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ELSEVIER TRANSFORNAND O IDEIAS EM NEGOCIOS © COMO BESENYOLVER UM PLANGIDE NEGOCIOS EFICAZ, EFETUAR UMA ANALISE DE MEREADO E OBTER INFORMACOES DOS GGMCORRENTES © COMGIBENTIFICAR E SELECIONAR AS MELHORES OPORTUNIDADES PARA INIGIAR UM NEGOCIO © COMO DESENVOLVER UMA ESTRATEGIA DE NEGOCIOS VENCEDORA, COM GGNSELHOs PRATICOS DE EMPREENDEDORES DE SUCESSO, INCLUINDO CASOS DE FRANCHISING ‘© INCEUTEXEMPLO COMPLETO DE PLANO DE NEGOCIOS PERFIL EMPREENDEDOR Material do Professor na WEB 1 Introdugao O empreendedor é aquele que faz as coisas acontecerem, se antecipa aos fatos ¢ tem uma visio futura da organizagio. José Dornetas, 2001 conceito de empreendedorismo tem sido muito difundido no Brasil, nos O tiltimos anos, intensificando-se no final da década de 1990. Existem varios fatores que talvez expliquem esse repentino interesse pelo assunto, jé que, prin- cipalmente nos Estados Unidos, pais onde 0 capitalismo tem sua principal carac- terizacio, o termo entrepreneurship & conhecido e referenciado hé muitos anos, nao sendo, portanto, algo novo ou desconhecido. No caso brasileiro, a preocu- pacdo com a criagao de pequenas empresas duradouras e a necessidade da dimi- mnicdo das altas taxas de mortalidade desses empreendimentos sio, sem diivida, jotivos para a popularidade do termo empreendedorismo, que tem recebido es- cial atengo por parte do governo e de entidades de classe. Isso porque nos tik 10s anos, apés varias tentativas de estabilizacao da economia e da imposicao ivinda do fendmeno da globalizacao, muitas grandes empresas brasileiras tive- m de procurar alternativas para aumentar a competitividade, reduzir os custos manter-se no mercado. Uma das conseqiiéncias imediatas foi o aumento do indice de desemprego, incipalmente nas grandes cidades, onde a concentracao de empresas é maior. m alternativas, os ex-funciondrios dessas empresas comecaram a criar novos 26cios, as vezes mesmo sem experiéncia no ramo, utilizando 0 pouco que finda Ihes restou de economias pessoais, fundo de garantia etc, Quando perce- jd estdo do outro lado. Agora sao patrées e nao mais em- im, esses profission: gados. Muitos ficam na economia informal, motivados pela falta de crédito, lo excesso de impostos e pelas altas taxas de juros. Houve ainda recentemente meles motivados pela nova economia, a Internet, que teve seu Apice de criagéo negdcios pontocom entre os anos de 1999 e 2000, Nessa época, muitos ten- im se tornar os novos jovens milionarios, independentes, donos do préprio 47 18 nariz. Devem ser considerados também os que herdam os negécios dos pais ou Parentes e que dao continuidade a empresas criadas ha décadas, Essa conjungio de fatores somados despertou discussdes a respeito do tema empreendedorismo no pafs, com crescente énfase para pesquisas relacionadas.a6 assunto no meio académico, ¢ também com a criagso de programas especificos yoltados ao piiblico empreendedor, como foi o caso do programa Brasil Empreendedor do Governo Federal, instituido em 1999, que teve como meta inicial a capacitacao de mais de um milhao de empreendedores brasileiros na ela~ boragao de planos de negécios, visando a captacao de recursos junto aos agentes financeiros do programa, Dados do Sebrae mostram ainda que no periodo de 1990 a 1999 foram constitufdas no Brasil 4,9 milhes de empresas, dentre as quais 2,7 milhdes sio microempresas. Ou seja, mais de 55% das empresas criae das nesse perfodo sfio microempresas. Pesquisas realizadas pelo IBGE e citadas no site do Sebrae (wiw.sebrae.com.br) mostram também que em 2001 o total de empresas formais em atividade no Brasil era de 4,63 milhdes, contemplando Os setores da indtistria, comércio e servigos. As microempresas representavam 93,9% do total de empresas. O conjunto das micro ¢ pequenas empresas alcan- sava 99,2% do total. Apenas 0,3% das empresas do pais é de grande porte (em- pregando mais de 500 pessoas na indistria on mais de 100 pessoas nos setores do comércio e servigos). E oportuno, portanto, um estudo mais profundo a respeito do conceito de empreendedorismo, tendo em vista que a maior parte dos negécios criados no pais € concebida por pequenos empresdrios. Esses nem sempre possuem concei- tos de gestio de negécios, atuando geralmente de forma empirica e sem planejac mento. Isso se reflete diretamente no alto indice de mortalidade dessas pequenas empresas que, em alguns casos, chega a 73% no terceiro ano de existéncia (Pesquisa Sebrac, 1999), Dados mais recentes do Sebrae-SP mostram que esses ntimeros melhoraram sensivelmente nos tiltimos anos, poréim o indice de mor- talidade dessas empresas continua alto, como se observa no grafico da pagina 19, referente a uma pesquisa de campo realizada no periodo de 1997 a 2001 ¢ pu- blicada no final de 2003. Entendendo melhor como ocorre o processo empreendedor, seus fatores criticos de sucesso ¢ o perfil de empreendedores de sucesso, espera-se que essa estatistica, ainda preocupante, seja gradativamente alterada, por meio da adocao de técnicas ¢ métodos comprovadamente eficientes e destinados a auxiliar o desenvolvimento ¢ a maturacao das pequenas empresas brasileiras. E com esse objetivo que este livro foi escrito, procurando prover educadores ¢ empreendedores com um guia pritico de empreendedorismo, podendo ser utilizado como livro-texto em cursos de em- Preendedorismo e também como referéncia para aqueles que pretendem criar um ovo negécio ou, ainda, planejar algum negécio jA existente. Mortalidade de Pequenas Empresas | || sae | o | | ae ce {funder 2009) fundem2000) —furd.em 1999) fund em 1958) funder 1987) fEmp.com ane Enp.com anos Emp.com3anes Empcomsanos Emp.com anos Deimpresssem avidade (mpretasencerads Fonte: Sebrae-S®,2003, Espera-se que, com este livro, sejam esclarecidas algumas diividas que ajuda- 140 0 leitor numa reflexao profunda a respeito de questées como: o que é em- preendedorismo? O que é ser empreendedor? Por que se fala tanto a respeito do assunto hoje em dia? O empreendedor nasce pronto, ou seja, s6 os predestina- dos podem ser empreendedores, ou ser que qualquer pessoa pode tornar-se um? Qual a diferenca entre o empreendedor e 0 administrador? O livro esté dividido em capftulos que tem uma seqiiéncia légica, seguindo o processo empreendedor, embora possam ser utilizados isoladamente, Varios en- sinamentos séo usados de forma rotineira por muitas empresas e diversos em- preendedores. Mas a necessidade de capacitar um ntimero cada vez maior de empreendedores justifica a compilacao de tais informagoes de maneira a facilitar © acesso, Inicialmente, analisa-se o surgimento do empreendedorismo e a aten- 40 que muitos pafses tém dado ao tema, para entéo chegar a algumas definicdes. Em seguida, discute-se o surgimento da idéia, 0 processo criativo de identifica- cao de uma oportunidade, tanto nos negécios chamados tradicionais, como na Internet, a chamada Nova Economia. A parte central do livro é dedicada ao en- tendimento ¢ & aplicagio da principal ferramenta do empreendedor: o plano de negécios. Na seqiiéncia, séo apresentadas as principais formas existentes no pais para o financiamento do negécio. Trata-se do capital de risco e dos varios pro- gramas disponibilizados as micro e pequenas empresas pelo governo brasileiro. Finalizando, é feita uma breve descricao das formas legais de constituicao de em- presas no Brasil, com énfase também no registro de marcas e na obténgao de pa- tentes. O tiltimo capitulo é destinado a uma reflexio profunda por parte do em- 19 20 preendedor, com alguns conselhos importantes para serem lidos e relidos no dia- a-dia do negécio ja constitufdo. Além disso, o livro também esta recheado de estudos de casos reais de em- preendedores brasileiros que venceram as barreiras iniciais e conquistaram o su- cesso. Para alguns, essa conquista é uma tarefa didria e continua, com muitas der- rotas no meio do caminho. A idéia é que o leitor extraia dos estudos de casos a esséncia de ser empreendedor, as caracteristicas pessoais do empreendedor de sucesso, os fatores ambientais e circunstanciais, além de outros aspectos. Quando utilizado como livro-texto em cursos de empreendedorismo, a prin= cipal sugestdo ao professor da disciplina é a divisio da turma em grupos de até seis pessoas. Esses grupos deverdo desenvolver um plano de negocios durante todo 0 curso, devendo ser o projeto final do mesmo. E 0 plano de negécios nao deve ser apenas tedrico. O importante é que seja feito com a intengao de ser usado depois, Isso pode incentivar os alunos na criagdo de novas empresas no pais, com reais possibilidades de sucesso. Um plano de negécios completo é co- Jocado em anexo como exemplo. No final da maioria dos capitulos, sao apresen- tadas algumas questdes com o intuito de levar 0 grupo a pesquisar sobre o as- sunto e nao se limitar ao que esta descrito neste livro. O tema é relevante, atual ¢ importante para o pais. Independentemente de 0 leitor ser um estudante ou um empreendedor, este livro servird para a quebra de alguns paradigmas administrativos do empresariado brasileiro, Se o surgimento de novos negécios de sucesso e o despertar do empreendedorismo em muitos es- tudantes ocorrerem apés a leitura deste livro, seu papel social estara cumprido. Finalmente, em todo 0 livro se usou a palavra empreendedor; no entanto, en= tenda-se que isso se aplica tanto ao individuo do sexo masculino como do sexo feminino, pois as mulheres empreendedoras também tém sido importantes para o desenvolvimento do pats. Boa leitura e bons negocios! 2 O Processo Empreendedor “O empreendedorismo é uma revolucéo silenciosa, que seré para o século XXI mais do que a Revolugao Industrial foi para o século XX.” Jerery Timmons, 1990 A REVOLUCAO DO EMPREENDEDORISMO- mundo tem passado por varias transformagdes em curtos periodos de tempo, principalmente no século XX, quando foi criada a maioria das in- vengées que revolucionaram o estilo de vida das pessoas. Geralmente, essas inven- Ges so frutos de inovagao, de algo inédito ou de uma nova viséo de como utili- zar coisas jf existentes, mas que ninguém antes ousou olhar de outra maneira. Por trds dessas invengSes, existem pessoas ou equipes de pessoas com caracterfsticas especiais que sio visiondrias, questionam, arriscam, querem algo diferente, fazem acontecer e empreendem. Os empreendedores sio pessoas diferenciadas, que possuem motivacao singular, apaixonadas pelo que fazem, nao se contentam em ser mais um na multidao, querem ser reconhecidas ¢ admiradas, referenciadas € imitadas, querem deixar um legado. Uma vez que os empreendedores esto revo- lucionando 0 mundo, seu comportamento e o prdprio processo empreendedor devem ser estudados ¢ entendidos Alguns conceitos administrativos predominaram em determinados perfodos do século XX, em virtude de contextos sociopoliticos, culturais, de desenvolvi- mento tecnoldgico, de desenvolvimento e consolidagao do capitalismo, entre outros. A Figura 2.1 mostra quais desses conceitos foram mais determinantes: no inicio do século, foi o movimento da racionalizagao do trabalho; na década de 1930, 0 movimento das relagdes humanas; nas décadas de 1940 e 1950, 0 mo- vimento do funcionalismo estrutural; na década de 1960, 0 movimento dos sis 24 Quadro 2.1 Algumas invengdes e conquistas do século XX — 1903: Avido motorizado 1915: Teoria geral da relatividade de Einstein 1923: Aparelho televisor 1928: Penicilina 1997: Nailon 1943: Computador 1945; Bomba atomica 1947: Descoberta da estrutura do DNA abre caminho para a engenharia genética 1957: Sputnik, o primeiro satélite 1958: Laser 1961: O homem vai ao espago 1967: Transplante de coraci 1969: © homem chega & Lua; inicio da Internet, Boeing 747 1970: Microprocessador 1989: World Wide Web 1993: Clonagem de embrides humanos 1997: Primeiro animal clonado: a ovelha Dolly 2000: Seqilenciamento do genoma humano temas abertos; nos anos 70, o movimento das contingéncias ambientais. No mo- mento presente, nao se tem um movimento predominante, mas acredita-se que o empreendedorismo ira, cada vez mais, mudar a forma de se fazer negécios no mundo. O papel do empreendedor foi sempre fundamental na sociedade. Entio, por que o ensino do empreendedorismo esta se intensificando agora? O que € di- ferente do pasado? Ora, o que é diferente é que o avango tecnolégico tem sido de tal ordem, que requer um nimero muito maior de empreendedores. A eco- nomia e os meios de produgdo e servicos também se sofisticaram, de forma que hoje existe a necessidade de se formalizar conhecimentos, que eram apenas ob- tidos empiricamente no pasado. Portanto, a énfase em empreendedorismo surge muito mais como conseqiténcia das mudangas tecnoldgicas e sua rapidez, ¢ nao é apenas um modismo. A competi¢ao na economia também forga novos empresitios a adotar paradigmas diferentes. Por isso, 0 momento atual pode ser chamado de a era do empreendedorismo, pois sao os empreendedores que esto eliminando barreiras comerciais ¢ cultu- rais, encurtando distancias, globalizando e renovando os con criando novas relagées de trabalho e novos empregos, quebrando paradigmas e gerando riqueza para a sociedade. A chamada nova economia, a era da Internet, mostrou recentemente e ainda tem mostrado que boas idéias inovadoras, know- how, um bom planejamento ¢, principalmente, uma equipe competente e moti- vada sao ingredientes poderosos que, quando somados no momento adequado, acrescidos do combustivel indispens ~ podem gerar negécios grandiosos em curto espaco de tempo. Isso era algo in- citos econdmicos, vel A criagio de novos negécios ~ 0 capital [1900 | 1910 | 1920 | 1930 |1940 | 1950 | 1960 | 1970 | 1980 | 1990 | 2000 [Onsenvagaa: | Movimento: retere-se 20 movimento que predominou no period, | Foco: refere-se aos conceitos |administrativos predominantes. Figura 2.1 Evolugao historica das teorias administrativas (adaptado de Escrivao Filho, 1995) concebivel hé alguns anos. O contexto atual é propicio para o surgimento de um niimero cada vez maior de empreendedores. Por esse motivo, a capacitacao dos candidatos a empreendedor esta sendo prioridade em muitos paises, inclusive no Brasil, haja vista a crescente preocupagio das escolas ¢ universidades a respeito do assunto, por meio da criacao de cursos e matérias especificas de empreende- dorismo, como uma alternativa aos jovens profissionais que se graduam anual- mente nos ensinos técnico e universitario brasileiros. Ha 15 anos era considerado loucura um jovem recém-formado aventurar-se na criagéo de um negécio préprio, pois os empregos oferecidos pelas grandes empresas nacionais e multinacionais, bem como a estabilidade que se conseguia nos empregos em repartigdes puiblicas, eram muito convidativos, com bons sal rios, status e possibilidade de crescimento dentro da organizacao. O ensino de administracao era voltado a este foco: formar profissionais para administrar grandes empresas e nao para criar empresas. Quando esse cenario mudou, nem 0s profissionais experientes, nem os jovens 4 procura de uma oportunidade no mercado de trabalho, nem as escolas de ensino de administragao estavam prep: rados para o novo contexto. E mudar a visio a respeito de determinado assunto, redirecionar ac6es e repensar conceitos levam algum tempo até que gerem resul- tados praticos. O fato é que o empreendedorismo finalmente comega a ser tra- tado no Brasil com o grau de importancia que lhe é devido, seguindo o exemplo do que ocorreu em paises desenvolvidos, como os Estados Unidos, onde os em- preendedores sao os grandes propulsores da economia. 23 O empreendedorismo tem sido o centro das politicas piblicas na maioria dos pafses. O crescimento do empreendedorismo no mundo na década de 1990 pode ser observado nas agées desenvolvidas relacionadas ao tema. Um dos pri- meiros estudos do Global Entrepreneurship Monitor (GEM, 1999), projeto que sera explicado adiante, jé mostrava alguns exemplos nesse sentido: # No final de 1998, 0 Reino Unido publicou um relatorio a respeito do seu futuro competitivo, 0 qual enfati série de iniciativas para intensificar 0 empreendedorismo na regio. a a necessidade de se desenvolver uma ¢ A Alemanha tem implementado um ntimero crescente de programas que destinam recursos financeiros ¢ apoio para a criagdo de novas empresas. Para se ter uma idéia, na década de 1990, aproximadamente 200 centros de inovacao foram estabelecidos, provendo espaco e outros recursos para empresas start-ups (iniciantes). # Em 1995, 0 decénio do empreendedorismo foi langado na Finlandia. Coordenado pelo Ministério de Comércio e Indastria, 0 objetivo era dar suporte as iniciativas de criagdo de novas empresas, com agdes em tr grandes dreas: criar uma sociedade empreendedora, promover o empreen- dedorismo como uma fonte de geragio de emprego e incentivar a criagio de novas empresas. de assimilar um nimero crescente de ¢ Em Israel, como resposta ao desafi imigrantes, uma gama de iniciativas tem sido implementada por meio do Programa de Incubadoras Tecnol6gicas, com o qual mais de quinhentos ne- inda uma g6cios ja se estabeleceram nas 26 incubadoras do projeto. Houve avalanche de investimento de capital de risco nas empresas israelenses, sendo que mais de cem empresas criadas em Israel encontram-se com suas acdes na Nasdaq (Bolsa de aces de empresas de tecnologia nos Estados Unidos). # Na Franca, ha iniciativas para promover o ensino de empreendedorismo nas universidades, particularmente para engajar os estudantes. Incubadoras com sede nas universidades esto sendo criadas. Uma competi para novas empresas de tecnologia foi langada e uma fundacao de ensino do empreendedorismo foi estabelecida. 0 nacional Em todo o mundo, o-interesse pelo empreendedorismo se estende além das ages dos governos nacionais, atraindo também a atencao de muitas organizagées multinacionais. Em 1998, a Organization for Economic Co-operation and Development (OECD) publicou o informe “Fostering the Entrepreneurship: A ‘Thematic Review”, com o objetivo explicito de compreender 0 estagio de desen- volvimento do empreendedorismo em todos os paises da OECD e identificar quais politicas poderiam ser mais présperas para intensificar desenvolvimento do em- preendedorismo naqueles paises. Ainda em 1998, a Comisso Européia apresen- 24 | tou um relatério para seu Conselho de Ministros, “Fostering Entrepreneurship: Priorities for the Future”. Entre as propostas estava um compromisso para simpli- ficar a abertura de novas empresas, facilitando 0 acesso ao crédito, ¢ desenvol- vendo um espirito de empreendedorismo na comunidade. Ha uma conviccao de que o poder econémico da Europa depende de seus futuros empresdirios e da com- petitividade de seus empreendimentos. Pode-se observar ainda o interesse do Forum Econémico Mundial, que patrocina a conferéncia anual de Davos, no qual recentemente o tema empreendedorismo foi discutido como de interesse global. A explicacao para a focalizacao desses paises no empreendedorismo pode ser obtida ao se analisar 0 que ocorre nos Estados Unidos. Trata-se do maior exem- plo de compromisso nacional com 0 empreendedorismo e o progresso econd- mico. Além de centenas de iniciativas dos governos locais e de organizagées pri- vadas para encorajar e apoiar o empreendedo1 governo americano gasta centenas de milhdes de délares anualmente em progra- mas de apoio ao empreendedorismo. Por causa do sucesso relativo desses pro- gramas, 0s mesmos so vistos como modelos por outros paises que visam a au- mentar o nivel de sua atividade empresarial. Isto tem ocorrido com 0 Reino Unido, que criou em 1999 a Agencia de Servicos para Pequenas Empresas, nos moldes do SBA (Small Business Administration) americano. A conjungao de um intenso dinamismo empresarial e rapido crescimento eco- nomico, somados aos baixos indices de desemprego e as baixas taxas de inflagao ocorridos, por exemplo, na década de 1990 nos Estados Unidos, aparentemente aponta para uma tinica conclusao: 0 empreendedorismo € 0 combustivel para 0 crescimento econdmico, criando emprego e prosperidade. ‘Todos estes fatores levaram um grupo de pesquisadores a organizar, em 1998, © projeto GEM ~ Global Entrepreneurship Monitor, uma iniciativa conjunta do Babson College, nos Estados Unidos, e da London Business School, na In- glaterra, com o objetivo de se medir a atividade empreendedora dos paises e se observar seu relacionamento com o crescimento econémico. Este pode ser con- siderado 0 projeto mais ambicioso e de maior impacto até o momento no que se refere ao acompanhamento do empreendedorismo nos paises. Trata-se de uma iniciativa pioneira, sem precedentes ¢ que tem trazido novas informagGes a cada ano sobre o empreendedorismo mundial ¢ também em nivel local para os paises participantes. O ntimero de paises participantes do GEM cresceu de 10, em 1999, para mais de 30, em 2000, chegando a 41, em 2003. Uma das medidas efetuadas pelo estudo do GEM refere-se ao indice de criagéo de novos negécios, denominado Atividade Empreendedora Total. Este indice mede a dinamica em- preendedora dos paises e acaba por definir um ranking mundial de empreende- dorismo. Este ranking tem mudado a cada ano e 0 leitor poder ter ace dados mais recentes ao pesquisar no site do GEM: www.genconsortium.org. Em 2003 a Atividade Empreendedora Total, AET, de cada pafs participante € apre~ mo nos Estados Unidos, o so aos sentada no grafico a seguir. O valor de AET no eixo das ordenadas representa o 25 ATIVIDADE EMPREENDEDORA TOTAL POR PAIS percentual da populagio adulta dos pafses (18 a 64 anos) envolvida na criacao de novos negécios. As barras verticais indicam a margem de erro da pesquisa, com intervalo de confianga de 95% O EMPREENDEDORISMO NO BRASIL © movimento do empreendedorismo no Brasil comegou a tomar forma na dé- cada de 1990, quando entidades como Sebrae (Servi¢o Brasileiro de Apoio as Micro e Pequenas Empresas) e Softex (Sociedade Brasileira para Exportagao de Software) foram criadas. Antes disso, praticamente nao se falava em empreen- dedorismo e em criacdo de pequenas empresas. Os ambientes politico e econd- mico do pafs nao eram propicios, e o empreendedor praticamente nao encon- trava informagoes para auxilié-lo na jornada empreendedora. © Sebrae é um dos 6rgios mais conhecidos do pequeno empresirio brasileiro, que busca junto a essa entidade todo suporte de que precisa para iniciar sua empresa, bem como consultorias para resolver pequenos problemas pontuais de seu negécio. O hi t6rico da entidade Softex pode ser confundido com o histérico do empreende- dorismo no Brasil na década de 1990. A entidade foi criada com o intuito de levar as empresas de software do pais ao mercado externo, por meio de varias ages que proporcionavam ao empresdrio de informatica a capacitacdo em ges- to e tecnologia. Foi com os programas criados no ambito da Softex em todo pais, junto a in- cubadoras de empresas ¢ a universidades/cursos de ciéncias da computacac formatica, que o tema empreendedorismo comecou a despertar na sociedade in- brasileira. Até entio, palavras como plano de negécios (business plan) eram pr: ticamente desconhecidas ¢ até ridicularizadas pelos pequenos empresirios. Passados 15 anos, pode-se dizer que o Brasil entra neste novo milénio com todo maiores programas de ensino de empreen- dedorismo de todo o mundo, comparavel apenas aos Estados Unidos, onde mais de 1.500 escolas ensinam empreendedorismo. Seria apenas ousadia se nao fosse possivel. Ades histéricas ¢ algumas mais recentes desenvolvidas comegam a apontar para essa direcao. Seguem alguns exemplos © potencial para desenvolver um de 1. Os programas Softex e GENESIS (Geragao de Novas Empresas de Software, Informacio e Servigos), criados na década de 1990 e que até ha pouco tempo apoiavam atividades de empreendedorismo em software, estimu- lando o ensino da disciplina em universidades e a geragio de novas empre- sas de software (start-ups). ividade. Informagées podem ser obtidas em wiwwsoftex.br. O programa Softex foi reformulado e continua ema O programa Brasil Empreendedor, do Governo Federal, que foi dirigido a capacitagao de mais de 6 milhdes de empreendedores em todo o pais, destinando recursos financeiros a esses empreendedores, totalizando um investimento de RS8 bilhdes. Este programa vigorou de 1999 até 2002 realizou mais de 5 milhoes de operagdes de crédito. 3. Ages voltadas a capacitagao do empreendedor, como os programas EMPRETEC e Jovem Empreendedor do Sebrae, que sao lideres em pro- cura por parte dos empreendedores e com 6tima avaliagio. 4. Os diversos cursos ¢ programas sendo criados nas universidades brasileiras para o ensino do empreendedorismo. E 0 caso de Santa Catarina, com 0 pro- grama Engenheiro Empreendedor, que tinha como objetivo capacitar alunos de graduagio em engenharia de todo pais. Destaca-se também o programa Ensino Universitario de Empreendedorismo, da CNI (Confederagio Na- cional das Indtistrias) e IEL (Instituto Euvaldo Lodi), de difusio do empreen- dedorismo nas escolas de ensino superior do pais, presente em mais de duzen- tas instituigées brasileiras, envolvendo mais de 1.000 professores em 22 estados do pais. Exist las de administracao de empresas e de tecnologia para formacio de empreen- dedores, incluindo cursos de MBA (Master of Business Administration), e também cursos de curta e média duracdo. em ainda programas especificos sendo criados por esco- Houve ainda um evento pontual que depois se dissipou, mas que também contribuiu para a disseminagio do empreendedorismo. Trata-se da explo- sio do movimento de criagao de empresas pontocom no pais nos anos de 1999 e 2000, motivando o surgimento de varias entidades como 0 Instituto E-cobra, de apoio aos empreendedores, com cursos, palestras e até prémios aos melhores planos de negécios de empresas start-up de Internet, desen- volvidos por jovens empreendedores 27 6. Finalmente, mas ndo menos importante, o enorme crescimento do movi- mento de incubadoras de empresas no Brasil. Dados da Anprotec (Asso- ciagio Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos de ‘Tecnologias Avancadas) mostram que, em 2004, havia 280 incubadoras de empresas no pais, totalizando mais de 1.700 empresas incubadas, que geram mais de 28 mil postos de trabalho. Um fato que chamou a atengio dos envolvidos com 0 movimento de em- preendedorismo no mundo e, principalmente, no Brasil foi o resultado do rela- trio executivo de 2000 do Global Entrepreneurship Monitor (GEM, 2000), onde o Brasil apareceu como 0 pais que possufa a melhor relacio entre o nti- mero de habitantes adultos que comegam um novo negécio € o total dessa’ po- pulagio: 1 em cada 8 adultos. Como se sabe, este estudo tem sido realizado anualmente e no grafico apresentado anteriormente o Brasil aparece em 2003 na sexta posigio, com um indice de criagao de empresas de 13,2% da populacio adulta (cerca de 112 milhGes de pessoas), correspondendo a mais de 14 milhdes de pessoas envolvidas em novos negécios. Ainda assim, uma posi que, com niimeros expressivos. Mas, o que significa ficar em primeiro, sexto ou vigésimo lugar nesse ran- king? A criagio de empresas por si s6 nao leva ao desenvolvimento econé- mico, a nao ser que esses negécios estejam focando oportunidades no mer- cado. Isso passou a ficar claro a partir do estudo anual do GEM, do qual originaram-se duas definigdes de empreendedorismo. A primeira seria o em- preendedorismo de oportunidade, em que o empreendedor visiondrio sabe onde quer chegar, cria uma empresa com planejamento prévio, tem em mente © crescimento que quer buscar para a empresa ¢ visa a geracio de lucros, em- pregos e riqueza. Est totalmente ligado ao desenvolvimento econdmico, com forte correlagao entre os dois fatores. A segunda definicao seria o empreende- dorismo de necessidade, em que 0 candidato a empreendedor se aventura na jornada empreendedora mais por falta de opgao, por estar desempregado e no ter alternativas de trabalho. Nesse caso, esses negécios costumam ser ci dos informalmente, nao séo planejados de forma adequada e muitos fracassam bastante rapido, nao gerando desenvolvimento econdmico e agravando as esta- tisticas de criagao e mortalidade dos negécios. Esse tipo de empreendedorismo € mais comum em paises em desenvolvimento, como ocorre com o Brasil, € também influencia na Atividade Empreendedora Total desses paises. Assim, nao basta o pais estar ranqueado nas primeiras posigdes do GEM. O que o pais precisa buscar é a otimizagao do seu empreendedorismo de oportunidade. No Brasil, historicamente o indice de empreendedorismo de oportunidade tem es- tado abaixo do indice de empreendedorismo de necessidade, mas nos tiltimos fe ae cate st pereciie asea melhores aes relagao, ¢ espera-se que para os pré-

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