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Direco nica
Conferncia realizada em 9 de Junho de 1932 em Lisboa,
no Teatro Almeida Garrett,
actual D. Maria II, escrita em Abril desse ano
A
Jos Lus Durn de Cottes
Minhas Senhoras e meus Senhores:
Direco nica so as duas palavras postas ao lado uma da outra para indicar o
nico caminho por onde deve seguir toda a gente.
E, para que no haja confuses possveis, encontramos pelas esquinas e
encruzilhadas uns discos pintados de encarnado, servindo de fundo e chamariz a umas
letras brancas que dizem claramente, para quem quer que seja, e at para os cegos e para
os analfabetos: direco proibida.
Ora, as direces proibidas no nos interessam absolutamente nada.
No quer isto dizer que vamos desprezar esses discos das direces proibidas e
desobedecer s suas ordens dadas to visvel e intimativamente para todos sem excepo.
No senhor, no nada disso.
Pelo contrrio: at lhes agradecemos de todo o corao a esses avisos to bem
postos a nos seus lugares, que ningum pode vir depois com desculpas de no ter sido
avisado a tempo.
A ns no nos interessam as direces proibidas pela simples razo de que s nos
importa a direco nica.
Temos todo o nosso tempo muito certinho muito bem contado, e o justo para
podermos seguir em linha recta pela direco nica.
Se nos enganssemos e fssemos por qualquer descuido ou capricho nosso por
alguma das muitssimas direces proibidas que nos aparecem a cada passo, a cada
esquina, a cada momento, em todas as encruzilhadas, arriscvamo-nos a no chegar a
horas ao fim da nossa viagem, que como quem diz, ao fim destas linhas que V. Ex.as to
amveis, esto escutando com tanta ateno.
DIRECO NICA
Conferncia realizada em Lisboa no Teatro Nacional de Almeida Garrett, a convite
de Amlia Rey-Colao, repetida em Coimbra no Salo Nobre da Associao Acadmica, a
convite da revista Presena e editada pelas Oficinas Grficas UP de Lisboa
Julho de 1932
Fontes:
Jos de Almada Negreiros, Direco nica, Lisboa, UP, 1932;
Jos de Almada Negreiros, Obras Completas, 6: Textos de Interveno, Lisboa,
Estampa,1972, pgs. 73 a 100;
Jos Augusto Frana, Almada, o Portugus sem Mestre, Lisboa, Estudios Cr, [1974]