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130 Petrologia fgnea Capitulo 2.6 Isdtopos em Petrologia Ignea ISOTOPOS RADIOATIVOS E RADIOGENICOS ‘Além de sua importincia na datagZo de rochas, os sistemas isot6picos, envolvendo 0s is6topos radioativos e os is6topos radiogénicos, produtos da desintegrago radioativa, so capazes de fornecer subsidios ao estudo da génese das rochas fgneas. O processo de desintegracdo de isdtopos radioativos acompanhado por um complemento, que é 0 erescimento continuo de abundancia de is6topos-produtos de desintegraca0. Por outro lado, cada elemento que inclui o is6topo-produto possui, também, isstopos estéveis, que néo Sfo produzidos por processos de desintegrago e também nfo sofrem de instabilidade nuclear. Portanto, a abundéncia desses is6topos permanece fixa. Assim, a0 longo do tempo, a composicg0 Isotépica do elemento-produto de desintegragfo sofre mudanga continua. Pode-se ilustrar 0 caso, referindo-se a um dos sistemas mais estudados, 0 do rubidio-stréncio (1). O rubidio possti dois isdtopos, ®°Rb e ®7Rb, sendo que, presentemente, ®7Rb/* Rb & igual a 1/2,59. 0 isotopo "Rb sofre desintegra- edo lenta, convertendo-se em *7Sr. Por sua vez, 0 estrOncio 6 composto de quatro isétopos, **Sr (0,56%), °¢ (9,86%), °7St (7,02%) ¢ **Sr (82,56%). A época da formaggo da Terra, 0 is6topo £7Sr estava_ presente. Estimativas de ®7Sr/*8Sr pri mordial da Terra, baseadas em estudos realizados em determi- nnados tipos de meteoritos e rochas lunares, sugerem um valor de, aproximadamente, 0,699 (2). A partir da época de forma- go da Terra, a razdo *7S1/**Sr vem aumentando, devido ao decaimento de *7Rb presente em todas as camadas da Terra. A taxa de decaimento & extremamente lenta, sendo a constarite de desintegragio = 142.x 10°! ano"! (2), Isto quer dizer que para cada dtomo de ®7Rb hé 1,42 x 10°! desinte- gragSes por ano ou, num 4tomo-grama, aproximadamente 2,8 x 10* desintogragGes por segundo. ‘As taxas de crescimento de *7Sr e da razdo *7S1/*°Sr dependem da concentrago de Rb ¢ da razéo Rb/St, respectiva- mente, na roche, f clazo que, numa rocha que contém pouco Rb e uma razio Rb/Sr baixa, o aumento de °”Sr/°Sr é lento. Tal situago prevalece no Manto Superior e, provavelmente também, em niveis profundos da Crosta Continental. Por ‘outzo lado, numa rocha com um teor mais elevado de Rb ¢ uma razio Rb/Sr mais alta, o aumento de *7Sr/*®Sr & mais ripido. Essa situago prevalece em granitos ou em regities sidlicas da Crosta Continental. Uma conseqiéncia dessa situa- a0 & que rochas intermedisrias jovens cuja origem se dé no Manto Superior ou na base da Crosta Continental apresentam raz6es *"Sr/*°Sr inferiores Aquelas em rochas derivadas de crosta félsica velha. Assim, essa razdo serve como um tragador da origem de rochas. (1) Dados sobre abundéncias isotdpicar citados por Faure (2977). (2) Jahn e Nyquist, 1976. (3) Um salor recomendado. Outros usados m literatura mais antiga sd 147 x 10", Ver Faure, op. cit. Outros Sistemas Alm do sistema Rb/Sr, outros tém sido usados ou esto sendo cada vez mais divulgados como ferramentas importantes no estudo da génese dé rochas fgneas. Mais antigo, o sistema U/Th/Pb é bastante complexo. Dois is6topos de urinio, 7?*U ¢,2°°U, se desintegrim para produzir 0s isotopos 7°*Pb 2¢7pp, respectivamente. A desintegracZo de ???Th também se encerra com a producZo de um isdtopo de chumbo, 7°SPb. 0 chumbo primordial conteve todos esses is6topos, bem como 0 204py, estdvel_¢ ndo-radiogénico. Assim, as _razOes 706/204 Pb, 2°7Pb/2°4 Pb © ?°8Pb/2°4Ph so aquelas que podem fornecer informag6es sobre a origem das rochas. Em comparago 0s elementos Rb e Sr, 0 chumbo pode formar ‘minerals préprios, como galena, além de entrar como elemen- to-trago, nas redes cristalinas dos minerais. No caso, a galena nfo € um mineral normalmente sssociado & cristalizagdo priméria de rochas fgneas, embora possa ocorrer em veios associados @ granitos. Assim, 0 estudo isot6pico de chumbo nas rochas.igneas se resume i andlise de rocha total ou de feldspato alcalino, onde o chumbo substitui o potassio. Um sistema recém-introduzido é 0 de Sm/Nd. '*”Sm sofre decaimento para produzir !*°Nd, um isotopo dos muitos que comptem o elemento neodimio. Como is6topo de referéncia, '*°Nd, '*°Nd, “Nd, ¢ '“*Nd so estaveis e possuem abundincias adequadas ‘relativas a '*°NG, para possibiltar uma determinagio precisa de raz6es isot6picas. *4Nd ¢ radioativo, porém possui uma constante de decaimen- to extremamente pequena (4) e, conseqientemente, pode ser considerado como sendo estivel. Assim, muitos autores resol- veram utilizar a razio '**Nd/'**Nd como o tragador em petrogénese (5), embora alguns prefiram '**Na/!*°Nd (6). Determinagao dos Valores da Razdes E possivel medir a razio isotbpica de qualquer rocha fenea, hoje. Esse valor possui pouco significado: 0 que é bem | mais interessante ¢ 0 valor da razo isot6pica na época da consolidagdo da rocha. Para calcular tal razio, & necessirio saber, hoje, a razfo elemento progenitor/elemento produto, 2 razio is6topo radiogénico/isStopo estével ¢ a idade da rocha. ‘Assim, muitas vezes as determinages das razGes iniciais (R,) provém como subproduto da datagdo. E_necessério salientarse que a definigao satisfatdria de valores de Ro exige certos cuidados, além daqueles associados a determinagdo de idades. (4) Weast (ed), 1976. (5) De Paolo ¢ Wasserburg, 1976. (6) Richard e outros, 1976. Mais uma vez, cita-se 0 caso do sistema Rb/Sr como exemplo dos princ jos na determinacio de R. Imagine-se uma suite de rochas em equilfbrio isot6pico inicial ¢ formada por fracionamento cristalino. Essa suite consiste uma série de rochas com Rb/Sr varidvel, porém *? Sc/** Sr constante (Ro). Essa é a situagZo a época da formaggo da sufte (fig. 2.6.14). Nesse tratamento, admitimos que o tempo necessério para 0 fracionamento cristalino seja curto. Apés qualquer tempo T, dese uma desintegragdo de *7Rb e, consequlentemente, um aumento em ®7Sr. A composiggo de cada rocha, nesse instante, cai numa reta inclinada, cuja inclinagfo fomnece o valor da idade ¢ cuja intersego com 0 eixo *7S1/*€Sr fornece o valor de Ry, (fig. 2.6.1c). Evidente- mente, qualquer distribuiggo regular de pontos serve para definir, com precisfo, a idade da rocha. Por outro lado, para (a) "Rb/ Sr Fig, 2.6.1 — Bvolugio do sistema "Rb — "7Sr ~ *¢Sr numa suite do rochas ea defingdo de Rg. (a) Situagdo inicial num sistema em ‘equilorio isotépico,(b) Situaggo inicial num sistema onde falta equii- ‘mio isotépico. (c) Situagio de um sistema que experimentou equilibrio isotépico inicial, aps um tempo qualquer T. Lstopos 131 definir, com exatidfo, o valor Ry, é essencial poder contar com andlises precisas de amostras que possuam raz6es Rb/Sr baixas. Com certa freqiiéncia, a distribuigdo isotépica inicial ndo segue 0 padrdo mostrado na fig, 2.6.14 — os membros da suite no possuem a mesma raza *” Sr/$¢ Sr inicial (fig. 2.6.1.b). Nesse caso, as andlises feitts hoje nfo chegam a definir uma linha reta (ou iséctona),e, assim, ndo é possivel definir um valor preciso para Ry. ‘A Evolugo das Composigles Isot6picas no Manto Superior Tendo em vista que 0 Manto Superior é considerado como a fonte dos basaltos, & interessante saber-se algo sobre a evolugo de sua composigao isotépica no decorrer do tempo geoldgico. Conduzem-se essas investigacSes analisando os Produtos de sua fusio parcial — os proprios basaltos. S50 escolhidos aqueles basaltos ou equivalentes intrusivos que nzo apresentam sinais texturais ou quimicos de terem reagido parcialmente cof a Crosta Continental durante sua subida até © local de consolidaggo. Segundo a exposiggo da P, tais basaltos contaminados fatalmente apresentam raz6es isotpi- cas diferentes das originais, devido a interacio. Além disso, as amostras nfo deveriam ter softido modificacoes significantes pés-consolidaczo. ‘A selecio de amostras € necessariamente restrita. Grandes volumes de basalt chegam a ser extravasados hoje em dia, em diversos lugares, dentre 0s quais hé ambientes, tais como as cristas mesocednicas e ilhas isoladas, onde qualquer interaggo entre 0 magma primitivo e a Crosta Continental parece extremamente improvavel. Por outro lado, ha outros ambientes em que as atividades vulcdnicas podem ser acompa- nhadas por interago com material da crosta, por menor que seja: fala-se de qualquer atividade continental. Ao procurar exemplos de produtos magméticos mais velhos, enfrentam-se problemas de alteraco metamérfica das rochas originais e de encontrar preservados muitos corpos introduzidos em Crosta Continental Sidlica. Nesse ponto, a seleco das amostras passa Ser um pouco subjetiva.. No caso de ®7Sr/®*Sr, & claro que no ha possibilidade da composic&o isot6pica do Manto Superior ter evoluido a0 longo de uma tinica teta. A disperso dos valores observados, hoje ém dia o impossibilita. Hé, por outro lado, uma forte sugestio de que as heterogeneidades na distribuiggo de Rb e St, a época da formacgo da Terra ou geradas depois, esto preservadas no Manto Superior (fig. 2.6.2). J4 foi notado (7) ‘que hi uma tendéncia geral dos basaltos de afinidade alcalina possufrem valores um pouco mais altos do que aqueles dos toleiitos, © uma compilaggo mais recente (8) confirma tal tendéncia em ilhas onde 0s dois tipos esto presentes. Esse fato sugere que hi uma diferenga entre a composigao isotépica da fonte dos basaltos alcalinos e a dos toleiitos. Foram feitas tentativas de definir a idade dos eventos que deram origem as heterogeneidades, porém as conclusdes sdo ainda debativeis (ver p. 154) (fig. 2.6.3). No entanto, quando somadas as ‘outras informagdes isot6picas e tectdnicas, isécronas do manto ‘comecam a possuir uma atrado compulsiva, fechando parcial- mente um outro ciculo de raciocinio. (7) Peterman ¢ Hedge, 1972. (8) Brookse outros, 1976, 132 Petrologia fgnca Fig. 2.6.2 — Dados isot6picos para magmas mificos x0 longo do tempo geolgico, Alguns exemplos de outros tipos de rocha inciuidos, ‘onde sta origem parece ter sid0 no Manto superior. A barra em 3,8 ba aproximadamente representa faisa de valores em gnaises da Groen india ocidental (1) Granito. Zimbabwe (2) Xistos verdes, Anica AU tral (3) Gnaisse, Groenlindia ocidental (4) Xistos verdes, Zimbabwe (5) Usushwana, Atria Austral (6) Stillwate, E1U.A. (7) istos verdes, Canada (8) Grande Dique, Zimbabwe (9) Modipe, Africa do Sul (10) Gnaises, Minnesota, EUA (11) Diabisio Nipising, Canadé (12) Bushveld, Aftica do’ Sul (13) Losbere, Africa do Sul (18) Sudbury, Canads (15) Trompsbure, Aftica do Sul (16) Gnaise, Groenlinda ‘Austral (17) Gnaisse, Colorado, FUA (18) Dulith, Canad (19) Gabros, Escdcia. Fontes dos dados: compilagBes por Faure e Powell, 1972; Jahn © Nyquist, 1976; Moosbath, 1976; Brooks ¢ outros, 1976, As linhas para vasiasrazBes RB/Sé sugirem a manera com que a r2See stp as abservadas podem ter sido geradaspartindo de dferenciagdesprii- rias do Manto Superior em 3.7ba.,2,8h..¢ 1,8ba,aproximadamente, coma formagio de heterogencidades de longa vida Quanto aos is6topos de chumbo, salientase que a interpretagdo dos resultados referentes a esse sistema é extremamente complexa. Os elementos progenitores ¢ filhos possem caracteristicas geoquimicas bastante diversas, © os minerais que aceitam o elemento-filho dificilmente contém ‘mais do que tracos diminutos dos elementos progenitores. Por outro lado, as concentragées dos elementos progenitores ¢ filhos em rochas igneas tipicas no sfo grandes e, assim, ficam susceptiveis as raz6es isotépicas nelas observadas a qualquer interagGo que ocorte entre o magma e as rochas encaixantes. E, bastante conhecida a mobilidade desses elementos, tanto os progenitores como os filhos, e « possibilidade de haver contribuigSes isot6picas de mais do que uma fonte traz consequiéncias importantes na forma de incertezas sobre 0 significado dos dados. Além disso, & necessério salientar que 0 modelo de tectOnica de placas sugere que hé a possibilidade de uma reciclagem de material entre a crosta e 0 manto, o que implica numa evoluggo isotépica diferente daquela esperada «em modelos de evolugdo continua e irreversivel (9). No que se refere aos basaltos dos leitos ocednicos de idades Cenozéica e Mesozsica, jé € documentada, através de isotopos de chumbo, a possibilidade de que sua fonte ficou separada do resto do manto desde, pelo menos, 1.000 ma. atrés (10), enquanto que a fonte para os basaltos de ilhas oceinicas deve ter sofrido uma separaco ou diferenciacio isotépica, em época bem mais recente (fig.2.6.4). Quanto aos resultados obtidos dos isétopos de estréncio (11), hé uma (9) Armetrong, 1968. (10) Tatsumoto, 1966. (11) Brooks ¢ outros, 1976, forte sugestfo de que a fonte dos atuais basaltos de cristas mesoceénicas manteve sua identidade durante, pelo menos, 1.500 ma. (fig. 2.6.3). 0,708: 8757/86 sr Bo ope ——opoa Rb/Sr Fig. 2.6.3 — Isécrona_para_o Manto Superior, derivada para rochas toleiticas das cristas meso-ocednicas (CMO) € das ilhas ocednicas (TIO). A area ocupada pelos resultados referentes 20s basaltos alcalinos das ilhas ocednicas esd representa por AIO. Embora haja uma tendéncia geral indicada, é arriscado definis-se uma isdcrona a patir desses dados. 'No entanto, pala determinada ilhas, deine-se uma boa isScrona. Apud Brooks e outros, 1976, A Evolugio da Composi¢ao Isot6pica da Crosta Continental Da mesma maneira com que se investiga a evoluedo isotépica do manto através do estudo de produtos de sua fuso, pode-se investigar a evoluego da crosta. O problema é de igual complexidade, devido ao fato de a Crosta Continental hoje.exposta representar virios niveis de erosao, virias épocas de atividade construtiva e, 0 que complica mais ainda, ter sofrido varios estigios de retrabalhamento. ‘Tomando cada ponto acima citado em sua vez, observa- se que alguns estudos de rochas de alto grau metamorfico {anfibolito ou granul:to) que podem corresponder a niveis inferiores da Crosta Continental mais antiga apresentam caracteristicas isotépicas bastante diferentes daquelas espera- das. Quando se fala da Crosta Continental, a primeira reagdo é pensar-se numa composicio média granodioritica (ver . 141). Conseqiientemente, 20 confeccionarse um modelo geoguimico inferido, uma rocha com Rb/Sr relativamente elevada € cogitada; se velha uma razdo *’Sr/**Sr também relativamente elevada, e assim por diante. Os estudos recentes (12) mostram que esse modelo é inadequado. Muitas rochas crustais antigas em alto grau de metamorfismo possuem razbes isotépicas baixas e Rb/Sr bastante reduzida. Outras observagdes incluem uma pobreza com respeito aos istopos-produtos de desintegracso de uranio € torio. Por outro lado, é possivel encontrar-se exemplos de granulitos que possuem caracterfsticas exatamente ao contré- To, isto €, razdes isotdpicas *7/St°°Sr elevadas (se levar em conta sua’ idade) e Rb/Sr também mais elevada (13). Ao aceitarse como explicagso a introdugio de material por (12) Heier, 1975; Lambert e Holland, 1975 metassomatismo, é necessério aceitar-se, também, 0 fato de que © material que causou o metassomatismo deve ter sido gerado, pelo menos, nas adjacéncias dos granulitos que possuem essas caracteristicas. Assim, & necessirio cogitar-se da possibilidade de que a Crosta Inferior tenha sido sempre heterogénea, composta de volumes empobrecidos ¢ outros enriquecidos com respeito aos is6topos progenitores e filhos dos sistemas radioativos. Quanto as épocas de atividade construtiva, cabe, aqui apenas lembrar o fato de que o processo implicito na teoria da tectonica de piacas diz respeito a situacao atual, o que pode ser diferente daquela em tempos passados. Quanto ao fator de retrabalhamento, basta lembrar que, no ciclo cléssico das tochas (14), 0s processos de sedimentaggo, metamorfismo ¢ matexia podem modificar bastante a quimica delas, com respeito aos componentes dos sistemas isotdpicos. Uma estima- tiva de Rb/Sr na rocha ignea média é de 0,24, enquanto que, em folhelhos, & 0,47(15). As estimativas da razio dos coeficientes de artigo de Rb e Sr entre o magma granitico e © res{duio, durante a fusdo, variam de acordo com a percenta- fem de fusdo da rocha-fonte (16). A fusio do plagioclasio e do feldspato alcalino tende a aumentar bastante a razgo Rb/Sr no Iiguido derivado por anatexia, enquanto que a fusio de biotita possui tendéncia inversa a esta Pode-se imaginar, assim, que a reciclagem do material siflico dentro da crosta provocaria, localmente, bolsbes de Yochas que possuem composig6es extremas com respeito a Rb/Sre *7Sr/*6Sr, ete. A computago de um valor médio para 4 composigdo isotépica da Crosta Continental se toma ‘extremamente complexa, e, assim, € necessério recorrer a ‘outros expedientes, para tentar compor uma curva de evolugdo isotépica. © oceano representa um depésito bem misturado para todo detrito de erosfo soltivel ou insohivel ¢ & atrativo ‘maginar que qualquer rocha que dele se precipita deve possuir uma composic40 que possa refletir a composi¢do das éreas-fon- tes (principalmente, a Crosta Continental e, secundariamente, © Manto Superior, através de manifestagées magmsticas submarinas), 4 época de sua deposi¢&o. Os caleérios marinhos representam, até certo ponto, um material ideal resultante da precipitaco das Sguas ocednicas e que pode preservar as caracteristicas isotépicas do oceano ¢, assim, da Crosta Continental Média daquela época (17). Evidentemente, devido 4 sua heterogeneidade, a Crosta Continental deve apresentar uma faixa bastante ampla de composicoes _isot6picas "751/86 Sr ¢ razdo elementar Rb/St em qualquer época de sua evolugdo, sendo que a faixa deve aumentar sua largura desde Arqueano (fig. 2.6.5). Entretanto, destacase 0 fato de que as curvas de rescimento propostas para 0 Manto Superior e a Crosta Continental Média sfo pouco diferenciadas, até aproximada- mente 2 b.2. atrés, quando se observa um distanciamento cada vez maior. & interessante notar-se que, a partir dessa época grol6gica, que corresponde, aproximadamente, ao Ciclo Transamazénico no Brasil, observa-se uma crescente proporedo de atividade vulednica dcida, muitas vezes desacompankiada por yolumes correspondentes do magma mifico. (14) Wylie, 19 (15) Mason, 1971 opud Turekian e Wepedohl, 1961; Kulp, 1954. (16) Hanson, 1978. (17) Veizer, 1975; Faure e Powell, 1972; Armstrong, 1968. s6topos 133 20790724 8pp/*4Py Fig. 2.64 ~ Dados isotépicos referentes a chumbo. B.A ¢ G, basaltos, andesitos € granites fanerozéicos do oeste dos EUA. TIH, toleitos dos fundos ocednicos, da Islindia e do Havai. AB, basaltos alca: linos das ilhas-oceinicas. A partir dos dados inelufdos no campo TIH, & ppossivel definir uma isdcrona com idade de, aproximadamente, 1,8b 2 Dados extaos de compines fas por Boe, 1970; Church e Fas moto, 1975. 07207 0,714 8S /Sr t, b.a. Fig. 2.6.5 ~ Modelo para a evolugio isotépica de estrOncio (1) ‘no Manto Superior, segundo Faure e Powell, 1972; (2) nos oceanos, segundo Veizer, 1976; (3) na Crosta Continental, segundo Armstrong, 1968, AA Utilizagdo de Is6topos de Estroncio no Estudo de Interagdes entre Magma Derivado do Manto e Crosta Continental, e da Génese de Rochas Acidas. Em rochas fanerozsicas, a interagdo entre magmas derivados do Manto e a Crosta Continental é acusada por valores que fogem do padrfo esperado. Cita-se, aqui, um estudo bastante pormenorizado sobre basalto (sic) de idade Jurisica, na Antirtida (18), no qual se consegue correlacionar outros aspectos da qufmica a extensdo da interac. Os valores, para *7Sc/®*Sr caem na faixa de 0,7094 até 0,7133. Hi variagdo bastante sistemitica dentro de grupos de derrames, 0 que conduziu a uma separacdo de atividade em quatro fases ‘eruptivas. Essa sistematica se estende ao padro dos elementos. (28) Faure. outron, 1974 134 Petrologia fence Através de modelos de mistura de dois componentes, conse- guiu-se definir a possibilidade do magma baséltico ter interagi- do com um componente de composigso dacitica, derivado por fusGo parcial de rochas granfticas. A utilizago de dados isot6picos na discussdo da génese de rochas graniticas fanerozdicas € amplamente discutida numa sego posterior (ver Vol. 2). Cabe salientar, aqui, que © poder de discriminagSo de *7Sr/*®Sr entre origens diferentes, € bastante restrito, uma ver que hé evidéncia de que a composicio isot6pica da Crosta Inferior pode nfo se distinguir muito daquela do Manto Superior. Assim, quando uma rocha presenta valores bastante elevados (> 0,710, aproximadamen- (e), uma origem por anatexia crustal € indicada; quando a mazio € baixa (S 0,706 aproximadamente), uma origem no manto 6 mais provével. & na faixa de 0,706 —0,710 que ainda h§ dtvidas sobre possiveis mecanismos petrogenéticos. AA situacdo se torna mais problemética quando se fala de rochas Acidas de idade proterozdica ou mais velhas. Ainda, 20 apresentar valores elevados (> 0,706 em 2ba., por exemplo), pode-se identificar a origem da rocha dcida. No entanto, as vezes € necessirio recorter a outras linhas de evidéncia, tais como 0 padrio de distribuigdo dos elementos terras raras, para resolver o problema da origem de rochas dcidas que apresen- tam raz6es relativamente baixas (<0,706) (19). Is6topos do Neodimio no Estudo de Petrogénese Introduzido hé menos do que dez anos atrés, quando foram superadas as dificuldades associadas a0 tratamento das amostras ¢ a medigdo das raz6es isotopicas, o estudo das razdes isotépicas do neodimio jd conta com uma literatura muito expressiva. O par progenitor-filho Sm-Nd pertence 20 grupo dos lantanideos. Os dois elementos possuem, portanto, pro- priedades quimicas ¢ cristaloquimicas bastante semelhantes. ‘Ao contrario do caso do par Rb-Sr, é muito dificil separar os dois elementos durante processos metamérficos, inclusive durante metassomatismo. Assim, as raz6es isotépicas imprimi- das as rochas igneas durante sua cristalizagio ficam preservadas durante modificagbes subseqientes, 0 que pode nao ocorrer no aso do Sr. Apresenta-se virios exemplos da aplicagdo dos isétopos do Nd no Volume 2. ISOTOPOS ESTAVEIS. A aplicagso de isstopos estaveis em geotermometria ja foi discutida (ver p. 112). Outras aplicagdes a0 estudo das rochas fgneas incluem compara¢o empfrica das raz6es is6topi- cas observadas nas faixas caracteristicas predeterminadas para rochas fgneas ¢ 0 estudo dos mecanismos de modificagdo de tais raz6es por interagdes entre magma e crosta, ou magma ¢ gua contida nos poros de rochas encaixantes’ a0 redor de intrusBes (por exemplo). Os sistemas mais estudados so H/D e "O/'FO, no caso de rochas silicdticas, essas razdes € 22¢/!3C, em rochas carbondticas e, em segundo plano, 32/945, em rochas que contém sulfetos. Nesse dltimo caso, as investigagdes buscam, de modo geral, a origem dos depésitos ‘minerais associados 4s rochas igneas, especialmente a origem do enxofte. Nos casos em que o enxofre ndo vem do manto € sim de rochas encaixantes, é de se esperar que a quimica das rochas igneas deva ter softido modificagSes, também. (19) Jordi de 85, 1978. Um certo niimero de exemplos stfo dados em capitulos posteriores. Nessa seedo, discutem-se alguns dos princfpios basicos e ideias gerais. Is6topos de Hidrogénio e ‘Oxigénio em Rochas Silicaticas 0 alvo mais importante do estudo desses isétopos em rochas silicdticas € a investigagdo da influéncia de processos hidrotermais* na sua evolugdo. Especialmente, esses is6topos permitem decidirse sobre a origem da dgua envolvida — ‘magmitica ou mete6rica (de chuva). ‘Na maioria das rochas igneas (vulcénicas € plut6nicas) frescas, as raz6es isot6picas exprimidas como 4D e 5!*O re- lativas a SMOW (ver-p. 137), caem dentro de faixas relativamen- te estreitas: 5Dsyow) = —50a— 100% © 5!*0smow = + Sa + 10%o. As faixas para basaltos e outras rochas, que de- vem originar-se no jmanto e, posteriormente, sofreram pouca ‘ow nenhuma interapdo com material estranho, sfo mais est tas ainda, permitindo que se defina uma composig&o isot6pica provavel para 0 Manto Superior (fig. 2.6.6), a qual deve repre- sentar a composigfo aproximada de égua magmética. Por outro lado, a composigfo de agua metedrica apresenta faixas amplas de variago composicional e¢ uma correlagfo nitida entre SDsmow. €5!*Oswow (fig. 2.6.7). A composigfo da igua me- teérica depende da latitude, os fracionamentos mais fortes € 4quas isotopicamente mais leves ocorrendo em regies polares, enquanto que, nas equatoriais, 0 fracionamento & menor. A gua do mar, por outro lado, parece possuir uma certa homogeneidade. Os sedimentos dela derivados apresentam, de modo geral, 5 '®O syqw_positivo (Isotopicamente mais pesado), condizente com o fracionamento do isétopo mais pesado para a fase's6lida depositada. Por outro lado, 5 Dé, muitas vezes, negativo, um fato ainda imperfeitamente enten- dido. Como era de esperar, 0s valores isot6picos corresponden- tess rochas metamérficas se sobrepGem aos campos das rochas fgneas e sedimentares. Uma questo bastante importante, sobre a qual se dispoe de poucos dados, referee ao estado de oxidagdo em rochas fgneas. De modo geral, admite-se que rochas que contém altos teores de ferro férrico devem ter sofrido oxidacao secundaria. Contudo, nem sempre € assim. Na ilha de Tofua, arco de Tonga a sudoeste do oceano Pacffico, encontram-se andesitos basfiticos, que apresentam graus de oxidacdo extremamente elevados, onde R = Fe,03 medido/total de Fecomo Fe,03 atinge valores de 0,5 — 0,7. A oxidagio em lavas tipicas ndo ultrapassa R =0,3(20). Os valores 5 '®0, observados na maioria dessas rochas oxidadas, comparam exatamente com aqueles observados em lavas nao-oxidadas (21). No caso, @ oxidagdo anormal parece ligada a0 crescimento da concentra- go de volteis, antes de uma erupcdo catastréfica. Apenas 0 ‘material piroclistico, extremamente poroso ¢ de cor averme- lhada, apresenta sinais isotépicos de interagdo com agua meteérica, talvez pos-erupe0. A interagao de rochas intrusivas com celas de convecgo de gua estabelecidas em rochas encaixantes porosas pode trazer conseqiiéncias importantes para a quimica das rochas, tanto das intrusivas, como das encaixantes. Do mesmo modo, @ (710 termo hidrotermal & empregodo, aqui, para indicar soluctes aquosas quentes (20) MeReath, 1972. (21) Meulenbachs e Hoering, 1972; Coleman, dados inéditos. interagfo entre a dgua do mar e os basaltos ocednicos, ou entre gua ¢ basalto em ambientes essencialmente continentais, pode influenciar bastante a composicgo observada das rochas. Muitas vezes, silo essas alteragdes que promovem a lixiviaggo de elementos-trago, tais como Cu, das proprias rochas, e, subseqiientemente, sua deposigfo em depésitos de valor econdmico. ins erecta [Jeun 00 oan (7 rocnas metandinricas [7 cranitos [Jessecros "0 %e Tacus 00 wan (7 seoinentos TT roenas feneus € weraméaricas (Tl ceuas wacmarieas ) Ww § D%e Fig. 2.6.6 ~ Faixas caracteristicas para 5D ¢ 60 em virios ti pos de rochas. Segundo Hoefs, 1973; Faure, 1977 =10 ° +10 6 8% Fig. 2.6.7 ~ Correlagdo entre 5D ¢ 5!*0 om dguas metesricas. ‘Apud Craig, 1961 Isstopos 135 0s basaltos ocednicos alterados ¢ 0s ofioitos serpentiniza- dos tendem a apresentar 5 '*Osyow positivo e maior do que a faixa normal dos basaltos frescos. Esse enriquecimento acompanha o metamorfismo de baixo grau na presenga de gua do mar, ¢ 0 fracioftamento observado corresponde aos efeitos da passagem de volumes muito grandes de dgua pela rocha (22) Por outro “lado, muitas intrusées em nivel crustal alto, especialmente grinitos, apresentam composigdes.isot6picas bastante eves em relagio as faixas normais. No caso, 0 mecanismo sugerido & 0 de interag%0 entre sguas de origem meteSrica, contida nos poros das rochas encaixantes, © a intrusfo (23). Como resultado dessa interacdo, encontram-se fendmenos, como nebulosidade dos feldspatos até alteragdes mineralégicas mais avancadas — cloritizacHo, sericitizagd0 ou argilizagio. As-vezes, & possivel detectar’ interagOes mais complexas, onde uma parte das alteragdes se deve ao autome- tassomatismo efetuado por guas derivadas do proprio corpo magmético, ¢ outra parte, & interagfo (25) (fig. 2.6.8). go 4 “ae zy ic 3 eu sorey o ORNBLENDA i! S0'*smow Yoo Fig. 2.6.8 ~ Identificagdo da contribuico de digua meteérica durante 0 metassomatismo de rochas igneas e a formacio de veios hi: Arotermais asocindos: mineralizagGes astociadasaos porfiros cups feros, Minerais aparentemente primarios (biotita e homblenda) equilibraram- se dom uma dgua caja composiggo cai no campo das éguas magmaitica. Minerais de origem metassomdtica (sricita, clorita, argilas, picogilita) ‘equilibraram-se com aguas contendo um componente cada’ vez mais importante, derivado de agua metedrica. Apud Sheppard © Gustalson, 1976. Quanto as rochas graniticas,essas apresentam faixas mais amplas de composigGes isotépicas. Num capitulo subsequente (Vol. 2), descreve-se uma classificagao de granitos, tendo como base diferengas de composigdes mineralogica e gooquimica, permitindo uma separaggo em tipos com fontes sedimentar (tipo-S) fgnea (tipo-). Em alguns casos, essa separagio & confirmada por dados isot6picos (25). Os granitos tipo-S apre- sentam 5'*Osyow de + 10,4 a + 12,5%o, enquanto os tiposl, 5°*Osmow = + 7,7 até 9,9%o. Aqueles valores mais elevados sfo tidos como resultados da participaggo de rochas sedimentares ou metamérficas nas géneses dos granitos, en- quanto esses podem resultar de processos exclusivamente mag- méticos. (22) Spoonner ¢ Fyfe, 1973; Spooner e outros, 1977. (23) Taylor ¢ Forrester, 1971; Toylor, 1977. (24) Sheppard e Gustafeon, 1976. (25) O'Neil e outros, 1977. 136 Petrologia fgnca Isétopos de Carbono ‘em Material Magmitico © carbono primério se encontra em rochas igneas, em estado oxidado, como CO; em inclusbes, ¢ 0 carbonato, em estado reduzido, como carbono clementar, por exemplo, diamantes em kimberlitos. Outros exemplos de compostos no estado reduzido so carbonetos ¢ hidrocarbonetos. A composi- fo isotépica das duas categorias é bastante diferente, como pode ser ilustrado pelo exemplo seguinte (26). O CO; deri- vado de inclustes em basaltos ocednicos possui uma com- posigdo ligeiramente leve (5!*Cppg = 7,6%), enquanto © carbono total é um pouco varidvel ¢ mais leve ainda, ten- do 5!Cppp = —12 até -13,7%0. Essa situagdo se re- pete em outros casos, com 0 carbono reduzido possuindo carbono mais leve (5'*Cppp = —20 a —28%0) ¢ 0 oxi- dado mais pesado ('°Cppp = +29 até —18,2% (27), Um dos maiores problemas com a interpretacdo_ dos is6topos de carbono em rochas {gneas diz respeito a possibili- dade de alteragZo das razGes isot6picas primérias pela passagem de dguas mete6ricas, que carregam, em solugdo, tanto CO; de origem atmosférica, como compostos organicos de origem biogénics, Assim, tanto a composigdo do carbono oxidado como aquela do reduzido podem softer, sutilmente, influéncias externas. Esse assunto ainda nfo recebeu muita atenco, talvez, devido ao fato de que hi bastante superposiezo dos campos de composico isotépica observados para carbon fgneo, COs atmosférico e solugées superficiais carbonatadas (fig. 2.6.9). [TT ennonaros ve 608 voce esreonsroe manos Leos arwosrinice Cosas se [Jouemanres coronos (4) 8 Be% = (-) Fig. 26.9 ~ Fainas caracteristicas de 5°C em virios tipos de ‘matrizes. Apud Hoefs, 1973; Faure, 1977, Is6topos de Enxofre em Rochas Magméticas Depésitos Minerais Asociados ‘A. grande maioria das determinagSes da composiggo isot6pica de rochas {gneas nfo se refere As fragGes silicdticas,e, sim, aos sulfetos associados. De modo geral, as razdes isot6picas observadas apresentam pouco fracionamento relati- vo ao padrfo e ha, também, pouca variabilidade dentro do mesmo dep6sito. Essas caracterfsticas permitem propor-se que 4 composic{o isot6pica de enxoffe no manto apresenta 5*Syicp = 0% (fig. 2.6.10). (26) Pineaus ¢ outros, 1976. (21) Hoefs, 1973; Furx e Baker, 1978. {7 surratos evaroniricos D Aova 00 mar ‘SEDIMENTOS E MINERALIZACOES ASSOCIADAS (1 sramiros a SALES GaBRos Diwineracizacdes ioneas []nereonitos, Lua Es oT 5348 %q (+) (-) Fig. 26.10 —“Fainas caracteristicas de 5S em virios tipos de rochas, Apud Hoefs, 1973; Faute, 197 No entanto, hé depésitos de sulfetos que fogem desse padrao, sugerindo que, em alguns casos, a fonte de enxofie & outa, Tanto na mineralizagio do depésito de cobre © niquel associado a um gabro doleritico em Noril’sk (8 ?*Sycp = 47 a 17%) (28)e em sulfetos associados a0 gabro de Duluth, EUA (5**Sycp = +11 a +16% (29), a compo- sigfo isot6pica do enxofre é extremamente pesada. ExplicagSes bastante razodveis invocam a derivacio do enxofre a partir das rochas encaixantes ou durante a passagem do magma através, de horizontes gipsiferos, ou por interagfo com ardésias sul- fetadas. Até que ponto a quimica das partes silicatadas des- sas intrusdes sofreu por causa dessas interagbes, ainda é pou- ©0 esclarecido. Outros exemplos de enxofse em sulfetos de- rivados de fontes ndo-magmaticas ocorrem em alguns gra- nitos (30). enxofre, em rochas igneas, pode existir sob diferentes formas de oxidago, como sulfeto ou sulfato, principalmente. Nesse caso, & de se esperar que o sulfato posss ser introduzido para as rochas por infiltraggo de solucdes aquosas durante exposigo 4 superficie. Durante 0 processo magmitico, pode hhaver, ainda, equilibrio estabelecido com uma fase gasosa, contendo componentes tais como HS ou SO2. A oxidagao ¢ partigfo do elemento entre as fases liquida e gasosa pode pro- duzir fracionamentos, embora se 05 equilibrios fossem estabe- lecidos sob condig6es de temperatura elevada, esses poderiam ger de grandeza pequena. So poucos 0s estudos empreendidos no sentido de investigar adequadamente o estado de oxidardo e 0s fraciona- mentos de is6topos de enxofre em rochas igneas. Um esses (31) investigou tragos de sulfato e sulfeto em varios tipos de basalto e encontrou evidéncia para uma possivel heterogeneidade pequena relativa a composicfo isotépica do enxofie, no Manto Superior, bem como para a perda de componentes voldteis durante a evoluedo de um dos magmas. Num outro estudo empreendido (32), investigouse + composigGo isotépicas do enxofie em granitos tiposS ¢ I (28) Citado por Evans, 1980, (29) Mainwaring e Naldrett, 1977 (30) Shima e outros, 1963. (31) Schneider, 1970. (82) Coleman, 1979. Concluiu-se ento: granitos tipo-l, 8**Svcp = -36 a +4,2%0 © no tipoS, 5°*Sycp = -5,7 a —10,5%o. Na base da presenga ow auséncia de magnetita ¢ da razo de oxidagdo Fe:0,/FeO, pode-se separar as rochas em tipos reduzidos ou oxidados. Geralmente, a5 rochas reduzidas possuem valores positives para 8 **Sycp, ¢ os oxidados, negativos. A perda de HS (relativamente leve), sob condigdes redutoras, ou de SO (relativamente pesada), sob condigces oxidantes fracas, pode trazer conseqiéncias importantes. Razies para isotopos estaveis: MSOW = “mean standard ocean water” PDB = belemnita da Formacao Pee-Dee (EUA) MCD = meteorita de Cafion Diablo sstopos 137 ‘Assim, o fracionamento observado, provavelmente, vai depen- der mais do estado Je oxidago e da perda ou ngo de componentes voléteis do que da temperatura. As conclusSes sobre as composig6es isotdpicas observadas sfo de que as variagBes entre os tipos I ¢ S so adequadamente explicadas Por esses processos, e, assim, nfo é necessirio invocar a partici- pacdo de sedimentos na génese dos granitos tipo-S, pelo menos no que concerne ao enxofre. LEITURAS RECOMENDADAS O texto mais completo e atualizado 6: Faure, G. — 1977 — Principles of Isotope Geology. John, Wiley, Nova Torque. 466 p. Os artigos recomendados sfo: —Moorbath, S. — 1976 — Age and isotope constraints for the evolution of the Archean Crust. p. 351 — 360 em Windley, B.F. (ed), The early history of the Earth. John. Wiley, Nova lorque. 619 p. ‘Também no livro editado por Allégre, CJ. e Hart, S. 1978 — Trace elements in igneous petrology. Elsevier, Amster- dam, os artigos por Hofmann e Hart (pp. 44-62), Tatsumoto (pp. 63 — 87), Hedge (pp. 8 — 94), Taylor (pp. 177 — 210) Oversby (pp. 237 — 248) podem ser recomendados.. EXERCICIOS E PROBLEMAS 1) 0 que € que vai resultar, aps um tempo qualquer T, de um sistema inicialmente sem equilfbio isot6pico, com respeito A distribuigf0 dos is6topos 8”Sr e ®*Sr? 2)Comente sobre a possibilidade de utilizar-se as razdes ‘isot6picas *7Sr/**Sr, para discriminar entre os seguintes ‘mecanismos de geragio de um granodiorito Arqueano ou Proteroz6ico: 1) fustio de metassedimentos da Crosta Continental; Il) derivagfo direta do Manto Superior Ill) uso parcial de rochas igneas preexistentes, originadas no Manto Superior. Quanto a terceira possibilidade, devese levar em conta fatores tais como a provével composigfo das rochas que produzem o granodiorito, e 0 intervalo de tempo entre a Solidificagdo das rochas-fontes e sua fusto parcial. 3) Calcule 0 intervalo de tempo necessério para a razio "7r/*6Sr aumentar de 0,702 a 0,704, numa rocha que pos- sui Rb/Sr = 0,25. 4) Um magma basiltico arqueano originou-se no Manto Supe- rior (onde a razdo U/Pb era comparativamente baixa em relagdo 4 Crosta existente) € penetrou na crosta. Durante ‘um ciclo tecténico subseqiiente, sofreu uma interagdo por ‘cambio de material com a crosta e, depois, sofreu fusio parcial, 0 que produziu um magma de composigao andesiti- ca. Num outro ciclo tecténico posterior, o resfduo da fuséo do basalto e 0 material andesitico foram colocados em justaposi¢fo. Num programa de datacio e investigagao da ‘petrogénese das rochas, um geélogo coleciona esses mate- riais, Opine sobre a possibilidade dele reconstruir essa hist6ria através de dados isot6picos. 138 Petrologia fgnea EXERCICIOS E PROBLEMAS: integragdo dos assuntos da parte 2 1)Discuta 0 efeito do fracionamento cristalino prolongado sobre as raz0es isotdpicas dos membros de uma suite ‘vulednica extravasados recentemente. Imagine que 0 fracio- namento ocorreu a0 longo de um perfodo de 10ma., porém que as erupedes se sucederam de 2 m.a, atrés, para 4; que a taxa de fracionamento, em termos de quantidade de material fracionado, permaneceu aproximadamente cons- ante; que 0 basalto progenitor da sufte possuiu 875c/*6Sr = 0,705 e Rb/Sr = 0,15. Faga cilculos apro- ximados da quantidade de material necessariamente fracio- nada na produgio de andesito e dacito, onde as fases fracionadas sfo feldspato, plagiocldsio, clinopiroxénio, orto- iroxénio e um pouco de magnetita; aproveite as andlises fornecidas na parte 1. Quanto aos elementos-trago, leve em. conta 0 crescimento ou ndo dos valores dos coeficientes de artigo dos elementos durante o fracionamento. Compare suas conclusées com aquelas de McCarthy e Cawthom, 1980. 2) O desenvolvimento da série toleiitica parece depender da supressio da cristalizaggo da magnetita, conduzindo a um enriquecimento em ferro relativo a magnésio. Por outro lado, as séries calcoalcalina ¢ alcalina ndo apresentam tal enriquecimento e provavelmente, evoluem sob condigdes onde a magnetiva precipita. Em relago ao magma em ela se encontra, a magnetita contém oxigénio mais leve, enquanto que a olivina ¢ os piroxénios contém oxigénio de composigo aproximada mente igual ao do-inagma, e em plagioclisio ¢ quartz0, 0 oxigénio € mais pesado. Discuta a cristalizagdo fracionada do basalto, para produzir, de um lado, uma suite toleiftica e, de outro, uma suite calcoalealina, em termos da composi¢o de oxigénio no magma progenitor e nos termos dele derivados. Compare suas conclusdes com aquelas dos trabalhos de Taylor e Epstein, 1963; Epstein e Taylor, 1967.

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