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© INVERNO NU Mas ov ia Si vk 4 Revista de Ensino de Ciéncias N: 11 — Dezembro 1984 ° LEAR Palestra proferida pelo professor José Goldemberg no Palécio dos Bandeirantes dia 21 de fevereiro de 1964, em reunifo extraordinéria do Conseiho Estadual de Ciéncia Tecnologia. Desejo fazer aqui um breve relato do que ocorreu na reuniao que se realizou na Pontificia Academia de Ciéncias do Vaticano de 23 a 25 de janeiro, convocada por sugestéo de Sua Santidade o Papa Joao Paulo Il e & qual compareceram 15 cientistas de varios paises a fim de discutir um tema no qual o ‘Sumo Pontifice havia manifestado um interesse especial. O presidente da Pontificia Academia de Giéncias do Vaticano é desde 1973 o brasileiro Carlos Chagas, que tem desempenhado um papel ‘muito importante em dinamizé- Essa Academia foi criada em 1603 e dela fez parte Galileu. O Prof. Chagas teve um papel importante nao 86 na reabilitacao de Galileu —o que criou um go entre a Igreja e os cientistas — como também tem levantado problemas muito importan- tes para a preservagao da nossa civlizagéo como 6s a conhecemos. Por sua sugestio, o Papa tem- ‘se manifestado sobre importantes problemas como os riscos da manipulacao genética, da corrida ar- mamentista, @ agora esta-se preparando, a luz do encontro que tivemos no Vaticano, para fazer uma manifestacdo em relacdo aos efeitos de uma guerra ‘nuclear, que 6 0 tema que abordarei hoje aqui. Os perigos de uma guerra nuclear e suas conse- qiiéncias séo bem conhecidos de todos. Infeliz- mente, armas nucleares ja foram usadas contra aglomeragées humanas, no fim da Segunda Guerra, to dessas explosces foi a enorme destrui¢éo que teve lugar naquelas cidades. Nelas foram usadas bombas nucleares de pequeno porte que tinham um poder explosivo de aproximadamente 12 mil 0 as consequéncias de uma guerra nuclear Prot. José Goldemberg Universidade de Sao Paulo toneladas de TNT (12 kton). Esta 6 uma quantidade grande de explosivos, mas néo quando comparada 08 explosivos que foram usados durante a Segun- da Guerra Mundial. 0 que ocorreu em Hiroshima e Nagasaki é que apenas uma bomba era capaz de Provocar a enorme destruigéo que provocou. Des- de entéo, os arsenais nucleares das grandes potén- clas tem aumentado extraordinariamente. Temos, hoje, no mundo, cerca de 20 mil ogivas nucleares, principalmente nas méos das grandes poténcias, EUA @ URSS. Se estas armas nucleares fossem usadas, elas teriam um terrivel efeito destruidor nos paises sobre os quais explodissem, isto é, sobre os combatentes, ‘A reunio que nos levou ao Vaticano discutiu esta ‘questéo sob um ponto de vista diferente; o tema no foi o das consequéncias de uma guerra nu- clear sobre os combatentes, uma vez que elas séo bem conhecidas: estima-se que numa guerra nu- clear de grandes proporgées morreriam, em alguns minutos, pelo menos cerca de 300 milhdes de pes- soas, nos EUA, URSS e na Europa. Acreditava-se, porém, que o resto do mundo ficaria relativamente a salvo dos efeitos desastrosos dessa catdstrote. O que a reuniao do Vaticano mostrou € que isso nao 6 verdade. © problema da guerra nuclear se tornou um problema global no qual agressores, vitimas e espectadores sao envolvidos e correm riscos que nao 840 muito diferentes. Essa é a finalidade desta conferéncia e tentarei convencé-los do meu ponto de vista através de algumas fotografias e desenhos. Revista de Ensino de Ciéncias N: 11—~ Dezembro 1984 5 Efeito da exploséo de uma bomba nuclear de pequeno porte - 12 kton (12 quilotons ou 12'mil toneladas de TNT) sobre Hiroshima. Viséo mais ampla de Hiroshi- ma; toda a populagao e todas as construgées existentes num raio de cerca de 2 km do local onde caiu essa bomba foram destruidos. 6 Revista de Ensino de Ciéncias N: 11 — Dezembro 1984 Cratera de 200 metros de did- ‘metro produzida por uma ex- ploso nuclear de 100 kton (8 vezes maior que a bomba de Hiroshima) cerca de 50m abal- xo da superficie da terra. Essa cratera 6 semelhante & produ- zida pelo impacto dos meteo- ros; crateras como essa.a gen- te pode apreciar quando olha para a Lua, que tem esse as- pecto devido ao impacto do meteoros sobre ela ao longo dos tempos. Como se pode ver, toda a terra que enchia a cratera foi langada na atmos- Um incéndio nas refinarias de ‘Adaban. Como se pode veriticar, mesmo num incéndio convencional como 0 de uma refinaria, 6 lancada na atmosfera uma enorme quantidade de fumagae fuligem devido & combustéo de pertéleo. Quando a explosao nao é subterranea, ela também levanta enormes nuvens de poeira. Revista de Ensino de Ciéncias Ne 11 — Dezembro 1984 7 A Figura 1 é um desenho de um cogumelo nu- clear; como se pode ver, em decorréncia da explo- so, forma-se uma tremenda corrente ascendente de ar quente através do centro de um tordide, depois uma circulagao dos gases quentes e final- mente uma parede que é basicamente formada por posira; a corrente de ar suga uma quantidade jensa de poeira para a nuvem, que é formada por gases radioativos resultantes da exploséo da pré- pria bomba, Além disso, a terra também 6 tornada radioativa pelo efeito da bomba, Se a explosao for pequena, 0 cogumelo é pequeno, subindo a3 ou 4 km. Se a explosao for grande, ele sobe até a esti tosfera e este é 0 efeito novo discutido na reuniao do Vaticano e sobre 0 qual quero Ihes falar. Existem basicamente quatro efeitos de uma explo- s&o nuclear, como se pode ver na Figura 2: primeiro 6 uma onda de choque que produz pres- ses de algumas atmosferas e que derruba pratica- mente todas as construgdes que se encontrarem num raio que seré tanto maior quanto maior for 0 poder explosivo da bomba. Esse efeito mecanico basicamente destréi edificacdes. O segundo é uma radiagao térmica intensissima, que queima os se- res humanos e 08 destréi se eles estiverem perto; além disso, queima as habitagdes, ou o que sobrou delas devido & onda de choque, provocando uma enorme quantidade de inc&ndios. Finalmente, exis- tem a radiagéo nuclear imediata e a radiacao nu- clear “residual”, que se chama “fall out”; esta é a radicatividade que tem uma longa duragao de até varios anos, Na tabela 1 temos alguns nimeros caracteristicos das explosées nucleares. A presso mecanica con- tém 50% da energia; ela se propaga como uma onda de velocidade supersdnica que provoca uma enorme destrui¢ao enquanto vai-se expandindo. Enquanto a onda se esvai, forma-se um vacuo no lugar onde a explosao ocorreu e 0 que se segue é um tremendo tufao na direcgo contréria. O calor contém 33% da energia que é suficiente para cau- sar queimaduras terriveis e incéndios. Trés segun- dos apés a explosao, uma pessoa que esteja colo- cada a 500 metros a vé com uma intensidade de 600 sdis, 0 que provoca cegueira instantanea: a3 km de disténcia é de 40 sdis. Finalmente, a radia- 40 que & a mais insidiosa, contém 15% da energia, 3/4 dos quais sob a forma de raios X; 0 “fall out” contém 60% da radiacao. ‘Como existem ventos na maicria dos locais onde bombas explodem, o que acontece é que eles car- regam a radioatividade, tormando figuras que pare- ‘cem um elipsdide (Fig. 3). A radioatividade 6 muito 8 Revista de Ensino de Ciéncias N- 11 — Dezembro 1984 Pressio: 50% da energia ‘onda de pressio (velocidade supersbnica de 11 km em 30 seq) 3 tor/m? acompanhada por vento depois, equilibrio e vento na dirego oposta Calor: 33% da energia ssficiente para causar queimaduras ¢ in- CEndios 3 segundos apts a exploso 2500m 600sbis a 3km 40sbis Radiacgo: 15% da energia (3/4 raios x) early " fall out 60% da radiac30 Disténcia do Ponto de Explosio km Anan Velocidede do vento 24 km/h dose horéria (km) Tabela 2 Explosdes Nucleares Sobre o Japao Hiroshima (agosto 6, 1945) (populagao 350,000) 12.0001 (72k ton) 510m acima do centro 140,000 mortos até 31/dezenbro (40% da poputscio) iS km? totalmente destrudos inum raio de 500m: morte total num raio de 2km: 60% de mortes Nagasaki (agosto 9, 1945) (populago 280,000) (000 (22 k ton} 500 m acima do centro 74,000 mortos até 31/dezembro {26% da populacio) Tkm totalmente destrurdos Tempo dechesads hor “te Contornos de “Yall out” de 1 bomba 2Mton 18 horas ands a Explosio. 4 10 rads a 10 8 100 4f——s 300 | | h a J ° dose total mais forte perto da explosao e muito menos forte longe dela. Mesmo a 300 km a radiagao é conside- ravel. A tabela 2 resume o que ocorreu com as explosdes nucleares sobre o Japao. Em Hiroshima, com uma Populacao de 350 mil habitantes, em 6 de agosto de 1945, explodiu uma bomba de 12 kton, 510 metros acima do centro da cidade. Até 31 de de- zembro do mesmo ano, morreram 140 .nil pessoas, u seja, 40% da populagao e 13 quilémetros qua- drados foram totalmente destruidos. Em Nagasaki, de 280 mil habitantes, em 9 de agosto de 1945, explodiu uma bomba de 22 kton e morreram 74 mil Pessoas, ou seja, 26% da populagao, @ 7 quiléme- tros quadrados foram totalmente destruidos. A ra- 240 pela qual morreram menos pessoas em Naga- saki do que em Hiroshima é bem conhecida, Naga- saki 6 uma cidade com muitas montanhas, que protegeram parte da populacao. Num raio de 500 metros morreram todos os seres humanos e, num ralo de 2 km, 60% das pessoas. Revista de Ensino de Ciéncias N* 11 —Dezembro 1984 9 Tabela 3A, Namero de Ogivas Nucleares = — Poder explosive de cada ogiva <_100 kT 9 entre 100 kT e 1 MT 353_— 1.807 > IMT 5.538_— 11.639 Total 6.400_— 13455 Tabela 38 A tabela 3 mostra o estoque de armas nucleart dos EUA e da URSS. As ogivas séo classificadas e Poder Expl. das Ogivas Nui trés categorias: bombas menores de 100 kton, ist &, pouco maiores do que as de Hiroshima e Nag Poder explosive ‘saki; entre 100 kton e 1 Mton (Megaton), e maior de cada ogiva que 1 Mton. < 100kT ww 8 Os EUA possuem um numero razodvel de arm: Cie pequenas e um numero relativamente grande poereiMT ——128 _1.330 armas de porte médio. Ja os russos possuem ul ‘nimero muito maior de armas grandes. Voltarem Jogo adiante a discutir essa diferenca. 4 Efeito das explosdes nucleares sobre os Estados Unidos. 10 Revista de Ensino de Ciéncias Nt 11—Dezembro 1984 ‘Asoma do poder explosivo de todas as bombas da um total de cerca de 15.000 Mton, um milhao de © das bombas de Hiroshima e Unido Soviética com superioridade em. certos tipos de ogivas e os EVA com superioridade, ‘em outros. Nota-se contudo que os russos pos- ‘suem armas de maior poder explosivo, provavel- mente porque seus foguetes de langamento tém ‘menor preciso. Os americanos, como tém maior preciso no lancamento de foguetes, podem utili- zar armas de menor porte. A Figura 4 mostra o resultado de um exercicio feito ha dois anos por um grande grupo de cientistas convidado pela Academia Real da Suécia, a fim de ‘al, para distigui-la da que discutimos no Vaticano, que seria a guerra nuclear nao-convencional. Na Figura 4 cada ponto representa uma arma nu- clear e 0 elipsdide — com a forma de um “Charuto” — representa a faixa de radiacao letal. Pode-se ver que uma grande parte dos EUA seria destruida, mas nao todo o Pais. Eteito das explosoes nucleares sobre a Europa ea uRss. ‘A Figura 5 mostra o que aconteceria na Europa e URSS, que seriam praticamente obliteradas numa ‘guerra nuciear. Estes seriam os resultados que os estrategistas do grupo convidado pela Academia Real da Suécia consideraram razodveis: neste ‘exercicio as nagées beligerantes langariam uma sobre outra, metade de sous estoques nucleares. ‘Além da imensa destruicéo, haveria pelo menos ‘cerca de 300 milhdes de mortos nos EUA, Europa © Unido Sovietica Nao se disse até agora nenhuma palavra sobre o i des na isto 6,0 Foi este o tema que nos levou & reuniéo convocada pela Pontificia Acade- mia de Ciéncias do Vaticano No ano de 1983 um grupo de cientistas americanos fez comparacées sobre os efeitos de explosoes nucleares e os efeitos de fendmenos naturais bem ‘conhecidos como o da erupcao de vulcées. A Tabela 4 compara explosées nucleares, erupcdo ‘de vulodes e o impacto de meteoros. A mais conhe- cida destas erupodes ocorreu em 1883, em Java, na itha de Krakatoa. Essa ilha foi praticamente jogada pelos ares © 20 quildmetros cubicos de roch Revista de Ensino de Ciéncias N:11—Dezembro 1964 11 Tabela 4 Eruppées Vulednicas e Meteoros Queda de Evento ‘Quantidade de Poder Temperatura Poeira Produzida Explosive mM “Krakatoa *(1883) 20k. de rocha, 30 MT Tambors (1815) 150. -rocha: 225MT ‘Sta, Helena (1980) 3 rocha 10M El Chicon (1982) de rocha 1OMT Meteoro **(65 mithoes de anos AC) 108 = 109 MT Explosio nuclear “Tem de roche 20MT * 3s redugao da luz solar ** 10 km di8metro; velocidade 25 kmn/seg. cratera de 200 km diametro frequéncia: 100 milhdes de anos vertebrados maiores de 25 kg desapareceram ram langados na atmosfera. O poder explosivo cor- respondente foi estimado em 30 milhdes de tonela- das de TNT, ou seja, mil vezes o poder explosivo da bomba que destruiu Nagasaki. A poeira e os gases langados na atmosfera escureceram o céu aprecia- velmente, 0 que provocou uma queda global da temperatura da Terra de aproximadamente 0,6 graus centrigados. Isso pode parecer pouco, mas essa 6 a média sobre o globo terrestre. Em alguns lugares, a queda de temperatura chegou a cerca de 10 graus centigrados. Em 1815, em Java também ocorreu uma erupeao ainda maior, a de Tambora, em que 150 km* de posira foram langados na at- mosfera. Essa 6 uma poténcia explosiva de cerca de 225 Mton, que é ainda muito inferior ao estoque de armas nucleares que o homem construiu, O.ano de 1815 é conhecido na literatura como 0 ano em que nao houve veréo na Europa e nos Estados Unidos. Existe finalmente um outro evento para o qual desejo chamar a atengao: hé 65 milhdes de anos, um meteoro teria atingido a Terra produzindo um impacto com o poder explosivo de 100 mith6es de Megatons, isto , 10.000 vezes maior do que o Poder explosivo dos estoques nucleares. Este evento, para o qual as evidéncias séo indiretas, mas que esta sendo confirmado pelas evidéncias acumuladas, lancou tanta poeira na atmosfera, que a temperatura média da Terra baixou 40 graus yrados durante cerca de dois anos. Em conse- desapareceu da face da Terra metade das espécies vegetais © animais, incluindo os dinossau- ros, que eram os senhores da Terra nessa ocasiao, 12 Revista de Ensino de Ciéncias Nz 11—Dezembro 1984 A informacao que se ter nos registros arqueolégi- cos, € que nenhum mamifero de mais de 25 kg sobreviveu, o que constituiu uma catéstrofe de proporcées nunca vistas anteriormente sobre a fa- ce da Ter Inspirado nesses estudos sobre as erupcdes vulc: nicas e sobre o impacto de um meteoro sobre ‘Terra ha 65 milhdes de anos, um grupo de pesqui- sadores americanos liderado pelo conhecido astro- fisico Cari Sagan e um grupo da Academia de Ciéncias da Unido Soviética fizeram estudos que foram discutidos no Vaticano, em fins de janeiro. Tais estudos se baseiam numa simulagdo matemé- | tica, que esperamos jamais seja posta em prética Na simulacao calcularam-se as conseqiéncias cli- maticas das explosées nucleares de poder explosi- vo de 5.000 Mton; estes efeitos serao provocados pela enorme nuvem de posira que seria levantada pelas explosées e pela fumaca e gases provocados pelos incéndios resultantes, como o de Adaban, mostrado anteriormente. Esses estudos foram fei tos considerando uma variedade grande de cena- ios, 0 principais dos quais sao descritos na Tabe- la 5. As conseqiéncias dos diversos cendrios na temperatura média dos continentes so indicadas na Figura 6. ‘Se houvesse uma troca nuclear de 10.000 Mton, a temperatura média da Terra cairia rapidamente nos, primeiros dias; cerca de 80 dias apés a explosao, ela atingiria um minimo de 45 graus centrigados, abaixo de zero. Esse 6 0 caso mais severo. Ha casos menos severos, mas os efeitos sempre dura- iam pelo menos alguns meses. Esses estudos séo eminentemente interdisciplina- res. Fisica Nuclear entra como um dos ingredien- tes, mas entram também disciplinas como Climato- logia, Meteorologia e outras especialidades. Na reuniao do Vaticano estava presente, além de Carl Sagan, 0 grupo da Academia de Ciéncias da Tabela 5 Unido Soviética que trabalhou no assunto. Presen- tes estavam também bidlogos, zodlogos, geneticis- tas. @ outros cientistas. Os célculos dos russos indicados na Figura 7) foram até mais detalnados ‘que 0s dos americanos, que so célculos globais sobre a Terra; é impossivel, por exemplo, obter do trabalho dos americanos uma resposta especifica ‘do que poderia acontecer no Brasil Cenério da Guerra Nuclear eee —(2)_{3)____ 4) tg) 1 Cato de referéncia, Teréncia, jee contraataque 50005720 entre 0.1_e 10 10.400 WWesneus 3.000 M ton, 3.000_50__0 entre 1 e 10 14. Ataque contra cidades (100M ton) 100__0_100 4 1.000 16. Contra-ataque violento de 5,000 M ton 5.000 100 0 entre 5 70 17, Contra-ataque violento @ ataque contra cidades (10.000 M ton] 10.000 63 15 entie 0.1 e 10 16.1 GY Poder expiosivo total (M ton} (2) Percentagem de explosBes superficiais (3) Percentagem do poder explosive sobre alvos urbanos e industriais (4) Poder explosivo (M ton) (5)_Namero total de explosées Temperatura da Superticie da Tera (ec) (ory 20_| caro 11; Contreatsqhe de 3000 Mon en 20 Ag con ise 100 on 0 Soy 50 40 Femgeraru serongeterenio ds tpn | 20 ota ¥en of retertni) 20 ‘esau con's ence P ‘omvadtaqee $000 ton 10 ato 16: coniroatnauewolen F000 Hon — 10 | 20 ee |_=30 =40 ton =40 6 |_~s0 s efeitos de uma guerra nuclear sobre a temperatura ° 100 200 ‘300 da Terra. “Tempo spbs a explosSo (ais) Revista de Ensino de Ciéncias N: 11—Dezembro 19841 A queda da temperatura sobre 08 continentes. 40 dias apés a exploséo 243 dias apés a exploséo 378 dias apos a exploséo ‘As linhas da Figura 7 representam as quedas de ‘temperatura 40 dias apés a explosao. No centro da Eur par 4 ‘a queda seria de 50 graus centigrados. S6 waliar © que isto significa, um dos russos Revista de Ensino de Ciéncias N: 11—Dezembro 1984 presentes a reuniao contou que, no ano passado, a temperatura caiu a 45 graus abaixo de zero em, Moscou durante um més. Isso nao 6 anormal na, Unido Soviética (durante alguns dias), que esté preparada para invernos rigorosos. Apesar disso, 48°C abaixo de zero durante um més, a populacéo correu sério risco de morrer congelada, com toda a tecnologia moderna funcionando. Imaginem agora © que aconteceria num pais em que a explosao das bombas destruiria totalmente os meios de comuni- cago, fontes de energia, alimentos e hospitais, ao que se seguiria um terrive! “inverno nuclear’ A Figura 7 mostra que a Africa seria mais seriamen- te atingida que a América do Sul. As Figuras 13b 13c mostram as quedas de temperatura 243 e 378 dias apés as explosdes nucleares. Em conjunto, a Figura 7 mostra a evolucao da temperatura durante mais de um ano apés a guerra nuclear. Uma coisa curiosa nos calculos dos soviéticos & que a Ardbia Saudita seria um dos paises onde a temperatura cairia mais violentamente, devido & natureza do microclima daquela regiao. Tabela 6 Conclusdes Explosdo de 10,000 MT Temperaturas nos continentes poderdo air de 30°C ou mais Dose radioativa sobre grande parte do lobo 100 rads Radiacdo ultravioleta cinco vezes maior Durario: aproximadamente 1 ano ‘A Tabela 6 retine as conclusdes dos estudos. A dose radioativa sobre grande parte do globo seria, de aproximadamente 100 rads, o que colocaria em risco de vida uma fracao importante da populagao. ‘Além disso, a radiagdo ultravioleta se tornaria cin- co vezes maior porque essa nuvem de poeirae gas, que sobe para a estratosfera, acabaria destruindo Parcialmente a camada protetora de ozona que existe na estratosfera, aumentando, portanto, a ra- iagdo ultravioleta. O aumento dessa radiac&o se- ria uma causa importante do aumento do cancer de pele. Nas condigdes descritas na Figura 7. seria totalmente destruida a agricultura e, provavelmen- te, as florestas de uma boa parte da superficie da Terra. No terreno das especulagdes — jé que o clima da Terra é devido a um equilibrio critico de varios efeitos — acredita-se que as violentas quedas de temperatura provocariam efeitos muito grandes nas calotas polares ou nas neves eternas que se formariam devido as baixissimas temperaturas. Mais ainda, a nuvem de poeira que cobriria o He- misfério Norte, onde as explosdes ocorreriam, se distribuiria por toda a superficie da Terra. A idéia atual de que as nuvens radioativas permanecem no Hemistério onde elas sao geradas, simplesmente ndo 6 correta no caso de uma guerra nuclear de Grandes proporcdes. A razéo para essa mudanca é a seguinte: as perturbagdes do clima consideradas anteriormente eram pequenas; no momento em que uma parte da atmostera tem temperatura de 40 graus acima ou abaixo da temperatura normal, surgem correntes que fazem com que os efeitos se propaguem pelo outro hemistério. 0 objeto da reuniao do Vaticano foi discutir estes efeitos globais. Além de trés dias de uma intensa discusséo cientifica — com a franqueza usual que existe em reunides cientificas, em que cada pessoa tem que justificar cada palavra do que disse —, houve uma entrevista com Sua Santidade o Papa Joo Paulo ll, na qual foram expostos os resultados gerais do encontro. Os comentarios que o Sumo Pontifice fez foram muito interessantes; vou repeti- Jos aqui e encerrar com isso minha apresentacao. O primeiro deles foi o de que 0 objeto de guerra éa destruigao do adversario, nao a destruigao em si. Como a guerra nuclear discutida por nés sera uma guerra de destruicéo, ele faria um novo apelo — como ja havia feito no passado — as grandes poténcias, para que eliminassem este tipo de ar- mas dos possiveis conflitos que pudessem ocorrer entre el (© segundo dos comentérios é o de que os cie tas criaram as armas nucleares, que nao existem na natureza. Além das forcas destrutivas naturais, 0 homem criou agora uma forga destrutiva compara- da as existentes na natureza. ‘Segundo 0 Papa, a ciéncia e os cientistas sAo os responsavels por isso. As grandes poténcias usam as armas nucleares como um dissuasor. Em nome dessa dissuasao se criou uma espiral armamentis- ta, em que cada nagao produz cada vez mais essas armas. Por essa raz4o, Sua Santidade considerou como um dever moral dos cientistas presentes es- Clarecer as autoridades e 0 resto da populacéo sobre os perigos de uma guerra nuclear. Com isto se poderia criar uma dissuaséo moral para que armas nucleares nao sejam usadas em conflitos ‘entre os homens. Revista de Ensino de Ciéncias N:11—Dezembro 1964 15

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