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branco
cenas
prefácio

“Está a desenvolver-se uma nova consciência, uma que vê a Terra


como um único organismo, e que reconhece que um organismo
em guerra consigo mesmo, está condenado. Somos um planeta.”

Carl Sagan
humano, sustentável e produtivo. Para tal, temos de compreender
quem somos, onde estamos, o que temos, o que queremos e como
vamos alcançar os nossos objectivos. Dada a situação actual, muito
do que abordaremos na primeira parte deste livro, poderá levar o
leitor a pensar que nós não só precisamos de tomar outro rumo... nós
temos de o tomar. O vigente sistema económico está a desmoronar-
-se a um ritmo acelerado, com a perspectiva de desemprego a au-
mentar a uma escala mundial nunca antes vista. Simultaneamente,
estamos a chegar a um “ponto sem retorno” em relação à destrui-
ção do meio-ambiente.

O Movimento Zeitgeist é o braço activista do Projecto Vénus, que re- Está provado que com os correntes métodos de conduta social não
sulta do trabalho desenvolvido por Jacque Fresco ao longo da sua há hipótese de resolver problemas como a destruição ambiental, o
vida enquanto designer industrial e engenheiro social. Jacque vive conflito humano, a pobreza, a corrupção e qualquer outro assunto
actualmente em Vénus, Florida e trabalha conjuntamente com a sua que reduza a possibilidade de sustentabilidade humana colectiva no
colaboradora, Roxanne Meadows. Deixemos claro desde já que o Sr. nosso planeta. Está na hora de crescermos enquanto espécie e exa-
Fresco será o primeiro a dizer-lhe que as suas perspectivas e desen- minar realmente quais são os verdadeiros problemas e as suas so-
volvimentos não são inteiramente suas, mas sim unicamente o re- luções, por mais desconfortáveis, não tradicionais e estranhas que
sultado da evolução do questionamento científico que se preservou elas possam parecer.
desde o início da antiguidade. Sucintamente, o que o Projecto Vénus
representa e o que o Movimento Zeitgeist por conseguinte defende, Esta obra irá explanar, antes de mais, os actuais problemas económi-
é em suma: “A aplicação do Método Científico para benefício social”. cos que enfrentamos, reconhecendo as suas raízes, consequências e
inevitabilidades, apresentando em seguida soluções derivadas de uma
Através da aplicação humana da ciência e da tecnologia para o de- avaliação do que é actualmente relevante à vida e à sociedade. Além
sign social e para a tomada de decisões, nós temos os meios para disso, serão providenciadas informações sobre como cada um de nós
transformar o nosso ambiente tribal, guiado pela escassez e repleto pode ajudar neste desafio, ao apresentar métodos de comunicação e
de corrupção em algo extremamente mais organizado, equilibrado, activismo que, possivelmente, acelerarão o processo de transformação.

6 7
É muito importante que aqueles que começarem esta leitura parem
por um momento e pensem para além da perspectiva em que foram
doutrinados. Considerando a actual vastidão dos valores e ideolo-
gias humanas, juntamente com a identificação a uma linha de pen-
samento específica, tradição ou noção de realidade que cresce com
o tempo, pode ser difícil e até doloroso para uma pessoa rever ou
remover os seus estimados conceitos que considerou como verda-
deiros por longos períodos de tempo. Essa associação do ‘ego’ com-
binada com o estado perpétuo de ‘conhecimento limitado’ que cada
um de nós possui, será o maior obstáculo que muitos enfrentarão ao
lerem as informações aqui presentes. É hora de ampliarmos as nos-
sas lealdades e filiações para além dos estreitos confins do mercado,
tradição e do estado-nação para abrangermos a espécie humana
como um todo, juntamente com o ambiente planetário que nos sus-
tenta. Está na hora de vermos a Terra como um conjunto orgânico
inseparável, uma entidade viva composta por inúmeras formas de
vida, todas unidas numa única comunidade.

Se a própria natureza nos ensinou alguma coisa, foi que a única cons-
tante é a mudança. Não existem utopias. Por isso, para crescermos
produtivamente enquanto espécie, temos de nos tornar especialis-
tas em “mudar as nossas mentes” a respeito de tudo. Se você esco-
lher abordar este material com um esforço consciente para manter a
mente aberta e ser objectivo, sentimos que as ideias aqui expressas
irão realinhar a sua visão do mundo, você mesmo e o futuro da nossa
família humana de uma forma mais produtiva, compassiva e eficaz.

8
Economia Baseada em Recursos
parte

índice
3
Capítulo 5 — Cibernização Social
O Projecto Vénus
Industria e Trabalho
governo

Economia Monetária
parte
Capítulo 6 — Cidades que pensam
A Cidade Circular

1
TransporteS
Capítulo 1 — Mecanismos e Consequências Estilo de vida
defenindo os nossos termos
A Necessidade de Consumo Cíclico
A Abundância da Escassez
parte SUPERANDO A MITOLOGIA

4
A Prioridade do Lucro
A Distorção de Valores capítulo 7 — Natureza contra Criação
Manipulação Fiscal Comportamento humano
Capítulo 2 — O Fracasso Final O Sistema Legal
Para Lá da Irresponsabilidade capítulo 8 — Espiritualidade Funcional
o ciclo económico O Ideal Religioso
O derradeiro outsourcing Falar é bARATO

parte
O que é Relevante?
parte Tomar medidas

2
Capítulo 3 — A Lei Natural
O Método Científico
Equilíbrio Dinâmico
capítulo 4 — Meios para uma Evolução Social
5
capítulo 9 — O Movimento
A Missão do Movimento na Sociedade
Superar as diferenças
Fases do Movimento
Activismo no Movimento
Objectivos
Níveis de Activismo
Método
Equipas de Activismo
Ferramentas
Processo
Parte 1 — economia monetária

Capítulo 1

Mecanismos
e Consequências

“É bom que as pessoas da nação não entendam o nosso sistema


bancário e monetário, porque se o entendessem, eu acredito
que haveria uma revolução antes de amanhã de manhã.”

Henry Ford
normalmente começa no “Comunismo” (máximo controlo por parte
do estado), passa pelo Socialismo (controlo parcial por parte do
estado) e termina no Capitalismo (pouco ou nenhum controlo por
parte do estado). Essas variantes mecânico-económicas podem ser
Definindo os nossos termos chamadas “Sistemas Sociais”.

O Comunismo é referido aqui na forma em que foi historicamente aplicado e


não nas suas formas idealizadas que defendem a abolição do dinheiro. nota
Actualmente, o sistema social predominante a nível mundial é o
Capitalismo. O Capitalismo, que muitas vezes é posto sob a alçada
O termo “Economia” é geralmente definido como ‘a ciência social de outro conceito teórico conhecido como “Mercado Livre”, define-
que estuda a produção, distribuição e consumo de bens e serviços’.1 -se como: “um sistema económico no qual os meios de produção
Neste início do século XXI, o mecanismo que prevalece em prati- estão na posse de privados, são usados para obter lucro e onde in-
camente todas as economias do mundo é algum tipo de “Sistema vestimentos, distribuição, rendimento, produção e os preços dos
Monetário”. Um Sistema Monetário usa um meio de troca inter- bens e serviços são predominantemente determinados através do
médio, conhecido como ‘dinheiro’, como forma de possibilitar o funcionamento de um ‘mercado livre’.2
emprego, a produção, distribuição e consumo de bens e serviços. A
utilização deste método monetário de troca como base de um siste- Um “Mercado Livre” é essencialmente uma forma de comércio não
ma económico pode denominar-se: “Economia Monetária”. regulado onde “o preço dos bens e serviços são completamente defi-
nidos pelo consenso mútuo de vendedores e compradores; portanto,
Hoje em dia, embora praticamente nenhuma nação no mundo use a lei da oferta e da procura determina os preços e distribui os abas-
outra teoria senão a Teoria da Economia Monetária nas suas opera- tecimentos disponíveis, sem a intervenção do governo”.3 Existem
ções correntes, estão indubitavelmente presentes certas variantes. muitas interpretações e escolas de pensamento sobre a noção de
Em termos gerais, essas variantes têm a ver com o grau de contro- “Mercado Livre”. Por exemplo, uma das mais extremas e ainda ac-
le do sistema pelo governo de um país. A actual ‘escala’, começan- tivas ideologias, é a da “Escola Austríaca”, a qual defende a noção
do na maior e acabando na menor regulamentação (ou controle), de “laissez-faire” que simplesmente significa a não-intervenção do

1. pt.wikipedia.org/wiki/Economia 2. pt.wikipedia.org/wiki/Capitalismo.
3. en.wikipedia.org/wiki/Free_market

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estado nas questões económicas. Nesta perspectiva, a “segurança Por exemplo:
social” e outros programas ‘sociais’ patrocinados pelo estado seriam
considerados inadequados. Imagine-se o tempo e esforço necessários para fabricar uma simples
camisa antes do advento da electricidade e da tecnologia industrial
A evolução, aplicação e interpretação da Economia deram origem a uma quan- avançada. O processo geral poderia ser: preparar o solo — plantar
tidade incrivelmente grande de textos e continuam a ser debatidas, sem fim à a semente do algodão — supervisionar o período de crescimento —
nota vista. O interesse deste manual não é o de apresentar uma dissertação detalha-
da sobre Economia. Na verdade, um dos intuitos deste manual é o de mostrar
como, através do advento da Tecnologia e da eliminação da Escassez, 99% de
colher o algodão — extrair a semente — fiar o algodão, transformá-
-lo em linha — tecer a linha, transformá-la em tecido — e, com o
todas as teorias económicas são agora exercícios obsoletos e irrelevantes.
tecido, confeccionar a camisa.

Pondo de lado, por agora, a terminologia geral, uma vertente Dado o exemplo acima, apenas levando em consideração a mão-de-
bastante relevante na economia monetária é a “Teoria do Valor”. -obra, o valor da camisa seria relativamente alto e provavelmente
O grau de ‘valor’ de um produto ou serviço deriva essencialmente seria vendida por um preço de acordo com o trabalho despendido.
de dois factores. O valor da semente do algodão (matéria-prima) seria insignificante
já que ela é produzida como um subproduto da colheita principal, fa-
❶ — A escassez (disponibilidade) dos materiais usados. zendo com que o seu grau de escassez seja muito baixo. Portanto, o
❷ — A quantidade de mão-de-obra necessária para produzir um valor real desta camisa vem do trabalho envolvido.
produto ou serviço.
Agora, no campo das hipóteses, e se a mão-de-obra não fosse de
Existem formas ainda mais subjectivas de valor, específicas a certas categorias todo necessária a este processo de produção, enquanto que a se-
demográficas, onde certas “marcas” criam preços (valor projectado) que não mente do algodão / água / luz solar / solo mantinham a sua abundân-
são baseados no valor da mão-de-obra ou valor material palpável, mas no “es-
cia natural? Qual seria então o valor da camisa? Obviamente, não
nota
tatuto de identidade” do item em si, como é avaliado pela cultura consumista.
Isto é uma forma menos relevante de “valor económico” e será mais discutida teria valor nenhum.
na secção chamada: “Distorção de Valores” mais à frente no Capítulo. Também,
o valor de instrumentos financeiros, por exemplo, títulos trocados na bolsa de
valores, são também objectivamente irrelevantes, relativamente à produção e No início do século XXI, as funções de plantar e colher produtos agrí-
distribuição efectiva.
colas estão já mecanizadas ao ponto de um único fazendeiro poder
trabalhar centenas de hectares de terra sozinho. O aparecimento de

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equipamentos têxteis, como a máquina de descaroçar o algodão, a devido ao que estamos habituados a experienciar no dia-a-dia.
Cotton Gin, reduziram dramaticamente o esforço humano, enquan- Independentemente da sua opinião, o facto é que a tendência de
to que com a actual informatização dos processos industriais, assis- constante avanço tecnológico, aliado à automatização mecânica,
timos a uma constante tendência para a automatização quase total pode teoricamente criar um ambiente económico onde a abundân-
das indústrias agrícola e têxtil, entre muitas outras. cia de materiais e meios de produção seriam tão elevados e eficien-
tes, que a maioria dos seres humanos teria pouca necessidade de
A questão é que o emprego do termo “Valor Económico” como uma ‘adquirir’ algo, muito menos de ‘trabalhar para viver’ no sentido tra-
noção económica aparentemente estática está a ser agora revista dicional. Mais especificamente, mesmo se as máquinas substituírem
por essa influência tecnológica (cada vez maior facilidade de produ- lentamente apenas uma pequena minoria de pessoas, aumentando
ção / abundância material) que pode, teoricamente, eliminar total- o desemprego, as consequências seriam sistémicas e todo o sistema
mente a noção de ‘valor’. económico se tornaria cada vez mais instável e inoperante. Este as-
sunto será desenvolvido nos capítulos 2 e 5.
Quando a mão-de-obra é reduzida / substituída por tecnologia e au-
tomatização, o suposto ‘valor’, que é obtido transformando o ‘tra- Deixando esta questão de lado por agora, vamos examinar alguns
balho’ em ‘preço’ cai respectivamente. O ‘valor’ do produto seria mecanismos empíricos de que a economia monetária necessita, no
então transferido para a criação / manutenção da maquinaria, que contexto específico do capitalismo, para manter a integridade do
agora faz o papel dos trabalhadores. Consequentemente, quanto sistema. Nas restantes secções deste capítulo, discutiremos os 5
mais eficientes, duráveis e sustentáveis estas máquinas operárias atributos fundamentais necessários à manutenção do sistema, bem
forem, maior será a queda do ‘valor’ da produção. como o raciocínio subjacente e as suas consequências.

A conclusão é que o padrão de automatização mecânica, junta-


mente com inovações modernas que estão a encontrar substitu-
tos para recursos “escassos”, poderia conduzir-nos a um ponto
onde nenhum bem ou serviço precisaria de um “valor” ou etique-
ta de preço. Deixaria simplesmente de fazer sentido, teoricamente.
Para a maioria das pessoas tal seria algo muito difícil de acreditar,

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eles obtêm, são usados para comprar bens e serviços relevantes
para a sua sobrevivência.

Mecanismo 1 O acto de adquirir bens e serviços, que é o papel do Consumidor, é o


A Necessidade de Consumo Cíclico que permite ao Empregador obter o seu “Lucro” ao mesmo tempo
que torna possível o pagamento do “Salário” do Empregado.

Por outras palavras, é a necessidade de ‘Consumo’ perpétuo que


mantém o negócio do Empregador em funcionamento e garante o
emprego ao Empregado.

O papel das pessoas num sistema monetário é basicamente dividi- Entretanto, é importante compreender que este ciclo de paga-
do em três distinções: mento-consumo (ou “consumo cíclico”) não pode parar, ou toda a
estrutura económica entraria em colapso, porque o dinheiro não
O Empregado, o Consumidor e o Empregador (ou Dono / Produtor). chegaria ao Empregador e este não poderia efectuar o pagamento
do Empregado e tanto o Empregador como o Empregado não po-
Existe ainda o Investidor, que dá apoio financeiro a um Empregador / Dono  deriam perpetuar o ciclo ao serem Consumidores.

nota / Produtor, ou negoceia nos mercados financeiros para obter lucro. Isto não é
relevante no nosso contexto porque não é necessário existir um investidor para
que o sistema de mercado funcione. Consequência:

O Empregado cumpre certas tarefas para o Empregador em troca ❶ — Nada fisicamente produzido pode manter um tempo de vida
de um “Salário” ou pagamento monetário, enquanto que o empre- operacional maior do que o suportável de maneira a manter a inte-
gador vende bens ou serviços ao Consumidor por um “Lucro”- outra gridade económica através do ‘consumo cíclico’.
classificação para pagamento monetário.
Por outras palavras, cada ‘bem’ produzido tem que avariar num
Por sua vez, o Empregador e o Empregado funcionam como Con- respectivo período de tempo, de modo que a circulação financei-
sumidores, pois os pagamentos monetários (“salário” e “lucro”) que ra continue a suportar os jogadores (Consumidor / Empregado /

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Empregador) deste jogo. Esta característica pode ser definida como: ‘A Necessidade de Consumo Cíclico’, que pode ser considerada o
“Obsolescência Planeada”. ‘motor’ que fortalece todo o sistema económico, é inerentemente
perigosa e corrupta, pois a natureza desta necessidade não permite
A Obsolescência Planeada manifesta-se geralmente de duas formas: que práticas ambientais sustentáveis sejam maximizadas. A cons-
tante recriação de produtos inferiores desperdiça recursos disponí-
Intencional: Retenção deliberada da eficiência de modo que o pro- veis e polui o meio-ambiente.
duto em questão avarie.
Explicando de outro modo, imagine as consequências económicas
Consequêncial: São feitos ajustes na produção, motivados pela de métodos de produção cuja estratégia fosse maximizar a efici-
maximização do Lucro, normalmente na forma de materiais bara- ência e a sustentabilidade de tudo o que fosse criado, utilizando os
tos / design ineficiente, num esforço para poupar e criar consumido- melhores materiais e técnicas disponíveis da época. Imagine-se um
res repetitivos. Isto traduz-se imediatamente num produto inferior. carro tão bem projectado que não precisasse de manutenção por
(Por exemplo: O uso de plástico para compartimentos electrónicos 100 anos. Imagine-se uma casa construída com materiais à prova
é mais barato para as empresas e para o consumidor, mas a durabi- de fogo onde todos os utensílios, electrodomésticos, canalizações e
lidade deste material é muito pobre comparada com, digamos, titâ- afins seriam feitos dos recursos mais impermeáveis e de maior inte-
nio, que é muito mais caro.) gridade disponíveis na Terra. Num mundo são, onde nós realmente
criaríamos as coisas para durar, minimizando a poluição / desperdí-
❷ — ­A introdução de novos produtos e serviços deve ser constan- cio, devido à ausência de multiplicidade e à maximização da efici-
te para contrabalançar qualquer aumento de eficiência de gerações ência, um sistema monetário seria impossível, já que o ‘consumo
anteriores de produtos, independentemente da utilidade funcional, cíclico’ diminuiria drasticamente, enfraquecendo permanentemen-
gerando desperdício contínuo. te o chamado “crescimento económico”.

Ou seja, o desperdício é um subproduto intencional da necessidade


da indústria manter o ‘consumo cíclico’. Isto significa que o produto
substituído / obsoleto é deitado fora, geralmente acabando em lixei-
ras, poluindo o meio-ambiente. A multiplicidade constante acelera
a poluição.

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“A Ganância e a Competição não resultam de um temperamento
humano imutável...a ganância e o medo da escassez são de facto,
continuamente criados e amplificados como consequência directa
Mecanismo 2 do tipo de dinheiro que utilizamos... Podemos produzir mais do que
A Abundância da Escassez o suficiente para alimentar toda a gente...mas é evidente que não
existe dinheiro suficiente para pagar isso tudo. A escassez está nas
nossas moedas nacionais. Na realidade, o papel do banco central é
criar e manter a escassez monetária. A consequência directa é que
temos de lutar uns com os outros para sobreviver.”4

Todas as ramificações desta abundância de escassez são prejudiciais.


Em Economia Monetária, a noção de “Procura e Oferta” é uma ideia Se pode ser obtido lucro como consequência da escassez gerada
bem conhecida, definindo simplesmente que “quanto mais houver pela poluição ambiental, imediatamente é criado um reforço doen-
de algo, menor será o seu valor”. Por exemplo, a água potável tem tio de indiferença à preocupação ambiental. Se as empresas sabem
sido um recurso bastante abundante ao longo da história, que nor- que podem ganhar mais dinheiro mantendo escassos os seus recur-
malmente não requeria um pagamento para seu consumo numa sos ou produtos, como pode um mundo de abundância vir algum dia
perspectiva comercial. Contudo, com a poluição dos lençóis de água a existir? Não pode, pois as empresas estarão motivadas para, criar
e dos sistemas aquíferos urbanos, a água potável filtrada é agora a escassez, se for preciso. Por sua vez, a escassez criada pelos ban-
comercializada, muitas vezes por um preço por litro maior que o do cos centrais no próprio fornecimento de moeda, aumenta a motiva-
petróleo. Em outras palavras, é lucrativo que os recursos sejam es- ção para competirmos uns com os outros, gerando um tribalismo de
cassos. Se uma empresa puder convencer o público de que o produto “cada um por si”, anti-ético e primitivo, produzindo stress humano,
dela é “raro”, poderá cobrar mais por esse produto. Isto fornece uma conflito e mal-estar.
forte motivação a manter a escassez dos seus produtos. A outro nível,
deverá sublinhar-se o facto de que também os bancos centrais de
praticamente todos os países criam escassez dentro do próprio for-
necimento de dinheiro com o fim de manter o mercado sob pressão.
Bernard Lietaer, co-autor do sistema monetário da UE sublinha que:

4. Liataer, Bernard “Beyond Greed and Scarcity”, Yes Magazine, 1997

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sobre os padrões “éticos” que regulam as suas práticas, a História
tem mostrado que a prioridade do lucro é na verdade uma doença,
que não só envenena o nosso bem-estar pessoal / social e o nosso
Mecanismo 3 modo de vida, como também o meio-ambiente de que dependemos
A Prioridade do Lucro para praticamente todas as nossas necessidades como espécie.

No entanto, antes de enumerarmos as consequências negativas re-


sultantes desta ‘mentalidade’, vamos analisar o que muitos conside-
ram o lado bom desta prioridade do lucro — o “Incentivo”.

De acordo com a teoria, a necessidade de lucro dá motivação à pes-


O principal mecanismo de motivação num sistema monetário é o soa / organização para trabalhar em novas ideias / produtos que ven-
Lucro, ou a aquisição de dinheiro através da exploração de outros. dam no mercado. Noutras palavras, assume-se que se as pessoas
não fossem motivadas pela necessidade de sobreviver através do
A bem da simplicidade, o termo ‘lucro’ será empregue como sinónimo de ‘rendi- lucro, haveria muito pouco progresso social.

nota mento’ e ‘salário’. Embora as classificações económicas clássicas separem estas


noções, os termos referem-se simplesmente à aquisição de dinheiro. O assala-
riado ‘lucra’ com o seu trabalho, simplesmente porque se trata de rendimento. Em primeiro lugar, é de referir que as contribuições mais importan-
tes para a sociedade não vieram de corporações procurando o lucro.
Nikola Tesla não inventou a corrente eléctrica alternada porque
De maneira a sobreviver, cada participante deve procurar uma estra- queria ganhar dinheiro. Louis Pasteur, Charles Darwin, os irmãos
tégia para obter rendimento. Um “assalariado” procura o melhor pa- Wright, Albert Einstein e Isaac Newton não deram as suas enormes
gamento possível pelos seus serviços, enquanto que um Empregador contribuições para a sociedade devido ao interesse material próprio.
(dono / produtor) procura constantemente reduzir custos de maneira Embora seja verdade que algumas invenções e métodos úteis vie-
a maximizar o lucro. Essa é a “mentalidade” dominante num sistema ram da motivação por lucro pessoal, a intenção por trás dessas cria-
monetário e aqueles que estão em posições de grande riqueza (“su- ções normalmente não tem nada a ver com preocupações humanas
cesso” material) são muitas vezes os mais implacáveis. Apesar de ou sociais, já que o interesse próprio e a sobrevivência são as verda-
muitos dos apologistas do sistema do lucro dissertarem longamente deiras motivações.

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O interesse no lucro tem quase sempre precedência sobre o interesse de estratégia para ganho monetário é corrupto na sua própria essên-
humano. Um rápido olhar sobre os conservantes cancerígenos nos cia...ele só é aceite como “normal” por uma cultura condicionada, no
nossos alimentos, a obsolescência planeada em praticamente tudo grau que seja considerado tolerável pelo consenso geral.
o que é fabricado e ainda um serviço de saúde (privado Americano)
que cobra quase 217€ por um único comprimido de antibiótico, vai Por exemplo, quando se vai ao supermercado e se compra uma caixa
indicar-nos que o ‘incentivo baseado no lucro’ é na verdade prejudi- de cereais, 90% das vezes a quantidade de cereal ocupa apenas 60%
cial, pois o seu verdadeiro incentivo não está em contribuir para a do espaço dentro da caixa. Esta ‘estratégia publicitária’, como diria
sociedade, mas apenas para extrair riqueza da mesma de todas as a empresa produtora, é na realidade uma mentira flagrante e imoral.
formas possíveis. Na verdade, o lucro é um falso incentivo. Os pro- As agências de publicidade, com todas suas tácticas de manipulação
blemas da nossa sociedade monetarista só serão resolvidos se for social, estão provavelmente entre as instituições mais corruptas do
lucrativo resolvê-los. planeta. Infelizmente, fomos condicionados a chamar a isto ‘pro-
moção’ ou ‘estratégia’. Este tema da distorção social criada pela pu-
Consequência: blicidade será desenvolvido na secção “Distorção de Valores” deste
capítulo.
As ramificações psicológicas / sociais resultantes da prioridade ao
lucro têm consequências graves ao nível da conduta dos seres hu- Agora, para colocarmos o espectro da corrupção monetária numa
manos. De facto, foi criada toda uma estrutura de controlo, imposto perspectiva funcional, vamos dividir este comportamento aberran-
de maneira a lidar com os intermináveis problemas que a necessi- te em 3 classificações: Crime Corrente — Crime Corporativo — Crime
dade de sobrevivência via ganho / lucro / capital traz — O Sistema Governamental.
Legal. Embora os crimes sem motivação monetária, muitas vezes
com origem no ego, na inveja, em privações emocionais ou outros O Crime Corrente, que deriva da procura de dinheiro, varia desde o
problemas psicológicos, sejam um problema actual, a frequência pequeno furto, venda ilegal, fraude, até ao assalto violento. Muitas
destes crimes não é de todo comparável à frequência dos crimes que vezes não é dada a atenção necessária a este subproduto do siste-
são motivados pela aquisição de dinheiro ou propriedade. Na verda- ma monetário para compreender a sua origem, pois muitos tendem
de, se definirmos “Crime” como “Corrupção” e “Corrupção” como a rejeitar estes “criminosos” como se eles fossem uma espécie de
“Perversão Moral, Desonestidade”, surge toda uma nova perspecti- anomalia social, em vez de relacionar a sua origem com a necessida-
va. Porque um olhar atento revelará que praticamente todo o acto de de sobrevivência. O stress inerente e outros efeitos secundários

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relacionados com a privação são também negligenciados. Não é de admirar que os bairros mais pobres dos Estados Unidos
mantenham as maiores taxas de criminalidade. Uma pessoa que
O estudo “Merva-Fowles”, realizado pela Universidade do Utah nos nasce num ambiente de escassez, com poucos recursos, fraca edu-
anos 90, encontrou ligações estreitas entre o desemprego e o crime. cação e poucas oportunidades de emprego, fará o que for preciso
A pesquisa foi realizada nas 30 maiores áreas metropolitanas (dos para sobreviver. A questão é que a privação económica (escassez) é
EUA), com uma população total de mais de 80 milhões de habitantes. que cria este tipo de comportamento aberrante e não a tanta vezes
citada “tendência para o crime”.
Os resultados mostraram que um aumento de 1% no desemprego
resultou num aumento de: O Crime Corporativo, que quase sempre é exclusivamente relacio-
nado com o lucro, toma muitas formas: Obsolescência Planeada,
6,7% nos homicídios; Manipulação do Mercado, Sub-contratação, Fixação dos Preços,
3,4% nos crimes violentos; Conluio Monopolista, Exploração de Mão-de-Obra e Conluio
2,4% nos crimes contra a propriedade. Governamental são apenas alguns. Desde a decisão da empresa
Enron de desligar centrais de energia eléctrica na Califórnia para au-
Durante o período entre 1990 e 1992, isto traduziu-se em mais: mentar as suas reservas de energia,6 até à distribuição deliberada,
pela Bayer, de medicamentos infectados com o vírus da SIDA,7 devia
1459 homicídios; ser claro para a maioria das pessoas que o crime corporativo é per-
62,607 crimes violentos; manente e, muitas vezes, mais pérfido que o “Crime Corrente”, pois
223,500 crimes contra a propriedade.5 as suas consequências tendem a afectar grupos de pessoas muito
mais numerosos.
Se tomarmos uma pessoa boa, ética e “integra”, se a privarmos de
toda a sua riqueza e recursos e a largarmos num bairro pobre tendo A necessidade que o “Criminoso Corporativo” tem de assegurar a
apenas a roupa que lhe cobre o corpo, há grandes probabilidades rentabilidade de um negócio não é muito diferente da necessidade
dessa pessoa começar a mentir, trair e roubar para sobreviver. de sobrevivência do “Criminoso Corrente”. Enquanto o último nor-
malmente comete crimes para sobreviver, o primeiro fá-lo para as-
segurar ainda mais a sua posição de poder, o seu estilo de vida e a
sua riqueza. É um comportamento baseado no medo. A noção de

5. Merva & Fowles, Effects of Diminished Economic Opportunities 6. http://www.nytimes.com/2005/02/04/national/04energy.html


on Social Stress, Economic Policy Institute, 1992 7. http://www.naturalnews.com/News_000647_Bayer_vaccines_HIV.html

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“Ganância”, que se manifesta a partir de uma insegurança perpétua Em primeiro lugar, todos os membros do governo devem receber
derivada do medo de perder o que se possui, serve como factor mo- um salário e todos os projectos que criam devem ter financiamento.
tivante para a maioria dos crimes corporativos. É como o vício do Aparentemente, essa verba vem dos “impostos” sobre o público em
jogo. Quanto mais se ganha, mais se quer ganhar. Esta neurose é geral, ou de empréstimos de bancos ou de outros governos. Os im-
perpetuada / reforçada pela estratificação social que o sistema mo- postos são gerados através do ‘comércio’ ou ‘rendimento comercial’,
netário cria, pois há uma progressão infinita de “luxos” disponíveis enquanto que os empréstimos, teoricamente, devem ser pagos com
à medida que o poder de compra de alguém aumenta (i.e: mansões, dinheiro obtido de outro modo, seja por mais comércio, mais em-
iates, limusinas, diamantes, terrenos, etc). Mais sobre este assunto préstimos ou mais impostos.
na próxima secção: “A Distorção de Valores”.
A função central do governo é o desenvolvimento da legislação regu-
Os Crimes Governamentais são uma das formas de conduta mais ladora para lidar com o funcionamento da sociedade. Idealmente, os
difíceis e complexas a ter em consideração, pois a percepção do interesses gerais do povo seriam a prioridade número um do gover-
governo é bastante modificada pelos valores predominantes que a no. Infelizmente, como a história nos mostra, não é esse o caso e ra-
“classe dominante” perpetua na sociedade, através dos meios de co- ramente tem sido. Em vez disso o governo, tal como o conhecemos,
municação social e do tradicional chauvinismo. Por outras palavras, é na realidade a “empresa-mãe” de todas as outras corporações ac-
se recordarmos os horrores de Hitler, geralmente esquecemo-nos tivas na economia de um país. Claro que tal faz sentido, uma vez que
de que muitos alemães também mantiveram o sistema de valores o valor de uma nação é de facto determinado pelo estado da sua
anti-semita, propagado pelo regime através de panfletos e trans- economia. Isto significa que o governo tem um “Interesse Investido”
missões radiofónicas. O mesmo se pode dizer da invasão do Iraque na situação económica da sua nação, mais especificamente, interes-
pelos Estados Unidos. Inicialmente alimentada pelo apoio público, se nos membros da sua própria classe — a classe alta.
por causa do ódio e medo dos alegados “terroristas islâmicos”, gera-
dos pelos ataques de 11 de Setembro de 2001. Dito isto, vamos pôr “Interesse Investido”, ou seja, alguém ou um grupo que tem algo
de lado os nossos valores tradicionalistas de lealdade e “patriotismo” a ganhar ou a perder pendente de uma decisão governamental, é
e olhar objectivamente para o que realmente um governo é e repre- como uma estrada de dois sentidos. Um político pode receber “con-
senta dentro de um Sistema Monetário. tribuições” de uma empresa que ele favorece nas suas decisões, en-
quanto que a companhia ganha com as decisões que ele executou
em seu favor. Nos EUA, os grupos de pressão (lobbies) movimentam

34 35
milhares de milhões de dólares por ano. Esses montantes são ofere- e bilionários nos Estados Unidos durante a Guerra Mundial... O
cidos inteiramente sob o pretexto de “colocar em acção” a agenda Sexagésimo Quinto Congresso, referindo os ganhos empresariais
das entidades doadoras. e os rendimentos governamentais: Considerando os lucros de 122
empacotadores de carne, 153 produtores de algodão, 299 fabrican-
Embora existam vastos exemplos de conluio governamental e em- tes de vestuário, 49 siderurgias e 340 produtores de carvão durante
presarial, desde a admissão de fármacos não testados pela Food and a guerra: Lucros abaixo de 25 por cento eram excepções. Por exem-
Drug Administration, entidade responsável pela aprovação de pro- plo, durante a guerra as companhias produtoras de carvão lucraram
dutos farmacêuticos nos EUA, até ao sucesso do lobby de petróleo entre 100% e 7856% do seu valor bolsista. Os empacotadores de
em reverter a Lei de Zero Emissões da Califórnia, o que quase forçou carne de Chicago duplicaram ou triplicaram os seus ganhos.
a retirada dos carros ‘eléctricos’ não poluentes do mercado, o maior
crime governamental derivado do monetarismo é o uso da guerra Não esqueçamos ainda os banqueiros que financiaram a Grande
para o benefício dos seus constituintes empresariais / financeiros. Guerra. Se a alguém calhou a ‘nata’ dos lucros, foi aos banqueiros.
Sendo sociedades por quotas, em vez de sociedades anónimas, eles
Nas palavras do Major-General Smedley D. Butler, duas vezes con- não eram obrigados a reportar aos accionistas. E os seus lucros
decorado com a medalha de honra do congresso: foram tão secretos como imensos. Não sei como é que os banquei-
ros conseguiram os seus milhões e biliões, porque esses pequenos
“A guerra é uma farsa. Sempre foi. É possivelmente a mais antiga, segredos nunca se tornaram públicos — nem mesmo perante um
sem dúvida a mais lucrativa, com certeza a mais cruel. É a única com corpo de investigação do Senado.” 8
âmbito internacional. E a única na qual os lucros são contados em
dólares e a as perdas em vidas. Uma farsa é melhor descrita, creio, A 2ª Guerra Mundial, a Guerra da Coreia, do Vietname e agora do
como algo que não é o que parece à maioria das pessoas. Somente Iraque e Afeganistão não são diferentes. Criação industrial ace-
um grupo “interno” restrito sabe do que se trata. Ela é conduzida lerada, contratos militares, contratos de reconstrução, aquisição
para o benefício de muito poucos, à custa de muitos. Através da (roubo) de energia e recursos, auteros empréstimos com altas taxas
guerra, uns poucos fazem grandes fortunas... de juros feitos pelo Banco Mundial e bancos privados à economia do
pós-guerra e até o tráfico de drogas da CIA,9 são apenas alguns dos
Na (Primeira) Guerra Mundial um pequeno grupo recolheu os lu- meios altamente lucrativos.
cros do conflito. Fizeram-se pelo menos 21 mil novos milionários

8. Butler, Smedley D., War is a Racket, Feral House, 1935, Chapter 1


9. Webb, Gary, Dark Alliance, Seven Story Press, 1999

36 37
São três as motivações para a guerra: ① Lucro Industrial, maximiza- de modo que haja uma luta sem fim a ser constantemente travada.
do para a elite; ② Aquisição (roubo) de Recursos e ③ Alinhamento Estamos em constante guerra uns com os outros pela nossa própria
Geopolítico para facilitar futuros lucros industriais e roubo de recursos. sobrevivência. Esta batalha cria muito pouco em termos de progres-
so humano sustentável e o resultado é este mundo doente, poluído
Esta é uma das maiores doenças causadas pela necessidade de ri- e distorcido que vemos à nossa volta.
queza e poder. O governo, utilizando a sua equipa de vítimas de
lavagem cerebral transformados em assassinos, está envolvido na
derradeira forma de auto-preservação e enquanto todos os recur-
sos do mundo permanecerem ‘acumulados’ para o interesse de uns
poucos, este padrão de Guerra não terá fim.

As classificações de “corrupção” acima descritas são apenas qualifi-


cações genéricas. Muitas nuances do comportamento humano no
dia-a-dia são também envenenadas por este mecanismo do lucro;
desonestidade, estendendo-se desde a ‘arte de negociação’ em que
dois homens de negócios competem entre si por interesse próprio,
com inerente indiferença de cada um para com o outro, até à discor-
dância inerente à relação empregador-empregado, onde um pro-
cura maximizar o trabalho para reduzir os salários, enquanto que o
outro tenta maximizar o tempo gasto a fim de ganhar mais dinheiro.

A conclusão é que a Prioridade do Lucro causa uma mentalidade du-


alista de ‘nós contra eles’, pois dentro do sistema monetário tem de
haver o vendedor e o comprador; o trabalhador e o patrão; o cliente
e o dono; aquele que tem e aquele que não tem. Neste contexto,
cada parte tem que criar condições tão lucrativas quanto possível
para ela própria, experimentando novas estratégias a cada passo,

38 39
formas, mas a mais eficaz é a manipulação e / ou exploração dos
“valores” da audiência — o que eles ou elas acham importante.

Mecanismo 4 No entanto e antes de prosseguirmos, é de salientar que os padrões


A Distorção de Valores de consumo de massas actualmente verificados nos Estados Unidos
e noutros países nem sempre foram a regra. A América (do Norte)
foi, até certo ponto, fundada originalmente numa espécie de ética
Protestante, onde a poupança e a frugalidade eram valores domi-
nantes. Contudo, no início do século XX, um esforço concentrado
da comunidade de negócios começou a distorcer essas noções e a
formar um novo exército de consumidores impulsivos, sempre insa-
As nossas crenças e valores são moldados pela nossa cultura. Embora tisfeitos, motivados pelo ‘status’. As agências de publicidade muda-
exista uma base genética para certos atributos e comportamentos ram o seu discurso, passando de um foco na utilidade para um foco
humanos, o conhecimento que possuímos e o modo como pensa- no apelo emocional e no ‘status’. Consequentemente, hoje em dia
mos e agimos de acordo com esse conhecimento resultam funda- o americano médio consome o dobro do que consumia no fim da
mentalmente de um fenómeno ambiental. Segunda Guerra Mundial.10

Tendo isto em mente, o sistema monetário precisa de uma forma Uma das mais poderosas formas de ‘manipulação de valores’ é asso-
de comunicação para informar o público de aquilo que uma dada ciar a identidade de alguém a um ideal específico. O patriotismo e a
empresa disponibilizou para venda. Essa forma de comunicação de- religião são exemplos clássicos disto, uma vez que através da doutri-
nomina-se ‘publicidade’. nação na infância e juventude, a pessoa é geralmente condicionada a
sentir uma íntima ligação pessoal a um país ou religião, influenciando
Parte essencial da publicidade é a ‘promoção’ e a promoção é uma assim essa pessoa a querer apoiar as doutrinas, incondicionalmente.
forma de comunicação que, em geral, cria uma predisposição em
favor do produto em questão. Por outras palavras, a função da pu- Outro exemplo é o conceito de “moda”. A moda aparece sob muitas
blicidade é induzir... ou, em termos mais directos, manipular o con- formas, desde o vestuário a ideologias perpetuadas pelas pessoas.
sumidor a comprar um produto. Esta manipulação toma muitas Actualmente, muita gente pode ser vista passeando certo tipo de

10. Schor, Juliet, The Overworked American, New York Books, 1991, p. 208

40 41
adereços ou vestuário, apenas com o propósito de expor a marca A Ganância é provavelmente, depois da sobrevivência, a força con-
comercial, projectando algum tipo de estatuto social aparente ou dutora da perpetuação do sistema monetário. Devido à estratifica-
“expressão de estilo”, o que é ilustrativo do grau de sucesso que a ção inerente dos bens e serviços (e portanto, dos padrões de vida)
industria comercial já atingiu na manipulação dos valores humanos disponíveis para aqueles com mais e mais poder de compra, o ser
em proveito próprio. A assinatura das camisas “Tommy Hilfiger”, a humano é adestrado de modo a querer sempre “mais” riqueza ma-
marca comercial de bolsas “Prada” e os reluzentes relógios “Rolex” terial, já que o “mais” parece tender para o infinito. O resultado é
são exemplos de produtos onde a utilidade ou função do artigo per- uma cultura na qual não há conceito de equilíbrio, ou um sentido
deu completamente a relevância, sendo a sua importância agora do que realmente é importante, ou “suficiente”. A publicidade trata
originada pelo que o artigo “representa”. disso descrevendo constantemente as “possibilidades”, muitas
vezes levando as pessoas a questionarem o seu próprio valor porque
Infelizmente, o que estas pessoas não compreendem é que não são não têm “as melhores coisas da vida”, etc.
mais do que publicidade ambulante das respectivas companhias,
pura e simplesmente. A Inveja é aparentemente cultivada desde bem cedo, talvez desde
que o professor elogia um aluno que tirou as melhores notas e repre-
De facto, este “estatuto” ou “expressão” existe inteiramente nas ende os que não conseguissem, fazendo com que aquele aluno se
“projecções de valores” condicionadas dessa mesma pessoa e se sentisse com inveja daquele que tirou a melhor nota. Independente
as pessoas forem igualmente manipuladas em número suficiente, da sua origem, uma táctica de publicidade clássica é explorar essa
surge uma “tendência”, que reforça mais ainda a ilusão via identi- neurose usando os média para descrever uma pessoa que tem algu-
ficação colectiva. Estas tendências podem tornar-se tão poderosas, ma coisa que nós não temos, fazendo com que sintamos uma neces-
que aqueles que não aderirem à mania poderão mesmo ter de en- sidade de a possuir, de maneira a sermos “iguais” a essa pessoa. É
frentar a hipótese de exclusão. muito similar à ganância, com a diferença de que as pessoas acabam
por desdenhar dos outros pelo que eles têm, criando tensão social e,
Agora que já focámos a ‘Vaidade’, devemos também examinar os muitas vezes, conflito.
valores distorcidos criados na forma de mentalidades e visões do
mundo. Muitas vezes, esta constante necessidade de interesse pró- O Ego é geralmente definido como ‘uma sensação de superiorida-
prio espalha-se como um cancro para outras áreas psicológicas, crian- de para com os outros’. Esta distorção toma essencialmente duas
do e reforçando neuroses como a “Ganância”, a “Inveja” e o “Ego”. formas:

42 43
❶ — Superioridade geral baseada na riqueza material ou posição Agora, quanto à primeira descrição de ego referida anteriormente
na hierarquia social. (“Superioridade geral baseada em...”), é uma disposição classista em
❷ — Arrogância relacionada com as contribuições criativas de al- que, a um certo nível, estão os meios psicológicos para fazer alguém
guém, exigindo prestígio, reconhecimento e outras “recompensas”. sentir-se melhor por ter mais do que outro. Quando alguém abasta-
do caminha pela rua, acha mais fácil ignorar uma pessoa sem-abrigo,
Para muitos, este último ponto parece quase “natural”, uma vez que dizendo apenas que “ele é só um vagabundo preguiçoso”, ao invés
hoje em dia as pessoas adoram “ser reconhecidas” pelas suas ideias de a reconhecer como uma vítima da cultura. A outro nível, há uma
e invenções. Há um forte reforço no sistema monetário nesse sen- forma de elitismo cego, uma espécie de “racismo baseado na classe
tido, uma vez que quando uma pessoa “lucra”, está literalmente a social” que leva as pessoas a menosprezar aqueles que têm menos
ser “recompensada” e “reconhecida” pelas suas invenções e acções poder de compra como sendo “inferiores” ou “indignos”. Pois o es-
pessoais. Isso aumenta ainda mais a propensão para alguém exigir tatuto social, educação e estilo de vida desfrutados por essa elite
crédito pelo que faz, mesmo se não houver dinheiro envolvido. está largamente fora do alcance daqueles sem um poder de compra
similar, criando assim flagrantes diferenças na cultura.
Deve referir-se que, na realidade, ninguém “inventa” ou cria algo
sozinho. Cada ideia ou criação surge com base em trabalho de gera- Conclui-se então que os nossos valores se baseiam naquilo que fun-
ções anteriores, influências ambientais e / ou contribuições variadas. ciona e nos ajuda a criar uma vida melhor e mais fácil para nós pró-
Citando Isaac Newton: “Se eu vi mais longe, foi apenas por estar prios. Se vivermos num sistema que recompensa a competição, o
em cima dos ombros de gigantes.”11 Ele quis dizer que a sua pesqui- ignorante interesse próprio, a corrupção, a vaidade e a arrogância,
sa, e por conseguinte as suas descobertas, foram construídas sobre então serão estes os valores para sempre perpetuados na socieda-
o trabalho de muitos grandes cientistas que viveram antes dele. de. Apesar de muitos elogiarem ‘a honestidade, a consideração para
Portanto, não é dele todo o crédito, é partilhado com todo o corpo com o próximo e a humildade’, é fácil descobrir as razões pelas quais
de descobertas científicas com as quais ele aprendeu e trabalhou. estas qualidades não prevalecem, uma vez que o sistema de sobre-
vivência na sociedade actual não as apoia nem as reforça.
Esta forma de Ego não tem lugar quando uma pessoa percebe que
TODAS as invenções e criações são, na realidade, colaborações desen-
volvidas sucessivamente, de uma maneira ou de outra.

11. Newton, Isaac, Letter to Robert Hooke, February 5th1675

44 45
moeda decretada / fiduciária (fiat) deriva da quantidade de dinhei-
ro que está em circulação numa economia. Como acontece com
qualquer recurso natural, quanto mais dinheiro estiver em circula-
Mecanismo 5 ção, menos valerá cada unidade de moeda decretada / fiduciária
Manipulação Fiscal (fiat). Quando há menos dinheiro em circulação, cada unidade vale
mais, respectivamente. Este fenómeno designa-se geralmente por
“Inflação” e “Deflação”.

A definição clássica de inflação é ‘subida de preços’ (inflação de preços), en-


quanto que Deflação é a ‘descida de preços’. Contudo, a principal causa desta
‘Inflação de Preços’ e ‘Deflação de Preços’ é a subida e a descida na oferta da

A moeda usada hoje em dia é a chamada “moeda decretada / fidu-


ciária (fiat)”, o que significa que o seu valor é essencialmente de-
moeda (Inflação Monetária). Posto isto, esta não é a única causa possível des-
tes estados. A própria Sobre / Sub Produção pode também ter influência nisto.
Pode haver ainda um período de inflação e deflação simultâneas, como quando
nota
ocorre uma crise sistémica que reduz a oferta monetária mais rapidamente do
terminado por decreto governamental. Por outras palavras, nada que é possível criar e inserir dinheiro na mesma.
“suporta” o valor da moeda, excepto talvez o suor dos trabalhado-
res que trocam os seus serviços por ela. Antigamente, a maioria Em termos mais simples, se se injecta dinheiro novo numa eco-
das moedas era baseada no ‘padrão-ouro’, o que dava ao valor do nomia sem se considerar a procura real de bens e serviços, os pre-
papel-moeda uma base pseudo-empírica. No entanto, tal era tam- ços irão em última análise subir ao ritmo a que o valor da moeda
bém totalmente arbitrário, pois a origem do valor era simplesmente se torna proporcionalmente menor. A isto chama-se um “Efeito
transferida dessa matéria-prima, o “ouro”, que essencialmente tam- Inflacionário”. Contudo, se o novo dinheiro for rapidamente usado
bém não tinha qualquer valor em termos práticos. O “valor” de qual- para a criação de novos bens e serviços, onde exista uma procura
quer material está relacionado com a sua escassez (oferta) e procura, para esses produtos, ele pode ser introduzido na economia sem
e estas duas grandezas estão em constante mudança, o que atesta efeito inflacionário substancial. Por exemplo, imaginemos que há
a sua instabilidade. procura no mercado por casas novas. Se o governo injectar 1 bilião
de dólares de dinheiro novo na economia e todo esse dinheiro for
Esta famosa equação da “oferta e da procura” também se aplica di- usado na construção de casas novas que são depois compradas, o
rectamente ao Valor Monetário. O valor intrínseco num sistema de efeito inflacionário será mínimo.

46 47
O aumento na oferta de dinheiro disponível numa economia é de- falsificassemos 100 milhões de dólares americanos e os dessemos a
signado por Expansão Monetária, enquanto que a diminuição dessa alguém que, inconsciente da falsificação, começasse uma empresa,
oferta é designada por Contracção Monetária. Da interacção des- comprando e arranjando um velho edifício, contratando uma equipa
tas duas forças, resulta uma tendência cíclica, denominada “Ciclo de empregados e começasse a produzir um produto que o público
de Expansão e Contracção”, ou “Ciclo Económico”, ou ainda “Ciclo quisesse comprar, isto seria considerado uma “expansão” da econo-
Boom & Bust” (retomaremos este assunto mais à frente). Em ter- mia. Teria havido investimento em bens reais — aumentando a taxa
mos gerais, o período de expansão é normalmente associado ao de emprego — e criação de produtos novos que os outros compra-
chamado “Crescimento Económico”, pois há mais dinheiro a ser ram, estimulando portanto a circulação da moeda (o ‘ciclo de consu-
usado e normalmente mais emprego a ser gerado. Inversamente, mo’). E então o que aconteceria, se descobrissem que todo aquele
o período de Contracção é geralmente designado por Recessão ou dinheiro era falso e suspendessem toda a operação? Isso levaria a
Depressão, já que o dinheiro escasseia e portanto existe menos para uma ‘contracção’ na economia, uma vez que o dinheiro desapare-
uso, de modo que se perdem empregos e as empresas vão à falência. ceria; os empregados seriam despedidos, a construção do edifício
encerrada e a produção cessada.
O conceito de “Crescimento Económico” é tipicamente definido
como: “O aumento da quantidade de bens e serviços produzidos por Dado este cenário, devemos perguntar: Onde está o verdadeiro
uma economia ao longo do tempo”. O sistema de medição do PIB crescimento? Se o aumento (expansão) na oferta da moeda pode
(Produto Interno Bruto), que basicamente compara o “rendimen- resultar na criação de empregos e produção, enquanto que a redu-
to” e a “produção” de uma economia num certo período de tempo, ção (contracção) resulta na perda de empregos e de produção, qual
é normalmente utilizado para calcular o famoso “Crescimento é o propósito de tudo isto?
Económico”.
Para compreender melhor este assunto, temos de olhar para a forma
Agora, antes de prosseguirmos, vamos destacar que toda a ideia como o dinheiro é criado e regulado pelo governo e / ou o seu banco
de Crescimento Económico, na sua interpretação tradicional, é ab- central. Vamos considerar o exemplo dos Estados Unidos e do seu
surda no que diz respeito ao verdadeiro desenvolvimento humano. banco central — A Reserva Federal.
Verdadeiro crescimento económico é coisa que não existe, pois o
mecanismo fundamental é quase totalmente baseado na quantida- Conforme referimos atrás, o ‘ciclo de expansão e contracção’ é
de de liquidez (dinheiro) existente no sistema. Por outras palavras, se um padrão cíclico que tem a ver com a introdução e abandono de

48 49
dinheiro do sistema. Este padrão é em grande parte controlado e Quando a Banco Central aumenta as suas taxas de juro, o crédito
manipulado pelo Banco Central (Reserva Federal) através das Taxas torna-se mais caro. Num ambiente de juros baixos há maior tendên-
de Juro. Uma Taxa de Juro é uma gratificação exigida a quem pede cia para contrair empréstimos, para colocar dinheiro em circulação,
dinheiro emprestado para poder dispôr do empréstimo. Essa gratifi- e criar o suposto “crescimento económico” (Expansão). Num am-
cação é basicamente uma percentagem da soma emprestada. biente de juros altos, poucos podem dar-se ao luxo de pedir dinheiro
emprestado, logo menos dinheiro é posto em circulação e o cresci-
Uma vez que todo o dinheiro na economia dos EUA e em pratica- mento económico diminui ou é invertido (Contracção). O chamado
mente todas as economias do mundo é criado a partir de dívida atra- “Ciclo Económico” resume-se a isto, e o Banco Central, através da
vés de empréstimos,12 a rapidez com que o dinheiro passa a existir manipulação das taxas de juro, pode “regular” a expansão e con-
depende de quantos juros uma pessoa esteja disposta a pagar para tracção de dinheiro de acordo com sua vontade, até um certo ponto.
contrair esse empréstimo. Os Bancos Comerciais baseiam as suas Porque é que o Banco Central tem de controlar isto?
taxas de juro em valores determinados pelo Banco Central.

nota
Em momentos de grandes dificuldades económicas, onde a dívida / inflação ex-
Por exemplo, na América a “Prime Rate” é a taxa de juro mais baixa cedam a margem de manobra razoável, a manipulação das taxas de juro terá
pouco ou nenhum efeito. Retornaremos a este assunto no Capitulo 2.
cobrada pelos bancos aos seus clientes mais confiáveis. Essa taxa
é baseada na chamada “Federal Funds Rate” (“Taxa de Fundos
Federais”), à qual é imposta pela Reserva Federal. Para compreender as razões, é preciso recordar que:
❶ — todo o dinheiro é criado a partir de dívida (empréstimos), e
Note-se que este livro não pretende dissecar os complexos métodos ❷ — a expansão na oferta de moeda pode levar à Inflação.
nem o discurso impregnado de jargão usados pelo sistema bancário.
Contudo, o que há a reter aqui é que a Reserva Federal (Fed) tem o Se a oferta de moeda crescesse (expandisse) indefinidamente, seria
poder de influenciar as taxas de juro de todos os bancos. Isto traduz- apenas uma questão de tempo até o mercado ficar saturado com
-se no poder de controlar a quantidade de dinheiro que é empresta- o excesso de liquidez, reprimindo o crescimento económico resul-
da e consequentemente o total em circulação. tante. Isto iria depois levar à inflação, desvalorizando a moeda e
aumentando os preços. Da mesma forma, a dívida pendente é di-
Quando o Banco Central baixa as suas taxas de juro, os bancos co- rectamente proporcional à oferta de moeda, de modo que quanto
merciais seguem-na e o crédito (empréstimo) torna-se mais barato. mais se “expande” uma economia, maior é a dívida criada. Isto inicia

12. Chicago Federal Reserve, Modern Money Mechanics, 1963

50 51
uma crise sistemática e inevitável, pois o dinheiro necessário para nisso. Em teoria, cada dólar em existência tem de ser devolvido ao
pagar os juros cobrados pelos empréstimos não existe na econo- sistema bancário e, para tal, o dinheiro deve ser “adquirido” pelas
mia.13 Consequentemente, há sempre mais dívida pendente do que partes endividadas, geralmente através do “salário” ou “lucro”, exi-
dinheiro em existência. Uma vez que a dívida tende a crescer para gindo por conseguinte trabalho / servidão humana.
além do que as pessoas / empresas podem suportar, começam os in-
cumprimentos (muitas vezes de forma sistemática), diminuem e / ou Este problema é agravado pela realidade de que existe sempre mais
cessam os empréstimos e a oferta monetária começa a contrair-se. dívida pendente do que dinheiro em circulação (devido aos juros que
Em termos simples, esta situação específica em que a dívida supera são cobrados), tornando fútil a tentativa do público de “não perder
e anula a expansão poderia denominar-se “falência financeira”. nem ganhar” dentro do sistema. Haverá sempre mais dívida para
pagar, assegurando a escravidão das massas.
Agora, antes de prosseguirmos, precisamos de aprofundar a nossa
análise da Dívida. É preciso compreender claramente que a dívida No próximo capítulo, continuaremos a analisar o sistema financeiro
em si é também uma ferramenta amplamente usada para contro- e as suas políticas, de forma a destacar como é que as frequentes
lo social, embora não da forma que a maioria das pessoas imagina. falhas do sistema estão, de uma maneira ou de outra, literalmente
Num sistema monetário, toda a estrutura se baseia na participação embutidas na sua própria estrutura.
humana. A estrutura é sempre hierárquica, de modo que aqueles
que ocupam o topo da pirâmide são sempre beneficiados em rela- Mas antes, vamos resumir o que foi discutido neste capítulo.
ção à maioria que ocupa a base. Por isso, a circunstância das pessoas
estarem motivadas a encontrar emprego e receosas de o perderem,
logo subservientes, é uma circunstância positiva para os que estão
no topo. Uma pessoa que “precisa” de emprego é mais propensa
a aceitar um salário mais baixo e menos propensa a causar proble-
mas. Uma das formas mais eficazes de fazer as pessoas trabalhar
e manter a sua subordinação é endividando-as. Uma pessoa com
uma grande dívida será muito mais submissa ao sistema do que
uma pessoa sem dívidas. Fala-se pouco sobre este mecanismo de
“Escravidão por Débito”, uma vez que a maioria nem sequer pensa

13. Web of Debt, por Ellen Brown, Capítulo 2.

52 53
humanas / ambientais e reforça métodos abusivos que conduzem à
limitação da capacidade de produção e disponibilidade de recursos,
em vez da sua expansão para o bem comum. Consequentemente,
a abundância é impossível. Além disso, os bancos centrais actuam
resumo do Capítulo 1 de forma a manter a escassez da moeda no sistema, forçando as
pessoas a lutarem entre si diariamente, e nunca há que chegue para
todos, o que perpetua a miséria e a estratificação das classes sociais.

• O sistema monetário requer um “consumo cíclico”, ou um volume


de negócios constante no mercado. Isto traduz-se numa propen-
são / necessidade natural para criar produtos inferiores que avariam
• O mundo é dominado pela Economia Monetária (ou “Sistema rapidamente, uma vez que se fossem criados produtos resistentes,
Monetário”). Neste sistema, o ‘valor’ dos bens e serviços é geral- duradouros e sustentáveis haveria menos pessoas a querer reparar
mente definido pelo grau de disponibilidade (ou de escassez) dos ou comprar um produto novo e o mercado sofreria. Estas circuns-
recursos necessários, em conjunto com a quantidade / tipo de mão- tâncias conduzem a altos níveis de desperdício, redundância e po-
-de-obra envolvida na produção / serviço. De acordo com esta teoria luição. Nesta sociedade, se os produtos fossem realmente feitos
de valor, se os bens / serviços pudessem ser produzidos sem mão-de- para durarem longos períodos de tempo, através da utilização dos
-obra, com recursos amplamente abundantes, o valor (preço) seria melhores materiais e métodos conhecidos, o sistema monetário
zero, não tendo portanto nenhum valor monetário. Em teoria, se não duraria, já que este só funciona enquanto houver uma entrada
tal situação acontecesse, talvez através da automação da mão-de- constante no fluxo financeiro, gerado pelas compras.
-obra e da descoberta de substitutos para recursos escassos atra-
vés de processos químicos, todo o sistema financeiro / de lucro não • Para um ser humano, o maior problema é a questão da sobrevi-
teria qualquer base de apoio e, portanto, não poderia existir. vência, e num Sistema Monetário este interesse próprio traduz-se
numa constante procura do “lucro”. Esta mentalidade revelou-se a
• Uma das forças motoras do mercado é a escassez. De um modo geral, causa de muitos mais problemas do que benefícios para a socieda-
as empresas desejam a escassez, porque faz aumentar a procura. de, pois a preocupação social é sempre secundária em relação ao
Imediatamente, esta realidade leva à desconsideração das questões ganho monetário. Se a indústria “se preocupasse” de facto com a

54 55
sociedade, colocando o bem estar das pessoas como prioridade nú- vendas, os fins justificam os meios. Da mesma forma, a motivação
mero um, o Sistema Monetário não funcionaria, porque toda a es- competitiva e egoísta inerente à procura do lucro, cria uma indife-
trutura está orientada para exigir uma “vantagem diferencial”. Por rença geral para com o bem estar dos outros, perpetuando a ten-
outras palavras, ‘equidade’ e ‘integridade’ não podem ter lugar num dência para o abuso e o aproveitamento oportunista.
sistema onde a sobrevivência se baseia na competição. Claro que
os defensores do sistema dirão que ele cria “incentivo”, mas esse • O dinheiro usado actualmente no mundo é moeda decretada / fidu-
incentivo funciona apenas para o ganho monetário. Neste sistema, ciária (fiat) e é geralmente regulada pelos Bancos Centrais. Nos EUA,
contribuições significativas para a sociedade são produto do acaso a Reserva Federal (o seu banco central) manipula as taxas de juro
e não da intenção. Também a corrupção financeira está sempre pre- para controlar a expansão e contracção da oferta de moeda. A dí-
sente, muitas das vezes aceite como “normal” e legal, porque sim- vida gerada pelos empréstimos (recordar que é através de emprés-
plesmente “é assim que as coisas são”. Ao mesmo tempo, a Guerra é timos que o dinheiro passa a existir; portanto o dinheiro é criado a
a derradeira forma de estímulo económico, o que faz da morte e da partir de dívida) é encarecida pela aplicação dos juros, pois o dinhei-
destruição algo positivo para aqueles que estão em posição políti- ro para pagar os juros cobrados pelo empréstimo nunca é respecti-
ca / comercial para beneficiarem dela. De facto, a guerra é desejada vamente criado na oferta monetária. Consequentemente, quando
pela indústria, independentemente de ser desumana. Neste con- a oferta monetária é expandida, normalmente criando “crescimen-
texto, provavelmente existirá sempre guerra enquanto o sistema to económico” (dinheiro novo a entrar em circulação), uma quantia
de lucro existir, enquanto que o próprio comportamento humano proporcional de dívidas é criada em conjunto, forçando as pessoas
será sempre propenso ao abuso, devido à necessidade de ganhar a submeterem-se ao emprego para suportar as suas dívidas. Uma
vantagem sobre os outros para sobreviver. vez que os juros + “capital” de empréstimos não saldados excederão
sempre a quantidade de dinheiro disponivel, cria-se nada menos do
• O Sistema de Valores Humanos é sobretudo produto do ambien- que uma forma de escravidão económica, dado que é virtualmente
te. A influência do Sistema Monetário, quer nas mentalidades sem impossível para o público como um todo livrar-se das dívidas. Além
escrúpulos que ele torna necessárias ao sucesso, quer nos valores disso, o termo “crescimento económico” é absurdo na sua essência,
distorcidos criados pela publicidade para condicionar as pessoas pois todo e qualquer crescimento expansivo é temporário e deve ser
a comprarem algo, criaram uma cultura de pessoas vãs, egoístas, contrabalanceado pela contracção. A única razão pela qual mais em-
agressivas e inseguras. Vaidade, Ego, Inveja e Ganância são todos pregos são criados é o facto de haver mais dinheiro em circulação.
eles subprodutos do sistema, e quando se trata de ‘promoção’ de

56 57
Capítulo 2

O Fracasso Final

“O que está errado é que nós inventámos a tecnologia para


eliminarmos a escassez, mas, deliberadamente, a desperdiçamos
em beneficio daqueles que lucram da escassez.”

John Gilmore
Como é que isto aconteceu? Porque é que a dívida nacional dos EUA
em Junho de 2009 era $13.450.000.000.000? Dos actuais 203 países
no mundo, apenas quatro (!) não devem dinheiro a terceiros. A dívi-
da colectiva externa de todos os governos no mundo é hoje cerca
Para Lá da Irresponsabilidade de 54 biliões de dólares,16 e este número não inclui a enorme dívida
doméstica de cada país.

nota
No português europeu e neste livro, Bilião é o termo usado para representar
1012. Corresponde à designação de "milhão de milhões", ou Trillion nos EUA,
mas o bilião utilizado em economia é geralmente o "americano", ou seja 109

Antes das eleições de 2004, David Walker, ex-controlador geral dos Basicamente, o mundo inteiro está falido. Mas como? Como é
EUA e chefe do GAO (Government Accountability Office), entidade que o mundo como um todo pode dever dinheiro a si mesmo?
com funções nos EUA semelhantes às do Tribunal de Contas em
Portugal, alertou para a incapacidade por parte dos Estados Unidos Obviamente, é um contra-senso. 'Dinheiro' é coisa que não existe.
e seus contribuintes pagarem os juros da dívida nacional já em 2009, Existem, isso sim, os recursos deste planeta, mão-de-obra e o engenho
caso não houvesse profundas mudanças económicas.14 Em 2001, humano. O sistema monetário não é nada mais do que um jogo... um
um estudo autorizado pelo Departement of the Treasury, análogo ao jogo disfuncional e desactualizado. Quem ocupa posições de poder
Ministério das Finanças em Portugal, dos EUA, descobriu que para social altera as regras do jogo à sua vontade. A natureza dessas re-
continuar a manter a taxa de crescimento da dívida, por volta de gras é orientada pelas mesmas mentalidades competitivas e distor-
2013 os impostos sobre o rendimento (IRS) teriam de ser aumen- cidas utilizadas no quotidiano "monetário", só que desta vez o jogo é
tados para 65%.15 Se os Estados Unidos não puderem suportar os falseado na sua essência de modo a favorecer aqueles que mandam.
juros da sua dívida, tal seria a etapa final de um colapso económico
e logicamente resultaria numa falência total. Por sua vez, a crise sis- Por exemplo, alguém que tivesse 1 milhão de dólares e depositasse
témica iria provavelmente espalhar-se pelo resto do mundo, devido esse dinheiro numa conta bancária a 5% de juros, iria gerar $50.000
às interligações financeiras / comerciais existentes. por ano com esse depósito apenas. Estaria a ganhar dinheiro a partir
do próprio dinheiro... papel gerado por papel... nada mais — sem

14. Al Marin, Protocols for Economic Collapse in America (article), 2008 16. CIA World Factbook, 2009,
15. Ellen Brown, Web of Debt, Third Millennium Press p.368 https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/rankorder/2079rank.html

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invenção — sem contribuição para a sociedade — nada mesmo.
Posto isto, alguém da classe baixa ou média, financeiramente li-
mitado, que precisa de contrair empréstimos a juros para comprar
uma casa, ou de usar cartões de crédito, vai ter que pagar os juros
ao banco, que teoricamente depois os utiliza para pagar o retorno O Ciclo Económico
da pessoa com a conta a 5%! Esta situação é não só ofensiva, de-
vido ao uso de usura (juros) para 'roubar ao pobre para dar ao rico',
como também perpetua a estratificação de classes justamente pela
maneira como funciona, mantendo as classes baixas pobres, sob o
constante fardo da dívida, ao passo que conserva rica a classe alta,
que tem meios para transformar o dinheiro extra em mais dinheiro,
sem qualquer trabalho. O Ciclo Económico pode ser superficialmente definido como: "...as
repetidas flutuações da actividade económica, a longo prazo. O ciclo
Pondo de lado esta situação, existem outros "jogos" no sistema envolve uma alternância de períodos de crescimento relativamente
que apesar de terem funcionado durante décadas, estão agora a rápido do produto (recuperação e prosperidade), com períodos de
transformar-se em desastres matematicamente inevitáveis, que já relativa estagnação ou declínio (contração ou recessão). Essas flutu-
deviam ter sido antecipados há 100 anos. ações são geralmente medidas em termos de variação do Produto
Nacional (PIB ou PNB)." 17 Embora existam várias teorias para a sua
causa, parece que a maioria dos economistas tendem a esquivar-
-se ou a ignorar este óbvio problema... e que é tão só o efeito que a
Contracção Monetária (dinheiro removido) e a Expansão (adição de
dinheiro novo) têm no Ciclo Económico.

A quantidade de dinheiro em circulação é normalmente aumen-


tada se existir algum proposito especifico para a sua utilização
Muitas vezes o dinheiro é utilizado para abrir um negócio, com-
prar uma casa, investir na bolsa de valores, etc. Esse investimento

17. http://pt.wikipedia.org/wiki/Ciclo_econômico

62 63
traduz-se frequentemente num suposto "crescimento económico". Ao longo da história, o normal tem sido aplicar estas duas estraté-
A Expansão do Crédito, na forma de empréstimos pessoais e empre- gias, basicamente com a intenção de "suavizar" a recessão através
sariais, é de facto a força oculta por trás do crescimento económico. do aumento de liquidez. A razão é simples. É politicamente impopu-
Este é basicamente o período de 'Crescimento' do Ciclo Económico. lar para a classe dominante que hajam cidadãos pobres ou desem-
Se examinarmos os períodos de expansão económica nos Estados pregados. Isto pode levar à desobediência civil e talvez à revolução.
Unidos, descobrimos uma relação íntima com a expansão do crédito Por conseguinte, existe sempre o jogo de apaziguar o povo com falsa
(por exemplo a "bolha" na bolsa de valores em 1990-2000). segurança a fim de evitar que venha à tona a verdade sobre a disfun-
cionalidade e corrupção inerentes ao Esquema Piramidal conhecido
Infelizmente, o dinheiro não pode ser introduzido na economia inde- como Sistema Monetário. Num sistema onde o dinheiro é criado a
finidamente, pois a Dívida e a Inflação causados pela expansão irão partir de dívida, com aplicação de juros, criando assim mais dívida
eventualmente superar os benefícios do "crescimento". Isto deve-se do que dinheiro em circulação - este sistema é um esquema pira-
ao facto de que é sempre preciso mais dinheiro novo para cobrir a midal. A ferramenta chama-se "Sistema de Reserva Fraccionaria".18
dívida pendente, em grande parte graças à necessidade de pagar os
juros dos empréstimos (os quais não existem na oferta de moeda). Contudo, o resultado desta "suavização" da contracção apenas adia
Isto significa que depois de um período de crescimento (subida) com o inevitável e, uma vez que o governo dos EUA tem virtualmente
os indicadores económicos agora voltados para o enfraquecimento "suavizado" todas as contracções que houve nos últimos 70 anos
da economia, os reguladores financeiros / governo podem escolher através da infusão de mais dinheiro no sistema, espera-nos um "ce-
entre: nário apocalíptico"... a "Grande Contracção"... que pode muito bem
❶ — Continuar a expansão injectando ainda mais dinheiro, normal- estar a acontecer ao mesmo tempo que estas linhas são escritas.
mente através da redução das taxas de juro ou simplesmente movi-
mentando grandes somas de dinheiro para certos sectores (como a
injecção de 700 biliões de dólares de subsídios aos bancos em 2008).
❷ — Deixar a contracção (recessão) seguir seu curso, elevar as taxas
de juro e devolver a economia a algum tipo de equilíbrio, preparan-
do-a assim para outra expansão.Estes são resumos generalizados.
Não é do interesse deste livro detalhar todos os aspectos e atributos
deste assunto.

18. Ler Web of Debt, chapter 2, by Ellen Brown, para saber


mais sobre esta politica de expansão monetária.

64 65
A figura 1, abaixo, é a representação do ciclo económico, oscilando A partir de Março de 2006 o governo dos EUA deixou de comuni-
em torno de um valor médio constante, com os picos representando car o M3, que é a quantidade de dinheiro existente na economia em
o crescimento ("Boom") e o declínio ou a falência ("Bust"): virtualmente qualquer forma possível. Qual o motivo? Não querem
que o público saiba quanto dinheiro está a ser inserido no sistema. A
figura 3, abaixo, mostra o M3 até ao momento em que a sua comu-
nicação cessou.

Quantidade de Dinheiro M3 (Descontinuado): Milhares de Milhões de Dolares: NSA

fig. 1

Mas, tendo em conta que a estratégia tem sido sempre injectar di-
nheiro no sistema quando ocorre a contracção, a realidade é que o
"valor médio" está a subir. A figura 2, abaixo, representa o que re-
almente tem vindo a acontecer durante os últimos 70 anos e o que
está para acontecer conforme se aproxima a "Grande Contracção".

fig. 3

A "Grande Contracção" Apesar de a Reserva Federal ter parado de o comunicar, os econo-


mistas seculares têm sido capazes de rastrear os componentes do
M3 independentemente19 e mostraram que, desde 2006, o M3 cres-
ceu de 10 biliões para quase 15 biliões em meados de 2009, um cres-
cimento de quase 50% em pouco mais de 3 anos.

fig. 2

19. http://www.shadowstats.com/alternate_data/money-supply-charts

66 67
Quantidade de Dinheiro M3 continuado pelo SGS (fonte: St. Louis Fed) Taxa de desemprego - Oficial (U-3 e U-6) vs SGS Alternate
% Mudança de ano para ano M3($Billiões) M3 SGS (Fonte:SGS, BLS)
(U3) Oficial (U6) Abrangente Alternativo SGS

16 de Maio de 2010
fig. 4
12 de Maio de 2010
Importa agora notar que a injecção de dinheiro no sistema nem fig. 5
sempre é sinónimo de expansão económica. Este ponto é crítico.
Por exemplo, um dos indicadores de crescimento económico é a Apesar de as agências oficiais do governo terem informado que o
criação de empregos. A figura 5, que se segue, mostra a taxa de de- desemprego era cerca de 7% no fim de 2008, pesquisas mais profun-
semprego nos EUA, incluindo a taxa SGS. A Taxa de Desemprego das demonstraram que, na verdade, actualmente está próximo dos
Alternativa SGS (Shadow Government Statistics) reflecte a actual 22% da população dos EUA. Abordaremos novamente a razão de
metodologia de comunicação do desemprego ajustada com a esti- ser desta realidade na próxima secção (O Derradeiro Outsourcing.),
mativa de "trabalhadores desencorajados" do SGS, definida durante mas por enquanto vamos utilizar esta informação apenas para com-
o mandato de Bill Clinton, somada às estimativas BLS de desempre- preender que o aumento da oferta de moeda não está a ter efeito na
go de nível U-6 existentes20 que tem em conta os americanos que actual crise financeira.
não trabalham, mas que não são contados como "desempregados"
simplesmente porque o período de reconhecimento já terminou.

20. http://www.shadowstats.com/alternate_data

68 69
Conforme notámos atrás, o dinheiro não pode ser adicionado à eco-
nomia indefinidamente, porque a dívida e a inflação causadas pela
expansão irão mais tarde superar os benefícios do "crescimento". É
isto o que está a acontecer agora e nenhuma intervenção no sentido
de "suavizar" esta crise tem qualquer hipótese de sucesso.

Porquê? — Principalmente porque os níveis de dívida estão muito


altos. A dívida total do governo dos EUA mais a dos seus cidadãos
era de aproximadamente 57,000,000,000,000 em 200921 (Figura 6).
Isto é uma loucura, se nos dermos conta de que o total da ofer-
ta monetária (M3) dos EUA em 2009 era de aproximadamente
15,000,000,000,000. Será que vamos agora injectar mais de 40 bi-
liões de dólares na economia dos EUA para cobrir este custo? Não,
porque tal não só criaria muitos biliões de dívida nova, como também
provavelmente causaria níveis épicos de hiper-inflação. De um ponto
de vista diferente: o PIB dos EUA era cerca de 14 biliões em 2009!22

fig. 6

Desde 2009 que ocorrem simultâneamente deflação e inflação,


sendo que a deflação, na forma de contracção, está a vencer. Em
termos simples, o dinheiro está a desaparecer mais rápido do que
pode ser injectado. Enquanto o próprio sistema impõe esta inevi-
tabilidade em si mesmo, a cadeia de eventos para o colapso actual
parece começar com uma crescente bolha especulativa no merca-
do imobiliário. Uma vez que isto quebrou, o Mercado de Derivados,
(o qual detém valores que excedem várias vezes o PIB do planeta

21. http://mhodges701.home.comcast.net/~mhodges701/debt-nat.htm
22. https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/rankorder/2001rank.html

70 71
inteiro23) que apostou nessas hipotecas, tornou-se "tóxico" devido
ao crédito mal parado. Isto desencadeou a falência dos bancos de
investimento, juntamente com a falência dos bancos comerciais que
se seguiu; o que leva à falência das corporações que necessitam de
crédito; inevitavelmente resultando no despedimento da própria
O Derradeiro Outsource
mão-de-obra. Esta crise sistemática é global por causa da natureza
internacional dos Mercados Financeiros, e é por isso que os países
do mundo ocidental estão agora a passar pelos mesmos problemas
ecónomicos que os EUA.

 Contudo, é de notar que, muito embora pareça que a bolha imobiliá-


ria e os "empréstimos predatórios" sejam "os culpados" por esta crise, Tudo que foi descrito na secção anterior é de grande importância
eles de facto não são. Esta falência aconteceria de uma maneira ou para compreendermos onde estamos e para onde vamos dentro
de outra, justamente por causa da natureza do sistema económico. desta estrutura económica. Note-se que estas informações são tão
Porém, a incrível irresponsabilidade envolvida na gestão deste já pre- relevantes para os não Americanos como são para os Americanos,
judicial sistema agravou e acelerou ainda mais a gravidade do colap- pois o mundo compartilha o mesmo sistema básico, que está firme-
so iminente, projectando nuvens negras no nosso horizonte, se esta mente interligado.
falsa estrutura, conhecida como "Sistema Monetário", for mantida.
Em resposta a estes problemas, sugere-se muitas vezes uma 're-
forma monetária' como solução. Estas sugestões geralmente con-
sistem em: voltar ao padrão ouro; banir os juros; fechar a Reserva
Federal e dar ao governo o direito de imprimir o dinheiro e distribuí-
-lo, livre de dívida...etc.

Embora estas e outras reformas apresentem qualidades óbvias, elas não


reconhecem um fenómeno imparável, que tem acelerado desde o início
do século XX e que causou um grande impacto na força de trabalho.

23. Brown, Ellen, Credit Default Swaps: Evolving Financial Meltdown


and Derivative Disaster Du Jour, webofdebt.com, 2008

72 73
A substituição da mão-de-obra humana por máquinas. Citando o vencedor do Prémio Nobel da Economia Wassily Leontief:
"O papel das pessoas como factor mais importante na produção está
No núcleo do sistema económico está o mecanismo de Trabalho destinado a diminuir do mesmo modo que o dos cavalos foi inicial-
por Rendimento. Todo o nosso sistema económico tem como base mente reduzido na produção agrícola e acabando por ser eliminado
a venda da mão-de-obra por parte de cada ser humano como uma com a introdução dos tractores."25
mercadoria, no mercado livre. Se os humanos não tiverem a opção
de "trabalhar para o seu sustento", o sistema monetário, tal como Como o Capitalismo de Mercado baseia-se na lógica de reduzir custos
o conhecemos, acaba. Ninguém pode comprar mercadorias se não (incluindo os de mão-de-obra) para elevar os lucros, a tendência para
ganhar dinheiro. As companhias não podem produzir se o consumi- substituir a mão-de-obra através da automação mecânica sempre
dor não tiver poder de compra. Esta questão tem mais importância que possível é uma progressão natural da indústria. No fim de contas,
do que tudo o que foi anteriormente discutido neste capítulo. uma máquina não precisa de descansar, não exige seguro de saúde
ou segurança social e não faz parte de nenhum aguerrido Sindicato.
Como John Maynard Keynes desdenhosamente refere, em The
General Theory of Unemployment, Interest and Money (Teoria Geral Um rápido olhar pelas estatísticas de trabalho americanas, por sec-
do Desemprego, do Juro e do Dinheiro): "Estamos a ser afectados tores, revela definitivamente o padrão de automação mecânica a
por uma nova doença, sobre a qual alguns leitores podem ainda não substituir mão-de-obra humana. No sector agrícola, praticamente
ter ouvido falar, mas que certamente ouvirão nos próximos anos — todos os processos tradicionais são agora executados por máquinas.
nomeadamente, o 'desemprego tecnológico'. Isto é, o desemprego Em 1949, as máquinas colhiam 6% do algodão no sul dos EUA. Por
causado pelas nossas descobertas em meios de poupar trabalho ul- volta de 1972, 100% da colheita de algodão passou a ser feita por
trapassando o ritmo a que descobrimos novos usos para ele."24 máquinas.26 Quando a automação atingiu o sector industrial ame-
ricano na década de 50, perderam-se 1,6 milhões de empregos de
 Embora políticos, líderes empresariais e proletários debatam acerca classe operária em 9 anos.27 Em 1860, 60% da população dos EUA
dos problemas que eles alegam serem os responsáveis pelo cresci- trabalhava na agricultura, enquanto que hoje são menos de 3%.28
mento do desemprego no mundo, como a fuga de companhias para Em 1950, 33% dos trabalhadores americanos trabalhavam no sector
o estrangeiro ou o trabalho imigrante, a verdadeira causa não tem industrial, e em 2002 apenas 13%.29
sido abordada no debate público: Desemprego Tecnológico
25. Loentief, Wassily, National Perspective: The Definition of Problems and Opportunities, June 30
26. Peterson, Willis, The Cotton Harvester in Retrospect: Labor
Displacement or Replacement? St Paul, 1991, pp 1-2
24. Keynes, John Maynard, The General Theory of 27. Kahn, Tom, Problems of the Negro Movement, Dissent, 1964, p 115.
Unemployment, Interest and Money, 1931 28. "Why job growth is Stalled", Fortune, 3/8/93 p.52
29. http://www.usatoday.com/money/economy/2002-12-12-manufacture_x.htm

74 75
A indústria metalúrgica americana, de 1982 a 2002, aumentou a sua restaurantes, introduzindo quiosques electrónicos para substituir a
produção de 75 mega-toneladas para 120 mega-toneladas, enquan- equipa do balcão, assim como ferramentas culinárias automáticas,
to que os seus trabalhadores decresceram de 289.000 para 74.000.30 como "viradores" de hambúrgueres, para a equipa interna. O facto
Em 2003, a Alliance Capital realizou um estudo abrangendo as 20 de ainda não terem feito está provavelmente relacionado com ques-
maiores economias do globo, no período de 1995 a 2002, estudo tões de relações públicas, porque eles sabem quantos empregos se-
esse que descobriu que 31 milhões de empregos foram perdidos no riam cortados caso automatizassem.
sector industrial, enquanto a produção aumentou 30%.31 Este pa-
drão de Aumentar a Produtividade e o Lucro, associado à Diminuição Não há nenhuma área no sector dos serviços que não esteja a ser
do Emprego, é um fenómeno recente e poderoso, sem fim à vista. afectada pela automação informática. Na verdade, se alguém pen-
sasse, de forma criativa, sobre a aplicação da tecnologia actual que
Então... para onde foram estes empregos? — Para o Sector dos ainda não é aplicada no sector dos serviços, perceberia facilmente
Serviços. Durante o período de 1950 a 2002, a percentagem de que, de um dia para o outro, a maioria destes empregos poderiam
americanos empregados nos Serviços subiu de 59% para 82%.32 ser extintos, começando pelos caixas, empregados, e operadores
Nos últimos 50 anos, este sector absorveu os desempregados da de telefone.
Agricultura e da Indústria.
O Economista Stephen Roach alertou:
Infelizmente, este padrão está a desacelerar, à medida que a auto- "O sector dos serviços perdeu a sua função como ilimitado mecanis-
mação informática entra em cena. De 1983 a 1993, os bancos cor- mo criador de empregos nos EUA."35
taram 37% dos trabalhadores de caixa, e no ano 2000, 90% dos
clientes utilizavam as caixas electrónicas (Multibanco).33 Os opera- Onde está o novo sector emergente que dê trabalho a todos estes
dores de tele-marketing foram quase completamente substituídos desempregados? De facto não existe... ou pelo menos ainda não.
por vozes electrónicas que respondem a perguntas. Os trabalhado- Embora existam muitos campos de especialização emergindo no
res dos balcões dos correios estão a ser substituídos por máquinas domínio da Informática, são muito limitados na sua capacidade de
Auto-Serviço, enquanto que os trabalhadores de caixa são subs- oferecer algo que esteja sequer perto de uma compensação pela
tituídos por quiosques electrónicos. O McDonald's, por exemplo, vasta perda de empregos que está para vir. E enquanto os econo-
já tem falado há muitos anos de uma total automação nos seus mistas se esforçam para criar modelos para lidar com esse proble-
ma de desemprego quase imparável, estendendo-se desde o apoio
30. Schwartz, Nelson D. Will 'Made in the USA' fade away? Fortune Nov 24th 2003, p. 102
31. US Weekly Economic Update: Manufacturing Payrolls Declining 34. http://www.techdirt.com/articles/20030801/1345236_F.shtmls
Globally: The Untold Story, Alliance Bernstein Oct 2003. 35. Interview, 3/15/94 noted in The End of Work (by Jeremy Rifkin), p. 143
32. http://www.usatoday.com/money/economy/2002-12-12-manufacture_x.htm
33. Retooling Lives, Vision 2000 p. 43.
76 77
financeiro que o governo dá ao trabalhador (subsídio de desempre-
go) até noções modernas como o 'imposto de rendimento negati-
vo', a maioria recusa-se a ter em conta o que é realmente necessário
para evitar o caos total neste planeta. A solução não é tentar "con-
sertar" os problemas que aparecem, em vez disso está na hora de
resumo do Capítulo 2
transcender o sistema como um todo... porque o sistema de troca
monetária, em conjunto com o próprio Capitalismo, está agora to-
talmente obsoleto no decorrer da criatividade tecnológica.

O Sistema Monetário Mundial não é mais do que um jogo. Tem


pouco fundamento na realidade. Surgiu há centenas de anos, quan-
do a escassez de recursos era um problema quotidiano. Antigamente,
as pessoas tinham que distribuir as mercadorias e serviços de algu-
ma forma, enquanto compensavam aqueles que os criavam atra-
vés do seu trabalho. Este Sistema Monetário baseado no Trabalho
tem sido o principal alicerce da sociedade até agora, e a maioria das
pessoas nem sequer consegue imaginar um mundo sem ele. Não
obstante, os mecanismos inerentes a este sistema, tanto estrutu-
rais como psicológicos, criam problemas dramáticos à sociedade
como um todo, desde os crimes monetários e distorções emocio-
nais, até ao abuso e exploração em grande escala do planeta e do
próximo. De facto, o mundo de hoje é composto por uma série de
Máfias tribais. Na realidade, a fronteira entre o crime organizado
e os negócios tradicionais não existe. Por sua vez, o mundo inteiro
está em luta consigo mesmo, com os indivíduos, as empresas e as

78 79
nações tentando sempre defender o que têm, ao passo que se es-
forçam para ganhar mais, muitas vezes através da força e da corrup-
ção. Hoje, o mundo inteiro deve a si próprio quantidades ridículas de
dinheiro, enquanto a integridade da estrutura do mundo financei-
ro está à beira de um colapso devido às suas próprias deficiências.
Contudo, não obstante a importância destas questões, existe uma
força imprevista e ainda mais poderosa que garantirá o fim do siste-
ma económico tal como o conhecemos de uma vez por todas, que
é o Desemprego Tecnológico. Os seres humanos estão a ser substi-
tuídos por tecnologias de automação a um ritmo acelerado, dando
início a um desastre de proporções jamais vistas, uma vez que sem
empregos, as pessoas não podem manter a economia através da
compra de bens. Esta realidade é a prova final de que o nosso siste-
ma está desactualizado, e se queremos impedir desordem e miséria
numa escala sem precedentes, vamos ter de rever os nossos concei-
tos tradicionais acerca do funcionamento da sociedade ao seu nível
mais básico.

Precisamos de um novo sistema social, um que esteja actualizado


com o conhecimento e os métodos dos nossos dias.

80
Parte 2 — O que é relevante?

Capítulo 3

A Lei Natural

“Enquanto estivermos sob a tirania dos sacerdotes, será sempre


do interesse deles, invalidar a lei da natureza e a razão, de
modo a estabelecerem um sistema com estes incompatível.”

Ethan Allen
de funcionamento do sistema monetário, não tendo qualquer su-
porte equivalente na natureza no que toca a um verdadeiro "con-
tributo para a sociedade". O mesmo se pode dizer dos correctores
de bolsa, negociantes e tudo o que diga respeito ao sector financei-
ro. Estes são papéis arbitrários e inúteis que em nada contribuem
a longo prazo para a sociedade. Muito embora haja quem defenda
que o exercício desses papéis afecta pessoas todos os dias dentro do
sistema económico, é tempo de nos afastarmos realmente e come-
çarmos a concentrar os nossos esforços nos problemas sociais que
realmente são relevantes para o progresso social...contrariamente a
empregos arbitrários elaborados com o intuito de extrairmos a for-
Quando saímos da complexidade social e nos examinamos a nós tuna uns aos outros. Isto é um desperdício de vida.
mesmos e ao mundo, numa perspectiva mais ampla, descobrimos
que existe uma enorme quantidade de distúrbios no sistema. Por ou- Consequentemente, todo o sistema educacional moderno não é
tras palavras, as necessidades básicas da vida têm-se perdido num mais do que uma máquina que talha o humano e o prepara para
mar de obrigações sociais, ocupacionais e financeiras, muitas das uma maioria de encargos ocupacionais predefinidos. Este elemento
quais altamente artificiais. Por exemplo, a necessidade de dinheiro da vida humana está tão tradicionalmente entranhado, que muitos
e rendimento põem o Homem face a uma situação em que a mar- acreditam erroneamente que a natureza de "ter um trabalho" é, de
gem de manobra é recorrentemente muito reduzida. Muitas vezes, algum modo, um instinto humano. Até os pais perguntam aos seus
a procura de trabalho em função do rendimento não reflecte genui- filhos "O que é que queres ser quando fores grande?" como se só
namente os interesses dessa mesma pessoa, nem os interesses de houvesse uma escolha. Isto é desconcertante e uma violação do po-
uma sociedade conjunta. Se fôssemos examinar as actividades la- tencial humano.
borais que existem actualmente, chegaríamos à conclusão de que a
maior parte delas não tem qualquer função real a não ser a de perpe- Agora, por uma questão de argumento, esqueçamos por um momen-
tuar o "consumo cíclico". Isto constitui um tremendo desperdício de to os modos de conduta contemporâneos da sociedade e pondere-
vidas e de recursos. Para exemplificar, uma pessoa que vende segu- mos sobre o que será verdadeiramente real. Façamos a pergunta:
ros exerce uma ocupação que só é relevante dentro dos parâmetros

84 85
Quais são as facetas quase empíricas da natureza e o que é que Por exemplo, a água e o ar são recursos planetários naturalmente
esses entendimentos nos ensinam quanto à maneira como deverí- abundantes, que apenas necessitam que nós, a população humana,
amos governar a nossa conduta neste planeta? preservemos as suas fontes para que se mantenham. Infelizmente,
o nosso sistema de lucro, impulsivo e míope, está a fazer com que
1ª Lei Natural: a água potável esteja a atingir níveis críticos de escassez, pois a
Todo o ser humano necessita de uma alimentação adequada, ar Indústria continua reiteradamente a poluir. Em termos gerais, o ar
e água limpa e por essa razão deve respeitar os processos simbi- ainda é bastante abundante embora este tenha sido gravemente
óticos do ambiente a eles inerentes. poluído em zonas de grandes concentrações humanas, a tal ponto
que na Ásia muitos usam máscaras para sair à rua. É evidente que a
Antes de mais, cerca de 40% das mortes no mundo são causadas poluição da água e do ar leva a inúmeros outros problemas. Apenas
pela poluição da água, do ar e do solo.36 Esta é uma percentagem nos Estados Unidos, cerca de 3 milhões de toneladas de produtos
impressionante. Como é que nos podemos levar a sério, enquanto químicos tóxicos são despejados no ambiente por ano - contribuin-
sociendade, quando nem sequer somos capazes de suster devida- do assim para deficiências em bebés, problemas imunológicos, can-
mente os recursos e processos naturais mais vitais? Porque é que cro e muitos outros problemas graves de saúde.37 Progressivamente,
existem tantos "cientistas" a trabalhar hoje em interesses esotéri- até os processos que geram a nossa água potável e o nosso ar puro
cos como os "buracos negros", "campos quânticos" e a formação de estão a ser corrompidos. Desde chuvas ácidas à desflorestação, es-
novos planetas, quando ainda nem conseguimos tomar conta de tamos a assistir a uma destruição contínua do que já foi uma abun-
nós próprios! dância limpa e natural.

O facto é que a maioria dos humanos não entende ou não consi- Falando agora da produção de alimentos, temos de entender que
dera sequer a interconectividade da natureza e o encadeamento de a Indústria hoje faz os possíveis e impossíveis para produzir a co-
processos através dos quais é produzida a nossa comida, ar e água. mida mais barata e competitiva, consequentemente sacrificando a
Contudo, se examinarmos e aprendermos com estes processos, um nutrição saudável dos mesmos. Por exemplo, a grande maioria dos
entendimento lógico encadeado, acompanhado por uma inferência alimentos de hoje têm o que é chamado de "xarope de milho rico
sugestiva, guiar-nos-á a comportamentos humanos mais apropria- em frutose". Este substituto barato de cana-de-açúcar está pro-
dos que nos ajudarão a satisfazer as nossas necessidades. vado ser um contributo ao aumento do risco de diabetes e outras
doenças.38 Então por que razão é usado!?... Porque é mais lucrativo

36. http://www.eurekalert.org/pub_releases/2007-08/cuns-pc4081307.php 37. http://www.eurekalert.org/pub_releases/2007-08/cuns-pc4081307.php


38. http://www.diabeteshealth.com/read/2008/08/20/4274/
the-dangers-of-high-fructose-corn-syrup/

86 87
e o público, estando sempre ciente dos custos, compra-o pois é Não há provas que apoiem a ideia de que aquilo que consideramos
mais barato. verdade hoje ainda o seja amanhã. Paradoxalmente, isto também
é válido para tudo aquilo que está a ler. Enquanto certos fenóme-
A relação simbiótica dos processos naturais tem um sistema de re- nos naturais observados podem parecer quase empíricos dadas as
ferência embutido, que está acessível através de investigação cien- observações científicas existentes, os detalhes de cada noção serão
tífica e do entendimento de como o mundo realmente funciona. O sempre alterados, uma vez que as nossas ferramentas e métodos
nosso comportamento deveria ser guiado pela prioridade de de análise estão em constante mudança e para melhor, esperemos.
atingir a mais alta optimização das circunstâncias que permitem
preservar e maximizar a abundância e qualidade das nossas ne- Nas palavras de C. J. Keyser:
cessidades da vida. Infelizmente, tal não acontece. "Certeza absoluta é um privilégio de mentes incultas e de fanáticos."39

A realidade é que a nossa sustentabilidade está severamente ame- Uma análise de relance às noções históricas ferozmente defendi-
açada pelos métodos usados actualmente. O sistema monetário das, desde a Terra ser plana ao Sol girar em torno da Terra, mostra
continua a operar apenas para o ganho a curto prazo, ignorando que a mudança intelectual é constante e que nós temos que man-
a destruição a longo prazo. Tal como demonstra a 1ª Lei Natural ter a mente o mais "aberta" possível a novas informações e ideias,
precisamos de boa qualidade de ar, de comida e de água para viver. mesmo que estas ameacem as fundações da nossa realidade. É um
Portanto, temos de superar todos e quaisquer sistemas que pertur- lamentável efeito secundário da evolução, que na nossa cultura mo-
bam, ou que tenham tendência a perturbar, os processos simbióti- derna, os nossos valores e ideias estejam impregnados de uma gran-
cos do ambiente que salvaguardam as nossas necessidades básicas. de quantidade de ego. Por exemplo, a religião tende a manter-se
Se não o fizermos, as consequências da violação desta lei poderão agarrada às suas ideias estáticas de como o mundo é, ideias essas
colocar-nos num ponto sem retorno relativamente ao ambiente - o que normalmente reflectem conhecimentos já obsoletos à milhares
que porá a sobrevivência da raça humana em causa. de anos. Dada a forma como muitas ideias religiosas ameaçam com
consequências metafísicas (céu e inferno) aqueles que contradizem
2ª Lei Natural: os seus ensinamentos, muitas pessoas, por medo, ainda mantêm
A única constante é a mudança e os conhecimentos humanos essas concepções do mundo, rejeitando novas informações que as
estão sempre em evolução. poderiam ajudar no seu dia-a-dia, para não falar de ajudar a própria
sociedade. É claro que a religião está longe de ser a única responsável,

39. Fresco and Keyes, Looking Forward, Barnes, 1969, p. 62

88 89
pois parece que a maioria das pessoas quer acreditar que o que elas
acham que é certo e verdadeiro é empiricamente correcto. Até certo
ponto, isto até faz sentido, uma vez que a sociedade de hoje costu-
ma desprezar aquelas que "não sabem".
O Método Científico
Tudo o que pensamos e "sabemos" são meras probabilidades e
com os métodos de análise modernos, os quais têm provado serem
proactivamente benéficos para a sociedade ao longo de vastos pe-
ríodos de tempo, podemos agora pesar os nossos conhecimentos e
ideias numa escala, de menos provável a mais provável, baseando-
-nos não em opiniões ou subjectividades, mas em medidas concretas
da Natureza. A natureza tem as suas próprias leis e não é capaz de reconhecer ou
se importar com o que você ou qualquer outra pessoa quer acredi-
tar que é verdade. Dada esta realidade, é do nosso interesse apren-
der essas leis e nos alinharmos com a natureza o melhor possível.
Navegar de acordo com as correntes do oceano é muito mais fácil
do que lutar contra elas... e embora alguém possa acreditar com
toda a sua força que pode andar no tecto sem algum tipo de ajuda
física, a Lei da Gravidade assim não o permitirá.

O melhor método actualmente conhecido para descobrir e aplicar


estas leis da natureza é denominado: “Método Científico".

O Método Científico é resumidamente composto por três passos:

90 91
❶ — Ficar ciente de uma nova ideia ou problema que necessite ser Um exemplo clássico disto aconteceu com Aristóteles (384 AC - 322
resolvido. AC). Ele, apenas através do raciocínio lógico baseado no que ele
❷ — Usar o raciocínio lógico para criar uma hipótese, considerando compreendia no seu tempo, formulou a hipótese de que um objecto
toda a informação disponível. pesado cai mais rápido do que um objecto da mesma forma e mate-
❸ — Testar a hipótese no mundo real através de observação. rial. Ele assumiu logicamente que quanto mais pesado um objecto
fosse, mais rápido cairia num vácuo. No entanto, ele não testou essa
ideia. Por não ter utilizado o método científico de forma correcta, o
'Lógica' é aqui definida como: um método de pensamento humano que envolve mundo teve de esperar mais 2000 anos, até Galileu finalmente tes-

nota raciocinar de uma forma linear, passo-a-passo, no intuito de deduzir causas e


efeitos, tendo em conta a maior quantidade de informação relevante possível,
de maneira a atingir uma conclusão ou hipótese.
tar a hipótese de Aristóteles e descobrir que este estava errado visto
que, o peso não influencia o quão rápido um objecto cai num vácuo.

O que se pretende sublinhar é que não importa o quão bem racioci-


O Método Científico consiste num conjunto de técnicas usadas para nadas as nossas conclusões possam ser, elas têm de ser testadas. Se
investigar fenómenos; para adquirir novos conhecimentos; para atirarmos água numa fogueira, o fogo provavelmente vai-se apagar.
corrigir e integrar conhecimentos anteriores com novas informa- Isto dá-nos alguma informação que nos permite inferir o seguinte:
ções e aplicar esses conhecimentos. As técnicas usadas consistem "A água apaga o fogo". Enquanto esta teoria pode ser verdadeira
em métodos de observação empíricos, (tal como tirar medidas), para a maioria dos fogos, se atirarmos água em fogo de óleo, o óleo
juntamente com hipóteses raciocinadas e, por último, testando rapidamente flutua à superfície da água e o fogo espalha-se. Logo,
essas hipóteses no mundo real para obter feedback quanto à vali- a hipótese de que a "Água apaga fogo" não é completamente verda-
dade da ideia. Todas as conclusões necessitam de provas testadas e deira e deve ser revista para se ter em conta esta nova situação.
não apenas de raciocínios ou inferência. Embora o raciocínio lógico
seja importante para o desenvolver das pesquisas científicas, ainda O Método Científico também é uma atitude, uma perspectiva. Não
é passível de falhar, pois cada um de nós apenas tem acesso a uma importa o quão 'certo' algo pode parecer, nós vamos verificar através
quantidade limitada de conhecimentos. de observação e testes se de facto a sua validade mantém-se. Ou
seja, devemos ser extremamente cépticos relativamente a qualquer
afirmação que não possa ser vista ou testada no mundo físico.

92 93
Stuart Chase disse: No entanto, a maioria das pessoas, com a sua visão romântica do
mundo, ainda vê a ciência como algo frio e sem misericórdia, ao
"(O método científico) interessa-se pelo modo como as coisas real- mesmo tempo que cita horrores derivados de valores humanos dis-
mente acontecem e não em como elas deveriam acontecer. A maio- torcidos tal como a Bomba Atómica para refutar a perspectiva cien-
ria de nós pratica o método científico no nosso dia-a-dia, embora tífica. Na verdade, a ciência é apenas uma ferramenta, e como tudo,
não estejamos cientes disso... O método científico não é apenas um pode ser usada para fins produtivos ou destrutivos. Essa é uma es-
assunto de laboratórios e aceleradores de partículas ou até mesmo colha nossa.
de réguas; é uma maneira de olhar para as coisas, uma forma de
apreender conhecimentos sobre o mundo exterior que se mantêm
constante, e não sai a passear como os pinos de um jogo de críquete
como em 'Alice no País das Maravilhas.'"40

A forma de pesquisa do método científico foi o que permitiu à espé-


cie humana ganhar compreensão sobre si mesma e sobre o mundo à
sua volta. Para melhor ou para pior, é o que está por detrás de quase
todos os progressos que melhoraram a qualidade de vida da espé-
cie humana. Embora se possa debater o que constitui "melhoria",
não há nada que se possa sequer comparar à vasta quantidade de
criação e liberdade que a ciência tornou possível. Todos os benefí-
cios físicos e materiais que a humanidade aproveita são produtos de
pesquisa científica. Desde a electricidade, ao whisky, à Penicilina, ao
telefone, à Internet... A ciência tem continuamente tornado o consi-
derado impossível em possível. Até mesmo os crentes das religiões
mais arcaicas costumam ceder ao mundo da ciência e ir a um hospi-
tal aquando de uma emergência médica.

40. Chase, Stuart, Tyranny of Words, Harcourt Brace, NY, 1938, pp.-123-24

94 95
Devido ao sistema monetário, a maior parte dos materiais é proprie-
dade de um número reduzido de empresas privadas. Estas empre-
sas não revelam a quantidade verdadeira dos recursos que possuem,
pois fazê-lo teria consequências financeiras. Ainda pior, é do melhor
Equilíbrio dinâmico interesse dessas empresas perpetuar a escassez ao máximo, pois es-
cassez significa que cada unidade vale mais, logo, têm mais lucro.

A gestão humana do Equilíbrio Dinâmico do planeta, que é a variável


mais vital para a gestão da sociedade, só pode vir depois de saber-
mos exactamente qual é a capacidade de suporte da terra. As ne-
cessidades da população humana têm de estar em equilíbrio com os
"Equilíbrio Dinâmico" ocorre quando dois processos opostos se pro- recursos existentes na terra.
cessam à mesma velocidade. Por exemplo, dada uma pequena ilha
com ① cenouras selvagens, ② uma família de coelhos e ③ uma fa- Tendo dito isto, o que é que sabemos e podemos inferir sobre os recursos
mília de lobos. Os coelhos precisam das cenouras para comer e logo disponíveis a nível planetário?
sobreviver, enquanto os lobos precisam dos coelhos para comer e
igualmente sobreviver. Em cada um dos pares, há um equilíbrio que Os pilares fundamentais para a sobrevivência humana em socieda-
tem de existir baseado na capacidade de suporte da ilha. Se não hou- de consistem em:
ver cenouras suficientes, alguns coelhos não sobreviverão. Se não
houver coelhos suficientes, alguns lobos não sobreviverão. Se todas ❶ — Energia
as cenouras forem destruídas numa cheia, toda a gente morre. ❷ — Matéria-prima Industrial / Tecnológica
❸ — Comida, Ar e Água
Por outras palavras, há um equilíbrio no mundo físico que dita, em
algum nível, quais as possibilidades para os organismos que usam ❶ — A Energia é a principal preocupação da sociedade de hoje. É
os recursos disponíveis para sobreviver. Falando do nosso planeta, um dos factores mais críticos para o funcionamento de toda a socie-
podemos chamar a isto de "A capacidade de suporte da Terra". dade. A disponibilidade de recursos energéticos renováveis tem de ser,
antes de mais, determinada e avaliada. Por sorte, os resultados são

96 97
incrivelmente positivos. No início deste século, um mar de fontes se extraídas eficientemente através de tecnologia. A radiação solar
de energia renovável tem aparecido, muitas com valores potenciais incidente na superfície da Terra é, num ano, 10,000 vezes superior
muito superiores às necessidades de energia do mundo presentes. ao consumo de energia anual do mundo.42 O problema, então, não
A era do Petróleo e combustíveis fósseis, com toda a sua poluição é se existe energia suficiente - mas sim a tecnologia para a extrair
resultante, está a chegar ao fim. Já não há razões para queimar de forma eficiente. Desde os simples painéis fotovoltaicos que cap-
combustíveis fósseis, se não contarmos com os fins lucrativos e os turam a energia para baterias, até grandes centrais de captura de
grupos de interesses que impedem o livre uso destas novas tecnolo- energia solar, novas tecnologias estão sempre emergindo e aumen-
gias. Não se esqueçam que a última coisa que a Indústria da Energia tando este potencial.43 A energia eólica, embora denunciada como
Eléctrica quer é abundância, pois isso significa menos lucro no siste- fraca, é muitas vezes muito mais potente do que a maioria das pes-
ma monetário. soas foi levada a pensar. O Departamento de Estudo das Energias
dos Estados Unidos concluiu que se a energia eólica fosse extraída
Ora, uma das fontes de energia mais importantes, hoje, é a Energia nos estados do Texas, Kansas e Dakota do Norte produziria energia
Geotérmica. Um estudo do MIT, de 2006, relata que 13,000 zeta- eléctrica suficiente para alimentar o país inteiro.44 Ainda mais im-
joules de energia existem actualmente armazenados sob a forma pressionante é um estudo da Universidade de Stanford publicado
de calor na Terra, com a possibilidade de 2000 zetajoules serem no Journal of Geophysical Research reporta que se apenas 20% do po-
facilmente extraídos com melhoramentos à tecnologia actual.41 tencial de energia eólica mundial fosse explorado, seria suficiente para
Baseado em dados de 2005, World Consumption of Primary Energy suprir o consumo de energia eléctrica mundial actual.45
by Energy Type and Selected Country Groups, 1980-2004, todos os
países em conjunto consomem actualmente cerca de meio zetajou-  E ainda temos a energia das ondas e das marés. Energia das marés
le por ano, o que significa que, durante cerca de 4000 anos podemos, vem das mudanças das marés nos oceanos. Instalando-se turbinas
desta forma, extrair energia para o mundo. E quando compreeder- para capturar este movimento, gera-se energia. Pode-se fazê-lo na
mos que o calor do da terra é constantemente renovado, este tipo Corrente do Golfo, na Corrente Islandesa e noutras correntes suba-
de energia é realmente ilimitado e poderia ser utilizado para sempre. quáticas. No Reino Unido, existem 42 locais propícios para o fazer e
está previsto que 34% do total do consumo do Reino Unido possa
Sem contar com a energia geotérmica, a energia solar, eólica, das vir apenas da energia das marés.46 Ainda mais interessante é que a
ondas e das marés que também oferecem alternativas significativas
43. http://www.redorbit.com/news/science/1637594/
research_highlights_potential_for_improved_solar_cells/
44. "U.S. National Renewable Energy Laboratory" 6 de Fevereiro de 2007
41. MIT, The Future of Geothermal Energy, 2006 45. http://www.stanford.edu/group/efmh/winds/global_winds.html
42. http://encyclopedia2.thefreedictionary.com/solar+energy 46. http://www.bwea.com/marine/resource.html
47. Future Energy Solutions/ IEA report, 2003
98 99
energia das ondas, que extrai energia dos movimentos na superfície Os elementos na categoria dos metais são os mais importantes, pois
do oceano, tem um potencial estimado de 80,000 TWH por ano.47 eles apenas derretem a uma temperatura relativamente elevada; a
O que significa que 50% de todo o consumo de energia eléctrica no sua forma pode ser facilmente transformada em fios finos ou em
mundo poderia ser provido apenas por esta fonte.48 folhas sem quebrar e são bons condutores de calor e de electricida-
de. Isso torna-os muito úteis para a criação de produtos / aplicação
É importante notar que as energias das marés, das ondas, solar e industrial. Estes metais podem ser encontrados na crosta terrestre
eólica não necessitam de energia preliminar para começar o proces- e nos oceanos, quer na sua forma pura, ou mais vulgarmente, ex-
so de produção de energia, ao contrário da energia proveniente do traído de minerais. As reservas globais de minerais são actualmente
carvão, petróleo, gás, biomassa, hidrogénio e todas as outras. avaliadas pela saída de produção comercial. Infelizmente, isso não
nos dá uma imagem clara do que está disponível. Enquanto alguns
O facto é que a energia é abundante neste planeta. elementos / minerais são bastante abundantes, como o silício, o alu-
mínio e o ferro, outros estão aparentemente a escassear, tais como
A única razão para que as pessoas de hoje pensem que é escassa, é o cobre, o chumbo, o zinco, o ouro e a prata.49 No que se refere ao
por causa do sistema monetário / capitalista e da sua propensão es- conhecimento deste autor, nunca houve um levantamento geoló-
tratégica para criar escassez. gico completo dos minerais / elementos da Terra, apenas regionais.
No futuro, isto terá de ser feito.
❷ — A próxima questão é então e as matérias-primas para a indús-
tria? Podem os recursos naturais da terra, tal como a madeira, o Agora, de todos, há 3 componentes básicos para compreender a ca-
ferro, o alumínio e o algodão suportar a população mundial? pacidade da Terra.

Tudo o que vê à sua volta é feito de pequenas partículas chamadas ① — Saber exactamente o que a terra dispõe no que concerne aos
de átomos. Há diferentes tipos de átomos, cada um com uma com- elementos / materiais.
binação especial de protões, neutrões e electrões. Estes diferentes ② — Quais são as considerações da tecnologia para criar substitutos
tipos de átomos são chamados de elementos. Actualmente há 118 sintéticos para certos elementos / materiais.
elementos na tabela periódica, estando 92 naturalmente disponí- ③ — De que modo a sociedade organiza / gere a utilização destes
veis no mundo (os outros 26 são feitos de forma sintética) e esses elementos / materiais.
elementos basicamente constituem tudo o que nos cerca.

48. World Consumption of Primary Energy by Energy Type and Selected Country Groups, 49. http://www.britannica.com/EBchecked/topic/383726/
1980-2004, Energy Information Administration, U.S. Department of Energy. mineral-deposit/82165/Geochemically-abundant-and-scarce-metals

100 101
① — Temos de fazer um levantamento completo de todos os recursos carga da terra. Como visto anteriormente, as pessoas do mundo fun-
do planeta. Isto dar-nos-á informações-chave sobre como proceder- cionam dentro de um sistema monetário que recompensa escassez,
mos com as operações. Por exemplo, se quisermos produzir alimen- obsolescência planeada, desperdício, poluição e multiplicidade. O índi-
tos num terreno com um hectare, a primeira coisa a fazer seria testar ce de produção no mundo é hoje incrível quando comparado com o
o solo para perceber as suas qualidades. Esta informação estaria passado. Com o uso de tecnologia, nós somos capazes de produzir
directamente relacionada com o que conseguiríamos produzir. Isto mais com menos pessoas e mais rápido do que em qualquer outra
seria a "capacidade de carga" do terreno, por assim dizer. De uma época. No entanto, devido ao sistema de lucro, há toneladas de fa-
perspectiva planetária, esta é uma informação importante que tem bricantes que produzem as mesmas coisas, porque eles competem
um efeito directo sobre a forma como tomamos decisões. por quota de mercado. Os seus artigos são inerentemente inferiores
no momento em que são feitos, pois o produtor limita a qualidade
② — A diferença entre hoje e o passado é a nossa crescente habili- dos materiais usados para cortar nos custos. Desde que é um siste-
dade criativa, através do método científico, na resolução dos proble- ma competitivo, o desperdício é incrível, com preciosos materiais a
mas. Em detrimento dos materiais escassos encontrar substituições ser usados repetitivamente em produtos inferiores que acabam por
é um campo importante. Por exemplo, os diamantes têm sido con- ser deitados em lixeiras. Além disso, a manipulação do público pela
siderados materiais altamente valiosos e escassos. Uma aplicação indústria para o consumo de produtos sem utilidade tem aumenta-
deste forte mineral é como uma ferramenta de corte de precisão. do o desperdício. Lembre-se, o sistema monetário só funciona se
No entanto, agora, com o advento da criação em laboratórios de existir 'consumo cíclico'. Isso leva ao abuso dos recursos.
diamantes sintéticos, essas ferramentas não necessitam mais do
dispendioso original. Hoje, muitos materiais industriais possuem A verdadeira causa da escassez no planeta tem mais a ver com a nossa
uma contra parte sintética e esse processo de resolução de proble- conduta de exploração e desperdício do que com os recursos verda-
mas científicos é altamente activo. De facto, a escassez de qualquer deiramente disponíveis. Virtualmente, nenhuma atenção é dada para
matéria-prima só é relevante em relação à quantidade de trabalho que a conservação ou para o uso estratégico até que seja muito tarde.
está a ser investida na procura de alternativas ou substitutos. Numa sociedade sã, as matérias-primas do planeta seriam consultá-
veis, a indústria seria organizada como um todo para produzir em re-
③ — Mais importante do que alternativas ou substitutos é a natu- lação ao que está disponível e cada artigo produzido seria desenhado
reza da aplicação que damos aos recursos planetários. Esse é real- para durar o máximo possível, levando assim à redução da produção
mente o ponto mais importante no debate em função da capacidade de industrial e, consequentemente, à preservação dos recursos.

102 103
❸ — Agora, quando se fala sobre produção de alimentos e preser- De acordo com alguns relatórios, estamos a perder essa camada su-
vação de água, os mesmos problemas derivados do sistema mone- perficial à velocidade de 1% por ano, enquanto a Academia Nacional
tário, da poluição, da redução de custos e escassez vêm à tona. ( Em de Ciências determinou que a terra fértil nos EUA está a ser usada,
certos casos, minimizar desperdícios baixa os lucros. Se alguém tiver pelo menos, 10 vezes mais rápido que o processo de reparo do solo.50
que reprocessar desperdícios, ao invés de os deitar fora, o processo Felizmente, cientistas têm desenvolvido uma nova forma de agri-
torna-se mais caro). A água cobre 70% da superfície do planeta e cultura sem solo, chamada "hidroponia". este novo meio pontencia
tendo em conta os avanços tecnológicos, como o processo de des- um mar de opções para a população humana, não somente na com-
salinização, podemos criar água fresca a partir de água do mar ou a pensação pelo estrago que causamos, mas também pela expansão
partir de fontes levemente salgadas, usando o processo de osmose da possibilidade de quando e como os alimentos podem ser cultiva-
reversa. Esse é outro exemplo de como a tecnologia tanto faz parte dos. Com a agricultura hidropónica, nós poderíamos, teoricamente,
do gerenciamento de recursos como é um recurso adicional por si cultivar alimentos no meio do deserto, com irrigação apropriada ou
só. A ideia de que a água é escassa só é verdadeira em relação aos acedendo ao lençol freático.
métodos limitados que usamos actualmente, junto com a poluição
industrial que se segue diariamente. Outras possibilidades inexploradas de produção de alimentos in-
cluem multiplataformas oceânicas submarinas em suspensão, assim
A produção de alimentos também se está a expandir dentro do es- como plantas aéreas. O crucial é que a produção de alimentos só é
pectro tecnológico, criando vastos novos métodos de cultivo. Por escassa se nós o decidirmos. Se escolhermos ser inteligentes e es-
exemplo, a superfície da terra está, de facto, a ser abusada, com a tratégicos com os nossos métodos de produção, enquanto preser-
sua preciosa camada superficial do solo a ser corrompida por méto- vamos o meio ambiente e tirarmos todo o partido das invenções
dos agrícolas indiferenciados. científicas que maximizam a nossa capacidade de produção de ali-
mentos, reduzindo métodos ineficientes e que levam ao desperdício,
O solo superficial é a camada mais externa do solo, geralmente com 5 a 20 cm alimentos saudáveis podem tornar-se tão abundantes como água.

nota
de profundidade. Nele estão as maiores concentrações de matéria orgânica e Não é por falta de alimentos que por todo o mundo morrem crian-
microorganismos e é onde ocorre a maioria da actividade biológica do solo da
Terra. As plantas geralmente concentram as suas raízes e obtêm a maioria dos ças à fome. É antes por falta de poder de compra, não uma escassez
seus nutrientes a partir desta camada. real, que causa a morte a milhões anualmente desnecessariamente.

50. http://seattlepi.nwsource.com/local/348200_dirt22.html

104 105
A natureza possui as suas próprias leis por isso é de nosso interesse
entendê-las e, de acordo com elas, alinhar o nosso comportamento.
Nós precisamos de estar preparados para entender que aquilo em
que acreditamos ser verdade hoje será actualizado amanhã. Essa é
Resumo do Capítulo 3 a natureza emergente do conhecimento. Nós aprendemos com os
nossos erros e estes são verdadeiros presentes, pois eles podem-
-nos levar a um nível mais elevado de entendimento. O Método
Científico, com a sua base de pensamento lógico, provas evidenciais
e testáveis, é a filosofia orientadora que tem resolvido problemas e
melhorado a qualidade de vida da humanidade.

O equilíbrio dinâmico do planeta Terra em relação à espécie humana


não é um sistema rígido. Está nas nossas mãos a responsabilidade
de manter as coisas em balanço através da gestão inteligente dos
recursos da Terra. Se isso for feito correctamente, não há evidências
que suportem que não possamos ter abundância para todos.

Os três atributos para o gerenciamento são:

❶ — Conhecer as matérias-primas disponíveis.

❷ — Trabalhar proactivamente para superar qualquer deficiência


através de substituições estratégicas.

❸ — Usar a tecnologia de todas as formas para maximizar a pro-


dução de alta qualidade, minimizar o impacto no meio ambiente e
superar os problemas em geral.

106 107
Capítulo 4

Meios para uma


Evolução Social

"Alguns homens vêem as coisas como são e dizem 'Por quê?'


Eu sonho com as coisas que nunca foram e digo 'Por que não?'"

George Bernard Shaw


agarrando-se aos valores tradicionais ensinados pela família e pela
cultura social.

A maioria dos nossos valores tradicionais foram inicialmente postos


em prática à muito tempo atrás, por exemplo, a Bíblia diz “Ganharás
o teu pão com o suor do teu rosto”. E se a sociedade não tivesse a
necessidade de trabalhar para ganhar dinheiro? Este valor deixaria
de ser verdadeiro. O facto é que, os valores tornam-se desactuali-
zados, assim como o conhecimento e tudo o resto. Com respeito às
descobertas científicas actuais, a maioria dos valores da sociedade
parecem estar desactualizados milhares de anos.
O que é que nós queremos? Como é que lá chegamos? Que ferra-
mentas necessitamos? Dito isto, paremos um momento e reflictamos sobre quais são
os nossos valores e objectivos, tanto pessoais como sociais. O
Os nossos Valores são aquilo a que damos importância; são as Movimento Zeitgeist, juntamente com o Projecto Vénus, tem um
nossas metas; são aquilo com que nos preocupamos; aquilo que conjunto de objectivos e valores sociais, que julgamos serem críticos
consideramos sagrado e aquilo que queremos da vida. Esses va- para a sustentabilidade da espécie.
lores não são nem imutáveis nem eternos, no entanto, quando
impostos a uma pessoa de tenra idade, têm uma forte tendência
para se perpetuarem. Doutrinações tradicionais, tais como im-
posição de crenças nacionalistas e religiosas, podem-se tornar os
pilares da identidade de uma pessoa e são emocionalmente difí-
ceis de ultrapassar. O facto é que, os valores humanos provêm do
meio-ambiente. Por exemplo, se pegássemos numa criança re-
cém-nascida de uma família Americana de classe-média e a colo-
cássemos no Médio Oriente, no berço de uma família Islâmica, ela
muito provavelmente aprenderia a falar árabe e seria muçulmana,

110 111
Objectivos Método

Ar puro, água limpa, comida nutritiva, abundância material, Agora, com os objectivos base estabelecidos, temos de pensar
transportes rápidos, limpos e eficientes, educação relevante, nos métodos a utilizar de modo a alcançarmos esses objectivos.
saúde pública, fim à guerra, liberdade pessoal, um meio-ambien- Inequivocamente, O Método Científico é a ferramenta mais pode-
te que permita constantemente melhorar as nossas habilidades, rosa que conhecemos. Pois a observação, a lógica e os testes, desde
extensão dos atributos humanos, redução do stress e do crime. há muito triunfaram sobre a superstição, a intuição e a metafísica.

Estas metas sociais estão longe de serem complexas ou irracionais. Nas palavras de Karl Pearson:
De facto, muitos irão concordar que as filosofias seculares e religio-
sas têm vindo poeticamente a tentar responder a estas necessida- "Não existe atalho para a verdade, nenhuma maneira de adqui-
des e vontades durante séculos. rir conhecimento do universo a não ser pelos portões do método
científico"51

A aplicação inteligente dos métodos da ciência é aquilo que nos trou-


xe tudo o que nos ajuda no dia-a-dia. Aplicar a ciência à organização
social é o próximo passo na nossa evolução. (Por favor, consulte o
capítulo 3 para mais detalhes sobre a metodologia científica)

51. Pearson, Karl, The Grammar of Science, 1911 p.17

112 113
Umas das características da tecnologia é a habilidade de constante-
mente desafiar aquilo que consideramos possível.

Nas palavras do Dr. George Gallup:


Ferramentas
"Sempre, ao longo da história, o homem assumiu que a civilização
atingiu o seu apogeu. Presunçosamente recusou colocar-se na esca-
la de tempo que vai desde milhares e milhões de anos para o futuro,
bem como para o passado. Olhado de um ponto de vista de 8.000
anos no futuro, - aproximadamente o período da história escrita - o
progresso do homem até ao momento é provável que pareça muito
As ferramentas físicas que precisamos para alcançarmos os nossos menos impressionante do que aquilo que parece ser hoje."52
objectivos vêm da aplicação humana da Tecnologia. Desde um sim-
ples martelo, até a fábricas de alta tecnologia totalmente automa- No início do século XX, a maioria dos cientistas concordava teorica-
tizadas, a invenção tecnológica continua a facilitar os métodos de mente que o avião era provavelmente impossível. Contudo, os irmãos
produção, enquanto que consistentemente torna o que antes era Wright estavam demasiado ocupados a montar um motor a gás numa
considerado impossível, possível. das asas na sua oficina de bicicletas em vez de se preocuparem com
opiniões erróneas. Pouco depois, eles desafiaram as autoridades e in-
A história da tecnologia demonstra um desenvolvimento em tremen- ventaram o outrora considerado impossível - a "máquina voadora".
da aceleração. Juntamente com o método científico de pensamento,
as ferramentas tecnológicas actualmente à nossa disposição têm a O facto é que, quando um cientista diz que algo é possível, ele está
capacidade de mudar radicalmente a humanidade de tal forma, que provavelmente correcto. No entanto, quando diz que algo é impos-
muitos considerariam fantástico demais para ser verdade. Se você sível, provavelmente está errado. A ciência e a tecnologia têm vindo
explicasse como funciona um telemóvel a um homem do século XII, a desafiar as prévias suposições de possibilidade e continuarão a
ele provavelmente não compreenderia e ficaria estupefacto com tal fazê-lo. Pode seguramente ser assumido que o que o futuro reserva
instrumento "mágico". em termos tecnológicos, muito provavelmente parecerá impossível
e "ridículo" sob os conhecimentos e os métodos de hoje.

52. " Gallup, George, The Miracle Ahead, New York, Evanston
e London, Harper and Row, 1964, p. ix

114 115
método científico. Se uma pessoa cresce com o valor de "ajudar os
pobres" e mais tarde encontra-se num meio-ambiente onde não
existe pobreza, possivelmente devido a avanços tecnológicos, este
valor não terá motivo para existir.
Processo
No fim de contas, os nossos valores em constante mudança são o
atributo que mais afecta a nossa evolução social. Os únicos valores
relevantes são aqueles procuram melhorar a sociedade e aqueles
que dificultam o seu desenvolvimento.

Agora, voltando à questão inicial, os três atributos de evolução


pessoal e social são portanto:

❶ — Os nossos OBJECTIVOS

❷ — O MÉTODO de pensar

❸ — As FERRAMENTAS para o fazer.

Os nossos objectivos são baseados naquilo que valorizamos, utili-


zamos O Método Científico para resolver problemas, criar / testar
hipóteses e aplicamos a tecnologia para que os nossos objectivos se
tornem realidade. É importante realçar que esta generalização não
é linear e que cada parte tem uma influência sobre todas as outras
partes. Por exemplo, os nossos valores são muitas vezes alterados
por adventos tecnológicos, juntamente com o raciocínio lógico do

116 117
falte a ninguém, maximizando a liberdade pessoal e a felicidade, ao
mesmo tempo que reduzindo os comportamentos sociais ofensivos,
ou crime. Estes valores só podem ser alcançados usando os métodos
científicos de forma inteligente e humana, e usando as ferramentas
Resumo do capítulo 4 tecnológicas. Na próxima secção, veremos como.

A nossa abordagem para a evolução social começa pelos nossos


valores. Os nossos valores são combinações de reflexões pessoais
sobre os conhecimentos por nós adquiridos, juntamente com as
doutrinações culturais tradicionais de onde crescemos. À medida
que o tempo passa, os nossos valores mudam. Infelizmente, mui-
tos dos valores que as pessoas têm hoje, vêm dum sistema social
largamente desactualizado tendo em conta a ciência e a tecnologia
moderna.

O processo para alcançar os objectivos consiste em: saber o que


queremos (Objectivos), pensar da maneira mais eficiente e portanto
científica (Método), e utilizar os nossos instrumentos tecnológicos
mais avançados de modo a tornar realidade os nossos objectivos
(Ferramentas). Os objectivos valorizados pelo Movimento Zeitgeist
e portanto pelo Projecto Vénus, são o redesenhar da sociedade para
o benefício de toda a humanidade, certificando-se de que nada

118 119
Parte 3 — economia baseada em recursos

Capítulo 5

Cibernização Social

"A humanidade está a adquirir toda a tecnologia certa


para todas as razões erradas."

R. Buckminster Fuller
o projecto vénus

"Nós apelamos a um verdadeiro redesenhar da nossa cultura, na qual as Nesta secção, iremos discutir o Projecto Vénus. O Projecto Vénus,
velhas e inadequadas noções da guerra, pobreza, fome, dívida e sofrimen- que consiste no trabalho desenvolvido pelo Jacque Fresco ao longo
to humano desnecessário sejam vistas não apenas como evitáveis, mas da sua vida como engenheiro social e designer estrutural, é uma or-
também como inaceitáveis. Menos do que isto apenas resulta na continu- ganização que quer nada menos do que uma civilização pacífica e
ação da mesma lista de problemas inerentes ao sistema vigente." 53 sustentável a nível global. Destina-se a actualizar a sociedade actual
utilizando conhecimentos e métodos modernos. Os seus princípios
Chegou a hora de reestruturarmos a nossa sociedade mundial. A baseiam-se essencialmente na aplicação da Ciência e da Tecnologia
causa desta necessidade não nasce de um interesse criativo ou de ao cuidado humano e social. A estrutura social que aqui se defende
uma ambição intelectual. A causa nasce da queda do sistema mone- é chamada de Economia Baseada em Recursos.
tário, do aumento da pobreza e de conflitos mundiais, da constante
corrupção gerada pela perseguição do lucro e do contínuo envene- Uma Economia Baseada em Recursos utiliza os recursos existen-
namento do planeta e das populações por grande parte da indústria tes ao invés de comércio. Todos os bens e serviços estão disponí-
comercial. Encontramo-nos numa encruzilhada. Ou nós assumimos veis, sem a necessidade de moeda, crédito, troca ou qualquer outra
responsabilidade pelas nossas vidas e pela própria sociedade, ou ire- forma de dívida ou servidão. O objectivo deste novo projecto social
mos pagar o preço. Quanto mais tempo continuarmos neste siste- é o de libertar a humanidade de empregos repetitivos, banais e ar-
ma desactualizado,mais instabilidade haverá. bitrários que verdadeiramente não detêm qualquer relevância para o

53. Fresco, Jacque, The Best That Money Can't Buy: Beyond Politics,
Poverty and War, Global Cybervisions, FL, 2002, p.x - Jacque Fresco

122 123
desenvolvimento social, enquanto encoraja um novo sistema de in- A sobrevivência física e a qualidade de vida são baseadas exclusiva-
centivos que está focado na auto-realização, na educação, na cons- mente no nosso uso, gestão e preservação dos recursos da Terra.
ciência social e na criatividade, ao contrário das metas superficiais Agora, com o nosso crescente engenho científico para utilizar esses
e egocêntricas da riqueza, propriedade e poder, que são hoje do- recursos da forma mais humana, tecnologicamente construtiva e
minantes. O Projecto Vénus reconhece que a terra é abundante em eficiente, a tradição do trabalho por dinheiro e dinheiro por recursos
recursos e que os nossos métodos ultrapassados de racionamento já não tem uma base lógica. A gestão inteligente dos recursos da
dos recursos através do controlo monetário já não são relevantes. Terra é o factor mais importante. Num mundo mais sensato, tería-
Na verdade, são fortemente contraprodutivos para a nossa sobrevi- mos em conta o equilíbrio dinâmico do nosso ecossistema global e
vência. O sistema monetário foi criado há milhares de anos durante ajustaríamos os nossos processos de produção de acordo.
períodos de grande escassez. Foi inicialmente concebido como um
método de distribuição de bens e serviços com base nas contribui- Para além de mais, uma Economia Baseada em Recursos teria de ser
ções trabalhistas. Não está de todo relacionado com a nossa verda- global por natureza, pois a utilização mais eficiente do planeta só
deira capacidade actual de produzir bens e serviços neste planeta. é possível a partir de uma organização mundial. O planeta só deve
ser diligentemente examinado e operado a partir de uma perspec-
Como foi discutido no Capítulo 2, os avanços tecnológicos estão a tiva holística. Isto não é subjectivo. A Terra é essencialmente uma
substituir gradualmente o papel do homem na força de trabalho. caixa de ferramentas, cheia de possibilidades para que possamos
Esta mudança paradigmática vai alterar a sociedade de uma manei- criar uma abundância de tecnologia, alimentos e energia. Se não
ra ou de outra. Ou nos leva até um novo sistema social que não exija monitorizarmos todos os recursos planetários e olharmos para o
a servidão do ser humano para receber rendimentos; onde a socie- planeta como um todo sinérgico, as potencialidades serão limitadas.
dade é concebida como um todo para benefício dela mesmo com Infelizmente, hoje o mundo é dividido pela concorrência comercial
o uso da tecnologia avançada sendo propositadamente acelerada com fins lucrativos, por grupos religiosos e por primitivas identifica-
para a melhoria da sociedade... ou provavelmente nos levará por um ções de ego nacionalistas, tornando difícil, actualmente, organizar
caminho marcado pelo caos e desordem, onde o desemprego é ga- um sistema de gestão de recursos global. Esta é outra das razões
lopante, a criminalidade é uma epidemia, são introduzidas medidas para que o sistema monetário, por si só, seja prejudicial para a nossa
de um estado policial draconiano para suprimir a dissidência e onde sobrevivência, pois limita inerentemente a cooperação entre as tri-
os recursos ambientais são cada vez mais explorados e destruídos. bos. No que diz respeito a ideologias, está na altura de pôr de lado as
nossas diferenças religiosas e nacionalistas e perceber que estamos

124 125
todos juntos no mesmo planeta e precisamos das mesmas coisas
básicas. Só quando o mundo começar a trabalhar em conjunto é que
vamos alcançar um progresso sustentável e verdadeiro. No Capítulo
7, iremos discutir melhor o problema da divisão ideológica.
industria e trabalho

Como expresso anteriormente, as estatísticas têm mostrado que os


seres humanos são cada vez mais substituídos por máquinas auto-
matizadas no mercado de trabalho, causando desemprego e, conse-
quentemente, uma redução no poder de compra dos cidadãos. Com
tempo, este fenómeno progride e um ponto de inflexão irá ocorrer
quando a falta de poder de compra do consumidor destruir a eco-
nomia monetária, pois não importa o quão rentável as empresas de
produção sejam... as pessoas simplesmente não terão dinheiro para
comprar bens, terminando assim o mecanismo do "consumo cíclico".
Aqueles que estão cientes disto, muitas vezes tentam criar soluções
dentro do sistema monetário, geralmente, sugerindo um tipo de
"Estado socialista com uma forte assistência social", onde a elite rica
é dona das fábricas, a classe média quase não-existente (talvez 5%
da população do mundo) supervisiona as operações das máquinas,
enquanto o resto do mundo recebe subsídios por parte do governo.
Ideias deste tipo são horríveis e absurdas. Levar-nos-ia à ditadura, à

126 127
extrema restrição de liberdades e à raiva do público, pois a estrati- ❶ — Recenseamento dos recursos planetários.
ficação de classes seria inerente, dando a aqueles no topo acesso a
mais recursos do que aos biliões no fundo. ❷ — Decidir o que é preciso produzir, dando prioridade às neces-
sidades básicas (como comida, água, alojamento, etc.) depois aos
Consequentemente, estamos agora a assistir a uma deliberada su- materiais de construção ou utensílios (matéria prima, máquinas
pressão e retenção do desenvolvimento tecnológico apenas para automatizadas, desenvolvimento tecnológico, etc.) seguido da pro-
manter as pessoas empregadas. É como ter um berbequim eléctrico dução e desenvolvimento de bens não essenciais (multimédia de en-
disponível no trabalho, mas ao invés, utilizar um berbequim manual, tretenimento, rádios, instrumentos musicais, etc.).
porque se quer ser pago por mais horas. Isto é fundamentalmente
contraproducente. É absolutamente demente abrandar / ignorar o ❸ — Optimização dos métodos de produção maximizando o tempo
desenvolvimento tecnológico, a fim de preservar um sistema social de vida dos produtos.
ultrapassado. A própria razão de ser da tecnologia é a de liber-
tar a humanidade do trabalho! Precisamos de um projecto social ❹ — Métodos de distribuição para acesso humano.
que tenha como foco maximizar a nossa capacidade tecnológica de
modo a libertar a humanidade dos trabalhos enfadonhos e aumen- ❺ — Reciclagem optimizada dos produtos que eventualmente se
tar a produtividade ao seu potencial máximo. Agora, só para propó- tornarão obsoletos ou inoperacionais.
sito de conversa, vamos esquecer completamente o nosso sistema
social monetário actual e vamos imaginar como é que os métodos ❶ — Recenseamento dos recursos planetários.
de produção industrial modernos, poderiam ser implementado
numa Economia Baseada em Recursos. A questão é como é que nós Como foi discutido no capítulo anterior, é nos fundamental saber
projectamos um sistema de produção que maximiza a produção de alta o que é que temos neste planeta, para que conheçamos as nossas
qualidade, reduz lixo e desperdício, tem em conta o equilíbrio dinâmico possibilidades. Com esta informação, a produção industrial é sem-
da biosfera e reduz ao ser humano a necessidade do trabalho maquinal pre ajustada para compensar alguma escassez emergente, assim
e repetitivo? De acordo com O Método Científico, eis como se desdo- como distribuir matérias-primas da forma matematicamente mais
bra o raciocínio lógico para os métodos de produção industrial: apropriada, com base na relevância da aplicação a dar e da dispo-
nibilidade das mesmas. Qualquer recurso escasso é imediatamen-
te abordado, indo-se à procura de alternativas e substitutos. Esta

128 129
percepção pode ser obtida em tempo real através de feedback electró- pensamos precisar no sentido material, podemos começar a ver que
nico vindo das fontes de recursos do planeta e é depois dada a uma as necessidades mudam constantemente. Ciência e tecnologia são
base de dados central electrónica que monitoriza quebras no forneci- barómetros das necessidades materiais humanas e por isso todos
mento ou problemas. Esta ideia de monitorizar os recursos mundiais os produtos criados deviam ser tecnologicamente tão avançados
não é assim tão rebuscada, mesmo que pareça complexa. De facto, quanto possível. O nosso sistema monetário, que gera produtos
o exército Norte-Americano já possui satélites e monitores no mar desactualizados e descartáveis constantemente só para manter a
para fins defensivos. Estes instrumentos podiam simplesmente ser indústria e a economia vivas, não tem a capacidade ou o desejo de
reorientados a fim de monitorizar o ambiente ao invés de pessoas. produzir as ferramentas mais avançadas para o nosso uso. Isto por-
que a maioria dos produtos produzidos nem sequer existiriam se a
❷ — Decidir sobre o que é preciso produzir. indústria se focasse no que melhor serviria a sociedade.

Do que é que precisamos? Isto é uma boa pergunta já que, para ❸ — Optimização dos métodos de produção, maximizar a vida útil
além de comida, água e alojamento, a maioria dos habitantes deste do produto.
planeta não fazem ideia do que realmente querem ou precisam, já
que nunca foram informados do actual estado da tecnologia. Aquilo Se eu fosse construir uma mesa para mim, eu iria tentar certificar-
que pensamos necessitar é o directo resultado da nossa sensibilização, -me de que ela durasse o máximo de tempo possível. Faz sentido,
enquanto sociedade, para com o desenvolvimento tecnológico. Por certo? Se a mesa se partisse, eu teria de construir outra, à custa de
exemplo, uma pessoa de há 300 anos atrás provavelmente precisaria mais materiais e trabalho. Seria lógico que tudo o que se produz
de agulha e linha para coser uma camisola. Se fosse hoje, pensaria na sociedade tivesse o maior tempo de vida tecnicamente possível.
que precisava de uma máquina de coser, contudo... mais exacta- Infelizmente, o oposto ocorre no nosso sistema actual, pois, como
mente, o que precisa mesmo é de um tipo de camisola que não se discutido anteriormente, o actual sistema monetário prospera com
descosa facilmente ou que simplesmente não se descosa. Alguém multiplicidade e obsolescência planeada. Sem elas, toda a econo-
com pó em casa pensaria, "Preciso de um aspirador". De certeza? mia entraria em colapso. Este mecanismo do sistema monetário
Talvez o que precise seja um sistema de pressão de uso doméstico não é nada mais do que prejudicial. É horripilante como certas
que não permita o pó entrar ou equipado com filtros electrostáti- pessoas conseguem deixar andar e defender esta tendência do
cos que eliminem o pó existente e destrua bactérias transportadas Sistema Monetário em criar lixo e desperdício. Num mundo mais
pelo ar. Por outras palavras, se examinarmos criticamente o que são, os produtos seriam feitos para durar. Optimizar os métodos de

130 131
produção é utilizar os métodos e materiais mais adequados, para todos os produtos numa Economia Baseada em Recursos são pro-
que se criem produtos efectivos e duradouros. O trabalho huma- jectados para durar tanto tempo quanto possível, os valores da cultura
no não é apenas substituído por máquinas porque é mais rentável de consumo que existem hoje também seriam superados. E, já agora,
dentro do sistema de lucro, o trabalho da máquina é também ex- superar todas as distorções impostas aos valores pela publicidade
tremamente melhor do que o trabalho humano e as estatísticas de de hoje em dia, que torna as pessoas egoístas, inferiores ou inep-
produção têm demonstrado isso constantemente — a produtivi- tas devido ao que fazem ou não. A publicidade não existiria neste
dade industrial aumenta quando o trabalho de máquina substitui o novo sistema, ou não passaria por mais do que informação geral dos
trabalho humano. Isto, naturalmente, não deveria ser uma surpresa, produtos disponíveis e que as pessoas pudessem vir a precisar. Para
a máquina não se cansa e é sempre mais precisa e consistente do obter um produto, uma pessoa iria provavelmente à Internet, pro-
que um ser humano, mecanicamente. Trabalho automático de alta curava a função do item, seleccionava o item e requisitava-o. Estaria
eficiência, juntamente com recursos cientificamente administrados disponível para colecta ou entrega pouco tempo depois.
(como indicado no capítulo 3) permitirá a criação de um ambiente
fluido, abundante, que poderia ser operado por uma fracção muito ❺ — Reciclagem optimizada dos produtos que eventualmente se tor-
pequena da população. narão obsoletos ou inoperacionais.

❹ — Métodos de Distribuição para o acesso humano. Este passo na verdade começa na fase de produção, pois cada produ-
to projectado tem em conta a sua reciclagem posterior. Idealmente,
Os métodos de distribuição dependem, também, do estado da tec- tudo o que venha a ser produzido será sustentável e reciclável. Esta
nologia. Por exemplo, a produção pode eventualmente tornar-se tão consideração estratégica assegurará que os produtos possam ser
simplificada, que um produto é criado somente quando o pedido é reutilizados, reduzindo ao máximo os desperdícios.
feito por uma pessoa que o necessite. Não obstante, centros de dis-
tribuição do tipo armazéns, juntamente com um sistema de entrega Portanto, uma das componentes mais difíceis e confusas de consi-
automatizada, seria a forma mais simples, por agora. Além disso, já derar, no que respeita ao 5º passo, é a nova metodologia de produ-
que não se utiliza dinheiro neste sistema, também não há necessi- ção industrial para uma Economia Baseada em Recursos e tem a ver
dade para que uma pessoa acumule os itens. Consequentemente, com o número 3 e com o uso de máquinas para substituir o trabalho
não há razão para que uma pessoa roube algo que está disponível manual no maior número de áreas possível. A questão de, "Quem é
a todos...e certamente não poderia vendê-lo. À luz do facto de que

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que vai fazer a manutenção às máquinas?" é comum. Isto será abor- do desemprego e o problema da automatização são tão sérios quan-
dado mais a frente. to os negócios e o trabalho."55

No entanto, vamos rever brevemente a história e aplicação da auto- Em 1946, o primeiro computador electrónico para uso geral foi de-
matização das máquinas e da informática. senvolvido - denominado ENIAC. Este computador tinha 18.000
tubos de rádio, ocupava 200 metros quadrados e pesava aproxima-
O primeiro robot automatizado realmente relevante, o Unimate damente 30 toneladas.56 O professor Irving Brainerd especulou que
da Unimation Inc., trabalhava num local com 100 metros cúbicos durante as 80223 horas que o ENIAC operou, este realizou mais cál-
e ocupava 6 metros quadrados do espaço de trabalho. O Unimate culos do que toda a humanidade desde o início dos tempos.57 Hoje
foi posto a funcionar pela primeira vez em 1961 numa fábrica em em dia, um chip de computador medindo 0,5 mm quadrado tem a
Trenton, Nova Jersey, para a General Motors Corporation, onde tra- mesma performance que o ENIAC.56
balhava com moldes. Seis anos mais tarde, a GM já usava o Unimate
para soldaduras de ponto e para juntar peças a estruturas de assen- A maquinaria de hoje em dia é combinada com informatização.
tos. Em 1970, a GM construiu a primeira linha de soldadura de ponto Essencialmente, o computador é o cérebro da máquina e instrui
automatizada, constituída por 28 robots.54 aquilo que ela deve fazer. Esta combinação de máquina e inteligên-
cia do computador pode ser chamada de: Cibernetização. As máqui-
Aqueles que se encontravam no negócio de produzir máquinas deste nas cibernizadas são provavelmente hoje a invenção mais poderosa
tipo sabiam exactamente quais eram as implicações. Em 1962, Jonh e influente que a humanidade alguma vez criou. As possibilidades
Snyder, presidente da U. S. Industries, Inc., um fabricante de equi- destas ferramentas estão a passo de mudar todo o tecido da socie-
pamento automatizado, montou a "Fundação da Automatização dade...começando primeiro por libertar a força de trabalho humano.
e Emprego" para tentar "desenvolver maneiras de aliviar o impac-
to da automatização nos trabalhadores substituídos". Snyder disse: Nas palavras de Albert Einstein:
"Eu quero vender as máquinas automatizadas que a minha empre- "Automação máxima...vai tornar a nossa indústria moderna tão pri-
sa produz, mas se a nossa economia for abaixo e se o problema do mitiva e ultrapassada como o homem da Idade da Pedra parece-nos
desemprego não for resolvido, eu terei dificuldade em vendê-las e hoje." 58
nenhuma razão para as fazer. Na minha maneira de ver, todos os
empresários deviam compartilhar esta visão - a de que o problema 55. Rodden, Robert G., The Fighting Machinists, a Century of Sruggle
http://www.iamawlodge1426.org/hisupdate63.htm
56. http://en.wikipedia.org/wiki/ENIAC
54. Sprovieri, John, 50 Years of Assembly: Robots to Change the Future—Again, 57. Kanellos, Michael, ENIAC—Monster e Marvel,
http://www.assemblymag.com/Articles/Column/ http://news.cnet.com/2009-1006_3-6037980.html
BNP_GUID_9-5-2006_A_10000000000000127612 58. Fresco and Keyes, Looking Forward, Barnes, 1969, p. 72

134 135
Não devemos lutar contra esta realidade. Devemos adoptá-la em- Nas palavras de Arthur C. Clarke:
paticamente. Cibernetização é a Proclamação de Emancipação da es- "A ideia popular, fomentada pela banda desenhada e pela ficção cien-
pécie humana, libertando-nos do fardo do trabalho comum, abrindo tífica banal, de que as máquinas inteligentes são entidades maléfi-
novos horizontes para a exploração e potencial humano. cas e hostis para o homem, é tão absurda que dificilmente alguém se
irá dar ao trabalho de refutar. Sou quase tentado a argumentar que
Nas palavras do Dr. Norbert Wiener, notável "Pai da Cibernetização": apenas máquinas não inteligentes podem ser maléficas... Aqueles
"É degradante aos seres humanos acorrentá-los a um remo e usá-los que imaginam as máquinas como sendo inimigos activos estão me-
como fonte de energia, mas é quase igualmente degradante atri- ramente a projectar a sua própria agressividade. Quanto maior a in-
buir-lhes tarefas meramente repetitivas numa fábrica, que exigem teligência, maior o grau de cooperação. Se alguma vez houver uma
menos de um milionésimo da sua capacidade mental." 59 guerra entre homens e máquinas, é fácil de adivinhar quem é que a
vai começar." 60
Estas Máquinas Cibernetizadas de longe excedem a precisão do ser
humano, ao mesmo tempo que são capazes de computar quantida- Agora, uma reacção muito comum à ideia das máquinas assumirem
des incríveis de informação, além de também excedem largamente a o papel do trabalho humano é a desconfiança, devido aos nossos
velocidade computacional e capacidade do cérebro humano. Agora, problemas diários com a tecnologia de hoje. Desde colisões entre
para aqueles que foram doutrinados pela ficção científica e pensam automóveis, ao bloquear dos computadores pessoais, hoje a so-
que estas novas máquinas vão ganhar "consciência" e "apoderarem- ciedade parece ter uma relação amor-ódio com a tecnologia. Bem,
-se da espécie humana", entendam que isto não tem qualquer base antes de mais, como já referido, num sistema monetário tudo o
na realidade. As Máquinas Cibernetizadas não são mais do que ex- que é produzido é projectado para falhar, pois tudo é um produto.
tensões criativas da performance humana. Tal como um martelo o Mesmo a NASA, com a sua extrema necessidade em utilizar os me-
ajuda a pregar um prego à madeira, a Máquina Cibernetizada leva lhores materiais e tecnologia, tem um orçamento com que lidar e
a cabo tarefas complexas que facilitam o processo até se chegar a deve fazer certos cortes se necessário. Nem os carros e computado-
um objectivo particular. As máquinas fazem apenas aquilo para que res que possua têm alguma hipótese. Ambas as indústrias têm um
foram programadas e nada mais. enorme subsector de reparos e manutenção. Se os computadores e
os carros não forem projectados para falhar, dezenas de milhões de
empregos seriam perdidos no mundo inteiro, nestes sectores.

59. Fresco, Jacque, The Best That Money Can't Buy, Global Cybervisions, 2002, p. 54 60. Clarke, Arthur C., Profiles of the Future, NY Harper & Row, 1964, pp.226-227

136 137
O primeiro passo a dar, de forma a assegurar que as Máquinas direccionadas para substituir a parte danificada em tempo real. Mais
Cibernetizadas que concebermos sejam feitas dos componentes e avançado ainda, são as tecnologias materiais como metais com me-
programação da mais alta qualidade, exige que superemos o siste- mória de forma. Estes metais podem literalmente memorizar a sua
ma monetário, pois este previne que as máquinas sejam o mais efi- forma. No caso da estrutura física da máquina ser danificada, uma
cientes e sustentáveis possível. Não há razão para que tudo na sua corrente eléctrica pode ser enviada para a secção, corrigindo ime-
casa, desde o frigorífico até ao televisor, o computador, ou o fogão, diatamente a estrutura. O ponto principal aqui é de que máquinas
dure uma vida inteira sem reparações. Como pode ser isto dito com e estruturas que se auto-reparam são realidades crescentes. O pro-
confiança? Pode porque os melhores materiais disponíveis neste blema é que a produção de tal eficiência não é recompensada num
planeta, tais como Titânio, têm propriedades sustentáveis que su- sistema monetário, como tal, a maioria das pessoas na sociedade
peram em larga escala o tempo de vida de uma pessoa em centenas não tem qualquer ideia daquilo que é actualmente possível.
de anos. Os produtos hoje em dia são feitos dos materiais mais ba-
ratos possíveis, a fim de aumentar as margens de lucro. Hoje você Nas palavras de Thorstein Veblen:
vai descobrir que a maioria dos produtos em geral na indústria de "Se a indústria produtiva do país fosse organizada como um todo
consumo são feitos, no todo ou em parte, de plástico. O plástico é sistemático e gerida por técnicos competentes...para maximizar a
um dos materiais sintéticos disponíveis mais baratos. Não tem tole- produção de bens e serviços, ao invés de, como agora, ser maltrata-
rância ao calor, por vezes é muito frágil e desgasta-se rapidamente da por empresários ignorantes...para maximizarem lucro, veríamos
­— por isso, naturalmente, tudo se parte...é essa a intenção. sem dúvida um acréscimo na produção de bens e serviços na ordem
das centenas de porcento." 61
Num mundo mais são, isto não seria tolerado e as máquinas indus-
triais planeadas não teriam somente uma extrema durabilidade O papel dos humanos numa central industrial de alta-tecnologia,
como um longo período de vida útil. As máquinas avançadas irão, cibernetizada e automatizada, seria o de supervisores e nada mais.
eventualmente, ser capazes de se auto-repararem. Nos carros de
hoje, existem normalmente luzes de aviso no tabliê que nos infor- Uma vez que o Sistema Industrial Cibernetizado estiver operacional,
mam de problemas com partes particulares do carro. Esta ideia é apenas uma questão de ir actualizando-o e ter certeza de que está
pode ser expandida para todas as máquinas até um tal grau, que não em ordem. À medida que o tempo avança, nós só podemos esperar
só o computador de bordo da máquina tem "conhecimento" do pro- que as capacidades tecnológicas continuem a crescer.
blema, mas também máquinas suplementares podem também ser

61. Veblin, Thorstein, The Engineers and the Price


System, NY B.W. Huebsch, 1921, pp.120-121

138 139
Mas o que é feito dos empregos complexos, tais como doutores, arqui- criar um certo tipo de estrutura. Apesar de existirem certos elemen-
tectos e tantos outros? tos "criativos" no modo como o carpinteiro faz o seu trabalho, ele
continua a basear-se na física, geometria e em materiais modernos
Temos que nos perguntar, "Qual é a verdadeira natureza das nossas para chegar a decisões. Se quiser construir uma bancada, a primeira
ocupações?" O que é que faz exactamente um doutor, um carpintei- coisa que precisa de saber é qual o melhor material a utilizar e depois
ro, um canalizador, um arquitecto, ou qualquer outro, durante o seu aplicar a metodologia que se integre melhor a esses materiais. Esses
trabalho? conhecimentos são completamente técnicos e independentes da
opinião humana. Isto leva-nos a perceber algo crítico...algo que irá
Reconhecem e reagem a padrões observados. ter um profundo efeito no nosso progresso neste planeta:

Tudo o que um médico faz quando o examina, é referenciar aquilo Deixar a cabo a tarefa de tomar decisões aos computadores é o
que aprendeu. Se for a um dermatologista porque pensa que tem próximo passo a dar.
cancro no braço, o médico examina-lhe a pele e mentalmente refe-
rencia os padrões que lhe foram ensinados. Depois ele ou ela pos- Os cargos utilitários que as pessoas assumem hoje na sociedade são
sivelmente retiram uma amostra da sua pele para que seja testada fundamentalmente técnicos por natureza. O mais óbvio dos casos
numa máquina de análises. É um processo técnico. Não há qualquer é o trabalho físico, pois como já vimos, as máquinas substituem as
razão que impeça que um scanner óptico que possa analisar o seu pessoas em áreas, tais como, nas fábricas ou na construção. No en-
braço e imediatamente perceber qual a sua condição, seja inventa- tanto, desconhecido pela maioria, o nosso trabalho mental é hoje
do. Um computador moderno programado com tecnologia óptica é também delegado por computadores. Se isto lhe parecer estranho,
capaz de ver um espectro de luz menos limitado que o olho humano. entenda que se alguma vez usou uma calculadora, já delegou a sua
Mesmo uma cirurgia, por mais sensível que seja hoje, é um mero decisão a uma máquina.
processo técnico. É simplesmente uma questão de tempo até que
máquinas extremamente avançadas substituam cirurgiões. Isto já Temos de nos lembrar de que o raciocínio lógico, que é a nossa capa-
acontece hoje em várias áreas. cidade cognitiva para pensar em soluções e problemas dum ponto
de vista causa e efeito, é também um processo inteiramente técnico,
O mesmo se aplica a todas as outras ocupações utilitárias existentes. baseado na quantidade de informação de que dispomos na altura.
Um "carpinteiro" é uma pessoa que é empregada para arranjar ou Por exemplo, se tivermos um problema com o carro, vamos a um

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mecânico e ele através do reconhecimento de padrões e por me- O que é importante deixar aqui claro é que não há nenhuma área
mória associativa considera, racionalmente, as possíveis causas do de operação humana que não possa ser aperfeiçoada ao delegar o
problema, assim como as possibilidades de resolver este problema. processo de tomar decisões à inteligência artificial. De facto, a única
É um processo técnico objectivo. Contudo, o cérebro humano de coisa que nos separa das máquinas a um nível cognitivo e utilitário
um mecânico está confinado a uma certa quantidade de memória e é a nossa habilidade de criar associações complexas na nossa mente.
de poder de processamento intelectual. Já uma máquina moderna Nenhum computador até hoje conseguiu efectivamente responder
programada, pode armazenar tremendamente mais informação do a uma "pergunta complexa" em língua inglesa. Isto requer que a
que o cérebro humano e pode constante e rapidamente processar linguagem seja transformada numa compreensível ao computador
informação sem se cansar ou preguiçar. Por exemplo, vamos assu- tal como a linguagem matemática. Contudo, novos campos, tais
mir que temos um computador programado para conhecer todos como o da "Inteligência Artificial", começam a crescer dando incrí-
os componentes, todos os parafusos, todos os circuitos electróni- veis possibilidades a este tipo de "consciência". Com tempo, os com-
cos, etc., de um dado veículo. Foi também programado com apli- putadores serão capazes de alcançarem pensamentos processuais
cações de física para que se possa relacionar com a funcionalidade complexos que anteriormente eram apenas atribuídos a humanos.
de causa e efeito e com as operações do veículo, não apenas com as Não existem provas que apoiem o contrário.
suas partes. Quando o carro fosse levado para o arranjo, o mecâ-
nico avaliaria as propriedades físicas o melhor que pudesse, depois Na próxima secção, descreveremos como esta nova opção humana de
dirigia-se ao computador, seleccionava o modelo do carro e intro- delegar o nosso trabalho e a nossa tomada de decisões a um sistema
duzia uma descrição do problema. Digamos que introduzia, "farol computadorizado altamente eficiente é o que constituirá a substituição
esquerdo avariado". O computador iria imediatamente apresentar da instituição de "governo" tradicional.
uma lista de assuntos relativos ao farol, depois apresentaria uma
série de questões estruturadas ao mecânico que tentem encontrar
logicamente a causa do problema. O computador poderia dizer:
"Verifique a conexão do cabo 15b." e depois apresentaria um diagra-
ma mostrando o componente no carro. Se o mecânico visse que não
era este o problema, ele introduzia esse dado no computador que
depois passa à próxima possibilidade lógica. Neste caso, é o compu-
tador que toma as decisões...o mecânico foca-se apenas na tarefa.

142 143
de facto criações monetárias. Infelizmente, graças à própria nature-
za do poder deles, a história tornou-se uma constante cadeia de cor-
rupção governamental, abrangendo desde o genocídio de povos em
nações de oposição, à deliberada opressão do próprio povo de uma
governo nação a fim de manter a ordem vigente. O motivo pelo qual todos
os governos do planeta são corruptos é que, neste sistema, eles têm
de o ser. Lembrem-se, eles não são diferentes das corporações, que
tentam sobreviver dentro do sistema monetário. Todos eles estão
em competição uns com os outros, com periódicos impérios mun-
diais emergindo a cada duzentos anos aproximadamente.

"(O) tremendo e ainda acelerante desenvolvimento da ciência e tec- Para que qualquer governo tradicional mantenha o controlo sobre o
nologia não foi acompanhado por igual desenvolvimento nos mode- seu povo, ele deve impor um sistema de valores único. Se os líderes
los sociais, económicos e políticos... Só agora estamos... a começar de um país querem que o público apoie as suas guerras, eles colo-
a explorar as possibilidades que nos oferece para o desenvolvimento cam estátuas de "grandes heróis de guerra em parques e fazem com
na nossa cultura fora da tecnologia, especialmente nos sectores so- que os média promovam a "nobreza" do exército. Muitas vezes tam-
ciais, políticos e económicos. É seguro afirmar que invenções sociais, bém citam "Deus" e referem-se às suas guerras como uma forma
como o capitalismo moderno, o fascismo e o comunismo serão con- de batalha contra o "mal". Essa manipulação mantém um público
sideradas experiências primitivas conduzidas para o ajuste da socie- mal-informado "do lado deles" com uma estreita visão do mundo.
dade moderna aos métodos modernos." 62 Nas palavras de Albert Einstein: "O patriotismo é uma doença." Pois
uma pessoa dizer algo como: "Os E.U.A. é o melhor país da terra" é
Em primeiro lugar, governo, tal como o conhecemos, é um subpro- a mesma coisa que dizer: "Os brancos são a raça escolhida por Deus".
duto da escassez ambiental. Como as famílias da máfia, os governos Patriotismo é racismo com uma bandeira, nada mais. O facto é que
do mundo buscam preservar as suas actuais posições de poder, en- hoje as decisões do governo são baseadas no restrito interesse pró-
quanto trabalham agressivamente para fortalecer a sua vantagem prio de uma elite, assim como as corporações. Isso não é nada senão
económica. Quanto à gestão social, tudo o que um governo pode destrutivo e insustentável.
fazer é criar leis, estabelecer orçamentos e declarar guerras. Eles são

62. Linton, Ralph, The Tree of Culture (New York: Alfred A. Knopf, 1959, pp 47-8)

144 145
Como já foi dito antes, quanto mais pensamos sobre os nossos pro- alcance limitado. Os nossos olhos podem ver somente uma fracção
blemas neste planeta, desde a pobreza na África à destruição da do campo electromagnético... é, portanto, lógico que nós delegue-
floresta amazónica, mais percebemos que todos os problemas na mos a tomada de decisões a máquinas, já que elas não têm essas
vida são realmente técnicos por natureza. restrições. Computadores, usados como ferramentas, podem e
serão capazes de resolver os problemas que os humanos não podem
Como tal, não há motivo para opiniões tradicionais na solução de devido às suas limitações físicas e mentais. Não é diferente de uma
qualquer problema, pois a nossa compreensão técnica já pode che- pessoa que usa um par de óculos para ver. Os óculos são uma ferra-
gar à maioria das respostas usando o método científico, juntamen- menta tecnológica... uma extensão do ser humano que ajuda uma
te com todas as variáveis relativas ao problema. Se uma pessoa pessoa a ver melhor do que veria normalmente. Máquinas “ciber-
lê uma página de um livro e fecha-o, ela pode facilmente ter uma néticas” não são diferentes. Elas são apenas ferramentas que ex-
"opinião" desse livro como um todo. Se outra pessoa lê o livro por pandem as nossas habilidades. A espécie humana tem a grande
completo, ela pode também ter uma opinião. A que opinião você capacidade de melhorar-se a si mesma através de inventos tecnoló-
daria mais valor? À da pessoa que leu o livro inteiro, ou à da pessoa gicos. Devemos entender isso e maximizar o seu potencial.
que leu somente uma página? Por outras palavras, quanto mais in-
formações forem levadas em conta no processo de tomar decisões, Numa Economia Baseada em Recursos as pessoas não tomam as
mais precisa será a decisão. Como discutido anteriormente, as má- decisões; chegam a elas através do uso de ferramentas tecnoló-
quinas computadorizadas têm hoje a capacidade de desempenhar gicas avançadas que incorporam o método científico. Não existe
melhor do que os humanos funções nas áreas tanto físicas como uma maneira "republicana" ou "liberal" de projectar um avião. Então,
mentais. As nossas mentes não se comparam tecnicamente a com- por que usamos visões do mundo antiquadas na sociedade de hoje?
putadores que podem aceder a triliões de bits de informação atra- Ao reconhecermos que a sociedade é uma invenção tecnológica,
vés de vastos bancos de dados informativos e processar resultados sendo os seus componentes variáveis, não diferentes, na realidade,
quase à velocidade da luz. A transferência da tomada de decisões dos componentes variáveis de um avião, percebemos então que a
para a inteligência mecânica é o próximo passo na evolução social. nossa orientação para o suposto "governo" deve de ser puramen-
Ela reduz drasticamente os erros humanos e remove preconceitos, te científica. Os políticos estão desactualizados, uma vez que os
subjectividades e opiniões perigosas. Por causa das limitações dos seus processos são em grande parte subjectivos e sem referência
equipamentos sensório e cortical do nosso corpo e mente, ninguém científica. Os políticos são um resultado do sistema monetário e da
é capaz de saber tudo neste mundo. Os nossos sentidos têm um escassez. Devemos, agora, trabalhar rumo a um paradigma novo e

146 147
emergente — mover-nos de um período no qual o problema central da tabela periódica, em toda a história conhecida das invenções tec-
era a divisão da escassez, para um período onde criamos e distribuí- nológicas. Quando o sistema associativo emergir, o qual permitirá
mos em abundância. aos computadores inter-relacionar contextualmente todas as disci-
plinas conhecidas, teremos nas nossas mãos uma ferramenta de pro-
O governo e o conceito de "Estado" serão eventualmente superados porções imensuráveis. As limitações das nossas capacidades físicas e
por completo e substituídos por um sistema objectivo de adminis- cognitivas já não serão um problema, pois o novo método de solu-
tração de recursos e organização tecnológica global. Num sistema ção de problemas e invenções será uma interacção com esse banco
de abundância, o "Estado", como o conhecemos, perde a razão de de dados. Na verdade, pode até vir a ser na forma de um simples
existir. O governo também se torna um sistema cibernético, que é website na Internet. Você proporia um problema ou questão para o
combinado com a indústria e por isso responsável pela produção e programa do banco de dados e ele lhe forneceria a melhor respos-
distribuição de bens, junto com a administração dos recursos e am- ta possível com base no actual estado do conhecimento da época.
biente. A base estrutural para este sistema de "governo" é idealiza- Novamente: esses processos de investigação e interacção não dife-
da da seguinte forma: rem de interagir com uma calculadora, mas essa nova "calculadora"
possui um poderoso sistema de associação e um extenso banco de
❶ — Uma base de dados central contendo catálogos de todos dados de conhecimento que consegue não só entender e computar
os materiais e entendimentos técnicos conhecidos para resolver matemática, mas é capaz de integrar física, biologia, astronomia e
problemas e alastrar descubrimentos. Como já foi dito, os compu- todos os campos científicos numa única consciência concentrada.
tadores possuem a capacidade de catalogar informações e proces- Muito provavelmente, o exército americano tem programas de refe-
sá-las logicamente numa escala muito maior do que um humano rência em bancos de dados e tomada de decisões semelhantes, que
consegue. Apenas os computadores serão capazes de lidar com a usa em estratégias de guerra. Não obstante, para que esse sistema
integração de todo o conhecimento disponível e alcançar decisões seja eficiente, ele também deve receber respostas em tempo real do
que serão logicamente baseadas na total extensão conhecida dos planeta, a fim de compreender quais os recursos que temos e quais
dados. Como já foi dito, as decisões mais eficientes são aquelas às não temos. Isso requer um sistema sensorial em redor do globo. Por
quais se chegou tendo em conta todas as variáveis relevantes. Hoje outras palavras:
podemos começar a desenvolver um banco de dados centrais com-
putorizado que contenha todo o conhecimento de que dispomos,
abrangendo as propriedades, combinações e usos de cada elemento

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❷ — Um sistema nervoso autónomo estendido sobre a Terra, com É claro, muitas pessoas geralmente perguntam: E a democracia?
sensores ambientais em todas as regiões relevantes do plane- Esse sistema é um democracia? Como participo no sistema? Nós
ta, gerando "resposta electrónica industrial" acerca dos recursos, elegemos as equipas interdisciplinares?
operações e outras questões ambientais. Este sistema nervoso é
conectado directamente ao programa do banco de dados central Numa Economia Global Baseada em Recursos, onde a "indústria" e
mencionado anteriormente. Este sistema holístico fica de olho em o "governo" são combinados num sistema “cibernético" que incor-
todos os recursos do planeta, ao mesmo tempo que monitoriza dis- pora bancos de dados avançados na solução de problemas, junta-
túrbios ambientais na Terra que devem ser alertados à humanidade, mente com sensores de observação em redor do planeta, o conceito
como sismos e outros fenómenos naturais. O banco de dados inclui- tradicional de política, eleições e afins perdem a relevância ou o fun-
ria um levantamento dos recursos disponíveis, fábricas, equipa téc- damento. Apesar de essa noção assustar muitas das pessoas com
nica e científica, transporte, laboratórios de pesquisa, instalações uma mentalidade tradicional, deve-se reiterar que os nossos proble-
médicas, escolas, etc. Isto não acontecerá da noite para o dia, mas mas na vida são exclusivamente técnicos. A democracia no mundo
se começarmos a construir sistemas regionais e com o tempo inter- actual é uma ilusão. Sempre foi. As pessoas pensam que podem "es-
ligar todos eles globalmente, isso pode ser criado mais cedo do que colher" no nosso sistema actual porque podem carregar num botão
imaginamos. Essa integração pode informar o programa do banco numa urna electrónica para pôr alguém pré-seleccionado no poder.
de dados sobre o que está disponível e o que é escasso, enquanto o Uma vez que esse alguém está no poder, o povo deixa de ter o poder.
banco de dados, por sua vez, ajustará constantemente os métodos Você votou no programa espacial? Você votou no gabinete do novo
industriais com base no equilíbrio dinâmico do planeta. Claro, a total presidente? Você votou no corte nos impostos? Você votou em até
cooperação internacional é o único meio de realizar tal sistema. Essa aonde vão as rodovias e a rede eléctrica? Você votou na guerra no
questão será discutida no Capítulo 9. Iraque? Não, você não votou. O conceito tradicional de "democra-
cia participativa" é uma brincadeira cruel. O jogo foi usado para dar
❸ — Equipas interdisciplinares de técnicos supervisionam o sistema ao público a ilusão de controlo por incontáveis gerações, enquanto
e orientam os projectos de pesquisas a fim de continuar o desen- os poderes monetários corrompidos no topo continuam a fazer o
volvimento, a eficácia e a evolução social. Numa versão optimizada que lhes agrada. Nunca na história houve uma verdadeira democracia
desse sistema, provavelmente, não mais do que 5% da população se- em qualquer país e nunca existirá enquanto o sistema monetário esti-
riam necessários para dirigir o espectáculo. Quanto mais optimizada ver em operação e a escassez for perpetuada.
e poderosa se torna a nossa tecnologia, mais esse número diminui.

150 151
Como pode então uma pessoa participar numa Economia Baseada sistema de recompensa baseado no dinheiro e sentem que o dinhei-
em Recursos? Primeiro, ela irá interagir com o programa do banco ro é o único "incentivo" que há, saibam que todos os dias, no mundo
de dados central, que provavelmente viria na forma de uma avança- inteiro, milhões de humanos se voluntariam para o bem maior. De
da página na Web à qual todas as pessoas têm acesso. Ela então re- acordo com uma pesquisa Gallup, em 1992, mais de 50% dos adultos
ceberia os dados da sua proposta. O banco de dados central, com o americanos (94 milhões de americanos) disponibilizam tempo para
seu banco de dados de conhecimento histórico e total integração de as causas sociais, numa média de 4,2 horas por semana, totalizando
todos os campos científicos, então analisaria o conceito para a sua 20,5 bilhões de horas por ano!63 É um incrível triunfo do espírito hu-
integridade científica e técnica além de optimizar os materiais ne- mano colectivo, pois mesmo com o mal do interesse próprio gerado
cessários com base nas actuais compreensões e disponibilidades. Se pelo sistema monetário, os humanos ainda se esforçam para se aju-
a proposta faz sentido lógico e os recursos optimizados para fazê-la darem mutuamente e dar à sociedade sem serem recompensados.
acontecer estão disponíveis, ela seria entregue às equipas interdisci- No futuro, aqueles que escolherem trabalhar no sistema industrial
plinares que supervisionariam a implementação da nova proposta e cibernético fá-lo-ão porque é uma honra servir a humanidade. Eles
a orientariam para o sistema. entenderão que faz parte do interesse deles garantir que a humanida-
de viva e colabore para o bem maior. A recompensa numa economia
Essas equipas interdisciplinares seriam seleccionadas e organi- baseada em recursos seria o contínuo aperfeiçoamento da sociedade
zadas pelo programa do banco de dados central, com base no para todos.
que elas já contribuíram para o sistema. Isto é uma verdadeira
"eleição", que considera o que uma pessoa já fez e não o que ela Nas palavras de Margaret Mead:
diz que vai fazer.
"Se observares com atenção, verás que praticamente tudo o que re-
Ademais, o medo popular de "corrupção" tradicional não terá mais almente nos importa, tudo o que incorpora o nosso mais profundo
fundamento, pois não existirá mais recompensa nela. As equipas in- compromisso com o modo como a vida humana deveria ser vivida e
terdisciplinares não são "pagas" de forma alguma, já que as suas vi- protegida, depende de algum tipo de voluntarismo." 64
sões do mundo expandir-se-ão até perceberem que a sua verdadeira
recompensa é, na verdade, os frutos da sociedade como um todo e elas Uma Economia Baseada em Recursos é aberta à participação de
contribuem porque querem! Embora isso deva ser difícil de conside- todos, porque reconhece que todos os problemas são basicamen-
rar para todos aqueles que foram completamente doutrinados no te técnicos. O grau no qual uma pessoa contribui é simplesmente

63. Hodgkinson & Weitzman, Giving and Volunteering in the


United States: Findings from a National Survey, 1992, p2
64. Krikorian, Robert “Have you noticed…”, Vital Speeches of the day, 1985, p 301

152 153
baseado na educação e capacidade de criar e resolver problemas.
Daí a importância da expansão da educação. Na sociedade de hoje,
o público é sempre mantido mal-informado e o mais ignorante pos-
sível. Assim, o governo pode manter o controlo. Numa Economia
Baseada em Recursos a meta dos sistemas educacionais é produzir
Resumo do capítulo 5
os mais inteligentes e conscientes seres humanos que puderem. Por
quê? Porque assim todos podem tornar-se um colaborador, afectan-
do bastante a nossa evolução social para melhor e melhorando a
vida de todos.

Quem toma as decisões numa Economia Baseada em Recursos?


Ninguém. Chegamos a decisões pelo uso do método científico, uti-
lizando computadores que recebem feedback em tempo-real do
ambiente, juntamente com uma base de dados histórica central
com toda a informação técnica conhecida e mantida por equipas in-
terdisciplinares evolutivas. Esta combinação pode ser chamada de
Sistema Industrial Cibernetizado. Este sistema minimiza opiniões
erradas e a subjectividade. Nós não queremos pessoas a controlar
o governo. Nós queremos utilizar o Método Científico para chegar-
mos às decisões mais apropriadas.

No fim de contas, os únicos problemas para a sociedade e para o


mundo natural são, ① a produção de bens e serviços que estejam
igualmente disponíveis para todos, ② projectos de pesquisa e sis-
temas educativos para expandir o nossos conhecimentos, entendi-
mentos e aplicações, e ③ monitorizar constantemente o feedback

154 155
dos recursos planetários e da atmosfera de forma a encontrar pos-
síveis problemas ambientais, dando-nos a possibilidade de restaurar
e manter um ambiente impoluto. Sem os desperdícios energéticos
e materiais que são gastos em guerras e outros aspectos do sistema
monetário, nós poderíamos abordar as verdadeiras ameaças para a
humanidade, tais como variáveis imprevistas, como tsunamis, ter-
ralmotos, doenças e anormalidades. Os únicos problemas na vida
são aqueles comuns a todos os humanos.

156
Capítulo 6

Cidades que pensam

“A civilização avança ao estendermos o número de operações


importantes que conseguimos realizar sem pensarmos nelas.”

Alfred North Whitehead


de produção estejam intrinsecamente interligados a "processos"
das cidades, sendo estes a eliminação de resíduos, irrigação, distri-
buição de energia, produção de bens e serviços, entre outros. Numa
Economia Baseada em Recursos, as cidades são projectadas para
serem extremamente flexíveis, permitindo actualizações constan-
tes e mudanças. Elas são emergentes e totalmente integradas em
sistemas concebidos para evoluir como um organismo vivo. As pro-
jecções da cidade circular, inovadora e multidimensional de Jacque
Fresco usariam os mais sofisticados recursos e técnicas de constru-
ção. No entanto, elas necessitam que comecemos do zero. Tentar
reabilitar as nossas cidades actuais não vale o tempo, material e es-
Os antropólogos consideram frequentemente a cidade como a mais forço. É muito menos problemático e mais eficiente construir novas
fundamental das invenções sociais. Acredita-se que a primeira ci- cidades da estaca zero do que restaurar as velhas. O projecto e
dade conhecida tenha ocorrido por volta de 5.400 a.C. na antiga desenvolvimento destas novas cidades dão ênfase à restauração e
Suméria. Desde então, temos visto uma grande evolução tecnoló- protecção do meio-ambiente e aplicam os recursos com eficiência
gica nos processos e materiais usados para criar os componentes de conservando energia, de fácil construção e relativa independência
uma cidade, além de convenções avançadas de integração "social", de manutenção. Muitas das cidades velhas e ineficientes servirão
tais como os sistemas eléctricos, métodos de distribuição de água como minas de recursos, enquanto outras serão conservadas como
e similares. No entanto, as cidades de hoje, podem parecer moder- cidades-museu.
nas, mas estão de facto extremamente desactualizadas em relação
à tecnologia moderna e capacidade científica.

É tempo de aproveitarmos plenamente uma abordagem de siste-


mas para o desenho das nossas cidades. O termo "sistemas" deri-
va da palavra grega "synistanai", que significa "juntar ou combinar".
Deste modo, uma abordagem sistemática significa que os "elemen-
tos" da cidade, tais como casas, geradores de energia e instalações

160 161
A cidade circular permite o uso mais eficiente dos recursos, técnicas
de locomoção e funcionalidades em geral, com um gasto mínimo de
energia. O arranjo circular geometricamente elegante é projectado
visando os mais altos padrões de vida das mais produtivas e eficien-
a cidade circular tes formas possíveis. Estas cidades fazem o papel de extensões da
actividade humana e expressão utilitária; em completa harmonia
com o meio-ambiente. A configuração destas cidades seria uma re-
presentação directa das suas funções.

Por exemplo, o perímetro extremo da cidade é para a recreação vol-


tada para a natureza, incluindo jardins exuberantes e parques para
caminhadas, ciclismo, desportos aquáticos e qualquer outra activi-
dade ao ar livre. A próxima secção é o "cinturão agrícola" que usa
métodos agrícolas ao ar livre e cobertos (hidroponia), de modo a que
seja possível cultivar alimentos durante todo o ano. Continuando a
entrar, oito áreas verdes fornecem energia limpa e renovável para
a cidade inteira. Embora essas fontes de energia sejam específicas
da região, os métodos incluiriam frequentemente tecnologias ge-
otérmicas, eólicas e solares, enquanto cidades próximas da água
incluiriam a utilização de energia das ondas e das marés. A maior
das áreas verdes é também o "cinturão residencial", que contem re-
sidências individuais e apartamentos. As moradias são construídas
pela tecnologia de extrusão e outros métodos de pré-fabricação de
alta tecnologia. Os dias da construção com tijolos e madeira acaba-
ram. As estruturas do futuro podem ser unidades sólidas, expelidas
inteiras. Todas as casas e complexos de apartamentos são também
sistemas praticamente autónomos. Por exemplo, as superfícies

162 163
exteriores das estruturas servem como geradores fotovoltaicos que oito cúpulas menores usadas para os centros culturais, como casas
convertem a radiação solar directamente em energia. As casas são de espectáculos, centros de conferência, exibição e outros. A reci-
à prova de incêndio, necessitam de pouca manutenção, são imper- clagem e outras necessidades semelhantes ficam situadas abaixo da
meáveis e à prova de outras influências ambientais. Os efeitos das superfície da cidade, sempre utilizando os mais avançados métodos
enchentes, sismos e furacões são também considerados e incorpo- de tecnologia limpa.
rados no projecto, correspondendo às características da região no
solo em que foi empregado. Depois do distrito residencial estão os cen- À parte das cidades circulares, outros desenhos de cidade incluiriam
tros de educação, de ciência e de pesquisa, além dos centros de produção várias configurações de cidades terrestres; cidades totalmente cober-
e distribuição. Sistemas automáticos de inventário seriam integrados nos tas e; cidades no mar. A colonização dos oceanos será provavelmen-
centros de distribuição e nas fábricas de um modo altamente coordenado te a próxima etapa para a humanidade tendo em vista o alívio da
e eficiente. Sem o problema do dinheiro e do valor, não haveria limites na pressão sobre a população terrestre. As comunidades das cidades
produção. oceânicas vão desenvolver-se em ilhas artificiais, estruturas flutuan-
tes e observatórios sob o mar.
No centro da cidade, há uma grande cúpula que contém o sistema
cibernético central, que é o cérebro e sistema nervoso de toda a ci-
dade. Como mostrado anteriormente na nossa secção sobre o "go-
verno", através de satélites e censores instalados em redor de toda
a cidade, a cúpula central monitoriza electronicamente a produção
e distribuição de produtos, ao mesmo tempo que controla factores
ambientais dentro do sistema. Por exemplo, em relação ao cintu-
rão agrícola, sondas electrónicas monitorizam e mantêm as con-
dições do solo, incluindo o nível do lençol de água, a alocação dos
nutrientes e outros atributos. Esse método de "resposta ambiental"
é aplicado no complexo urbano inteiro. Assim, pode ser mantida
uma "economia equilibrada", eliminando-se excessos e desperdícios.
Além disso, dentro da cúpula central está o centro de transportes.
Falaremos sobre isso mais adiante. Cercando a cúpula central estão

164 165
As cidades terrestres, seja qual for a sua forma, estão todas inter-
ligadas num sistema mundial. Assim como cada cidade tem uma
cúpula organizacional central que funciona como o cérebro, junta-
mente com o seu sistema nervoso que consiste na monitorização
ambiental informatizada via satélite e sondas electrónicas, o maior
complexo do mundo absorve cada cidade e monitoriza amplamen-
te o espectro do ambiente, garantindo que não haja a necessidade
de um recurso material em qualquer uma das cidades, enquanto
também regula processos de ordem superior para todas as cidades
e ambiente como um todo. Este "governo", ou o que lhe queira cha-
mar, é onde está a base central, como mostrado no capítulo anterior,
com o seu sistema nervoso estendendo-se para todos os complexos
da cidade e além.

166 167
320 km a cada carga existe actualmente e já existe há alguns anos.
Contudo, como as patentes das baterias são controladas pela in-
dústria petrolífera, que limitam a sua disponibilidade para manter a
quota de mercado, juntamente com a pressão política dos lucros ba-
Transportes seados na indústria energética, a acessibilidade e o preço desta tec-
nologia é limitada. Não há absolutamente razão nenhuma, senão a
pura corrupção dos interesses nos lucros, para que todos os veículos
de transporte no mundo não possam ser limpos, sem necessidade
de gasolina.

No que diz respeito ao conceito tradicional de avião, a tecnologia


Dentro da cidade, escadas rolantes e elevadores, juntamente com Maglev está a um passo de o tornar obsoleto. Um comboio Maglev
conveyors e transveyors, movem-se em todas as direcções e estão usa ímanes para propulsão. É totalmente suspenso por um campo
interligados com  todos os demais sistemas de transporte. O siste- magnético e requer menos de 2% da energia utilizada para as via-
ma de transporte é intencionalmente projectado a fim de reduzir a gens de avião. O  comboio não possui rodas, logo, não há desgaste.
necessidade de qualquer tipo de automóvel. O sistema pode levá-lo Os Maglev que se  desloquem através de túneis podem viajar até
a qualquer lugar da cidade. Se você quiser viajar para fora da cida- 6.500 km/h, num túnel imóvel e sem atrito, o qual pode passar por
de, monocarril, veículos aerodinâmicos, aeronaves de aterragem e terra ou debaixo de água. Eles são rápidos, limpos e eficientes e só
descolagem verticais e comboios Maglev são usados para viagens gastam uma fracção da energia usada hoje para os mesmos fins.
continentais e intercontinentais. Também são implementados aero-
portos e sistemas de remessa internacional dentro e nos arredores
das cidades.

É de ressalvar que os meios de transporte predominantes nas nos-


sas sociedades actuais exigem combustíveis fósseis para rodar. No
caso do automóvel, a tecnologia da bateria necessária para mover
um carro eléctrico que pode passar dos 160 km/h e rodar mais de

168 169
estilo de vida

No nosso sistema actual, a família tradicional quebrou-se, com


ambos os pais a terem de trabalhar para sobreviver. A economia
monetária mina a coesão familiar e o cuidado com os filhos. O stres-
se está sempre elevado devido a contas médicas, segurança, educa-
ção, medo de perder o emprego e custos de vida. Numa Economia
Baseada em Recursos a integridade da família será restaurada. Do
mesmo modo, os valores culturais da sociedade como um todo tam-
bém sofrerão uma profunda mudança. Superado o sistema mone-
tário e com o mundo a trabalhar unido para produzir abundância
para todos os cidadãos do planeta, as actividades que apreciamos
expandir-se-ão enormemente, pois a quantidade de liberdade hu-
mana será diferente de tudo o que conhecemos hoje. Alguns fre-
quentemente questionam essas possibilidades com a pergunta: "O
que farão as pessoas?" A resposta, é claro, o que quiseres fazer. Para
muitos, na nossa sociedade actual, as opções de vida são muito

170 171
limitadas devido às condições de escassez perpetuadas. Num siste- nos Recursos, o sistema monetário não irá mais corromper a mente
ma monetário, a própria ideia de liberdade é muito prejudicada pois humana através do seu braço manipulador - "publicidade". O mar
uma pessoa só é livre dentro do que o seu poder de compra permitir. interminável de cartazes, anúncios de média, revistas e outros dei-
Isso reprime a visão criativa da pessoa e por isso muitos têm uma xarão de poluir a paisagem ou as nossas percepções. Isso causará
visão limitada daquilo que é possível. Por exemplo, uma mulher da uma mudança radical no sistema de valores humanos e, portanto,
antiguidade que tinha de ir buscar água num ribeiro perto da sua no estilo de vida.
cabana, todos os dias, para cozinhar, provavelmente sentir-se-ia
como se tivesse perdido uma responsabilidade se, de repente, sur- Um impacto ainda maior: numa Economia Baseada em Recursos
gisse um sistema de abastecimento de água em sua casa com uma não há razão para a propriedade. A propriedade é uma consequên-
torneira que trouxesse a água directamente até ela. O facto é que os cia da escassez. As pessoas têm de trabalhar arduamente para criar
adventos tecnológicos realmente podem mudar os nossos valores e ou obter um produto ou recurso e aí protegem-no, porque ele tem
é crucial que "actualizemos" os nossos sistemas de valores de modo um valor imenso em vista do trabalho exigido, juntamente com a
a que reflictam o período moderno. escassez associada. A propriedade não é uma ideia "americana" ou
"capitalista"... Ela é uma perspectiva mental primitiva gerada por ge-
Simultaneamente, uma das mudanças mais profundas nos valores rações de escassez. As pessoas alegam "posse" porque ela é uma
e estilos de vida será o modo como as pessoas vêem a propriedade. forma legal de protecção.
Hoje, na maior parte do mundo, a propriedade é um conceito po-
deroso, pelo que muitas pessoas geralmente associam o seu status Num sistema de abundância, sem a necessidade de dinheiro, a ideia
social ao que elas possuem. Como já foi dito antes, o sistema mone- de propriedade torna-se irrelevante. Neste novo sistema ninguém
tário exige 'consumo cíclico' para funcionar. Isso naturalmente leva possui nada. Em vez disso, todos têm acesso irrestrito a tudo. A pro-
à necessidade de que as pessoas sejam manipuladas para pensar priedade é um fardo pesado. As pessoas não terão que morar mais
que querem ou precisam de um bem ou serviço em particular. Com num só lugar. Elas poderão viajar pelo mundo constantemente. Tudo
as poderosas tácticas da publicidade moderna, a maior parte do o que for preciso será obtido, sem restrição. Não há motivos para o
mundo suporta um sistema de valores artificial e materialista que abuso, pois não há nada a ganhar. Não se podem roubar coisas que
acarreta querer mais e mais bens e serviços, muitas vezes indepen- não são de ninguém e, naturalmente, muito menos vendê-las. Os
dentemente da necessidade e utilidade. Numa Economia Baseada utensílios domésticos são obtidos através de centros de distribuição

172 173
nas cidades, ao passo que os utensílios recreativos estão disponíveis
para entrega ou próximos do local onde são usados. Por exemplo, se
vais a um campo de golfe seleccionas, no local, os tacos dos mode-
los mais eficientemente desenhados que estão disponíveis. Usa-os
e depois devolve-os. Se decidire ficar com os tacos, vá em frente
resumo do capítulo 6
— é seu o fardo. Por que é que uma pessoa iria querer transportar,
preservar e armazenar tacos de golfe, quando ela pode sempre ace-
der a eles e depois devolvê-los no local? Hoje, as nossas casas estão
cheias de lixo que guardamos por causa do suposto valor que eles
sustentam. Esse desperdício não será mais necessário.

Neste modelo, o complexo urbano ou, na verdade, o mundo inteiro, As cidades dentro de uma Economia Baseada em Recursos farão
é de facto a sua casa. Em vez de deixares utensílios estranhos como uso total da abordagem sistémica, ao integrar todos os elementos e
equipamento recreativo e veículos parados no seu domicílio físico, processos da cidade num todo autónomo conforme for tecnicamen-
acumulando sujidade quando não estão em uso, eles são armaze- te possível. Precisamos começar de novo e não nos preocuparmos
nados de forma centralizada para o livre acesso de todos, fazendo em 'remendar' as cidades antigas, que estão intrinsecamente ultra-
com que os produtos sejam utilizados activamente, minimizando a passadas. Embora haja muitos projectos possíveis incluindo 'oceâ-
redundância. Se precisares de um automóvel por qualquer motivo, nicas', 'totalmente encerradas' e, claro, 'cidades terrestres', a cidade
é-lhe disponibilizado. Quando chegas ao teu destino, o sistema de circular, como projectada por Jacque Fresco, compreende uma das
direcção via satélite irá automaticamente disponibilizar o carro para mais eficientes. Cada uma das suas diferentes camadas circulares
outros usarem, ao invés de ficar estacionado em alguma garagem operam como um componente da funcionalidade total da cidade,
desperdiçando espaço e tempo. Na sociedade actual, a necessida- sempre com espaço para mudança, actualização e transição. Os es-
de por posse resulta na sobreposição de produtos e no desperdício. tilos de vida numa Economia Baseada em Recursos serão bem di-
Não há razão para cada pessoa "possuir" um carro. A maioria dirige- ferentes dos de hoje, já que os valores dos seres humanos passarão
-os somente uma hora por dia. É muito mais inteligente criar um por profunda mudança uma vez que a influência do sistema mone-
sistema universal de partilha, pois tal reduz o desperdício, a redun- tário baseado na escassez diminui. Uma das mais profundas mudan-
dância e aumenta o espaço e a eficiência. ças terá a ver com o nosso sentido de posse e de propriedade. Não

174 175
haverá necessidade ou motivos para a propriedade no futuro pois a
importância mover-se-á logicamente da "aquisição" para o "acesso".
Todas as pessoas terão acesso às suas necessidades, com todo o sis-
tema baseado em tornar isso possível.

176
Parte 4 — Superando a Mitologia

Capítulo 7

Natureza
vs. Criação

"Adaptar ou perecer, agora e sempre,


é o imperativo inexorável da natureza"

Henry Wells
É fácil de perceber como este tipo de concepção se manifestou, pois
se olharmos para a história da espécie humana até aqui, veremos
uma interminável série de guerras, genocídios, domínios e abusos
de poder. Uma vez que esse é o padrão que reconhecemos... É fácil
comportamento humano supor que deve de ser da "natureza humana" ou do "instinto" com-
portar-nos de maneiras que historicamente se repetem.

O suposto "comportamento criminoso" tem sido um foco no campo


da psicologia por muito tempo. É da responsabilidade de um indi-
víduo que a sua constituição genética o torne um suposto "crimino-
so", ou será o ambiente no qual ele cresceu a determinar isso? Essa
Algumas das pessoas que consideram os princípios de uma Economia é a antiga questão da "natureza contra criação". Primeiro, o que é
Baseada em Recursos pensam que o sistema seria difícil devido a algo exactamente um comportamento criminoso? Como qualificamos
que chamam de "natureza humana". Argumentam que os humanos distinções comportamentais que foram inventadas pelo homem e
são inerentemente competitivos, gananciosos e inconscientemente se transformaram ao longo do tempo? Todo o conceito de crimina-
egoístas, o que significa que não importa o quão tecnicamente boas lidade é temporal e relativo aos valores e conceitos de moral da cul-
estejam as coisas na sociedade, sempre existirão pessoas "corrup- tura. Há apenas 600 anos, os Astecas exerciam sacrifícios humanos
tas" que desejam abusar e buscam dominar os outros. em massa para os seus deuses, muitas vezes matando dezenas de
milhares de uma só vez. Isso foi uma actividade criminosa? Para nós,
A "natureza humana" é definida como: "atributos psicológicos que talvez. Mas, para eles, foi um costume social aceitável. E quanto à
são tidos como comuns a todos os seres humanos." 65 O termo in- escravidão que foi aceite por gerações e gerações? Na sociedade
sinua então que certos comportamentos psicológicos e, portanto, moderna seria ilegal manter alguém em cativeiro e forçá-lo a traba-
mentais são de alguma forma "embutidos" numa pessoa. Por con- lhar sem remuneração. É criminoso alguém que roube comida a fim
seguinte, existe a crença de que nascemos com algumas tendências de alimentar a sua família que morre de fome?
psicológicas pré-estabelecidas.
A maioria dos psicólogos e geneticistas comportamentais tentam,
hoje, tratar dessa subjectividade através da redução de supostas

65. http://pt.wikipedia.org/wiki/Natureza_humana

180 181
"tendências criminais" a comportamentos denominados anti-sociais, Embora o estudo de gémeos criados separadamente pareça eli-
impulsivos e agressivos... Por mais amplas e interpretativas que essas minar o problema de influências ambientais mútuas com relação a
caracterizações possam ser. Eles também catalogam e examinam padrões familiares, este método é contaminado pelo problema dos
supostos "distúrbios de personalidade", tais como a indecisão, esqui- gémeos crescerem em ambientes muito similares: social, económi-
zofrenia e obsessão. ca e culturalmente. Por exemplo, um dos mais famosos estudos de
gémeos criados separadamente foi um que é muitas vezes chamado
A ideia da genética como a razão do suposto comportamento aber- de "Estudo de Minnesota”. Trezentos e quarenta e oito (348) pares
rante tornou-se popular no início do século XIX. Chegaram mesmo de gémeos foram estudados na Universidade de Minnesota, sendo
a ser feitas operações de eugénica na forma de esterilização a fim o caso mais notável desse estudo, frequentemente citado em defesa
de "livrar a sociedade de criminosos, idiotas, imbecis e estuprado- da origem genética para o comportamento, conhecido como o caso
res”.66 Contudo, os geneticistas comportamentais irão hoje admitir dos "gémeos Jim". Jim Lewis e Jim Springer foram separados quatro
que ninguém jamais encontrou um "gene criminoso". Em vez disso, semanas depois de nascerem, em 1940, cresceram a 72 quilómetros
actualmente, o trabalho deles tende hoje a focar-se na interacção de de distância um do outro, em Ohio, e foram reunidos em 1979.
neuroquímicos no cérebro, juntamente com estudos baseados em
observações que envolvem família, gémeos e adopção. O estudo desses gémeos idênticos, reunidos posteriormente, pro-
duziu as seguintes conformidades:
A começar com os estudos baseados em observações, está hoje
muito bem provado que a família e estudos de gémeos criados juntos — Ambos os gémeos estavam casados com mulheres de nome Betty
(gémeos que crescem juntos) são métodos ineficientes de pesquisa e divorciados de mulheres de nome Linda.
genética comportamental. Esses métodos confundem-se com fac- — Um colocou no seu primogénito o nome de James Alan, enquanto
tores ambientais, já que os membros da família partilham do mesmo o outro deu ao seu primeiro filho o nome de James Allan.
ambiente. No entanto, pesquisas de gémeos criados separadamente — Ambos os gémeos tinham um irmão adoptado cujo nome era Larry.
aparentam ser métodos melhores, pois os ambientes são pelo menos — Os dois deram ao seu cão de estimação o nome de "Toy".
consideravelmente diferentes dos ambientes da família original. Hoje, — Ambos haviam tido algum treino de imposição da lei e tinham sido
os estudos mais frequentemente citados que defendem princípios assistentes de xerife em Ohio.
genéticos para distúrbios de personalidade e tendências comporta- — Os dois eram maus em ortografia e bons em matemática.67
mentais provêm de estudos de gémeos criados separadamente.

66. Joseph, Jay, A critical review of twin and adoption studies of criminality 67. http://mctfr.psych.umn.edu/research/UM%20research.html
and antisocial behaviors, The Journal of Mind and Behavior

182 183
Em primeiro lugar, que fique bem claro que ambos os "Jims" cresce- tipicamente dos pais, não dos outros filhos. O que isso na verdade
ram somente a 72 quilómetros um do outro em Ohio. Considerando revela nada tem a ver com os "gémeos Tim", mas mostra sim a gran-
a proximidade dos gémeos e as disposições culturais comuns da re- de semelhança cultural dos pais. Se cada um dos pais tinha a pro-
gião, é seguro afirmar que os dois homens foram sujeitos a valores pensão de dar a um filho o nome Larry, isso então sugere que os
e tradições bastante similares. Culturalmente, Ohio como um todo pais eram provavelmente muito similares culturalmente, revelando
tem pouca diversidade quando comparada a outros Estados. 86% assim que as influências ambientais nos dois "Jims" eram também
do Estado é branco,67 ao passo que 82% é cristão.68 Isso é impor- bastante semelhantes. Depois vêm os cães chamados "Toy". Bem,
tante porque quanto menos diversidade uma região possuir, mais embora "Toy" não seja um nome de cão comum, precisamos de
uniformes serão as influências ambientais. Outro importante ele- descobrir de onde veio o nome em primeiro lugar. Alguém tinha de
mento que o autor não pôde expressar devido à falta de informação sugerir o nome aos "Jims" para que eles o conhecessem. O motivo
disponível é as disposições culturais e valores dos pais envolvidos. Se para esse nome pode ter muitas faces e ser logicamente prove-
os pais dos dois "Jims" também fossem nativos da região de Ohio, niente do ambiente. Por exemplo, quase todos os cães domésticos
para onde eles foram levados, reforçaria ainda mais a propensão de tradicionalmente têm brinquedos (em inglês, "toys") dados pelos
semelhanças culturais e, portanto, comportamentais. seus donos. O advento do nome "Toy" pode ter vindo de uma asso-
ciação feita por um jovem Jim ouvindo um dos pais a referir-se ao
Quanto aos dois estarem casados com mulheres de nome Betty e brinquedo (toy) quando brincava com o cão. Houve casos históricos,
divorciados de mulheres de nome Linda, no topo dos mil nomes fe- por exemplo, de mães que diziam aos filhos, que estavam apenas a
mininos mais comuns em existência nos Estados Unidos, Linda é o 3º aprender a dizer, algo como "O pai chegou a casa", ao anunciarem
e Betty, o 14º.70 Isso é estaticamente inacreditável tendo em conta a chegada do pai ao filho. A criança eventualmente ouviria essas
os nomes existentes, criando uma grande probabilidade de coinci- palavras e as associaria com o pai a entrar em casa. Nessa situação
dência. Quanto aos nomes "James Alan" e "James Allan", o nome comum, algumas crianças confundiram a figura do pai com a pala-
mais comum nos Estados Unidos é... James! 71 Quanto ao Allan / Alan, vra "casa" em vez de "pai". Logo, elas depois perguntariam "quando
seria necessário realizar mais pesquisas sobre o motivo cultural por casa vai voltar para casa?" Por outras palavras, a palavra brinquedo
trás desses nomes no meio na região de Ohio em que ambos vive- poderia ter sido um nome referido que foi redefinido pelo contexto.
ram. Em relação aos "dois gémeos terem um irmão adoptado cujo No caso dos gémeos Jims, não temos informações suficientes para
nome era Larry", isso é uma coisa muito estranha para os pesqui- saber se o nome "Toy" é genético ou ambiental, mas o bom senso
sadores de Minnesota, pois a tradição de dar nome aos filhos vem tende naturalmente para o ambiente.

68. http://www.census.gov/popest/states/asrh/tables/SC-EST2005-03-39.csv
69. http://www.spiritus-temporis.com/ohio/demographics.html
70. http://names.mongabay.com/female_names.htm
71. http://names.mongabay.com/male_names.htm
184 185
Mas o propósito deste documento não é desenvolver uma investi- desportos nos Estados Unidos, eles provavelmente acabarão por se
gação cheia de argumentos sobre a falta de validade do estudo dos tornar jogadores de um dos dois desportos. Considerando a esbel-
gémeos. O ponto aqui é expor que factores culturais orientados ta compleição e elevada altura deles, devem de ter uma propensão
dentro da sociedade são tão poderosos quanto factores familiares. maior para o basquete. Se eles obtiverem apoio moral dos amigos e
Os "gémeos Jim" cresceram na mesma região e tiveram influências família, talvez jogarão profissionalmente quando crescerem.
de valores e ambientais similares. Essa questão deve de ser tratada
e deve de ser feita uma profunda análise sobre as causas culturais en- Seria esta actividade de jogar basquetebol genética? Não no senti-
volvidas no estudo. No geral, o estudo dos gémeos, embora muito do que alguns geneticistas comportamentais sugeririam. O facto é
elogiado, demonstra extrema fraqueza na compreensão da verda- que a propensão de jogar basquete provém de superioridades fisio-
deira casualidade de uma concordância em particular. Contudo, isso lógicas genéticas, combinadas com tradições culturais estabelecidas
não significa que a genética não exerce uma forte influência nas no ambiente. Não há evidência alguma sugerindo que os genes de
nossas vidas. É muito importante considerar os verdadeiros traços algum modo fazem o jogador de basquete. É quase como os estudos
genéticos e os efeitos que eles provocam quando misturados com a genéticos que alegam estar à procura do gene que torna alguém fu-
cultura. Apesar de a maioria concordar que os atributos físicos como mador ou republicano... o que é um grande absurdo. As únicas bases
a cor dos olhos, a altura e algumas alergias são genéticos, muitos genéticas relevantes aqui são fisiológicas, não comportamentais.
não consideram as consequências desses atributos na formação do
ambiente dessa pessoa. Por exemplo, suponhamos que temos dois Os neuroquímicos são outro exemplos de influências fisiológicas no
gémeos idênticos separados depois do nascimento e cada um tenha comportamento. A serotonina, por exemplo, mostrou-se relaciona-
uma predisposição genética para passar dos 1,80 m de altura, os da com supostos comportamentos “anti-sociais”. Baixos níveis de
dois tenham um forte metabolismo que os mantêm magros e um serotonina podem aparentemente levar à impulsividade e agres-
sistema nervoso que permite uma coordenação olho-mão aguçada. são.72 Seja como for, os neuroquímicos não orientam o comporta-
Digamos que ambos são adoptados por famílias de classe média mento de uma pessoa de um modo específico. Assim como outros
em ambientes suburbanos e crescem no que seria considerado uma atributos fisiológicos, eles causam certas predisposições. Embora
cultura juvenil tradicional americana, incluindo desportos e activi- de facto haja uma origem genética para essas substâncias químicas,
dades. Uma vez que os dois irmãos possuem alturas avantajadas e que podem estar relacionados à hereditariedade familiar e supostos
coordenação genética superior, eles terão vantagem nos desportos. "distúrbios de personalidades", resultantes de desequilíbrios quími-
E como o basquetebol e o futebol americano são os dois principais cos, a suposição do comportamento neuroquímico não especifica

72. Elliot, FA, A neurological perspective of violent behavior.


In DH Fishbein, The science, treatment, and prevention of
antisocial behaviors, pp. 19-21, 2000, Civic Research Institute

186 187
como estas propensões químicas manifestar-se-ão. Por outras pa- Como referido anteriormente, o estudo "Merva-Fowles", realizado
lavras, o comportamento que deve de resultar da interacção des- na Universidade de Utah, nos anos 90, descobriu fortes conexões
ses químicos pode apenas ser extremamente generalizado. Alguém entre o desemprego e o crime. As suas descobertas mostram que
poderia dizer que uma pessoa com certo desequilíbrio tem predis- um aumento de 1% no desemprego resulta num aumento de:
posição a "zangar-se" mais facilmente que a população em geral.
Embora isso seja informativo, nada diz acerca de como o compor- 6,7% nos homicídios;
tamento manifestar-se-á. É o ambiente que determina o comporta- 3,4% nos crimes violentos;
mento real ou ausência do mesmo. 2,4% nos crimes sobre a propriedade.

Não há evidência científica que realmente apoie a noção que qual- Para além disso, também descobriu que aqueles que perderam o
quer dos nossos comportamentos é exactamente o resultado dos emprego recentemente ficaram especialmente vulneráveis a doen-
nossos genes. Estes comportamentos que as pessoas muitas vezes ças. As suas descobertas mostram que um aumento de 1% no de-
atribuem ao "instinto" ou à "natureza humana" podem ser ligados semprego também resulta num aumento de:
quase sempre a influências ambientais. A noção de "natureza hu-
mana" é largamente mitológica. Ela é resultado de noções religiosas 5,6% nas mortes por ataque cardíaco;
primitivas de que o ser humano é "bom ou mau" inerentemente. A 3,1% nas mortes por enfarte.70
busca por um "gene" ou afim causador de um comportamento es-
pecífico é basicamente uma forma de superstição. É como se uma Com base nos níveis de desemprego de 1990-1992, isso resultou
pessoa fosse "possuída por demónios" que controlassem o seu em mais 35.307 mortes por ataque cardíaco e mais 2.771 mortes por
comportamento. derrame. O estudo descobriu também que esses desempregados
tiveram uma predisposição muito maior para o alcoolismo, para o
O facto é que embora os neuroquímicos e traços fisiológicos pro- fumo de cigarros, depressão e consumo de dietas menos saudáveis.
voquem propensões para as reacções e tendências sociais de uma
pessoa, é o ambiente que de facto cria os nossos valores e compor- Este estudo revela como o sofrimento e a agressão podem resultar
tamentos. Não existe uma "natureza humana" fixa, predefinida. Os da privação ambiental e quão poderoso é o ambiente na formação
nossos valores, métodos e acções desenvolvidos são fruto das nossas dos nossos comportamentos e valores. Se uma pessoa precisar de
experiências. sobreviver, ela fará o que for preciso. Isso faz dela um "criminoso"?

73. Merva & Fowles, Effects of Diminished Economic Opportunities


on Social Stress, Economic Policy Institute, 1992

188 189
Não necessariamente. que geram comportamento socialmente ofensivo. Na sociedade de
hoje, a condição mais fundamental para o comportamento ofensi-
A conclusão a que chegamos é que os nossos comportamentos são vo provém do sistema monetário. Como já foi dito antes, o siste-
baseados no que aprendemos, juntamente com as pressões biosso- ma monetário perpetua corrupção, escassez e insuficiência. A tão
ciais com as quais temos de lidar para sobreviver. A nossa constitui- falada decência não pode existir num mundo de competição, má
ção genética não nos diz exactamente nada sobre como devemos distribuição de bens, miséria e privação. O despotismo que vemos
funcionar. É o que aprendemos juntamente com os nossos hábitos o hoje no mundo não é resultado de forças genéticas pré-estabeleci-
que cria o nosso comportamento. Um homem ofendido que puxa de das. É basicamente o resultado de anos de condicionamento voltado
uma arma e atira em alguém teve, em algum momento da sua vida, à escassez e à competição. Hierarquia, ganância, competição e do-
de aprender o que é uma arma, como puxar o gatilho, assim como mínio são manifestações sociais. Se você olhar para o reino animal,
o que ele tinha de achar que era um insulto em primeiro lugar.Cada frequentemente verá hierarquia social e dominação brutal. Muitos
palavra nesta página foi aprendida por este autor de alguma forma. dizem geralmente que o comportamento desses animais é instin-
Todo o conceito é um acúmulo colectivo de experiências. Não existe tivo e que os humanos partilham dessa mesma natureza. Embora
realmente nada que pensamos e que não nos tenha sido apresen- isso pareça lógico pela observação, não está a levar em conta a es-
tado de alguma forma através do ambiente. Uma pessoa nascida cassez que existe no reino animal. Se não houver o suficiente para
numa cultura em particular irá absorver os valores, tradições e, por- todos, os animais no topo ficam cada vez mais agressivos gerando
tanto, comportamentos dessa cultura. Uma criança chinesa separa- hierarquia, enquanto o resto compete por recursos de uma forma
da dos pais no nascimento e que cresceu numa família britânica na aparentemente voraz.
Inglaterra desenvolverá o idioma, o dialecto, as maneiras, as tradi-
ções e o sotaque da cultura britânica. O professor de neurologia e ciências neurológicas da Universidade
de Stanford, Robert Sapolsky, passou 30 anos a estudar pessoal-
Voltando ao nosso argumento principal em relação às pessoas que mente um grupo de babuínos no leste africano. O bando exibia os
acreditam que uma Economia Baseada em Recursos nunca funcio- mesmos padrões de hierarquia social, competição e dominação que
naria devido aos "imperiosos atributos da natureza humana"; que os seres humanos exibem hoje. Contudo, aconteceu algo de interes-
fique claro que toda a gente que alguma vez enganou alguém teve sante há cerca de 10 anos no estudo. O grupo ficou acidentalmente
uma motivação para tal. Essa motivação é aprendida. Portanto, a exposto a uma doença que matou os machos alfa, sobrando apenas
nossa meta para a sociedade seria eliminar os estímulos, ou condições os subordinados e as fêmeas. Este evento alterou drasticamente a

190 191
natureza social do bando. Nenhum dos babuínos remanescentes O Dr. Sapolsky acrescenta:
ocupou a nova posição de domínio. A hierarquia praticamente ces-
sou e o comportamento agressivo diminuiu exponencialmente. Este "Uma das coisas que os babuínos nos ensinaram foi que somos capa-
é ainda o caso do bando 20 anos depois. Mesmo quando jovens ma- zes de, numa geração, transformar o que são considerados sistemas
chos e adolescentes se juntavam ao grupo, levava cerca de 6 meses sociais imutáveis, "gravados na rocha"... Não temos desculpa quan-
para o comportamento do babuíno se ajustar de um tipicamente do dizemos que existem certas inevitabilidades nos sistemas sociais
competitivo para o novo comportamento equilibrado e não-agres- humanos.76
sivo do bando.74
Numa Economia Baseada em Recursos, os objectivos são a igualda-
Embora esta observação deixe muitas questões no ar, ela vale para de, a liberdade e a abundância. Se esses factores ambientais podem
mostrar como o comportamento muda de acordo com mudanças ser criados para a humanidade, o nosso sistema social irá transcen-
no ambiente. Pensar que a nossa sociedade está presa em alguma der os padrões degenerativos, corruptos e egoístas que vemos hoje.
prisão do "instinto" e da "natureza humana" não é viável. Mesmo
que tenhamos "predisposições" para certos padrões de sobrevivên-
cia, é o ambiente que gera o verdadeiro comportamento.

Nas palavras do professor de epidemiologia Sir Michael Marmot


referindo-se ao estudo dos babuínos:

"Eu diria que o que aprendemos... com o estudo de primatas não-


-humanos, foi que as condições nas quais as pessoas vivem... são
absolutamente vitais para a saúde delas. Penso que o que estamos
a tentar criar é uma sociedade melhor...como podemos criar uma
sociedade com as condições que permitirão às pessoas se desenvol-
verem plenamente e é nessa direcção que estamos a ir — criar uma
sociedade melhor, que promova o desenvolvimento humano." 75

74. Interview with R. Sapolsky, Stress, National Geographic, 2008 76. Interview with R. Sapolsky, Stress, National Geographic, 2008
75. Interview with Sir Micheal Marmot, Stress, National Geographic, 2008

192 193
Como o estudo Merva & Fowles anteriormente apresentado mos-
tra claramente, o comportamento socialmente ofensivo está di-
rectamente relacionado com as circunstâncias socioeconómicas. A
grande maioria das pessoas nas prisões vem de posições socioeco-
o sistema legal nómicas desprivilegiadas.

Leis são curativos. Em vez de depender de um sistema falido de pu-


nição e prisão depois do mal-estar feito, precisamos de tratar das
insuficiências da sociedade que levam ao comportamento social-
mente ofensivo, tais como miséria, desnutrição, falta de habitação,
depravação, distorção social, educação falhada, stress financeiro,
Quando o assunto é comportamento humano, a sociedade tenta abandono de crianças e afins.
controlar-se a si mesma por meio da ameaça, usando leis. As leis
existem para controlar as pessoas. Elas são "remendos" que não tra- Portanto, se queremos alterar o comportamento das pessoas,
tam das causas raiz do comportamento. Se uma pessoa é presa por temos de alterar as condições sociais. Precisamos de "eliminar as fa-
roubar, é dada muito pouca consideração ao porquê da pessoa ter lhas no design". Eliminamos a necessidade de proclamações e leis.
escolhido roubar, em primeiro lugar. Em vez de considerar as causas Leis são subprodutos da insuficiência. Não pregamos uma placa que
profundas, a sociedade toma o caminho mais fácil e muitas vezes diz: "Limite de velocidade: 90 quilómetros por hora" para seguran-
remove o "criminoso" através de prisões. ça. Projectamos o sistema tecnicamente de modo que a segurança
esteja embutida e o erro humano não seja uma opção. Se você não
Em 2007, mais de 9 milhões de pessoas estavam encarceradas por quer que uma pessoa roube, tem de fazer com que ela tenha aces-
todo o mundo, estando os Estados Unidos a liderar com a maior po- so directo às suas necessidades sem necessidade de submissão ou
pulação encarcerada do mundo.77 É realmente triste. competição.

A origem de qualquer suposto crime é de facto a própria sociedade. Hoje, com o avanço tecnológico, temos a habilidade de criar um
Não existem "criminosos". Como foi aqui repetidamente expresso, novo sistema social que pode permitir a todos os humanos o acesso
o sistema monetário gera corrupção pela sua própria construção. a todas as necessidades da vida, sem preço, dívida ou servidão. Isso

77. Walmsley, Roy, World Prison Population 2007, International


Center for Prison Studies, London

194 195
terá um profundo efeito no modo como as pessoas se tratam umas
às outras e interagem em sociedade. Uma incrível queda nos crimes
seria o resultado, pois a maioria deles está relacionada com o dinhei-
ro. Isto não quer dizer que, de um dia para outro, todas as outras
formas de comportamento socialmente ofensivo desaparecerão. A
resumo do capítulo 7
inveja e outras formas de problemas de confidência irão ainda gerar
controvérsias. No entanto, o tratamento daqueles que cometerem
actos socialmente ofensivos será no futuro drasticamente mais hu-
mano e proactivo. Se um assassino em série for encontrado e cap-
turado, ele não seria tratado como um criminoso, mas em vez disso
como um paciente doente. A sociedade compreenderá que as pes-
soas são produtos do meio e em vez de condenar a pessoa a uma O comportamento humano é um produto do meio. Componentes
cela de concreto fria, os cientistas sociais irão estudar profundamen- genéticos, que se manifestam em traços fisiológicos, servem ape-
te as causas culturais que geraram o comportamento do assassino nas para criar propensões para certas reacções. Por isso, uma vez
em série e considerar as condições que precisam de ser alteradas. que é o ambiente que influencia o nosso próprio comportamento,
se acharmos padrões de comportamento na nossa sociedade que
sejam socialmente ofensivos e abusivos, devemos olhar para o am-
biente para descobrir o porquê desses comportamentos se mani-
festarem, em primeiro lugar. O sistema legal de hoje é uma grande
distorção social que não leva em consideração as influências am-
bientais de um suposto "criminoso". Numa Economia Baseada em
Recursos, onde escassez e privação são deliberadamente reduzidas
através de métodos tecnológicos modernos, o comportamento da
sociedade mudará seguramente para melhor.

196 197
Capítulo 8

Espiritualidade
Funcional

"A Ciência é a procura pela verdade - não é um jogo em


que um tenta derrotar o seu oponente ou fazer mal a
outrem. Precisamos de ter o espirito da Ciência..."

Linus Pauling
a dramáticos conflitos, não apenas entre humanos, como também
inadvertidamente entre nós e o próprio meio-ambiente. Todavia,
com o passar do tempo, a ciência mostrou como os seres humanos
estão sujeitos às exactas mesmas forças da natureza assim como
todas as outras coisas. Nós aprendemos que partilhamos das mes-
mas estruturas atómicas das árvores, pássaros e todas as outras for-
mas de vida. Aprendemos que não podemos viver sem os elementos
da natureza, que precisamos de ar limpo para respirar, comida para
nos alimentarmos, energia do sol, etc. Quando entendemos essa
relação simbiótica da vida, começamos a ver que na medida em que
os 'relacionamentos' estão em causa, a nossa relação com o planeta
As pessoas anseiam por respostas, por isso ao longo do tempo fomos e a natureza é mais profunda e importante. O meio pelo qual isto é
inventando explicações para os fenómenos. À medida que a nossa expresso é a Ciência, já que o método científico permitiu-nos perce-
sociedade cresceu, as nossas ferramentas para analisar o mundo e ber estes processos naturais, de modo que possamos compreender
os seus atributos foram melhorados, e consequentemente, as nos- melhor como nós nos 'encaixamos' neste sistema de vida como um
sas compreensões mudaram com base nas novas descobertas. O todo.
conhecimento é um fenómeno evolucionário assim como qualquer
coisa na natureza. Portanto, é crucial que todos nós estejamos men-
tal e emocionalmente preparados para que as nossas crenças tradi-
cionais percam relevância. Para alguns, este é um processo muito
difícil devido às ligações emocionais que foram criadas ao redor de
certas crenças. A religião é um poderoso exemplo dessa ligação
ideológica. A Religião Institucionalizada, de muitas formas, parece
estar enraizada a perpétuos equívocos acerca dos processos da vida.
Por exemplo, apresenta uma visão do mundo que frequentemente
coloca o ser humano num patamar diferente dos outros elementos
da natureza. Este 'ego espiritual' tem, por várias gerações, levado

200 201
Judaísmo:
"O estrangeiro que residir com você deve ser considerado por você
como um dos seus cidadãos; você deve amá-lo como a si mesmo."
Taoísmo:
o ideal religioso "Considere o ganho do seu vizinho como seu próprio ganho e a perda
do seu vizinho como a sua própria perda."

Independentemente destas noções, um olhar para a sociedade de


hoje faz as pessoas perguntarem-se o porquê de o ideal de, univer-
salmente valorizar e respeitar o semelhante, nunca se ter firmado.
Foi a personagem Jesus quem disse: "Ame o próximo como a si
Praticamente todas as religiões do mundo falam sobre certos valo- mesmo". Mas como? Como podemos criar uma sociedade onde as
res ideais para a humanidade. pessoas vivam juntas em harmonia, trabalhando para o bem comum,
como promovem os ideais religiosos?
Cristianismo:
"Faça aos outros aquilo que gostaria que lhe fizessem." A resposta é que depende de nós projectar um sistema que permita
Budismo: que estes ideais humanos floresçam.
"Ao colocar alguém no lugar de outra pessoa, esse alguém não pode
matar ou fazer com que o outro mate." A sociedade egoísta e orientada pelo dinheiro de hoje cria um am-
Confucionismo: biente que se recusa a permitir a preocupação universal com o outro.
"Jamais imponha aos outros aquilo que você não escolheria para si." Este sistema baseia-se na perpetuação do individualismo, às custas
Hinduísmo: dos outros, e por isso este mesmo jamais permitirá um mundo de
"Uma pessoa nunca deve fazer algo a outra que considere prejudicial equilíbrio e harmonia.
a si própria."
Islamismo: O facto é que, está na hora de parar de rezar, parar de desejar e de
"Não magoe ninguém para que ninguém possa magoá-lo." falar cegamente sobre os nossos supostos ideais religiosos e huma-
nísticos e realmente trabalhar para fazê-los acontecer!

202 203
falar é barato resumo do capítulo 8

Uma Economia Baseada em Recursos põe em prática tudo aquilo que Está na hora de parar de pontificar e dar falso apoio a estes valores
os grandes professores religiosos e filósofos sempre falaram desde espirituais sobre os quais filósofos seculares e religiosos têm discutido
os primórdios em relação aos humanos compreenderem-se uns aos por milénios e finalmente colocá-los em prática. Embora hajam infini-
outros e trabalharem juntos com respeito mútuo e harmonia. O uso tas opiniões científicas e supersticiosas sobre quem somos e de onde
da ciência e do método científico, embora muitas vezes seja conside- viemos, a questão mais importante reside no aqui e agora. Em vista do
rado frio e insensível, realmente apresenta uma das mais profundas terrível sofrimento e futuro questionável da raça humana, perguntar-
descobertas espirituais que já conhecemos. Diferente daqueles que -se se foi deus quem criou o universo… ou se fomos criados por extra-
não param de falar de paz, amor e harmonia entre as pessoas da Terra, terrestres... ou até se somos produtos da evolução e da matéria celeste,
a ciência pode realmente trabalhar para fazer isso acontecer. Não é insignificante. Com ou sem Big Bang, os problemas que temos hoje
existe nada mais cuidadoso que o Método Científico, pois os resul- não mudam. Não podemos esperar por alguma revelação divina ou
tados provaram ser absurdamente benéficos para toda a humanida- algum "grande homem" para nos guiar. Nós temos de entender que
de. Embora muitos olhem para a natureza altruísta da Madre Teresa estamos por nossa própria conta neste planeta e está nas nossas mãos
com grande respeito e admiração, poucos tendem a ver Alexander mudar o mundo para melhor. A ciência é a ferramenta para esta espi-
Fleming, o descobridor da penicilina, do mesmo modo romantizado. ritualidade funcional e se trabalharmos para aplicar os seus métodos
A Penicilina salvou muito mais vidas actualmente do que qualquer para o melhoramento da civilização em si, nós podemos alcançar os
ideia ou organização de caridade. O ponto é que a ciência e a tecnolo- objectivos espirituais que procuramos desde a antiguidade.
gia são o divino em acção.

204 205
Parte 5 — Tomar medidas

Capítulo 9

o movimento

"Cidadania não é aprender a viver em sociedade,


é aprender a alterá-la quando for necessário"

???
progressão natural, devemos também reconhecer que na realidade
o ser humano tem a capacidade de abrandar drasticamente e para-
lisar o progresso, através de estruturas sociais que estão desactuali-
zadas, dogmáticas e portanto desalinhadas com a própria natureza.
O mundo que vê hoje, cheio de guerra, corrupção, elitismo, poluição,
pobreza, doenças epidémicas, abusos dos direitos humanos, desi-
gualdade e crime é o resultado desta paralisia.

Este movimento é sobre sensibilização, invocando uma progressão


fluída e evolucionaria, combinando o pessoal, social, tecnológico
e espiritual. Reconhece que a espécie humana está num caminho
O termo "Zeitgeist" é definido como o clima intelectual, moral e natural para a união, derivado de um conhecimento geral sobre
cultural de uma época, o termo "movimento" significa simplesmen- como funciona a natureza e nós, como seres humanos, pertence-
te mudança ou alteração, portanto, o Movimento Zeitgeist é uma mos e fazemos parte deste fluxo universal a que chamamos de vida.
organização que promove a mudança do clima intelectual, moral e Ainda que este caminho exista, é infelizmente escondido ou não
cultural dominantes do nosso tempo, especificamente para valores reconhecido pela grande maioria dos humanos, que continuam a
e práticas que sirvam melhor o bem-estar de toda a humanidade, in- perpetuar modos de conduta e associação antiquados e daí dege-
dependentemente de raça, religião, credo ou qualquer outra forma nerativos. É esta irrelevância intelectual que o Movimento espera
engendrada de estatuto social. ultrapassar através da educação e da acção social. Em suma somos
um Movimento Social com fortes raízes educacionais.
O Movimento Zeitgeist não é um movimento político. Não reconhe-
ce nações, governos, raças, religiões, crenças ou classes. A nossa Resumidamente descrevendo o movimento em 10 pontos, o mesmo:
compreensão conclui que essas são distinções falsas e desactua-
lizadas que estão longe de serem factores positivos para o cresci- ❶ — Reconhece que a nossa conduta actual no planeta é simples-
mento e potencial humano colectivo. A sua base está na divisão de mente insustentável e advoga a transição para um novo sistema
poder e estratificação, não na união e igualdade, que é o nosso ob- apelidado de Economia Baseada em Recursos
jectivo. Embora seja importante perceber que tudo na vida é uma

208 209
❷ — Reconhece que através do uso humano da tecnologia, temos ❻ — Deseja remover e transcender as condições necessárias para a
a possibilidade de providenciar muito mais recursos em abundância existência de governos e leis focando-se em tratar as raízes dos nos-
para todas as pessoas do planeta. Eliminando assim a escassez no sos problemas sociais e ajustando o ambiente de maneira a que tais
maior número de áreas possível reduzindo e eliminando assim gran- comportamentos aberrantes e necessidades não se materializem.
des problemas comuns a todo ser humano hoje em dia como a fome,
privação de necessidades, crime... O objectivo final disto é criar um ❼ — Advoga a utilização do método científico para questões sociais
sistema de acesso a recursos em vez de propriedade, dinheiro ou e ambientais, chegando as decisões baseando-se em dados esta-
crédito. tísticos e lógica direccionada para a maximização de eficiência em
operações técnicas, em vez de opiniões baseadas em interesse pró-
❸ — Reconhece que o nosso modelo actual de emprego se encon- prio ou nacional por parte de políticos ou empresários
tra obsoleto e desalinhado com a realidade tecnológica de hoje,
assim se encontrando impotente face ao problema do desempre- ❽ — Defende um sistema que encoraja a colaboração em vez de
go tecnológico. Advogamos o uso de automatização na produção competição e que seja baseado em união e igualdade por design.
de bens e serviços, removendo onde for possível a necessidade de
mão-de-obra humana, maximizando eficiência e eliminando assim ❾ — Não é uma instituição ou organização política e está estru-
trabalhos monótonos e repetitivos para libertar o ser humano para turando em volta de projectos e objectivos, opera sem líderes ou
perseguir aquilo que mais desejar. hierarquia.

❹ — Reconhece que a sociedade deverá possuir uma relação sim- ❿ — Tem como objectivo, iniciar uma transição para uma economia
biótica com a natureza de maneira a se tornar sustentável e deverá baseada em recursos através de difusão de conteúdo criando assim
atingir e manter um equilíbrio ecológico vivendo em harmonia com consciência social em massa sobre o conceito.
o planeta e não contra ele.

❺ — Reconhece que nada mais nada menos que uma mudança


completa na forma que operamos este planeta hoje é um factor cru-
cial se desejamos evitar colapso social em escala global.

210 211
A Missão do Movimento
Superar as diferenças
na Sociedade

Como podem reparar hoje em dia existem inúmeras organizações Para fazê-lo, primeiro temos de estabelecer uma perspectiva rela-
com objectivos nobres a lutar e efectuar grandes e necessários esfor- cionada com o mundo actual. Hoje, a tecnologia que pode libertar
ços para solucionar bastantes dos problemas gerados pelo sistema. os humanos de tarefas desnecessárias éreprimida devido ao siste-
O problema é que quase nenhuma organização se dirige realmente ma monetário baseado no trabalho. Isso é inaceitável. O facto de
á raiz do problema, acabando apenas por se focar nos sintomas, e que a tecnologia está a ser impedida de florescer para o bem da
é aqui onde verdadeiramente se encaixa a missão do movimento. raça humana é, na verdade, um problema de Direitos Humanos, de
A Missão / Objectivo do movimento é corrigir a nossa sociedade certo modo. É tempo de esquecermos as nossas diferenças e de nos
mundial de acordo com os nossos actuais conhecimentos a todos os unirmos para o benefício colectivo da nossa espécie. Todos precisa-
níveis, não só criando a consciência das possibilidades tecnológicas mos de comida, ar, água e similares e todos nós queremos liberda-
e sociais que muitos foram condicionados a pensar serem "impossí- de e felicidade. Isso só se vai concretizar se todos nós trabalharmos
veis" ou contra a "natureza humana", mas também fornecendo os juntos para superar um sistema social actualmente obsoleto. Claro,
meios para vencer esses  elementos sociais que perpetuam estes sis- é mais fácil falar do que fazer, já que são humanos que passaram
temas ultrapassados. Em outras palavras procuramos solucionar os por uma tremenda distorção social que rege o nosso mundo. Os
problemas sociais comuns a todo ser humano, olhando e tratando a seus valores geralmente elitistas são constantemente reforçados
sua raiz através da profunda mudança de valores, difusão de infor- pelos benefícios materiais obtidos dos seus negócios e corrup-
mação e consequente criação de consciência social e ambiental. ções políticas. Contudo devemos sentir pena da ignorância deles.

212 213
Nas palavras de Gandhi: "Não odeies os teus opressores. Eles preci- É crucial que absorvamos aqueles que estão a ser prejudicados por
sam de ser libertados tanto quanto tu precisas." essa falha monetária e dar-lhes orientação. Uma vez que um grande
número de pessoas no planeta dêem as mãos na busca comum de
O facto é que o activismo político tradicional não é o caminho. O uma mudança social dramática, nós daremos início à próxima etapa,
estabelecido tornou-se muito bom em controlar discórdias tradi- que pressionará todas as nações simultaneamente a começar a sair
cionalmente orientadas. Antes, o caminho deste movimento é pri- da estrutura monetária. Até lá, a comunicação, juntamente com
meiramente criar a consciência fundamental a uma escala global. Isso rebeliões sociais pacíficas, são a chave. Como regra geral, todos os
ficará a cargo da comunicação. Aqueles que acreditam nessa dire- aspectos sociais que perpetuam o sistema do lucro, a guerra e a ex-
ção devem trabalhar para espalhar essas ideias. Primeiro a humani- ploração humana devem ser banidos. Ninguém deve jamais alistar-
dade deve estar ciente dessa direcção social antes de qualquer tipo -se no exército de qualquer nação ou trabalhar para a indústria da
de medida ser tomada. No momento, o movimento está a espalhar- guerra. O sistema político, por sua vez, precisa ser mostrado como
-se pelo mundo através de capitulos nacionais e regionais, actual- de facto é. Os governos do mundo inteiro são hoje controlados por
mente na escrita deste documento, o movimento possui já grupos homens de negócios, advogados e militares... Provavelmente, três
activos em todos continentes habitados extendendo-se por mais das especializações mais inúteis existentes. Ao entendermos que
de xx de paises e xx regiões. É muito importante que resolvamos os nossos problemas neste planeta são técnicos, então percebemos
as diferenças entre as culturas expressando como, no fundo, somos que qualquer grupo de pessoas que for considerado qualificado para
todos realmente o mesmo. As nossas semelhanças e necessidades tomar quaisquer decisões, deve naturalmente ser técnico e, por conse-
superam largamente as nossas diferenças religiosas e políticas. guinte, objectivamente concentrado...não politicamente motivado. A
Além da consciencialização, devemos também focar-nos em expor política é uma criação monetária.
as fraudes monetárias e corrupções sociais que não param de acon-
tecer na nossa sociedade. Queremos fazer com que os governos e
as pessoas do mundo se sintam embaraçados pela doença que o sis-
tema deles gera, paralelamente fazendo com que as pessoas enten-
dam as raízes da corrupção e como se afastar dela com a aplicação
inteligente da ciência e tecnologia em benefício social e ambiental.
Como já dissemos, os sistemas monetários de todo o mundo estão
a falir neste momento. O resultado disso poderia ser catastrófico.

214 215
das massas, em conjunto com vários membros de maneira coorde-
nada, para assim acumular cada vez mais apoiantes. Por outras pa-
lavras, é nesta fase que o movimento se expande para as massas
adquirindo cada vez mais apoiantes.
Fases do Movimento
Fase 3 — Fase de Acção

Esta fase pode ser caracterizada por acções de carácter bastante


sério, algumas destas podem passar por pressões políticas, boicote
a instituições, acumulação de fundos para a construção de cidades
experimentais... Em suma esta é a fase onde o movimento inicia a
De uma forma geral, podemos considerar que o movimento possui necessária pressão social para se poder dar lugar á transição para
3 fases. uma Economia Baseada em Recursos.

Fase 1 ­­­­­­— Fase de Estruturação

Esta fase concentra-se nos aspectos de espalhar informação, obter


apoiantes, estabelecer ligações com outros grupos e indivíduos e
pela criação de uma infra-estrutura sólida no movimento através de
equipas de activismo e dos Capítulos. Por outras palavras esta é a
fase em que se cria uma estrutura base sólida no movimento para
activismo.

Fase 2 — Fase de Expansão

Esta fase caracteriza-se pela inovação e criação de projectos mais


ambiciosos cujo foco é a difusão de informação e consciencialização

216 217
Para participar no movimento não é necessário despender de várias
horas diárias como se fosse algum tipo de trabalho, basta partici-
parem de qualquer forma (que for possível) atendendo às variáveis
de disponibilidade e aptidão. Para alguns as participações pode ser
Activismo no Movimento umas horas semanais para outros horas diárias e o trabalho de-
senvolvido pode ser de carácter variado.

Um activista deverá estar consciente que as suas acções irão con-


tribuir para a imagem social do movimento e para tal é empírico a
necessidade de possuir um bom entendimento do que o movimento
advoga e os seus conceitos. Isto pode ser feito ao visualizar o seguin-
O Activismo pode ser descrito como o acto intencional de trazer mu- te conteúdo:
dança ambiental, económica, política ou social. Consequentemente o
Movimento Zeitgeist é definido por ser uma organização que traba- • Ver o Guia de Orientação Narrado ou Ler Este guia
lha para a mudança no clima intelectual, moral e cultural de uma era. • Ler o .pdf "Designing the Future"
• Ver as Palestras "Where are we Now?" e "Where are we Going?"
Podemos definir que no Movimento existem 2 tipos de membros: • Ver a Palestra "Social Pathology"

Apoiante — "Concordo com tudo mas não sei como consigo contribuir No entanto o activista não deve ficar por aqui, este deverá procurar
com algo ou simplesmente não tenho tempo, mas irei tentar manter- novo conteúdo activamente e comunicar com a comunidade fre-
-me informado" quentemente. O Activista deverá inscrever-se no respectivo ca-
pítulo e seguir as respectivas instruções disponíveis no mesmo
Activista — "Concordo com tudo e estarei disposto a contribuir de para poder participar.
todas as maneiras que puder."

218 219
Para se juntar ao movimento / Participar: • Copiem este pequeno manual e distribuam-no em papel ou CD-Rom.

Todos membros apoiantes ou activistas deverão estar inscritos na • Façam o download da Apresentação de Orientação em formato sli-
newsletter internacional (thezeitgeistmovement.com) e deverão deshow ou filmes e levem para os vossos eventos.
igualmente estar inscritos no respectivo capítulo, no caso dos leito-
res deste guia (www.zeitgeistportugal.org). • Saturem a Internet o mais possível.

Se desejar participar no movimento activamente poderá encontrar • Estejam atentos porque pelo dia 15 de Março todos os anos se re-
instruções de como melhor proceder no seu respectivo capitulo e aliza o "Zeitgeist Day". Criem eventos na vossa área de residência.
ou comunidade. Caso possua dúvidas que persistam pode sempre
usufruir dos meios de comunicação do movimento para entrar em • Trabalhem para especificamente informar aqueles que mais sofrem
contacto com membros do mesmo. pela contínua queda económica.

Dicas para aumentar a consciência: • Exponham constantemente a corrupção do nosso sistema actual,
públicamente.
• Escrevam os sites thevenusproject.com e thezeitgeistmovement.
com onde puderem na internet. • Contactem actuais grupos ativistas, como a Greenpeace ou ACLU e
tentem explicar-lhes que embora nobres, os seus gestos não vão re-
• Criem vídeos no YouTube a promover tanto o Movimento como a solver os maiores problemas sociais, já que não se focam na origem
ideia de uma Economia Baseada em Recursos. do problema.

• Liguem para programas de rádio e comentem sobre o Movimento


sempre que puderem.

• Façam o download do Zeitgeist Addendum e mostrem-no na vossa


comunidade; coloquem-no em áreas / redes de acesso público.

220 221
É neste nível de activismo onde a ligação entre o activismo virtual e
físico ocorre, pois é o meio onde os membros de determinada zona
se juntam e participam em projectos para o desenvolvimento do
movimento tanto a nível virtual ao preparar conteúdo e afins como
Níveis de Activismo a nível físico, mais nomeadamente pela forma dos subcapítulos.

Subcapítulo / Regional: Projectos Locais, reuniões, acções de sensibi-


lização, organização de eventos...

É então neste nível onde o movimento marca a presença física.


Podemos definir um subcapítulo por um grupo de indivíduos dedi-
Internacional / Internet: Projectos Internacionais, equipas interdisci- cados que têm como missão espalhar a mensagem do movimen-
plinares, reuniões, difusão de conteúdo... to no seu distrito e de interagir com a sua comunidade local...

O activismo via internet é vital para o sucesso da mensagem, pois é


um meio actualmente usado por milhões de usuários todos os dias
para consulta de informações, expressar os seus pensamentos e co-
municar com aqueles que se preocupam mas que se encontram a
grandes distâncias. Mais especificamente o activismo de internet
varia, desde a participação em fóruns de discussão sobre assuntos
sociais para transmitir os conceitos do movimento, a postar links no
facebook, referir os documentários a amigos e conhecidos, postar
vídeos do youtube com conteúdo adicional, entre outros.

Capítulo / Nacional: Projectos Nacionais, equipas de activismo, reuni-


ões, preparação de conteúdo...

222 223
• Criação de Folhetos, Posters, Cartões-de-visita, Banners...
• Criação de Arte / Design
• Capas de DVD
• Elaboração de T-shirts
Equipas de Activismo • Edição e Criação de Clips e Documentários
• Sons e gestão de Rádio
• Menus DVD
• Aprendizagem e Melhoramento de Conhecimentos

Equivalente Internacional: Designers Team / Media Project

Para um activismo mais coordenado e consequentemente mais Equipa de Tradução: Como o próprio nome indica esta equipa tra-
efectivo, foi adoptado um sistema de equipas de activismo. O duz legendas e documentos, efectua a respectiva revisão, mantêm
papel das equipas é servir como ponto de concentração de vários a integridade das traduções, transcreve áudio de outras línguas para
membros com mais aptidões em certas áreas para poderem ser re- tradução futura, entre outras tarefas do género. Também convém
crutados e enquadrados em projectos através dos coordenadores notar que esta equipa possui um protocolo específico de trabalho
e gestores de projecto, de forma a desempenharem as suas tare- que é acessível aos membros da mesma.
fas eficientemente, assim evitando desperdícios de esforço. Caso
contrário poderiam haver vários membros a desenvolver o mesmo Equivalente Internacional: Linguistics Team
trabalho paralelamente, sendo isso desnecessário e completamente
inaceitável. O Capítulo Português é constituído actualmente pelas Equipa de Comunicação: A Equipa de Comunicação, é constituída
seguintes equipas: por vários membros que vão mais além em espalhar a mensagem
Zeitgeist, efectuando os seguintes tipos de tarefas / acções:
Equipa de Média: Em suma, a equipa de média é a equipa que irá
conter todos aqueles que possuem conhecimentos ou experiência • Contactam entidades individuais, colectivas e governamentais
em audiovisuais ou multimédia. O trabalho desenvolvido por mem- • Contactam universidades
bros desta equipa irá desde: • Organizam palestras e apresentações

224 225
• Redigem notícias do Movimento Zeitgeist (Incluindo Newsletters)
• Melhoram a FAQ e os conceitos publicados do movimento
• Melhoram e mantêm a Z-Wiki
• Alimentam o fórum com notícias relevantes.
• Ajudam novos membros via chat.
coordenação
• Ajudam no treino de membros para palestras.
• Aprendizagem e Melhoramento de Conhecimentos

Equivalente Internacional: Communications Team

Equipa de Desenvolvimento: A Equipa de Desenvolvimento é uma


equipa multifacetada, cujo objectivo é desenvolver o movimento a Coordenação é definida como o processo de integração de diferen-
todos os níveis de acordo com as necessidades pendentes. Todos os tes actividades e componentes organizacionais de forma a atingir os
membros que tenham vontade, dedicação e conhecimentos neces- resultados pretendidos... Sem esta integração, perder-se-ia o senti-
sários, podem juntar-se à equipa. As áreas que esta equipa abrange do da organização como um todo.
passam por:
Para um movimento cujo objectivo é nada mais, nada menos do
• Programação que o re-design total da cultura actual, que actualmente é cons-
• Resolução de Bugs e Exploits tituído por milhares de pessoas e futuramente milhões, é empírico
• Desenvolvimento Científico um sistema de coordenação
• Equipa de testes para várias situações
• Concepção de Ideias O movimento actualmente é constituído pelos seguintes compo-
• Manutenção das estruturas existentes nentes de coordenação.
• Apoio aos Subcapítulos
• Aprendizagem e Melhoramento de Conhecimentos Internacional, Continental, Nacional, Regional, Equipas de
Activismo, Gestores de Projecto.
Equivalente Internacional: Creative / Development Team

226 227
Metodologia de Projectos A Coordenação dos projectos necessita empiricamente de uma total
descrição do seu processo e estado projectual que passa por incluir
O Método Projectual é, de forma geral, constituído na sua essência tarefas a realizar, quem as vai realizar, quando serão realizadas e as
por 8 Fases que se baseiam e levam em conta o método científico. que foram realizadas, incluindo também algum tipo de contacto
Estas devem ser cumpridas na sua respectiva ordem para assegurar dos membros a trabalhar no projecto, especialmente do gestor do
o eventual sucesso ou maximização da qualidade do projecto e projecto (Membro Responsável). Noutras palavras o documento do
ou produto final. projecto deverá descrever: O quê? Quando? Quem? Onde? Como?

Fase 1 — Identificação do Problema / Nova ideia


Fase 2 — Pesquisa
Fase 3 — Planeamento
Fase 4 — Aquisição de Recursos necessários para o seu
cumprimento
Fase 5 — Delineamento de cronograma e atribuição de
tarefas / Reunião
Fase 6 — Relatórios de progresso / Resolução de Problemas de
natureza sistemática
Fase 7 — Revisão do produto final
Fase 8 — Finalização / Arquivamento

Caso haja impossibilidade de assegurar total viabilidade de recursos (fase 4)


ou hajam outros problemas e imcumprimentos (fase 6 / 7), dever-se-à voltar

nota
para a Fase 2 / 
3.
A fase 4 também inclui a consulta das equipas ao contactar os coordenadores
respectivos para adquirir recursos humanos. É de salientar que só a partir desta
fase é empírico possuir os recursos necessários, no entanto não impede que
esta tarefa não inicie logo após a Fase 1

228 229
Viemos desde os sinais de fumo até ao telefone e para o correio ele-
trónico enviado quase à velocidade da luz. Tudo aquilo que uma vez
foi considerado impossível foi gradualmente tornando-se possível.
Reflexões finais "Especialistas" disseram aos irmãos Wright que era impossível voar.
Há alguns anos, aqueles que falavam em viajar à lua eram margi-
nalizados e rotulados como "lunáticos". Ter a certeza de que algo é
"impossível" neste mundo é uma falha de criatividade.

Se 120.000 pessoas poderam reunir-se e construir uma bomba nu-


Muitos dirão que o que estamos a descrever aqui, o desenvolvimen- clear, como foi feito no Projecto Manhattan no final da década de
to de uma Economia Global Baseada em Recursos, nunca irá acon- 30, não há motivo para que não nos possamos unir e usar a enge-
tecer. Eles provavelmente citarão a "natureza humana", a "elite no nhosidade humana para alcançar conquistas sociais incríveis para o
poder" ou as opiniões técnicas erróneas em sua defesa. Esse cinismo benefício da humanidade. É tempo de libertar as nossas "Armas de
não tem fundamento algum tendo em conta o desenvolvimento so- Criação Massiva" (ACM) mundo fora. Está na hora de tomarmos a
cial e tecnológico da humanidade ao longo da história. Viemos de responsabilidade pelos outros e por nós mesmos. Temos o conhe-
um mundo de extrema superstição, escravidão abjecção, racismo cimento, meios e iniciativa para delinear uma arquitectura social
e preconceito social excessivos, para lentamente emergirmos num totalmente nova que pode criar um mundo de que nós realmente
mundo de igualdade racial, engenharia científica e valores emergen- gostemos e no qual prosperemos.
tes que desejam ver a humanidade beneficiar-se como um todo.
Muito simplesmente, está na hora de crescer.
Nas palavras de Carl Sagan:

"Os velhos apelos ao chauvinismo racial, sexual e religioso, ao


raivoso fervor nacionalista, estão a começar a falhar. Uma nova Peter Joseph | Roxanne Meadows | Jacque Fresco, Fevereiro de 2009
consciência está a desenvolver-se, que vê a Terra como um único Movimento Zeitgeist Portugal, Junho de 2010
organismo e reconhece que um organismo em guerra consigo
mesmo está condenado. Nós somos um planeta." 78

78. Sagan, Carl, Cosmos Video Series, Cosmos Studios, 1980

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