração a Subestação de Transmissão de
Abrantes, e inaugurou-se a catenária entre Entroncamento e Mouriscas-A/Pego-ramal.
Com a continuidade eléctrica assegurada pelos 29 Km iniciais da Linha do Leste, optar-
se-ia, na mesma época por re-afectar parte dessa linha histórica ao itinerário Beira
Baixa, transferindo-se (nominalmente) para o Entroncamento o seu início. A partir de
2005, com a inauguração da Subestação de Tracção de Rodão, foi prolongada a
catenária a Castelo Branco. Toda a extensão actualmente electrificada da Linha da Beira
Baixa corresponde ao sistema clássico de monofásico 25 kV 50 Hz. Actualmente
encontra-se em fase de construção a Subestação da Fatela, entre Castelo Branco e
Covilhã, a qual permitirá, na variante 2x25 kV 50 Hz, prolongar a catenária até à
Guarda indo encontrar a rede electrificada sob a área de influência da Subestação de
Sobral-Avelãs. As subestações de Abrantes, Rodão e Fatela, são alimentadas pela linhas
trifásicas provenientes de Rio Maior-Pego (400 kV), Belver-Fratel (hidro-eléctricas)
(150 kV) e Pocinho (Douro), (220 kV).
24
d) Tipologia dos serviços e operadores
25
2.3) O acesso directo Beira Alta/Atlântico-Oeste: Pampilhosa-Figueira da Foz (porto)-
Oeste;
26
a) Histórico
b) Tipologia da Infraestrutura
27
reformular-se a inscrição do Ramal de Cantanhede na zona da Figueira da Foz, de
molde a evitar a reversão de composições na referida estação, possibilitando-se um
encaminhamento directo de composições para a estação correlativa de Fontela/porto da
Figueira da Figueira da Foz, onde se encontra o feixe de linhas do terminal portuário.
Neste sentido, prevê-se a construção de uma linha de uma concordância (2 Km), ligando
directamente o Ramal de Cantanhede à Linha do Oeste, sem passagem pela estação da
Figueira da Foz. Refira-se que o Gabinete específico criado pela REFER para a
modernização da Linha do Oeste16, inclui na sua esfera de competências o Ramal de
Cantanhede, sugerindo uma fusão de ambos. Enfim, uma eventual fusão das linhas do
Oeste e Beira Alta, por intermédio do Ramal de Cantanhede, conferiria à Área
Metropolitana de Lisboa, um itinerário logístico, da capital a Vilar Formoso, o qual não
sendo o mais directo, apresentaria, contudo, a vantagem de aceder aquele importante
ponto fronteiriço sem utilização de qualquer troço da Linha do Norte (Lisboa-Porto).17
16
Gabinete do “Eixo Oeste”, localizado em Caldas da Rainha.
17
A título de comparação, os itinerários ferroviários Lisboa (terminal logístico da Bobadela)-Vilar
Formoso distam, respectivamente: a) via Norte/Pampilhosa-Beira Alta: 424 Km; b) via
Norte/Entroncamento-Beira Baixa: 383 Km; via Oeste-Cantanhede-Beira Alta: 506 Km.
28
2.3.2) A Linha do Oeste
29
a) Histórico
A Linha do Oeste nunca viu o seu potencial de suplementar a Linha do Norte utilizado
em grande escala. Viveu sempre centrada sobre si própria, mercê de atravessar um zona
bastante povoada e geradora de tráfegos locais. No domínio da logística, a Linha do
Oeste garante conexão à rede ferroviária nacional de um série de complexos industriais
de relativa importância, tais como produção de rações (Ramalhal, a Norte de Torres
Vedras), cimentos (Martingança/Maceira-Liz), e pasta de papel (Louriçal).
b) Tipologia da infra-estrutura
A Linha do Oeste é inteiramente constituída por via única, com excepção dos seus 2
Km iniciais de Cacém a Meleças (Km 20), os quais constituem a única parte da linha
modernizada, e integrada no sistema ferroviário suburbano da Grande Lisboa. O troço
18
O troço inicial da Linha do Oeste, do Km 0 (Lisboa-Rossio) ao Cacém (Km 18), foi – por questões de
lógica e praticabilidade da exploração – anexado ao Ramal de Sintra (Cacém-Sintra, 10 Km),
constituindo-se assim o actual eixo suburbano Lisboa-Sintra, conhecido como “Linha de Sintra”.
30
Cacém-Meleças (electrificado) apresenta-se em via dupla, armada com carril de 60
Kg/m, soldado em barras longas, e fixado a travessa de betão monobloco por intermédio
de “prego elástico”.
Em toda a restante extensão, a Linha do Oeste é constituída por uma via única, na qual
predomina carril de 54 Kg/m, soldado em “barras longas”, fixado elásticamente a
travessa de betão bi-bloco. Não existem quaisquer tipo de restrições de carga,
associadas às obras de arte existentes entre Cacém-Amieira-Figueira/Alfarelos
classificadas na categoria máxima “D4” (22,5 ton/eixo e 8 ton/metro linear). Entre
Figueira da Foz e Alfarelos, existiram pequenos troços de via dupla (Lares e Verride-
Marujal), destinados a constituir-se em “desvios activos”, sob controle de um CTC
futuro, os quais nunca tendo entrado em serviço comercial, acabariam por ser
posteriormente levantados. O “contorno de referência” da Linha do Oeste enquadra-se
no tipo “CPb+” de Cacém a Torres Vedras e CPb, a Norte do último destes pontos.
Toda a extensão da Linha do Oeste se encontra nos patamares de velocidades máximas
admissíveis, compreendidas entre 90 e 120 Km/h.
A Linha do Oeste possui ramais industriais de importância, dos quais são exemplo as
linhas Martingança-Maceira Liz, de 5 Km (cimentos Cimpor), e Louriçal-Leirosa
(celuloses Celbi e Soporcel), com 7 Km de extensão.
31
extensão da catenária até Amieira e Louriçal, com o intuito de servir, com tracção
eléctrica, os movimentos logísticos gerados pelos complexos de celulose e pasta
localizados na Leirosa, e ligados à última das estações por intermédio de um novo ramal
industrial. Este último, só seria dotado de electrificação no ano de 2009.
32
Até recentemente, toda a oferta logística na Linha do Oeste (rações, cimentos, pastas
celulósicas) eram assegurada exclusivamente pelo operador CP-Carga. A partir de 2009,
todavia, a Linha do Oeste passou a contar com a oferta do operador privado Takargo
(Mota-Engil), o qual se especializou num tráfego regular de “petcoke” (combustível
industrial), entre Setúbal e as cimenteiras de Pataias/Maceira-Liz, consistindo em
composições-bloco de 26 vagões, com trânsito através da Ponte 25 de Abril.
33
2.4) O corredor Lisboa-Porto (Linha do Norte)
34
Embora não possua directamente um carácter transfronteiriço, a chamada Linha do
Norte acaba por se tornar, na prática, no mais importante itinerário internacional, mercê
da estrutura da rede ferroviária de Portugal, na qual a maior parte das linhas transversais
Oeste-Leste bifurcam de um ponto seu intermédio (Linha da Beira Alta, na Pampilhosa;
Linha da Beira Baixa/Leste e Ramal de Cáceres no Entroncamento). Semelhante
configuração estrutural tem imposto ao longo dos últimos anos, consideráveis
limitações a uma gestão racional da capacidade técnica (restrições de “canal-horário”)
da rede ferroviária de Portugal, e não se afigura expectável qualquer mudança
significativa, antes da entrada em exploração do novo corredor de “Alta Velocidade”
Norte-Sul, para o qual, pelo menos os serviços de passageiros mais rápidos, e de
paragens limitadas, serão desviados, libertando-se então capacidade que poderá ver-se
reafectada aos movimentos logísticos e à oferta regional, de índole “colectora”.
19
Também designado por “Bloco Orientável” a existência de CTC (Comando Centralizado de Tráfego)
em duas vias, permite que as mesmas sejam “banalizadas”, ou tornadas completamente reversíveis,
contrariamente ao tradicional “Bloco Automático Luminoso” (BAL), o qual se limita a gerir os cantões
em via dupla, regulando o espaçamento entre composições sucessivas no mesmo sentido. Na Linha do
Norte, apenas subsistem em regime de BAL (e espera-se a curto termo que o mesmo se converta em
CTC), os troços de Setil a Entroncamento, de Alfarelos a Coimbra-B, e de Ovar a Vila Nova de Gaia. O
CTC em via dupla confere maior flexibilidade à gestão da capacidade da mesma, tornando possível, a
título de exemplo, ultrapassagens em plena via, num dado troço, sujeitas, todavia, às restrições específicas
do “canal-horário”. O CTC da Linha Lisboa-Porto possui a sua gestão dividida pelos CCO (Centros de
Controlo Óptico) de Lisboa-Braço de Prata (até Pampilhosa) e Porto-Contumil (a Norte de Pampilhosa).
35
de terceira e quarta via. O estrangulamento da Linha do Norte pode ilustrar-se no
seguinte quadro, relativo à utilização da sua capacidade, por troços:
36
2.5) O “corredor Douro” Leixões/Porto-Ermesinde-Régua-Pocinho-Barca de Alva.
37
Apesar de, em termos estritos, a Linha do Douro não percorrer a Região Centro,
exceptuando-se unicamente uma pequena parte na zona fronteiriça do concelho de
Figueira de Castelo Rodrigo, a sua interligação directa (presentemente desactivada, mas
com perspectivas de reabertura) na Província de Salamanca, tornam incontornavel a
inclusão no presente trabalho. Em conjunto com o ramo setentrional das “Linhas de
Salamanca à Fronteira Portuguesa”, a Linha do Douro, cuja valência internacional
permanece desactivada desde 1985, constitui o mais curto itinerário terrestre (incluindo
estradas e auto-estradas) alguma vez construído entre Madrid, Salamanca e o Oceano
Atlântico (Leixões).
Distâncias quilométricas por via férrea entre alguns pontos geradores de movimento de
cargas do Grande Porto e Castilla-y-León/fronteira Pirenaica (Km), via Pampilhosa
(Beira Alta) e Douro (secção internacional reaberta ao tráfego)
38
Relativamente à Área Metropolitana do Porto, o encaminhamento de qualquer
movimento de mercadorias por via férrea, dirigida à Meseta Central ou Europa além-
Pirinéus, processa-se vulgarmente pelo itinerário Beira Alta, implicando uma
deslocação de 105 Km na Linha do Norte, do Porto para Sul (Pampilhosa), antes de se
tomar a direcção da fronteira Espanhola. No geral, o “atalho” Douro, com a sua valência
internacional reactivada, significaria uma redução de trajecto de 99 Km, do Porto a
Madrid e Pirinéus.20
a) Histórico
20
Ou ainda mais, relativamente a Leixões ou qualquer ponto gerador de tráfego exportador, no complexo
Guimarães-Famalicão-Braga, servido pelo terminal logístico de Aveleda.
39
A escassez de tráfego internacional, aliado a uma conjuntura adversa, coincidindo com a
crise vinícola do Douro, assumiu-se como muito negativa para o projecto, não se
materializando rapidamente os tráfegos esperados. A ligação ferroviária ao porto de
Leixões assentou durante anos nas linhas de bitola reduzida (90 cm) do sistema “Porto-
Póvoa-Famalicão”, tendo sido necessário esperar pelo ano de 1938, até que as linhas de
via larga do Minho e Douro tivessem, enfim, a sua conexão à infra-estrutura portuária.21
b) Tipologia da Infraestrutura
21
Até 1938, o único contacto da Rede do Estado do Minho e Douro, resumia-se ao chamado “porto do
Douro”, através do acanhado terminal urbano de Porto-Alfândega. Em 1938 abriria finalmente ao tráfego,
a chamada “Linha de Circunvalação do Porto”, de Contumil a Leixões, juntamente com a sua
“concordância” de São Gemil a Ermesinde.
40
(Km 199) não se efectuar qualquer tipo de serviço de passageiros ou carga, desde o ano
de 1988. A Linha do Douro foi servindo, ao longo da sua vida, de “colectora” a uma
sub-rede ferroviária de via métrica, a qual se destinava a levar o transporte ferroviário às
regiões acidentadas do Douro Litoral e Nordeste Transmontano. A Linha do Tâmega
(49 Km) estabeleceu-se de Livração (Km 56) a Arco de Baúlhe; a Linha do Corgo (97
Km), de Régua (Km 105) a Chaves; a Linha do Tua (138 Km), de Tua (Km 150) a
Bragança; e finalmente a Linha do Sabor (106 Km), de Pocinho (Km 175) a Duas
Igrejas. O sucessivo encerramento destas vias métricas, em parte ou na totalidade (caso
da Linha do Sabor), originou que ao longo dos últimos anos do séc.XX, fosse sendo
esbatida a função “colectora” da Linha do Douro, relativamente a este subsistema
ferroviário.22
22
Subsistem como “restos”, 17 Km da Linha do Tâmega, de Livração a Amarante, assim como 27 Km da
Linha do Corgo, de Régua a Vila Real. Ambas encontram suspensa a sua exploração (2009), em virtude
do mau estado da infra-estrutura, prevendo-se que reabram em 2011, completamente reabilitadas. Uma
eventual retoma de exploração do troço remanescente da Linha do Tua, entre Tua e Mirandela (55 Km),
encontra-se dependente do processo de construção do aproveitamento hidro-eléctrico de Foz-Tua,
desconhecendo-se, nesse caso, se haverá lugar a reposição de traçado por intermédio de variante a
construir.
41
As cargas máximas admissíveis na Linha do Douro variam também ao longo dos
diversos troços, de Oeste a Leste. De Ermesinde a Caíde, prevalece a classificação “D4”
(22,5 ton/eixo e 8 ton/m linear), sendo a mais elevada da rede. De Caíde a Régua,
prevalece a classe “D2” (22,5 ton/eixo e 6,4 ton/m linear). De Régua a Pocinho, as
cargas máximas admissíveis enquadram-se na classe “B1” (18 ton/eixo e 5ton/m
linear).23 No troço sem serviço, de Pocinho a Barca de Alva (incluindo a Ponte
Internacional sobre o Rio Águeda), todas as obras de arte existentes pertencem à classe
“A” (16 ton/eixo e 5ton/m linear). O “contorno de referência” para toda a Linha do
Douro é de tipo CPb+.
Em Agosto de 2009 foi aberto pelo Governo da República, concurso para extensão da
electrificação em 25 kV 50 Hz, ao troço de via única, entre Caíde (Km 46) e Marco de
Canaveses (Km 60), juntamente com o CTC, CONVEL e telecomuniações rádio-solo.
23
Exceptuando-se o novo atravessamento do Douro entre Tua e Pocinho, construído em 1977/78,
pertencente à classe “D4”.
42
Prevê-se para finais do corrente ano, segundo concurso de electrificação, para o troço
compreendido entre Marco de Canaveses e Régua (Km 105), incluindo extensão do
CTC, Convel e telecomunicações rádio-solo, assim como intervenções a nível de via e
obras de arte (re-classificação de “D2” para “D4”). O projecto existente de
electrificação Marco-Régua envolve a construção de uma nova Subestação de
Transmissão, cuja localização é apontada para Bagaúste, junto ao aproveitamento
hidroeléctrico do mesmo nome, a montante de Régua, e cuja fase terá capacidade de, no
limite chegar a Tua (Km 150).
24
Atendendo a uma vida útil de 20 a 25 anos para um carril, os materiais existentes no troço Pocinho-
Barca de Alva, excedem em 5 a 6 vezes esse limite.
43
CP-Regional. A estes serviços, junta-se uma oferta sazonal e esporádica de composições
históricas, por vezes com tracção a vapor. Desprovida a linha da sua saída internacional,
não existem, de momento, fluxos de mercadorias significativos, com os troços mais
orientais (até Pocinho) a suportarem apenas a distribuição de cimento ensacado. Até ao
fim da exploração internacional (1985), manteve-se fixo à Linha do Douro, um fluxo
regular de transporte de cortiça em vagões “Transfesa”, de eixo intermutável,
consistindo nas exportações oriundas de S.João da Madeira/Santa Maria da Feira
(concentração em Ovar), e destinadas a mercados além-Pirinéus. Longe de se transferir
para o mais longo itinerário Porto-Espanha/França, via Beira Alta, o tráfego
internacional de transformados de cortiça, assegurado pela Linha do Douro até 1985, foi
inteiramente abstraído pelo modo rodoviário.
44
3) A Situação de Base (2009) em Espanha: Descrição dos corredores ferroviários
existentes, incluindo tipologia da infra-estrutura e serviços existentes (passageiros e
logística);
45
a) Histórico
25
No grupo, a par das Linhas de Salamanca à Fronteira de Portugal, encontravam-se outras, como o
Madrid-Cáceres-Portugal (correspondendo hoje à parte Espanhola do itinerário convencional Madrid-
Lisboa), o “Oeste Espanhol”, de Palazuelo a Salamanca, Zamora e Astorga, e ainda mais linhas, de menor
dimensão.
26
O traçado original das Linhas de Salamanca à Fronteira Portuguesa, corresponde actualmente à
“Avenida de Portugal”.
46
b) Tipologia da Infra-estrutura
Trata-se de uma via única, não electrificada, apresentando, todavia uma superestrutura
de via moderna. Na primeira metade dos anos 90 do séc.XX, concluíram-se diversas
obras de reabilitação da infra-estrutura, as quais contemplaram rectificações pontuais de
traçado. Assim, a “Linha de Salamanca à Fronteira Portuguesa” (Salamanca-Fuentes de
Oñoro/Vilar Formoso), apresenta-se com carril de 54 Kg/m, soldado em “barras
longas”, fixado elásticamente a travessa de betão monobloco. Não existem restrições de
carga nas obras de arte existentes ao longo do trajecto, enquadradando-se a totalidade do
trajecto na categoria “D4” do ADIF27, correspondente à categoria “D4” da REFER
Portuguesa (22,5 ton/eixo e 8 ton/metro linear).
27
O homólogo Espanhol da REFER designa-se por Administrador de Infraestructuras Ferroviarias”
(ADIF), e encontra-se sob a tutela directa do Ministerio de Fomento do Governo Nacional (Madrid).
47
compatibilidade aos veículos de tracção de ambos os países, em termos de “cab-
sigalling”, salvo para aqueles que se encontrem munidos de ambos os dispositivos28. A
regulamentação de circulação impõe a presença de agentes de acompanhamento, sempre
que haja penetração de material de tracção na rede homóloga, cujo sistema de
sinalização na cabina não seja compatível com o existente.
48
Galiza, bitola Europeia (1435mm) e dedicada ao tráfego de passageiros, iria possuir
uma ramificação na zona de Medina del Campo, formando uma via dupla, paralela à
linha convencional Medina-Salamanca33, com a qual se compartilhariam as subestações
de transmissão. O projecto de electrificação Medina-Salamanca-Fuentes de Oñoro
acabou por ser inteiramente reformulado, tendo sido tornado público pelo Ministério de
Fomento em 200434, tendo sido as directrizes confirmadas em sede de PEIT (Plan
Estratégico de Infraestructuras y Transporte 2005-2020).
33
Estudo Informativo publicado em Boletín Oficial del Estado em 21 de Dezembro de 2007.
34
Ver “Nota de Prensa” do Ministério de Fomento (Madrid), datada de 30 de Novembro de 2004.
49
3.1.2) Barca de Alva-Fregeneda-Lumbrales-Fuentes de San Esteban
50
Esta linha, vulgarmente designada em Espanha por “Linea de Fregeneda”, não é mais
do que o ramo setentrional das “Linhas de Salamanca à Fronteira Portuguesa”,
conferindo continuidade em Castilla-y-León à Linha do Douro, de Barca de Alva (Km
200, Ponte Internacional sobre o Rio Águeda) até Fuente de San Esteban (Km 58 da
actual linha Salamanca-Fuentes de Oñoro).
51
Em 1996, o Governo do Estado, por intermédio do Ministério de Fomento, autoriza o
ADIF ao desmantelamento da infra-estrutura existente, no sentido de conversão da
totalidade do traçado em “pista ciclável”. Contestada localmente pela totalidade dos
“ayuntamentos”, a ciclopista nunca viria a ser implementada, mantendo-se
practicamente intacta a infra-estrutura ao abandono, até ao ano de 1999, quando a
totalidade da linha Fuente de San Esteban-Barca de Alva, é declara “Bien de Interés
Cultural”.35 A partir dessa data, a “Linea de Fregeneda”, até então quase esquecida,
passa a ser mencionada com alguma frequência na imprensa regional e mesmo nacional
de Espanha.
35
Ver Boletín Oficial del Estado nº298, datado de 14 de Dezembro de 1999. A “incautación de Bién de
Interés Cultural” foi tornada efectiva pelo Ministerio de la Cultura (Madrid), sob a direcção de Mariano
Rajoy (PP).
36
Ver Diario de Sesiones del Senado, datado de 15 de Setembro de 2005.
37
Ver Diario de Sesiones das Cortes de Castilla-y-León (nº 479), Proposición PNL 853-I, datada de 20 de
Junho de 2006.
52
Distâncias quilométricas por via férrea entre Salamanca os terminais
Cantábricos/Atlânticos mais próximos por via férrea (Km)
a Bilbao-Europort a Aveiro-porto a Leixões-porto a Vega de
Terrón (*)
Itinerário Via Medina- Via Fuentes de Via Fregeneda- Via
Valladolid Oñoro Barca de Alva Fregeneda
Salamanca 446 370 346 136
(*) Porto fluvial na margem direita da foz do Rio Águeda oposta a Barca de Alva e
acessível ao Douro navegável (embarcações com capacidade de 60 TEU´s), actualmente
sem qualquer tipo de interface entre a via férrea (desactivada), e a via fluvial.
53
3.2) Salamanca-Medina del Campo
54
a) Histórico
b) Tipologia da Infra-estrutura
Iniciando-se em Medina del Campo (Km 0), a linha termina em Salamanca (Km 77),
possuindo características de superestrutura, sinalização e telecomunicações em tudo
idênticas ao trajecto Fuentes de Oñoro-Salamanca: carril de 54 Kg/m, soldado em
“barras longas”, fixado a travessa de betão monobloco, regime de BLAUctc, ligações
rádio-solo, etc. O facto da linha se inscrever numa região de grande planura confere-lhe,
no geral, um traçado com grande profusão de longos troços em recta, com as
velocidades máximas praticáveis inscrevendo-se no patamar 140-160 Km/h. A
totalidade da linha inscreve-se na categoria “D4”, não apresentando restrições em
termos de carga por eixo.
55
exclusivamente pelos serviços rápidos, sem paragem na referida estação, com todo o
restante movimento regional a utilizar o traçado antigo. Contemplando a existência de
um ramal de “alta velocidade” Medina-Salamanca, as directrizes do PEIT (2005-2020)
prevêem que a “variante de Cantalapiedra” seja desmembrada da rede actual, e
subsequentemente incorporada na nova via dupla de bitola Europeia que se desenhará
ao lado da infra-estrutura convencional actual, relegada para tráfego de mercadorias,
assim como alguma oferta regional remanescente.
56
alternativa à “Linha Directa de Ávila” nas suas deslocações para Madrid, Zaragoza e
Catalunha, mesmo que tal implique a necessidade de se efecturem manobras de reversão
das composições em Medina del Campo.
57
3.3) A “Linha Principal de Espanha” ou “Linha do Norte”: Madrid-Avila-Medina-Venta
de Baños-Burgos-Miranda de Ebro-Vitoria-Alsasua-San Sebastian-Irún-Hendaye
58
Tal como no tocante à “Linha do Norte” (Lisboa-Porto), a “Linha Principal de Espanha”
não é propriamente um itinerário de carácter transfronteiriço Espanha-Portugal, em
sentido estrito. Todavia, o seu carácter estruturante da rede ferroviária Espanhola (e
mesmo da rede ferroviária Portuguesa) é de tal forma importante, que se torna
imperioso fazer uma alusão a este importante eixo, ainda que de modo conciso.
Designada em Espanha como “Linea del Norte” ou mesmo “Linea Principal”, o eixo
Madrid-Irún/Hendaye foi, até ao aparecimento da “alta velocidade”, o mais importante
trajecto ferroviário da Península Ibérica, e ainda hoje mantém um papel determinante na
estruturação da rede. Trata-se de um corredor de 640 Km38 inteiramente em via dupla,
equipada de sinalização e telecomunicações modernas, e electrificada, no sistema
“standard” da RENFE, de 3 kV (corrente contínua), usualmente empregue em Espanha
na rede convencional de bitola larga Ibérica de 1668mm.39
38
O Km 0 da “Linha do Norte de Espanha”, encontra-se na estação de Madrid-Príncipe Pío, hoje
desafectada de funções de longo-curso, e parte integrante do sistema de “Cercanías” (suburbanos) da
Comunidad Autonoma de Madrid. A totalidade dos serviços anteriormente disponíveis em Príncipe Pío,
está hoje concentrada no terminal de Madrid-Chamartín.
39
O sistema de 3 kV (corrente contínua) é o resultado histórico da adopção precoce de um tipo de
electrificação muito desenvolvido pela General Electric Americana, tendo o primeiro troço do género
surgido em Espanha em 1925. Há muitas outras redes ferroviárias Europeias que empregam igualmente
este sistema, tais como a Bélgica, Itália, Polónia, etc.
40
Cujo troço principal Zamora-Ourense-Santiago abriu na totalidade apenas em 1957.
59
Segovia. Suspensa a exploração Segovia-Medina, a partir de 1992, essa linha foi
desmantelada, passando todavia o seu traçado a fazer parte da nova LAV-
Noroeste. A antiga junção da extinta linha de Segovia é hoje um acesso de
Medina à LAV-Noroeste, encontrando-se munida de um aparelho de mudança
automática de bitola (1668mm/1435mm), no ponto em que ambas as redes se
tocam.
c) Valladolid-Campo Grande: Trata-se do terminal ferroviário principal da capital
da Comunidad Autonoma de Castilla-y-León. Valladolid perdeu alguma
importância em 1969, com a extinção dos últimos troços de via métrica dos
antigos “Ferrocarriles Secundários de Castilla”, e, de novo, em 1985, com a
progressiva desactivação do trajecto Valladolid-Aranda de Duero-Ariza,
permitindo uma relação directa Castilla-Aragón. Nos tempos mais recentes,
Valladolid ganha de novo importância, com a chegada (2008) da LAV-Noroeste,
e dos seus serviços de “alta velocidade”.
d) Venta de Baños: é um ponto de junção muito importante, a partir do qual
bifurca, até Palência, o tronco comum das linhas das Astúrias (Oviedo-Gijón) e
da Cantábria (Santander). A linha das Astúrias possui em León um importante
nó, de onde bifurca a “Velha Linha da Galiza”, dirigida a Vigo e Corunha,
através de Monforte de Lemos. No final dos anos oitenta do séc.XX, Venta de
Baños perdeu alguma importância, em virtude da entrada em serviço da
concordância Palência-Magaz, permitindo evitar reversões em Venta de Baños
às relações directas Galiza/Astúrias-País Basco/Catalunha.
e) Burgos: Trata-se de uma capital de Província que desempenhou o papel de nó
ferroviário importante, hoje praticamente extinto, subsistindo apenas a linha
“Directa Madrid-Burgos”41. A partir do início de 2009, entrou em exploração a
41
Em 1985, foi desactivado no pacote de encerramentos de linhas deficitárias, o chamado Caminho de
Ferro de Santander ao Mediterrâneo. Trata-se de um caminho de ferro estabelecido no início do séc.XX
entre Calatayud, Burgos e Ciudad Dosante, na Cordilheira Cantábrica, sob a égide de capitais Britânicos.
Com uma infra-estrutura de grande qualidade (toda a plataforma de via, pontes e túneis seriam
concebidos, de origem, para via dupla), o projecto nunca lograria atingir os seus objectivos: ligar o porto
de Santander ao de Valência, sem passagem por Madrid. De Calatayud para Sul, Valência seria alcançada
através das vias existentes do Ferrocarril Central de Aragón, de capitais Belgas. De Burgos para Norte,
era necessario atravessar a Cordilheira Cantábrica, com as obras a paralizarem-se na Guerra Civil
Espanhola, quando o ponto mais setentrional da linha, chegaria a Ciudad Dosante (entroncamento com a
via métrica de La Robla). Retomadas as obras no Franquismo (e com a restante infraestrutura operativa
nas mãos da RENFE), construir-se-ia a maior parte do traçado até Santander, incluindo um túnel de via
dupla, com 7 Km de extensão. O “Informe Ecoconómico” do Banco Mundial, de 1963, recomendando a
suspensão de diversos projectos ferroviários em curso, comprometeu definitivamente o projecto da via
60
chamada “Variante de Burgos”, facto que implicou a mudança do antigo
terminal ferroviário para outro novo, no Norte da cidade, denominado “Burgos-
Rosa de Lima”. A nova “Variante de Burgos”, foi concebida de molde a
acomodar, mais tarde, as duas vias de “alta velocidade”, do prolongamento da
LAV Noroeste até Vitoria e França, até Dax, onde se juntará com a futura LGV-
Aquitaine.
f) Miranda de Ebro: trata-se de um ponto nevrálgico de todas as comunicações
terrestres de Espanha. Tal como no caso das auto-estradas (cruzamento da auto-
estrada AP-1 (Madrid-Burgos-França), com a AP-68 (Bilbao-Zaragoza-
Catalunha)), o nó de Miranda consiste no cruzamento do eixo ferroviário
Madrid-França, com o itinerário Bilbao-Zaragoza-Barcelona.
g) Vitoria-Gasteiz: é a capital autonómica do País Basco. Tendo decaído em
importância com a extinção em 1967 de um conjunto de linhas locais de via
métrica, em Vitoria perspectiva-se, todavia, a constituição de um novo grande nó
ferroviário, com a abertura ao tráfego da futura “Y” Basca (Vitoria-Bilbao/San
Sebastian), parte integrante do prolongamento na direcção de França da LAV-
Noroeste.
h) Alsasua-Altsasú: é o ponto de bifurcação da “antena” dirigida a
Pamplona/Irunea, capital da Comunidad Autónoma de Navarra.
i) San Sebastián-Donostia: capital da Província Basca de Guipuzkoa.
j) Irún: estação e nó ferroviário fronteiriço Espanhol mais importante de toda a
Península, cujo papel só encontra paralelo em Port Bou, na Catalunha. Em Irún
encontram-se as linhas da rede Ibérica, de 1668mm e Francesa, de bitola
Europeia (1435mm). Existem, a par das instalações dedicadas a passageiros, na
estação propriamente dita, extensos feixes de linha, com um terminal muito
grande localizado em Paseo de Colón (a escasa distância da Ponte Internacional
sobre o Rio Bidasoa). Algumas das linhas de Irún-Paseo de Colón, são de bitola
mista (1668mm+1435mm), encontrando-se munidas de terceiro carril. Em Paseo
de Colón há um aparelho de mudança automática de bitola apto exclusivamente
para composições de tipo “Talgo”, empregues nos serviços directos de
passageiros “Elypsos” Madrid-Paris. A Ponte Internacional sobre o Rio Bidasoa,
férrea de Santander ao Mediterrâneo, que ao longo da sua existência nunca passaria do estatuto de mera
linha local, sem tráfegos significativos.
61
encontra-se munida de duas vias, das quais uma de bitola larga Ibérica
(1668mm) e outra de bitola Europeia (1435mm).
k) Hendaye/Hendaya: estação e nó ferroviário fronteiriço Francês com extensos
feixes de via, de bitola Ibérica, Europeia, e de três carris. Em Hendaye
localizam-se as grandes instalações da Transfesa, através das quais, os vagões de
mercadorias de eixos e bogies intermutáveis, são submetidos a operações de
passagem das vias Ibéricas para as Francesas e vice-versa. Composições inteiras,
com a sua carga, são levantadas por intermédio de pórticos sobrepostos a troços
de via com quatro carris (a via Europeia é intercalada na via Ibérica, mantendo-
se rigorosamente o mesmo eixo longitudinal para ambas)42, com os eixos ou
bogies a serem substituídos por outros equivalentes, mediante um processo
semi-automático de desencravamento/encravamento mecânico relativamente à
caixa, sendo o processo de remoção/reposicionamento, efectuado com recurso a
carretos especiais, animados por cabos de aço. Em Hendaye existiu também,
junto ao terminal de passageiros, um estaleiro permitindo a mudança de bogies a
“couchettes” e “wagons-lits”, empregues nas relações directas Paris-Madrid
(Expresso “Puerta del Sol”) e Paris-Lisboa (“Expresso Sud”). Estas instalações
encontram-se todavia sem qualquer tipo de actividade regular desde 1995.
42
Há idênticas instalações Transfesa na estação fronteiriça de Cérbere, correlativa a Port-Bou
(Catalunha).
62
ao “canal-horário” na “Linha do Norte de Espanha”, numa situação algo parecida com a
da congénere Portuguesa, entre Lisboa e o Porto. Um operador logístico privado
(Continental Rail), começou recentemente (2009) a desviar serviços pela existente e
sub-utilizada “Linha Directa Madrid-Burgos”, via Aranda de Duero, no sentido de obter
maior fluidez nos seus serviços.
63
3.4) O “Directo de Ávila”: Salamanca-Peñaranda de Bracamonte-Avila
a) Histórico
Com a nova linha, pretendia-se, entre outros objectivos, captar tráfegos de cereais, gado
ovino e bovino, estabelecidos entre Castela e Portugal, e ainda conferir-lhes saída para
mercados mais distantes, através de Leixões. Iniciadas as obras, os concessionários não
se manifestaram capazes de cumprir a obrigação de abrir à exploração o troço Ávila-
Peñaranda de Bracamonte até 1893, o que levou à nacionalização precoce, assumindo o
Estado Espanhol a totalidade dos custos de construção da linha. Em 1894, abriu-se ao
tráfego, em condições muito precárias, o troço Salamanca a Peñaranda de Bracamonte.
b) Tipologia da Infra-estrutura
64
particularidade da via (de carril de 54 Kg/m) se encontrar, em muitos troços, assente em
travessa de betão bi-bloco. Não existem restrições de carga, com o trajecto a inscrever-
se na classe “D4”.
Não se prevê uma alteração substancial na situação de base desta linha, como o PEIT
(2005-2020) a colocar grande enfoque na construção de um ramal de “alta velocidade”
de via dupla, de Medina del Campo a Salamanca, bifurcado a partir da LAV-Noroeste.
Na linha directa de Salamanca a Ávila, os serviços existentes são dominados pela oferta
de passageiros, designadamente pelos serviços de tipo, “Regional-Express”, efectuados
com as mais modernas unidades triplas Diesel da RENFE (R-599, introduzidas em
2009), perfazendo-se a relação entre Salamanca e Madrid, via Ávila em 2h40mn para os
233 Km de trajecto (87 Km/h de média comercial). Há igualmente uma oferta restrita de
índole local, confinada a serviços regionais entre Salamanca e a localidade de
Peñaranda de Bracamonte.
65
3.5) O “Directo” Medina-Zamora-Ourense-Vigo
a) Histórico
A Companhia MZOV seria integrada nos “Ferrocarriles del Oeste” em 1928, apesar da
entidade empresarial com o mesmo nome ter subsistido até aos dias de hoje centrada em
outras áreas da actividade transportadora.43 A política de Obras Públicas levada a efeito
pelo Governo da Ditadura de Primo de Rivera, e do seu Ministro de Fomento, Rafael
Benjumea y Burín (futuro Conde de Guadalhorce), privilegiou a materialização de uma
nova geração de caminhos de ferro “Directos”, entre os quais se encontrava aquele que
o MZOV não conseguiu materializar, ao longo de muitos anos. A linha inaugurou-se
entre Santiago de Compostela e Coruña em 1943 (ja sob a administração da RENFE);
de Zamora a Puebla de Sanabria, em 1952; e o troço restante (envolvendo 106 túneis),
de Sanabria a Ourense e Santiago de Compostela em 1957, tendo sido inaugurado pelo
General Franco.
b) Tipologia da Infra-estrutura
Embora não seja uma linha “transfronteiriça”, no sentido estrito, o “Directo” Medina-
Zamora-Ourense-Santiago/Vigo, é uma radial de Madrid e Castilla-y-León discorrendo
em boa parte do seu trajecto, muito próximo à fronteira Norte de Portugal, com a
estação de Puebla de Sanabria a constituir-se actualmente como sendo a mais próxima
43
A Companhia MZOV dedicar-se-ia durante muitos anos a empreitadas de construção civil ferroviária, e
actualmente constitui-se como operador logístico, sob a designação “Acciona Rail”.
66
acessibilidade ferroviária a Bragança, capital de distrito Portuguesa desprovida de
transporte ferroviário desde 1992.
Entre Medina del Campo e Puebla de Sanabria (Km 107 a partir de Zamora), a
exploração é gerida por intermédio de BLAUctc, idêntico ao das linhas de Portugal a
Salamanca e Medina del Campo; de Puebla de Sanabria a Ourense e Santiago de
Compostela, a linha é explorada sob regime de BAUctc (Bloco Automático de Via
67
Única, controlado por posto de comando centralizado). O ASFA (protecção aos sinais)
encontra-se instalado em todo o trajecto da linha, com as comunicações rádio-solo a
verem limitadas a sua operacionalidade ao troço Ourense-Santiago.
É incerto o destino a curto e médio prazo da “Nova Linha da Galiza”. O PEIT (2005-
2020), prevê a construção (actualmente em curso entre Zamora e Lubián e entre
Ourense e Lalín), do ramo “Galicia” da LAV-Noroeste, a qual discorrerá em muitos
pontos paralelamente à infra-estrutura de 1957 (em certos pontos singulares haverá um
afastamento da nova linha relativamente à antiga, mercê da incompatibilidade dos
parâmetros de curvatura ou capacidade, como, por exemplo, o atravessamento do Rio
Eljas, ou do maciço de Padornelo, que requerem novos viadutos e túneis, paralelos aos
actuais). Não se prevendo tráfego de mercadorias na LAV, admite-se que a “Nova
Linha da Galiza” permaneça, na sua forma mais ou menos actual, como eixo dedicado
sobretudo a mercadorias e a algum tráfego de índole local remanescente, de
correspondência em pontos restritos (Zamora, Puebla de Sanabria e Ourense), com os
serviços que serão oferecidos na LAV.
68
3.6) O corredor “Ruta de la Plata”: Plasencia-Béjar-Salamanca-Zamora-Astorga
O corredor conhecido como “Ruta de la Plata”, formava até 1985, uma longa linha
paralela à fronteira Leste Portuguesa, permitindo a existência de serviços concêntricos a
Madrid, de que era exemplo a relação Sevilla-Plasencia-Salamanca-Zamora-Astorga-
León-Oviedo-Gijón. Com o cumprimento das resoluções do “Informe sobre Lineas
Deficitárias”, foi suspensa em 1 de Janeiro de 1985, a circulação a Norte de Plasencia
de todos os serviços de passageiros, mantendo-se por cerca de mais quatro anos
movimentos de mercadorias no troço mencionado. A partir de 1990, cessou toda a
exploração nos 341 Km entre Plasencia (Província de Cáceres) e Astorga (Província de
León), caindo em desuso e completo abandono, a via e demais instalações.
Tal como ocorreu com o corredor “Ruta de la Plata”, e com o acesso directo Salamanca-
Porto (via Douro), também este eixo ferroviário de 256 Km foi vítima do “pacote” de
encerramentos que se abateu sobre a rede ferroviária Espanhola, em 1 de Janeiro de
2005. Permitia estabelecer relações concêntricas na rede Espanhola, facultando um
itinerário directo de Castilla-y-León ao Aragão e Catalunha sem implicar passagem por
Madrid ou um longo desvio através de Miranda de Ebro.44 Tal como a maioria dos
44
Por este trajecto circularam, entre outros serviços rápidos, um “Tren Español Rápido” (TER),
Barcelona-Salamanca, prolongado a Vilar Formoso no Horário de Verão.
69
casos de encerramento ocorridos em meados dos anos oitenta do séc.XX, a infra-
estrutura encontrava-se fortemente descapitalizada, à data da supressão dos serviços.
70
3.8) A “LAV Norte-Noroeste”: Madrid-Segovia-Olmedo-Valladolid/Medina del
Campo.
71
a) Histórico
72
reduzir o tempo de trajecto de Madrid para Valladolid, de cerca de 3 horas para 55
minutos (nos melhores serviços), como ainda operar grandes diminuições na duração
das viagens entre Madrid, Galiza, Astúrias, Cantábria e País Basco.
b) Tipologia da Infra-estrutura
45
A condição de término em “impasse” de Chamartín cessará a médio prazo, com a entrada em serviço
do terceiro túnel ferroviário urbano de Madrid, dedicado exclusivamente às linhas de “alta velocidade”, e
destinado a unir as linhas de 1435mm do Norte às existentes na estação de Puerta de Atocha, que
concentra actualmente (2009) os serviços AVE apontados a Sevilla, Málaga e Barcelona. Quando este
túnel, presentemente em construção, entrar em serviço, os serviços de “alta velocidade” serão
parcialmente reformulados em Chamartín e Atocha, fundindo-se entre si, e deixando de ter caracter radial,
73
LAV discorre pelos arrabaldes do Norte de Madrid, paralelamente à antiga “Linha
Directa de Burgos”, inflectindo para Noroeste, pelo Vale do Lozoya. O atravessamento
da Sierra de Guadarrama faz-se por intermédio de dois túneis de via única paralelos,
com mais de 28 Km de extensão46. A LAV Norte-Noroeste tem a sua primeira estação
intermédia em Segovia-Guiomar (Km 67), excêntrica à cidade e sem possuir qualquer
tipo de articulação com o terminal de Segovia-Cercanías, hoje integrado na rede
suburbana da Grande Madrid. O traçado da LAV-Noroeste acede seguidamente às zonas
planas da Meseta Norte, ocupando em grande parte, a plataforma da antiga linha
Segovia-Medina del Campo (desactivada em 1992). Ao Km 132 localiza-se a estação de
Olmedo-AV, ponto a partir do qual bifurca o ramo “Galiza” do trajecto dirigido a
Valladolid e ao Norte de Espanha. O ramo “Galiza”, de Olmedo a Medina del Campo,
consiste temporariamente num amal de 20 Km, terminando justamente à entrada de
Medina del Campo, onde entroncava a extinta linha Segovia-Medina, interpondo-se
entre linhas de AV e rede convencional, um aparelho de mudança automática de bitola
(1435mm/1668mm). O ramo principal da LAV Noroeste, continua por mais 48 Km
além de Olmedo, emparelhando com a “Linha do Norte de Espanha”, até terminar na
estação de Valladolid-Campo Grande, onde se converteram para bitola “standard”
Europeia, as antigas linhas de cais 1 e 2. As vias de 1435mm, prolongam-se algumas
centenas de metros além-Valladolid, até terminarem num aparelho de mudança
automática de bitola 1435mm/1668mm.
para se apresentarem como “diametrais” ou “de passagem” através de Madrid, estabelecendo-se relações
directas Galiza-Madrid-Catalunha, Valladolid-Madrid-Sevilla, etc.
46
Presentemente os “Túneis de San Pedro” constituem a terceira galeria mais longa de toda a Europa,
seguidamente ao Novo Túnel de Base do Gottardo (50 Km) e à Travessia da Mancha (47 Km).
74
Em virtude da natureza específica de corredor de “alta velocidade” a linha LAV Norte-
Noroeste não possui qualquer tipo de sinalização lateral (aparte de estações), com todas
as indicações de segurança e de apoio à exploração a fazerem-se por intermédio do
“cab-signalling” universal Europeu, de tipo ERTMS47. A exploração da LAV Noroeste
é assegurada por um sistema de tráfego centralizado de tipo CTC, videográfico,
conferindo plena reversibilidade às duas vias existentes. Toda a LAV Noroeste possui
operacionais ligações rádio-solo, aptas a funcionar nas condições atmosféricas mais
adversas.
Finalmente, e como é comum, em todas as linhas de “alta velocidade”, a superestrutura
inclui necessariamente instalações de tracção eléctrica, no sistema de monofásico
(corrente alternada a 50 Hz), na variante de 2x25 kV.
47
O sistema ERTMS assegura interoperabilidade com todos os restantes veículos equipados com sistemas
de “cab-signalling” pré-existentes.
48
Como se apresenta óbvio, a necessidade de “cambiadores”, ou aparelhos de mudança automática de
bitola é completamente inexistente em França, Bélgica, Alemanha, Itália, ou Reino Unido, na medida em
que tanto as linhas de “alta velocidade” como as “convencionais” possuem exactamente a mesma bitola,
de 1435mm. A exploração “em árvore”, com um tronco comum de “alta velocidade” que depois vai
irrigar com os seus serviços um número considerável de linhas convencionais, é prática comum em toda a
Europa, e só foi possível a sua transposição para o contexto Ibérico, graças ao emprego dos “cambiadores
de ancho”, criteriosamente posicionados em localizações estratégicas. A nível do projecto de “alta
velocidade” Português, é hoje consensual a existência de aparelhos de mudança automática de bitola, em
localizações como Poceirão (Lisboa-Sul), Coimbra e Porto, permitindo uma integração de serviços do
novo eixo Sul-Norte (Novo Aeroporto-Lisboa-Porto-Galiza), com uma série de linhas convencionais,
dirigidas ao Algarve e Alentejo, Beira Alta, Minho e Douro, etc.
75
uma manobra de 20 minutos, e troca de locomotiva. Actualmente, semelhante situação
está já completamente ultrapassada, com o aparecimento de unidades autopropulsadas,
capazes de passar em segundos (a velocidade reduzida de 15 Km/h, sem qualquer
paragem ou manobra), de linhas de 1435mm, para outras, de 1668mm (e vice-versa).49
Uma unidade Talgo S-130 (tracção concentrada), munida de eixos de “geometria variável”, passa, sem
efectuar paragem, no “cambiador” de Valdestillas (a Oeste de Valladolid), tendo utilizado desde Madrid-
Chamartín até este ponto, a nova LAV Norte-Noroeste em bitola Europeia (1435mm), e seguindo a partir
daqui para Irún e Hendaye através das vias convencionais de 1668mm da Linha do Norte de Espanha. O
material é igualmente bi-tensão (25 kV 50 Hz nas LAV e 3 kV corrente contínua na rede Ibérica).
49
Trata-se, em concreto, das unidades CAF-Alstom, da série S-120 (tracção distribuída) e das
composições Talgo S-130 (tracção concentrada nos extremos). Ambas as séries, empregues pelo operador
RENFE-AVE, possuem uma velocidade máxima de serviço de 250 Km/h. Presentemente (2009), Patentes
Talgo, S.A. está a construir o protótipo da nova série Talgo300RD (Rodadura Desplazable), apto a
circular a 300 Km/h, e com faculdade de passagem a baixa velocidade, das linhas de 1435mm para as de
1668mm (e vice-versa).
76
A LAV Norte-Noroeste possui em serviço os seguintes “cambiadores de ancho de vía”:
50
Existente desde 1992, e empregue durante muito tempo para assegurar relações Sevilla-Barcelona,
antes do início da exploração da LAV Madrid-Barcelona-França, dez anos mais tarde.
77
Medina caia em desuso, mantendo-se no local como recurso de exploração, ou
eventualmente veja transferida a sua localização para Noroeste.
78
Valladolid, ou mesmo uma eventual queda em desuso, com a acessibilidade
1435mm/1668mm entre LAV e linhas convencionais do Cantábrico (Gijón e Santander)
a processar-se através de outro “cambiador”, posicionado em Venta de Baños.
A LAV Noroeste será prolongada nos seus dois ramos principais: Norte de Espanha-
França e Galiza-Atlântico, para além de, no último, vir a contar com uma ramificação,
de Medina del Campo a Salamanca, paralela à rede ferroviária convencional.
No ramo Galiza “Noroeste” há presentemente duas grande frentes de obra, nos troços
compreendidos entre Zamora e Lubián e Ourense e Santiago de Compostela. Quanto ao
ramal de AV Medina-Salamanca, realizou-se até à data de escrita, um “Estudio
Informativo”, unicamente.
79
d) Tipologia dos serviços e operadores
80
4) Principais intervenções e investimentos previstos até 2020
4.1.1) Conclusão dos trabalhos de construção e Início de Exploração das LAV Caia-
Poceirão-Lisboa; Lisboa-Porto e Braga(Aveleda)-Valença
Embora não possua um impacto directo na articulação funcional da Região Centro com
a Comunidad Autonoma de Castilla-y-León, o novo corredor de “alta velocidade”
Atlântico, ligando Lisboa ao Porto e a Vigo terá sempre um efeito de “emalhamento” e
sinergia com a rede ferroviária convencional pré-existente (neste caso a Linha da Beira
Alta). A LAV Lisboa-Porto-Vigo consistirá de um novo corredor ferroviário, em bitola
“standard” Europeia de 1435mm e exclusivo a circulações de passageiros, cuja
construção será iniciada em 2011, e início de exploração previsto para o ano de 2015 ou
2016. Fundamentalmente articular-se-á, no muito restrito número de estações
intermédias, com linhas convencionais pré-existentes (ou mesmo a construir),
desempenhando funções de “colecção” e de “distribuição”.
81
Figura 5:
Articulação da LAV Norte-Sul com a rede convencional (1): Leiria-Linha do Oeste
Fonte: RAVE
Figura 6:
Articulação da LAV Norte-Sul com a rede convencional (2): Coimbraa-L. do Norte
Fonte: RAVE
82
Com a distância-tempo Lisboa-Coimbra a reduzir-se para 55 minutos de viagem (contra
1h40mn actual), e a mais do que provável localização de um aparelho de mudança
automática de bitola, para composições de AV munidas de “eixo de geometria”
variável, será possível conceber sem problemas uma reformulação da oferta “Inter-
Cidades” entre Lisboa e a Guarda, fazendo reduzir o tempo de trajecto, das actuais 4h
para 3h, aproximando, por arrasto, Salamanca de Lisboa e Porto, na hipótese de um (ou
vários) operadore(s) pretenderem introduzir uma oferta de serviços transfronteiriça.
Figura 7:
A Articulação da nova LAV Norte-Sul (geral) com a rede ferroviária convencional.
In: Eng. Pontes Correia, “Do Alfa Pendular à Alta Velocidade”, 9º Congresso do Transporte Ferroviário,
ADFER (2009).
83
4.1.2) Iníco da construção da LAV Aveiro-Salamanca e ligação directa em AV Lisboa-
Irún/Hendaye-Paris
(LAV contínua Salamanca/Madrid-Irún-Bordeaux-Paris e além)
a) Histórico
51
Ainda que estes últimos destinos não se afigurem competitivas em tempo com a opção aérea, numa
base de ligações diurnas, a possibilidade teórica da existência, num futuro indefinido, de uma “alta
velocidade nocturna”, preconizada de forma pioneira pelo antigo presidente da União Internacional dos
Caminhos de Ferro Jean Bouley, colocaria o transporte ferroviário de passageiros a muito longas
distâncias 2000 a 3000 Km num novo patamar extremamente atractivo, mesmo para segmentos de
mercado como o das viagens de trabalho. Paris, Bruxelas, Londres, Colónia, etc. seriam alcançáveis a
partir de Lisboa à noite, em compartimento de dormida, com a chegada a ter lugar de manhã.
84
Finalmente, a LAV Aveiro-Salamanca teria, de origem uma valência adicional,
consistindo no transporte de mercadorias, tendo em consideração a possibilidade de
conferir saída Atlântica a Castilla-y-León, por intermédio do porto de Aveiro,
concebendo-se assim o projecto com uma parametrização da infra-estrutura, tornando-a
apta a acomodar composições de carga, suplementando a valência da actual Linha da
Beira Alta. Assim, e atendendo-se igualmente aos condicionalismos impostos pelas
características orográficas das regiões a atravessar pelo novo traçado, sobretudo entre a
costa Atlântica e a Meseta, ficaria estabelecido, sobretudo na secção compreendida
entre Aveiro e Viseu, uma velocidade de projecto de 250 Km/h (inferior ao padrão de
320-350 Km/h usualmente adoptado para as linhas de “alta velocidade”) e um perfil
longitudinal cujos declives não ultrapassassem 20 por mil. A via seria dupla,
electrificada, e assente em bitola “standard” Europeia (1435mm), com a finalidade de,
em Salamanca, entroncar no ramal de “alta velocidade” oriundo de Medina del Campo-
AV (e assim, através de Olmedo, e da sua futura “linha de concordância”, garantir
ligação simultânea a Madrid, por um lado, e Norte de Espanha e além-Pirinéus, por
outro).
85
Figura 8:
O futuro nó ferroviário de Aveiro e troço inicial da LAV Aveiro-Salamanca
Fonte: RAVE
86
b) Incertezas e indefinições
Uma explicação mais ou menos óbvia para o diferimento temporal de corredores como
Aveiro-Viseu-Salamanca e Évora-Faro-Huelva, poderá eventualmente explicar-se pelo
custo de construção mais ou menos elevado, contrastando com expectativas de tráfego
de passageiros relativamente modestas:
87
Finalmente, parece existir um dado técnico nas linhas de “alta velocidade” Espanholas,
inviabilizando o projecto Aveiro-Viseu-Salamanca, na condição de linha de bitola
Europeia e tráfego misto, uma vez que todos os trajectos quer em serviço, quer em
construção das LAV Norte e Noroeste, quer mesmo o próprio Ramal Salamanca-
Medina, não acomodam a circulação de composições de mercadorias, evidenciando-se
no último dos casos, a omnipresença da linha convencional paralela, de bitola larga
Ibérica (1668mm), com o objectivo expresso de canalizar (para além de tráfego de
passageiros local), o movimento de cargas. A própria prática generalizada do ADIF
relativamente a corredores da “alta velocidade” e bitola Europeia de 1435mm consiste
na sua reserva para tráfego de passageiros. Tal explica-se num conjunto de factores,
onde adquirem importância os custos de manutenção da infra-estrutura das LAV para
composições cuja carga por eixo supere as 17 ton (22,5 ton é regra geral nas
composições de mercadorias), assim como o próprio “custo de oportunidade”, de
afectação de “canal horário” a composições que, pelo seu peso, não possuem velocidade
compatível com o diagrama normal de circulação de outras, de “alta velocidade”.
88
4.1.3) Inclusão de Viseu na rede ferroviária convencional.
52
Até 1995, o Município de Mansfield (Nottinghamshire) apresentava-se desde 1963 como o maior da
Europa (67.000 habitantes) sem ligação à rede ferroviária, numa situação que mudou com a reconstrução
e reabertura do caminho de ferro desactivado na década de sessenta, do séc.XX.
89
O aparecimento da variável “alta velocidade” Aveiro-Viseu-Salamanca em 2003 veio
perturbar completamente o processo de ligação da cidade de Viseu à Linha da Beira
Alta. Em primeiro lugar, a assunção (errada) da polivalência de um corredor ferroviário
de “alta velocidade”, tem servido de pretexto mais ou menos implícito para que a
ferrovia convencional servindo Viseu se tivesse eclipsado por completo da agenda
política local e nacional. Em segundo lugar, a inexistência de um Plano Ferroviário (por
contraponto a um bem delineado Plano Rodoviário) evidencia-se ao não se prever
explicitamente para Viseu, o papel óbvio de ponto de articulação entre uma futura linha
de “alta velocidade” Aveiro-Salamanca, de calendarização incerta, e a rede ferroviária
convencional, de ligação a todo um conjunto de centros urbanos (Nelas, Mangualde e
Guarda), localizadas sobre a Linha da Beira Alta.
53
A chegada a Viseu de uma linha convencional permitiria ainda – e desde logo – a reserva de terreno
para o terminal ferroviário, que seria concebido para acomodar e servir de interface a ambas as redes.
90
Viseu-Beira Alta”), garantir-se-ia, desde logo, acesso de Viseu - maior centro urbano do
interior do país - a todo um sistema de plataformas logísticas, do qual se encontra até
hoje absurda e irremediavelmente apartado. Zonas industriais como Fragosela ou
Mundão não podem aceder a uma infra-estrutura portuária ou terminal de contentores a
não ser por estrada, facto que coloca Viseu numa clara situação de desvantagem,
atendendo-se a variáveis tão recentes como a decisão do Parlamento Europeu de
11/03/2009, de autorizar Estados-Membros como França e Países Baixos a cobrar
portagens específicas acrescidas (“Eurovignette”) a veículos pesados transitando no seu
território, num horizonte de curto ou médio prazo.
91
para uma situação inédita em termos de “custo generalizado” das deslocações, com a
vasta maioria de qualquer ponto intermédio deste corredor de 350 Km a posicionar-se
um do outro a menos de uma hora (e em muitas situações, compreendidos numa região
temporal limitada entre as isócronas de 30 e 45 minutos). Assim sendo, a nova realidade
trazida com a “alta velocidade” Norte-Sul quase esvazia de sentido as referências geo-
económicas da “Área Metropolitana de Lisboa” e “Área Metropolitana do Porto”, que
até agora têm servido de base aos mais diversos exercícios de prospectiva, centrados na
realidade portuguesa.
92
onde emerge a realidade de um Sistema Metropolitano Atlântico, afiguram-se de
particular importância um conjunto de fenómenos, tais como a reformulação completa
do mercado da habitação, do mercado do trabalho, do mercado do turismo, e da difusão
espacial das actividades terciárias e indústrias de “nova geração”.
93
excêntrico, todavia amplo e espaçoso, onde um número apreciável de construções
residenciais apareceram com a “alta velocidade”, privilegiando a tipologia
“unifamiliar”, em muitos casos, a qual passaria a constituir uma opção acessível aos
blocos de apartamentos, tão vulgares da periferia madrilenha, pelo menos para o público
preparado para pagar um “passe-assinatura” mensal nos serviços do “AVE-Lanzadera”.
O sector da construção foi, logicamente, um dos que mais cresceu em Ciudad Real, no
período compreendido entre 1992 e 2002 (+35,5%). Outros sectores onde o crescimento
se revelou considerável, no mesmo período incluiriam “Serviços prestados a empresas”
(+79,6%), “Comércio, Hotelaria e Serviços de Reparação” (+66,7%), e igualmente
“Água e Energia” (+66,7%),.sector estritamente correlacionado com o aumento de
população local.
94
solos à escala local (Preston, 2006), como da capacidade de captação de actividades
clericais (escritórios), por parte de centros urbanos conectados à rede de “alta
velocidade”. Willigers et al. (2005) centraram a sua pesquisa na conurbação do
Randstat, nos Países Baixos. E empregando uma combinação de técnicas de
Preferências Reveladas e Preferências Declaradas, concluíram que a secção Neerlandesa
do eixo Paris-Bruxelas-Amestardão (incluindo uma passagem através do interface
aeroportuário de Schipool) teria um efeito muito significativo no crescimento de
actividades terciárias.
De acordo com Willigers et al. (2005), a redução nos tempos de viagem originada pela
introdução de serviços ferroviários de “alta velocidade” internos, aumentaria o potencial
para as deslocações de trabalho e negócios em áreas próximas a Amestardão e Roterdão,
com os parâmetros estimados relativos à “centralidade” e “conectividade”, a adquirirem
maior significado estatístico e conferindo assim robustez, a ambas as variáveis. A
variável “conectividade” assumiu-se como sendo de maior importância para os “white
collars” (trabalhadores terciários) deslocando-se em viagens internacionais, de negócios.
95
transformou Sevilla num destino à escala planetária, muito para além do efémero
fenómeno que constitui o evento da Expo´92”. Antes do AVE, a capital Andaluza era
escolhida como palco de 300 congressos anuais; na actualidade registam-se mais de
1000 eventos da mesma natureza, por cada ano que passa. Por seu turno, Ardilla (2006)
refere que o AVE foi o principal responsável pelo aumento de visitantes em Córdoba.
No ano de 1991, o número (oficial) de turistas que visitou a cidade cifrou-se em
332.809. Onze anos volvidos, os visitantes elevavam-se a 697.725. O autor também
afirma que, no ano de 2004, o número de dormidas em Córdoba aumentou 81%,
relativamente a 1991, correspondendo a 1.043.000 pernoitas. Por seu turno, a
capacidade hoteleira ver-se-ia reforçada em 31%, ao longo do mesmo período.
54
O exemplo mais paradigmático pode observar-se relativamente à futura estação de “alta velocidade”
Rio Maior-Oeste, a qual será estabelecida na LAV Norte-Sul, sobre uma nova linha férrea convencional,
ligando Santarém, na actual Linha do Norte, a Caldas da Rainha, na actual Linha do Oeste. Nesta
estratégia de “emalhamento” entre redes assenta o propósito expresso de conferir consistência a um
sistema de cidades no Médio Tejo, descrito explícitamente nas directrizes do PROT Oeste e Vale do Tejo.
96
abertura da LAV Norte-Sul), dar suporte à estratégia inter-modal delineada pelo
Governo no âmbito do Programa “Portugal Logístico” e inscever-se na lógica mais ou
menos incontornável de disponibilizar mais oferta de “canal-horário”, num contexto de
liberalização e abertura do transporte ferroviário de mercadorias a operadores privados,
em linha com as Directivas Europeias 12 a 14/2000. Enfim, a eventual reabertura da
fronteira de Barca de Alva, e restabelecimento do corredor ferroviário directo do
Grande Porto e Leixões a Castela e Leão e Pirinéus, acabará por resultar num acréscimo
benéfico de capacidade em termos de itinerários alternativos, para uma procura privada
e competitiva, interessada em baixas taxas de acesso à infra-estrutura.
97
Em Coimbra, a valência distribuidora através da correspondência para a rede
convencional, estrutura as relações funcionais para com o exterior de uma diversidade
de localidades como a Figueira da Foz, Montemor-o-Velho, Mealhada, Cantanhede, ou
mesmo Mortágua (já em pleno distrito de Viseu). Um serviço directo Lisboa-Beira Alta,
realizado parcialmente através da LAV Norte-Sul e Coimbra (devidamente munida de
um aparelho de mudança de bitola), colocaria a zona de Nelas/Mangualde num limite
muito marginal da existência de migrações “pendulares”, orientadas para Aveiro ou
Leiria (possíveis de alcançar em cerca de 1h30mn). A inexistência de qualquer tipo de
ligação ferroviária convencional entre a Linha da Beira Alta e Viseu, assume-se, num
contexto de exploração da LAV Norte-Sul, um factor de periferialização nítida de uma
das duas cidades capitais de distrito, servidas apenas por estrada.
98
León, um sistema urbano de dimensão significativa, comparável ao caso Badajoz-
Mérida (Salamanca encontra-se a cerca de 120 Km de Vilar Formoso/Fuentes de
Oñoro).
55
Igualmente designado por Corredor Europeu-Atlântico, no Relatório Van Miert (2003).
56
A actual linha faz parte da “Linha do Norte de Espanha”, assente numa plataforma alargada, e apta a
acomodar mais duas vias. No momento de entrada em serviço integral da LAV Valladolid-Burgos-Vitora,
99
A extensão da LAV Norte, de Valladolid a Vitoria, apresentar-se-á como uma linha de
“alta velocidade” em via dupla, assente na bitola “standard Europeia” (1435mm) e
electrificada no sistema de monofásico 2x25 kV, 50 Hz. Destinada ao tráfego de
passageiros, discorrerá paralelamente à Linha do Norte de Espanha (convencional), na
maior parte do seu trajecto, mas possuindo uma parametrização admitindo velocidades
máximas de 350 Km/h (raios de curvatura mínimos de 8000m, inclinações máximas de
25 por mil).Orçada em cerca de 3000 Milhões de Euros (2008), a extensão da LAV
Norte a Vitória permitirá igualmente um encurtamento ligeiro da distância quilométrica,
por contraponto ao itinerário convencional (231 Km versus os 244 Km actuais). Como
pontos singulares de maior importância do trajecto a construir, afiguram-se dignas de
nota as intervenções a efectuar nos nós ferroviários de Venta de Baños (acesso a
Palência, Astúrias e Cantábria) e Miranda de Ebro (acesso a Bilbao e Castejón de
Ebro/Zaragoza), onde, mantendo-se mais ou menos inalteradas as localizações dos
actuais terminais ferroviários, haverá extensas obras de adaptação dos seus feixes de
vias, que passarão a contar, ademais das existentes em bitola Ibérica (1668mm), de um
conjunto de outras, de 1435mm, e ainda aparelhos de mudança automática de bitola,
permitindo assegurar conectividade com a rede envolvente.
estabelecer-se-á na variante de Burgos um par adicional de vias próprias para a “alta velocidade” em
1435mm, ficando as actuais (de via larga Ibérica) para as valências do tráfego regional de passageiros, e
ainda escoamento do movimento de mercadorias.
100
Figura 9: A extensão da LAV Norte a Burgos
101
generosa do que a LAV Norte, de Madrid a Valladolid e Vitoria: 250 Km/h será a
velocidade máxima permitida por um traçado cujo raio mínimo de curvatura descerá aos
3100m, quedando-se os declives máximos em 15 por mil.
57
Em termos de comparação, trata-se de um valor correspondendo a um custo quilométrico quase duplo,
do da futura LAV Lisboa-Porto, apta a 300 Km/h de velocidade máxima, e com um traçado mais
favorável, discorrendo por regiões de orografia de complexidade substancialmente menor.
102
Figura 10: A “Y-Basca”
58
Tempo de viagem não incorporando ainda os efeitos da construção na sua integridade da LGV-
Aquitaine e LGV-Landes (a Sul de Bordeaux), as quais colocariam Bilbao a 1h50mn de Bordeaux, e
103
necessário compreender a emergência de um longo corredor transeuropeu,
compreendendo muitos pontos intermédios importantes na geração e atracção de
viagens, onde a duração de muitos tempos de trajecto se quedará abaixo do limiar das 3
horas, para diversas relações interurbanas.
Bordeaux a 2h05mn de Paris, tornando possível, num horizonte temporal de 2020 uma viagem Madrid-
Paris em cerca de 6 horas.
104
Figura 12: O Nó de Medina, a LAV Noroeste e a LAV Ramal de Salamanca
105
Castilla-y-León (Província de Zamora), venha efectivamente e “de facto” a tornar-se o
ponto de acesso mais facilitado à cidade de Bragança por via terrestre, inclusivamente
para diversas localidades de Portugal: o Porto estaria a cerca de 2h15mn/2h30mn59,
mesmo contando com a necessidade de aceder por estrada a Puebla de Sanabria. Esta
estranha situação sugere, numa perspectiva meramente funcional – admitindo-se um
contexto em que se torne definitivo o desmembramento de Bragança da rede ferroviária
interna – que a capital de distrito de Portugal tenda a desintegrar-se do todo o restante
da Região Norte, e em particular do Nordeste Transmontano, passando a inscrever-se
numa “lógica de extensão” da Província de Zamora. Inclusivamente, Madrid ou
Valladolid, apresentar-se-ão a Bragança como destinos temporalmente mais acessíveis
do Lisboa ou a maior parte das restantes cidades de Portugal.
59
E Lisboa a cerca de 4 horas, por continuidade garantida pela LAV Norte-Sul Portuguesa.
106
À data de escrita do presente relatório, encontravam-se em frente de obra diversos
troços da LAV Noroeste, designadamentre entre Zamora e Lubián (limite de Castilla y
León com a Galiza), Lubián e Ourense, e ainda entre Ourense e Santiago de
Compostela, esperando-se (2009) o arranque dos trabalhos no futuro “nó de Medina del
Campo”, de relevância particular para as relações entre Castilla-y-León e Centro de
Portugal, atendendo-se ao facto de o mesmo constituir o ponto de bifurcação da LAV
Ramal de Salamanca.
107
Figura 15: Extensão da LAV Noroeste a Santiago de Compostela
108
4.2.4) União LAV Norte-Sul em Madrid
Básicamente, aquilo que a união Chamartín-Atocha irá permitir fazer, até antes de 2015,
consistirá na conversão de muitos serviços de “alta velocidade” terminando/começando
em Madrid, oriundos ou destinados a diversos pontos, de um carácter “radial puro”,
para outro, de tipo “diametral”. Ou, em outras palavras, um pequeno elo de união entre
sub-redes de “alta velocidade”, actualmente separadas do ponto de vista físico60,
modifica por completo a natureza dos serviços, muitos dos quais ganham o estatuto de
“passantes por Madrid”. Estes novos serviços “passantes” podem ser oriundos de
múltiplas localidades de Castilla-y-León, e terminar o seu trajecto na Catalunha, no
Aragão, na Andaluzia, ou mesmo na Extremadura. O relacionamento entre pares
urbanos de Comunidades Autonómicas muito diferentes, é substancialmente acelerado,
e assim se difunde a centralidade de Madrid tanto a Norte como a Sul.
60
Exceptuando-se o caso de um número restrito de relações, funcionando apoiadas nos “cambiadores” de
bitola de Chamartín e Atocha
109
A filosofia que preside à concepção de um Ramal LAV Medina-Salamanca é muito
similar à que presidiu a outro projecto, como Zaragoza-Tardienta-Huesca61, ou seja, o
de uma capital de Província, com uma determinada dimensão, que ficando apartada de
um grande corredor de “alta velocidade” relativamente próximo, ganha todavia (e
posteriormente), uma “antena secundária”, que lhe permite possuir serviços rápidos
apontados a outros centros (neste caso óbvio, Madrid e Valladolid).
61
Huesca, capital de Província Aragonesa, relativamente próxima ao grande corredor LAV Madrid-
Barcelona-França, ficou conectada à “alta velocidade” por um ramal de via única. Trata-se de uma linha
de Zaragoza a Tardienta, paralela à via clássica de bitola Ibérica Zaragoza-Tardienta-Lleida. De Tardienta
a Huesca, optar-se-ia por uma solução técnica de “terceiro carril”, com encavalgamento da nova linha, no
Ramal Tardienta-Huesca, de via larga já existente. A electrificação é, todavia, 25 kV monofásico,
constante em todo o trajecto. Em Huesca fixou-se um aparelho de mudança automática de bitola,
permitindo a existência de um número de serviços rápidos directos, de Zaragoza a Jaca, via Huesca.
62
Cerca de 1h00 em direcção a Madrid, ou mais de duas horas em direcção a Irún/Hendaye, na
eventualidade de se encontrar em funcionamento pleno a extensão da LAV de Valladolid a Vitoria, e de
Vitoria a Irún/Hendaye (“Y-Basca”).
110
de Salamanca, sobreposta à actual linha (desactivada) Salamanca-Zamora, e nas
proximidades de um novo pólo universitário, mas possuindo ligações físicas com todas
as linhas convencionais existentes, inclusivamente com o actual terminal ferroviário
“Salamanca-Centro Veolia”, o qual continuará a funcionar, mantendo a valência
ferroviária.
111
4.2.6) Electrificação da linha convencional Medina-Salamanca-Fuentes de Oñoro
Apesar de não ser estritamente uma “linha internacional”, dado que em nenhuma porção
do seu longo trajecto de quase 350 Km, este caminho de ferro cruza a fronteira Hispano-
Portuguesa, o facto de discorrer paralelamente à fronteira oriental de Portugal,
vertebrando uma série de localidades e centros regionais, confere-lhe um lugar
incontornável em qualquer estratégia de desenvolvimento das regiões transfronteiriças.
63
As futuras subestações de tracção de Carpio del Campo e Gomecello serão compartilhadas entre o
itinerário convencional Medina-Portugal (Fuentes de Oñoro/Vilar Formoso) e a LAV Ramal Medina-
Salamanca, com as outras duas a Oeste de Salamanca (Barbadillo-Calzada e Ciudad Rodrigo) a
fornecerem energia apenas à linha convencional.
112
Há nítidamente duas porções da “Ruta de la Plata” claramente individualizáveis: uma
metade Meridional, de Plasencia a Salamanca, passando em localidades como Hervás,
Bejár e Alba de Tormes, e que, em certa medida, assemelha-se a uma espécie de “Linha
da Beira Baixa Espanhola” (por analogia ao corredor existente e em funcionamento do
lado Português), unindo a Extremenha Província de Cáceres a Salamanca; a metade
Setentrional da “Ruta de Plata” afigura-se mais importante, no sentido de, numa lógica
concêntrica (não radial), ligar directamente três capitais de Província da Comunidad de
Castilla-y-León, constituintes do antigo “País Leonês”: Salamanca, Zamora e Astorga.
Nos mais de vinte anos que a “Ruta de la Plata” leva sem serviço ferroviário, nasceu ao
seu lado uma “Autovía” com um trajecto muito idêntico, dado que não parece confirmar
a tese de “inexistência de capacidade de geração de tráfego” no corredor, impeditiva da
exploração comercial de um caminho de ferro com uma directriz exactamente igual. As
primeiras propostas de reabertura da via férrea “Ruta de la Plata” foram tornadas
públicas com o “Plan Oeste de Castilla-y-León” (2007), o qual prevê a reabertura
faseada da metade Setentrional da “Ruta de la Plata”, unindo as três capitais de
Província Leonesas, Salamanca, Zamora e Astorga. A secção Salamanca-Zamora
apresenta-se como candidata a beneficiar da reabertura à exploração ferroviária mais
rapidamente, sustentada num crescimento (valência residencial peri-urbana) de
pequenos núcleos populacionais intermédios “satelizados” por ambas as cidades
(Valdunciel, Cubos del Vino, Perdigón y Morales del Vino, etc.), e que têm vindo a
113
gerar movimentos pendulares de importância crescente, nos últimos anos, reflectindo-se
em cargas adicionais na rede rodoviária local.
À data de escrita do presente relatório, não tiveram lugar quaisquer tipo de iniciativas
perspectivando uma reabertura rápida, ou mesmo parcial da “Ruta de la Plata”. Tal
como múltiplas medidas previstas no “Plan Oeste de Castilla-y-León”, os
financiamentos previstos, em termos de transferências de fundos do Programa-Quadro
2007/2013, do Governo Central para a Comunidad Autonomica, não tiveram ainda
materialização, e a recente complexidade do quadro das finanças públicas em Espanha
faz temer que haja um deslizamento temporal significativo afectando projectos deste
tipo. Há um consenso implícito entre as diferentes forças políticas de Castilla-y-León
quanto à necessidade de corrigir uma decisão errada, tomada há mais de duas décadas.
Porém, a natureza dos trabalhos a empreender na infra-estrutura, conjugada com a sua
significativa extensão, fazem do “dossier” “Ruta de la Plata” uma incógnita sem
resposta fácil. Trata-se de reabilitar muitas dezenas de quilómetros de via em estado de
detrioro quase total (excepção feita para pequenos troços com movimento esporádico de
cargas64), colocando o cenário de “reabertura” num patamar de custos elevado, mais
complexo do que em outros casos próximos, como o acesso directo Salamanca-Porto
via Douro.
64
Os troços Salamanca-Valdunciel e Astorga-La Bañeza seguem na actualidade em exploração pontual,
sempre que há necessidade de aceder às indústrias locais ou silos por via férrea.
65
Zona industrial, ao Sul de Plasência.
114
remanescente da “Ruta de la Plata”), pode, em semelhante cenário, adquirir uma nova
importância, caso seja contemplada uma reabertura a Norte de Plasencia. Nesse caso, a
reabertura da metade meridional da “Ruta de la Plata” colocaria centros regionais
“encravados” como Hervás ou Bejár numa inimaginável isócrona de 1h55mn/2h15mn, a
partir de Madrid. E ainda permitiria garantir um acesso rápido da capital espanhola a
Alba de Tormes, a partir da “alta velocidade” Medina-Salamanca (Madrid-Salamanca
em 1h20mn).
115
Fundamentalmente, a natureza dos trabalhos a empreender no “Ramo Norte” das
“Linhas de Salamanca à Fronteira Portuguesa”, não difere substancialmente da
intervenção prevista para o troço Pocinho-Barca de Alva, a não ser na extensão e
magnitude, em virtude se concentrarem no desfiladeiro do Rio Águeda a maior parte
dos viadutos metálicos, carentes de grandes obras de reparação. Para além da renovação
completa da superestrutura de via existente (com cerca de 120 anos), há que reconstruir
telecomunicações, drenagem, e em alguns casos edifícios de apoio à exploração em
completo estado de abandono e ruína. No tocante às obras de arte metálicas, há
elementos estruturais que devem ser substituídos e outros reforçados, tal como se prevê
para o troço Pocinho-Barca de Alva, e de uma forma muito semelhante à intervenção
presentemente em curso, na Linha da Beira Baixa (troço Covilhã-Guarda).
Poyo Valiente: Um dos 8 viadutos metálicos existente (entre dois túneis) nos 17 Km entre Barca de Alva
e Fregeneda, fotografado em 2007, aquando da realização de uma reportagem RTVE-Salamanca sobre a
linha (veículo de inspecção do ADIF). À direita avista-se o Distrito da Guarda.
116
Numa perspectiva meramente política, existiu durante muito tempo em Espanha um
alheamento completo sobre o destino a dar ao itinerário Castilla-y-León directo ao
Porto, via Douro, não se perspectivando outro fim, para além da sua conversão eventual
em ciclovia. Os anos recentes viram não só uma mudança de atitude, como a elevação
do “dossier” à escala Autonómica e Nacional. Apesar de se apresentarem como
imprescindíveis muitos trabalhos de reabilitação, para que seja possível a retoma da
exploração ferroviária, as cifras avançadas afiguram-se extremamente modestas, quando
comparadas com outras presentemente aplicadas a diversos projectos em curso e
futuros, na área das acessibilidades, tanto no plano interno de Castilla-y-León como –
sobretudo – da própria Espanha, como um todo.
117
anunciado pelo Governo de Madrid, com horizonte temporal de execução até ao ano de
2012. No plano estritamente teórico, os trabalhos de maior complexidade a efectuar na
recuperação da infra-estrutura, consistem no reforço dos viadutos metálicos, afigurando-
se plenamente suficiente para a realização dos trabalhos, o período compreendido entre
2010 e 2012, num cenário hipotético de garantia de financiamento e “luz verde” das
autoridades políticas para o projecto avançar.
66
Entrada em exploração prevista para 2011: Madrid-Cuenca-Valencia/Albacete.
118
No caso concreto de Castilla-y-León, é hoje já bem patente o conjunto de actividades
que no quotidiano podem repartir-se entre Valladolid, capital autonómica, e Madrid,
separadas apenas por uma viagem de 55 minutos, contando com uma oferta
diversificada ao longo do dia. Com Burgos, Zamora e Salamanca a inscreverem-se num
patamar temporal próximo, de menos de 30 minutos adicionais até ao horizonte 2015,
espera-se uma replicação – mesmo que atenuada – de um padrão semelhante de novas
funcionalidades do território. Enfim, a procura por um entorno residencial
qualitativamente superior ao oferecido em diversas áreas congestionadas da periferia
madrilenha pode, no futuro contexto, afigurar-se importante, não apenas como
“alternativa” para habitantes da Grande Madrid, mas igualmente como “activo”
importante na decisão de empresas de sectores envolvendo grande componente
tecnológica e de “I & D”, pretendendo oferecer condições atractivas de fixação para os
seus quadros.
67
Considerando-se vias duplas ou múltiplas, vias de resguardo e de parqueamento.
119
A magnitude dos custos envolvidos, juntamente com o abandono da valência
“mercadorias” na nova LAV Madrid-Sevilla de bitola “standard”, acabaria por originar
um adiamento quase sine-die de quaisquer iniciativas práticas, no sentido da migração
da bitola Europeia para a rede convencional Ibérica. Nos mais de 17 anos que leva em
exploração a rede ferroviária de “alta velocidade” em Espanha, o facto de a mesma se
ter vindo a construir sempre no padrão UIC (1435mm), não constituíu, contrariamente a
diversas análises, qualquer mola impulsionadora de um processo de conversão da rede
convencional, com quase nenhuma porção das linhas de 1668mm existentes em
Espanha a experimentar a transformação68. A explicação para tal situação é óbvia,
atendendo-se à exclusividade da valência “passageiros” que tem vindo a prevalecer nas
linhas de nova geração que constituem as LAV.
Sem que fosse afastada, todavia, a perspectiva de migração do padrão Europeu (ou UIC)
para a rede ferroviária convencional, a Espanha adoptou uma prática, hoje generalizada
a todas as linhas da rede “clássica”, consistindo na substituição gradual das travessas
por outras, quer de tipo “poli-valente”, quer de tipo “bi-bitola”. As travessas “bi-bitola”,
consistem em dormentes de betão pré-esforçado onde assentam os carris em “barra
longa soldada” (BLS), fixados por intermédio de “prego elástico”, assemelhando-se em
tudo a qualquer outra travessa, exceptuando-se o facto de possuirem furação dupla de
68
A Capital da Comunidad Autónoma da Castilla-la-Mancha (Toledo) viu a partir de finais de 2005, o
seu único acesso ferroviário activo (a partir de Algodor), ser convertido, de bitola Ibérica (1668mm) em
Europeia (1435mm), ao mesmo tempo que se integrava, como Ramal na LAV Madrid-Sevilla, exclusiva
– na prática – a passageiros. Consequentemente, Toledo tornar-se-ia a única Capital de Província
Espanhola exclusivamente servida por linhas de bitola Europeia (e de passageiros), facto que na prática,
representou a perda do acesso directo à rede ferroviária de mercadorias, com todos os movimentos
logísticos a verem-se transferidos para a vizinha estação de Algodor (15 Km a Leste).
120
cada lado. Esta dupla furação, permite posicionar os pregos elástico de ambos os lados
da travessa numa posição 1668mm ou em outra, de 1435mm, afigurando-se para tal
necessária, a operação de levantamento dos carris, e respectivo re-assentamento, sem
que todavia tal implique idêntica operação na restante superestrutura de via: travessas e
balastro permanecem posicionados exactamente no mesmo local – facto que facilita em
custo e rapidez, qualquer futura operação de “migração de bitola”.
As travessas “polivalentes”, por seu turno, apresentam-se como uma solução técnica
mais complexa, e consequentemente, a sua aplicação ao terreno tem-se revelado
relativamente restrita. Tratam-se de travessas de betão pré-esforçado aptas a acomodar,
em simultâneo, três carris, de molde a que a via possua ao mesmo tempo bitola Ibérica
(1668mm) e bitola Europeia (1435mm)69. Em Espanha, o troço Tardienta-Huesca (16
km), parte integrante da LAV Ramal Zaragoza-Huesca é, por enquanto, o único troço da
rede Espanhola, em exploração comercial, possuindo via de três carris e duas bitolas
simultâneas. Presentemente (2009), encontra-se em fase preliminar a conversão da
totalidade do itinerário convencional Barcelona-Granollers-Girona-Figuéres-Port
Bou/Cerbére (180 Km), de via dupla, para bitola mista (1668mm/1435mm), ao
constatar-se as limitações em assignação de “canal-horário” que resultaria para a
exploração, caso se permitisse (como inicialmente previsto) o trânsito de composições
de mercadorias na nova LAV em conclusão, de Barcelona a Figuéres e Perpignan, via
La Junquera/Le Perthus.
69
As travessas “bi-bitola” têm uma aplicação muito ampla em países como o Brasil ou a Austrália. No
Brasil trata-se em muitos casos de um recurso utilizado em Estados como Minas Gerais, Rio de Janeiro e
São Paulo, onde linhas de bitola métrica compartilham o mesmo leito com outras de bitola larga de
1600mm. Na Austrália do Oeste, onde predomina a bitola corrente de 1067mm, existe uma longa partilha
de leito como a linha transcontinental Índico-Pacífico, de padrão Europeu (1435mm). Em ambos os casos,
tratam-se de vias possuindo três carris, com um deles servindo de suporte comum à circulação de veículos
de duas bitolas diferentes. A via de três carris apresenta algumas características próprias, reflectindo-se na
complexidade e no custo acrescido dos aparelhos de mudança de via (agulhas simples ou cruzamentos de
dupla junção, que requerem a existência de várias lanças e servo-motores suplementares), e ainda a
necessidade em alguns casos (aproximação a cais e plataformas de estações sucessivas em lados opostos),
da existência de soluções técnicas invulgares, de tipo “saltarela”, permitindo uma troca do lado em que se
posiciona o carril comum às duas bitolas, afectando directamente o acesso aos cais dos veículos
circulando no padrão mais estreito dos dois existentes.
121
compreendem o emprego de travessa “polivalente”, destinada a assegurar a
materialização duma via férrea possuindo duas bitolas em simultâneo.70
Mas mesmo com todo um trabalho prévio preparando uma migração generalizada das
linhas da rede ferroviária convencional Ibérica, afigura-se difícil precisar um horizonte
temporal, a partir do qual terá arranque definitivo o processo, aparte de penetrações, por
intermédio de vias mistas, em zonas muito localizadas de Comunidades Autónomas
confinantes com França, tais como a Catalunha e o País Basco, onde Barcelona ou
Vitória-Gasteiz se apresentam como candidatos precoces a contar com acesso directo à
rede ferroviária além-Pirinéus, dispensando-se, no domínio da logística, as operações de
mudança de eixos ou bogies actualmente realizadas pelos pórticos da Transfesa, nas
intalações de Cérbere e Hendaye. Os ganhos de tempo auferidos pela dispensa da
operação de mudança de eixos (cerca de 1h a 1h30mn) vão-se, todavia, desvanecendo
em significância, à medida que aumenta a distância aos Pirinéus, e consequentemente,
se alarga a duração do trajecto das composições de carga geral, especializada e tráfego
contentorizado, nestes casos se incluindo a Meseta Central e ainda, de forma geral, todo
o Oeste Peninsular, onde se inclui Portugal.
70
À data de escrita (2009), no troço em exploração entre Casa Branca e Évora, apenas se assentaram os
carris correspondentes à via larga Ibérica (1668mm), ficando vaga a furação suplementar de um dos
lados, preparada para acomodar um carril extra, destinado a formar a via de 1435mm.
71
Um protótipo (L9202) foi já construído e testado com sucesso pelas “Patentes Talgo”, em 2005, com
intuito de dar origem a uma produção de série para a Península Ibérica e Rússia (que possui igualmente
um padrão de vias distinto, de 1520mm).
72
Radsatzfabrik Ilsenburg, GmbH.
122
tornar barata, em termos de investimento de capital, atendendo-se à presença cada vez
mais forte de operadores logísticos privados num sector ferroviário liberalizado.
123
5.2) A constituição de uma rede predominantemente dedicada à logística, no âmbito do
Programa “New Opera”
73
Consorzio Train, F&L, Alstom, Nestear, Transfesa, Rail4Chem, AnsaldoBreda, LKW Walter, Cemat,
Storaenso, Rail Traction Company, Bombardier, Autoritá Portuaria di Genova, Gysev, Siemens, Kombi-
Verkher, DB-Netz, UNIFE, Sogemar, Ermewa, DHL, Deutsche Post, VW Transport, Port du Havre, RFF
- Reseau Ferré de France, RFI – Rete Ferroviaria d´Italia.
124
integrantes do “New Opera” Ibérico em território Espanhol localiza-se precisamente na
Comunidad Autónoma de Castilla-y-León, duramente afectada pelo pacote de
encerramentos, ocorridos a 1 de Janeiro de 1985. Os eixos potencialmente candidatos à
constituição de uma rede ferroviária de mercadorias em Espanha, foram identificados
como sendo:
a) Linha Valladolid-Ariza;
b) “Ruta de la Plata”, de Plasencia a Salamanca, Zamora e Astorga;
c) “Directo” Madrid (Colmenar Viejo) a Burgos;
d) Antiga linha Santander-Mediterraneo (Santander-Burgos-Soria-Calatayud).
Fonte: Revista “Via Libre” Nº 477 (Fundación de los Ferrocarriles Españoles” Jul/Ago, 2004).
Uma visão muito preliminar dos corredores ferroviários de Espanha assignados à rede
constituinte do “New Opera”, foi publicada em 2004 na Revista “Via Libre”, da
Fundación de los Ferrocarriles Españoles, e ilustra duas penetrações da mesma no
vizinho território de Portugal: a primeira, através de Vilar Formoso (rede convencional),
dirigida a Torres Novas (local onde se situa o TVT, terminal logístico do Vale do Tejo,
125
hoje utilizado extensamente pelo operador privado Takargo, operando contentores MSC
– Mediterranean Shipping Company), com o encaminhamento em território Português a
ter lugar por intermédio da Linha da Beira Baixa; a segunda, de Fuente de San Esteban
(referenciada no mapa erradamente como sendo a localidade vizinha de “Martín de
Yeltes”) a Leixões (Oporto), através da Linha do Douro reaberta ao tráfego
internacional. Na visão preliminar da possível rede exclusiva (ou quase-exclusiva) a
mercadorias, sob a égide do “New Opera”, não foi incluído na mesma o Corredor Sines-
Espanha74, provavelmente pelo facto do mesmo incorporar muitos troços convencionais
com tráfego significativo de passageiros.
74
Via Mérida-Puertollano-Ciudad Real-Manzanares-Alcázar de S.Juan-Madrid/Valencia.
75
Ver Revista Vía Libre, (15/12/2008) Fundación de los Ferrocarriles Españoles, Madrid.
126
ferroviário além-2020, designadamente a nível do custo da energia (com particular
destaque para os combustíveis fósseis), incidência maior ou menor de uma política de
internalização de custos externos dos transportes (afectando as operações logísticas), e,
dum modo geral, grau de congestionamento dos grandes itinerários rodoviários do
espaço geo-económico Europeu. Uma reorientação expressiva da procura de serviços de
transporte de cargas para o modo ferroviário, um pouco por toda a Europa, colocaria
mais força na possibilidade do “New Opera” avançar rapidamente, no horizonte
temporal além 2020 ou 2025. A especialização de linhas por tráfegos (linhas de “alta
velocidade” para passageiros, rede convencional mista, e rede convencional logística)
parece ser um cenário de existência possível, a meio do presente século XXI.
6) Cenarização
O período compreendido entre 2009 e 2015 não se apresenta como sendo susceptível de
introduzir grandes alterações estruturais a nível da articulação funcional entre as Região
Centro de Portugal e a Comunidad Autónoma de Castilla-y-León. Tal não significa que,
no decurso do período em análise, haja um completo imobilismo, em termos de
investimento nas infra-estruturas ferroviárias de um e do outro lado da fronteira: tanto
do lado de Espanha (particularmente), como até no território correspondente ao Centro
de Portugal, decorrerão neste período grandes empreendimentos. Todavia, muitos deles
nada mais serão à parte de grandes estaleiros e frentes de obra (“alta velocidade” Norte-
Sul em Portugal, LAV Valladolid-Vitoria, em Espanha, etc.), sem quaisquer
consequências a nível de efeitos directos (alteração da repartição modal e geração de
viagens) ou efeitos indirectos (impactos territoriais, na óptica das funcionalidades do
território, mercado residencial, turístico, de criação de emprego e difusão espacial dos
serviços).
127
incidência particular nas regiões em estudo, cuja conclusão, por volta de 2011-2013,
terá um efeito muito positivo, designadamente a nível do transporte de mercadorias,
articulação funcional com os portos e um conjunto importante de plataformas e
terminais logísticos a criar (Aveiro-Cacia, Pampilhosa e Guarda-Gata no Centro,
Salamanca-Zaldesa em Castilla-y-León).
128
8) No geral, e de forma transversal às duas unidades territoriais em análise,
é previsível o reforço da presença de operadores ferroviários logísticos
na oferta de serviços, e ainda a generalização de novas formas de
transporte, tais como a “ferroutage” (transporte de camiões completos
e/ou semi-reboques rodoviários em vagões especializados).
129
6.1.2) Factores exógenos ao sector ferroviário
Afigura-se muito difícil adiantar com precisão dados concretos sobre determinado tipo
de factores exógenos de grande importância e impacto no sector ferroviário.
Fundamentalmente, não é possível prever se, num horizonte temporal cujo
desenvolvimento perdurará até 2015, haverá um cenário persistente de combustíveis em
“alta de preços”, afectando tanto o transporte rodoviário individual, como, sobretudo, a
logística por estrada. Assim sendo, e numa abordagem conservadora, poderá considerar-
se um quadro de custo da energia para o transporte rodoviário, mais ou menos
semelhante ao existente na actualidade (2009).
130
certa a generalização da medida à totalidade da rede rodoviária da União Europeia,
incluindo a de espaços mais periféricos, como o da Península Ibérica.
131
6.1.3) Uma visão para 2015
À luz das transformações a ocorrer nas redes ferroviárias da Região Centro de Portugal
e de Castilla-y-León, poderá dizer-se resumidamente, que o horizonte de 2015 será
sobretudo o de uma grande janela de oportunidade para a logística intermodal.
No quadro de 2009, o custo energético por ton-Km bruta rebocada em tracção eléctrica
era variável, de 45% a 60% do equivalente Diesel, facto que não contribuiu no imediato,
para a eleição deste modo de tracção por parte de muito operadores logísticos privados,
os quais preferem o emprego de máquinas capazes de operar de forma polivalente em
ramais particulares sem catenária, eximindo-se a investir em locotractores de manobras
e locomotivas poli-tensão (aptas a circular indistintamente em linhas equipadas no
sistema de monofásico 25 kV 50 Hz ou 3kV, corrente contínua). Fundamentalmente,
serão os grandes operadores incumbentes (ou os seus sucessores76) a beneficiar da
electrificação integral Lisboa-Salamanca-Irún/Madrid, mas há que considerar na nossa
visão, o facto de, numa “perspectiva conservadora”, termos admitido, no início, a não-
existência até 2015, de uma conjuntura extremamente desfavorável em termos de “alta
persistente de combustíveis fósseis”. Altere-se significativamente nesse sentido o custo
do Diesel, e então assistir-se-á, decerto, a um muito mais intenso uso da tracção
eléctrica, o qual estender-se-á de forma expresiva, aos operadores logísticos privados.
O protagonismo até agora inexistente das Plataformas Logísticas e dos portos (Lisboa,
Aveiro e Figueira da Foz, Terminal da Pampilhosa, Guarda-Gata e Salamanca-Zaldesa),
76
É difícil afirmar se em 2015 existirão na forma actual os operadores CP-Carga e RENFE-Cargas, os
quais actualmente formam a aliança Ibérica “Iberlink”, por contraponto ao “pool Ibercargo”, dominado
pelos privados Comsa e Takargo (Mota-Engil).
132
vai tornar-se uma realidade, embora a sua expressão possa tomar muitas formas
distintas, das quais poderemos descrever apenas uma parte ínfima. Fundamentalmente,
estas infra-estruturas associadas ao caminho de ferro, num quadro de liberalização do
sector, permitem perspectivar um ordenamento das actividades logísticas, essencial para
a intermodalidade. É a sua eficiência prática, conjugada com a internalização de custos
externos do transporte rodoviário, que vai ditar o seu “hinterland” e capacidade de
consolidação de cargas. A plataforma de Salamanca-Zaldesa possui acordos com os
portos de Aveiro e Leixões, ignorando-se presentemente (2009), como se vão enquadrar
os terminais de Pampilhosa e de Guarda-Gata nas novas acessbilidades ferroviárias
onde serão inscritos até 2015, o mesmo se podendo dizer do porto da Figueira da Foz
(enfim, a reabilitação do chamado “Ramal de Cantanhede”, devolvendo-lhe a
operacionalidade, não poderá ter outro significado maior senão de conferir
conectividade a esta infra-estrutura portuária).
133
os benefícios do investimento ferroviário na Região Centro e em Castilla-y-León,
previsto para o mesmo período. Os parques industriais de Viseu, como Fragosela ou
Mundão são demasiadamente afastados de qualquer terminal logístico com escala
significativa, e prevalecendo tal situação, reflectir-se-á negativamente como uma
desvantagem comparativa da cidade e das suas actividades económicas. Mesmo num
cenário, mais ou menos pragmático, em que caiba a Mangualde (a 20 Km de distância)
vir a tornar-se, na prática, a estação de mercadorias de Viseu, a tendência será sempre a
de considerar o primeiro dos pontos como localização preferencial. Poder-se-á dizer,
com segurança, que o período até 2015, apresenta-se quase como uma derradeira
oportunidade de construção de uma ligação ferroviária convencional a partir da Linha
da Beira Alta, até a uma cidade relativamente próxima, mas servida exclusivamente por
auto-estradas em todas as direcções.77 Passado o horizonte de 2015, a eventual ligação
ferroviária convencional a Viseu, tanto a partir da Linha da Beira Alta (mais próxima),
como eventualmente desde a actual Área Metropolitana do Porto (pese embora a
dificuldade imposta pelo custo de atravessamento de uma região de orografia
complexa), poderá e deverá sempre fazer-se, mas tal ocorreria já num contexto de
necessidade de distribuição eventual de um eixo LAV Aveiro-Viseu-Salamanca, a
construir em data incerta, e numa situação em que a hierarquia logística do território
composto pelo Centro de Portugal e Castilla-y-León, estivesse já claramente definida,
para benefício de pontos como Guarda ou Mangualde (a juntar a Pampilhosa, Aveiro-
Cacia e, naturalmente, Salamanca).
Apesar da maior parte dos investimentos ferroviários cuja materialização até 2015 se
prevê que ocorram no Centro de Portugal e em Castilla-y-León tenham um reflexo mais
pronunciado na vertente logística, há igualmente algum impacto a nível da reformulação
da oferta de transporte de passageiros, permitida pela modernização que não pode
deixar de ser mencionada na visão de 2015, mesmo adoptando uma postura
conservadora.
77
A A25 de Oeste a Leste, intersectando a A24 de Norte a Sul (Santa Comba-Dão, onde ligará à A35).
134
em 2015), servida pelo “AVE-Lanzadera” Salamanca-Medina-Olmedo-Segovia-
Madrid, perfazendo-se o trajecto até à capital de Espanha em apenas 1h20mn, verifica-
se que tácitamente, todos os serviços a Oeste da Capital de Província, extintos em
199578, passam a enquadrar-se como uma possibilidade completamente nova, em
termos de reintrodução da sua oferta. Se à nova electrificação dirigida a Portugal, se
juntar um aparelho de tipo “cambiador de ancho de vía”, posicionado em Salamanca, tal
coloca Ciudad Rodrigo a umas escassas 2 horas do Centro da Península, com a fronteira
Portuguesa (Fuentes de Oñoro/Vilar Formoso) a 2h15mn, e finalmente a Guarda a cerca
de 2h45mn, recorrendo-se a serviços directos, operados com material circulante munido
de eixos de “geometria variável”. Mesmo com recurso a uma mera correspondência
cais-a-cais, Guarda (onde chega a actual oferta de Inter-Cidades da CP em 4 horas),
estaria a apenas 3h15mn de Madrid. Muito interessante revestir-se-ia igualmente o papel
da LAV na acessibilidade de Salamanca (e todos os restantes serviços a Oeste),
relativamente a Valladolid, capital de Castilla-y-León. A LAV Ramal até Medina del
Campo, assim como a concordância de evitamento de Olmedo, colocariam Salamanca a
uns escassos 40 minutos de Valladolid, afigurando-se tecnicamente possível uma
viagem entre a Guarda e a capital de Castilla-y-León em 1h20mn.
78
Salvo o caso particular do “Sud-Express”, sem qualquer ligação a Castilla-y-León, dada a circunstância
de mero trânsito entre Portugal e França.
135
apontado a uma região classificada como “Património Mundial”, relativamente à qual o
mercado de Castilla-y-León e da Grande Madrid, tem estado completamente afastado.
136
A Região Centro de Portugal integra-se no “Sistema Metropolitano Atlântico”, com
cidades como Aveiro e Coimbra a fazerem parte desse grande eixo Norte-Sul, onde a
maior parte das viagens entre pares de cidades consecutivas se faz em distâncias-tempo
inferiores a 1 hora, ou mesmo em muitos casos, abaixo da marca de 45 minutos. Há uma
nova centralidade emergente em Leiria, que por via da articulação da LAV Norte-Sul
com a Linha do Oeste, abandona definitivamente uma postura de décadas de
dependência quase-exclusiva no transporte rodoviário, para sua articulação funcional
com o exterior. O interior da Região Centro, não integrando directamente a zona de
influência da LAV Norte-Sul, assiste a um impacto limitado da nova infra-estrutura, a
qual evidenciará um poder de aproximação temporal de alguns centros urbanos com
Santa Comba Dão, Mangualde ou Guarda, a Lisboa, Porto e outras localidades, por via
do efeito de “emalhamento” com a Linha da Beira Alta, na futura estação de Coimbra-
AV. Fundamentalmente, o benefício que resultará, em termos de redução de tempo de
viagem, e consequente aproximação de uma localidade como, por exemplo, Guarda, do
“sistema metropolitano Atlântico”, será mais dilatado, quanto maior for o afastamento
do ponto-destino de Coimbra (a LAV Norte-Sul aproxima significativamente a Guarda
de Lisboa, fazendo cair o tempo de viagem, das actuais 4h para cerca de 2h45mn, mas
não aprersenta qualquer efeito nas relações compreendidas entre a Guarda e Coimbra).
137
Com probabilidade de materialização elevada
138
6.2.2) Factores exógenos ao sector ferroviário – “Horizonte 2020”
139
6.2.3) Uma visão para 2020
140
compreendida entre 1h00mn e 1h30mn, consolidando-se, de forma extremamente
interessante, um eixo urbano interno à Região Centro, direccionado para o seu interior.
Sem prejuízo da existência prévia de uma ligação ferroviária de Viseu à Linha da Beira
Alta, uma eventual antecipação de parte do eixo LAV Aveiro-Salamanca, em moldes
incrementalistas, algo idênticos à abordagem adoptada para a LAV Norte-Sul, no
trajecto Porto-Vigo79, resultaria num eixo de via larga temporária Aveiro-Viseu-Beira
Alta; caso se encontrasse em exploração, a distância-tempo Viseu-Porto, via Aveiro,
quedar-se-ia, por trânsito Aveiro-Porto na LAV Norte-Sul, no limiar de 1 hora de
trajecto, integrando-se assim Viseu no sistema metropolitano litoral, podendo referir-se,
num cenário com semelhantes características, uma tendência latente de “litoralização”
de Viseu (e localidades próximas de Mangualde e Nelas), ou, conversamente, na
extensão máxima da “metropole Atlântica” para o interior da Região Centro.
79
Com uma primeira fase em via larga Ibérica temporária entre Braga-Aveleda e Valença a preceder a
existência de toda a extensão Porto-Vigo (via Sá Carneiro) em bitola Europeia.
141
6.3) Período pós-PEIT (I): “Horizonte 2025-2030”
80
Ambas concebidas como “linhas pós-2018”, na sequência dos acordos bilaterais Espanha-Portugal,
celebrados na Cimeira Ibérica da Figueira da Foz.
142
6.3.2) Factores exógenos ao transporte ferroviário
143
Figura 21: “O Horizonte 2025”
81
Cabendo os restantes 400 Milhões de Euros ao “hiato” de uma centene de quilómetros entre Almeida e
a nova circunvalação ferroviária do Norte de Salamanca.
144
semelhante à “litoralização” de Évora, que ocorrerá uns anos antes, com a LAV Madrid-
Extremadura-Lisboa. As “perfomances” dos serviços de “alta velocidade” permitem a
Viseu posicionar-se numa distância-tempo de 45 minutos do Porto ou Coimbra, a menos
de uma hora do Aeroporto Francisco Sá Carneiro, ou mesmo ligeiramente acima de uma
hora, no tocante a Braga-Aveleda ou Leiria-AV. Viseu torna-se assim parte integrante
de um território onde é possível idealizar localizações empresariais espacialmente
desfasadas de factores de produção como mão-de-obra especializada (poderá a mesma
residir em Coimbra, em Aveiro ou no Porto), e ainda acomodar crescimento peri-urbano
(tipologia residencial unifamiliar), competitiva com a periferia do Grande Porto.
Numa visão mais alargada do novo posicionamento de Viseu, permitido pela LAV
Aveiro-Salamanca e respectiva inserção na rede pré-existente, afigura-se importante
salientar que a cidade do interior da Região Centro estaria numa isócrona de 1h45mn de
Lisboa (via LAV Norte-Sul até Aveiro), e a cerca de 2h00mn de Madrid (45 minutos de
Salamanca; 1h20mn de Valladolid). É interessante salientar o facto de que os extremos
de dois sistemas metropolitanos (o Atlântico Português “linear”, em Viseu, e o
Madrilenho em “mancha de óleo”, em Salamanca) estariam separados entre si por um
distânciamento inferior a uma hora de viagem.
145
garantindo assim um acesso rápido à cidade capital de distrito. O ponto de Vila Franca
das Naves assumir-se-á como estratégicamente ideal para localizar a estação de Guarda-
AV: está a apenas 15 minutos de distância-tempo da actual Guarda-gare “convencional”
e ao mesmo tempo não impõe à LAV a necessidade de confrontar orografia complexa,
alcançando-se Almeida e Espanha sem nunca abandonar a zona planáltica. Vila Franca
das Naves é ainda um local ideal para o estabelecimento de uma “antena” ferroviária
distribuidora, de cerca de 50 Km para Norte, unindo, no Pocinho, as Linhas da Beira
Alta e Douro, trajecto que esteve anos consecutivos contemplado como de interesse
estratégico, nos antigos “Planos de Fomento” anteriores a 1974.
146
muito complexa, sendo apenas incontornável constatar-se que os “1435mm” vão
aparecer no ponto fronteiriço de Fuentes de Oñoro e Vilar Formoso. Como progredirão,
a partir daí, em direcção ao Oeste, e como se fará a transição sem interrupção da
exploração? A itinerância dos aparelhos “cambiadores” de bitola, de Leste para Oeste,
conjugada com um parque de locomotivas e vagões de mercadorias munidos de “eixo
de geometria variável” será algo de incontornável. Mas, no contexto concreto de
Portugal, onde a estrutura da rede ferroviária apresenta-se com muito poucos itinerários
alternativos, de molde a permitir uma gestão da capacidade em “canal-horário” flexível,
no decurso das intervenções realizadas em determinada linha, há algum grau de
complexidade na operação.
147
Figura 22: O “Horizonte 2030”
148
7) Conclusão: a emergência de novo território e mercado no Centro e Castilla-y-León
149
Évora num ponto intermédio) e – mais tarde – Viseu e a Guarda se colocam num papel
semelhante, relativamente a um eixo litoral, compreendido entre Leiria e Braga, onde as
distâncias-tempo técnicamente possíveis, permitem a existência de alguns movimentos
de tipo “pendular”, e ainda há abrangência de “hinterlands” aeroportuários (Canha, a
Sul; Sá Carneiro, a Norte). De um modo geral, toda a Galiza Atlântica encontra a sua
inscrição natural nas funcionalidades do extremo Norte Português (Porto e Braga), do
“sistema metropolitano” litoral, incluindo-se um acesso rápido ao Aeroporto Francisco
Sá Carneiro.
150
Cylog (Plataformas Logísticas de Castilla-y-León), tendo como foco as operações da
ZALDESA (Puerto Seco de Salamanca) relativamente aos portos de Leixões, Aveiro e –
por último – Vega de Terrón: o acesso esquecido à via navegável do Douro, que para
possuir alguma escala terá, que assentar na via férrea directa Salamanca-Porto, cuja
recuperação gradual está hoje (2009) na agenda política bilateral dos Estados Ibéricos.
82
Atendendo-se ao “hinterland” de Barajas, por um lado, e ao facto de que Salamanca se posicionará a
1h20mn da capital de Espanha.
151
aceitáveis e interessantes, para a emergência de um “espaço de negócios” entre a Região
Centro e a Comunidad Autónoma de Castilla-y-León, assim como outras comunidades
autónomas, sem implicar necessariamente um envolvimento total do núcleo aglutinante,
que é, na sua dimensão geo-económica, a Grande Madrid.
152
8) Apêndice
153
1. Castilla-y-León
Cabezón de Estetyco e
Pisuerga – San
Martín de Valvení 16-10-2007 1.100.000,00 17-04-2008 935.223,76 Icyf
San Martín de
Valvení – Nó de Agua y
Venta de Baños 16-10-2007 1.600.000,00 17-04-2008 1.360.000,00 Estructuras
Nó de Venta de
Baños 27-12-2007 2.750.000,00 19-04-2008 2.337.927,67 AEPO, S.A.
Ingeniería y
Nó de Venta de Economía
Baños – del Transporte
Torquemada 27-12-2007 1.400.000,00 23-04-2008 1.188.600,00 (INECO)
Torquemada – Técnica y
Quintana del Proyectos
Puente 27-12-2007 1.200.000,00 23-04-2008 1.021.147,79 (Typsa)
Quintana del
Puente – Villodrigo 29-01-2008 1.300.000,00 31-05-2008 1.111.760,00 Euroestudios, S.L.
Villodrigo –
Villazopeque 29-01-2008 1.100.000,00 31-05-2008 922.898,90 Control y Geología
TRN Ingeniería y
Villazopeque – Planificación de
Estépar 19-02-2008 1.200.000,00 31-05-2008 1.020.172,38 Infraest.
Estépar – Variante Vigiconsult,
ferroviaria de Euroconsult y
Burgos 29-01-2008 1.400.000,00 31-05-2008 1.173.192,59 Geoconsult
Variante
ferroviaria de
Burgos 12-11-1999 1.502.530,26 02-05-2000 1.292.176,02 AEPO, S.A.
155
b) Burgos – Miranda de Ebro – Vitoria
156
- Obras de Plataforma
Conexões
Valladolid –
Burgos e León –
Palencia – BOE 05-06-
Burgos 8 22-05-2009 2009 BOE 27-11-2009
Nó de Venta de 24-04-2009
Baños – BOE 30-12-
Torquemada 11,9 12-12-2008 2008 BOE 09-06-2009
Torquemada –
Quintana del BOE 30-12- 24-04-2009
Puente 11,3 19-12-2008 2008 BOE 06-05-2009
Quintana del 30-10-2009
Puente – BOE 31-07-
Villodrigo 11,1 17-07-2009 2009 BOE 08-01-2010
157
“Y-Basca”: continuação da LAV Norte para o País Basco e França
- Redação dos Projetos de Plataforma
Orçamento Montante
Licitação de Adjudicação da
(BOE) licitação (€) (BOE) adjudicação
Linha ou Troço (€) Adjudicatário
Vitoria – Em
Arrazua/Ubarrundia projeto
Arrazua/Ubarrundia – 29-10-
Legutiano 2004 900.000,00 25-01-2005 643.503,07 Saitec, S.A.
Fulcrum, Planif.,
15-01- Análisis y Pyto. (42%)
Elorrio – Atxondo 2005 950.000,00 18-05-2005 653.125,00 Ideam, S.A. (16%)
15-01- Proes Consultores, S.
Atxondo – Abadiño 2005 1.100.000,00 19-05-2005 769.414,25 A.
Ingeniería Idom
Internacional (50%)
Durango – 15-01- Geoconsult España
Amorebieta/Etxano 2005 1.300.000,00 01-06-2005 926.158,12 (50%)
AEPO, S.A. (75 %)
Amorebieta/Etxano – 15-01-
Amorebieta/Etxano 2005 1.350.000,00 18-5-2005 1.013.017,18 S.M.D., S.L. (25 %)
INTRAESA (65%)
Amorebieta/Etxano – 15-01- Noega Ingenieros, S.L.
Lemoa 2005 900.000,00 01-06-2005 629.092,51 (35%)
15-01-
Lemoa – Galdakao 2005 1.000.000,00 01-06-2005 719.000,00 Euroestudios, S.L.
158
- Obras de Plataforma
do Conselho
Troço (km) de Ministros Obras das Obras
Vitoria – Arrazua/Ubarrundia 3,8
03-10-2007 26-12-2007
BOE 06-10- BOE 21-01-
Arrazua/Ubarrundia – Legutiano I 2,54 13-07-2007 2007 2008
22-12-2005 31-03-2006
Arrazua/Ubarrundia – Legutiano BOE 28-12- BOE 26-04-
(subtramo II) 5,2 16-12-2005 2005 2006
29-09-2006 26-12-2006
BOE 10-10- BOE 23-01-
Legutiano – Escoriatza (subtramo I) 5 22-09-2006 2006 2007
29-09-2006 26-12-2006
BOE 10-10- BOE 23-01-
Legutiano – Escoriatza (subtramo II) 2,4 22-09-2006 2006 2007
26-12-2006 30-03-2007
BOE 30-12- BOE 23-04-
Escoriatza – Aramaio 5,58 15-12-2006 2006 2007
26-12-2006 30-03-2007
BOE 30-12- BOE 23-04-
Aramaio – Mondragón 3,39 15-12-2006 2006 2007
29-09-2006 26-01-2007
BOE 20-10- BOE 27-02-
Mondragón – Elorrio 4,44 22-09-2006 2006 2007
Elorrio – Elorrio 3,7
159
1.3. LAV – Ramal (1435mm) Medina del Campo – Salamanca
- Obras de Plataforma
160
1.4.Corredor Noroeste: LAV (Madrid-) – Medina del Campo-Galiza
Processo Administrativo
Declaração Impacto
Ambiental (DIA) Estudo Informativo
Data da Data da
Troço Resolução Data do BOE Resolução Data do BOE
Ligação LAV
Madrid –
Valladolid e LAV
Madrid – Galicia 02-02-2005 23-02-2005 18-02-2005 25-03-2005
Olmedo – Pozal de
Gallinas [1] 14-02-2007 16-03-2007 11-10-2007 28-11-2007
Medina – Zamora
– Puebla de
Sanabria – Lubián 05-03-2003 28-03-2003 12-05-2003 07-06-2003
Novo Túnel de
Padornelo DIA Pendente
Puebla de
Sanabria – Lubián
– Ourense 25-04-2006 27-04-2006 14-06-2006 03-07-2006
Ourense –
Santiago 17-03-2003 09-04-2003 25-04-2003 10-06-2003
Declaração Impacto
Ambiental (DIA)
Data da
Troço Resolução Data do BOE
Medina del
Campo-
Salamanca-
Aldehuela de la
Boveda 01-03-2010 02-06-2010
Aldehuela de la
Boveda-Fuentes
de Oñoro Pendente
161
2. Região Centro (Portugal)
162
O custo total das obras a realizar neste troço (incluindo despesas de projecto,
expropriações, materiais de via, desnivelamentos, sinalização, telecomunicações,
Convel e fiscalização) ascende a cerca de 55 milhões de euros.
A decorrer desde 20 de Junho de 2008, esta empreitada foi adjudicada à Siemens, SA,
pelo valor de 3.870.000,00 € e um prazo de 540 dias de calendário.
Com uma potência de 20 MVA, a ser alimentada por duas linhas da REN de 220KV,
assegurará o fornecimento de energia às novas instalações de catenária a construir no
âmbito dos projectos de modernização dos troços Castelo Branco - Covilhã e Covilhã -
Guarda.
A fiscalização da obra foi confiada à Afaplan – Planeamento e Gestão de Projectos, SA,
pelo valor de 182.525,00.
163
9) Referências Bibliográficas
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Claisse, Gérard; Duchier, Didier. Les Observatoires des Effects TGV: Reflexions
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168
Índice das Matérias
169
3.8) A “LAV Norte-Noroeste”: Madrid-Segovia-Olmedo-
Valladolid/Medina del Campo Pag. 71
170
5) Para além do PEIT: Investimento após 2020 Pag. 119
6.2. Período entre 2015 e o fim do PEIT (2005-2020): “Horizonte 2020” Pag. 136
171