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JOSE GIL DEDALUS - Acervo - FFLCHLE EL 21300076724 FERNANDO PESSOA OU AMETAFISICA DAS SENSAGOES. “Tradugto de Miguel Serras | Paroira © Ana Luisa Faria ‘ToMBO: 107521, stor PESSOA OU A METAFISCA OAS SENSACOES } ‘SBD-FFLCH-USB Ki ose ot | TSUEL ERMAS PEREIRA w ANA LUA FAA | Soi Ttat TORO C6LOUSO ste guathe de JOAGE MARTINS {© Patio douse races pr at ‘omen Gade Foto» ates Gres | ena Filosofia Vv Poesia e Heteronimia 1. A CONSTELAGAO HETERONIMICA O devir-outro nto & devirheteénimo. Para que aparesa um he- terénimo,& presto que o deviroutra sof kinda slgumas tras ope- ‘ages: hi uma difeenga ene tornar-se uma moseae tornar-se tm outro poets. BE verdade que Pessoa pode dar ideia de ter alimentado a confu- so: sou méliplo, sou muitos outos, poeta eno poets, outros que ‘ej, que sono ¢ que nem sto esrtaes;e depois, em certos textos, fsta multiplicidade parece apliarse unicamente aos heteronimos lite- Firs. 'A confusto no fica por aqui. Esende-se a todas essaspersons- ‘gens de que proprio Pessoa flou como sendo cranes wduradourasy {rus wtendénca para despersnalaacaon, de il modo que temos tums quentidade de tre alguns «amigos», outros Mésofos, posts {que eszrever em Inglés e em francés, prosadores eat asirbiogos. Nem {dos so heterOnimos, mas nto fo possivel ainda ordent-tos a todos, ‘Stabelecendo uma clasifeacto clara). ) Bani qu Oe Poti om Pan (0. P.) die todo ot ear sie eed tka Fingion et de ese Ma re ito bom es) em um ncaa tonins em po ele ta wa José Git ‘Quem fas parte da contest do heternimose quem devemos exc dela? © aoe um semiheteronmen(erprota que Poot ‘ple Bernardo Soret Poseremos ar deeb nernmon? Po ‘tspondera en aueten, tesco conta um cro dake ‘Erni gupta sng on des cara cerns propria do devit- “heterinimos deve provie da propria poesia, s qual nfo pode set bem ‘Sueedida a menor que uize nas suas operacdes mals secretas simula lo, a wnsineridaden — para sor ¢-aparecer nlo-simulads, nlo- till. 10 facto de Catto ter adoptado um estlo quase oposto ao que Fernando Pessoa projecara marca a espontaneidade necessria de to (41 produgdo litericiaautdaica: a brincadeira destinada a Si-Car reir era apenas tim pretexto, mas que, no cao, teve efeitos sobre oncepeto ea confesgto da poesia, A brincadera nao Funcionov; por {Que as colens x6 podem resulta se a simulagdo(brineadeia) for invex {id se 8 ado condcionsr a simulapt propriamentepotica que nto eve estar subordinada a nenbum imperativ exterior. Neste sentido, fuptue efecuada por cada devirheteronimo tstemunha a ato-casa Iidade absolute da arte: no sou weu» que fac © poema, mas um ou: {to, epareda de mim. Constitul prova diss o facto de no estabelei mento ds bio-ibliografiade cada heterOnimo, as componenesbiogré- fies decorrerem ou acompanharem — mas em neahum easo precede rem — as da obra. Os tapos sco, psioldgicos,oexatuto socal e@ (9 OPP pe. ‘mora seu contorno ‘Fernando Pessoa ou a Metafsica das Sensagdes is formas cultural da personagem so somponto pat da abr «de Sordo com eat ‘adn sogindo a cata a Casas Monti exse um nto cen seal de herons Can, Femando Peso ele mesmon, Re ‘Camps clorandoos pla ordem conolgis do tu nascent Soe bm us suns antes genta. Asi, depois deter ed do os poems de Canto, Paton sa, sam i, ‘9 3 Tongos poemas da Chuva Obiiqus, wimadiatamente«totalmen- ‘Ea Turaienine de Fernand PenoscAlneda- Gaara ¢ Fernando ison sh, Onmehor fi retro de Fensnda Posi cona-s ESSE: tomocaterto Cane(). Alentose nas expres, Sree cnoutncans 0 par Caet-Pesoa «ele mesmo nasce tm sb acosstando'0 segundo, ao que pare, reetament Usbdo Sopra ‘Ui procs ito a, Campos» Res. «Apursido Atusto cue te gn de be descoer ~ BOUT © Wobconslentemente —usletgl Arana doe fat pxatno 9 Rend Ke ‘cue Sesto ihe stone ¢diaie sa aeamoypogue near a Se inp nae ae Nios ns ue nanan fan Taos Tvaninn Severs sem neropso em emendasugl-8 Ode Tre oe ‘Siro de Gampac = s Ode don ee nome eo Rome como mome sete ane ‘Dimodo como aparece Campos t itatco 20 do nascimento de py esando Baia. se son por teaveo. aoa TA Bf. Rls ego um proceso seco rent (ave ‘ue haar ion) ee ae thoes do anineto dose (Amis ar apn un in eg ik os ‘ns Telos Poca pa ae Son mn pe ae ‘tore, tenet \ [in 198 José Gil tre Colocase um alvel de derivapdo inferior, ue podeiamos re pretntar do sepuinte modo! Casio + Fernando Pessoa ucle mesmo» Reis + campos AS Seas horizontals indicam o movimento de uderivaso oposta 4 vettial, um tipo de derivasao nfo-oposta, nao-reactiva, Note-se que © ptbprio Casiro surge por reacy2o a um projeto (no a uma figur) fe um poeta bucbico «de especie complicada>. Mis, uma ver que a Iindiagdes sobre este ponto S80 muito vagas, nada podemos concur sh Em que consist esta edervaeto opottan? © extudo de todas «| potas que Peston deixou sobre a ert oexilo, a manera de tab Thar as sensasdes(consequentemente, a mancira de sentir) de Cairo, Reis, Campos, Fernando Pessoa ortOnimo, eset com infultor comparativos, ajudaria por certo a responder 8 esta questi. Limi- ‘emo-nos, port, a coasatar que a maneira como Fernando Pessoa _ Aeserevea Casals Montero a sbnese dos heternimos se enauad pec (fetamente na ideinimediaa qu fazemo da sua Uipologia? Casio, 0 inais ransparente de todos, 0 mais objective; Fernando Peso le rmesmon, © mals obscuro, @ malt interiorzada (cn novelo enrlado para dentro»), o mais subjectivo; Reis, o mals dsciplinado de todos, 9 ‘mals uniforme (na métiea enas senses); Campa, o mai indsep ‘nado, menos controlado, o male dverso (na versicaydo etambem tas seaagdes), Alem dss, Res 9 eteronimo mais pronimo de Cach- fo, aquele que imediatamente conhecemos como seu dsipul, ‘Uma coniradiso apareate ininuou-se na passagem da carta que , proce. fo que também pode ser deserito como uma multipiacto de miro “negaioes dos mlltipis outros em que osueito ve transforma. De ci {a vee que o sujeco se tora um outro, a consiencia (de ws préprion, ‘como conscience abszacta e impesoal, e nto como wconsiencly de Sv deum eu) separase dele, negando-c: adopto as formas de um bi 120, depos desligorme dele, nepo-o. E uma micro-egacio. ‘Aadetivagto por oposgton de que fala Pessoa parece bem quer ier mesma coisa. Cade heternimo € produzido per nezario« di picacto da conscitncia(™). Assim, Fernandes Pessoa erin como negago de Caeiro aun proceso do devic-outro que se prolongs ot relent SObIE-H props, ShGuanto proeetsy —produsindo Fer [nando Pesioa ortnimo. Fo ea necessrio para e maquina hecero- rimica de Pessoa. Para que um puro sujeto do devirtabalhe livre mente nok devirheterdnimes, quer dlzc, para que se constua muito implesmente como puro sete dessesdevires,¢ preciso que Fernando Pesss, 0 weritdor de tadon, se desembarace de «Fernando Pessoa ele mesmo, eaquanto exo, posta, heterénim. "Examinemos mais de erto o modo coma se forma este ortbnio- heteronimo; eer que € ue difee dos outros. ‘Distingue-e deles no segint: 0 «utr que o (6) const nao provém dena configura (de um tr) dads 8 partida como 'al, ‘quer der, j como forma de alguem que se v@ (como di Fernando Peston na ‘cart que se wv» ot aronha), ov de alguem que se quer sapreender (como acontece na primera teniativa fracassada relativa a Ricardo Reis ou na que se refere a Caco, ispirada na imagem do poeta buedlico): exe outro que sera Fernando Pessoa ortoimo resulta {de duplcocdo da conscitncia no proprio sweto do devir-outros dup agto.que cindeelberts esse mesmo sujet. Assim se expla 0 sen (Int nee ona ai ov xno von ow af ‘tod peseacer tape rhesus un pete. -Femando Pessoa ou a Metafisica das Sensogdes 2a do das seguints frases: «Foo fegreso de Fernando Pessoa-Alberto ‘Casio a Fernando Pessoa ele so. Ou, menor, fia reaceo de Fernan- {So Pessoe conta 4 sua InenistGncia como Alberto Casiron. Com efe toy este wFemando Pessoa» que regress st proprio faz um trajecto {hie transforma em heteronimo, porque a consencia, dupicando-se ‘TShnvndorse em absmon produ uma outra wea proprian, Ora eta onmsianela que opera tal metamorfesesacompana 0 sueito do de- ‘ir gucte define como pra ditinca de sas, da conscéncia 8 sense ao. Reftestindo sobre esta distnca, separandiose dela erecuperando- [Se aepois como conscénea sbsracta do devir, ela dena fora de si “ullo que, entttano, cia — tm outro sujeto-riador, «Fernando Pessoan ortOaimo. ‘Demorsra- claramente « poesia deste heternimo: mais do que qualquer outeo, mais tinda do. que Campos, Fernando Pestos «ele ‘hesmon define se por toda urna sri de dstncias intrires (que, Por ‘remplo, em Campos se encontram projeciadas para o exterior): ence ‘Teonsacia ea senaap8o, entre a consiéncla ea inconsciénci, entre { pensamento ea vid, enire o presente eo pasado, ete. Tudo figuras dkssa cstincla do puro rueito do deve tornado sujet heterbnimo, fracas operaco da contiénia que, reflectindo-se sobre s, toma & 5 propria por objeto. 1a sequtncia da formato da conselao nuclear (Cairo, Fer rmndo Pesoa ele mesma, Reis, Campos), surgem outras unidades, jo modo de engendramento ecuja posiko variam sempre de um pa- outro caso! Cte entdo, ua cere nextente. Faei aque tudo ‘in molder de fealdade. Greducl os inffutnias,conhec\ as amizades, ‘Sh dentro de mie, as discusses eas cvergtncias de erierio, e em {ido into me parece que fl eu, eriador de tudo, o menos que ali how ves Parece que tudo pasiou independentemente de mim. E parece (gee asim anda se pasa) (0) OPPs tp. 3138,

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