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Virtudes
Jamais fará o que for contra a sua vontade porque sabe muito bem o
que lhe convém querer e, muito menos, arrastado por outros porque
sabe o seu caminho.
Os outros, não!
Passam pela vida sempre sozinhos porque gastam o tempo a avaliar,
a julgar e, enquanto o fazem, a oportunidade perde-se e, muito
provavelmente, não voltará a repetir-se.
Estes ficam sós o outro, terá, sempre, muitos amigos que nunca o
abandonarão.
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Virtudes
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Virtudes
palhaço, outra que se julga uma estrela de cinema, uma criança
malcriada, um miúdo muito acertadinho, uma pessoa já de idade que
coxeia bastante, aquele que corre com o suor a escorrer-lhe do
pescoço, aproxima-se alguém que parece falar consigo mesmo…
Registamos fotograficamente este interminável oceano que nos
envolve com todos os pormenores, características, cores, volumes e
dimensões. Com uma rapidez impressionante chegamos ao fim de
uns minutos com um registo enormíssimo repleto de apontamentos,
rasgos, traços, pinceladas, anotações mas… não temos um quadro,
uma visão de conjunto, um todo.
Coisas esparsas, vagas, difusas, misturadas sem critério – nem
preocupação de tê-lo – e, com tudo isto, que é muito, entramos
finalmente em casa e constatamos que chegamos como partimos:
vazios!
Quando “abre” o sinal verde, talvez pensemos: “bolas, podia ter dado
uma moedita ao desgraçado, se calhar tinha fome…” mas, este
pensamento desvanece-se tão rapidamente como surgiu: “Não!
Chega! São os bombeiros, é para ajuda das crianças com não sei que
doença, é para o asilo não sei de onde, para a Liga dos Amigos de…
não!; o Estado, sim o Estado é que tem obrigação de olhar por estas
coisas, suprir estas necessidades. É para isso que pago impostos.”
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Virtudes
(E… pago mesmo os impostos, não tento fugir, dar um “jeitinho”,
afinal… todos fazem o mesmo!) E pronto! O brevíssimo incómodo
passou. Atrás de nós um qualquer carrega na buzina o que nos irrita
profundamente. Só não fazemos um gesto feio porque levamos os
miúdos no banco detrás. “Não querem lá ver o apressado! Se calhar o
carro nem é dele ou, o mais certo, é ter as prestações em atraso…”
(Nem nos lembramos que, esse, talvez seja o nosso caso!)
Voltemos ao Samaritano.
Sabe-se da animosidade que existia entre judeus e samaritanos,
principalmente por questões de ordem e prática religiosa. Havia, de
facto uma clivagem profunda entre eles. Parece lógico que dos três: o
sacerdote, levita e o samaritano, se esperasse que fosse este a
continuar a viagem sem prestar auxílio ao necessitado. Mas não foi, o
que traduz um significado profundo, a solidariedade, a compaixão, o
espírito de serviço aos outros vence essas barreiras, ultrapassa essa
dificuldade.
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Virtudes
São tantos estes homens sós, amargos, cheios de si que passam
incólumes e indiferentes pelos caminhos da vida!
Olham sempre em frente, não aconteça que algo marginal interfira na
sua marcha privada e solitária.
No final de cada dia recolhem as coisas que julgam ser suas e nada
mais porque não deram e não receberam nada.
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Virtudes
No primeiro caso, de facto dá-se, no segundo, reparte-se. Aqui reside
a grande diferença da solidariedade: dar e repartir são duas coisas
bastante diferentes. Ambas são, evidentemente, dádiva, só que uma
é um pouco mais que isso, traduz uma preocupação real, efectiva,
pelos outros e, sobretudo, um saudável conceito que, de facto, nada
é propriamente nosso.
No hospital, na cabana, no palácio, na paz e na guerra, todos
nascemos nus e, aquilo que nos põem em cima, ou nos vestem, não
depende absolutamente da nossa vontade ou querer. Durante muito
tempo, alguns anos pelo menos, ninguém nos perguntará o queremos
fazer, o que desejamos tomar como alimento. Não temos qualquer
capacidade de escolha ou eleição do quer que seja. Somos,
efectivamente, seres humanos, com direitos e garantias mas, esses
direitos e garantias, que são efectivamente nossos, tal como a nossa
identidade única e irrepetível, não dependem de nós, não os podemos
exigir. Somos seres inteiramente dependentes dos outros, da
sociedade em geral e de alguns em particular.
Esta dependência mantém-se pela vida fora até ao último dia da
nossa vida em que, alguém, terá de nos fechar os olhos e dar destino
ao nosso corpo.
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Virtudes
uma carreira profissional deixamos de depender de outros que irão
pondo em prática o que lhes vamos transmitindo.
Há, portanto, uma igualdade e interdependência intrínseca real e
consistente entre os seres humanos. Esta não é uma conclusão
apressada ou de mera retórica, é uma constatação.
A vida humana encerra em si mesma, muitos aspectos de contradição
que nos custa aceitar de bom grado.
Vejamos, para começar, o que se passa com a liberdade do homem.
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CCIC: 363, CIC: 1730-1733; 1743-1744
2
CCIC: 365 - CIC – 1738 – 1747
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Virtudes
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CCIC: 364 - CIC – 1734 – 1737; 1745-1746
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Virtudes
«Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem» (Lc 23, 34), Jesus diz
isto porque sabe que os Seus verdugos, não conhecem Quem
sujeitam à tortura e à crucifixão. São meros executores de ordens, na
época, comuns. Não é da sua competência julgar ou não da licitude
do que fazem.
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CCIC: 368 – CIC: 755-1756; 1759-1760
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Virtudes
Acho que sim, porque entendo que uma liberdade total não distingue
o bem do mal, isto é, tanto faz fazer uma coisa ou outra porque não
haverá consequências.
Claro que, colocado desta forma, deixamos de estar a falar de seres
humanos, dotados de alma: vontade, querer, conhecimento, razão.
Um cão não tem esta capacidade e por isso o ensinamos a fazer isto
ou aquilo, conforme nos convém e, o cão, passará a fazê-lo porque
obedece a um estímulo de prémio.
O respeito.
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Virtudes
O que o tal anúncio parece querer dizer é: deixe lá os outros e olhe
mas é para si!
Tem isto algo a ver com, por exemplo, as cirurgias plásticas tão em
voga nestes tempos em que vivemos?
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Virtudes
Diferente é a alteração do corpo, ou partes dele, com critérios de
ordem meramente pessoal: “acho que fico melhor com olhos azuis”,
“um peito mais volumoso favorecia-me”.
Uma coisa é o respeito pelo próprio corpo, outra, diferente e
reprovável, é o culto do corpo.
Porque, o erro, está quase sempre na apetência que sentimos que os
outros gostem de nós pelo que parecemos em vez querer que gostem
pelo que somos.
E o que é a Virtude?
A Virtude (latim: virtus; em grego: ἀρετή) é uma
qualidade moral particular. É uma disposição estável em ordem a
praticar o bem; revela mais do que uma simples característica ou
uma aptidão para uma determinada acção boa: trata-se de uma
verdadeira inclinação.
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Virtudes
Pode também dizer-se que as virtudes são todos os hábitos
constantes que levam o homem para o bem, quer como indivíduo,
quer como espécie, quer pessoalmente, quer colectivamente, a
qualidade do que se conforma com o considerado correcto e
desejável, seja do ponto de vista da moral, da religião, do
comportamento social ou do dever.
Segundo a doutrina da Igreja Católica, e especialmente S. Gregório
de Nissa, a virtude é "uma disposição habitual e firme para fazer
o bem", sendo o fim de uma vida virtuosa tornar-se semelhante
a Deus
Existem numerosas virtudes que se relacionam entre si tornando
virtuosa a própria vida.
1. AS VIRTUDES TEOLOGAIS:
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Virtudes
que a esperança é um estado da alma, não um simples
movimento interior de expectativa.
E o que é um estado de alma?
Trata-se de uma disposição permanente e duradoura que se
vive independentemente dos acontecimentos exteriores.
Por outras palavras, o que acontece é observado criticamente
tal como é e não o que, eventualmente possa parecer que é.
Por isso a esperança não assenta nem na concretização dalgo
que se deseja ou espera, nem no alheamento dessa realidade.
A esperança leva a encarar os acontecimentos como fases
num caminho para um fim desejado.
Também por isso, talvez, se costuma dizer que a esperança é
a última a morrer.
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Virtudes
se manter, depende da vontade e desejo humanos, isto porque, como
já vimos, Deus não impõe nada, antes respeita a liberdade pessoal do
homem. Compreende-se que das três, a Fé é fundamental para que
existam as outras duas que são como que o complemento natural
dela.
2. AS VIRTUDES HUMANAS:
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Virtudes
Justiça, que é uma constante e
firme vontade de dar aos outros o que lhes é devido;
Fortaleza que assegura a firmeza
nas dificuldades e a constância na procura do bem;
Temperança que modera a
atracção dos prazeres, assegura o domínio da vontade sobre
os instintos e proporciona o equilíbrio no uso dos bens criados.
Prudência
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Virtudes
dedicaremos toda a nossa vida, desde a idade da razão até ao último
momento. Porquê? Porque, naturalmente, evoluímos com o tempo e
vamos adquirindo novos contornos, esquinas, arestas que
constantemente formatam o nosso carácter. Isto pode fazer-se
sozinho, sem dúvida, e se se o fizer de forma séria obtêm-se
resultados; mas, em princípio, ninguém é bom juiz em causa própria,
daí que recorrer ao auxílio de alguém em quem possamos confiar,
dotado de experiência e são critério, é uma excelente medida para
levar a cabo essa necessidade.
A nossa formação pessoal – repito, contínua e permanente – tem
muito a ganhar com esta opção na medida em que sendo
absolutamente sinceros com quem nos escuta podemos chegar a
conclusões que talvez nos escapassem se o fizéssemos sozinhos.
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Virtudes
proceder desta forma, então, a direcção espiritual é perfeitamente
inútil e traduzir-se-á numa mistificação e pura perda de tempo.
Justiça
A justiça começa por si próprio, quer dizer, ninguém poderá ser justo
com os outros, a sociedade, se, consigo mesmo, não for justo. Para
tal é, como também já vimos a propósito de outro tema, um
conhecimento próprio profundo e apurado. A consciência do que se é
e do que se faz, do que se pensa e do que se diz, na medida em que
os efeitos da acção possam ser aceitáveis e correctos.
Um cristão que não reza como deve, com amor e assiduidade, falta à
justiça para com Deus que merece e espera que ele o faça, e consigo
também porque foge a um dever que lhe vem do facto de ser cristão.
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Virtudes
A justiça, portanto, vai bastante além do estrito cumprimento das leis
humanas. Não há justiça, só, em cumprir os nossos deveres. Não
roubar, por exemplo, não é um acto de justiça mas um dever, mas
devolver o que se tirou e não nos pertence é um acto justo. A
administração dos bens que nos são confiados é algo particularmente
sensível à justiça porque envolve, entre outras, o respeito, a
fidelidade, e a confiança de quem entregou os seus bens à nossa
guarda ou administração. Se reparamos no termos empregue –
confiados – vemos imediatamente implícita a confiança que em nós o
outro deposita.
Fortaleza
5
S. JOSEMARIA, Caminho, 132
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Virtudes
Talvez que uma das melhores ilustrações do que atrás se descreve
seja a cena que o evangelho de S. Marcos (6) nos descreve a respeito
das negações de Pedro no átrio da casa de Caifás onde Jesus está a
ser interrogado logo a seguir à Sua prisão.
A fortaleza do carácter de Pedro leva-o a constatar a enorme falta
que acaba de cometer: Por três vezes negar conhecer Jesus e, uma
delas, com juramento e que na situação em que se encontra corre o
risco de voltar a fazê-lo. A seguir tem a coragem necessária para sair
dali, sem se deter a avaliar as consequências que tal atitude lhe
poderia acarretar.
Teve coragem de corrigir algo que a fortaleza lhe sugeria ser mau e
perigoso: continuar no mesmo local estaria sujeito a novas traições.
Experimentar o que não se conhece bem talvez envolva correr ricos
desnecessários, ou, por outras palavras, pôr à prova a nossa
fortaleza não parece ser uma boa prática.
Não se trata de ter medo ou receio, mas, simplesmente, evitar
situações, ambientes ou acções que podem conduzir a um fim
inconveniente.
6
Mc 14, 66-72
21
Virtudes
Temperança
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Virtudes
Quando muito, um cão tem um instinto que o conduz a fazer algo e,
esse instinto é suficiente e bastante para que o faça a menos que o
treino a que tenha sido submetido o impeça de o fazer. Não tem,
portanto, capacidade de escolha nem possibilidade de eleição.
Logo, parece lógico que agindo sem controlo da sua vontade, o
homem se coloca ao mesmo nível do cão e as consequências deste
comportamento serão sempre graves porque se demite de uma
prerrogativa excelente que lhe foi dada por Deus.
Paciência:
7
Rm 7, 15-25 Romanos 7:15-25
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Virtudes
• Quer, agora, o que só estará disponível mais tarde;
• Esgota num ápice o que deveria durar algum tempo;
• Responde mesmo antes da pergunta estar completamente
elaborada;
• Adianta-se quando deveria esperar;
• Começa sem ter acabado o que começou;
• Agita o que estava tranquilo;
• Desconfia do evidente;
• Pretende o que não lhe compete;
• Julga sem analisar;
• Precipita a conclusão;
• Não espera pelo resultado.
É desagradável no trato;
Cai com frequência no destempero de atitudes e linguagem;
Dá-se conta do afastamento dos outros.
• Perde oportunidades;
• Não presta a atenção que os outros merecem;
• Não tem uma trajectória recta;
• Ziguezagueia de emoções em emoções;
• Troca coisas importantes por ninharias;
• Muda de verdades essenciais para hipóteses efémeras.
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Virtudes
Assim temos, exactamente, o que a paciência não é.
Fidelidade
8
Pelo menos 1 Óscar para a melhor música de Bruce Springsteen
25
Virtudes
Bom… de facto era um homem homossexual que vivia com um
companheiro masculino mas que traiu, embora uma única vez, num
encontro fortuito.
A fidelidade não tem, portanto, a ver com a situação, a forma, o
critério, o ambiente em que se vive.
Quer dizer, não há situações em que a fidelidade seja mais ou menos
importante que outras.
Ser fiel significa honrar um vínculo livremente assumido.
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Virtudes
(O inverso não se coloca porque Deus, por definição, é fiel.)
Quem anda pela vida como um espectador, por mais atenção que
possa ter ao que se passa à sua volta, se não tiver uma vida interior
sólida, com uma hierarquia de valores bem definida, não pode ser fiel
9
Mt 25, 21
10
JAVIER ABAD GÓMEZ, Fidelidade, Quadrante, 1991 nr. 10
11
JAVIER ABAD GÓMEZ, Fidelidade, Quadrante, 1991 nr. pg. 34
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Virtudes
a nada, porque, como já se viu, não há “fidelidades momentâneas”,
mas constantes. A introspecção necessária a cada pessoa que se
preocupe com o seu papel neste mundo – para que nasceu -, que faz
não unicamente o que lhe convém, mas e com o que deve fazer como
pessoa única e irrepetível, é fundamental para chegar a um
conhecimento próprio sério e concreto.
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Virtudes
Paz
Também poderá querer inferir-se uma apatia ou, pior, uma ausência
total de emoções. Isto pode não querer significar a antítese do
emotivo, que vibra, deixa transparecer os sentimentos às vezes, até,
com a “lágrima fácil”.
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Virtudes
provocar um distúrbio traz consigo a tranquilidade que é sempre o
resultado de se praticar um acto bom. E, o esforço por exercer
controlo sobre si mesmo, não deixando 'à solta' ímpetos, arrobos,
atrevimentos, desvarios ou excessos de qualquer natureza, é, sem
dúvida muitíssimo bom.
A luta interior que o ser humano trava durante toda a sua vida
consciente é a consequência necessária de uma atracção para a
perfeição.
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Virtudes
A luta interior é exactamente o confronto entre estas duas
"estruturas" do ser humano. A primeira evolui à medida que a vida
vai avançando no tempo, trazendo à tona as suas características
dominantes, criando, quase sempre, à segunda, uma necessidade de
domínio, de controlo. As potências espirituais da alma, tendem,
naturalmente, a controlar as potências físicas.
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Virtudes
não lhe importasse para nada. Diz-se que é uma má opção porque
vai contra a ordem natural que é, sempre, a tendência do criado para
o criador. Há, de facto, uma pertença, um vínculo, que não pode ser
destruído pela vontade humana e, a vontade divina também nunca
não vai nesse sentido. A razão é simples se considerarmos que o
homem é imortal, ou seja, teve um começo, a sua criação, mas de
facto não morrerá uma vez que a sua alma não está sujeita às
mesmas leis que o corpo.
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Virtudes
É ou não verdade que a vida, a sociedade, a comunidade dos seres
humanos, prossegue o seu caminho mesmo quando desaparece do
seu convívio – morre – alguém muito importante que ocupou um
espaço notável entre os seus semelhantes? E esta pessoa
excepcional, não ficará reduzida à memória dos que se sucedem? Ou
seja, de facto ninguém, absolutamente é fundamental, embora possa
e deva, ser muito necessário em determinados momentos e
circunstâncias.
Confiança.
Quem confia tem uma responsabilidade própria, quer dizer, foi por
sua iniciativa, decisão ou discernimento que decidiu confiar, logo, os
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Virtudes
efeitos bons ou maus dessa confiança que depositou em alguém só
afectam a si mesmo.
Mas aquele em quem se confia tem, de facto, uma responsabilidade
alargada, tem de ser justo consigo mesmo e também para com quem
confiou nele não defraudando a sua expectativa de ter agido
acertadamente.
Para prever o comportamento do outro é necessário que esse outro
dê sinais, mostre por obras e factos concretos de quem é, como
pensa e age no assunto em causa.
Por outras palavras, terá de dizer-se que a confiança não pode ser
“cega”, automática mas uma disposição pensada de acordo com o
que o bom senso e a justiça nos dizem respeito do outro e do seu
comportamento e, de novo, aqui avulta o que já classificámos como
muito importante para a definição do carácter que é e unidade de
vida.
Não é possível, a ninguém, dar o que não tem e se se propõe fazê-lo
estará a enganar, deliberadamente, o outro talvez com o objectivo de
conquistar a sua confiança.
Continua a haver fariseus no nosso tempo, daqueles mesmos fariseus
dos Evangelhos que ensinavam o que não faziam e exigiam o que não
praticavam. Talvez onde esta faceta humana tão lamentável se torne
mais evidente é na vida política. Parece, realmente, ser uso e
costume prometer tudo e mais alguma coisa de modo a conseguir os
votos no sufrágio e, depois, ou porque o que prometeu não se pode
de modo nenhum cumprir ou, até, porque se esqueceu o prometido,
as coisas tomam um caminho diferente e, em princípio, inesperado.
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Virtudes
Daí que, a credibilidade dos políticos, esteja num nível muito baixo e,
naturalmente, a confiança das pessoas ressente-se muito e, em
grande parte dos casos, como muita razão.
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Virtudes
Parece que, na sociedade, o derradeiro refúgio da confiança está na
família em que cada um é amado pelo que é e não pelo que tem.
Constância
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Virtudes
A atitude é muito importante para o êxito na actividade que se tem.
Quem, ao principiar o dia, se arrasta penosamente como que para
um trabalho forçado, está a dispor-se para que o seu trabalho, nesse
dia, seja amargo, pouco compensador e, muito provavelmente
deficientemente feito.
O contrário, isto é, encarar o dia que começa como uma oportunidade
de fazer algo construtivo que contribua para o bem pessoal e alheio,
leva a que o “peso” do trabalho seja vivamente atenuado pela atitude
de disponibilidade e desejo de servir.
Generosidade
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Virtudes
A resposta à vocação pessoal envolve, seguramente, generosidade,
porque significará sempre uma escolha, uma eleição entre algo que
significa desprendimento de alguma coisa com a finalidade de
conseguir alcançar outra.
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Virtudes
Obediência
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Virtudes
comummente aceites como necessários. A obediência passiva
caracteriza-se pela aceitação pura e simples do que é sugerido ou
mandado quer interiorizando quer demonstrando-a por acções
concretas ao passo que, a activa, se traduz numa atitude profunda e
concreta de execução do que é sugerido ou mandado, como será, por
exemplo, a entrega sugerida como sendo a vocação própria.
Simplicidade
Não tem a ver com passividade nem com alheamento das realidades
da vida, própria ou alheia, mas com uma atitude séria de estabilidade
quer do comportamento quer emocional. Possivelmente será uma
virtude muito difícil de conquistar e, mais ainda, de manter, porque,
de certo modo, vai contra a tendência natural do homem de
interrogar, de apreciar, avaliar algo que se lhe depara ou é proposto.
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Virtudes
A simplicidade é conduzida, informada, pela consciência, por isso a
pessoa simples tem uma atitude de aceitação naturalmente pacífica.
Mansidão
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Virtudes
relevo e aceitar pacificamente os desafios mais exigentes com que
possa deparar-se.
O ser humano, como já se viu, tende para o seu Criador, para Deus e
só será feliz, completamente feliz, quando alcançar este objectivo e,
este, sendo atingível não está ao alcance daqueles que não se
empenharem a sério, na sua conquista.
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Virtudes
Humildade
O que se tem escrito e dito sobre esta virtude encheria muitos livros.
A razão é simples: é tão difícil de conseguir que costuma dizer-se
que, até ao último sopro de vida o homem tem de lutar por
conquistá-la.
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Mt 5, 48
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Virtudes
igualar Deus – e, não obstante Cristo exigiu-o e não a um grupo
restrito e escolhido de seguidores, mas a todos os seres humanos.
Evidentemente que Jesus não poderia nunca exigir, aos homens, algo
impossível; tão só quer que façamos tudo quanto que está ao nosso
alcance para o conseguir.
Ou seja, Cristo não exige, como condição para nos salvarmos, a
conquista do objectivo mas a luta empenhada por consegui-lo.
Esta luta que a humildade pessoal deve orientar, ir-nos-á levando por
caminhos cada vez mais elevados, naturalmente mais difíceis e
exigentes, que nos conduzirão a um estado de alma crescente em
alegria, satisfação e serenidade.
Serenidade
13
S. JOSEMARIA, Forja, 467
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Virtudes
Talvez que uma das situações da vida humana onde a serenidade se
mostre mais necessária seja no matrimónio.
Os cônjuges têm, quase sempre, maneiras de ser diferentes e,
consequentemente, as formas de encarar os factos e incidentes da
vida comum podem não coincidir. Daqui que seja frequente a
discussão mais ou menos acesa, sobre o assunto em causa.
A ausência de serenidade em pelo menos um dos cônjuges pode levar
a algum extremismo de posições, transformando o que começara por
ser uma discussão normal entre dois adultos que se amam, numa
altercação viva e ruidosa em que se vai perdendo o controlo das
palavras e das emoções, continuando na sublimação dos defeitos de
cada um como se estivessem a discutir duas pessoas que se odeiam.
14
S. JOSEMARIA, Cristo que Passa, 26
45
Virtudes
Bom Humor
15
ALFRED ARMAND MONTAPERT, The Supreme Philosophy of Man: The Laws of Life,
1970.
46
Virtudes
Sim, tem também muito a ver com a esperança já que, esta, é
fundamental para evitar o derrotismo, a consideração da
inevitabilidade do que se apresenta.
Amizade
16
Cfr. S. Tomás DE AQUINO, Suma Teológica, 2-2, q. 23, a. 1.
47
Virtudes
Há sempre – tem de haver – reciprocidade de sentimentos,
interesses, afectos, quando não a relação é unilateral o que a
amizade não é.
Por outro lado só se entende amizade por uma relação construída
para o bem, próprio e alheio, porque se trata de dar e receber.
Assim, pode afirmar-se que «Só são verdadeiros amigos aqueles
que têm algo para dar, e ao mesmo tempo, a humildade suficiente
para receber. Por isso é mais própria dos homens virtuosos. O
vício partilhado não produz amizade mas sim cumplicidade, que
não é o mesmo. Nunca poderá ser legitimado o mal com uma
pretensa amizade.» (17)
Se considerar que lhe pediu exactamente por ser seu amigo, deve,
ao contrário, aferir que foi uma prova de confiança, de humildade,
que a petição sempre infere, de esperança, de optimismo. Não é
lógico pedir a um desconhecido tendo um amigo que pode
socorrer-nos, porque, enquanto o primeiro não tem qualquer razão
para aceder ao que pedimos, o segundo tem-na e em grau elevado
17
J. ABAD, Fidelidad, Palabra, Madrid 1963, nr. 110, trad AMA
48
Virtudes
porque nos conhece bem, sabe das nossas dificuldades e conhece
as circunstâncias que nos levaram ao pedido.
É verdade que, quem pede a um amigo, fá-lo porque espera
receber e, o amigo que dá, também recebe não só a gratidão do
outro mas a própria satisfação interior de lhe ter assistido no que
precisava.
Fraternidade
49
Virtudes
vivência entre irmãos é um dos mais fortes nas relações entre os
seres humanos. Na antiguidade, com alguma excepção, não havia
outra palavra para definir o grau de parentesco. Por exemplo primos,
cunhados e outros membros próximos na família eram todos
designados por irmãos. Talvez alguma inflexão na voz pudesse fazer
a distinção, o que, obviamente não sabemos.
Quando os contemporâneos de Jesus Cristo falam dos ''seus irmãos e
irmãs”, (19) é evidente que se referem a familiares de outro grau de
parentesco já que todos os seus conterrâneos sabiam que Jesus era
filho único de Maria. (20)
19
por exemplo Mt 12, 47
20
Nota: Aliás as especulações à volta deste assunto só revelam a profunda e lamentável
ignorância de quem as faz.
21
S. JOSEMARIA, Cristo que Passa, 157
50
Virtudes
Uma das práticas mais interessantes e benéficas desta virtude é a
chamada correcção fraterna.
Sobretudo entre pessoas próximas seja por parentesco, amizade,
partilha de objectivos, etc., esta prática é altamente recomendável na
medida em que constitui uma ajuda fundamental e que a pessoa tem
direito a esperar.
Quem está “de fora” aprecia melhor os pormenores que passam
despercebidos ao próprio e não só pode, como deve, fazer essa
correcção que é, sempre, no sentido construtivo de ajudar e, nunca,
com a intenção de supor algum julgamento ou reprovação do que se
aponta.
Optimismo
51
Virtudes
Não poucas vezes se considera que a pessoa optimista tem uma visão
desfocada da realidade, que espera sempre algo que resolva o
problema ou a situação, algo que não sabe bem o que é ou vindo de
quem, nem quando mas que, seguramente, acontecerá.
Bem, a pessoa com estas características não pode considere-se
optimista, pelo menos à luz do conceito que fazemos do optimismo e
que é: a tendência para pensar de forma positiva.
22
S. JOSEMARIA, Caminho, 40
52
Virtudes
O optimismo cristão baseia-se na certeza de que Deus não nos envia
nada superior às nossas forças e, se dá a carga, também dá a força
para a suportar.
Sendo assim, o optimismo não deixa lugar ao derrotismo nem à
excessiva preocupação.
Naturalmente que – e falamos do optimismo saudável, isto é,
consciente – esta convicção nasce de um estado de alma onde a
confiança em Deus ocupa um lugar predominante. Bem visto, esta
atitude de confiança, não deve iludir o que cada um tem de se pôr ou
fazer para que as situações se clarifiquem ou resolvam.
Mesmo observada pelo lado estritamente material esta atitude atrás
referida deve ser sempre tida em conta.
Não se pode querer ganhar a lotaria sem, pelo menos, previamente
comprar uma cautela.
23
S. JOSEMARIA, Temas Actuais do Cristianismo, 116
53
Virtudes
sentimento de desgraçados, de vítimas de todas as misérias e coisas
más da vida.
Há, parece, uma espécie de “tristeza nacional” que quase se apalpa
no dia-a-dia.
Isto tem de ser contrariado, há que dizer às pessoas que nem tudo é
mau, que o futuro não tem que ser pior que o dia de hoje, que há
esperança de evolução positiva da sociedade, que o bem acabará por
triunfar sobre o mal, que, em suma, há motivos e razões suficientes
para o optimismo.
Flexibilidade
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Virtudes
participativa na vida social. Numa espécie de ilha – com o já falámos
– sente-se dono e senhor de umas razões e certezas que não está
disponível para avaliar e, muito menos, discutir. Não evolui, não
cresce, não melhora.
Porto, 2010-08-31
55