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ESTUDOS ALEMAES ‘Série coordenada por EDUARDO PORTELLA, EMMANUEL CARNEIRO LEAO ‘e VAMIREH CHACON ich Cataogratiea elaborada pela Baulpe de ‘Besgusn da ORDECC con ON problomas tratarats do matedo Copitaista {claus Ofte, tradugto ae urbara Pratap. {plo de Janeieo Tempo ‘Braslito, 18 300 p._coioteen Tebo Universttile: 1s, Serid"‘Bstados Alemues) 1, oiiseg, — ongantsago 2. Capltalisino 1 nila Baie cpu g21.0n Hosea. CLAUS OFFE PROBLEMAS ESTRUTURAIS Do ESTADO CAPITALISTA TEMPO BRASILEIRO BIBLIOTECA TEMPO BRASILEIRO — 19 colegio dirigida por EDUARDO PORTELLA Professor da Univeredade ederal 80 Rio de Janeiro ‘Traduridos dot originate alemfes menclonados nas aberturas dos especivos ates Cconyriaht (¢) SUHRICAMP Verlag — Lindenstrasee Subtkamp Haus 6000 Frankfurt I. e Class Offe, Profesor a Universidade de ‘Blelefeld - Republica Federal da Alemanka. ‘Trdusio de BARDARA FRETTAG ‘Revisio Téenlea de TADEU HIDELBRANDO VALLADARES ‘Capa de ANTONIO DIAS ¢ ELIZABETH LAPAYETTE Programagio ‘Textual de DANIEL CAMARINHA DA SILVA ‘Todos os direitos reservados EDIGOES “TEMPO BRASILEIRO 1-7DA. ua Gago Coulinho, 61 — Tel: 205-5069 (Caixa Poctal 18000 CEP 22221 Rio DE JANEIRO — RI — BRASIL SUMARIO 1, FORGA DE TRABALHO E PODER DA SOCIEDADE ‘Teoria do Estado e politica sodial / Claus Offe © Gere Lenhardt ius liens da seo coletva: anotagiestedrcas sobre clas- fe socal ¢ Forma Orgenizaconal / Claus Offe © Helmut Wiesenthal 1. PODER DA SOCIEDADE B INSTITUICOBS POLITICAS ‘Tess sobre fundamentagio do conecto de "Estado Ca~ Dltalistae sobre a pesguisa polltca de orientaggo materia- sta / Claus Offe e Volker Ronse Dominagéo de classe e sistema politico. Sobre a setetividade das insitlgbes polities / Cinus Ofte Relages ce Troca o Direcko Politica. A alualidade do Pro- blema da Legltimagao / Claas Ofte Critérios de Racionalidede e problemas Funeionais da Ag80 Poltee- Administrative / Cla Ofte “A Ingovernabllidade": sobre © Renaseimento das ‘Teorlas Cconservadoras da Crist / Claus Otfe Reflendes e Hlpsteses em Torno do Problema a Legitima~ so Politica / Claus Ofte Partido Competitive Identidade Politica Coletiva / Claus one ss Politi por Desisio Majeritéria? / Claus Ofte fMmeracia raraacia competi ¢ o -Wotare sate esiano: atores de Estavildade © Desogatleaio / \ apis ott ° 6 ue a 180 6 8 m2 ou & | — FORGA DE TRABALHO E PODER DA SOCIEDADE Gero Lenhardt e Claus Offe Teoria do Estado e Politica Social. Tenlatioas de Explicagdo Politioo-Sociolégica para as Fungde @ 08 Provessos Inovadores da Politica Social. (Titulo original: Staatstheorie und Sozlalpolitik. Politisch ‘soriologisshe Erkiaerungsansaetze fuer Funktionen und Tnnovations-prozesse der Sozialpoltik). em: Cy, Ferber/F. X Kautmann (eds): Sonderhett 19/1977 Giimero especiai) da: Kolner Zeitschrift fr Soziologic und. Sozialpeyehologie. ‘TEORIA DO ESTADO F POLITICA SOCIAL ‘TENTATIVAS DE FXPLICACAO POLITICO-SOCIOLOGICA PARA AS FUNCOES E OS PROCESSOS INOVADORES, 'DA POLITICA SOCIAL Gero Lenhardt e Claus Offe 1. CONTROVERSIAS EM TORNO DE UMA TEORIA SOCIOLOGICA DO ESTADO A invostignsio do Estado e da politica estat se orienta nas citncias socials liberais por onceptualizacbes formals ‘Quando eventualmente encodtramos definicaes sociologieas do Btedo de direto paflamentar-democraticoy esas defin- oes ce referem a formas e procedimentos, o/regras ¢ ins frumentos da atividade estatal e nao a suas func, relagses de Interesses-e resultados. A detinieao,woberiana do Estado como detentor do “monopdlio da violéncia” remete 20 falo formal da “dsterminagio em ultima instancla” dos atos de soberania, mas nada revela sobre a ovientacso da relacdo de oléneia: quem a exzres, contra quem estl diigida? ‘A “irracionelizacgo" do conceit de poltiea Investida nas docites aolitrias irracionas dos “lideres” priva essa pet fgunte de qualquer significado. A operacionallzagdo mevodo- légtea do concelto de democracla,snlciada por Weber (1917), {01 depots a tal ponto radicaliaida por Schumpeter (1942) questa obra se Yrmou, desde entano foo da teria Nberal demoeracia e do pluralismo: a démocracia é tum procedl- mento de selepdo (especialmente eficiente) do ponto Ge vista 10 a “técnica estatal”, como dizia Weber, mas nada pode ser ilo teoricamente sobre os resultados desse procedimento. A estralégia teprica de conceber os contetidos como inicialmen- te contingentes (isto é, dependentes da vontade dos grandes homens, de provessos empirioos de barganha e de coalizéo oa de imperatives téenico-cientificos) para em seguida omiti- los do esforgo de teorizacio, também domina as diseiplinas fins, como 0 direito consituionsl ¢ a clinela da sam nistracio. ‘Assim, depols da eriacéo da Repiiblica Federal da Alema- ‘ha, E, Forsthoff e W. Weber investiram considerdveis ener- ‘las intelectuais para contestar & igualdade hierdrquica entre © concelto de “Estado social", definicdo normativa de con- teiido com que & gio earacterlza o Estado alemao 6 principio formal do Estado de dizeito, rebaixando o prin- eipio do Estado social, do plano constitucional, 20 plano {da legilacto ordindria’ De forma andloga, nas ciénclas ad- ‘ministrativas, a ago tétioa nao vineulada a contetidos, a 50. Itugdo de problemas de bases “incrementalistas” (Lindblom), ‘ow “oportunistas” (Lubmann) € caracterizada como a forma, empiricamente dominante da racionalidade adrainistrativa, pata a qual nao existem alternativas praticavels. Em contraste, o que aqui entendemos como teoria do Estado pode ser deserito como o conjunto das tentativas de fluminar esta “zona einzenta” com os recursos da pesquisa soelol6gica. A reducso do Rstado e da democracia & ca las de procedimento, que perdura e progride desde @ Pri- ‘meira Guerra Mundial, j4 permeou de tal forma as cléncias sociais iberais, que no somente a lacuna cognitiva sistemé- tica aqui saljentada — a questdo dos contetdos e resultados do procedimento — delxa. de ser pervebida, como as tenta- livas clentifleas de fechar ecsa Idcuna 40 Tecebidas pelos especialistas com uma ignorinela oficiosa. Essas tentativas compartilham o interesse comum no elemento de ditadura”, que “toda a democracta burguesa necessariamente earrega em seu bojo” (Kirchhelmer), ou — dito de forma mais geral — o interesse nas razdes concretas @ de conteido para o surgimento da violencia estatal, bem como em seus resultados materiais, na medida em que'essas razbes e resultados nfo s6 aparceem de fato, ¢ portanto de forma contingente, mas também como pontas de referéncla funeionais que, por assim dizer, esto embutidos na organi- n sagfo do aparetnoestatal bunguts. Um estudo dessa ordem | hao parte da constatacdo de certos modos de regulamentagao | ree Paral da etividade estacal (Pox Entado Se deta Prcraci), mag sm de hipotese sobre a Teagio funcional Freee lade eats foram ino, e oe prolem ers Sais ae tm forays Foil (ao cso. copii). por Shite, necestdade intelectual de una‘ definkto fanvional Seicondedo do Estado ou Go Ares eepelicas da atividade Sita certamente nib’ percesida Pooe centstas socals Staraisies Um extmplo setnte inflente on iteraura pol Tosoclal alma: da entativa de superar uma deverminagio formalstin do toto oa pote seta, € endo por Cats Ein"von Ferber l90t, BE deplor‘0 fato do\qe dado 0 nop tbc, nessa ret das eincis exinbmleas © Forces a pollica soci na Repub Fetert da Alena Ba iste como um sistema Je Telvndleagbes furiieas Guano a slocaghes financeiras dlstribuldag Peo Bstado © Gp que tt “Jurdifiengio" e“economlzagho” da poi social fodlnda nutoa “lope” da tora eda prea politico social ‘Bee'uoe indviavog ou pequenas comes (pg ts se fiintes vide tambemn ‘Tenasted, 108). Por mals perinente Canvtncente que ola ena corvites ores que cn fertem Tenomehas plicos em formals processus (oa tea, dtingto de "demoencla” ania Conpetto Sat Silt peas notes do pove ou éa “pallies” samo © Sislemd das Fevindleagées Jordi guanto @ tanstdneis fn fonda ete) "e guste inalsiterio que a lacuna Te fuitante see pre ering oes mortavag GO a jue tals pesos de conleudo fen value sie tempo! Uk ,cOntIAUAIMOS sem Saber o que "E™ a Pole fea ‘scl, tam sentido funclonal, @-Teedbemos apenas In formagées, sem duvida mencs interessantes, sobre. os crite ‘os BOTMATIVGS com que certas pessoas (que além do Slo clentstas) avaliam este Estado. Quando, por exemplo, se diz que € objetivo da palltica socai “assegurar e melhorar 0 Status sélo-cultural, um sentido humano integral” (Tenns- feat, 1976; 139) ou quando se exige que certos parkmetros da situngdo de vida individual (como salério, etc.) “nso tenham efeto restitivo" (op. elt, 149), coloca-te a questio 2 do conteido semanteooperativo de tals allmagtes ver dade que els servem perm antecpar cetas quesesInials tom que devem confronts cess pesqulss secologiss ‘he trea da pollen sod © Que. pods ser eamucleriasdas Como comparacdes entre 6 sere ddeverser: 2 pation Go- ‘inante & confontada com suas deflclencas, suas ncunas> permanecendo, no entanto,duvidoes a elevanea pain de Tir indigock Considerace qu tis pesguists contituem um objeto de interewe para nvesigng6ee socologieas eapeciias na res da pilin sola. Mas ¢ problema de taistnestigaches, on Sine no fa de que valoratives si de forma mat go enes tne a Pesuautor, ait Teeltado congeié on; prover gee © ti soci no ale ag teas Srogresistas ins eat das oujeges Tun damentais. primero, ela ¢ tneapas fe garantie a valade ¢ ‘obrgatoniedade dos pats desta neenatves e sagand, her tuerestiay vn de mgra. ala capaclaads’ie-peovocse pelo menos aigima ingustagio entrees stores pales & Sémunistrativs, ao apresentar a, prot da dscsepbaca eae fente entre © “deverser" eo "ber" alors gre de sean, panda tals pesguies, (ou Bode ‘nao fall). a todo ‘evera exgirae de una Concepsto tebice da rales Seclal que’ prelende.“estimiiar uns gesquloe, Surbiousa ‘te contilun, no interes dp Estado Socal (”.)" (Tene: ett, 1076: 185) uma indiaedo decom sla pense enao. bar cle dioma dupio — metodolegeo ¢ potticor Em sua oponigfo as abordagens formalistas_(especiai- mente econbmleas jusileas) 0 campo da pllca socal Glontiten, ax abordaging normatiicgs confitmam, em vet Ge superar, aquela dualliade-fnconelisvel das esters, na ‘tal se cine o realidad soll para as elias seas ibe fais nas diss abordagens, regis de procedimentoe's¢ con fMonlam com necesidedes; fais com valores, raelonaldade {eft com materia, Parece-nos que tanto as dois fo ‘allt. quanto as nonnativistad da police octal evita tia reaps & pergune que se encontra no centro dx as: ‘ssio sual sobre 8 tons do Estado, ¢ que nas cists toetate€ colacada predominantemente for dutores de cere indo 'maraina: ‘cbmo surge a policy etaal (bo caso" Dt social) apasir dos problemas especiise de ume 18 trutara econtmica de clases, batetda n8 valorisacdo extraturn ccna de, ses, tnsede 7 Yona po Ti'Zungtes que ie competem, consderandowe exeniage Tera Seiestho E Canagisia, por exenpla, for Shee HSE" gre: Yo0/0) pura a en 8 pollen sod qoutes Be Enlit’ a telagdo"entze og problemas de forma ‘pe ce figades & economia previdenciaria e a leglslagdo dos sega rjc cs antagenishos de intereses entre Ss clases S- Els chamands a alengto, de modo geal, parm sigul segundo causes epecfcas, daa notmas de organiza fultca’*(pag, 10): stares portant, flaado cfm terme Peres, ca! ysiga de como tcka soiedae histérea ge Te- trea, de forma ldlnica ou no: qual ut elruturas OS que gora an Sua conlinuldade sun ientidne Ge aja ab suns dscontinuldades, a concepeto de que aquela eoltiuade ¢ probiematics ou pelo metas de que elm Dio Shi assepureda por dadas meta-doclls (como, por exempo, natareta nummdna) "constitu como 6 fall demonstar, “tundamento ne qual se basal todo e qualauer esfon fecrisosoaal sejn Gu Comic ou em Sars A socbologa Hime pecirel a purr dest evidéndn A soeoiogla rer foie eae problema primordial (que ontimin basco atu) Sa medida em que indlen quals 950 ctamente as queties ‘otrafuras que probietaliam 0 contesto socetdrib © sun Sceitnuldaae nuforca, estlarere staves de que modlaas Gr ategranto”o sate socll 6 capes ou nid Ge reoler ag sous problemas extruturnisexpectco. Na respsta hipo- téaten nesta ‘tltima perpunta, © alusfo A fora poles eso carder “esttal" da scedade burguesa sempre desempeohon fim papa importants’ dentro da ttadiao tebica ao matey alibeb slic Masa hipotese precisa ser confirmads, Ecrprovandinse& fangto eSpectcaente presi, Tegul ore Weollgin, ee, do apefelno eal, de seus compenen- tes crganiatonais © de suas pollen, o que faromon ag, {titulo de exomplo, na aren pola sd 2. A FUNGAO DAS INSTITUIGOES DE POL{TICA SOCIAL, EO PROBLEMA DOS PONTOS DE REFERENCIA FUNCIONAIS. ‘Uma andlise social que se disponha a responder tals pergunias deve partir da construcso hipotétiea de pontos M de referéncia funcionals, que posteriormente precisam com- rovar-se como instramentos para a explicagdo empirica de [processos politieas.* Propomos, como um desses pontos de re foréncia, a seguinte tese: A politica social € a forma pela, qual o Estado tenta resolver 0 problema da transformacdo | Guradoura de trabaino ndo assalariado em trabalho assala-\ Piado, Esta tese decorre das seguintes reflexes. O processo | de industrializago capitalista € acompanhado de processos de desorganizacéo © mobilizagao da forca de trabalho, fend- ‘meno gue nao'se limita & fase iniclal do capitalismo, mas que nela pode ser observado com especial clareza. A amplia~ gio das relacdes concorrencials aos mercados nacionais © finalmente mundiais, a introdugio permanente de mudanges. {éenicas poupadoras da forga de trabalho, a dissolucéo das formas agrarias de vida e de trabalho, a influénela de erises ciclieas, ete, tm 0 efeito comum de destruér, em maior ou ‘menor medida, as condigoes de utilizaedo da forca de tra- batho até entao dominantes, Os individiios atingidos por tais processos entram numa siivacdo na qual no eonseguem, ‘mais fazer de sua propria capacidade de trabalho a base de sua subsisténcia, ja que nao controlam, seja em termos in- Aividuais ou coletivos, as condigdes de ultilizagdo dessa capa eldade, Isto ndo quer dizer de forma alguma que esses indi- duos’ por si mesmos tenham condigées de descobrir, para cenfrentar esses problemas, a solucdo especifica que consiste fem allenar a tereeiros sua forga de trabalho em troca de dinhelro, isto é, de aparecerem no mercado de trabalho, do Jado da oferta, A azeltacéo de tal automatismo, tentando transformar em evidéncia sociologica 0 que € apenas o “caso geral” do desenvolvimento historico, leva-ncs a perder de ‘iste og mecanismos que precisam existir, para que “o caso geral” de fato venha a ocorrer. | suey PAE especificar esse problema parece-nos adequada a | aistingio entre proetarizagio “passive” ¢ “ata”, 0 fato da Proletarlzagéo passiva, macica ¢ continua, ou seja, a des- ‘tmuigo das formas de trabalho e de subsisténcia até ento | habituais, nao pode ser contestado, econstitui um importante aspecto social e estrutural do processo de industrializagao. Mas, do ponto de vista socioldgico, nada Indica que os indl- | Yiduos atingidos por essa “desapropriacio” das condigées de lulilizagao do seu trabalho ou de outras condigdes de subsis- | tenia, transitem espontaneamente para o estado da prole- 15 tarizagio “ativa”, 1.é, passem a oferecer sua forga de tra- ‘alho nos mereados de trabalho, Esta conciusao significaria transformer a fome e a caréneia fisiea, decorrentes da. prole- tarlaagéo “passiva”, em fator da explicagéo sociolégiea, ‘Tirar esse tipo de conclusio seria — descartando-se re- ‘lexées metodolégicas — equivocado pelo simples fato de que hha, do ponto de Vista teérico, uma série de allernativas, fan- ciohalmente equivalentes, & proletarizagdo, que se realizaram. hhistoricamente, e que continuam atuais: emigrar com 0 obje- tivo de restabelecet, em outzo lugar, uma existencla autono- ‘ma; assegurar a subsistincia por melo de formas mais ou ‘menos organizadas de roubo; fugir para formas alternativas do vida e de economia, muitas vezes sustentadas por auto- Interpretagées religiosas; baixar o nivel de subsistencia, re- correndo & mendicincia, & asasténcia social privada, ete.; ‘ampliay o periodo anterior & entrada no mercado do traba- tho, estendendose a jase de adolescéncia, ou mediante a re- tenelio dos adoleseentes no sistema familiar ou, o que é mals comium, dilatando 0 periodo de passagem pelis institulcoes {0 sistema eduodeional formal; enfim, ular contra as causas 4a proletariaagio possiva através, por exemplo, da destrulcdo ‘de maquinas, do clamor polities pela protecdo aljandegdria ‘4 de miovimentas politicos com o objetivo de liquidar a forma~ ‘mereadoria da forca de trabalho (movimentos de massa re- Woluelonérlos, de ofigem soclalista). Essa possibilidades for- recem uma lista incompleta e assistematica das alternativas efetivas, tanto historieas como atuals, a proletarizacao, “ativa”. A luz dessas alternativas torna-de necessirio expll- coat por que somente uma minoria (quantitativamente nio de ‘todo insignifieante, mas no conjunto pouco expressiva) ¢s- colien essas alterativas, pois a socializacao em massa das {orcas de trabalho como trabalho assalariado eo sUrgimen- to de um mereado de frabatho nfo sto Wo Obvias, mesmo se aceltarmes a destruicdo das formas do subsisténcia tra- icionals como um dado, embora no plano conceitual nao ‘seja possivel pensar o proprio fato da industrializacio inel- ‘sem 9 prerequisito de uma maclca proletarizacao ‘Se o problema da proletartzacto, da insergio da forga de trabalho ho mereado de trabalho néo pode se resslver "por si 6", em um sentido que possa ser Tevado a sério do ponto de vista das eléneias soclais, devemos perguntar que estrutu- 16 ras parclais da sociedade teriam agido funcionalmente com Vistas & solugao desse problema eatrutural. Defendemos aqu 2 ese de que'a transformacio em massa da forga de trabalho flespossuida em trabatho assalariado nao teria sido nem & possivel sem ‘uma politica estatal, que nao seria, 80 centidD esr, politica soa, mak que da mesma forma que esta fontsibui pare integrar a forga de trabalho no mercado ontib pare integra fr ‘Nossa tese sobre a proletarizagéo “ativa”, néo-autométi a, scompanhada de uma proletarizagio “passiva", eonco- tnltante'e "natural, pode ser deadobrada en tes problemas pareiais. Para que uma recrganizagdo fundamental da socle- fade, nos moldes em que els ocorfeu no decorrer da indus {rializagdo eapitalista, ja posefoel como tal, (a) a forea de ‘trabalho despossulda’ precisa estar disposta’ dofereoer sua capacldade de trabatho nos mercados como uma mereaderia fe dceitar os rseas e as sobrecargas associndas & essa forma de existénela como relatioemente suportavels og trabalhade- res procisam ter motivas ulturals para se transformarer em ‘rabathadares asvalariados. (b) Preolsam canstituire cond (6es sdcloestraturais para gl o trabalho assalariado funcio- hie efetivamente como trabalho assalariado. J que em vista das suas oondigoes especials de vida nem todos os membros ‘Bt soclodade potem funcionar como trabalhadores assalaria. das, a menos que cerlas fungées de tepfodacao elementares (especialmente ne area da soclalizacio, da satide, da forma io profissonal e da. asistencia & veibice) celsem de ser Preenshidas, tomam-se necessirias ‘medidas institucionais specials, sob euja protegdo parte da forea de trabalho fica por assim diver dispensada da pressdo de se vender, endo Gonsumida de outra forma que pela cessio em troca de dl- ihelzo (como, por extmplo,o caso da done-de-casa). A mdis- Pensabilidade’ funcional de’ tais subsistemaa extemos. 90 ereado— como a familia, a escola ¢ instalagdes da ass téncla & side — € menos problemética que a resposta & pergunta de por que {ais formas de organizacéo da vida so- Slearia, externas” aos mereados de trabelno, deveriam ser ‘assumidas pela potion eslalal. Hé dois argumentos para jus ‘itlear a tte de quo a socializagdo através do trabalho asa. latiado tem, de falo, como prerequisito, que as formas de cexisténcia extemas ao mercado de trabalho, sejam organiza- das sancionadas pelo Estado, © primeiro é que justamente 1" aquetes (como a familia, a assisténcia carita- fifa privadaca igreja) que na fase pre-industrial e no periodo nieial da industrializaedo tnham assumido fungSes assis- tiva, porque em caso contririo haveria uma tendéneia in- controlével a que os trabalhadores assalariadas se evadissem {49 mereado de trabalho, refugiando-se em um dos subsiste- ‘mas, Hsia refleio evidenela por que a constitulgéo de uma tenclais, perdem em eficiéncie, no decorrer do. desenvolvi- or gu Ss SnMel Uhce av a gular or repaane asie. de-trabalhedores assaletiados tem como prerequisito (aes pallens frpalendas © Segundo argument (pert Bitituclonalicacio politica — e nfo somente a exsténcia famente compativel com 6 primeiro, mas provavelmente de factual — de diversas categorias de trabalhadores néo-assa- [mportancia desigual) consiste no fato de qe somente a "ea. Jariados! Finalmente, precise ester assegurado (e) que haja nportanela desi guty cisiemas periéeios permite controlat uma correspondénela quantitativa aproximada enire o nde. tevconiigces de vida eas pessoas As uals & permitido 9 acess0 1 de individuos que slo proletarizados de forma “pasiva guclas formas da vida e de subssténola stuadas fora. do, (Gor exempio mediante a emigragio forcada, que se traduz Iereado, e que com isso sio dispensadas (lemporariamente rho abandono das formas de Tepfoducso agricolas, ou me- Taerern seme) de presto da vera no mercado de abel. Glante a liberagdo da forga de trabalho, por recessio ou mu- PO ponto-chave desse argumento consiste no fato de que mio danga téenlea)'e 0 nimero daqueles que em vista da deman- Sommente por calsa dos prerequisits da reproducio "ma. 44a no mereado de trabalho podem encontrar oeupecdo como feria” mas também, e na mesma medida, para assegurar © ‘trabelhadores assalarindos, fontrole sebre 0 trabalhador assalariado, 6 necessdrode- solugio do primeiro desses trés problemas parcais & finir, através de uma regulamentagdo politica, quem pode encotads pls ciliata dagoeag-policas exttal que quem nao pode tomar-se trabalbador assalariado. De outa Aregundo & terminologia dos estruturalisas franceses — forma, seria aiiell explicar por que introdugso de tim la Integpam os aparelhos “ideologieos” e “tepressivos” do. Es- tema escolar universal (ou sea & substituiedo do formas de tadolla entrada da forca de trebaiho na funcdo do trabalho ‘soclalizagao e formacio interns ® familia). vieram compa fssilariado, ou seje, sua Socllizagao segundo o modelo da hadas da introducao da obrigatoriedade escolar era, tem- meteadori, ¢ probiémética e de forma algume automatica poralmente definida (ou seja a organizacio obrigatéria do 2B inicio do. provesso de industralizagaov Alem disso, este {ertas elapas da vida fora do mercado de trabalho). Somente problema & eanstantemente Feeriado, no decorrer do desdo- ‘quando as eondloGes sob as -quals a ndo-participacao no bramento do capltatismo industrial,’ problematizando-se de hereado de trabalho & possivel estiverem “regulamentadas forma endégena a permantneia na’ fungdo de trabelhador pelo poder piblico (pois as medidas repressivas como 0 cas- asstlariado, Segundo a antropologia do trabalho ¢ a teoria figo da mendiséneia'e do roubo, néo bastam), e conteqiien- a alienacao de Marx, faz parte do carater especifico do tra- femente quando a escolha entre as formas de existéncla do 1) \batho assalariado que a dlsposicio da forca de trabalho de trabaino asselariado e as formas de subwisténela externas ao lefetivamente vender-se nso pode ser vista como natural. Com mereado de trabatho no mais depender da deelsio do proprio fa propriedade privada dos meos de producéo foram institi- frabathador, podemos contar com uma intogragio confiével cionalizados tanto um eerto modo de distribuicéo das bens SC permascail tae ohamarises neuminten nas tacetes de ‘Quanto uma cerla forma de divisio de trabalho, Em conse: trabalho asseariado. Se, quando e por quanto tempo um in- {(éneia, os trabalhadores perderam em large medida a pos- dividuo se encontra em uma situagao em que a participacio Shoildade de estruturer a organizacao do trabalho eutono- zno mereado de trabalho nio € permitida, se alguém esta mamente, ¢ segundo os seus prépros interesses. Uma das vyelho, jovem, invalid se tem dirito & pariicipagao nas me- ‘aracteristicas da arganizaéa da trabalho éapitalista)é sub- idas educacionais ou & ajuda social —'nenhuume dessas de meter a forga do trabalho, tanto quanto~possfve~a uma isdes pode de ssidades individuals nem das ‘orientagéo extema. ea um controle externo integral. Do Joportuntdades de subsisténcia exstentes fore o mefead, elas onto de vista da organtzacio do trabalho, & "desapropria- recisam ser regulamentadas polticamente, de forma defini- $40" signitiea que os Individuos foram despojades de seus 18 19 7 - recursos materias slmbélicos, dos quals depende uma auto- RRprocatagto salistatria, Na'medida, portanto, em que a TePionalldade da economia privada se impbe, excuse © pos Fiindade de que o trabalho conatitua, independentemente ap sou cartier tecoldgico Instrumental tsmbem tm Instroe mento de satisagao de necssidades. Dai decor litatagtes ferns na motiraeto para 0 trabalho, nfo somente no inicio @ de industiaizacdn, durante © qual prevaleetam inde orletaghes de valor pre-capitalist, shes o moments presente. B necesrio reagir a este probiema constant da Eintegragdo soclal” do opetariado asclariado com mecanis- sos de controle soclal que no gerados de forma confldvel pelos meeanismos do metcado de trabalho, Dai, por um lado, P°fendénela a considerar delituoses,e reprimr, modos a fuboistensia que consituam ume aitemativa a’ rlagao Ge trabalho assalariado. (da problgto. de: mendicancia até, os sigs de repressio do po da let antlseinits) por out, 2 froromitado de norman © vélores, organicada eo Estado, uja observe assegure a passagem pera a felacto de tra: batho assalarlado, Somente & coustante mobllzagao dessas aus alavancas da politica estat pode fazer com que a caase ‘operiria “por educagio,tradigao ¢ uso, reconhega as exigen- las daguele modo de preducao como sendo leis a natuteza Sbvias” CK. Marx, 0 Capital 1 pags. 76 segue) A transformagio da forga de trabalho despossulda em trabalho asclariado 6, ela mesma, parte do processo constitutivo da Politica socal, enjaefetivagio no pode ser somente expliea da pea “coergdo muda das relagSes econdmicas" (bid. ple fina 777), ‘Além disso, mesmo que a forma de organlzasio do tra- taho asselariado se tenths impasio como forma de subslstén- cin politcamente dominante, isto nlo significa em absoluto ‘quevela © partir dase momento te autoreustente ¢ persista GAs formas de aproveitamento da force de trabalho, especi- ficas do capitalismo industrial reintroduzem constantemente este problema estrutural da socializagio através do trabalho remunerado, (Vide Bable e Sauer 1975), Estas formas de proveitamento implicam em que nfo sto considerados as U- ‘ites da revistnciafsiquica @ fiiea das rabalhadores, no resse forma permanente a capacidade de Inteese de prserrar permanente a capac! 0 [Responsévels por 80 no so somente as restrigfes ins lituclonslizdas nas instalagées téenieas ou sob a forma de autoridade pessoal. Meso quando ¢ trabelho € poco regu: Jamentado ¢ portanto permite malor autonomia decioria os aperaris, os trabalhadores extfo’ sob a pressio de Tomar eeisbes cujas eonseqiéneias podem ser nelastas para & sua Salde (0 tanejo de instalagses teenias perigora. 0 des Yespelio a regras de seguranga, um ritmo de trabalho pre- judicial, jomadas de trabaino excessvamente longa te, s80 {ormas de comportamento impostas, entre outros flores) por Sistemas de remunerngao baseados no desempenbo. A aor tancia dos trabalhadores se aeresce que também as empresas 86 podem ter uma consideracdo limitada com a sade ¢ 8 Intégrdade corporal do operdtlo. Danifieada a forea de tea- hulho de um empregado, os empresirios reagem, via de Tegra, com a demisséo © & cohtratacto de forga de trabalho als ticaz: Assim, ha poucag razSes para que as empresas adotem ‘espontaneamente medidas prevent teger otra ou amar g-foease fatwa Porous a, sade trabalho. Por outfo lado, 0 de Taereado da forea de irabalho ¢ restringido pela constante obsoleseéncia da qualifieaedo profissional. O contex- to funcional autonomizado das inovacdes técnieas ¢ organiza clonais e a concorréneia reciproca dos que oferecem sua forca, ‘trabalho provecam um desequilibrio permanente, no ‘superdvel no contexto de mercado, entre a estrutura do em- ‘pregado e as eapacidades individuals. Na medida em que as Qualifieagsee profissionals ndo mals podem set adquiridas e constantemente renovadas pela experiéncia, ¢ em que as qua- Tifleagdes culturais genéricas néo bastam para preservar 0 femprego, as oportunidades para uma participacio perma- nente no mercado de trabalho se deterioram, Nao se pode, vis de regra, esperar das empresas que ponham a disposiedo ins- ‘educacionals dispendiasss. Isto também € valld0 no Gata ‘Gus has "depertom de forge, Ge trabalho qua cada. Pols, o contrato, mediante o qual a forca de trabalho € entregue ao empresério, pode ser escindido a qualquer ‘momento pelo trabalhador, de modo que delxa de existir para, empresa toda e qualquer gerantia de_re ine vestimento educasianal. O grau de rentabilidade e, portanto, do valoF a6 mercado da forga de trabalho individuel, depen’ ‘dendo do seu estado de saiide e do seu nivel de qualticagio, © rebalxado de tal forma pelos mecanismos endogenos’ da 2

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