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TEORIA GERAL DO PROCESSO – AULA DIA 03.05.

2007

JURISDIÇÃO

É outro instituto básico do direito processual. A doutrina, tradicionalmente,


vinha acentuando uma trilogia estrutural básica do direito processual: era ação,
jurisdição e processo. Hoje falamos na quadrilogia (jurisdição, ação, defesa e
processo), porque se compreendeu que era tão eminente perante o judiciário a
postulação do autor quanto à postulação do réu, até por uma questão de igualdade, e
assim implicações próprias da defesa.
Nós iremos ver a jurisdição posta à disposição de qualquer cidadão que seja
obrigado a procurá-la, provocá-la ou que deseje provocá-la, para obter a prestação
jurisdicional da qual o Estado é devedor. Então esse direito, ou um poder para alguns
autores, de provocar a prestação jurisdicional.
A jurisdição, fazer valer em concreto o direito material incidente. Mas a defesa,
a prerrogativa, um direito também, da parte que tem um vinculo de sujeição, porque aí
realmente quem é demandado, aquele contra quem se postula em juízo, é acionado, é
réu querendo ou não.
Há um vinculo mínimo de sujeição, por isso Chiovenda via nisso aí um direito
potestativo, um direito de ação, pois submete o outro a atuação do Estado para fazer
valer o direito, independentemente da sua anuência, discordância. Então, aquele que
quer obter o que da prestação jurisdicional? A rejeição do pedido do autor, nisso se
constitui a defesa. Postular buscando obter a prestação jurisdicional no sentido de
rejeitar o pedido do autor, esse limite da defesa. A defesa tem essa compreensão
ontológica, quer dizer, todo ato acionado que implica obter da justiça estatal a rejeição
do pedido do autor é defesa, lato sensu. Então, jurisdição, ação, defesa e processo que
é exatamente o instrumento através do qual se vai exatamente provocar, se defender e
prestar a jurisdição efetivamente. O processo no sentido da prática de atos materiais
conexos e conseqüentes, com um fim determinado, e com a participação dos
interessados, ou seja, como relação jurídica também. Um dos aspectos do processo, ele
teve que ter esse dúplice aspecto, ele é uma seqüência de atos conexos e conseqüentes
com um fim determinado com a participação dos interessados. Tem o sentido da
prática dos atos, numa relação de interdependência, conexão e conseqüência e da
relação entre sujeitos (o autor, o juiz e o réu).
A jurisdição, portanto, é essa função que o Estado incorporou ao seu poder de
dizer o direito e impor a decisão. A doutrina procura situar quais caracteres que podem
definir o jurisdicional. Nós já falamos que o critério orgânico é imprestável para esse
fim, porque o Poder Executivo legisla também, o Poder Legislativo julga. Poderíamos
dizer o que é ato do Poder Legislativo é legislação, e o que é ato do Poder Executivo é
administração e o que é ato do Poder Judiciário é jurisdição, mas exatamente porque o
legislativo também, excepcionalmente, de forma anômala, mas ele julga também, está
aí o processo de impeachment, ele também é elevado a julgar. O executivo legisla
através de Medida Provisória. O judiciário legisla através do regimento interno dos
tribunais, administra também com relação ao seu pessoal, a administração da sua
verba, do seu orçamento.
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Então o critério orgânico é imprestável. Vamos buscar a essência do ato
jurisdicional, para distingui-lo do ato administrativo e do ato legislativo. O que
caracteriza o jurisdicional? Vamos ter uma grande contribuição, mais uma vez, de
Giuseppe Chiovenda. Ele dizia que são dois traços básicos, essenciais, característicos
da jurisdição, e até hoje a doutrina assimila:
Em primeiro lugar o caráter substitutivo, o juiz se substitui as partes na
definição e aplicação do direito, na solução do conflito de interesses. Essa visão do
caráter substitutivo nos devemos alargá-la para além de cada conflito determinado. O
juiz se substitui as partes para aplicação do direito no caso concreto. Esse caráter
substitutivo vem desde o fato do monopólio, da instauração do monopólio, da saída da
justiça privada para a pública, portanto uma visão global também, ou seja, retirou-se
em princípio da expressão privada essa função de resolver conflitos de interesses em
nome da pacificação social, que é o que legitima a jurisdição como função de poder.
Por que o Estado exerce esse poder? Em que se legitima essa função, essa
incorporação pelo Estado da função jurisdicional?
Está legitimado precisamente pela pacificação social. Isto é um sentido global.
Vamos tirar da base privada essa tarefa de dizer o direito e fazer valer nos casos
concretos, porque isso é um motivo de tumulto social, de insegurança social, de
prejuízo a ordem social, de modo que é melhor que fique em mão do Estado, como
uma função do Estado, do poder do Estado.
Então aí o caráter substitutivo com uma sinonímia da expressão, da substancia
deste do fato do monopólio estatal. O caráter substitutivo visto de um ponto de vista
global, retirar da sociedade em princípio a autoridade para resolver como último
reduto os conflitos de interesses e também do ponto de vista pontual, o juiz se substitui
as partes na solução dos conflitos de interesse em cada caso concreto. Toda evolução
que nos vimos, inclusive com relação aos modos de solução de conflitos, está
exatamente na figura da autoridade para decidir, ou seja, definir, estabelecer, portanto,
definitivamente a solução de conflitos. Aí nos temos na autotutela o próprio titular da
pretensão com ato decisão, ele julga e age. Ele deduz perante si mesmo a pretensão e
atua em função disso, a autotutela a autoridade está, portanto, na pessoa do próprio
titular.
A autocomposição, que também é uma solução autônoma, está nas partes
autoridade, que dizer é um ou outro na renúncia, submissão, ou ambos através da
transação mediante concessões recíprocas. Transfere-se para o terceiro essa autoridade
na arbitragem, e é transferida também, como processo igualmente heterônomo, na
jurisdição para o Estado, o Estado juiz. Claro que sempre se respeitou o espaço da
autonomia da vontade com ainda hoje se faz. Então em princípio o que acontece em
relação a autoridade para definir o conflito de interesse, em nome da pacificação
social, autotutela é vedada, em princípio, e até incriminada, só excepcionalmente,
atendido alguns pressupostos especiais que ele poderia ser utilizada legitimamente,
esta não constitui ilícito, ou seja, é autotutela mesmo, porque se é ilícito não é
autotutela. Isso é um cuidado que devemos ter, se você falar na autotutela como tal é a
legítima, é o ato legítimo, não é ilícito, porque se ela não está configurada com seus
pressupostos e elementos, ela não é autotutela, ela é um ilícito, ou seja, um ato ilícito.
Então a autotutela é vedada em princípio, e até incriminada. A autocomposição e a
arbitragem são limitadas ao terreno dos direitos disponíveis e, enfim, a jurisdição posta
em qualquer caso a disposição de cada cidadão. Essa, independentemente da possível
utilização de qualquer dos outros modos, está presente, este é o sentido do monopólio.

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O sentido do monopólio não é absoluto, portanto, mas tem o sentido de uma extensão
plena. A falta ou a não utilização de qualquer dos outros modos, ela está posta para
resolver os conflitos de interesses, com a autoridade, portanto, de deslocar daqui para o
terceiro que é o Estado. Então, o caráter substitutivo responde por um sentido, uma
dimensão global de retirar da base social essa autoridade, em princípio para resolver os
conflitos de interesses em nome da pacificação social e pontualmente em cada caso
concreto, no sentido que o juiz aí irá substituir as partes para dizer o direito, para fazer
valer o direito material.
Outra característica essencial, segundo a doutrina de Chiovenda, é o escopo
jurídico de atuação do direito. Ele dizia: “Fazer valer em concreto a vontade da lei”.
Segundo Chiovenda, seria um direito potestativo e a provocação que o autor faz do
Estado é apenas para dar oportunidade ao Estado de fazer valer a vontade da lei no
caso concreto. Em síntese este é o escopo jurídico de atuação do direito. Realmente,
um desiderato específico que entra como uma característica especial do jurisdicional.
Quer dizer, o objetivo da jurisdição é fazer valer o direito, resolver um conflito de
interesses de transcendência jurídica. Definir a solução, aplicar a lei, fazer valer a lei
no caso concreto. Vejam que, esse é um escopo, um objeto, uma função específica da
jurisdição, porque o legislador cria, o ato legislativo é um ato de criação do direito
objetivo. O administrador tem que agir segundo a lei, cumprindo o que a lei manda, lei
no sentido inclusive da Constituição, age de acordo com a lei. O objetivo do juiz é
fazer valer a lei, o objetivo é especificamente fazer valer a lei, fazer atuar a lei no caso
concreto. Isso é peculiar da jurisdição, e se distingue claramente a função jurisdicional
da função legislativa e executiva. Vejam que o juiz é terceiro, ele está julgando,
decidindo, definido solução em “re aliena”, em coisa de terceiro, em coisa de outro. O
administrador não tem o objetivo de fazer valer a lei no caso concreto, tem que agir de
acordo com a lei, com todo mundo tem que agir de acordo com a lei, inclusive o
particular, é ele o protagonista da sua atuação, ele é o agente da sua própria atuação,
não é terceiro, então, ele atua em re sua, numa atividade que lhe é própria, numa
função que lhe é própria. O juiz é terceiro, ele tem que resolver o conflito de terceiro.
Essa heteronomia é que marca com o objetivo de fazer valer o direito, isso é específico
da jurisdição. São dois os caracteres básicos, elementos essenciais básicos, da
jurisdição na doutrina de Chiovenda: o caráter substitutivo e o escopo jurídico de
atuação do direito. Desses caracteres se extrai conseqüências dentro dessa ordem
ontológica da compreensão da jurisdição: a imparcialidade do juiz estaria implícita
nesse caráter substitutivo. Esse caráter substitutivo é heteronomia, para resolver em
nome da pacificação social o conflito de interesses. Então, a eqüidistância do Estado, o
Estado retira das mãos de particulares para resolver pacificamente, tendo a mesma
distância para o autor e para o réu.
Obs.: O escopo jurídico de atuação do direito, o fazer valer a lei no caso
concreto, não é a lei só no sentido positivo, é a lei, a norma jurídica que incidiu no
caso concreto. Pode ser até o costume, mas é um direito positivado. Existe outro
direito que não o direito positivo? Aí nos vamos dizer o direito alternativo. Quando
você vai buscar um direito alternativo, você irá buscar um direito que não é
positivado? É o direito que você vai criar a partir de então? Você poderia aplicar no
caso concreto um direito que só vai surgir a partir dali? Ou você vai reconhecer que
aquele direito, aquela norma que já existia e deve ser a que vai reger o caso?
Então, a jurisdição será sempre fazer valer no caso concreto a norma que
incidiu. Mesmo no direito alternativo em que eu possa decidir, ou deva decidir contra

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legem, eu tenho que buscar qual será a norma que deve ter incidido sobre o caso. O
conceito apanha uma aspecto substancial, nos estamos buscando a ontologia da
jurisdição. Substancialmente o que é jurisdição. Nós iremos cotejar bem esse elemento
quando formos discutir jurisdição voluntária.

Francesco Carnelutti vai trazer outro dado, ele vai dizer que o caracteriza
essencialmente a jurisdição é a presença da lide. Trata-se de uma atividade para
resolver um conflito de interesses no caso de transcendência jurídica, um conflito de
interesse. A lide é um conflito de interesse qualificado por uma pretensão insatisfeita.
É um elemento material e um formal, o conflito de interesses e a pretensão insatisfeita.
A atuação da jurisdição tem em vista a justa composição da lide. O juiz via nisso uma
continuidade de uma função também jurídica de legislar, por isso o seu unitarismo,
quer dizer o Estado atua na fixação de normas gerais e abstratas, mas elas são muito
gerais e abstratas para resolver cada caso concreto que surgi dentro dos seus
parâmetros. É preciso então mergulhar mais na concretude do caso e trazer a norma
para o caso concreto que é a sentença no caso. É uma continuidade, por isso uma visão
unitária das funções jurídicas do Estado. Nós vimos lá o dualismo de Chiovenda e o
unitarismo de Carnelutti.
Outra característica apontada é a da inércia. Vejam que, embora possam atuar por
provocação em algumas situações, mas não lhe é peculiar da legislação e da
administração atuar mediante provocação. Eles têm um poder de automovimentação.
Tanto o Poder Legislativo, quanto o Poder Executivo, quanto a administração tem um
poder de automovimentação. A jurisdição só atua se provocada, ou seja, mediante
provocação, porque a jurisdição é inerte. Então, a inércia seria outra característica da
jurisdição. Nós vimos que isso está ligado a esse caráter substitutivo no que tem de
explicação com a imparcialidade, então, para manter a imparcialidade, e que esse
monopólio, essa heteronomia seja a mais pura, o Estado tem o dever da prestação
jurisdicional, mas que só irá cumpri-lo se provocado. Não proceda, não atue o juiz de
ofício. Não há juiz sem autor. Veja bem, uma coisa é o Estado juiz, outra coisa é o
órgão do Estado ter legitimidade para propor a ação, pois quem é legitimado é o
Ministério Público, não é o Poder Judiciário. É um órgão do Estado, ligado ao Poder
Executivo, mas não é o Poder Judiciário. Que dizer, mesmo quando alguém é obrigado
a provocar, mas tem que provocar, porque a jurisdição é inerte. Ou você tem a
disponibilidade, pode provocar ou não, ou você é obrigado a provocar, mas você tem
que provocar, porque uma característica da jurisdição é a inércia, daí porque Poder
Executivo e o Poder Legislativo têm automovimentação, a jurisdição não tem, depende
de provocação.
A outra característica é a definitividade. Só os atos jurisdicionais têm vocação
para a imutabilidade, só eles se tornam definitivos. Por isso que decidir em jurisdição,
seja esta inclusive arbitral, é definir no sentido de estabelecer, de forma plena,
vinculativa plena, a solução. Não é indicar uma solução, é definir a solução. A
definitividade, por isso que é o último reduto, é a última palavra a respeito da solução
do conflito determinado. A definitividade que é a formação, portanto, da coisa julgada.
Só o ato jurisdicional tem a vocação para a imutabilidade. Agora, nem todo ato
jurisdicional, nem toda sentença, digamos assim mais especificamente, forma coisa
julgada por conta da própria natureza do conflito. Porque ele é mutável por excelência.
No caso, por exemplo, da ação de alimentos. Já está implícito na própria natureza do
conflito a mutabilidade das circunstâncias que sustentam aquela solução. Então se

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torna inerente a solução a sua vulnerabilidade, se as circunstâncias que as definiram
mudaram. Porque se trata, evidentemente, de uma situação permanente e mutável por
excelência. Quando se é fixado o percentual, os alimentos são estabelecidos quais são
os parâmetros? É de que há uma necessidade do alimentando e as condições do
alimentante são aquelas. Mas são parâmetros bastante vulneráveis pela própria
natureza das coisas. O Direito não pode tirar o pé do chão. Direito não é física nem
matemática é regulação de interesses. Não podemos entrar no formal e esquecer a base
substancial do Direito. Enfim, se o alimentante, inclusive é um caso de prisão civil o
do devedor de alimentos, são as duas hipótese ressalvadas na Constituição, ninguém
pode ser preso por dívida, a não ser dívida de alimentos e depositário infiel. Então, se
o devedor alimentante perdeu as condições de prosseguir com o percentual que ele
dava de alimentos, isso tem que ser revisto, ou então o alimentando não precisa mais
daquilo. Alteraram-se as circunstâncias que explicam fundamentalmente a própria
sentença. Nesse caso é um ato jurisdicional que pode ser vulnerado e não assentaria
uma definitividade. Pode haver uma ação de revisão da sentença, é a chamada ação
revisional de alimentos. Formalmente a sentença inicial transita em julgado,
materialmente é que ela não vai transitar enquanto as circunstâncias são mantidas ela é
definitiva. A solução é aquela, agora alterada as circunstâncias, já que estas são
essenciais ao tipo de situação, aí ela não formaria excepcionalmente a coisa julgada.
Esta não seria intocável. As sentenças nas ações cautelares também não fazem coisa
julgada material, porque a ação cautelar é uma ação que se volta para garantir a
utilidade da ação de conhecimento ou de execução. Então, o juiz não entra no direito
material definitivamente, ele examina o direito material apenas ao nível de
plausibilidade. O direito material se é plausível, se está a fumus boni júris, fumaça do
bom direito, e o periculum in mora, ele concede a medida cautelar. Por isso que pela
própria essência, porque não adentra de forma exauriente sobre o direito material é que
ela não faz coisa julgada material. Faz coisa julgada formal, porque é uma sentença,
que irá transitar em julgado, pois passou o prazo de recurso, não cabe mais recurso,
está superado formalmente, mas o direito material que ela apreciou não faz coisa
julgada, porque ele não apreciou o direito com animus de definitividade, porque tem a
peculiaridade de servir apenas como uma medida assecuratória da utilidade de outra
atividade jurisdicional própria, que seja de cognição ou de execução. Mas ela tem,
evidentemente, em princípio, o ato jurisdicional, a vocação para a imutabilidade, e só o
ato jurisdicional tem a vocação para a imutabilidade. O ato administrativo pode ser
revisto e modificado e o ato legislativo também, pelo próprio legislativo inclusive, ele
poderá revogar uma lei. A sentença irá chegar a um tempo que não caberá mais
recursos, ou por que estes se esgotaram, ou porque perderam o prazo. Na verdade essa
coisa de transitar em julgado é uma conseqüência da definitividade. Não pode mais
mudar a sentença porque ela é definitiva, porque ela é a solução. Porque é própria da
atividade jurisdicional dizer qual é a solução, então ela não pode ser mudada. A
autoridade para definir é do Estado juiz, que quando decidi está definido. A
definitividade como um atributo inerente à própria jurisdição. Colocou-se em mãos do
Estado dizer o direito definitivamente. Definir a solução do conflito, então não há
porque perpetuar a possibilidade de buscar em outra ocasião outra posição, porque está
definido. Transitou em julgado porque, realmente, os meios que se dispunha para
provocar o magistrado se esgotaram. Esta definitividade é inerente a essa heteronomia
estatal em nome da pacificação social. E aí transitou em julgado, formou coisa julgada
como conseqüência dessa função de definir, estabelecer a solução, por isso que não

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pode haver vulnerabilidade me princípio. Por isso que é a definitividade nesse sentido
é um atributo indiscutível da jurisdição.
Outro princípio geral do Direito que é a certeza e a segurança das relações
jurídicas. Existe para estabelecer a certeza e segurança na relação jurídica trazida pelo
conflito de interesses. Existe em nome da estabilidade, a pacificação social como
solução do conflito. Mais uma vez eu chamo atenção o apelo de Carnelutti para a justa
composição, está adjetivação é muito feliz, porque vocês sabem que pela autoridade
que é dada ao Estado, qualquer que seja a solução que se chegue, e se torne definitiva,
portanto, e se adquira a força da coisa julgada, a eficácia da coisa julgada será a
solução. Do ponto de vista objetivo, qualquer que seja a solução será a solução. Mas
ele faz um apelo à solução justa, a justa composição da lide. Esse desiderato de fazer a
justiça, de buscar a solução justa.
São cinco, portanto, os caracteres da jurisdição apontados pela doutrina, caracteres
básicos: caráter substitutivo, escopo jurídico de atuação do direito, a presença da
lide, a inércia e a definitividade, a coisa julgada. A definitividade foi acentuada por
Henrico Allorio.
Com isso podemos partir para estudar os princípios inerentes à jurisdição.
Princípios que dizem respeito diretamente à jurisdição. Nos tivemos os princípios de
direito processual. Também aqui princípios gerais inerentes à jurisdição. Princípio
universalmente aceitos como regedores da jurisdição.
O primeiro princípio é o da investidura. A investidura significa que a
jurisdição é exercida por um órgão regularmente investido na autoridade de juiz. A
investidura é vista como um daqueles elementos do princípio maior de direito
processual que é o do juiz natural. O princípio do juiz natural que envolve três
elementos fundamentais: investidura, imparcialidade e competência. Todo cidadão
tem direito a um juiz regularmente investido, imparcial e competente segundo normas
constitucionais e infraconstitucionais pré-estabelecidas. A investidura é um princípio
inerente à jurisdição. Tem que ser um órgão investido da autoridade de juiz. Qual é o
órgão é o órgão como é que o órgão é investido da autoridade de juiz? Cada
ordenamento irá dizer. Aqui é, poder judiciário, juizes e tribunais, tribunais superiores,
concurso público, etc. Então, existem normas constitucionais e infraconstitucionais
pré-estabelecidas dizendo como é que alguém pode representar um órgão investido da
autoridade de juiz. Só um órgão regularmente investido da autoridade de juiz poderá
exercer a jurisdição. Esse é o princípio da investidura que é um dos elementos do
princípio do juiz natural.

PRINCÍPIO DA ADERÊNCIA AO TERRITÓRIO. Todo órgão jurisdicional adere


ao território. Está colado a um determinado território. Significa que todo órgão
jurisdicional tem a sua autoridade jurisdicional limitada a uma base territorial
determinada. Assim, o juiz de direito do Estado exerce a sua jurisdição na comarca,
que é uma base territorial determinada. O tribunal de Justiça Estadual tem jurisdição
na base territorial do Estado. Na Justiça Federal a base territorial é a seção judiciária.
A seção judiciária na Justiça Federal corresponde a cada Estado. Cada Estado da
Federação representa uma seção judiciária que poderá se dividida em subseções. O
Tribunal Regional Federal tem como base Territorial os cinco estados que são Sergipe,
Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, então é o Tribunal
Regional Federal da quinta região. O STJ, Superior Tribunal de Justiça na base do
território nacional. Todo órgão jurisdicional tem a sua jurisdição limitada a uma base

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territorial determinada que é a chamada competência territorial. Sua jurisdição é
limitada por uma base territorial determinada. É por isso que quando um juiz quer a
prática, precisa que um ato processual seja praticado numa base territorial onde ele não
tenha sua jurisdição, ele tem que solicitar a cooperação, se for um juiz estrangeiro irá
solicitar através de uma carta rogatória, se for um juiz nacional irá solicitar através de
uma carta precatória. Ele está solicitando ao juiz que tem a sua jurisdição naquela
outra base territorial que determine e presida a prática do ato processual determinado.
A citação do réu, a avaliação de um bem, enfim, qualquer ato processual fora do limite
onde o juízo tem aquela jurisdição.

PRINCÍPIO DA INDELEGABILIDADE. A doutrina considera que este princípio


está implícito na separação dos poderes. O órgão jurisdicional não pode delegar a
outrem a sua competência, a sua atribuição. A jurisdição é indelegável. Feriria o
princípio da própria separação de poderes, até porque o juiz não exerce a jurisdição em
nome próprio, ele exerce a jurisdição em nome do Estado, por isso que ele não pode
delegar aquilo que não lhe é próprio. O órgão jurisdicional exerce em nome do Estado.
A carta precatória ou a rogatória não implica delegação, porque eu não estou dando a
competência que é minha a outro juiz, eu estou exatamente respeitando os limites da
competência. Estou solicitando a quem tem à competência territorial que cumpra o ato.
Eu não estou delegando porque a quem eu solicito a cooperação já tem a jurisdição
naquele território.

PRINCÍPIO DA INEVITABILIDADE. A autoridade da solução, a jurisdição se


impõe por si mesma, independentemente da possível concordância, anuência das
partes envolvidas. A autoridade da definição é do Estado juiz, então, é inevitável para
as partes a autoridade dessa solução. A jurisdição se impõe por si mesma. É um
exercício de soberania. O Estado exerce uma função de império, uma função de poder,
por isso que há um elemento de sujeição das partes a solução dada pelo Estado. Então
é inevitabilidade, a solução é aquela. Está definida como tal pelo exercício da
prestação jurisdicional.

PRINCÍPIO DA INAFASTABILIDADE. Nós já vimos esse princípio quando


estudamos arbitragem, a possível inconstitucionalidade da lei da arbitragem diante do
princípio da inafastabilidade. “A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário
nenhuma lesão ou ameaça de lesão a direito” (Constituição Federal, art. 5º, XXXV).
Esse princípio tem um endereço eminentemente político, a lei não excluirá, quer dizer
inibe o legislador de editar norma que possa afastar o direito de cada cidadão de ver
apreciado pelo Poder Judiciário a possível ocorrência de lesão ou ameaça de lesão a
direito. É um corolário do princípio do acesso à justiça. É clausula pétrea, está no
artigo 5º como um dos direitos fundamentais do cidadão.

PRINCÍPIO DA INESCUSABILIDADE, como decorrência da própria


inafastabilidade. Se a lei não poderá excluir da apreciação do Poder Judiciário
nenhuma lesão ou ameaça de lesão que é para garantir ao cidadão a plena possibilidade
de ir a juízo examinar os seus pleitos, o juiz não pode se eximir de julgar. Nenhum
órgão jurisdicional pode se eximir de julgar, ainda que não haja lei expressa para o
caso concreto. Nós entramos naquele processo de integração de lacunas, que nos já
vimos com relação à interpretação e integração da lei. Ele irá integrar a lacuna, irá

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descobrir a norma através da analogia, dos costumes ou dos princípios gerais do
direito.

PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL. O juiz natural que se invoca contra o tribunal de


exceção, o juiz de exceção e tem naqueles três elementos a sua essência. A
imparcialidade, a investidura e a competência do juiz segundo normas constitucionais
e infraconstitucionais pré-estabelecidas.

A inércia é apontada, ora como característica da jurisdição, ora com princípio. A


jurisdição só atua quando provocada, esta é inerte.
Lembrar que a extensão da jurisdição se dá em relação a uma atividade de
cognição, que é a atividade de conhecimento de acertamento do direito, de ver em cada
caso concreto que lhe é levado se o direito existe em que medida existe e a quem cabe.
Isso é atividade de cognição de acertamento do direito. Outra atividade própria da
extensão da jurisdição é a execução, realizar atos materiais de efetiva realização do
direito, satisfação do direito do direito. Quem não pagou a divida, o credor tem um
título executivo, ou uma sentença que foi proclamada estabelecendo uma obrigação de
fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia vai entrar com um processo de
execução, em que a jurisdição vai se caracteriza na prática de atos materiais de efetiva
satisfação. Desapossar o devedor do bem e entregar ao credor do bem. Expropriar bens
do devedor, alienar e o produto pagar a dívida do credor. Atos materiais, aí não se trata
de acertar o direito, de dizer se o direito existe, em que existe e aplicado. Aqui é
realizar o direito através de atos materiais efetivos à execução. E essa outra extensão
que tem para a medida a ação cautelar, medidas que visam garantir a utilidade dessa
atividade de cognição ou de execução. Lembrar também que o juiz, ou órgão
jurisdicional, todo órgão jurisdicional tem, além do seu poder jurisdicional, o poder de
policia na medida da manutenção da atividade jurisdicional. Naquilo que diz respeito a
assegurar atividade jurisdicional. Então o juiz poderá colocar para fora da audiência,
da secretaria, do fórum quem está perturbando os trabalhos, sempre o poder de policia
no sentido de coibir a atividade perturbadora da própria atividade jurisdicional.
Com relação à distinção entre jurisdição, legislação e administração, nós já
pincelamos quando fixamos os caracteres da jurisdição. Então temos parâmetros para
distingui-los das outras atividades do Estado, dos outros atos do Estado. O ato
jurisdicional é um ato marcado pela heteronomia, o Estado é um terceiro, o juiz é um
terceiro em relação a um conflito de interesses, é um escopo jurídico portanto de
atuação do direito, um terceiro para resolver um conflito de interesses de forma
definitiva. O ato legislativo é um ato de criação de um direito objetivo que atua, tem
poder de automovimentação, não depende de provocação, não tem vocação para a
imutabilidade, como a jurisdição tem. A administração não atua em coisa de terceiro,
atua em coisa própria, mesmo quando atua em um processo em que ela é parte, ela é
protagonista e não tem o objetivo de fazer a lei no caso concreto, atua segundo a lei
como qualquer agente particular atua, mas não é um objetivo próprio fazer valer a
vontade da lei como é o ato jurisdicional. Atua em causa própria a administração. O
ato administrativo não se confunde com o ato legislativo nem com o jurisdicional. Por
isso que esses caracteres são importantes para fixarmos o que é o jurisdicional, e
enfrentarmos questões como essa da jurisdição voluntária.

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TEORIA GERAL DO PROCESSO – AULA DIA 08.05.2007

Hoje daremos continuidade aos Capítulos 12, 13 e 14 para encerrarmos a


Jurisdição e falar em seguida de Competência. Depois do capitulo 14, inicia-se a parte
de Organização Judiciária e ai vai ate o Capitulo 24 porque o livro vai destrinchar
detalhes que não são necessários para nós e não temos tempo. Nós vamos nos
concentrar na fixação de quais são os órgãos do poder judiciário no Brasil e o fluxo
recursal básico entre eles. Porém só farei isso depois de conhecer Jurisdição e
Competência.

ESPÉCIES DE JURISDIÇÃO

A Jurisdição é uma, é expressão como função de poder do Estado. A cada


Estado a sua Jurisdição de modo que quando vamos falar sobre as espécies de
Jurisdição é necessário entender em termos porque é preciso estruturar o exercício
desse pode para dar uma maior eficiência. Há aspectos dessa Jurisdição que
comportam essa visão dela em espécies. São elas:
Quanto ao critério do seu objeto -> está ligada ao tipo de sanção. Divide-se
em Jurisdição Penal e Civil. A civil é tomada lato sensu. Ou seja, o que não é penal é
civil. Com isso, a jurisdição trabalhista é civil. A Justiça Eleitoral tem Jurisdição penal
e civil porque existe o crime eleitoral.
Quanto aos organismos judiciários que a exerce -> Me parece melhor essa
classificação ser de acordo com a matéria discutida, ai sim são chamadas de Jurisdição
Comum e Especial, porque existem determinadas matérias que são destacadas da vala
comum para receber um tratamento especial, exatamente por isso que são de jurisdição
especial. Temos como Jurisdição especial a trabalhista, eleitoral e a penal militar.
Essas Jurisdições são especializações dentro da vala comum, o resto é de Jurisdição
Comum. Isso vai se refletir inclusive na discriminação de órgãos do Poder Judiciário,
nós vamos ter sistemas de órgãos para o exercício da jurisdição comum e outros para a
jurisdição especial.
Quanto à hierarquia entre órgãos -> A estruturação orgânica é com base em
sistemas de órgãos que são autônomos entre si. O que é a “justiça” estadual? É na
realidade um sistema de órgãos do poder estatal de jurisdição comum, ou especial se
for o caso de jurisdição penal militar. Em cada sistema desses, ele tem uma autonomia
em relação aos demais. Essa distinção entre o plano superior e o inferior responde a
uma hierarquia que só pode haver dentro de casa sistema. A relação de superioridade e
inferioridade responde a uma verticalização dentro de cada sistema. Existe a
possibilidade de um tribunal, como é o STJ, sobrepor aos outros de jurisdição comum
porque ele é o uniformizador da justiça em matéria de lei federal, em jurisdição
comum. Ou seja, tanto vale pra justiça federal quanto pra justiça comum.
Ex: tem-se na justiça comum o juiz de direito e o tribunal de justiça, ou seja,
órgão inferior e órgão superior.
Quanto à fonte do direito -> nós falamos de jurisdição de direito e de
eqüidade.

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Essas são, em síntese, as espécies de Jurisdição. O livro aborda situações em
que, em nome dessa unidade da jurisdição, há um relacionamento entre a jurisdição
civil e a penal. Há situações que ora aconselham e que ora exigem essa
interdependência. Há situações em que, para exercer a Jurisdição Criminal, é
necessário uma definição na Jurisdição Civil, e ai surgem problemas, para evitar
decisões contraditórias entre órgãos do mesmo poder do Estado.
Ex: Crime de bigamia, onde o indivíduo responde pelo processo na jurisdição
penal, mas ele tem um processo no âmbito civil alegando a nulidade do primeiro
casamento. Então o que acontece? Se o primeiro casamento é nulo ele não será
bígamo. Com isso o processo criminal permanece suspenso até a decisão da Jurisdição
Civil.

LIMITES DA JURISDIÇÃO

Com relação aos limites da jurisdição nós vamos, em primeiro lugar, encontrar
a questão das limitações de caráter objetivo no plano internacional. Claro que a
jurisdição de um Estado só pode se realizar fora do seu território quando é possível,
via de regra, não é, porque no confronto de soberanias cada uma tem a sua autoridade
limitada ao seu território. Então a soberania de cada Estado é limite à jurisdição de
outro no plano internacional. Responderia a uma situação de conveniência e de
viabilidade.

Ex: qual a autoridade que teria o Estado brasileiro em impor uma decisão a
conflitos na China? Não existiria nesse caso conveniência nem viabilidade.

Também como limitações de ordem internacional, mas do ponto de vista


subjetivo, a questão dos agentes diplomáticos. É do direito das gentes que nenhum
Estado responde perante a Jurisdição do outro, ou seja, entre iguais não há jurisdição
porque a jurisdição impõe império. Isso não é de hoje, desde que nós vimos na história
o representante pelo pontenciário do reinado e tal. Então, aquele acato ao respeito à
soberania e o Estado estrangeiro como pessoa de direito e obrigações não se obriga
perante a Jurisdição de outrem. Como extensão dessa imunidade, o chefe de estado
estrangeiro é imune à Jurisdição de outro país.
Sobre os agentes diplomáticos ou consulares tem dois tratados internacionais de
Viena, um de 1960 e o outro de 1961 sobre relações diplomáticas e consulares. Vamos
encontrar imunidade em favor desses agentes e seus familiares com base numa
distinção essencial entre eles. Os agentes diplomáticos têm imunidade mais ampla
porque atuam em negócios do Estado. O embaixador é o representante no estado
estrangeiro, atuando em negócios do Estado. Os consulares cuidam de negócios
privados, dos cidadãos, ou seja, o comercio exterior, passaporte, etc.
Os agentes e seus familiares têm imunidade civil e penal para garantir a
autonomia e independência. Essa imunidade não é em favor do diplomata e sim em
favor do estado. Por isso que ele não pode renunciá-la, só quem pode é o Estado
estrangeiro.
O agente consular tem uma imunidade limitada, ou seja, não é extensível a
família e só tem imunidade naquilo que é próprio da atividade consular.
Ocorreram abusos e alguns paises passaram a coibir e fazer ressalvas com
relação a essa imunidade, por isso que em 1979, o nosso Tribunal, proclama o

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rompimento da imunidade com relação a atividades trabalhistas. Isso fez com que já
nesse tratado houvesse ressalvas a algumas situações do agente diplomático que vai
exercer alguma atividade profissional paralela a sua atividade própria.

Ex: Quanto se trata de demanda fundada em imóvel situado no país.

Em resumo, essa limitação em razão da falta de efetividade perante outros


Estados Soberanos, o direito das gentes sempre proclamou tradicionalmente a
imunidade do Estado com pessoa jurídica perante outro Estado e, como reflexo, o
chefe de Estado também é imune e essas limitações de ordens subjetivos com relação
aos agentes diplomáticos e consulados.
No plano interno, nós encontramos também algumas limitações. A Doutrina
aponta três situações a respeito dessas limitações: em primeiro lugar o juízo e
conveniência de oportunidades dos atos administrativos. Isso na verdade é uma
limitação por uma razão ontológica. É da essência do Poder executivo na atividade
administrativa, o exercício desse juízo de conveniência e oportunidade.

Ex: Se vai construir uma ponte aqui ou lá. Já pensou se isso fosse partir do
Controle Judiciário? O que o Judiciário faz é saber se aquele ato é legal ou não. Ou
seja, vê se há legalidade e não controla os atos da administração.

Uma outra situação que ainda é discutida no direito brasileiro é que não tem
vigência ao principio minimis non curat pretor, ou seja, o pretor não julga
insignificâncias. Em primeiro lugar, a dificuldade do que seria o mínimo. Será que o
principio da inafastabilidade da jurisdição nos leva a um esforço processual para
atender a o que tem um sintoma de implicância do que propriamente uma busca pelo
direito. Se você fosse cobrar por justiça de R$ 1,00 real, ai você vai movimentar juiz,
gastar papel pra receber. No fim das contas você gasta muito mais. Então a relação
custo – benefício torna ilógico que se gaste mais do que se vá receber. Não se existe
um padrão de quanto será o mínimo. Admitindo que esse princípio tenha vigência no
nosso ordenamento, seria outra limitação.

JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA

Vamos encontrar uma situação em que o Poder Judiciário atua, e os atos são
judiciais, resta saber, no entanto, se são jurisdicionais. E aí vocês vão ter que pegar os
critérios de distinção que foi exposto na aula passada. Existem certas atos da vida
privada quem tem implicações muito grandes no contexto social. E aí o ordenamento
estabelece que esses atos devem ser praticados sobre as vistas de uma autoridade
pública. Então é preciso haver a intervenção de uma autoridade, é a chamada
Administração Pública de Interesses Privados. Essa Administração é exercida por
órgãos meramente administrativos, como por exemplo, a Junta Comercial.
O próprio Ministério Público que é um órgão ligado ao Poder Judiciário tem
uma função meramente administrativa no caso na Instituição das Fundações, para
saber se aquela Fundação está concedida a atender plenamente ao seu objetivo. A
fundação é a destinação de um acerco para uma atividade cultural ou beneficente.
Então o MP tem esse controle.

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Essa Administração Pública de Interesses Privados exercida por órgão
meramente administrativo. No outro plano, existem órgãos chamados de Foro
Extrajudicial que são órgãos que exercem um controle administrativo por delegação,
mas são controlados pelo Poder Judiciário, porque tem mais afeição a matéria que eles
cuidam. Daí porque são submetidos a esse controle e são chamados de Foro
Extrajudicial, porque não é dentro e sim fora do Poder Judiciário.

Ex: Oficiais de registro de pessoa jurídica ou física, tabeliães, registro de


imóveis. Isso tudo é feito por pessoas que recebem por delegação do Poder Público
sob o controle do Poder Judiciário.

A outra esfera de atuação na Administração Pública de Interesses Privados é o Pro


Judiciae. O Juiz, na Administração Pública, exerce atividades de três tipos:

1. Prática de Atos Certificantes -> Muitas vezes o ordenamento exige que o


Juiz atue na certificação de determinados atos. Geralmente acontecia com relação às
Subvenções. O Juiz, nesse caso, dava um atestado de funcionamento. É atestar que a
Entidade “tal” funciona no endereço “tal” no exercício de suas funções específicas. Ou
Então o Juiz dava um Visto do Balanço da Entidade. O visto do juiz com a data e a
assinatura atesta que naquela data o balanço era aquele e não outro. Há uma certeza
quanto a existência do balanço e quanto a sua autenticidade.
2. Prática de Atos Receptícios -> è um ato que alguém pratica e cuja eficácia
depende do conhecimento do destinatário. Ex: o testamento, pois ele deve ser
publicado para o conhecimento dos conhecidos e os incertos e não sabidos. O Juiz,
nesse caso, manda publicar editais para a existência do testamento. É um ato de mera
publicação e divulgação para conhecimento dos destinatários.
3. Prática de Atos de Pronunciamento Judicial -> Aqui o Juiz vai homologar,
como é o caso de separação consensual. Houve o pronunciamento judicial de
homologação. Outro ato que ele pratica é o de autorização, é o chamado alvará. Ex:
autorização de venda de imóvel a incapaz. Então o representante legal do incapaz vai
requerer ao Juiz que autorize a venda desse imóvel e o Juiz vai dá vistas ao MP e vai
decidir se autoriza ou não. Ele vai ter que se pronunciar. Outro ato é o caso de
interdição, ou seja, todo aquele que é incapaz de reger sua pessoa e seus bens, seja por
doença ou por prodigalidade, o Juiz nomeia um Curador que vai representar esse
incapaz nos atos da vida civil.

Seria indiscutível dizer que os Atos de Certificação e os Receptícios são atos da


Administração Pública de Interesses Privados, mas a questão é saber os Atos de
Pronunciamento são jurisdicionais ou não. Por exemplo, o interditando é citado, pode
contestar e o juiz pode deferir ou não a curatela e tudo isso tem um processo em que
ele conclui o seu pronunciamento através de uma sentença. Aqui, formalmente,
encontramos todos os requisitos do processo, da manifestação dos interessados e a
sentença do Juiz. Isso é jurisdicional ou não? Porque é? Porque não é? A pergunta na
prova de vocês será assim, “o ato de jurisdição voluntária, que eu vou exemplificar, é
jurisdicional? Por quê? O que você diria para defender a natureza administrativa da
jurisdição voluntária? Ou o que você diria para defender a natureza jurisdicional da
jurisdição voluntária? Será que tem que haver lide para ser jurisdicional?”.

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O que me interessa é que vocês saibam o caráter da jurisdicionalidade. Eu
geralmente peço que vocês defendam os não a jurisdicionalidade.

Teoria Geral do Processo – Aula dia 15.05.2007

Limites de Jurisdição
Quantidade de Jurisdição atribuída a cada órgão ou grupo de órgãos.
Relação de adequação legítima entre o órgão julgado e cada processo determinado

Espécies de Jurisdição
1. Competência de jurisdição: Qual a “justiça”?
2. Competência originária: órgão inferior ou superior?
3. Competência de foro (territorial): qual comarca? Qual seção judiciária?
4. Competência de Juízo: qual vara?
5. Competência interna: qual juiz?
6. Competência Recursal: o mesmo ou outro órgão?

Dados Relevantes

A. Da causa (= elementos de ação)

1. Partes: qualidade – sede


2. Causa de pedir (fatos e fundamentos)
- Natureza da relação jurisdicional
- Lugar do fato
3. Pedido (provimento buscado e o objeto sobre o qual incide)
- Natureza do bem
- Valor
- Situação (= localização)

B. Do Processo

1. Natureza de processo – Mandado de Segurança


- Sumário
2. Relação com processo anterior

Essas espécies de competência atendem de uma forma mais ajustada a nossa


realidade. Isso se encontra no capítulo 25. A competência é a limitação da jurisdição
porque em principio a jurisdição é uma, mas para atender ao seu compromisso, ao seu
dever o Estado precisa fazer duas coisas, primeiro conceder a estrutura orgânica, que
órgãos prestarão a jurisdição e a segunda distribuir a massa de causa com esses vários
órgãos. É claro que em princípio todo órgãos jurisdicional poderia ter a plenitude da
jurisdição do Estado e julgar qualquer que fosse a matéria, qualquer que fosse a parte e
qualquer que fosse o lugar, mas ia comprometer a nossa realidade.

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Teoria Geral do Processo – Aula dia 17-05-07


Competência

ABSOLUTA

• Interesse público
• Inderrogável
• Imodificável
• Declaração de ofício
• Competência de jurisdição,
originária, de juízo, interna,
recursal.
• Pelo valor?

RELATIVA

• Interesse particular.
• Derrogável.
• Modificável (prorrogação).
• Declarável sob provocação.
• Competência de foro
territorial.

• Pelo valor?

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TEORIA GERAL DO PROCESSO – AULA DIA 22.05.2007

Nós vimos na aula passada que o Estado organiza seus órgãos, ou seja, a
discriminação de órgãos que vão prestar a Jurisdição. Com toda complexidade
que se diz no nosso caso nós temos não só os diversos sistemas, mas para cada
sistema nós tivemos que colocar no topo um órgão uniformizador da
jurisprudência por causa da nossa realidade continental.. Então para garantir o
que se chama de Nacionalidade da Legislação da Lei Federal é que existe os
Tribunais Superiores. Então a cada espécie de Jurisdição está previsto um
Tribunal Superior que tenha competência específica, peculiar, para manter a
unidade de interpretação da Lei Federal naquela espécie de Jurisdição. Na
espécie de Jurisdição especial nós temos o Tribunal Superior Militar, Tribunal
Superior do Trabalho e o Tribunal Superior Militar. Na Jurisdição comum, que se
divide em Jurisdição Federal e Estadual Comum nós vamos ter o Superior
Tribunal de Justiça. Então são Tribunais Superiores cuja missão está em manter a
nacionalidade da Lei Federal, ou seja, manter a uniformidade de interpretação da
Lei Federal em todo Território Nacional.
Daí porque vocês virão que essa preocupação houve na concepção dos
Juizados Especiais Federais pela estranheza de que com relação aos Juizados
especiais Estaduais as turmas recursais representam a ultima instância em matéria
de interpretação da Lei Federal porque não cabe recurso para o STJ, segundo a
Constituição Federal. Cada Turma Recursal do Juizado Especial do Estado no
País é a última palavra da interpretação da Lei Federal.
Nós vimos que na estrutura dos Juizados Especiais Federais tem-se a Vara
do Juizado, a Turma recursal como segundo grau e temos ainda como
uniformização as Turmas Reunidas e a Turma Nacional de uniformização. Mas
acontece que a parte desses sistemas de órgãos autônomos entre si é preciso
pegar a massa de causas e distribuir entre elas. A jurisdição de cada sistema de
órgãos é limitada em razão de alguns critérios. É a quantidade de Jurisdição,
segundo Liehbman, que vai ser atribuída a cada órgão ou grupo de órgãos até a
gente ter pra casa processo determinado o órgão julgador determinado, aquele
que só ele tem a chamada Relação de Adequação Legitima para processar e
julgar determinado processo, determinada causa.
Nós vimos também que a par da classificação dos órgãos e sistemas nós
temos a apuração de critérios para essa distribuição segundo ora elementos da
causa ora elementos do processo. Com relação aos elementos da ação, estão as
partes (autor e réu), não confundir partes com sujeitos do processo, porque estes
consistem no autor, réu e juiz, a causa de pedir, ou seja, os fatos e fundamentos
sobre os quais o autor diz repousar o seu direito e o pedido que envolve o
provimento buscado e o objeto sobre que ele incide.

Ex: Na ação de despejo, o provimento buscado é a rescisão da relação ex


locatio e a restituição do imóvel. Mas que imóvel? O apartamento tal da rua tal...
Então tem-se o pedido, o provimento e o objeto.
Desses elementos nós vamos extrair, por exemplo, a qualidade das partes,
se é o Presidente da República no crime de Responsabilidade está afetada a
competência segundo o critério da qualidade da parte, a sede da empresa, etc.
Outro exemplo seria para o mandado de segurança que é relevado a qualidade da
parte, uma vez que é para ato de juiz e a competência será originária ao tribunal
que ele esteja vinculado. Nesse caso, a competência de jurisdição vai se definir
com base nesses dois elementos: a espécie do processo que é o mandado de
segurança e a qualidade da parte, que é Juiz.
Com base nesses critérios, nós vamos distribuir para cada espécie e
competência as causas. Então a competência de jurisdição vai se definir
geralmente com base em que dados? A competência de jurisdição responde a
pergunta de qual é a “justiça”, ou seja, é a dado mais geral de competência. Eu
sou saber qual é o sistema de órgãos que vai conhecer aquela causa. Então como
é que eu defino? Nós temos as jurisdições comum e especial e dentro da comum
nós temos dois sistemas autônomos que é a justiça federal e estadual. Então quais
são os elementos que eu vou definir se a jurisdição é comum ou especial? A
Matéria, ou seja, a natureza jurídica da questão discutida. Então se é trabalhista é
a justiça do trabalho. Como eu vou saber se é justiça federal ou comum? Pela
qualidade das partes. Se for parte autora ou ré a União, qualquer Autarquia
Federal, Empresa Pública Federal ou Fundação Pública Federal. Nesse caso, a
jurisdição é federal. Então são duas espécies de dados que servem para fixar a
competência de jurisdição, a competência da natureza da relação discutida e a
qualidade das partes. É por isso que no livro de Athos Gusmão diz que a justiça
federal é especial em relação a estadual. O que acontece é uma especialidade em
relação à matéria.
Eu queria remeter vocês com relação a isso no cap. 25 no item 143 do
livro básico (atribuição da causa aos atos) que diz “A competência de jurisdição é
distribuída na forma dos arts. 109, 114, 121, 124, 125 §§ 3º e 4º, da Constituição
Federal. Nos diversos casos, são da seguinte natureza os dados levados em conta
pelo constituinte: a) natureza da relação jurídica material controvertida, para
definir a competência das Justiças especiais em contraposição à das comuns (arts.
114, 121, 124); b) qualidade das pessoas, para distinguir a competência da
Justiça Federal (comum) e das Justiças Estaduais ordinárias (também comuns)
(art. 109), bem como das Justiças Militares Estaduais e da União (art. 125, §§ 3º
e 4º)”.
PERGUNTA DE PROVA: Em que consiste a competência, por
exemplo, de juízo e quais os dados, de regra, são utilizados para fixá-las? A
competência originária é, em regra, dos órgãos inferiores, órgãos judiciários
de primeiro grau, primeira instância, só excepcionalmente pertence ao
Superior Tribunal de Justiça ou aos órgãos superiores de cada uma das
justiças. A competência de foro ou territorial? É a que mais
pormenorizadamente bem disciplinada. Tem a questão do foro comum
(aquele que é a regra geral. Ex: no processo civil o foro é o domicilio do réu,
no processo penal é o lugar da consumação do delito, na reclamação
trabalhista é onde há a prestação do serviço) e existe o foro especial (Ex: o
foro da mulher na separação ou divórcio, seja ela autora ou ré) existe
também o foro concorrente, onde a lei dá uma opção ( ex: na colisão de
veículos, pode ser no local do fato ou no domicilio do autor). Existe também
o foro subsidiário (aquele onde ao é possível se utilizar o foro comum ele é
utilizado subsidiariamente. Ex: no processo penal, o foro comum é o local da
consumação do delito, se não for possível determinar o local da consumação
do delito o foro competente é o do domicílio do réu). No livro básico no item
143 tem tudo explicado.

COMPETÊNCIA ABOLUTA OU RELATIVA

1. Declinação de Competência

2. Conflito de Competência
Positivo/Negativo
(exceção de incompetência)
3. Modificação de Competência
- Prorrogação (= ampliação)
• Legal (necessária): Conexão/Continência
Prevenção
• Voluntária (Renúncia a foro favorável)
* Expressa: foro de eleição (e contrato de adesão?).
* Tácita: Réu não excepcionou a incompetência relativa

E Ainda: Por ato do autor, se beneficia o réu.


Desaforamento (CPP, arts. 76/77).

São expressões que nós vamos encontrar muito e que tem conceitos distintos.

1. Ato pelo qual o juiz, considerando-se absolutamente incompetente, trata-se,


portanto, de um ato relativo a competência absoluta, ou seja, declina da
competência. Ele não está delegando nem se escusando, ele está reconhecendo
que é absolutamente incompetente e remete o processo a um juiz que ele imputa
competente.

Ex: eu recebo um processo na justiça federal e percebo que é uma causa


trabalhista. Então eu sou absolutamente incompetente e, por isso, declino da
competência em favor da justiça do trabalho.

2. Quando o juiz declina da competência, pode ocorrer o conflito tanto positivo


quanto negativo. O conflito ocorre quando dois ou mais juizes se dizem
competentes (positivo) ou incompetentes (negativo) para julgar o caso. Esse
conflito vai ser solucionado através do julgamento do Tribunal se esses juizes
que se dizem competentes ou incompetentes e estiverem vinculados ao mesmo
Tribunal. Se não forem vinculados ao mesmo Tribunal, cabe ao STJ julgar.
Ex: o conflito de juizes do trabalho que se dizem competentes. Nesse
caso, cabe ao Tribunal Superior do Trabalho decidir quem irá julgar a causa. Se
forem vinculados a Tribunais diferentes, quem decide é o Superior Tribunal de
Justiça.

A parte pode entrar com a chamada exceção de incompetência, se ela for


relativa porque a competência absoluta é imodificável, inderrogável pode ser
conhecida de ofício. Mas a incompetência relativa, como beneficia a parte, só o
beneficiado pode delegar. Então a lei estipula um prazo para ele entrar com a
exceção de incompetência. Se dentro daquele prazo ele não entrar, o juiz daquela
outra comarca se torna competente.

Ex: a mulher no caso de separação tem o privilegio de foro, mas ai o foro


é estabelecido em outro lugar. Cabe a parte entrar com a exceção de
incompetência. Se ela não entrar, o juiz se torna competente. Por que pode haver
essa modificação? Porque a competência é relativa e o interessado no prazo que
lhe cabia não reagiu contra. Então prevalece aquele outro juízo.

Quando se declina ou há conflito de competência, não se trata de modificação e


sim de definir quem tem a competência. Não está havendo a modificação e sim
fixando quem é o juízo competente.

3. Apesar dos critérios estabelecidos para fixar a competência, em algumas


situações ela pode ser modificada. Os casos são:
- Prorrogação -> ampliação da competência de um órgão que não teria
essa competência pelas regras ordinárias e por uma situação excepcional passa a
ter. É o acréscimo diante da competência para determinada causa que o órgão não
teria ordinariamente. Ela pode ser legal ou voluntária. A legal ou também
chamada de necessária é, por exemplo, a conexão e a continência. A conexão
ocorre quando se tem a mesma causa e elas são conexas e devem ser reunidas no
mesmo juiz para evitar decisões contraditórias.

Ex: o locador entrou com a ação de despejo do locatário e caiu na 1ª vara


cível, o locatário entrou com uma ação de consignação em pagamento e caiu na
10ª vara cível. Essas causas estão vinculadas a mesma causa de pedir, ou seja, a
falta de pagamento. Há uma conexão entre elas e por isso devem ser julgadas
pelo mesmo juiz para evitar decisões contraditórias.

A continência é quando o objeto de uma ação é mais amplo do que a


outra.

Ex: Na ação de divorcio vai ser discutido alimentos, divórcio, etc., ou


seja, o objeto de uma já está contido em outra.

A prevenção é o critério de determinação quando há conexão ou


continência. Ou seja, O juiz que conheceu primeiro uma dessas ações passa a ser
competente para julgar a outra a outra. Passa a ser chamado de Juiz Prevento.
Com isso, tem-se a sua competência prorrogada, ampliada em face da conexão.
A prorrogação voluntária pode ser expressa ou tácita e ocorre quando o réu que
tem foro privilegiado renuncia tacitamente a seu foro favorável, pois eu não
entrei no prazo da lei, com a exceção incompetência.
A jurisprudência tem entrado com muito cuidado com relação a foro no
contrato de adesão porque, muitas vezes, a vítima não tem direito ao acesso à
justiça.

Pode acontecer que o autor que tem o privilégio de foro ele propõe o foro
que é beneficiado o réu.

Ex: Na colisão de veículos o foro é concorrente na nossa lei processual. É


no domicilio do autor ou no lugar do fato. Ai o autor vai e propõe no domicilio
do réu. Então ele abdicou do seu direito. E com isso não pode alegar a
incompetência.

O caso de desaforamento é em matéria criminal. Quando está afetada a


segurança para o Tribunal do Júri e a imparcialidade desse Tribunal ele pode ser
deslocado, ou seja, desaforado. Com isso, entrega o julgamento a um Tribunal do
Júri de uma comarca próxima.

Próxima aula vai ser apresentado o esquema da organização Judiciária.

Direito público subjetivo (ação de direito constitucional)

1º momento – direito constitucional de ação

2º momento – condições da ação – direito processual de ação = direito à


prestação jurisdicional, ao julgamento do mérito favorável
} Desfavorável

3º momento

Condições:
 Possibilidade jurídica do pedido de interesse processual
(necessidade, adequação).
 Legitimidade ad causam (para a causa).
Teoria Geral do Processo – Aula dia 31.05.2007

Nós estamos estudando a natureza desse fenômeno pelo qual uma pessoa
que tem um conflito de interesses precisa levar perante o Estado, porque vedada a
autotutela, impossível por qualquer razão a limitada autocomposição arbitragem,
o Estado é o último reduto para a solução do conflito. Porque já se retirou da base
privada a autoridade para decidir conflitos de interesse em nome da pacificação
social, por isso que é uma função de poder do Estado. Esse fenômeno de
provocar o Estado, de pedir ao Estado é um mero requerimento, é uma
solicitação? É um poder que a pessoa exerce. Há dois aspectos que dançam em
torno das teorias do direito abstrato de ação: a visão de que é uma imanência e é
um direito genérico e abstrato realmente em favor de cada cidadão perante o
Estado. É um direito público, subjetivo de todo cidadão obter a prestação
jurisdicional prometida, sob a força do monopólio estatal. O poder de império do
Estado. Então, quando o arranjo político estatal é no sentido de manter a justiça
pública, ou seja, retirar da base privada e manter o monopólio estatal da justiça o
Estado é devedor perante cada cidadão dessa prestação jurisdicional. Isso é um
vínculo jurídico que marca exatamente o sentido do conceito que nos temos de
direito subjetivo.
Nós vimos que é uma solução favorável de alguém perante outrem. A
posição favorável de alguém que se diz credor perante alguém que se diz
devedor. Então, há um vínculo entre essas pessoas, Estado e cidadão. O cidadão
tem o direito de obter do Estado à prestação jurisdicional. Esse é o fenômeno que
as teorias do direito concreto e do direito abstrato fazem ou não subordinar ao
fato de que no caso concreto determinado haja o direito alegado, para só então
reconhecer que ali havia o direito de ação, o direito de obter a prestação
jurisdicional do Estado. A teoria de Liebman, enquanto teoria de direito abstrato,
abstrai, elimina a contingência da sentença possivelmente favorável ou
desfavorável, é o direito de obter a prestação jurisdicional, de modo que, quando
o Estado atua e proclama o sim ou o não, ele presta a jurisdição. Esse é o sentido
de competência da teoria abstrata de ação, independe da existência de um direito
material que é exatamente o que o Estado vai apurar porque diz a teoria abstrata
que se o Estado se propõe a dar a cada um o que é seu é claro que ele tem que
examinar cada caso que lhe é trazido para dizer se há ou não há, e dizer se há ou
não há não elimina a tipicidade que é dar a cada um o que é seu. Não dá porque
não existe não é obter a prestação jurisdicional?
A teoria do direito concreto leva a reconhecer em conseqüência que se em
cada caso concreto o direito de ação só existirá se houver o direito alegado só
reconhece a presença do direito de ação na sentença favorável, enquanto a teoria
do direito abstrato elimina essa contingência. O que Liebman vai fazer? Ele vai
dizer, de acordo com os ensinamentos de Adolph Hach, que há o Direito
Constitucional de ação, mas que esse direito é muito genérico e abstrato para
explicar que o Estado tenha em todo e qualquer caso que prestar a jurisdição.
Tem que haver um joeiramento prévio, uma triagem preliminar, uma atividade do
Estado, ele dizia que nessa fase o Estado era meramente administrador, para
reconhecer que existe, com o fundamento do direito condicional, o direito
processual de ação. Ai sim seria um direito condicionado. Então ele diz que o
direito condicional de ação é fundamento para o direito processual de ação. Mas
esse direito processual de ação só existe atendidas, em cada caso concreto,
determinadas condições. Enquanto o direito constitucional de ação é um direito
incondicional o direito processual de ação é um direito condicionado, mas tem
fundamento no direito constitucional de ação.
No Primeiro Momento, quando ele reconhece a existência de um caráter
fundamentológico do direito constitucional de ação, ele está sendo abstrato, ele
reconhece a resistência do direito constitucional de ação que é fundamento do
direito processual a de ação. Por que ele é abstrativista nesse momento? Porque
o direito constitucional de ação é incondicional, ou seja, genérico e abstrato.
Existe permanentemente em favor de cada cidadão perante o Estado, mas não é
por conta desse principio simplesmente que o cidadão pode e o Estado está
obrigado a presta a jurisdição.
No Segundo Momento, o Estado só está obrigado a presta a jurisdição em
cada caso concreto se atendidas determinadas condições, então o direito
processual de ação é um direito condicionado. Ai sim, se atendidas as condições,
o individuo tem o direito processual de ação. E o que é pra ele ter esse direito? É
direito a ter o julgamento do mérito. Ou seja, a prestação jurisdicional. Isso é o
direito processual de ação. No primeiro momentos seria a atividade
administrativa, onde o Estado vai examinar para saber se está obrigado ou não a
atuar no exercício da jurisdição. Estando presentes as condições, o cidadão tem o
direito ao julgamento do mérito. Nesse momento, Liebman é concretista.
Mas esse julgamento do mérito é só o direito ao julgamento não tendo
direito ao julgamento favorável do mérito. Pode ser favorável ou desfavorável.
Esse é o terceiro momento em que ele é novamente abstrativista.
Agora vamos supor que de cada caso concreto a parte tem que atender as
condições da ação. E se a parte não atender? Ele vai dizer que a parte não tem o
direito processual de ação. É a carência de ação. Autor é carecedor de ação. Ou
seja, ele não tem o direito a prestação processual. Então o juiz deve extinguir o
processo sem o julgamento do mérito porque o Estado – administrador viu que
não tinha qualquer das condições e não tem o direito processual de ação. Nesse
caso, o Estado nem prestou a jurisdição. Essa opinião de Liebman que essa
atividade é administrativa e não jurisdicional não prevaleceu e os não – ecléticos
admitem que o Estado exerça a função jurisdicional, por conta do próprio
principio do direito constitucional de ação e pela afetação necessária dos fatos
alegados como um conflito de interesses, de modo que estaria afetada pela
jurisdicionalidade.
Quais são as condições da ação? Em que consiste o ecletismo da teoria da
ação de Liebman? Porque ela é eclética? Como Liebman concilia a teoria do
direito concreto com a teoria do direito abstrato de ação? Em que momento
Liebman é concretista na sua teoria da ação? Em quem momento ele é
abstrativista? O que é a possibilidade jurídica do pedido? O que é o interesse de
agir no direito processual? O que é legitimidade ad causam (para a causa)?

Condições da ação

1. Possibilidade jurídica do pedido;


2. Interesse de agir/processual

 Necessidade
 Adequação.

3. Legitimidade ad causam (para a causa das partes).

Possibilidade jurídica do pedido - entende-se a admissão pelo


ordenamento a espécie de provimento buscado. Porque muitas vezes o
ordenamento pré-exclui determinadas espécies de pedidos. Então não é o caso de
procedência ou improcedência do pedido feito, e sim, se o ordenamento admite
ou não a espécie do provimento buscado. Aqueles tipos de provimento.
Ex: Eu entro com uma ação para obter a rescisão do contrato de locação e
a restituição do imóvel alugado por falta de pagamento. Esse tipo de pedido, essa
espécie de pedido, vejam que eu não estou considerando se naquele caso é ou não
procedente o pedido, estou considerando que o pedido reflete uma espécie de
provimento que eu tenho que saber se o ordenamento permite ou não. O
ordenamento permite ou pré-exclui a ação de despejo? Permite. Então o pedido é
juridicamente possível.

Ex: o jogo de aposta, essa espécie de pedido, o pagamento de divida de


jogo, é possível ou é pré- excluído no nosso ordenamento jurídico? Esse pedido é
juridicamente impossível.

Agora vejam, o pedido da ação de despejo é possível não é? Então isso é


um pedido juridicamente possível, ai o juiz vai julgar o mérito e vai vê que o réu
já pagou os alugueis, então o juiz vai julgar improcedente o pedido. O pedido é
juridicamente possível porque a espécie de provimento é admitida, mas ele é
improcedente no julgamento do mérito. Então não procedente e improcedência
do pedido com impossibilidade ou possibilidade jurídica do pedido.
Eu posso pedir isso especificadamente na prova. Qual a diferença entre a
impossibilidade do pedido e a procedência do pedido?

O interesse de agir ou o interesse processual – é preciso que haja a


necessidade da prestação jurisdicional. A parte precisa, para a satisfação da sua
pretensão, da intervenção do Estado na prestação jurisdicional.

Ex: eu tenho um conflito que o instituto me nega a aposentadoria. Então eu entro


com a minha prestação insatisfeita alegando meus direitos para que aquilo possa
ser atendido judicialmente, já que eu não posso pratica atos de autotutela e não
obtive a autocomposição nem a arbitragem. O órgão judiciário é o único que
pode me da a satisfação da minha pretensão, eu tenho a necessidade da prestação
jurisdicional. E é importante saber também que essa necessidade pode existir ao
inicio do processo e desaparecer durante o seu curso. Pode haver um desfalque
de uma condição da ação no curso da demanda.
Ex: Eu entrei com o pedido e o INSS e durante 1 ano não me respondeu.
Então eu vou à via judicial, porque eu não preciso esgotar a via administrativa
para entrar com um pedido judicial. No curso do processo, vem a ação de que a
minha aposentadoria foi concedida. Então se diz que a ação perdeu o objeto, ou
seja, não há mais necessidade da prestação jurisdicional, ela se tornou inútil.

Ao lado da necessidade eu também preciso aferir a adequação porque os


remédios jurídicos processuais, as espécies de caminhos que eu devo percorrer
no processo perante o Estado podem não levar aquilo que eu quero. Então tem
que haver uma adequação entre a via eleita, a espécie de ação escolhida e o tipo
de provimento que eu quero obter. É preciso que seja adequado porque senão o
Estado trabalhará inutilmente.

Ex: você entra com um mandado de segurança exigindo a restituição do


indébito tributário, o juiz não vai poder lhe dar isso pelo mandado de segurança.
Você vai seguir o caminho errado em que o Estado ao final não pode lhe dar
aquele tipo de provimento porque no mandado de segurança o Estado só poderá
lhe dar a correção de um ato de autoridade contra um direito liquido e certo.

Legitimidade ad causam (para a causa) – também chamada de


legitimidade de parte. Significa que as partes (autor e réu) na relação processual,
devem corresponder aos sujeitos na relação jurídica discutida. Ou seja, quem
devem ser partes na ação de despejo? Locador e locatário. Na de divorcio, os
cônjuges entre si, e assim sucessivamente. Ou seja, autor e réu são sujeitos na
relação de direito material. Deve haver essa coincidência entre os sujeitos da
relação material e os sujeitos da relação processual. Essa legitimidade ad causam,
estamos falando da legitimidade ordinária, mas existe exceções pois a lei
estabelece a legitimação extraordinária, ou seja, pessoas que pode litigar em juízo
a favor de direito alheio. Ninguém pode pleitear em favor de direito alheio,
exceto quando autorizado por lei. Isso consta no Código de Processo Civil no art.
6º.

Ex: o Ministério Público, Sindicato, etc.

Então atendidas essas condições a parte tem o direito processual de ação.


Aí o Estado vai prestar a jurisdição no sentido do julgamento do mérito, podendo
este ser favorável ou não. Faltando qualquer dessas condições o autor é carecedor
de ação, ou seja, não tem o direito processual de ação. O que significa ser
carecedor de ação? É não ter o direito processual de ação, é no caso concreto não
ter ficado demonstrado todas as condições para a existência da ação. As
condições de ação são condições de existência para a ação e não de exercício.
Em síntese, Liebman é eclético porque concilia a teoria do direito abstrato de
ação com a teoria do direito concreto de ação. E são três momentos bem visíveis:
no primeiro momento ele é abstrato porque reconhece o direito constitucional de
ação genérico e abstrato e condicionado, mas mesmo assim é fundamento do
direito processual de ação. Mas em cada caso concreto só existe o direito a
prestação jurisdicional, ou seja, o direito processual de ação, se presente as
condições determinadas. É um direito, portanto, relacionado ao caso concreto
trazido e condicionado. Presentes as condições existe o direito processual de
ação, ou seja, o direito ao julgamento do mérito, mas esse julgamento pode ser
favorável ou desfavorável. Nesse momento, ele passa a ser abstrativista quando
ele elimina a contingência de ser somente favorável a decisão, pois ele tem
direito ao julgamento podendo ser favorável ou não.

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