O sujeito potico neste poemas diz que uns e outros so
os que no so capazes de viver o presente. Assim, uns
vivenciam o tempo, olhando para o passado, o que significa no ver a realidade, pois j no existe. Outros olham para o futuro e, por isso, tambm no vem a realidade, uma vez que apenas existe na imaginao. Neste poema o sujeito potico usa vrios paradoxos para traduzir a impossibilidade e o engano a que so conduzidos aqueles que vivem da recordao ou da imaginao. A relao que o sujeito potico estabelece com os "uns" e os "outros" de perfeito distanciamento. Enquanto os "uns" s olham o passado - "os olhos s postos no passado" - os "outros" apenas se interessam pelo futuro - "...Fitos / Os mesmos olhos no futuro" -, atitudes que o sujeito potico condena, porque distorcem e falseiam a realidade. Assim, os primeiros "Vem o que no vem", enquanto os segundos "vem / O que no pode ver-se", pondo em risco a segurana e a vivncia do momento defendidas pelo "sujeito potico" - "Porque to longe ir pr (...) / A segurana nossa?". O sujeito potico defende a vivncia do momento numa perspectiva claramente epicurista, recusando a memria e o antecipar do futuro - "Este o dia, / Esta a hora, este o momento, isto / quem somos, e tudo". O sujeito lrico afirma, ainda, que o presente a sua nica certeza - "Porque to longe ir pr o que est perto - /A segurana nossa?" -, sublinhando a marcha inexorvel do tempo - "Perene flui a interminvel hora" - e referindo que o nosso destino a morte (viso fatalista da vida) - No mesmo hausto / Em que vivemos, morremos." O estoicismo, to caracterstico da potica de Reis, no aparece aqui de uma forma explcita, mas o carcter triste e melanclico do poema consequncia da atitude cerebral e contida do sujeito potico. O carcter exortativo do poema est ligado transmisso de uma moral, ou seja, de uma arte de viver que o sujeito potico apresenta a um "tu", que dev-la- adoptar. Assim, a exortao conseguida atravs do emprego do imperativo - "Colhe" -, e da primeira pessoa do plural - "nossa", "somos", "nos", "vivemos", "morremos" - que implica a existncia de um "tu" que segue os ensinamentos do "eu". As repeties da segunda estrofe so constitudas pelo uso reiterado dos demonstrativos "este" e "isto" e pela forma verbal no presente do indicativo "". O conjunto destas repeties evidencia a mxima que domina o poema: o carpe diem. Nada mais interessa, nada mais tem valor seno a vivncia calma e contida do "dia, porque s ele.".