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FÍSICA

PARA

FILÓSOFOS
Ernesto von Rückert
FÍSICA PARA
FILÓSOFOS
(em preparo)
ERNESTO VON RÜCKERT

FÍSICA PARA
FILÓSOFOS

VIÇOSA, MINAS GERAIS


2018
Copyright © 2018 – Ernesto von Rückert

Ficha Catalográfica

Rückert, Ernesto von, 1949 –


R279f Física para Filósofos / Ernesto von Rückert
Viçosa: Edição do Autor, 2018.
xii + 149p.; 21 cm

ISBN (em preparo)

1. Física. 2. Filosofia. I. Título

CDD 869
CDU 86
ΑΓΕΩΜΕΤΡΗΤΟΣ ΜΗΔΕΙΣ ΕΙΣΙΤΩ
SUMÁRIO
SUMÁRIO ix

1. INTRODUÇÃO 1
1.1. Noção de Filosofia 1
1.2. A busca da Sabedoria 3
1.3. Intercessão com a Ciência 5
1.4. Consolidação da Cultura 8
1.5. Cultivo da Inteligência 11
1.6. Necessidade da Física 12

2. ONTOLOGIA FÍSICA 14
2.1. Significado da Física 14
2.2. Objeto da Física 15
2.3. Método da Física 17
2.4. Divisão da Física 20
2.5. Concepção Adotada 21
2.6. Alguns pressupostos 23
2.7. O modelamento físico-teórico da realidade 24
2.8. Teoria e Experiência 25

3. ESPAÇO E TEMPO 26
3.1. O tempo e a poesia da ciência 26
3.2. Espaço e tempo 26
3.3. A gênese do espaço e do tempo 27
3.4. Física, Geometria e Álgebra 28
3.5. As dimensões do espaço 29
3.6. Referencial 30
3.7. Afinidade 30
3.8. Metricidade 32
3.9. Espaços curvos e torcidos 33
3.10. O sentido do fluxo do tempo 34
3.11. A quantização do tempo 34
3.12. A medida do tempo 35
3.13. A relatividade do tempo 36
3.14. Tempo físico e tempo psicológico 36
3.15. Tempo, música e literatura 37
3.16. Espaço-Tempo 37

ix
4. MOVIMENTO DE TRANSLAÇÃO 39
4.1. Vetores 39
4.2. Conceituação de Movimento 41
4.3. Trajetória, percurso e deslocamento 42
4.4. Velocidade 43
4.5. Aceleração 45
4.6. Movimento relativo 47

5. DINÂMICA DO MOVIMENTO 50
5.1. Inércia e referencial inercial 50
5.2. Interação, massa e força 50
5.3. Referenciais não Inerciais 53
5.4. Momento Linear e Impulso 53

6. MOVIMENTO DE ROTAÇÃO 55
6.1. Velocidade e aceleração angulares 55
6.2. Translação e Rotação 56
6.3. Dinâmica da Rotação 57
6.4. Momento Angular e Impulso Angular 59

7. LEIS DE CONSERVAÇÃO 61
7.1. Conservação do Momento Linear 61
7.2. Conservação do Momento Angular 61
7.3. Trabalho 62
7.4. Energia 64
7.5. Energia Cinética 65
7.6. Energia Potencial Erro! Indicador não definido.
7.7. Energia Interna, Externa eTotal 67
7.8. Energia Mecânica e Térmica 69

8. GRAVITAÇÃO 71
8.1. Peso e Campo Gravitacional 71

9. FENÔMENOS TÉRMICOS 72

10. ELETROMAGNETISMO CLÁSSICO 76

11. ONDAS E SOM 77

12. LUZ 78

13. RELATIVIDADE RESTRITA 79

14. COMPORTAMENTO QUÂNTICO 80


14.1. Sucesso da Física Quântica 80
14.2. Mecânica Clássica 81
14.3. Mudança de Concepções. 82
14.4. O Conceito de Campo 83
14.5. Radiação e Ondas 83
14.6. O Surgimento do Quantum 84
14.7. Ondas Materiais 85
14.8. A Mecânica Ondulatória 86
14.9. Medida das grandezas. 86
14.10. Valor esperado 87
14.11. Princípio da Incerteza 88
14.12. Princípio da Correspondência 89
14.13. Equação da Continuidade 89
14.14. Diferença Notável 90

15. FÍSICA ATÔMICA E NUCLEAR 91


15.1. A Estrutura do Átomo 91

16. MATÉRIA CONDENSADA 92

17. PARTÍCULAS ELEMENTARES 93

18. RELATIVIDADE GERAL 94

19. GRAVITAÇÃO E COSMOLOGIA 95

20. UNIFICAÇÃO DAS INTERAÇÕES 96

21. CIENTIFICIZAÇÃO DA FILOSOFIA 97


21.1. Filosofia Científica 97
21.2. O modelo da Física 98
21.3. A permanência das escolas na Filosofia 99
21.4. O “Salto de Fé” científico 100
21.5. Matemática, uma ciência experimental 100
21.6. Psicologia 101
21.7. Exatidão das ciências 102
21.8. Corte epistemológico 102
21.9. O método científico 103
21.10. Ética Científica 104

APÊNDICE 1 – MATEMÁTICA 106

APÊNDICE 2 – SISTEMA INTERNACIONAL 107

APÊNDICE 3 – CONSTANTES 108

APÊNDICE 4 – QUESTÕES 109


Questões Abertas 109
Questões Fechadas 110

xi
BIBLIOGRAFIA (incompleta) 124

GLOSSÁRIO (em elaboração) 126

ÍNDICE REMISSIVO 149

ÍNDICE ONOMÁSTICO 150


1. INTRODUÇÃO

1.1. Noção de Filosofia

A Filosofia é erroneamente considerada por muitos como uma ciência


humana. Ela não é uma ciência, mas uma metaciência. Abarca tudo o que pode
ser cogitado pelo intelecto, seja ou não conhecimento científico. Em se tratando
de ciência, abrange todas: exatas, biológicas, geológicas, humanas, sociais e o
que mais seja, além de se dedicar à consideração de toda e qualquer atividade,
cognitiva ou não, como o trabalho e os relacionamentos. Cuida também das lin-
guagens, dentre elas a matemática, dos valores, do sentir, do agir e do fazer,
como no caso das artes, a par do pensar e do falar. O filósofo, logo, tem que ser
possuidor do mais vasto e eclético cabedal de saberes, não tão superficial assim,
além de, é claro, dominar com maestria seu "metiê" filosófico propriamente dito.
Assim ele não é, absolutamente, um profissional da área humanística, mas de
todas as áreas.
Filosofia é um complexo que engloba uma atitude, uma atividade, um
corpo de conhecimentos e uma arte. É a atitude de ser sempre questionador, é a
atividade de refletir sobre a realidade, é o conhecimento que esta atitude e esta
atividade produzem e a arte de proceder a esse afã e bem usar seu resultado. O
conhecimento filosófico não é vulgar nem científico porque vai além, uma vez
que é crítico. A Filosofia não prescinde da ciência, mas a supera, pois, inclusive,
discute sua própria validade e traça as diretrizes de como fazê-la. Filosofar, mais
do que citar filósofos, cujo estudo, sem dúvida, é de alta relevância, é assimilar
tudo o que disseram para formular as próprias considerações e formar a visão
pessoal de mundo, que, a todo o momento, vai sendo reconstruída.

Filosofar é debruçar-se sobre a realidade em todos os seus aspectos


(lógico, matemático, geométrico, físico, astronômico, cosmológico, geológico,
químico, biológico, psíquico, social, econômico, ético, político, cultural, artístico,
linguístico, científico, tecnológico, metafísico, espiritual e qual outro seja); assi-
milar seu conteúdo, refletir sobre ele, informar-se o máximo possível sobre o
que já disseram filósofos, cientistas, literatos, a humanidade enfim, e daí tirar
suas próprias conclusões, contestando o que se considerar incorreto; formular

1
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

conceitos que descrevam de forma adequada a realidade assimilada, delimi-


tando sua esfera de aplicabilidade; fazer levantamentos e experimentos no que
for pertinente e possível, para verificar as relações existentes entre aquilo que
os conceitos representam nas várias categorias existentes; formular hipóteses
que proponham explicações para as relações obtidas; deduzir consequências a
partir dessas hipóteses; testar a validade e veracidade das conclusões achadas,
reformulando as hipóteses, caso as conclusões não se adequem à realidade e ar-
ticular argumentos que defendam o resultado concluído e sejam capazes de se
opor às explicações alternativas existentes e verificadas errôneas. Procurar as
palavras mais adequadas, analisar sua semântica, suas limitações de aplicabili-
dade e expressar as conclusões em um linguajar acessível não apenas ao especi-
alista, mas à pessoa comum, com certo grau de cultura. Antes de qualquer afir-
mação, porém, é preciso dizer em que sentido cada palavra está sendo empre-
gada, pois grande parte das discussões filosóficas é puramente semântica. Essa
é a metodologia científica que proponho seja também aplicada à Filosofia, para
que esta deixe o patamar de uma esfera de conhecimentos baseada em pontos
de vista pessoais e se coloque como um corpo objetivo do saber, independente
de escolas de pensamento. O capítulo 21 deste livro será dedicado a essa pro-
posta de abordagem metodológica do fazer filosófico.
Nisso tudo, é mister ter desenvolvido os conhecimentos, habilidades e
competências filosóficas que o estudo formal propicia. Mas é preciso ir além do
costume de se fazer apenas o estudo crítico da produção filosófica de algum au-
tor ou escola e ter a ousadia de propor sua contribuição pessoal, ou mesmo,
quem sabe, criar uma escola. O ideal é que a Filosofia se dispa de qualquer ró-
tulo, escola ou adjetivação, isto é, que se apresente em toda beleza de sua nudez,
pois assim é que poderá ser admirada em sua verdade e esplendor.
Deleuze está certo, em parte, pois filosofar não é apenas construir con-
ceitos. Certamente que isso é um dos mais importantes aspectos da Filosofia,
mas não é o mais importante. Os conceitos são arbitrários. Um conceito é uma
atribuição de significado a um significante, limitando-o de forma a se saber a que
se aplica e a que não se aplica. Isso é necessário para se fazer uma imagem re-
presentativa da realidade, em todos os seus aspectos, para que se possa discor-
rer sobre ela com o uso da linguagem, que é a única maneira racional de se poder
fazer compreender o modo como se apreende essa mesma realidade. Mas o fun-
damental é investigar as relações que aquilo que esses conceitos significam
guarda com todo o resto, no mundo real objetivo. O cerne da Filosofia é justa-
mente refletir e especular sobre essas relações e propor modelos mentais que
as representem em termos dos conceitos formulados. Mas é preciso se proceder
a uma verificação fatual ou a uma comprovação lógica, que, em última instância

2
INTRODUÇÃO

se baseia em evidências fatuais, que valide as hipóteses formuladas, na realidade


objetiva do mundo. Não me refiro apenas ao mundo natural, mas também ao
mundo das abstrações, das normas, dos valores. Quando Kant postula a existên-
cia de juízos sintéticos a priori, é preciso entender o que ele quer dizer com “ju-
ízo”, “sintético” e “a priori”, para compreender o significado disso. Mas não só. É
preciso investigar se, de fato, existe tal tipo de coisa. Isto é, construir a Filosofia,
que precisa adotar critérios científicos de validação de suas proposições. Assim
ela se libertará da existência de escolas de pensamento e se tornará uma disci-
plina que descreva as razões primeiras e necessárias de tudo o que existe, qual-
quer que seja a ordem considerada. Nisso se inclui lógica, ética, estética, episte-
mologia, política e, inclusive, metafísica, que não é nada famigerada, até mesmo
em seu capítulo principal, a ontologia.
Ao filosofar, o importante não é citar quem disse isso ou aquilo, mas
debater o que é dito, não importa por quem. Ler muitos textos de vários filóso-
fos, concentrando-se no conteúdo. Então fazer uma apreciação das diferentes
abordagens e explicações de dado fato e tirar a conclusão pessoal, procurando
refutá-la para ver se é suficientemente bem estabelecida. Depois, buscar argu-
mentos que a possam defender. Nesse processo, certamente que se usa bastante
a intuição, mas é preciso munir-se de argumentos lógicos. O que não é impor-
tante é saber se a conclusão segue tal ou qual corrente de pensamento. A Filoso-
fia precisa se despir de adjetivos e procurar chegar a um consenso, como o fazem
muitas ciências, inclusive quanto às definições dos termos empregados. Por isso,
antes de se iniciar qualquer discussão, os debatedores precisam fazer um acordo
sobre o que estão entendendo por cada palavra. Se não houver consenso, que
sempre se mencione em que acepção o termo está sendo usado.

1.2. A busca da Sabedoria

A Filosofia, contudo, é muito mais do que um empreendimento desti-


nado a compreender o mundo: É uma proposta de vida, uma mestra que exerce
uma função, muitas vezes assumida pelas religiões, mas muito mais bem execu-
tada pela Filosofia, que é a de propiciar um modo de apreender a realidade e de
fazer face a ela de forma a conduzir a vida com proveito, sentindo-se assim rea-
lizado e pacificado consigo mesmo. De manter a mente sempre aberta, inquiri-
dora e questionadora, sem servilismo de qualquer natureza a qualquer ideolo-
gia, credo ou facção, comprometido apenas em descobrir e fazer prevalecer a
verdade, não importa a quem ou a que possa incomodar. De pautar toda ação
por esse compromisso, em benefício da maximização da felicidade para o maior

3
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

número de seres, quiçá em detrimento do proveito pessoal. Enfim, de levar a


vida de forma virtuosa, por seus sentimentos, pensamentos, comportamentos,
opiniões, atitudes, posições e obras, jamais sendo omisso, pois sempre se tem a
ver com tudo aquilo de que se toma conhecimento.
Isso é o sentido primário da Filosofia, isto é, a busca da sabedoria. Con-
sidero que intelectual não seja apenas uma pessoa que domine vastos conheci-
mentos. Um médico, um engenheiro ou um empresário podem dominar vastos
conhecimentos sem serem intelectuais. O intelectual é aquele que tem conheci-
mentos mais teóricos e consegue correlacionar o saber de sua área específica
com as demais áreas do conhecimento humano. O passo seguinte é ser um eru-
dito, isto é, quem domine seu campo de saber em profundidade e abrangência
superlativas. Erudição consiste, justamente, em se entender tão ampla e profun-
damente de um assunto que se seja capaz de argumentar, articular o pensa-
mento, persuadir, expor uma ideia, desenvolver um raciocínio, sempre com
grande embasamento e traduzi-lo de uma maneira inteligível para públicos de
diferentes níveis e áreas de conhecimento. Um polímata é um erudito em varia-
dos campos de conhecimento.
Já o filósofo se caracteriza principalmente por ser uma pessoa que re-
flete e questiona. Normalmente ele deve ter conhecimento de Filosofia e História
da Filosofia, e, portanto, ser um intelectual, mas não necessariamente. Alguém
pode ser um filósofo sem que seja intelectual e nem todo intelectual será um
filósofo. Uma característica do filósofo é seu amor e sua busca pelo saber e, mais
que o saber, pela sabedoria. Erudição e sabedoria são, certamente, conceitos
bem distintos, como já está mais que provado. Existem dois conceitos de filósofo.
Um amplo e um restrito. Segundo o amplo, filósofo é todo aquele que se debruça
sobre a realidade para refletir, questionando e buscando respostas, mesmo que
não as ache. Assim, não se requer nenhum tipo formal de estudo para ser-se fi-
lósofo, na concepção ampla. Na concepção restrita, um filósofo é um profissional,
com diploma universitário, mestrado e doutorado na área, detentor de um am-
plo e profundo conhecimento de tudo o que trata a Filosofia e do que disseram
os grandes filósofos, aliado à habilidade de, ele próprio, fazer uso das ferramen-
tas de raciocínio para construir sua visão da realidade, com a devida competên-
cia retórica e pedagógica para expô-la didática e convincentemente ao público.
Todavia, há casos em que a pessoa, mesmo não tendo treinamento formal em
Filosofia, se dedica a seu estudo e à elaboração de propostas filosóficas de forma
bem embasada, argumentada e articulada, de tal sorte que pode ser dita filósofa
na acepção restrita. Isso ocorreu com vários pensadores na história da Filosofia.
Em sua origem, a Filosofia era a busca da sabedoria, mais que do saber.
O filósofo é o amante da sabedoria. E sabedoria é como bem conduzir a vida, em

4
INTRODUÇÃO

harmonia com o outro e a natureza. De tal modo que se propicie a própria felici-
dade e a do outro.
Ser filósofo é, pois, saber como viver. Filosofar é, principalmente, re-
fletir sobre a vida e o Universo, procurando encontrar o sentido, a razão, o pro-
pósito de tudo o que existe. Nisso se aplica a inteligência, com grande proveito.
Mas o que se vê, inclusive nos cursos de Filosofia, é uma busca de erudição vazia,
um acúmulo de informações sobre tudo o que disseram os filósofos, mas, nem
sempre, de modo a usar todo esse conhecimento na construção da vida. Filósofo
é aquele que filosofa e não o que sabe tudo o que os filósofos disseram. Parece
que os cursos de Filosofia optaram por não formar filósofos, mas apenas “enten-
didos em Filosofia”. É preciso romper com isso e ter a coragem de possuir e ex-
pressar suas próprias ideias, de contestar os filósofos por si mesmo e abrir a
mente para todas as possibilidades. Isso é sabedoria, desde que seja acompa-
nhada do testemunho da própria vida.
Chego, agora, ao sentido original da Filosofia, que é a busca da sabedo-
ria. Sábio é aquele que usa o conhecimento que tem, que pode ser muito ou
pouco, sua inteligência, sensibilidade e vontade, de modo proveitoso e ade-
quado, isto é, de forma a acarretar a maximização da felicidade do maior número
de pessoas e, em tudo, ser justo, equitativo e respeitoso do direito alheio, inclu-
sive dos seres irracionais e inanimados. Principalmente, é quem age sempre co-
locando a bondade como primeira prioridade. Sim, porque ser bom é mais vali-
oso do que ser justo e honesto, pois o justo e o honesto podem ser frios e calcu-
listas, mas o bom é sempre justo e honesto, e, portanto, sábio. Se o sábio for tam-
bém erudito então temos a pessoa humana com as melhores qualidades que se
pode encontrar, pois ela será também modesta e virtuosa em todos os outros
aspectos. É o ideal do filósofo da Grécia antiga ou do “santo” dos primeiros cris-
tãos. Isso não significa que seja casmurro. Certamente o verdadeiro sábio é ale-
gre e jovial.

1.3. Intercessão com a Ciência

Uma das questões mais delicadas no empreendimento de filosofar re-


fere-se à intercessão que ele possui com a construção da Ciência. A Ciência é um
corpo de conhecimentos a respeito da realidade natural, social ou cultural, ob-
tido de forma controlada e garantida, e sistematizado em uma linguagem adrede
configurada. Para efeito de melhor compreensão, a Ciência é compartimentali-
zada em ciências particulares, em função de seu objeto de estudo, ficando claro
que há inúmeras intercessões entre elas. A simples existência dessa divisão já

5
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

provoca problemas na conceituação usada por cada uma para descrever seu ob-
jeto de estudo, que podem demandar infindáveis discussões, uma vez que cor-
rentes distintas costumam não transigir em seu ponto de vista. Isso não se refere
apenas a conceitos, mas à própria caracterização ontológica do objeto de estudo,
sem falar nas abordagens metodológicas.
Na antiguidade greco-romana, as ciências constituíam parte do corpo
da Filosofia, fato que perdurou até início da Idade Moderna, quando as ciências
particulares começaram a se tornar independentes e, no século XIX, firmaram-
se de direito próprio, o que também permitiu à Filosofia definir seus contornos.
Passaram a serem considerados temas filosóficos aqueles que não pudessem ser
abordados cientificamente por um método experimental, mesmo considerando
que a experimentação ou a observação fossem apenas o modo de se verificar a
validade ou não de hipóteses formuladas na forma de modelos teóricos explica-
tivos dos fatos, naturais ou não. Nas concepções mais recentes da metodologia
científica, não se faz menção sobre os procedimentos para que sejam formuladas
as hipóteses a serem testadas. Se o assunto não puder ser submetido a tal tipo
de abordagem, trata-se de um conhecimento empírico ou filosófico. O conheci-
mento empírico é extraído da observação cotidiana, sem que se busque explica-
ção, o que não significa que não possua extrema utilidade, especialmente na vida
prática. Já o filosófico procura razões, propósitos e relações, a se estabelecer
para e entre os elementos envolvidos de diversas categorias, que também se
busca delimitar e conceituar. Mas essa busca se dá de uma forma diferente da
científica. Não é pelo teste experimental de hipóteses e sim pela análise, reflexão,
raciocínio e síntese, que levem a formular juízos sobre a realidade em seus as-
pectos filosóficos. Esses procedimentos são fortemente influenciados pela con-
cepção de mundo particular do filósofo e pelo esquema pessoal que ele elabora
para modelar mentalmente a realidade. Tal característica leva à formulação sis-
temas de juízos distintos sobre um mesmo tema, o que provoca a existência de
“Escolas de Pensamento” que propõem explicações diferentes para as mesmas
ocorrências. Há grandes dificuldades em se decidir por qual explicação, de fato,
reflete a verdade, pois não há critérios supra filosóficos para dirimir os antago-
nismos. Nesse ponto a Filosofia se distancia das ciências, pois estas buscam um
consenso e ele é achado pela verificação experimental das consequências testá-
veis que cada tipo de explicação científica pode fornecer.
São considerados temas filosóficos os que concernem à categorização
dos elementos da realidade e o estudo de suas estruturas e relações, que é a Me-
tafísica; ao estudo das ocorrências mentais, que é a Psicologia Filosófica; ao es-
tudo do processo da busca do conhecimento e de sua validação, que é a Episte-

6
INTRODUÇÃO

mologia; à metodologia do raciocínio e da argumentação, que é a Lógica; ao es-


tudo dos valores aplicáveis às ações humanas, que é a Ética; ao estudo dos valo-
res aplicáveis ao fazer humano, que é a Estética e ao estudo da organização da
sociedade, que é a Filosofia Política.
Aliás, é pela capacidade de permitir sua validação, submetendo-se a
testes que procurem invalidá-la, que uma hipótese explicativa é considerada ci-
entífica, critério denominado falseamento. As explicações filosóficas, não sendo
falseáveis, assemelham-se às mitológicas e religiosas, com a diferença que estas
não são provenientes de nenhum processo de reflexão e raciocínio, sendo, inclu-
sive, refratárias a qualquer tipo de contestação, dentro do arcabouço de sua va-
lidade. As filosóficas sempre são passíveis de revisão e, aliás, é isto que tem pro-
vocado a linha histórica de evolução do pensamento filosófico, uma vez que cada
escola e os filósofos que as fundam ou seguem, contestam as explicações até en-
tão disponíveis e propõem a sua, que consideram definitiva. Todavia parte da
comunidade filosófica continua seguindo outras explicações, não havendo o fe-
nômeno do “corte epistemológico” que há na ciência, pelo qual, cada nova expli-
cação derruba a anterior, que deixa de ser válida, pelo menos de forma ampla,
podendo ainda ser aplicada a casos particulares. Algumas ciências também exi-
bem tal fenômeno e, por isto, ainda não se situam no estatuto de credibilidade
da Física, da Química, da Biologia, da Geologia ou da Astronomia, por exemplo,
como é o que acontece com a Psicologia, a Sociologia, a Economia e algumas ou-
tras.
Além do conhecimento mitológico, religioso, empírico, científico e filo-
sófico, tem-se o conhecimento técnico, que, com base em conhecimentos cientí-
ficos e, mesmo, empíricos, constrói um corpo de saberes práticos, todavia fun-
damentados e sempre revistos, que permitem atuar sobre a realidade de forma
a modificá-la de modo utilitário, como é o caso da Medicina, das Engenharias, da
Agronomia e outros campos assemelhados. Para completude é importante men-
cionar a existência de pseudociências, que, apresentando um aspecto científico,
todavia não são falseáveis, como é o caso da Astrologia, Homeopatia, Parapsico-
logia, Numerologia, Criacionismo e, para muitos, a própria Psicanálise, além de
outras. A maioria delas oferece explicações patentemente errôneas, mas, muitas
vezes, podem propor abordagens verificadas válidas na prática, em certos casos,
mesmo sem poderem ser falseadas, como a Acupuntura, a Psicanálise e a Home-
opatia.
É preciso, contudo, não confundir as pseudociências com as protociên-
cias, que são sistemas de conhecimento em fase de passagem para um estágio
científico, em que suas proposições hipotéticas estão em fase de verificação para

7
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

se tornarem teorias universais, não se furtando ao falseamento e nem preten-


dendo se estabelecer como um corpo acabado de conhecimentos inatacáveis,
que é característico das pseudociências. Tal é o caso da Meteorologia, da Neuro-
ciência, da Psicologia, da Pedagogia, da Sociologia e da Economia.

1.4. Consolidação da Cultura

A compartimentalização dos conhecimentos levou as pessoas a se es-


pecializarem exageradamente, a um nível tão alto que engenheiros e médicos,
por exemplo, se desculpam por não saber História e Geografia ou por escreve-
rem mal, porque essa não é sua área, da mesma forma que advogados conside-
ram que não precisam conhecer Química ou Biologia, pois não mexem com isto.
Não estou falando de conhecimentos num nível profissional, mas no nível que é
fornecido no Ensino Médio para quem for fazer curso em qualquer área de co-
nhecimento. Isso é absurdo! O conhecimento universal no nível do Ensino Médio
tem que ser obrigatório para quem quer que tenha um nível superior, não im-
porta a área.
O Ensino Médio peca, até, por ser insuficientemente abrangente, pois
muita cultura geral não é abordada, como literatura internacional, música, artes
plásticas, cinema. Não se aprende retórica e dialética, teatro e canto, pintura e
escultura, tocar instrumentos musicais, como não se aprende noções de Geolo-
gia, Astronomia, Meteorologia. A Filosofia e a Sociologia agora fazem parte do
currículo, mas, e a Psicologia? Outra falha é a de não serem passadas habilidades
e técnicas de extrema utilidade, como dirigir automóveis, noções de eletrotéc-
nica, mecânica, hidráulica, construção civil, marcenaria, eletrônica, culinária,
corte e costura, digitação, informática com certo aprofundamento e, principal-
mente, inglês e outra língua, num nível de proficiência impecável. Tudo isso são
assuntos que podem muito bem dar conta de se ver entre o sexto ano do Ensino
Fundamental e a terceira série do Ensino Médio, desde que toda escola o seja em
tempo integral, como deve ser, e que se abandone a fixação pela obtenção de
notas e por saber só o que cai nos exames de seleção para admissão ao nível
superior.
A consequência é a formação de pessoas com graves déficits culturais,
que atuam em várias áreas sem uma noção ampla e razoável do mundo em que
se encontram inseridas. Mesmo quem se considera uma pessoa culta pode pa-
decer desse tipo de problema.

8
INTRODUÇÃO

Costuma-se entender por cultura (não na acepção antropológica) um


cabedal de erudição linguística, literária, poética, histórica, filosófica, psicoló-
gica, sociológica, econômica, política, administrativa, empresarial, jurídica, reli-
giosa, musical, teatral, cinematográfica, artística ou de outras áreas das ditas
“humanidades”. A pessoa culta, ou intelectual é considerada ser alguém versado,
fluente, articulado e capaz de bem argumentar sobre esses temas em qualquer
discussão. Todavia não lhe é exigido e nem lhe é imputado como demérito, na
qualidade de intelectual, não entender de ciências como Matemática, Estatística,
Física, Química, Cosmologia, Astronomia, Geologia, Meteorologia, Geografia, Bi-
ologia, Genética, Evolução, Medicina, Neurociências, Agronomia, Zootecnia, Me-
cânica, Eletrônica, engenharias e tecnologias em geral.
Essa é uma terrível inversão de valores, que leva a sociedade a ter uma
visão incompleta e, até mesmo, distorcida, da realidade do mundo em que se
encontra inserida. Pelo menos no nível do Ensino Médio, é preciso que advoga-
dos, negociantes e todos que lidam com as humanidades tenham sólidos conhe-
cimentos de ciências exatas e biológicas; que médicos, dentistas e quem mexa
com ciências biológicas o tenham em exatas e humanidades da mesma forma
que engenheiros, físicos e técnicos da área de ciências exatas transitem facil-
mente nas humanas e biológicas. Repetindo, no nível do Ensino Médio, que é
simplesmente o básico para todo mundo. Sem mencionar que a fluência retórica,
dialética e textual precisa ser um domínio comum a todo cidadão.
Não sendo assim, como poderá alguém emitir uma opinião embasada
sobre qualquer tema candente que envolva conhecimento fora de sua área es-
pecífica? Como saber se o desvio do Rio São Francisco é bom ou mal? E o uso de
células tronco embrionárias? E a responsabilidade humana pelo aquecimento
global? Quem não entenda o básico desses assuntos ficará à mercê das opiniões
de especialistas ou oportunistas, que defendem, muitas vezes eristicamente,
suas posições, numa babel desconcertante de possibilidades.
O fato de não ser da sua área não é desculpa para não entender análise
sintática, logaritmos, progressões geométricas, termodinâmica, eletrônica, bio-
química, genética, Oriente Médio, “El niño”, mais valia, silogismo ou o que for. E
quanto ao Inglês, não se pode admitir que alguém que possua nível superior,
pelo menos, não seja capaz de ler sem problemas um texto em Inglês, senão não
vai conseguir fazer nenhuma busca relevante de conteúdo pela internet.
Para isso é que o ingresso nas universidades pede um exame geral do
todos os conteúdos. Aliás, é o que bastaria, sendo inteiramente dispensável uma
avaliação por área de estudo. O ingresso ao Nível Superior precisa apenas ava-
liar a saída do Nível Básico. Mas não pode se ater à exigência mínima de apenas

9
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

30%. Esse mínimo teria que chegar, pelo menos, a 60%, sendo ideal uns 80%
para capacitar alguém a fazer curso superior.
A Educação Básica, por sua vez, tanto no Nível Fundamental quanto no
Médio, nas escolas públicas e privadas, precisa cumprir a sua parte e colocar na
praça uma meninada com aproveitamento mínimo de 80% em todos os conteú-
dos, aferido de forma inteligente e honesta. Como fazer isto? Esquecendo o que
cai nos exames de seleção e praticando um processo de ensino-aprendizagem
voltado para o que verdadeiramente seja necessário para a vida. Fazer o menino
e a menina pegarem gosto pelo conhecimento de forma que eles queiram, de
fato, aprender conteúdos e habilidades, para formar competências fortemente
vinculadas às necessidades da vida, expurgando os conteúdos inúteis e fazendo
da atividade discente uma coisa lúdica, excitante, tão prazerosa como um vide-
ogame ou tão gostosa quanto namorar.
Para despertar o interesse dos alunos, em primeiro lugar, o professor
tem que dominar a fundo e de modo abrangente sua matéria. Depois, além de
boa apresentação, tem que ter o dom da oratória, da dialética (argumentação),
excelente dicção e um "mise-en-scène" em que sua aula seja uma representação
teatral. E, o mais importante: tem que ser superentusiasta e vibrador com o as-
sunto e com a atividade educacional. Tem que pôr a turma para participar ativa-
mente e não passivamente. Levantar discussões polêmicas. Esquecer o que cai
nos exames de seleção. Isso não é importante: passa quem sabe a matéria. Esti-
mular os alunos a estudar coisas extras, que não caem na prova. Não “mastigar”
tudo. Não passar “dicas” e “macetes”. Pôr os alunos para deduzir fórmulas por
conta própria. Levá-los a descobrir as coisas, os fatos e as leis por si mesmos.
Transformá-los em detetives e cientistas. Ser amigo deles, mas não um "amigui-
nho" de bebedeiras. Ser um exemplo de pessoa que eles admirem e queiram imi-
tar. Ser um farol para a vida deles, um pai ou uma mãe. E abordar especialmente
os mais arredios, dando-lhes responsabilidades e incumbências. Assim se con-
seguirá formar uma geração de jovens instruídos, hábeis, cultos, competentes,
lúcidos e conscientes, capazes de conduzir as rédeas da humanidade nos próxi-
mos tempos.
No caso da formação do filósofo, o curso se foca quase exclusivamente
no conteúdo humanista da Filosofia. Eis um imperdoável equívoco! Por tudo o
que foi dito até agora, não resta dúvida de que o trabalho filosófico requer uma
extensa cultura geral e um razoável conhecimento científico. Isso é inevitável. O
filósofo é o mais generalista dos profissionais acadêmicos. É quem “entende de
tudo” e não há como escapar de assim o ser. É preciso que ele tenha uma curio-
sidade insaciável por tudo que represente conhecimento, não só em sua área
específica. Tem que conhecer todas as artes e todas as ciências. É o intelectual

10
INTRODUÇÃO

por excelência, o pensador, o crítico de tudo o que existe, o contestador, o cria-


dor de propostas inusitadas e radicais, o porta-bandeira do progresso cultural e
do crescimento da consciência da humanidade. E, sem dúvida, tem que ser o
exemplo de pessoa de vida virtuosa, a candeia a ser colocada no alto do velador,
para espargir a luz esclarecedora do conhecimento, que espanca as trevas da
ignorância e leva à realização plena da pessoa. O filósofo é um sacerdote sem
religião, a serviço da verdade.

1.5. Cultivo da Inteligência

Acima de tudo a atividade filosófica precisa primar pelo cultivo da in-


teligência. Tinha-se a noção de que inteligência fosse um dado genético inato,
que a pessoa levasse inalterado por toda a vida. Atualmente sabe-se que não. A
genética fornece apenas as condições mais ou menos favoráveis ao desenvolvi-
mento da inteligência, mas é o exercício das faculdades mentais que leva a seu
aprimoramento. E isto pode ser feito em qualquer estágio da vida, apesar de ser
mais eficiente e eficaz logo na primeira infância. Não é o número de neurônios
no cérebro que determina a inteligência, mas o número de suas conexões. Tanto
estas quanto os próprios neurônios podem ser gerados em qualquer momento,
desde que o cérebro seja convenientemente estimulado por sensações correla-
cionadas e por desafios motores, cognitivos, emocionais e de toda ordem, envol-
vendo a interação da pessoa com o ambiente físico e social em que se insere.
Considerando que a inteligência venha a ser a capacidade mental de
raciocinar, planejar, resolver problemas, abstrair e compreender ideias e lingua-
gens e aprender, pode-se ver que ela envolve diversos fatores, como uma aguda
percepção, ótima memória, intuição elevada, emotividade, sensibilidade, imagi-
nação criativa, raciocínio, coordenação e capacidade de expressão verbal, escrita
e corporal. Todos esses fatores são passíveis de aperfeiçoamento por meio de
treinamento e exercícios adrede preparados.
É importante também saber que a inteligência se manifesta em múlti-
plos aspectos, como a linguística, a lógica-matemática, a musical, a espacial, a
motora, a interpessoal, a intrapessoal, a naturalista e a existencial, sem se esque-
cer de mencionar o fator global, pelo qual se verifica que grande parte das pes-
soas que exibem inteligência privilegiada em um de seus aspectos, também o
exibe nos demais. Uma inteligência desenvolvida é uma característica vantajosa
para a vida, por desenvolver a autoestima e a desinibição, levar a uma postura
atraente e cativante, propiciar uma visão aguçada do mundo, facilitar a solução

11
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

de problemas, fazer um questionamento do mundo, aprimorar o senso ético, au-


mentar a criatividade, a tolerância, conduzir a uma atitude benfeitora e levar ao
reconhecimento e ao sucesso, acarretando o aumento genérico da felicidade
pessoal.

1.6. Necessidade da Física

Mais do que todas as ciências é a Física que possui a maior intercessão


com a Filosofia. A razão é que a Física é a ciência fundamental da natureza e a
natureza é a base de tudo o que existe. Não existiria sociedade nem cultura se
não houvesse pessoas que delas participassem. E pessoas são entidades natu-
rais, cuja existência, constituição, estrutura e funcionamento são fatos físicos,
desde que se entenda que a Biologia seja um capítulo da Física. Mas não é só isso.
De fato, grande parte dos temas considerados filosóficos, ao longo da história da
ciência, foram, pouco a pouco, passando a objetos de estudo da Física. Tal se deu
com os modelos cosmológicos, com as noções de matéria, movimento, espaço,
tempo, bem como sutilezas como o princípio da causalidade e o determinismo,
a noção de simultaneidade, os conceitos de nada, vazio, vácuo, infinito, eterni-
dade e muito mais.
A própria estrutura das explicações é fortemente influenciada pela Fí-
sica. A opção por explicações holísticas ou reducionistas não é uma questão de
opinião, mas, em primeiro lugar, de um perfeito entendimento do que se está
entendendo por cada uma delas e, depois, por uma tomada de decisão com base
em dados observacionais. Aliás, esta é uma das questões cruciais que a Física
levou à Filosofia: a possibilidade de aplicar os métodos de falseabilidade às ex-
plicações filosóficas e se poder tirar uma conclusão independente de opiniões.
Todos esses assuntos serão discutidos neste livro, a começar pelo es-
tabelecimento de uma “Ontologia Física”, em que se categorizarão os fatos físi-
cos e se definirão e conceituarão de forma clara todas as entidades, atributos e
ocorrências de natureza física que possa haver. Apreciar-se-á a metodologia ci-
entífica usada pela Física. Então se fará uma discussão dos modelamentos da
realidade que as teorias físicas propuseram, como a Mecânica Clássica, a Termo-
dinâmica Clássica, o Eletromagnetismo Clássico, que inclui a Ótica Clássica, a Fí-
sica Estatística Clássica e a Teoria Clássica de Campos, especialmente a Dinâmica
dos Fluidos. As Teorias Relativísticas, Restrita e Generalizada serão apresenta-
das, bem como a Mecânica Quântica, a Física Estatística Quântica, a Física da Ma-
téria Condensada, a Física Nuclear e as Teorias Quânticas de Campo, que descre-

12
INTRODUÇÃO

vem os modelos de Partículas Elementares, incluindo as teorias das Supercor-


das, Branas, a Teoria M e do “Loop” Gravitacional. A abordagem será essencial-
mente conceitual, mas se fará a introdução das principais equações. Um apên-
dice matemático possibilitará seu entendimento. Especial destaque será dado às
interpretações físicas e às implicações filosóficas de todos os modelos teóricos.
Capítulos finais serão dedicados especialmente à Cosmologia e à Bio-
logia, como ciência física. A obra será encerrada com uma proposta de metodo-
logia filosófica análoga à científica. Uma extensa bibliografia, inclusive com links
da Internet, permitirá ao leitor aprofundar-se nos temas em que tiver maior in-
teresse.
Este livro não é uma tese de doutoramento nem uma obra estrita-
mente acadêmica. Assim não se verá notas de rodapé a cada inserção de alguma
ideia de outro pensador. Tudo que está sendo dito é produto do que eu mesmo
absorvi pela leitura da bibliografia citada, refleti, interpretei e exarei no meu
modo de ver, acrescido de minha contribuição pessoal. Quando faço qualquer
afirmativa, isto deve ser sempre entendido como tendo antes a observação
“Considero que...” Assim ele é, de certa forma, uma obra de opinião, apesar de
procurar, sempre, expressar aquela que passou pelo crivo da mais exigente ba-
teria de testes, que é sempre a que adoto, até que novas evidências me obriguem
a mudar. Grande parte do seu conteúdo já foi publicada nos últimos anos nos
blogs que possuo na Internet e nos fóruns de discussão de que participo, citados
na Bibliografia.
Quero agradecer a todos que debateram comigo nos tópicos, sem citar
especialmente ninguém, pois foram muitos, uma vez que suas ponderações me
fizeram refletir, ou para reforçar meu ponto de vista com melhores argumentos,
ou para mudá-lo, convencido que fui de meu erro. Agradeço especialmente à mi-
nha família e a minha esposa Fátima, pela subtração de nosso tempo de convi-
vência em troca de horas e horas de leituras, estudos, consultas e participações
em debates pela Internet.

13
2. ONTOLOGIA FÍSICA

2.1. Significado da Física

A Física é a ciência fundamental da natureza. Mas o que é a natureza?


Para começar é preciso conceituar realidade como o conjunto de tudo
o que existe, isto é, que está presente no mundo. A primeira realidade que se
percebe é a realidade mental ou subjetiva, que cada sujeito tem presente em sua
mente. São as imagens visuais, auditivas, táteis, olfativas, gustativas, térmicas,
enfim, geradas pelos sentidos, que formam ideias que, por meio da linguagem,
tornam-se conceitos. Muitos dos elementos dessa realidade são compartilhados
por vários sujeitos que, comunicando-se entre si, podem concluir que eles exis-
tem no mundo exterior a suas mentes. Tais elementos pertencem à realidade
objetiva. São os objetos, as coisas, as pessoas, os seres enfim, além dos valores,
dos fenômenos, das relações. Dentre os elementos da realidade objetiva há os
que se enquadram na categoria de se comunicarem diretamente à mente pelos
sentidos. Tais são os que pertencem à realidade natural, ou à natureza, objeto
de estudo da Física. Elementos cujo conteúdo não seja diretamente assimilado
pelos sentidos, mas requeiram interpretação mental para serem percebidos,
pertencem a outras categorias de realidades, como culturais, espirituais, deon-
tológicas, matemáticas ou outras, mesmo que sejam objetivos.
Certamente que, para se começar a construir a Física, antes de tudo é
preciso admitir, como crença não comprovada, mas extremamente plausível,
face ao testemunho cruzado de diversos sujeitos, que existem outras mentes
além da do próprio sujeito pensante, bem como um mundo exterior a essas men-
tes.
Como ciência, a Física busca descrever e explicar a natureza, isto é,
propor modelos mentais, construídos por meio de signos linguísticos, matemá-
ticos e geométricos, que propiciem uma decodificação dos elementos da reali-
dade natural em si mesma em elementos do conjunto de signos da teoria, que
são os conceitos e seus atributos, e buscar as relações correspondentes, parti-
lhadas pelos elementos do modelo entre si, com aqueles elementos da realidade
natural que eles representam.

14
ONTOLOGIA FÍSICA

2.2. Objeto da Física

Denomina-se mundo ao conjunto de todos os elementos de todas as


categorias de realidades, enquanto o conjunto apenas de tudo que seja natural é
o Universo Físico, ou, simplesmente, Universo.
A existência do Universo requer a existência de espaço e tempo, pois
tudo de natural que possa existir há que estar ocupando algum lugar e perma-
necendo por certo tempo, mesmo que mudando de lugar. Espaço é justamente o
conjunto dos lugares, isto é, das possibilidades de preenchimento e localização,
ou seja, de se estar e caber alguma coisa. E tempo é a noção que advém das mu-
danças nas configurações ou no estado, isto é, na disposição espacial do que quer
que exista na natureza ou em seu conjunto de atributos, ou ainda, em sua situa-
ção em relação às ocorrências que experimenta. Tais noções serão estendidas
em capítulo próximo. Desde já, contudo, é preciso saber que ao espaço e ao
tempo são atribuídas grandezas capazes de medi-los e que a determinação do
valor dessas grandezas exige o estabelecimento de um referencial, isto é, de um
sistema bem definido, em relação ao qual serão tomadas ditas medidas. Isto é,
um momento a ser considerado o instante zero, e uma origem, a partir da qual
serão feitas as medidas de espaço.
O Universo tem um conteúdo substancial, isto é, daquilo de que ele seja
composto. Uma importante conclusão a que se pode chegar a partir da observa-
ção e das interpretações teóricas atualmente disponíveis sobre o assunto, é de
que a substância única de que é feito o Universo é o campo. Campo não é feito
de nada mais primitivo. É dele que tudo é feito. Os demais constituintes, que são
a matéria e a radiação, que nada mais são do que concentrações quantizadas de
algum tipo de campo. No capítulo sobre cosmologia será abordado como o
campo se tornou matéria e radiação. Pode-se conceber campo como uma espé-
cie de influência que pervade o espaço. Todo o Universo é preenchido por campo
ou suas quantizações, matéria e radiação. Não existe espaço vazio no Universo e
nem fora dele, isto é, o conteúdo do Universo preenche todo o espaço existente.
O que pode haver é o vácuo, isto é, espaço não preenchido por matéria, mas sem-
pre preenchido por campo ou radiação.
Denomina-se sistema a qualquer subconjunto ou parte bem caracteri-
zada do Universo, isto é, de modo que sempre se saiba o que pertence ou não
pertence ao sistema. O próprio Universo é um sistema, o sistema global. Qual-
quer sistema natural possui vários atributos, que lhe permitem caracterizar.
Dentre os principais estão a localização, o tempo de existência, o volume, a
massa, a densidade, a distribuição de suas partes ou sua estrutura, a energia, a

15
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

temperatura, a pressão, o momento linear, o momento angular, a carga elétrica,


o momento magnético, os números quânticos e vários outros. Tais atributos,
normalmente, são associados a grandezas mensuráveis, normalmente com a
mesma denominação. Nos próximos capítulos serão esmiuçados os significados
de cada uma delas. Grandezas são expressões quantitativas das propriedades
dos sistemas, mas também de interações. As grandezas, são especificadas por
comparação com uma delas, da mesma espécie, tomada como padrão e denomi-
nada unidade. Assim a grandeza possui um valor e uma unidade. Há casos espe-
ciais, contudo, em que a grandeza não possua unidade, quando representar uma
contagem ou quando for definida por uma razão entre grandezas da mesma es-
pécie.
O conceito filosófico de ser, em Física, aplica-se, justamente, aos siste-
mas. Denomina-se configuração de um sistema ao modo como ele se estabelece,
isto é, como suas partes se dispõem espacialmente umas em relação às outras e
em relação ao resto do Universo, em cada momento, e estado do sistema ao
modo como sua configuração se comporta com relação às tendências de varia-
ção com o tempo. O estado compreende a configuração, que é estática, bem como
suas derivadas ou taxas de variação temporais de toda ordem. A configuração
são as posições e o estado, as posições, velocidades e acelerações. São os atribu-
tos de um sistema, revelados pelas grandezas que os medem, que permitem es-
tabelecer sua configuração e seu estado.
A superfície imaginária que limita o que pertence ou não ao sistema é
a sua fronteira, que pode ser fixa ou móvel, aberta ou fechada, isolada ou não.
Exemplos de sistemas físicos são o campo magnético de uma estrela,
uma galáxia, um átomo, uma nuvem, a atmosfera terrestre, um exemplar de ani-
mal, a luz solar, este livro e muitos outros. Uma empresa, entidade, estado polí-
tico ou idioma também são sistemas, mas não físicos. Neste livro, salvo menção
explicita em contrário, todos os sistemas serão físicos.
Os diferentes sistemas possíveis no Universo, normalmente estão em
constante alteração de seu estado, em razão das interações (ações recíprocas)
entre suas partes internas (subsistemas), bem como das interações com o resto
do Universo, não pertencente a eles (ambiente ou vizinhança). As alterações de
estado dos sistemas é o que, filosoficamente, se denomina movimento. Em Fí-
sica, o termo movimento se restringe a mudanças de localização. As interações
também possuem atributos, como intensidade, duração, quantidade, orientação
e outros, aos quais também se associam grandezas mensuráveis.
Os sistemas feitos de matéria que possuem identidade e uma fronteira
nítida são chamados de corpos.

16
ONTOLOGIA FÍSICA

A Física se ocupa da especificação constitutiva dos sistemas, bem como


das ocorrências que possam se dar com eles. Uma classe de ocorrências do
mesmo tipo é chamada de um Fenômeno. Os fenômenos podem ser alterações
constitutivas, estruturais (configurações) e de estado, movimentos e interações.
Para tudo isso a Física busca explicar como e porque acontece do modo que se
dá, formulando modelos matemáticos (algébricos, geométricos, topológicos e
analíticos), por meio da definição de grandezas que possam descrever suas pro-
priedades, bem como pela formulação de leis e dedução de teoremas que, dentro
do modelo, descrevam os fenômenos.

2.3. Método da Física

Um dos principais objetivos da Física é estabelecer de que modo as in-


terações promovem as alterações de estado dos sistemas. Para tal há que se de-
senvolver um modo de se descrever as interações, bem como as alterações dos
sistemas. Pode-se dizer que, de um modo genérico, toda a Física se resume ao
estudo do movimento (no sentido amplo, isto é, das alterações de configurações
e de estado) e das interações. É preciso deixar claro que não apenas se pretende
descrever como isto ocorre, mas também, porque ocorre do modo que se dá.
Alguns cientistas consideram que este último aspecto está fora do escopo da Fí-
sica, mas eu considero que não. Até onde for possível a Física precisa buscar as
razões da ocorrência de seus fenômenos. Se isto não for possível, que se deixe
em aberto como sem explicação, mas que não se proponham explicações gratui-
tas, com base em meras opiniões. As proposições que dizem como as interações
promovem as alterações de estado são as denominadas Leis Físicas.
Um evento ou acontecimento é uma alteração que se dê com algum
sistema. Tais alterações requerem que o sistema preencha certas condições, que
são situações que permitem a ocorrência do evento. Certos eventos não podem
ocorrem com o sistema em alguns estados e o podem em outros. Além disso,
muitos eventos requerem a existência de interações que determinem sua ocor-
rência. Tais interações, que também são eventos, só que envolvendo, pelo me-
nos, dois sistemas, são, então, denominadas causas, do evento em tela, que fica
denominado efeito ou consequência da dita causa. Um evento que não possua
causa é denominado fortuito, ou incausado. Ao contrário do que se pensa, não é
necessário que todo evento seja efeito de alguma causa.
Esse equívoco provém de que, na escala de tempos e dimensões dire-
tamente acessíveis aos sentidos humanos, a quase totalidade dos eventos possui
uma causa identificável. Daí, por indução, ter-se concluído que todo evento seja

17
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

um efeito. Uma conclusão induzida, contudo, não é garantida, bastando um con-


traexemplo para derrubá-la. No mundo subatômico, a todo o momento, estão
ocorrendo eventos fortuitos, como o decaimento radioativo e a emissão de fó-
tons por átomos excitados. Logo, não é verdade que todo evento seja um efeito.
Dois aspectos essenciais de um sistema, que, inclusive, são, propria-
mente, elementos constitutivos da natureza, ao lado do espaço, tempo, matéria,
campo e radiação, são sua estrutura e sua dinâmica. A estrutura de um sistema
é o modo como suas partes se ligam espacialmente, umas em relação às outras,
levando em conta a constituição de cada parte. A diferença entre os conceitos de
estrutura e configuração é que esta representa uma situação efêmera, enquanto
a primeira representa uma organização com perenidade suficiente para carac-
terizar a entidade que o sistema venha a ser. Isto é, dada estrutura pode apre-
sentar-se sob diferentes configurações, sem descaracterizar-se. A estrutura tem
características topológicas, enquanto a configuração é geométrica. Isto é, a es-
trutura se reporta ao posicionamento relativo das partes, não importando as
distâncias e orientações, enquanto a configuração ao posicionamento absoluto.
A dinâmica de um sistema é o modo como seu estado evolui no tempo
e no espaço. A dinâmica está relacionada com as interações que o sistema expe-
rimenta com o ambiente ou vizinhança (resto do Universo), bem como suas par-
tes (subsistemas) umas com as outras. A dinâmica depende das leis físicas que
descrevem o comportamento das interações e, nas teorias, é descrita, normal-
mente, por um sistema de equações diferenciais, cuja solução descreve a evolu-
ção do sistema no tempo.
O conjunto das Leis Físicas observadas na evolução dos sistemas tam-
bém consiste em um dos componentes da realidade natural, isto é, do Universo.
Note que que as Leis Físicas não são prescritivas, mas descritivas. A natureza
não se comporta do modo que o faz em razão das Leis Físicas. Ela se comporta
por conta própria e as leis descrevem como ela se comporta.
Alguns tipos especiais de sistemas são os corpos, sistemas constituídos
de matéria e as partículas. Macroscopicamente falando, as partículas são corpos
de dimensões reduzidas em relação ao tamanho da trajetória de seu movimento.
Microscopicamente as partículas são as unidades de quantizações de campos,
denominadas elementares, e neste caso, não precisam ser materiais. Tratam-se
dos quarks, dos léptons e dos bósons, entidades que serão descritas mais tarde
neste livro.
Mesmo sem se ter, ainda, abordado a Física das Partículas Elementa-
res, torna-se necessário, neste momento, fazer uma digressão sobre o conceito
de matéria. Matéria é um conglomerado de certo tipo de partículas elementares,
denominadas férmions. A característica importante dos férmions, que fazem

18
ONTOLOGIA FÍSICA

com que constituam a matéria, é a sua perenidade. Férmions não são criados
nem destruídos (exceto na interação com a antimatéria, que não será conside-
rada, por enquanto). Há dois tipos principais de férmions: quarks e léptons. A
reunião de certos quarks forma os prótons e, de outros, os nêutrons. Prótons e
nêutrons se unem para formar os núcleos atômicos. Os léptons são os elétrons,
que formam a envoltória dos átomos. Átomos se unem a outros para formar a
matéria. Características essenciais, mas não exclusivas, da matéria são extensão
e massa. A matéria forma os corpos. Sistemas não materiais são a radiação e os
campos, que não são perenes, podendo ser formados e destruídos à vontade.
Para modelar a realidade natural, a Física apela para a linguagem de
Matemática. As Leis Físicas são relações matemáticas expressas em termos das
grandezas que descrevem os atributos dos sistemas e das interações. Normal-
mente uma lei é representada por uma equação em que um dos membros des-
creve a interação e o outro as alterações que ela provoca no sistema em que age.
A obtenção das leis se dá por um processo indutivo a partir de experimentos e
observações, representados quantitativamente por grandezas operacional-
mente definidas de modo a se poderem obter resultados numéricos na avaliação
dos atributos dos sistemas e das interações. Cada fenômeno, isto é, categoria de
ocorrências do mesmo tipo que se dá, pode ser descrito por uma lei. As Leis Fí-
sicas não têm o caráter de uma determinação a ser cumprida, mas sim de uma
súmula descritiva dos resultados experimentalmente verificados. Consequên-
cias matematicamente deduzidas das leis, pelo uso das definições operacionais
das grandezas, são denominadas teoremas. Uma grandeza é dita operacional-
mente definida quando se tem uma prescrição de como obtê-la a partir de pro-
cedimentos práticos, conjugado com cálculos teóricos.
A respeito de um conjunto de fenômenos envolvendo o mesmo tipo de
sistemas e interações, é desejável apresentar um esquema explicativo consoli-
dado, que se denomina uma Teoria. Para se formular uma teoria, procura-se ob-
ter um princípio amplo, a partir do qual as leis empíricas poderiam ser deduzi-
das. Normalmente são formuladas hipóteses, das quais se tiram conclusões. Es-
tas conclusões relacionam grandezas que podem ser medidas em experimentos
e, com isto, confirmar ou não a hipótese. Hipóteses que resistem vencedoras de
todos os testes de validação, enquanto assim permanecem, constituem as teo-
rias, isto é, os corpos de explicações e descrições aceitas pela ciência como os
modelos verdadeiros de descrição da realidade, em termos dos conceitos for-
mulados.
Na linguagem vulgar existe uma confusão entre os conceitos de teoria
e hipótese, muitas vezes usando-se o primeiro em lugar do segundo.

19
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

A proposição de hipóteses é o aspecto mais criativo da ciência. Não


existe metodologia para tal. É algo intuitivo que o cientista elabora com base em
todos os dados que colhe a respeito do fenômeno, devidamente expressos em
tabelas e gráficos, quando for o caso, e, principalmente, em seu conhecimento e
vivência científica. É uma lástima que os cursos de mestrado e doutorado não
dediquem uma disciplina prática específica para o treinamento da habilidade de
formular hipóteses.
Uma vez formulada uma hipótese, o método científico consiste em pro-
jetar experimentos ou observações que procurem invalidá-la, o que se chama
falseamento. Se ela resistir às tentativas de falseá-la, passa a ser adotada como
lei, até que algum fato novo venha a contrariá-la. Então ela tem que ser reformu-
lada e a nova proposta submetida a novo falseamento. Mas, normalmente, a lei
anterior permanece como um caso especial da nova, nas circunstâncias em que
ela se verifica.

2.4. Divisão da Física

Em Física existem várias teorias, cada uma possuindo certos pressu-


postos de validade, como:
Mecânica Clássica,
Hidrodinâmica Clássica,
Mecânica dos Meios Contínuos,
Termodinâmica Clássica,
Eletromagnetismo Clássico,
Ótica Clássica,
Mecânica Estatística Clássica,
Relatividade Restrita,
Relatividade Geral,
Mecânica Quântica não Relativística,
Mecânica Quântica Relativística,
Mecânica Estatística Quântica,
Teoria Clássica de Campos,
Teoria Quântica de Campos,
Gravitação Quântica,
Teoria do Laço Gravitacional,
Teoria das Supercordas e outras.
Ao longo deste livro serão abordadas, de modo conceitual e resumido,
cada uma dessas teorias.

20
ONTOLOGIA FÍSICA

Muitas ferramentas matemáticas são usadas na construção das teorias


físicas e, realmente, a Física é o principal fator de desenvolvimento da Matemá-
tica. Dentre os tópicos matemáticos usados na Física, convém mencionar:
Álgebra, Geometria e Trigonometria,
Cálculo Diferencial e Integral,
Variáveis Complexas,
Álgebra Linear,
Cálculo Vetorial e Tensorial,
Cálculo Variacional,
Geometria Diferencial,
Geometria Riemanniana,
Equações Diferenciais Parciais,
Equações Integrais,
Formas Diferencias e Números Quatérnios,
Teoria de Grupos,
Sistemas Dinâmicos,
Topologia,
Variedades Diferenciáveis,
Teorias de Medidas,
Cálculo Estocástico.
Os aspectos matemáticos das teorias físicas não serão abordados neste
livro, exceto num nível bem introdutório, havendo um apêndice matemático
para esclarecer dúvidas.
Em resumo, a Física estuda o movimento ou alterações que se dão com
os sistemas e as interações entre eles. Tais sistemas possuem uma estrutura
composta de matéria, radiação ou campos e uma dinâmica que os faz evoluir no
espaço e no tempo. Tais ocorrências são categorizadas em várias classes de fe-
nômenos cuja descrição é feita pelas leis físicas. Um corpo consistente e verifi-
cado de leis físicas concernentes a uma mesma categoria de fenômenos constitui
uma teoria física, que é um modelamento mental descritivo da realidade, em ter-
mos de uma linguagem matemática e textual.

2.5. Concepção Adotada

Segundo a concepção advogada neste livro, denominada reducio-


nismo, todos os fenômenos que se dão no mundo, em última instância, reduzem-
se a fenômenos físicos, daí a Física ser a ciência Fundamental da natureza. Um
fenômeno químico é um fenômeno físico que ocorre com os elétrons da camada

21
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

de valência dos átomos. Um fenômeno biológico é um fenômeno químico que se


dá com as organelas das células dos tecidos dos órgãos dos corpos dos seres
vivos. Um fato psíquico, como a memória, o pensamento, as emoções, a consci-
ência e qualquer outro, são ocorrências fisiológicas do sistema nervoso de um
ser vivo. Um fato social é um fenômeno psicológico coletivo e assim por diante.
Enfim, tudo é física, desde a queda de uma pedra a uma declaração de amor ou
a uma reflexão filosófica ou, ainda, a uma eleição política. Por isto todo filósofo
tem que saber Física.
Há outra concepção, denominada holismo, pela qual cada nível mais
elevado da realidade comporta fenômenos que não podem ser reduzidos aos do
estrato imediatamente abaixo dele. Isto não procede. Para entender isso é pre-
ciso considerar que a realidade pode ser analisada e explicada segundo estratos
de diferentes profundidades. O mais elevado é o de ordem prática direta, depois
este pode ter suas justificativas, que por sua vez podem ser explicadas em ter-
mos mais profundos, que, por sua vez pode ser aprofundado até o nível das in-
terações entre os constituintes primários do Universo. A questão é saber se cada
descida de nível promove uma redução da explicação do nível mais alto em ter-
mos da do nível mais baixo, sem necessidade da inserção de fenômenos de outra
ordem, inexistentes no nível inferior. Por exemplo, se a explicação da vida re-
quer algo mais do que sua redução a reações químicas. Se sim, diz-se que a vida
transcende aos fenômenos químicos, caso contrário, ela emerge dos fenômenos
químicos, preenchidas certas condições.
A transcendência significa uma ordem de fenômenos inteiramente dis-
tinta e não redutível a nível mais profundo de explicação. A emergência pode ser
de dois tipos: uma ocorrência da mesma categoria inferior, sob certas condições,
ou um epifenômeno, que é um fenômeno emergente, mas não da mesma catego-
ria do nível inferior. Se a mente for um epifenômeno da fisiologia cerebral, ela
surge a partir do funcionamento do cérebro, mas pertence a uma categoria à
parte, com suas próprias regras.
A decisão, em cada caso, requer uma análise da questão e, inclusive,
uma verificação experimental para se testar qual hipótese se aplica. Não é sufi-
ciente, mas não se dispensa, uma reflexão filosófica. O problema começa com o
que se entende por redução. Para muitos ela consiste apenas numa redução li-
near, que considera um fenômeno complexo Z como simplesmente uma combi-
nação linear das contribuições dos eventos mais simples X e Y, isto é a soma do
produto deles por fatores fixos, do tipo Z = AX + BY, em que A e B são constantes.
Assim considerando, muitas vezes, realmente, não se consegue reduzir a expli-
cação de um fenômeno de nível mais elevado a termos de outros de nível mais
baixo. Todavia a redução não é apenas isto. Ela significa que o fenômeno alto é

22
ONTOLOGIA FÍSICA

uma função dos fenômenos baixos, isto é, só se dá se eles existirem e sempre que
existirem. Mas pode incluir contribuições cruzadas, retroalimentações e termos
de ordem superior, isto é: Z = AX + BY + CXY + DX² + EY² + ... + PZ + QZ² + ... Isso
é um reducionismo não linear. Tal tipo de redução é capaz de dar conta de ex-
plicar qualquer fenômeno em termos dos de ordem mais elementar. Isto é, o de-
nominado holismo, pode ser compreendido dentro do reducionismo, desde que
este seja entendido de forma não linear.
Tal concepção permite aceitar a série anteriormente mencionada, co-
locando as ciências, a partir da mais profunda até a mais elevada, na seguinte
ordem: Física, Química, Biologia, Psicologia, Sociologia, Economia etc. Certa-
mente algumas se colocam em posição paralela, como a Política e a Economia, a
História e a Sociologia. Não mencionei algumas ciências particulares, que podem
ser consideradas capítulos das mais amplas, como Astronomia, Geologia e Me-
teorologia, capítulos da Física; Anatomia e Fisiologia, capítulos da Biologia e ou-
tros casos. A Matemática pode ser considerada uma espécie de linguagem lógica
simbólica para manipular quantidades e figuras. Esta concepção, contudo, é ob-
jeto de controvérsias que não analisarei aqui.

2.6. Alguns pressupostos

Para compreender e explicar a realidade física, isto é, a natureza exte-


rior objetiva (exterior à mente inquiridora), em primeiro lugar, a Física tem que
adotar a crença na realidade do mundo independente do sujeito. Caso contrário
nada há que se investigar, tudo pode ser inventado. Isso posto, são construídos
modelos mentais da realidade. Esses modelos são representações esquemáticas
das entidades e dos fenômenos da natureza. Nisso se faz uma simplificação e
uma escolha de entidades teóricas que melhor se prestem à descrição de como
a realidade é e como funciona. A realidade física é composta de três itens: con-
teúdo, estrutura e dinâmica. O conteúdo é a matéria, os campos, o espaço, o
tempo. A estrutura é a disposição desse conteúdo, cada parte em relação às ou-
tras partes e a dinâmica é o modo como essa estrutura se modifica. Na natureza
tudo é imbrincado e interconectado. Em verdade, o Universo todo é um único
organismo que pulsa. O fatiamento desse todo em partes distintas para estudo é
uma mera questão didática, já que a apreensão, “in totum” da estrutura e funci-
onamento do Universo seria algo por demais grandioso e complexo. Além desse
fatiamento, eu diria, geográfico, há um outro que se refere ao nível de profundi-
dade da explicação. Explicar como funciona o corpo humano pode ser feito em
um nível anatomofisiológico, em um nível bioquímico, ou em nível molecular ou,

23
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

até, em um nível de partículas subatômicas. A Física dá as explicações mais pro-


fundas e também as mais abrangentes (se considerarmos a Cosmologia como
um capítulo da Física). E nessa explicação entra a Matemática. Mas é importante
sempre se ter em conta de que a natureza funciona por conta própria, indepen-
dentemente da existência ou não de alguma mente que pretenda explicá-la. Isso
é fundamental para o modo como vejo a ciência. O homem é o menos importante.
Contudo, é preciso que a natureza seja traduzida para uma interface humana-
mente compreensível. Como em um programa de computador.

2.7. O modelamento físico-teórico da realidade

Ao se proceder um modelamento físico-teórico da realidade o pesqui-


sador identifica padrões que podem ser associados a certos conceitos (os con-
ceitos não existem na realidade em si, mas são construtos intelectuais). Como os
fenômenos físicos experimentados pelas entidades físicas são de duas ordens:
movimento e interação os conceitos mencionados se referem a esses fenômenos
e aos itens da realidade física já mencionados. São as entidades físicas, seus atri-
butos e as ocorrências que se dão com elas. Por exemplo: Entidades: matéria,
sistema, corpo, campo. Fenômenos: interações, alterações, surgimento, aniqui-
lação. Atributos das entidades: localização, extensão, movimento, massa, ener-
gia, carga, temperatura. Atributos dos fenômenos: duração, intensidade, quanti-
dade, poder.
Agora vem uma parte interessantíssima.
Aos atributos mencionados podem ser associadas grandezas, que são
entidades matemáticas (números, vetores, tensores, matrizes), de uma forma tal
que haja uma correspondência biunívoca, isto é, as grandezas são operacional-
mente mensuráveis. Ao se definir uma grandeza há que se definir um processo
de se obter o seu valor. Uma vez que as grandezas são matemáticas, pode-se
aplicar a elas todo o ferramental da matemática: álgebra, análise, geometria, tri-
gonometria e assim por diante. Esse ferramental foi desenvolvido, inclusive,
porque existiam grandezas físicas referentes a atributos de entidades físicas re-
ais e objetivas a que elas se reportassem. Com o uso da matemática (e da lógica
nela embutida), é possível se obter previsões do comportamento das entidades
cujos atributos são dados pelas grandezas manipuladas.
Pois bem, por incrível que pareça, na maioria das vezes, os resultados
deduzidos matematicamente conferem com as medidas experimentais obtidas
quando se provoca a ocorrência do fenômeno em questão. Esta correlação entre
a matemática e o comportamento da natureza parece ser algo mais profundo do

24
ONTOLOGIA FÍSICA

que uma mera coincidência. Isto é, a lógica e a matemática são tais quais são
porque o mundo é assim.

2.8. Teoria e Experiência

Essa retroalimentação que existe na ciência é fundamental. Equações


teóricas são obtidas por indução a partir do comportamento da natureza, anali-
sado a partir das grandezas que descrevem os atributos das entidades e dos fe-
nômenos. Trata-se de uma generalização de casos particulares. Isto é o que se
chama “Lei Física”. A validade da lei é sempre provisória. Tomando a lei como
um postulado matemático, teoremas podem ser matematicamente deduzidos e
suas previsões cotejadas com os valores experimentais ou observacionais. Dis-
crepâncias existentes, já descontados os erros devidos às falhas experimentais,
levam à busca de novas formulações teóricas mais corretas. E assim se aproxima
cada vez mais da verdade. O método científico consiste em formular essas hipó-
teses (que são as equações) e testá-las. Um conjunto de hipóteses intercorrela-
cionadas e resistente aos testes consiste numa Teoria Física. Nessa formulação,
contudo, não há referência à metodologia para se formularem as próprias hipó-
teses, que podem ser meros palpites. Segundo Popper, não importa, o método
científico é o do teste. Nesse ponto eu discordo. O maior problema da ciência é
encontrar a hipótese plausível para ser testada. Esse é o grande esforço. Em oca-
siões especiais, em que os esforços se revelam infrutíferos, costuma surgir uma
hipótese inteiramente fora dos padrões vigentes. São as revoluções de paradig-
mas a que se refere Khun. Isso é o que aconteceu com a Mecânica Quântica e com
as duas relatividades e agora está acontecendo com a hipótese das Super-cordas,
ainda não estabelecida com segurança.
Assim, realmente, a ciência faz uma síntese dialética do idealismo com
o realismo, mas não se pode esquecer que a ciência é um construto ideal, calcado
na hipótese de que existe uma realidade objetiva material que precede esse
construto. Isto é muito diferente de Platão e de Berkeley. Mas também não pre-
cisa ser positivismo. Não gosto muito de enquadramentos em correntes pré-de-
finidas. Acho que a filosofia precisava deixar de ser tão adjetivada.

25
3. ESPAÇO E TEMPO

3.1. O tempo e a poesia da ciência

Richard Dawkins, em sua brilhante obra “Desvendando o arco-íris” co-


menta que o poeta inglês Keats havia dito que Newton tirara toda a poesia do
arco-íris, ao decompô-lo em suas cores primárias pelo prisma. Em geral há um
sentimento de que a ciência tira a poesia do mundo ao explicá-lo. Nada mais in-
correto. Pelo contrário, e o livro de Dawkins exatamente se dedica a demonstrar
isto, o entendimento mais profundo dos maravilhosos mecanismos da natureza
é que nos enche de deslumbramento e, mesmo, de um sentimento de enlevo, ao
nos percebermos partícipes desta exuberância que é o Cosmos. E, nisso tudo,
estão o espaço e o tempo. Estamos inseridos neles, como tudo o mais. Há uma
imbricação impossível de ser demolida entre tempo, espaço, campo, matéria,
existência, vida e consciência e, em decorrência, tudo o que é produzido pelo
pensar e fazer humanos, como a poesia e a música em especial, que são as artes
cujo objeto se desenvolve no tempo e não no espaço. Assim, um entendimento
dos fundamentos físicos do espaço e do tempo talvez possa fazer apreciar ainda
mais a beleza de tudo o que a literatura já produziu sobre o tema.

3.2. Espaço e tempo

Em primeiro lugar é preciso entender que o espaço e o tempo não são


elementos aprioristicamente estabelecidos sobre os quais se assenta o conteúdo
substancial do Universo, que são os campos e suas concentrações, a matéria e a
radiação. Se o Universo teve um começo, e pode ser que não, isto é, que sempre
tenha existido, então nesse começo também se deu o surgimento do tempo e do
espaço com o seu conteúdo, isto é, tudo! Não há sentido em se questionar o que
havia antes porque, simplesmente, não havia “antes”. Nem espaço nem tempo
existiam. Não existe espaço sem conteúdo e nem tempo sem alterações. Espaço
é uma capacidade de caber algo, isto é, o conjunto dos lugares possíveis para
algo estar. Vácuo é um espaço sem matéria, preenchido só por campos ou radi-
ação. Isto existe. Mas vazio, isto é, um espaço sem coisa alguma, não existe no
Universo. O conceito físico de nada é o da ausência de tudo, inclusive de espaço

26
ESPAÇO E TEMPO

e tempo. Antes de existir o Universo, não existia nada (nem “antes”). Note que
isto não é a mesma coisa que dizer que existia “o nada”, pois “nada” não é uma
entidade, mas apenas a palavra que designa a ausência de tudo. É preciso que
fique claro que o conteúdo do Universo, fundamentalmente, são campos, um tipo
de entidade cujas concentrações constituem as sub-partículas formadoras da
matéria e da radiação e cujas alterações promovem as interações responsáveis
por tudo o que ocorre, inclusive o pensamento. Os campos, a radiação e a maté-
ria possuem atributos, como energia (ou massa, outra maneira de concebê-la
nas concentrações materiais), carga, movimento, rotação, torção e outras. Na
concepção fisicalista e reducionista, que advogo, não se faz necessária a interve-
niência de qualquer tipo de entidade extrínseca ao Universo físico para explicar
seu surgimento, sua estrutura e sua evolução, incluindo a estrutura da mente e
o psiquismo.

3.3. A gênese do espaço e do tempo

Se no Universo houvesse uma única partícula, todo o espaço seria ape-


nas essa partícula. E ela seria necessariamente imóvel, pois movimento é uma
mudança de posição relativa e não haveria outra coisa em relação à qual a posi-
ção da partícula pudesse mudar. Além disto, partícula, por definição, não possui
estrutura, de modo que não pode se deformar nem girar. Então, nada se altera-
ria. Havendo uma segunda partícula, a situação se altera drasticamente. Elas po-
dem se aproximar ou se afastar. Pode haver, pois, mudança na configuração e no
estado do Universo, isto é, das duas partículas. Surgem aí o espaço e o tempo,
pois podem existir localizações variadas para uma partícula em relação à outra
e, havendo alteração, podem ser caracterizados momentos, como a propriedade
que indica cada diferente situação. O fundamental disso tudo é que o espaço e o
tempo não precedem o conteúdo do Universo, mas surgem com ele, em razão da
dinâmica do seu estado. Uma descrição mais correta é feita, não em termos de
partículas, mas de campos. Enquanto o campo do Universo todo for inteira-
mente homogêneo e imutável, o tempo não passa. Uma vez que ocorram altera-
ções em sua densidade, podem-se caracterizar estados distintos, isto é, há mu-
dança ou movimento, no sentido mais amplo do termo, e, logo, momentos, isto
é, tempo. No Universo real, em verdade, desde sua formação, miríades de con-
centrações e rarefações se formaram, modificando-se, surgindo o espaço como
a coleção de todos os lugares preenchidos pelo campo e o tempo, como a coleção
dos diferentes momentos.

27
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

3.4. Física, Geometria e Álgebra

Neste momento é preciso distinguir os conceitos físico, geométrico e


algébrico de espaço. O espaço físico não é uma abstração, mas sim uma reali-
dade, um componente da natureza, do mesmo modo que o tempo. No entanto,
no modelamento teórico que a ciência faz do comportamento da natureza, é feita
uma correspondência desse espaço e desse tempo com conjuntos geométricos e
algébricos, de modo a que se possa proceder a manipulações matemáticas. Um
espaço geométrico é um conjunto de pontos abstratos, cuja localização é dada
por um vetor, ente geométrico constituído de um segmento de reta possuindo
dimensão, origem e orientação. A dada localização do espaço físico é associada
um ponto do espaço geométrico, de forma biunívoca, de modo que se possam
estudar muitas propriedades do primeiro em termos das do segundo. Todavia é
preciso cuidado, pois o espaço geométrico é uma abstração que pode possuir
propriedades não verificadas no espaço físico. Assim, é preciso se proceder a
uma verificação experimental de qual modelo de espaço geométrico corres-
ponde ao espaço físico.
Por exemplo, no espaço euclidiano, a soma dos ângulos internos de um
triângulo vale “π” (pi = 3,141592654...) radianos (equivalente a 180 graus sexa-
gesimais, ou 180°), mas, no espaço físico, medidas experimentais mostram que
isto depende da região em que se está. Logo o modelo geométrico de um espaço
euclidiano não se presta à descrição do espaço físico, exceto se se restringir a
regiões especiais, no caso, não muito extensas e que não sejam sede de campos
gravitacionais intensos. O espaço riemanniano, contudo, já descreve melhor o
comportamento do espaço físico, o que será visto no capítulo .18
Além disto, desde René Descartes, sabe-se que é possível associar-se a
cada ponto de um espaço geométrico um conjunto ordenado de números que
permitam localizá-lo a partir de certo ponto, certas linhas ou certas superfícies
fixas de referência. Tais grupamentos de números associados ao ponto são suas
coordenadas, especificadas por alguma regra algébrica, geralmente associada às
medidas das distâncias lineares ou angulares do ponto às referências. Ao con-
junto ordenado das coordenadas de cada ponto dá-se o nome de ênupla, onde o
“ene” é a quantidade de coordenadas requeridas. Pode-se ter só uma, uma dupla,
uma tripla e assim por diante, dependendo da dimensão do espaço. Tal processo
é denominado coordenatização do espaço. A vantagem é que, coordenatizando,
pode-se fazer uso das propriedades aritméticas e algébricas dos números para
se tirar várias inferências a respeito de pontos e figuras (conjuntos de pontos).

28
ESPAÇO E TEMPO

Muitas propriedades de um espaço geométrico, na verdade, só são conveniente-


mente expressas por meio de suas coordenatizações. Um fato notável é a ade-
rência completa entre as duas concepções, de forma que, muitas vezes, faz-se
confusão entre o espaço como entidade geométrica e sua representação algé-
brica, sendo a palavra “espaço” usada para designar um conjunto de ênuplas que
goze de específicas propriedades algébricas.
Esta aderência entre as propriedades algébricas e o comportamento
físico do espaço é um dos argumentos para se considerar a Matemática como
uma ciência e não apenas uma linguagem.

3.5. As dimensões do espaço

Sendo espaço o conjunto das possíveis localizações, é preciso entender


como se especifica uma localização ou posição. O elemento da localização, na
representação geométrica, é o ponto, entidade sem dimensão (tamanho) dotada
apenas do atributo de posição. A posição de um ponto só pode ser especificada
em relação a outros pontos, pois um ponto único no Universo está na única po-
sição existente, que é todo o Universo, uma vez que não existe vazio no Universo
e todo ele é preenchido por seu conteúdo. Tal Universo não possuiria dimensão
alguma. No caso de dois pontos, verifica-se que eles podem estar mais próximos
ou afastados e define-se certo afastamento como a unidade de distância, sendo
qualquer outro medido por quantas vezes esta unidade cabe dentro da distância,
sendo a razão não necessariamente inteira. Como a única possibilidade de mo-
vimento é aproximar-se ou afastar-se e não há nada mais do que isto, este Uni-
verso é dito unidimensional. É preciso entender que, neste caso, uma vez que há
uma infinidade de afastamentos possíveis, a cardinalidade deste espaço é infi-
nita, mesmo que haja um valor máximo de afastamento admissível, caso em que
o Universo é dito limitado. Se não houver um afastamento máximo admissível
ele é ilimitado.
Nem sempre o conjunto de todas as posições possíveis é passível de
ser colocado ao longo de uma linha, que pode apenas ser percorrida para frente
e para trás. Se houver a possibilidade de localizações laterais em relação à linha,
já se delineia, pelo menos, uma superfície de possibilidades. Geometricamente
uma superfície é um conjunto de pontos sem espessura, isto é, possuindo apenas
liberdade de localização para frente, para trás e para os lados, mas não para cima
ou para baixo. Um espaço sem esta terceira possibilidade é dito bidimensional,
como a superfície da Terra. Algebricamente seus pontos podem ser especifica-

29
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

dos por pares ou duplas de coordenadas. Todavia nem sempre é possível se es-
tabelecer uma correspondência biunívoca entre os pontos da superfície e as du-
plas de coordenadas, como se dá, por exemplo, com o sistema de latitudes e lon-
gitudes da superfície terrestre, no qual os polos possuem longitude indetermi-
nada. Essa singularidade não é uma propriedade do ponto geométrico, mas ape-
nas da coordenatização adotada. Tal situação é contornada com o conceito de
variedades diferenciáveis, que, por seu aspecto eminentemente técnico, não
será abordada.
O espaço físico no qual estamos imersos, contudo, também exibe a pos-
sibilidade de localização de pontos acima e abaixo, além de avante, atrás e aos
lados. Tem-se, pois, três graus de liberdade de posicionamento relativo a um
ponto de referência. Diz-se que se trata de um espaço tridimensional, reque-
rendo um terno de coordenadas algébricas para especificar um ponto.
Podem-se imaginar hipotéticas situações em que se requeiram outras
coordenadas para a especificação de um ponto, caso em que o espaço seria qua-
dri (ou tetra), penta, hexa ou, em geral, enedimensional. Mas isto não ocorre na
ordem das grandezas acessíveis à nossa percepção, mesmo auxiliada por apare-
lhos. Contudo, a Teoria das Supercordas concebe a possibilidade de um número
maior de dimensões espaciais, o que se comentará no capítulo 20.

3.6. Referencial

3.7. Afinidade

O espaço físico tridimensional que habitamos pode corresponder a es-


paços geométricos de variáveis propriedades, das quais se destacam o parale-
lismo, a metricidade, o encurvamento e a torção. Tais propriedades são passíveis
de interpretação algébrica. Mas é sempre preciso ter o cuidado de se verificar se
uma propriedade apresentada pela descrição algébrica de fato é geométrica ou
meramente uma característica da escolha do sistema de coordenadas. Da
mesma forma, nem toda propriedade geométrica corresponde a uma proprie-
dade do espaço físico real.
Na presença de campos gravitacionais fracos o espaço físico corres-
ponde geometricamente ao espaço dito euclidiano. Trata-se de um espaço geo-
métrico em que se pode traçar uma e somente uma reta paralela a dada reta, por

30
ESPAÇO E TEMPO

certo ponto externo a ela. O conceito de reta é o de uma linha, isto é, um conjunto
contínuo unidimensional de pontos, ou seja, dispostos sequencialmente sem fa-
lhas, que se prolongue indefinidamente nos dois sentidos e cuja direção, apon-
tada de qualquer ponto a qualquer outro, seja invariável. Duas retas são ditas
paralelas se não se interceptarem e tiverem a mesma direção espacial. Dadas
duas retas que se interceptem em um só ponto, o conjunto de todas as retas que
possuam intercessão com ambas constitui um plano.
Todo ponto de uma reta a divide em duas semirretas, cada uma con-
tendo o ponto e toda a porção de reta existente em um dos lados do ponto. A
união das duas semirretas de uma reta é a própria reta, enquanto a interseção é
o ponto, que é chamado de origem da semirreta.
Se o espaço físico não for globalmente euclidiano, pode-se imaginar,
em cada ponto, a existência de um espaço geométrico euclidiano, dito tangente,
consistindo no conjunto de todas as retas e planos que possam passar por aquele
ponto.
Um espaço admite paralelismo se, dados dois pontos distintos, for pos-
sível existirem retas paralelas passando por eles, de acordo com o espaço tan-
gente a um ou a outro. Note-se que duas retas consideradas paralelas do ponto
de vista do espaço tangente a um deles podem não o ser do ponto de vista do
outro. Espaços que admitem a possibilidade da existência de paralelismo, haja
ou não haja, são chamados Espaços Afins.
Associado ao paralelismo estão as noções de orientação e de ângulo.
No espaço euclidiano, dadas duas semirretas de mesma origem, o ângulo é a re-
gião do plano definido por essas semirretas, limitado por elas, incluindo-as.
Duas semirretas de mesma origem definem dois ângulos no plano, se se consi-
derar a região interna ou externa a elas. Se essas semirretas forem de uma
mesma reta, os dois ângulos são iguais e ditos rasos. À abertura de um ângulo
pode-se associar uma grandeza que é a sua medida. Para tal toma-se certo ân-
gulo como unidade e verifica-se quantos dele podem ser colocados, lado a lado,
com a mesma origem e bordas coincidentes. Esta é a medida, podendo-se esta-
belecer frações de ângulo como subunidades de medida. É comum usar a uni-
dade grau, simbolizada por (°) definida de modo que o ângulo raso tenha 180
graus (180°). Seus submúltiplos são o minuto ('), sua sexagésima parte e o se-
gundo (''), a sexagésima parte do minuto.
Definido ângulo, pode-se definir direção como sendo a propriedade
comum de todas as retas que formem o mesmo ângulo com alguma dada reta e
sentido como uma das duas escolhas de semirretas de qualquer reta, dada uma
origem. Uma orientação é o conjunto da direção e do sentido de uma semirreta.

31
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

Essas noções geométricas podem ser apropriadamente algebrizadas


de modo a se obter expressões matemáticas para a medida de ângulos e o esta-
belecimento de orientações, com o uso do conceito de vetor.

3.8. Metricidade

Além da orientação, pode-se estabelecer em um espaço geométrico a


noção de distância entre dois pontos. Intuitivamente ela será a medida do afas-
tamento desses pontos. Em um espaço euclidiano, um par de pontos define uma
única reta que os possa conter. O trecho da reta compreendido entre esses pon-
tos, incluindo os pontos, é chamado de segmento de reta. A todo segmento de
reta pode ser associado um comprimento, que é uma medida do seu tamanho.
Para tal toma-se um particular segmento como unidade de comprimento e cons-
trói-se o segmento a ser medido como a união de unidades de comprimento, de
forma que o primeiro tenha extremidade coincidente com a do que se está me-
dindo e os demais possuam a extremidade inicial coincidente com a final do an-
terior, dispostos na mesma direção, até que não se possa colocar mais nenhum.
Conta-se o número de unidades. A parte faltante será preenchida com a subuni-
dade de ordem imediatamente abaixo, que se conta também e esse procedi-
mento é repetido com as subunidades de ordem cada vez menor. A medida será
a soma de todas essas contagens. No Sistema Internacional de unidades é usado
o metro e seus múltiplos e submúltiplos.
Da mesma forma que com os ângulos é possível algebrizar a medida
dos comprimentos e se obter expressões que as forneçam. No caso da medida
de comprimentos de linhas que não sejam retas, o que se faz e escolher uma
série de pontos ao longo da linha, medir o comprimento dos segmentos de reta
entre esses pontos e somá-los. Quanto mais pontos forem escolhidos, mais pre-
cisa será a medida do comprimento da linha. A distância entre dois pontos fica
então definida como o comprimento do segmento de reta que os tem por extre-
mos, num espaço euclidiano. Todo espaço que admitir a possibilidade de se ob-
ter medidas de comprimentos de linhas dentro dele é chamado de Espaço Mé-
trico. Os espaços métricos geralmente também são afins.
Quando se coordenatiza um espaço geométrico para algebrizá-lo, en-
contra-se uma expressão para a distância entre dois pontos em função das co-
ordenadas desses pontos. Se esses dois pontos são infinitesimalmente próximos,
a expressão obtida é chamada de métrica daquele espaço naquele sistema de
coordenadas. Por exemplo, para um espaço de duas dimensões (uma superfície),
com um sistema de coordenadas “u” e “v”, a métrica é dada pela expressão:

32
ESPAÇO E TEMPO

dl² = A(u,v)du² + 2C(u.v)dudv + B(u,v)dv²


em que dl é a distância diferencial entre os pontos, A, B e C são funções
das coordenadas u e v e “d” é o operador diferencial. Em outras palavras, dl = Δl
= (l’ – l) quando essa diferença tende para zero, isto é, os pontos são infinitesi-
malmente próximos.
A métrica é o ponto de partida para a obtenção de outros resultados
importantes para o tratamento algébrico dos espaços, como as afinidades, que
permitem a determinação do paralelismo, a curvatura e a torção intrínsecas do
espaço, caso existam.

3.9. Espaços curvos e torcidos

Um espaço pode ser intrinsecamente não plano, isto é, ter curvatura


ou torção, caso em que não são euclidianos. Mas podem ser afins e métricos, isto
é, pode ser possível, neles, definir paralelismo e distância.
A curvatura de um espaço é facilmente percebida se se o considera
como imerso em um espaço sem curvatura de mais dimensões do que ele. Por
exemplo, pode-se ver que uma superfície esférica, que é um espaço de duas di-
mensões, é encurvada, observando-a a partir do espaço euclidiano de três di-
mensões em que se encontra imersa. Todavia, se não há como se ter acesso a
esse espaço de mais dimensões, há que se definir um modo de verificar, intrin-
secamente, se algum espaço possua curvatura. O procedimento é feito a partir
do cálculo da soma dos lados internos de um triângulo. Antes, porém, é preciso
considerar o que vai fazer o papel de reta em um espaço curvo. Tal é a definição
de geodésica, que também se aplica a espaços planos. Uma geodésica e uma li-
nha, isto é, um conjunto de pontos sucessivos sem espalhamento lateral, que, do
ponto de vista afim, possui a propriedade de que dois segmentos infinitesimais
sucessivos não desviam de direção, isto é, fazem ângulo zero. Metricamente ela
é caracterizada como a linha ao longo da qual a distância entre dois pontos é a
menor possível. Um triângulo, em qualquer espaço, é uma figura traçada por três
segmentos de geodésica unidos por seus extremos. Define-se o ângulo do vértice
do triângulo como o ângulo formado pelas retas tangentes às geodésicas, traça-
das no vértice. A medida desse ângulo, então, é feita no espaço euclidiano tan-
gente ao espaço considerado, no vértice. Se a soma dos ângulos de um triângulo
for igual a um ângulo raso, o espaço é euclidiano (não tem curvatura). Se for
maior, tem uma curvatura positiva. Se for menor, tem uma curvatura negativa.
Não entraremos no processo da geometria diferencial que permite o cálculo do
raio dessa curvatura.

33
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

Outra propriedade que pode ser exibida pelos espaços é a torção. Se a


curvatura de um espaço em um ponto, tiver o mesmo valor considerando qual-
quer triângulo de lados infinitesimais traçado a partir desse ponto, o espaço não
apresenta torção. Mas se ela for diferente para diferentes triângulos infinitesi-
mais em torno do ponto, o espaço apresenta torção nesse ponto.

3.10. O sentido do fluxo do tempo

Uma característica fundamental do tempo é que, sendo uma coleção


de momentos (como o espaço é uma coleção de lugares), essa coleção é orde-
nada, isto é, dados dois momentos distintos, um deles é anterior e o outro pos-
terior. Este ordenamento é estabelecido por uma propriedade chamada entro-
pia. A entropia é definida pelo logaritmo da probabilidade do estado macroscó-
pico. O estado macroscópico é descrito pelas variáveis globais que o caracteri-
zam, enquanto o estado microscópico é definido pela coleção de todas as variá-
veis de cada partícula constitutiva. A um dado estado macroscópico pode cor-
responder um número extremamente grande de estados microscópicos. A razão
do número de estados microscópicos correspondentes a um dado estado ma-
croscópico para o número total de estados microscópicos possíveis é a probabi-
lidade daquele estado macroscópico. O logaritmo disto é a entropia. Pois bem, o
tempo flui no sentido em que a entropia aumenta. A evolução do estado do Uni-
verso se dá do menos provável para o mais provável.

3.11. A quantização do tempo

Outra coisa interessante a considerar é se o fluxo do tempo é contínuo


ou discreto (isto é, dá-se por saltos). Imagine que, no Universo inteiro, cessas-
sem todas as alterações, todo o movimento. O estado do Universo permaneceria
inalterado. Elétrons não girariam em torno dos núcleos, a luz cessaria de se pro-
pagar, os astros interromperiam seus movimentos orbitais, objetos estaciona-
riam a sua queda, corações não bateriam, os pensamentos ficariam suspensos.
Então não haveria passagem do tempo. É como se fosse um filme cuja projeção
se interrompesse. Assim que tudo voltasse a prosseguir, o fluxo do tempo seria
restaurado e aquela interrupção não poderia ser detectada absolutamente por
nada. Quem sabe isto já não ocorreu um sem número de vezes desde que você
iniciou esta leitura. A quantização do tempo é, pois, uma coisa que, exista ou não,
não faz diferença. A Teoria da Relatividade e a Mecânica Quântica supõem o

34
ESPAÇO E TEMPO

tempo contínuo. Mas não uniforme e absoluto. Todavia há propostas de teorias,


como a do Laço Gravitacional, que consideram a quantização do tempo.

3.12. A medida do tempo

Se o tempo flui, é possível medi-lo, isto é, dizer o quanto de tempo se


passou entre dois momentos (momento ou instante, no tempo, é como o ponto
na reta, enquanto duração ou intervalo e como o comprimento do segmento de
reta, que é o pedaço de reta existente entre dois pontos distintos, pertencentes
a ela). Medir é comparar grandezas de mesma espécie, dizendo quanto uma con-
tém da outra. Para medir intervalos de tempo há que se tomar um deles como
termo de comparação, denominado “unidade de tempo”. Uma propriedade a ser
exigida da unidade é a sua reprodutibilidade, isto é, deve-se poder sempre obtê-
la novamente com a mesma grandeza. Para o tempo isto é um problema, pois é
impossível, uma vez decorrido certo intervalo, voltar atrás para conferir se ou-
tro intervalo é igual a ele. Então é preciso considerar que o novo intervalo seja
igual, por definição, sem conferir. Para isso são usados fenômenos ditos perió-
dicos, isto é, que voltam sempre a se repetir. Por exemplo, os dias, o ano, as ba-
tidas do coração ou o balançar de um pêndulo. Se se vai medir um tempo em
dias, tem-se que supor que todos os dias são iguais. Não há como medir a dura-
ção de hoje comparando-a com a de ontem, pois ontem não volta mais. Podem-
se comparar os dias com as oscilações de certo pêndulo e ver se conferem, mas
aí tem-se que supor que as oscilações sempre levam o mesmo tempo. Por com-
parações desse tipo, entre diversas possíveis unidades de tempo, viu-se que os
dias não são todos iguais, que os anos também não são, que os pêndulos podem
variar. Bem… até o momento, o que se supõe que seja mais regular e reprodutí-
vel é o período de oscilação da luz de uma cor exatamente bem definida. Usa-se
a luz emitida pelo decaimento do átomo de césio (o isótopo 133), entre os dois
níveis hiperfinos de seu estado fundamental. Como este é um tempo muito pe-
queno, fixou-se como unidade o segundo, que é um tempo 9.192.631.770 vezes
maior. Daí se constrói o relógio atômico, a partir do qual os outros relógios são
aferidos.
Os instantes de tempo são especificados pelo intervalo de tempo de-
corrido desde um instante inicial, tomado como zero e os intervalos entre dados
instantes vale a diferença entre os instantes final e inicial, nessa ordem. Note
que os fenômenos da natureza sempre ocorrem com um decurso de tempo e que
esse decurso é sempre positivo.

35
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

3.13. A relatividade do tempo

Pode parecer que o tempo, assim definido, é algo que flui de modo ho-
mogêneo em todo o Universo, como supunha Newton. Mas não. Para cada um, o
tempo flui com a velocidade “1″, isto é, 1 minuto por minuto, 1 hora por hora, 1
dia por dia. Mas, comparando os fluxos de um lugar com outro, pode não ser “1″.
Assim, em outra galáxia, que tenha certa velocidade em relação à nossa, o tempo
lá pode passar à razão de 50 minutos por hora em relação a nós, isto é, a cada
hora nossa passam 50 minutos lá. Isto é a relatividade do tempo. É claro que
estou falando de relógios que medem o tempo com a mesma unidade. Eles lá,
para si mesmos, medem o fluxo normal de 60 minutos por hora. É o chamado
“tempo próprio”. Isto foi descoberto por Einstein e já foi confirmado por experi-
ências com o decaimento radioativo dos müons provenientes de raios cósmicos
na alta atmosfera e outros experimentos. Existem fórmulas para calcular isto. A
intensidade do campo gravitacional no local também altera a marcha dos reló-
gios (e de tudo o mais, como o crescimento dos pelos da barba, por exemplo).
Portanto, no Universo, o tempo é realmente algo determinado pelas condições
locais da densidade de matéria e do seu movimento e não uma coisa que existe
independentemente. Isso também ocorre com as distâncias. Em suma, o espaço
e o tempo não são como um palco no qual os personagens representam a peça.
Eles também são personagens da peça.

3.14. Tempo físico e tempo psicológico

Os seres vivos possuem um modo interno de perceber a passagem do


tempo e desencadear vários comportamentos, como o ciclo sazonal das plantas
e de animais, ou mesmo, os ciclos circadianos de sono e vigília, por exemplo. No
caso dos seres conscientes, como os animais superiores (ou dispositivos artifi-
ciais que venham a possuí-la) há outro fator que é a percepção mental interna
da passagem do tempo. Essa percepção nem sempre é coincidente com a marcha
física do tempo. Isto pode variar de pessoa para pessoa, em função da idade, do
estado de espírito ou por ação de drogas. À medida que se envelhece, cada ano
é uma fração menor da existência, por isso parece um intervalo menor. Outro
fator que faz o tempo parecer passar mais depressa é a monotonia. Quanto mais
variada for a vivência cotidiana da pessoa mais parece que o tempo demora a
passar. Atividades desagradáveis sempre parecem demorar mais que as agradá-
veis. Mas, tirando essas condições, é notável como a mente tem um cronômetro

36
ESPAÇO E TEMPO

interno razoavelmente bem calibrado, que pode ser observado pelo fato comum
de pessoas que sempre precisam acordar a certa hora, em geral, despertam pou-
cos minutos antes do despertador tocar e o desligam.

3.15. Tempo, música e literatura

Classificando-se as artes segundo os sentidos que impressionam, a li-


teratura e a música unem-se na categoria das que são comunicadas pela audição,
já que a escrita é uma mera representação simbólica de sons, como se fora uma
gravação codificada da fala, que modernamente ocorre em mídias óticas e mag-
néticas. Por outro lado, elas podem também ser classificadas, conjuntamente,
em artes cujo objeto se desenvolve no tempo, em oposição às artes plásticas, em
que o objeto se desenvolve no espaço. A escrita ideográfica, em que os signos
não representam fonemas, mas conceitos, também só pode ser interpretada na
sequência temporal dos ideogramas, que não são contemplados simultanea-
mente, no seu todo, como numa pintura. Vê-se deste modo que, na própria sis-
tematização que a estética faz das belas artes, música e literatura ocupam célu-
las vizinhas do esquema, estando, portanto, unidas por um ponto de vista estru-
tural. Em que pese a existência da poesia concreta, na qual a expressão artística
do poema se manifesta, inclusive, pelo aspecto pictórico, normalmente a poesia
é feita para ser declamada (ou cantada, se for a letra de uma música). Então é
uma arte que se desenvolve no tempo. A apreensão mental do conteúdo da mú-
sica e da poesia é feita pela parte do cérebro ligada à audição e sua memorização
se dá de uma forma sequencial, isto é, ordenada no tempo e não numa totalidade
simultânea, como ocorre com a memorização de uma gravura.

3.16. Espaço-Tempo

Como todas as ocorrências experimentadas pelos sistemas físicos se


dão em algum momento e algum lugar, em verdade tudo está imerso tanto no
espaço quanto no tempo, permitindo se considerar, especialmente em Relativi-
dade, como se verá, a existência de uma entidade única, denominada Espaço-
tempo, que é a reunião do espaço com o tempo. A vantagem dessa consideração
é que, em vários casos, se pode definir uma métrica global do espaço-tempo, em
que as coordenadas não sejam separadamente correspondentes pontos do es-
paço ou momentos do tempo. Outra é a de que, ao se mudar de referencial, como

37
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

se verá em Relatividade, os comprimentos e os intervalos de tempo não se man-


têm invariáveis, mas o intervalo conjunto de espaço-tempo sim. Esse intervalo
é definido, na forma diferencial, quando as coordenadas espaciais e temporais
estão separadas, pela expressão:
ds² = dt² - dl²,
em que ds é o intervalo de espaço-tempo, dt é o intervalo de tempo e
dl o intervalo de comprimento espacial entre dois eventos ocorridos em dois
lugares e momentos.

38
4. MOVIMENTO DE TRANSLAÇÃO

A parte da Física que estuda o movimento, tanto descrevendo-o


quanto relacionando-o com as interações que os produzem e modificam é deno-
minada Mecânica. No caso de não haver envolvimento de fenômenos quânticos
ela é chamada de Mecânica Clássica.

4.1. Vetores

O estudo do movimento requer o entendimento da noção de vetor. Um


vetor é um segmento de reta orientado, isto é, no qual se estabelece uma extre-
midade como sua origem e outra como sua ponta. O vetor possui um módulo,
também chamado de norma, que é o comprimento do segmento de reta e uma
orientação, que é a da semirreta suporte do segmento, com origem na origem do
vetor. A orientação é constituída da direção dessa semirreta e do sentido para o
qual ela aponta, dentro de sua direção. Algebricamente, um vetor pode ser espe-
cificado pelos valores de suas projeções sobre os eixos escolhidos para estabe-
lecer o referencial. Há vários sistemas de coordenadas possíveis, o mais simples
dos quais é o sistema de coordenadas cartesianas ortogonais, em que os eixos
coordenados são três retas mutuamente perpendiculares que se interceptam
em um ponto que é a origem das coordenadas. Para cada eixo é definido um sen-
tido positivo, sendo o oposto o negativo. As coordenadas de um ponto são as
distâncias das projeções ortogonais desse ponto em cada eixo a sua origem, com
o sinal correspondente ao lado do eixo em que se encontram. A projeção do ve-
tor é o segmento, sobre cada eixo, formado entre a origem e a projeção de sua
extremidade, considerando-se que a origem do vetor esteja colocada na origem
do sistema de coordenadas. Esse sistema se aplica a um espaço tridimensional
euclidiano.
Por extensão, um vetor também pode ser o ente geométrico e algébrico
representativo de uma grandeza dita vetorial, isto é, cuja especificação, além de
um valor quantitativo, dito seu módulo, também requer a especificação de uma
orientação espacial, ou seja, para que lado ela aponta. Nesse caso, o compri-
mento do vetor será especificado não em unidades de comprimento geométrico,
mas na unidade de medida da grandeza que ele representa. As grandezas veto-
riais, neste texto, serão representadas por letras em negrito. Na escrita cursiva

39
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

são representadas por letras com uma pequena seta por cima. O módulo do ve-
tor é representado pela mesma letra sem negrito ou em negrito, entre barras
verticais:
𝑉 ≡ |𝑽| ≡ |𝑉⃗|
Vetores podem ser livres, quando seu significado não depende do
ponto em que se situa sua origem, ou aplicados, caso contrário. Vetores livres de
mesmo módulo, direção e sentido, são o mesmo vetor, independentemente do
ponto em que sejam representados.
Vetores podem ser multiplicados por números puramente escalares,
obtendo-se novo vetor de mesma direção do original, módulo igual ao produto
do módulo do original pelo número multiplicador e sentido igual ao do vetor
original se o número for positivo, mas oposto se o número for negativo. Em par-
ticular um vetor oposto a outro é o resultado da multiplicação dele por -1, o que,
simplesmente, inverte seu sentido.
Vetores de mesma natureza podem ser somados e subtraídos. O vetor
soma de dois outros é aquele que, uma vez encadeada a origem de um dos veto-
res parcelas à extremidade do outro, liga a origem do primeiro à extremidade
do segundo. A soma de vetores exibe a propriedade comutativa, isto é, seu re-
sultado não depende da ordem usada para as parcelas. A subtração de dois ve-
tores consiste, simplesmente, na soma do minuendo pelo oposto do subtraendo.
A A

B
A+B
2A

-2A -B
A-B

Outra operação muito útil com os vetores é sua decomposição, que


consiste em substituir um vetor por outros que o produzam para sua soma. Em
geral esses outros apontarão na direção dos eixos do referencial. Se o referencial
for cartesiano e ortogonal, com três eixos mutuamente perpendiculares, um ve-
tor será dado pela soma de suas componentes vetoriais:
𝑽 = 𝑽𝑥 + 𝑽𝑦 + 𝑽𝑧
Cada uma dessas componentes, por sua vez, pode ser expressa como o
produto da dita componente algébrica, do vetor, que é um número real positivo

40
MOVIMENTO DE TRANSLAÇÃO

ou negativo, conforme a componente vetorial esteja apontada para o sentido po-


sitivo ou negativo dos eixos coordenados, multiplicada por um vetor unitário,
colocado em cada eixo, adimensional e de módulo um e apontando no sentido
positivo do eixo:
̂ , 𝑽𝑦 = 𝑉𝑦 ∙ 𝒚
𝑽𝑥 = 𝑉𝑥 ∙ 𝒙 ̂ , 𝑽𝑧 = 𝑉𝑧 ∙ 𝒛̂
onde 𝒙
̂,𝒚̂ , 𝒛̂ são os unitários e as componentes valerão:
𝑉𝑥 = 𝑉𝑐𝑜𝑠𝑋̂ 𝑉𝑦 = 𝑉𝑐𝑜𝑠𝑌̂ 𝑉𝑧 = 𝑉𝑐𝑜𝑠𝑍̂
em que 𝑋̂, 𝑌̂ 𝑒 𝑍̂, valem, respectivamente, os ângulos formados pelo ve-
tor V com os sentidos positivos dos eixos dos x, dos y e dos z.
Em termos de suas componentes, o módulo do vetor valerá:
𝑉 = √𝑉𝑥 2 + 𝑉𝑦 2 + 𝑉𝑧 2
z
Vz V
𝑍̂
𝑋̂ 𝑌̂
y
Vy
Vx
x

4.2. Conceituação de Movimento

Em Filosofia denomina-se movimento qualquer alteração na situação


de algum sistema. Em Física, tal conceito se restringe às alterações referentes às
mudanças de localização.
Quando a posição das partes de um sistema não permanece a mesma,
ao longo da passagem do tempo, diz-se que está ocorrendo um movimento. Para
estuda-lo deve-se começar considerando que o sistema se reduza a uma simples
partícula. Sua posição é especificada por um vetor dito Posição, com origem na
origem do sistema de coordenadas e extremidade no ponto em que se encontra
a partícula. O movimento da partícula implica numa contínua variação de seu
vetor posição, enquanto o tempo passa. Define-se trajetória como a linha for-
mada pelo conjunto de pontos ocupados pela partícula enquanto se movimenta.
O estudo meramente descritivo do movimento é chamado de Cinemática. O es-
tudo da cinemática das partículas pode ser estendido, também, ao de sistemas

41
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

para os quais todos os pontos descrevam trajetórias idênticas ao mesmo tempo,


caso em que seu movimento é dito de Translação.

4.3. Trajetória, percurso e deslocamento

O conjunto dos pontos ocupados no espaço por uma partícula em mo-


vimento denomina-se sua trajetória. Sendo ela curvilínea, em cada ponto, pode-
se definir o seu raio de curvatura como sendo o raio da circunferência que, na-
quele ponto, seja tangente a ela. O comprimento da trajetória, ao longo de sua
curvatura, caso apresente, entre dois momentos do movimento, é chamado de
percurso da partícula móvel no intervalo de tempo em questão. Havendo inver-
são de sentido do movimento, o percurso total será a soma dos percursos parci-
ais de cada trecho ocorrido em um sentido. A trajetória pode ser coordenatizada
com a marcação dos valores dos percursos, a partir de um ponto arbitraria-
mente escolhido, sempre no mesmo sentido. Esses percursos passam a ser, pois,
as coordenadas da Posição ao longo da trajetória, fazendo-se uma escolha de um
lado, a partir da origem, como positivo e o oposto como negativo. Em termos das
posições, os percursos, quando sempre no mesmo sentido, são dados por:
̆ = |𝑠 ′ − 𝑠|
Δ𝑠
em que s = s(t) é a posição inicial no instante inicial t e s’=s’(t) é a po-
sição final no instante final t’, as barras representando o valor absoluto do resul-
tado. Havendo inversão de sentido do movimento, há que se calcular os percur-
sos feitos em cada sentido e adicioná-los.
Se se tomar a diferença das posições em valor numérico e não abso-
luto, a quantidade Δ𝑠 passa a ser conhecida como Deslocamento Escalar, po-
dendo ser negativo.
Δ𝑠 = 𝑠 ′ − 𝑠
Deslocamento Vetorial, ou simplesmente Deslocamento, já é o vetor
que liga a posição do móvel no instante inicial do movimento, como origem, a
sua posição final, como extremidade, no intervalo de tempo considerado. O des-
locamento vale a diferença entre os vetores posição final e inicial do trecho do
movimento,
Δ𝒓 ≡ 𝒓′ − 𝒓

42
MOVIMENTO DE TRANSLAÇÃO

Δs s'

Δr
O s

4.4. Velocidade

A característica mais marcante do movimento é sua rapidez, isto é, o


quão lentamente ou rapidamente acontece sua mudança de posição. Tal propri-
edade é medida pela grandeza velocidade. Define-se a velocidade escalar média
como a razão entre o deslocamento escalar ocorrido e o intervalo de tempo de-
corrido para percorrê-lo:
Δ𝑠
𝑣̅ ≡
Δ𝑡
em que Δ𝑠 é o deslocamento escalar na trajetória ao longo de sua
curva, Δ𝑡 é o intervalo de tampo decorrido e 𝑣̅ é a velocidade escalar média. O
sinal ≡ , lido como “idêntico a”, representa uma identidade, isto é, uma igual-
dade válida em qualquer caso. Esse é o caso das definições, que são arbitrárias e
não produto de nenhum resultado experimental e nem dedução lógica, mas ape-
nas uma atribuição de um novo nome a alguma forma de relacionar outras enti-
dades já definidas ou indefinidas. Tal grandeza possui por unidade a razão de
uma unidade de comprimento para uma unidade de tempo, como metros por
segundo (m/s), no Sistema Internacional (SI) ou quilômetros por hora (km/h).
A velocidade escalar será positiva se a partícula de move no sentido crescente
das coordenadas da trajetória e negativa caso contrário. Quando se considera
que o intervalo de tempo dispendido no percurso seja infinitesimal, isto é, tenda
para zero (mas não seja zero) essa razão passa a ser denominada velocidade
escalar instantânea:
𝑑𝑠
𝑣≡
𝑑𝑡
em que ds é o deslocamento escalar infinitesimal e dt o intervalo de
tempo infinitesimal. A velocidade instantânea é considerada o valor da veloci-
dade no ponto e momento em que a partícula móvel se encontre.
Em um movimento com velocidade instantânea variável, o valor da ve-
locidade é representado pela declividade da tangente ao gráfico da posição ao
longo da trajetória em função do tempo.
43
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

Δs
𝛥𝑠
Δt 𝑣=
Δ𝑡
t
O deslocamento escalar de uma partícula em movimento variado pode
ser achado sabendo-se que, para cada intervalo infinitesimal de tempo, ele vale
𝑑𝑠 = 𝑣𝑑𝑡
Ao se somar os sucessivos deslocamentos infinitesimais, tem-se, por
definição, a integral da função da velocidade escalar “v” em relação aos instantes
do tempo “t”, entre os momentos inicial e final do trecho considerado. No gráfico
de v em função de t, isso é representado pela área entre o gráfico e o eixo dos t,
limitada pelas linhas de chamada do gráfico ao eixo nos extremos do intervalo.
v

Δs
t
Quando a velocidade instantânea for invariável, seu valor será o
mesmo da velocidade média em qualquer intervalo e o movimento é dito movi-
mento uniforme.
Pode-se, também, considerar os conceitos de rapidez média e rapidez
instantânea, se, nas definições da velocidade escalar, se usar o percurso, ao invés
do deslocamento escalar. Não havendo inversão de sentido no movimento, o
percurso vale o valor absoluto do deslocamento escalar, Δ𝑠 ̆ = |Δ𝑠|.
̆
Δ𝑠 ̆
𝑑𝑠
𝑣̿ ≡ Δ𝑡 𝑣̆ ≡ 𝑑𝑡
Definem-se, analogamente, as velocidades vetoriais média e instantâ-
neas como as razões entre os deslocamentos finitos ou infinitesimais e os res-
pectivos intervalos de tempo:
Δ𝒓 𝑑𝒓
̅≡
𝒗 𝒗≡
Δ𝑡 𝑑𝑡
Em que 𝒓 é o vetor posição, Δ𝒓 ≡ 𝒓′ − 𝒓 é o deslocamento finito e 𝑑𝒓
é o deslocamento infinitesimal. A velocidade vetorial instantânea de uma partí-
cula é um vetor tangente a sua trajetória no ponto considerado. O módulo da
velocidade vetorial instantânea é a velocidade escalar instantânea.
44
MOVIMENTO DE TRANSLAÇÃO

4.5. Aceleração

Não permanecendo a velocidade constante, há que se considerar o


quão rapidamente sua variação ocorre. Define-se aceleração escalar média,
como a razão entre a variação da velocidade escalar instantânea em dado inter-
valo de tempo e a duração desse intervalo.
Δ𝑣
𝑎̅ ≡
Δ𝑡
em que Δ𝑣 ≡ 𝑣 ′ − 𝑣 é a variação da velocidade escalar instantânea,
isto é, a diferença entre seus valores final (v’) e inicial (v), nessa ordem. A uni-
dade da aceleração é a razão da unidade de velocidade para a unidade de tempo,
como quilômetros por hora por segundo (km/h/s), ou metros por segundo por
segundo (m/s²), no Sistema Internacional (SI). A aceleração escalar instantânea
e essa razão tomada em um intervalo de tempo infinitesimal:
𝑑𝑣
𝑎≡
𝑑𝑡
Em um movimento com velocidade escalar variável, a aceleração vale
a declividade da tangente ao gráfico da velocidade em função do tempo, no ins-
tante considerado.
v

Δv 𝑎 = 𝛥𝑣
Δ𝑡

Δt
t
A variação da velocidade escalar de uma partícula em movimento va-
riado pode ser achado sabendo-se que, para cada intervalo infinitesimal de
tempo, ele vale
𝑑𝑣 = 𝑎𝑑𝑡
Ao se somar as sucessivas variações infinitesimais da velocidade esca-
lar, tem-se, por definição, a integral da função da aceleração escalar “a” em rela-
ção aos instantes do tempo “t”, entre os momentos inicial e final do trecho con-
siderado. No gráfico de a em função de t, isso é representado pela área entre o
gráfico e o eixo dos t, limitada pelas linhas de chamada do gráfico ao eixo nos
extremos do intervalo.

45
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

Δv
t
Quando a aceleração escalar instantânea for constante, ela se iguala à
aceleração média em todos os intervalos de tempo e o movimento é dito unifor-
memente variado. Nesse caso a velocidade escalar média em um intervalo vale
a média aritmética das velocidades escalares instantâneas inicial e final do in-
tervalo.
Isso pode ser visto a partir do gráfico de v em função de t, que é um
trapézio. Sendo o deslocamento escalar representado pela área sob o gráfico e
sabendo-se que a área de um trapézio vale a base média vezes a altura, se tem:
Δ𝑠 𝑣 + 𝑣′
𝑣̅ = =
Δ𝑡 2
v

Δs v’
v
t

Δt
Sabendo-se, por outro lado, que
Δ𝑣 𝑣 ′ − 𝑣
𝑎̅ = 𝑎 = =
Δ𝑡 Δ𝑡
Pode-se isolar o intervalo de tempo Δt nessas expressões,
2Δ𝑠 𝑣′ − 𝑣
Δ𝑡 = =
𝑣 + 𝑣′ 𝑎
E obter a expressão: 2𝑎Δ𝑠 = (𝑣 + 𝑣 ′ )(𝑣 ′ − 𝑣) = 𝑣′2 − 𝑣 2
Ou Δ(𝑣 2 ) = 𝑣′2 − 𝑣 2 = 2𝑎Δ𝑠
Infinitesimalmente: 𝑑(𝑣 2) = 2𝑎𝑑𝑠
Essa é a Equação de Torricelli, de grande importância para se estudar
a conservação da Energia.

46
MOVIMENTO DE TRANSLAÇÃO

A aceleração vetorial média e instantâneas são definidas como as taxas


de variação temporal das velocidades vetoriais instantâneas, respectivamente
em um intervalo de tempo finito ou infinitesimal:
Δ𝒗 𝑑𝒗
̅≡
𝒂 𝒂≡
Δ𝑡 𝑑𝑡
No estudo dos movimentos é conveniente decompor a aceleração ve-
torial instantânea em uma componente tangente à trajetória, isto é, na direção
da velocidade vetorial instantânea, e outra perpendicular à trajetória, isto é, per-
pendicular à velocidade vetorial instantânea. A primeira indica a variação do
módulo da velocidade vetorial instantânea, tendo para módulo, pois, o valor ab-
soluto da aceleração escalar instantânea, e a segunda indica a variação de sua
direção. O módulo da componente da aceleração instantânea perpendicular à
trajetória, denominada aceleração normal, é dado pela razão do quadrado da
velocidade escalar instantânea pelo raio de curvatura da trajetória no ponto
considerado. Como se trata de um vetor voltado para o centro de curvatura da
trajetória, é também chamada de aceleração centrípeta.
𝑎𝑐 = 𝑎⊥ = 𝑣 2/𝑟
Note que o sinal nessa fórmula não é o de identidade, pois tal relação
não é uma definição e sim um resultado deduzido de definições. Doravante cha-
mar-se-á de velocidade e aceleração seus valores vetoriais e instantâneos.
A aceleração tangencial terá o sentido oposto ao da velocidade se o
movimento estiver se retardando (diminuindo o módulo da velocidade).
Para que um corpo permaneça em repouso, é preciso, não apenas que
sua velocidade seja nula, mas que permaneça nula, isto é, que sua aceleração
também seja nula.

ac
at
a

4.6. Movimento relativo

Posição, velocidade e aceleração são grandezas cujos valores depen-


dem do referencial em relação ao qual sejam medidas. Cabe, pois, correlacionar
seus valores em um referencial com os correspondentes em outro referencial

47
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

que se mova em relação ao primeiro. Tal é o propósito da chamada “Relativi-


dade”. Classicamente se consideram as relações tidas como “Relatividade Gali-
leana”, que será abordada agora. Posteriormente se abordará a “Relatividade
Einsteniana”.
Para facilitar, o que sempre pode ser feito, sem perda de generalidade,
escolhem-se os eixos dos referenciais paralelos e correspondentes, com o movi-
mento de um em relação ao outro ocorrendo ao longo de seus eixos dos xx, com
velocidade constante. Além disso ajusta-se a contagem dos tempos de modo que
o instante nulo seja aquele em que a origem de um passe pela origem do outro.
y’ y
v
x z
P
O’ x’ O y x

u
z' z
Como a origem de O passa pela origem de O’ no instante zero, com ve-
locidade constante u, a posição de O em relação a O’ no intante t será ut.
Se as coordenadas da partícula P em relação ao referencial O forem x,
y e z, as coordenadas em relação ao referencial O’, serão:
x' = x + ut
y’ = y
z’ = z
Se a partícula P tiver a velocidade v, de componentes vx , vy e vz em
relação ao referencial O, sua velocidade v’, em relação ao referencial O’, terá
componentes:
v'x = vx + u
v’y = vy
v’z = vz
Havendo uma aceleração a, de P em relação a O, de componentes ax , ay
e az , sua aceleração em relação a O’ terá componentes:
a'x = ax
a’y = ay
a’z = az
No caso do referencial O se mover, também, com uma aceleração γ em
relação a O’, no sentido positivo do eixo dos xx, as transformações passam a ser:

48
MOVIMENTO DE TRANSLAÇÃO

49
5. DINÂMICA DO MOVIMENTO

5.1. Inércia e referencial inercial

Aristóteles supunha que a manutenção de um movimento com veloci-


dade constante requereria a aplicação continuada de uma força constante. Isso,
realmente, parecia emergir da observação dos eventos na natureza. Galileu, con-
tudo, quase dois mil anos depois, mostrou que não. Em suas experiências com
esferas rolando em planos inclinados e horizontais, sem atrito, ele mostrou, em-
pírica e cabalmente, que o estado de movimento com velocidade constante não
requeria a aplicação de nenhuma força. Portanto, toda partícula, abandonada a
si mesmo, permanece em repouso ou se move com velocidade vetorial cons-
tante. Tal afirmativa é conhecida como Lei da Inércia ou Primeira Lei de Newton.
Inércia é, pois, a propriedade de uma partícula e, como se verá, de qualquer sis-
tema, de permanecer em seu estado de movimento com velocidade vetorial
constante, isto é, sempre de mesmo módulo, que pode ser zero, e na mesma di-
reção, ou seja, em linha reta. Todavia, velocidade e aceleração são grandezas me-
didas em relação a um referencial. Há referenciais em relação aos quais um
corpo abandonado a si mesmo pode apresentar aceleração, bem como não apre-
sentar aceleração, mesmo que submetido à ação de outros. Define-se, pois, um
Referencial Inercial como aquele em relação ao qual a Lei da Inércia é verificada,
sendo essa lei, portanto, podendo ser entendida como a afirmativa de que exis-
tem referenciais inerciais e a verificação dessa situação é o critério de se identi-
ficar qual assim o seja.
O estado de movimento de um sistema assim apresentado é chamado
de Equilíbrio. Portanto a condição de equilíbrio é que o sistema não esteja sub-
metido a ações por parte de outros sistemas, ou que elas se cancelem.

5.2. Interação, massa e força

Uma partícula ou outro sistema, pois, que apresente aceleração em re-


lação a um referencial inercial só o faz porque não se encontra abandonada a si
mesma, mas sujeita à ação de algum ou alguns outros sistemas. O raciocínio que

50
DINÂMICA DO MOVIMENTO

se apresentará, devido a Mach, com base em experimentos, permite esclarecer


o fenômeno, estabelecer definições e formular as leis a respeito.
Dadas duas partículas isoladas do resto do Universo, mede-se a acele-
ração de ambas em um referencial inercial (se elas forem as únicas do Universo,
este será o baricentro delas) em cada instante. Observa-se que as acelerações
jazem na reta que une as partículas, têm sentidos opostos e a razão entre seus
módulos é constante para um dado par de partículas, independentemente do
tipo de interação e da separação entre elas (isto não ocorre no domínio relati-
vístico, devido à finitude da propagação das interações, o que obriga a introdu-
ção da partícula mensageira). Este fato é empírico, portanto uma Lei.
O inverso da razão das acelerações é definido como a Massa Inercial
da partícula em relação à outra, tomada como unidade. No sistema internacional
(SI) a massa é medida em quilogramas (kg).
O produto da massa, assim definida, pela aceleração (no referencial
inercial) é definido como a intensidade da Força de Interação.
A Força é o vetor que tem esse módulo e a direção e o sentido da ace-
leração sofrida. Note que se define força como a grandeza aplicada no corpo que
a sofre e não no que a exerce. No SI a força é medida em newtons (N) que equi-
valem ao produto de quilogramas por metro por segundo ao quadrado
(N=kg×m/s²).
Essas últimas proposições são definições.
A grandeza força é uma das que se usa para medir as interações (as
outras são o impulso, o trabalho e o calor). Força não é propriedade de uma par-
tícula, mas sim de um par de partículas. Ou seja, não é possível que algum sis-
tema sofra uma força genuína que não seja aplicada por algum outro. E esse ou-
tro sempre sofrerá, ao aplicar uma força, por parte daquele sobre quem aplica,
uma força também. Isto é, força é algo produzido por Interações. A força é uma
grandeza que mede a intensidade da interação mecânica, enquanto o Impulso e
o Trabalho medem sua quantidade, ao longo do tempo e ao longo do percurso,
respectivamente.
Em decorrência vê-se que a força, assim definida, sofrida por cada um
dos corpos, obedece às relações:
Tem o mesmo módulo em cada instante sobre os dois corpos;
Jaz na reta que une os corpos (partículas);
Têm sentidos opostos sobre cada uma delas;
Permanece aplicada sobre cada corpo durante o mesmo tempo.
Estas últimas afirmativas constituem o que é chamado de Lei da Ação
e da Reação ou Terceira Lei de Newton. Em termos matemáticos ela se escreve:
𝑭1,2 = −𝑭2,1

51
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

F2,1 m2
F1,2
m1
em que 𝑭1,2 é a força sofrida pelo corpo 1 por parte do 2 e 𝑭2,1 é a força
sofrida pelo corpo 2 por parte do 1.
Se houver mais de duas partículas, podemos definir a força exercida
por uma delas sobre a outra como a sofrida por esta outra, caso não houvesse
mais nenhuma senão a considerada. Então haveriam várias forças de interação
por parte dos diversos outros corpos. Mas a aceleração, por definição, tem que
ser única. Se multiplicarmos a aceleração medida, pela massa do que a tem, te-
remos uma grandeza com a dimensão de força, mas que não é força, porque não
mede nenhuma interação. Denominamos isto de Força Resultante. A força resul-
tante é uma abstração matemática. Não é propriamente uma grandeza física.
Agora vem a parte notável: O Princípio da Superposição Linear.
Verifica-se empiricamente, dentro do limite de forças não muito inten-
sas (o que não ocorre, por exemplo, na interferência de raios lasers potentes),
que essa força resultante coincide em módulo direção e sentido com a Soma Ve-
torial das forças de interação sobre o corpo considerado. Essa parte é empírica
também. Note que não existe resultante de forças aplicadas a partículas diferen-
tes. Assim a ação e a reação não têm resultante nula, pois estão em corpos dife-
rentes.
Pode-se resumir o que foi dito até agora como:
“A soma vetorial das forças sobre uma partícula em dado instante é
igual à sua massa inercial multiplicada por sua aceleração vetorial nesse mesmo
instante”. Tal assertiva é a Lei do Movimento, ou Segunda Lei de Newton. Mate-
maticamente ela pode ser expressa como:
∑ 𝑭 = 𝑚𝒂
em que F são as forças devidas às interações atuantes, m é a massa
inercial da partícula e a sua aceleração vetorial em relação a um referencial iner-
cial. O símbolo Σ significa que se tem que proceder ao somatório (no caso, veto-
rial) sobre todas as forças.
A propósito, é interessante mencionar que o Cálculo Vetorial só tem a
aplicabilidade que tem porque a natureza obedece ao Princípio de Superposição
Linear, pelo menos aproximadamente.

52
DINÂMICA DO MOVIMENTO

5.3. Referenciais não Inerciais

5.4. Momento Linear e Impulso

Define-se o Momento Linear, p, também conhecido como Momentum


ou Quantidade de Movimento, como o produto da massa inercial pela velocidade
de uma partícula, uma grandeza vetorial:
𝒑 ≡ 𝑚𝒗
No Sistema Internacional (SI) o momento linear é medido em quilo-
gramas metro por segundo (kg×m/s).
Em termos dela, a Lei do Movimento se escreve:
Δ𝒗 𝑚𝒗′ − 𝑚𝒗 Δ𝒑 𝑑𝒑
∑ 𝑭 = 𝑚𝒂 = 𝑚 = = =
Δ𝑡 Δ𝑡 Δ𝑡 𝑑𝑡
O interessante dessa equação é que ela se estende para situações em
que a massa também varie enquanto a velocidade varia, ou mesmo, que só ela
varie, pois, então, se tem uma variação do momento linear dada por:
Δ𝒑 = 𝑚′ 𝒗′ − 𝑚𝒗
Define-se o Impulso de uma força como a grandeza extensiva que
mede a quantidade de interação pelo produto da força pelo tempo ao longo do
qual ela atue. Se a força for constante em módulo e orientação durante o tempo
em que atue, o impulso é dado por:
𝑰 ≡ 𝑭Δ𝑡
No SI o impulso é medido em newtons segundos (N×s, ou Ns) que equi-
valem a kg·m/s.
No caso de a força ser variável com o tempo há que se tomar para im-
pulso a soma das componentes do impulso em cada eixo, sendo cada uma delas
obtida pela soma dos produtos FΔt, em cada intervalo em que a força possa ser
considerada constante, isto é:
𝑰𝒙 ≡ ∑ 𝑭𝒙 Δ𝑡
o mesmo valendo para as componentes y e z.
No caso de a força variar continuamente, sempre se pode supor que,
num intervalo infinitesimal dt, ela possa ser suposta constante e, então esses
somatórios serão substituídos por uma integral:
𝑰𝒙 ≡ ∫ 𝑭𝒙 𝑑𝑡
o mesmo valendo para as componentes y e z.

53
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

Note que a integral nada mais é do que um somatório de infinitas par-


celas infinitamente pequenas, que não dá um resultado nem nulo nem infinito.
O cálculo infinitesimal fornece ferramentas para se obter seu valor, mas ele pode
ser entendido como representado pela área sob o gráfico da função representa-
tiva da componente da força em função do tempo, entre os instantes inicial e
final do trecho em que esteja sendo calculado.
Fx

Ix
t
Uma vez achadas essas componentes, o impulso total será o vetor
soma delas I = Ix + Iy + Iz, que tem para módulo 𝐼 = √𝐼𝑥 2 + 𝐼𝑦 2 + 𝐼𝑧 2 e faz com
cada eixo, ângulos dados por:
𝐼 𝐼 𝐼
cos 𝜃𝑥 = 𝑥 , cos 𝜃𝑦 = 𝑦 , cos 𝜃𝑧 = 𝑧
𝐼 𝐼 𝐼
Em termos do Impulso e do Momento Linear, a Lei do Movimento se
escreve:
∑𝑰 = Δ∑𝒑
Essa equação é muito útil para sistemas de massa variável.
Considerando o impulso total das forças atuantes sobre um sistema
em dado intervalo de tempo, se tem:
𝑰 = ∑ 𝑰 = ∑ 𝑭Δ𝑡 = Δ𝑡 ∑ 𝑭
Portanto:
Δ𝑡 ∑ 𝑭 = Δ ∑ 𝒑
Isto é: “A variação do Momento Linear total de um sistema é vetori-
almente igual ao Impulso da Força Resultante que atua sobre ele.”

54
6. MOVIMENTO DE ROTAÇÃO

6.1. Velocidade e aceleração angulares

Quando uma partícula se mover, pode-se considerar que seu vetor po-
sição, além de variar o módulo, possa variar sua direção, especificada pelo ân-
gulo que faça em relação a uma reta fixa no referencial, passando por sua origem.
A taxa de variação desse ângulo com o tempo será a sua velocidade angular, mé-
dia e instantânea, definida pelas equações:
Δ𝜃 𝑑𝜃
𝜔̅≡ 𝜔≡
Δ𝑡 𝑑𝑡
em que θ é o ângulo de giro e ω a velocidade angular. Normalmente se
mede a velocidade angular em radianos por segundo (rad/s), em que radiano é
definido como o ângulo de um setor circular que abranja um arco de compri-
mento igual ao raio. Desse modo uma circunferência completa abrangerá o ân-
gulo total de 2π radianos, pois π é a razão do comprimento da circunferência
pelo diâmetro, isto é, o dobro do raio.
Se o movimento da partícula tiver uma trajetória plana, a reta perpen-
dicular a esse plano passando pela origem é o eixo de rotação. Então a veloci-
dade angular pode ser considerada um vetor na direção desse eixo, de módulo
igual a seu valor e sentido dado pela regra da mão direita. Por essa regra, se se
apontar os dedos da mão no sentido do giro, o sentido do vetor será o sentido
do polegar, como se a mão segurasse um cilindro. No caso de a trajetória não ser
plana, em cada intervalo infinitesimal de tempo, pode-se supor que ela o seja e
definir assim a velocidade angular instantânea. Só que ela não terá direção cons-
tante, pois o eixo irá variando. Em termos da velocidade angular, a velocidade
escalar tangencial de rotação do ponto móvel em relação ao eixo de rotação será
dada pelo produto da velocidade angular pela distância do ponto ao eixo, uma
vez que o arco percorrido vale o produto do ângulo, em radianos, pelo raio:
Δ𝑠 𝑟Δ𝜃 𝑑𝑠 𝑟𝑑𝜃
𝑣̅∥ = Δ𝑡 = Δ𝑡 = 𝑟𝜔 ̅ 𝑣∥ = 𝑑𝑡 = 𝑑𝑡 = 𝑟𝜔
Tal resultado é chamado de Produto Vetorial, do vetor velocidade an-
gular do ponto móvel pelo vetor posição do ponto móvel em relação à origem,
representado pela notação:
𝒗=𝝎×𝒓
Reciprocamente, pode-se deduzir que:

55
FÍSICA PARA FILÓSOFOS
𝒓×𝒗 𝒓×𝒗
𝝎= = 2
|𝒓|2 𝑟
Analogamente se definem a aceleração angular α, média e instantânea
pelas expressões:
Δ𝜔 𝑑𝜔
𝛼̅ ≡ 𝛼≡
Δ𝑡 𝑑𝑡
Do mesmo modo elas podem ser consideradas vetoriais, só que o eixo
desse vetor não é o mesmo da velocidade angular e sim o eixo perpendicular ao
plano em que se move a velocidade angular, que também pode ser variável. A
unidade de medida da aceleração angular será rad/s².
As relações entre a aceleração angular e a aceleração escalar são, do
mesmo modo:
𝑎̅∥ = 𝑟𝛼̅ 𝑎∥ = 𝑟𝛼
Que podem ser expressas pelos produtos vetoriais:
𝒓×𝒂 𝒓×𝒂
𝒂∥ = 𝜶 × 𝒓 𝜶 = |𝒓|2 = 2
𝑟

6.2. Corpos Rígidos

A maior parte dos sistemas em movimento não são partículas e sim


corpos, isto é, sistemas materiais extensos, formados por inúmeras partículas
ligadas entre si e que apresentam uma fronteira nítida, isto é, que sempre se
possa saber que partículas pertençam ou não ao corpo. Além do mais, em geral,
os corpos são sistema sólidos, ou seja, que não se expandem espontaneamente
e nem escorrem. Um corpo sólido pode ser rígido ou deformável. Um Corpo Rí-
gido é um sólido que mantém sua forma invariável, ou seja, as posições relativas
de suas partículas não mudam. Um sólido deformável é aquele passível de mu-
dar sua forma, com a alteração da posição relativa de suas partículas constituin-
tes. Os sólidos deformáveis ainda podem ser elásticos ou plásticos. Os primeiros
retornam à forma inicial uma vez cessada a causa da deformação e os últimos
permanecem, pelo menos parcialmente, deformados.

6.3. Translação e Rotação

Um corpo rígido experimenta um movimento de translação se todas as


suas partes descrevem trajetórias exatamente iguais, com velocidades e acele-
rações paralelas iguais. Nesse caso seu movimento é idêntico ao de uma partí-

56
MOVIMENTO DE ROTAÇÃO

cula, desde que as forças aplicadas sobre ele tenham suas linhas de ação pas-
sando por seu Centro de Massa. O Centro de Massa de um corpo é o ponto cujas
coordenadas, em qualquer referencial, tenham para valor a média ponderada
das coordenadas de todas as suas partículas ou porções infinitesimais, tendo por
peso de cálculo o valor de suas massas.
Se o movimento das partes de um corpo não for assim ele não irá trans-
ladar. Então seu movimento pode ser decomposto em dois: A translação de seu
centro de massa acompanhada de rotação de suas partes em redor dele. Uma
rotação pura é um movimento de um corpo de tal forma que todas as suas partes
se movam em círculos em torno de algum eixo de rotação, com velocidade an-
gular uniforme, isto é, a mesma para todos em cada instante, mesmo que não
seja constante. A direção do eixo também pode variar, mas na rotação pura o
centro de massa do corpo não se move.
No caso de haver rotação e translação, as relações cinemáticas ficam:
𝒗 = 𝒗𝒕 + 𝝎 × 𝒓 𝒂 =𝜶×𝒓+𝝎×𝒗
em que 𝒗𝒕 é a velocidade de translação, 𝒂𝒕 = 𝜶 × 𝑟 é a aceleração tan-
gencial e 𝒂𝒓 = 𝝎 × 𝒗 é a aceleração radial.

6.4. Dinâmica da Rotação

A dinâmica das rotações se assemelha à das translações, mas a gran-


deza que mede a intensidade das interações que provoquem rotações não é mais
a força e sim o torque ou momento da força. Tal grandeza é definida como o
produto da força aplicada a um ponto do corpo (já que uma partícula não pode
experimentar rotação, já que não tem tamanho) pela distância da linha de ação
dessa força ao eixo instantâneo de rotação. Tal distância é o módulo da compo-
nente do vetor posição do ponto de aplicação da força em relação a algum ponto
de eixo de rotação, perpendicular à direção da força. Como pode se ver:
𝜏 = 𝑑⊥ 𝐹 = 𝑑𝑠𝑒𝑛𝜃𝐹 = 𝑑𝐹⊥


F
d θ

θ

em que F é a força, “o” é o eixo de rotação (perpendicular à página), d


é a posição do ponto de aplicação da força em relação ao eixo de rotação, θ é o

57
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

ângulo entre a força e esse vetor posição e d˔ é a projeção desse vetor posição
perpendicular à força. O torque é medido na unidade newton metro (Nm).
O torque também é um vetor, cujo módulo é dado pela expressão
acima, cuja direção é perpendicular ao plano formado pela força e pelo vetor
posição do ponto de aplicação da força em relação à origem em que seja calcu-
lado e cujo sentido é dado, também, pela regra da mão direita, igual à usada para
definir o vetor velocidade angular, com a substituição da velocidade vetorial
pela força. Ou seja, o torque é dado pelo produto vetorial:
𝝉=𝒓×𝑭
O torque total sobre um sistema de forças, atuante sobre um sistema
de partículas, será a soma dos torques sobre cada uma, só tendo significado
quando todos eles forem calculados em relação ao mesmo ponto.
Se se considerar duas partículas interagentes, sujeitas a um par de
ação e reação, o torque total sempre será nulo, pois o par atuará ao longo da
mesma linha de ação, tendo as forças sentidos opostos.
Todavia, no caso de um corpo rígido, se forem aplicadas duas forças de
mesmo módulo e sentidos opostos, mas não ao longo da mesma linha de ação, o
torque total não será nulo. Tal sistema de força é dito um Binário, ou Conjugado.
O torque exercido por um conjugado não depende do ponto em relação ao qual
seja calculado e vale o produto do módulo de uma das forças (igual ao da outra),
pela separação entre suas linhas de ação, tendo a orientação perpendicular ao
plano das forças, apontando no sentido dado pela Regra da Mão Direita.
No caso da rotação, a inércia de um sistema não é dada simplesmente
pela massa, pois uma massa mais distante do eixo de rotação se opõe mais a
girar do que se estiver mais próxima. Aplicando a Lei do Movimento sobre uma
massa m que gire em torno de um eixo à distância r desse eixo, submetida a uma
força F, tem-se:
𝑭 = 𝑚𝒂
Fazendo-se o produto vetorial do vetor posição r a ambos os lados
dessa equação, tem-se:
𝝉 = 𝒓 × 𝑭 = 𝑚𝒓 × 𝒂 = 𝑚𝑟²𝜶
Essa equação é similar à da Lei de Movimento na translação, com a
substituição da força pelo torque, da aceleração linear pela aceleração angular e
da massa pela quantidade mr², denominada Momento de Inércia. No caso de um
sistema de partículas, o momento de inércia vale:
𝐽 = ∑ 𝑚𝑟²
E no caso de um corpo extenso, suposto contínuo, como é o caso de um
corpo rígido, o Momento de Inércia valerá:

58
MOVIMENTO DE ROTAÇÃO

𝐽 = ∫ 𝑟 2 𝑑𝑚
A unidade do Momento de Inércia é quilograma metro quadrado
(kg·m²).
Sólidos de formatos geométricos simples possuem expressões para
seus momentos de inércia em função de seus parâmetros geométricos, como por
exemplo:
Cilindro em relação ao eixo – J = Mr²/2
Esfera em relação ao centro – J = 2Mr²/5
O Momento de Inércia de outras configurações pode ser encontrado
em referências específicas, como o “Manual de Fórmulas e Tabelas Matemáti-
cas”, de Spiegel, da Coleção Schaum.
Em termos do Momento de Inércia, a Lei do Movimento para as rota-
ções de corpos rígidos, portanto, fica como:
∑ 𝝉 = 𝐽𝜶

6.5. Momento Angular e Impulso Angular

Do mesmo modo que o Momento Linear descreve a quantidade de mo-


vimento de translação, a quantidade do movimento de rotação pode ser medida
pela grandeza Momento Angular, definida como o produto vetorial do vetor po-
sição de uma partícula por seu Momento Linear:
𝑳 ≡ 𝒓 × 𝒑 = 𝑚𝒓 × 𝒗
O Momento Angular é um vetor perpendicular ao plano dos vetores
posição e momentum, com sentido dado pela regra da mão direita. Sua unidade,
no SI, é quilograma metro quadrado por segundo quadrado (kg·m²/s²).
L
v

m
O
r

59
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

Em termos do Momento Angular, a Lei do Movimento para a rotação


fica:
Δ𝑳 𝑑𝑳
𝝉̅ = 𝝉=
Δ𝑡 𝑑𝑡
Da mesma forma, define-se o Impulso Angular, para um torque cons-
tante, como:
𝑵 = 𝝉Δ𝑡
medido em newtons metro segundo (N·m·s ou Nms), no SI.
Caso o torque não seja constante, faz-se a integral:
𝑵 = ∫ 𝝉𝑑𝑡
Da mesma forma que no caso do Impulso da Força, isso pode ser obtido
pela decomposição do torque em suas componentes ao longo dos eixos, calcu-
lando-se a componente do Impulso em cada eixo e, então, achando a soma veto-
rial delas.
Isso equivale a achar a área sob o gráfico de cada componente do tor-
que em função do tempo e, então, somar vetorialmente essas componentes do
impulso, como se mostrou para o impulso da força.
Em termos do Impulso Angular e do Momento Angular, a Lei do Movi-
mento para as rotações se escreve:
∑𝑵 = Δ∑𝑳
Considerando o impulso total dos torques atuantes sobre um sistema
em dado intervalo de tempo, se tem:
𝑵 = ∑ 𝑵 = ∑ 𝝉Δ𝑡 = Δ𝑡 ∑ 𝝉
Portanto:
Δ𝑡 ∑ 𝝉 = Δ ∑ 𝑳
Ou seja: “A variação do Momento Angular total de um sistema é
igual ao Impulso Angular do Torque resultante atuante sobre ele”.

60
7. LEIS DE CONSERVAÇÃO

O estudo da dinâmica dos movimentos também pode ser feito em ter-


mos das grandezas características dos estados apresentados pelos sistemas,
sem fazer uso das grandezas descritivas das intensidades das interações, como
a força e o torque. Elas são a momento linear e o momento angular, além da
grandeza Energia, que se discutirá. A razão é que elas apresentam uma caracte-
rística notável que é a sua conservação ao longo das interações, providas que
sejam certas condições, muitas vezes ocorrentes.

7.1. Conservação do Momento Linear

Foi mostrado que:


Δ𝑡 ∑ 𝑭 = Δ ∑ 𝒑
Se se considerar um Sistema Isolado, isto é, que não sofra interação
nenhuma por nada que esteja fora dele, todas as forças entre suas partes inter-
nas serão pares de ação e reação. Ao se somar vetorialmente todos esses pares,
dentro do sistema, se obterá um valor zero, ou seja, ΣF=0, donde:
Δ∑𝒑 = 0
Isto é, Σp não varia, ou seja, fica constante.
Isso permite enunciar o seguinte Princípio de Conservação do Mo-
mento Linear:
“O Momento Linear de um Sistema Isolado é constante”.
Tal proposição é extremamente útil para analisar o desenvolvimento
dinâmico em muitos casos. Note que tal enunciado é uma forma equivalente de
expressar a Terceira Lei de Newton. Sua verificação empírica é, portanto, o me-
lhor modo de se assegurar a validade dessa lei.

7.2. Conservação do Momento Angular

Da mesma forma, também foi mostrado que:

61
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

Δ𝑡 ∑ 𝝉 = Δ ∑ 𝑳
Se se considerar um Sistema Isolado, isto é, que não sofra interação
nenhuma por nada que esteja fora dele, todas as forças entre suas partes inter-
nas serão pares de ação e reação. Ao se somar vetorialmente todas essas forças,
dentro do sistema, se obterá um valor zero, ou seja, ΣF=0.
Consequentemente, se se calcular o torque total de todas essas forças
em relação a um mesmo ponto, ele também será nulo e, consequentemente:
Δ∑𝑳 = 0
Ou seja, ΣL não varia, sendo, pois, constante, o que permite enunciar o
Princípio de Conservação do Momento Angular:
“O Momento Angular de um Sistema Isolado permanece constante”.
O mais interessante é que esse princípio vale, também, para sistemas
não isolados, desde que sujeitos a forças centrais, isto é, que estejam sempre
voltadas para um mesmo ponto. A razão é que, nesse caso, a direção do vetor
posição de cada partícula em relação ao centro é a mesma da força, que, não
possuindo componente perpendicular a ele, terá torque nulo. A soma de torques
nulos será nula, garantindo a conservação do Momento Angular.

7.3. Trabalho

Movimento e interação são os dois principais tópicos de que cuida a


Física, além da composição e estrutura básicas do mundo natural. Interações
possuem atributos intensivos e extensivos. No caso de interações mecânicas,
isto é, que promovam alterações dos corpos materiais em bloco, a intensidade é
medida pela Força ou Torque e a extensão ou quantidade, pelo Impulso Linear
ou Angular e por outra grandeza, denominada Trabalho. Enquanto os impulsos
medem a quantidade de interação ao longo de um tempo, o trabalho mede a
quantidade de interação ao longo de um percurso.
Define-se a quantidade de Trabalho exercido por certa Força, suposta
constante em módulo e orientação, ao longo de um deslocamento retilíneo, no
caso da Força estar sendo aplicada sobre uma partícula no sentido de seu movi-
mento, por:
𝑊 ≡ 𝐹Δ𝑠 = 𝐹Δ𝑟,
em que o trabalho W é dado em joules (J) no Sistema Internacional,
equivalente a newtons vezes metros, F é o módulo da força e Δr = Δs é o módulo
do deslocamento ou do percurso (idênticos por ser retilíneo). Note que a pro-
núncia aportuguesada da unidade é “jôule” e não “jáule” como se costuma dizer.
62
LEIS DE CONSERVAÇÃO

Em inglês, o correto é “djul”. Se a força for constante, mas fizer um ângulo θ


(também constante) com o deslocamento, então o trabalho é definido como:
𝑊 ≡ 𝐹∥ Δ𝑠 = 𝐹𝑐𝑜𝑠𝜃Δ𝑠 = 𝐹Δ𝑠∥ ,
em que F∥ é o módulo da componente da força na direção do desloca-
mento, θ é o ângulo entre a força e o deslocamento e Δs ∥ é o módulo da compo-
nente do deslocamento na direção da força.
F
F∥

θ Δr
Δr∥
Observe-se que, sendo o ângulo θ obtuso (maior do que um reto), o
Trabalho será negativo, devido ao sinal do cosseno. Em particular, se a Força
tiver o sentido oposto ao do deslocamento, o Trabalho valerá:
𝑊 = −𝐹Δ𝑟
Tal operação binária entre dois vetores é denominada Produto Esca-
lar dos dois vetores, denotado pelo símbolo de operador “•”:
𝑨 • 𝑩 = |𝑨| ⋅ |𝑩| ⋅ 𝑐𝑜𝑠𝜃
Logo o Trabalho é dado pelo produto escalar da Força pelo Desloca-
mento:
𝑊 = 𝑭 • Δ𝒓 = |𝑭| ⋅ |Δ𝒓| ⋅ 𝑐𝑜𝑠𝜃
Se a Força não for constante, nem em módulo, nem em direção, o valor
do trabalho será representado pela “área” sob o gráfico da componente algé-
brica da força na direção do deslocamento, em cada deslocamento infinitesimal,
entre as linhas de chamada do gráfico ao eixo das posições e o eixo das posições.
Matematicamente isto vem a ser a “integral” do produto escalar da força pelo
deslocamento:
𝑊 = ∫ 𝑭 • 𝑑𝒓.
F∥

W
s

63
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

7.4. Energia

Energia é um conceito muito falado e pouco compreendido, além de


ser, muitas vezes, atribuído a coisas que, absolutamente, nada têm a ver com
energia. Energia é um conceito físico, e, como tal, um construto abstrato hu-
mano, não correspondente, necessariamente, a algo concreto na natureza. Os
conceitos e as teorias físicas, todavia, permanecem enquanto fizerem sentido e
conduzirem a interpretações adequadas da realidade objetiva, de modo a per-
mitir a previsão e o controle do comportamento da natureza.
Muito do que se considera como sendo “Energia”, em verdade trata-se
de conceitos que melhor seriam descritos por palavras como “Disposição”,
“Ânimo” ou outras de natureza psicológica e não física. Para um organismo bio-
lógico, a única coisa que fornece energia é o alimento, ou a luz solar, no caso de
plantas clorofiladas. Demonstrações de afeto não “passam” energia, nem tam-
pouco “chás”, “florais” ou “incenso”. Drogas como guaraná, ou os ditos “energé-
ticos”, em verdade atuam no sistema nervoso, criando um estado de alerta po-
tencializado, mas não fornecem energia. Apenas habilitam o organismo a acele-
rar o consumo da energia disponível. Açúcar, amido e os demais carboidratos,
bem como proteínas é que fornecem energia ao organismo. Orações, “passes” e
“benzeduras’, além de outros rituais, tampouco.
É preciso entender que energia não é uma entidade. O Universo não é
feito de “matéria e energia”, mas sim de campos, que se apresentam como ma-
téria e radiação em suas quantizações ou campos de força estáticos não quanti-
zados. Esses campos é que possuem ou não energia. Ela é, pois, um “atributo”
das entidades constitutivas do Universo e de seus conglomerados, que são os
sistemas e, em particular, os corpos. Sistema é qualquer subconjunto do Uni-
verso, constituído de campos, radiação e matéria. Um sistema material que pos-
sua uma fronteira nítida é um corpo. Para se trabalhar com o atributo energia
dos sistemas, associa-se a ele uma “grandeza”, também denominada “energia”, a
que podemos dar um valor passível de medição, de caráter escalar, isto é, ex-
pressa exclusivamente por um valor, sem orientação espacial, e extensivo, isto
é, cumulativo aditivamente. O que representa essa grandeza?
De modo intuitivo podemos dizer que energia é a grandeza que mede
aquilo que um sistema consome ao realizar algo. E realizar algo significa intera-
gir com outros sistemas e alterar suas configurações e seus estados, quer mu-
dando seu movimento, sua distribuição espacial ou outras características que
ele apresente, como eletrização, temperatura, estado de agregação, magnetiza-
ção etc. A alteração de tudo isto se dá com o dispêndio de energia, que funciona

64
LEIS DE CONSERVAÇÃO

como se fosse dinheiro, na economia da natureza. Por configuração, entende-se


a disposição espacial das partes do sistema e por estado a condição que, além da
configuração, considera como o sistema está ou tende a evoluir no tempo.
O mais importante sobre a grandeza energia, que lhe confere uma
enorme importância no estudo dos sistemas físicos e sua evolução, é que ela
obedece a uma “Lei de Conservação”. Isso quer dizer que energia é uma gran-
deza que não se perde nem se cria, apenas se transforma ou se transfere, sendo
o total uma constante para um sistema isolado, isto é, que não interaja com a
vizinhança. E como o Universo, por definição, é um sistema isolado, pois não tem
vizinhança, a energia total do Universo é uma constante, quer dizer, não varia
com o passar do tempo. O curioso é que, levando em conta que as energias po-
tenciais podem ser negativas (quando a interação é atrativa e se escolhe o zero
na configuração em que não se tem interação), é possível que, incluídas todas as
interações, a energia total do Universo seja exatamente ZERO. Portanto, a possi-
bilidade de que o Universo tenha surgido de nada, não violaria a conservação da
energia. Mas, mesmo que violasse, como, não havendo nada, também não há leis
a que se obedecer, a passagem da inexistência para a existência do Universo não
teria que obedecer a leis que vigoram enquanto ele existe.
Nas interações há, pois, a possibilidade de os sistemas trocarem ener-
gia e podemos fazer uma contabilidade disto (débito, crédito, saldo). A quanti-
dade de energia trocada (o pagamento ou recebimento, dependendo do ponto
de vista), é medida por dois tipos de grandeza: trabalho e calor. A interação en-
volve realização de trabalho quando é possível detectar aplicação de força entre
os sistemas, que, em decorrência, sofrem deslocamento, na totalidade ou em al-
guma parte. E o calor é transferido quando na interação há diferença de tempe-
ratura entre os sistemas ou subsistemas sem nada que impeça a energia de fluir.
Mas o calor é um conceito macroscópico, só perceptível em sistemas de muitas
partículas. Entre partículas elementares (prótons, elétrons), só se troca energia
por realização de trabalho. Calor é, pois, uma espécie de trabalho líquido global
entre as partículas dos sistemas, que não acarrete uma aplicação de força e um
deslocamento macroscópico desses sistemas.

7.5. Energia Cinética

À energia que um sistema possui pelo fato de estar em movimento cha-


mamos cinética. Considerando o sistema como um todo, tal energia é medida
pela metade do produto da massa (grosso modo a quantidade de matéria) do

65
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

sistema pelo quadrado de sua velocidade. Como a velocidade é um conceito re-


lativo, assim também o é a Energia Cinética. O trabalho que uma bala de fuzil
pode fazer depende de sua velocidade relativa ao alvo. Para escaparmos da
morte por fuzilamento, basta, pois, que saiamos correndo com a mesma veloci-
dade da bala que, assim, em relação a nós, estará parada e não nos fará mal. Isto,
de fato, é o que ocorre com as baterias antiaéreas que tentem alvejar um avião
que já passou, atirando por trás.
Para calcular a Energia Cinética de uma partícula, considera-se a vari-
ação de sua velocidade ao longo de um percurso infinitesimal, em que se pode
supor que sua aceleração seja constante:
Pela Equação de Torricelli, tem-se:
d(v²) = 2ads
Multiplicando-se pela massa da partícula, vém:
md(v²) = 2mads
Pela Lei do Movimento, se tem:
md(v²) = 2Rds
Em que R é a força resultante.
Integrando-se, obtém-se:
mv'² - mv² = 2ΣW
ou seja
mv²
ΣW = Δ( 2 )
Como o trabalho total é o trabalho da força resultante, a força resul-
tante é que causa a aceleração e, pois, a variação da velocidade, o trabalho é a
forma mecânica de transferência de energia, então a quantidade mv²/2, cuja va-
riação vale esse trabalho é, justamente, a energia que algo possui pelo fato de
estar em movimento, ou seja, sua Energia Cinética:
𝑚𝑣²
𝐾=
2
Se se tiver um sistema de partículas, sua energia cinética será a soma
das energias cinéticas de todas elas. E o trabalho total de todas as forças que
sobre ele atuam será a soma (escalar) dos trabalhos das forças que atuam sobre
todas as suas partículas.
Dessas considerações se pode afirmar, pois, que “A variação da Ener-
gia Cinética de um sistema é dada pelo trabalho total de todas as forças que
atuam sobre ele”.

66
LEIS DE CONSERVAÇÃO

7.6. Forças Conservativas

7.7. Energia Potencial

À energia que um sistema possui por estar submetido a um campo de


força denominamos potencial. Seu significado está em que, permitindo-se que a
força do campo aja sobre o sistema, ele se deslocará, adquirindo velocidade e,
pois, energia cinética, cujo valor consideramos que antes estava armazenado no
campo de força da interação.
Para cada tipo de interação há uma Energia Potencial, como a gravita-
cional, elétrica, elástica, nuclear. As expressões para seus valores serão apresen-
tadas ao se considerar cada uma delas.
Além dessas duas também há a energia possuída pela radiação, ou
energia radiante. Como mostrado por Einstein, essa energia é proporcional à
frequência da radiação bem como ao fluxo de suas partículas, os fótons.

7.8. Energia Interna, Externa eTotal

Energia Interna de um sistema é a totalidade de todas as energias ci-


néticas, potenciais e radiantes de todos os constituintes do sistema, incluindo
partículas e campos, estáticos ou ondulatórios, bem como a energia associada à
massa (de repouso) de todas as partículas. Isso inclui as energias cinéticas trans-
lacionais, rotacionais e vibracionais e as energias potenciais (referentes a todas
as interações) intermoleculares, interatômicas, intra-atômicas, nucleares e
qualquer outra espécie que se considere, desde que medida com relação ao cen-
tro de massa do sistema. Inclui, também, a energia radiante interna, isto é, da
radiação que é emitida e absorvida dentro do próprio sistema.
A Energia Externa é a totalidade das energias cinéticas, potenciais e
radiantes, de toda ordem do sistema, considerado como um todo, com relação
às interações que experimenta com outros sistemas externos a ele e o movi-
mento que faz em relação a algum referencial externo a ele.
Energia Total é a soma dessas energias todas, internas e externas.
É importante frisar que não conhecemos o valor absoluto nem da
Energia Interna nem da Externa, pois as potenciais são valores de calibre, que
dependem da definição do zero e as cinéticas são relativas ao referencial. As

67
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

equações da Termodinâmica dizem respeito a variações de energia, que são di-


ferenciais exatas, isto é, variações de alguma função bem definida do estado do
sistema e as correlacionam com o trabalho de configuração (que se dá pela mu-
dança da configuração), ou dissipativo (que se dá sem mudança na configura-
ção) e o calor, que são diferenciais inexatas (ditas pfaffianas), isto é, cujo valor
não depende só da mudança na configuração, mas também do modo como esta
mudança ocorreu, isto é da sua história (das situações intermediárias experi-
mentadas). Por isso existe variação da energia, mas não existe variação do tra-
balho e do calor.
Em Relatividade, a totalidade da energia interna do sistema (incluindo
a da massa de repouso das partículas constitutivas) é Energia Própria do sis-
tema, que determina sua ação gravitacional ativa e passiva, bem como sua res-
posta inercial às tentativas de alterar seu estado de movimento. Portanto é cor-
reto que possamos obter o valor da energia interna de um sistema por seu com-
portamento gravitacional, sempre lembrando que, nas equações de Einstein,
que seriam aplicadas, os coeficientes da métrica são funções da massa do corpo
central, que na relatividade inclui todo o tipo de energia interna, avaliadas numa
aproximação limite de campos fracos, obtida pela escolha do calibre no qual o
potencial é nulo no infinito, de modo a se identificar com a solução newtoniana.
Assim o valor de energia total, mesmo relativisticamente calculado, não deixa de
ser um campo de calibre. Além do mais, a escolha da origem no corpo, mesmo
que sempre possível, não deixa de ser uma arbitrariedade, que altera o valor da
energia total, mas não da interna.
Outra questão relativa à energia que não é bem esclarecida é a sua re-
lação com a massa, expressa pela equação E = mc², devida a Einstein. Isso signi-
fica que massa, ao fim das contas, nada mais é do que uma manifestação da ener-
gia. Entenda-se primeiro o que significa massa. Como energia, trata-se de um
atributo dos sistemas, no caso, aquele que lhes confere a propriedade de resistir
às mudanças em seu estado de movimento, quando instado a tal pelas interações
com o resto do Universo. É interessante que outra propriedade dos sistemas,
que lhes confere a capacidade de exercer, ativa e passivamente, interação gravi-
tacional, que poderíamos denominar de “carga gravitacional”, por analogia com
a “carga elétrica”, revela-se rigorosamente proporcional a sua massa. Assim po-
demos confundir os dois conceitos, inclusive usando a mesma unidade para me-
dir a grandeza a eles associada, denominada, simplesmente, “massa”. A Relativi-
dade Geral toma como postulado que esses atributos são a mesma coisa no
“Princípio da Equivalência” e identifica a gravitação não como uma interação,
mas como uma manifestação geométrica do espaço-tempo, indistinguível da
inércia.

68
LEIS DE CONSERVAÇÃO

Assim, o comportamento inercial e gravitacional de um sistema, que


na Relatividade Geral é o grau de curvatura que ele imprime ao espaço-tempo, é
função de sua massa. Mas em que consiste esta massa, em termos de outras pro-
priedades possuídas pelo sistema? Simplesmente no total de sua energia in-
terna. Como visto, ela inclui as energias cinéticas e potenciais das partes do sis-
tema em relação a seu centro de massa, além da energia da massa de repouso de
seus constituintes. Assim, a massa de um núcleo atômico inclui as energias po-
tenciais entre os núcleons (prótons e nêutrons), devido às interações eletromag-
néticas e nucleares forte e fraca e as energias cinéticas das vibrações, rotações e
translações (em relação ao centro de massa do núcleo) de tudo o que ele é feito
mais as energias dos campos de força existentes dentro dele. Quando um núcleo
se rompe numa fissão, cada parte tem menos massa que o núcleo original, sendo
a diferença transformada em energia cinética dos subprodutos, que, devido à
caoticidade do sistema macroscópico, significa aumento da temperatura, e em
energia radiante dos fótons emitidos. Isso é que faz funcionar os reatores nucle-
ares e as bombas atômicas. A maior parte dessa energia advém da energia po-
tencial elétrica devida à repulsão entre os prótons do núcleo.
Mas o que é a massa de uma única partícula subatômica elementar,
como um elétron ou um quark, que não se subdivide em nada mais primitivo?
Essa partícula é uma quantização do campo primordial do vácuo, isto é, trata-se
de uma condensação de campo. E o campo possui uma energia potencial da in-
teração que ele exerce. Esse campo é tanto eletromagnético quanto nuclear e
fraco. A energia dessas interações concentradas na partícula consiste na sua
massa, pela relação E = mc². Na Teoria das Supercordas, cada partícula dessas é
um anel de supercorda, que exibe diversos modos de oscilação, torção e rotação,
sendo a energia desses modos a responsável pela massa. Cada tipo de partícula
elementar é caracterizado por um conjunto de modos e frequências de movi-
mentos, que lhe dá a massa que possui.

7.9. Energia Mecânica e Térmica

Finalizando, quero comentar os conceitos de “Energia Mecânica” e de


“Energia Térmica”, muito usado na Física elementar e na Engenharia. A Energia
Mecânica de um sistema além de toda a sua energia externa, inclui também uma
parte da energia interna que é a energia cinética das partes em relação ao centro
de massa do sistema que pode ser atribuída a porções macroscópicas do sis-
tema, em bloco. Isso se dá, por exemplo, com a energia rotacional de um corpo

69
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

rígido, a energia vibracional de um corpo elástico, desde que compartilhada co-


letivamente por porções macroscópicas do sistema, bem como energias de vór-
tices de fluidos em bloco. A energia térmica é, assim, a parte da energia interna
que não pode ser atribuída a movimentos “em bloco” de porções macroscópicas
do sistema. Sua característica principal é ser caótica, isto é, para qualquer pe-
quena porção do sistema, que possua dimensões macroscópicas, o movimento
das partículas que o constituem possui uma quantidade de movimento resul-
tante nula. Caso não seja nula, teremos um movimento global que possuirá uma
energia mecânica, como é o caso do vento, por exemplo.
As energias potenciais internas também podem contribuir para a ener-
gia mecânica, se forem associadas a porções macroscopicamente organizadas
do sistema, como a energia armazenada em uma mola comprimida. Mas perten-
cerão à energia térmica se não se puder associar a uma interação global de uma
parte do sistema com outra, como é o que se dá com a energia potencial inter-
molecular ou interatômica que caracteriza o fato do sistema estar no estado só-
lido, líquido ou gasoso. Essas energias potenciais são térmicas.
No caso do som, as energias potenciais e cinéticas das partículas do
meio propagante associadas à onda sonora são mecânicas, enquanto as mesmas
energias associadas ao movimento caótico das partículas é térmica. Os conceitos
de energia mecânica e térmica só se aplicam a sistemas de muitas partículas,
que, normalmente, podem ser tratados como um meio contínuo, que seja rígido,
deformável ou fluido.

7.10. Conservação da Energia Mecânica

70
8. GRAVITAÇÃO

A interação física mais remotamente estudada por pensadores é a gra-


vitacional. Trata-se daquela que faz com que os corpos caiam, se abandonados
sem suporte de certa altura. Aristóteles considerava que isso acontecia porque
a Terra, sendo o centro do Universo, seria o lugar natural para o qual tudo ten-
deria. O Peso dos corpos seria, pois, medido pela força que se teria que fazer
para sustentar o corpo, impedindo-o de cair. Para Aristóteles, corpos mais pesa-
dos cairiam mais rapidamente do que corpos mais leves. Igualmente, em razão
da grande autoridade dele ao longo de toda a Idade Média, considerava-se que
os corpos celestiais não caiam porque estavam suportados por uma abóbada
transparente rígida. Tais considerações foram sendo derrubadas pelos traba-
lhos de Copérnico, Kepler, Galileu e, finalmente, Newton.

8.1. Peso e Campo Gravitacional

Como um corpo abandonado cai de modo acelerado para o chão, isso


significa que sobre ele atua uma força. Não havendo nenhuma outra identificá-
vel, tal força é denominado o seu Peso ou Força de Gravidade. Rigorosamente há
uma diferença entre o Peso e a Força de Gravidade, que será discutida mais adi-
ante. Certamente que, para se impedir tal queda, há que se exercer sobre o corpo
uma força igual e oposta para equilibrá-lo com velocidade nula, o valor de tal
força, portanto, sendo o valor do Peso.

71
9. FENÔMENOS TÉRMICOS

Quanto à temperatura de um sistema de partículas, trata-se de uma


grandeza proporcional apenas à energia cinética translacional por partícula,
sendo a constante de proporcionalidade igual dois sobre a constante de Boltz-
mann dividido pelo número de graus de liberdade de movimento das partículas.
Isto, para um gás ideal monoatômico, por exemplo, com 3 graus de liberdade de
movimento, equivale a dizer que, para cada kelvin (ou grau Celsius) de tempe-
ratura, as moléculas têm uma energia média de 2,07 × 10-23 joules.
Como todo sistema interage com sua vizinhança emitindo e absor-
vendo radiação eletromagnética, podemos, pela análise do espectro desta radi-
ação (intensidade versus frequência) definir sua temperatura por comparação
com a curva de radiação de corpo negro (ou de cavidade) correspondente. Na
verdade, os corpos reais não são negros, logo esta temperatura não correspon-
derá à temperatura cinética anteriormente mencionada. Além do mais, o con-
ceito de temperatura supõe um sistema em equilíbrio térmico. Para sistemas
fora do equilíbrio seria preciso definir partes do sistema que possam ser consi-
deradas em equilíbrio. Há também a questão da definição do que seja a tempe-
ratura de uma superfície, bem como a de sistemas de fluxo aberto.
A questão absolutamente não é simples e a própria Física Estatística
não dá boa conta do recado. O que podemos dizer é que, realmente, não conse-
guimos medir a energia de um corpo em sua totalidade e, mesmo que pudésse-
mos, a temperatura não depende do total de energia, mas de parte dela. E se o
corpo tiver a complexidade de um organismo biológico, como um pedaço de ma-
deira, então a coisa fica complicadíssima. O que podemos obter são as variações
de temperatura a partir das variações da energia interna, que, por sua vez, de-
pendem do trabalho e do calor, que são modalidades de se transferir energia.
A quantidade “U” que aparece nas equações da Termodinâmica, de
fato, não é a energia interna, mas sim a energia térmica. De qualquer modo,
pode-se dizer que a energia total de um sistema seja a soma de sua energia in-
terna com a externa ou a soma de sua energia térmica com a mecânica. Em sím-
bolos, para um sistema:
E = energia total;
X = energia externa;
I = energia interna;
U = energia térmica;

72
FENÔMENOS TÉRMICOS

M = energia mecânica;
V = energia potencial interna ordenada;
V’ = energia potencial interna caótica;
K = energia cinética interna ordenada;
K’ = energia cinética interna caótica;
Vo = energia potencial externa;
Ko = energia cinética externa.
R = energia radiante interna.
Então:
X = Vo + Ko ; U = V’ + K’ ; I = U + V + K + R ; M = X + V + K
E = X + I = U + M = Vo + Ko + V + K + V’ + K’ + R.
A não ser que consideremos como sistema a totalidade do Universo,
todo sistema possui uma vizinhança que é, simplesmente, o resto do Universo,
fora o sistema. E o que é um sistema? É um subconjunto do Universo definido
sem ambiguidade, de tal forma que se possa dizer, a cada momento, o que per-
tence ou não pertence a ele e qual a sua fronteira. A fronteira pode ser fixa ou
móvel bem como o seu conteúdo. As energias cinéticas das partes constitutivas
do sistema, medidas em relação a seu centro de massa, adicionadas às energias
potenciais devidas às interações entre suas partes, bem como a energia radiante
presente dentro dele, constituem sua Energia Interna. A energia cinética do sis-
tema como um todo, considerado em seu centro de massa, medidas em relação
a um referencial externo, bem como as energias potenciais devido às interações
das partes do sistema com o que estiver fora dele, constituem sua Energia Ex-
terna.
A impossibilidade de atingirmos o Zero Absoluto não está contida na
Segunda Lei da Termodinâmica, que, a princípio, não proíbe um Ciclo de Carnot
de rendimento 100%, desde que o reservatório frio esteja no Zero Absoluto. Ela
está na Terceira Lei da Termodinâmica, esta sim, que proíbe que se atinja o Zero
Absoluto. Mas são leis independentes. Um bom apanhado deste assunto se en-
contra em um livro para engenheiros, muito bom, o SEARS & SALINGER.
O ambiente ou vizinhança é o complemento de um sistema, isto é, o
resto do Universo. Assim, haveria três energias. A do sistema, a da vizinhança e
a da interação do sistema com a vizinhança, incluindo, neste caso, a energia ci-
nética do movimento relativo deles. Esta energia não é interna a nenhum deles,
mas externa a ambos. Quando se calcula a energia total de um sistema isto não
inclui a energia interna da vizinhança, mas apenas a da interação da vizinhança
com o sistema. Invertendo o papel do sistema com a vizinhança, vê-se que, se
forem somadas as duas energias totais, esta da interação mútua será computada

73
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

duas vezes. É claro que a energia pode ser adjetivada, segundo vários critérios,
como potencial, cinética, interna, externa, própria etc.
Denominamos Exergia à máxima parte da energia interna que pode ser
transformada em trabalho útil quando um sistema é levado de um estado qual-
quer ao equilíbrio com seu ambiente. Nesta definição não está sendo levada em
conta variações da energia externa do sistema no processo (que também podem
produzir trabalho útil, entendido como de configuração e não dissipativo). Para
calculá-la consideramos a transformação dividida em duas, uma adiabática, isto
é, termicamente isolada, até atingir a temperatura do ambiente e outra isotér-
mica, isto é, à temperatura constante, até atingir a pressão do ambiente. O tra-
balho dessas duas é a exergia, que pode ser calculada exatamente. Mas isto é
mais uma questão tecnológica. Para considerações puramente físicas, não inte-
ressa a utilidade da energia.
A propósito, neste contexto, considero que a convenção de sinal para
o trabalho em Termodinâmica é errada. O trabalho deve ser considerado posi-
tivo quando aumenta a energia do sistema, isto é, quando é realizado “sobre” ele
e não “por” ele. Deveriamos ter dW = – pdV , sendo a primeira lei dU = dQ +
dW. Assim tudo fica muito mais lógico, apesar de menos prático. Não acho que
a praticidade ou utilidade sejam valores superiores à coerência lógica.
Para melhor entendimento de tudo o que foi dito, analisemos um
exemplo.
Consideremos o Universo constituído de quatro partículas A1, A2, B1
e B2 e subdividido em dois sistemas, A e B, sendo B o ambiente de A e A o ambi-
ente de B.
Consideremos as energias:
TA1cm = energia cinética de A1 em relação ao centro de massa de A;
TA2cm = energia cinética de A2 em relação ao centro de massa de A;
VA12 = energia potencial das interações entre A1 e A2;
c²MA1 = energia da massa de repouso de A1;
c²MA2 = energia da massa de repouso de A2.
RA = energia radiante interna a A
À soma dessas energias denominamos “Energia Interna de A” = UA =
energia interna do ambiente ou vizinhança de B.
TB1cm = energia cinética de B1 em relação ao centro de massa de B
(ambiente de A);
TB2cm = energia cinética de B2 em relação ao centro de massa de B
(ambiente de A);
VB12 = energia potencial das interações entre B1 e B2;
c²MB1 = energia da massa de repouso de B1;

74
FENÔMENOS TÉRMICOS

c²MB2 = energia da massa de repouso de B2.


RB = energia radiante interna a B
À soma dessas energias denominamos “Energia Interna de B” = UB =
energia interna do ambiente ou vizinhança de A.
Vext = VA1B1 + VA1B2 + VA2B1 + VA2B2 = energia potencial das inte-
rações entre as partículas de A e as partículas de B. Esta energia não é interna
nem a A nem a B (seu ambiente).
TAext = energia cinética do centro de massa de A (com a soma das mas-
sas de A1 e A2) em relação a um referencial externo a A.
À soma Vext + TAext = EAext, denominamos “Energia Externa de A”.
À soma EAext + UA = EA, denominamos “Energia Total de A”.
De modo análogo procedemos com relação a B e determinamos a
“Energia Externa de B”, que é o ambiente de A, bem como a “Energia Total de B”.
Se somarmos as energias totais de A e de B (seu ambiente) não obte-
mos a energia total do Universo porque, neste caso, estaremos somando duas
vezes a Vext e não incluimos a energia radiante externa a A e B.
Isso é mais ou menos como achar a união de dois conjuntos que pos-
suem uma intercessão (que, no caso, é a interação entre o sistema A e seu ambi-
ente B).
É claro que a energia interna de A adicionada à energia interna de B
não dá a energia total do Universo, pois fica de fora a energia da interação entre
A e B e a energia radiante externa a eles.
Essa energia seria, portanto, igual a UA + UB + TAext + TBext + Vext +
Rext, que é diferente de EA + EB +Rext pelo fator Vext que, nesta soma, seria
computado duas vezes.
Além do mais, para considerarmos as trocas entre os sistemas A e B, é
preciso que as energias cinéticas sejam todas calculadas em relação a um mesmo
referencial, que pode ser o centro de massa de um deles. Neste caso, ele não teria
a componente cinética da energia externa.
Quanto à temperatura de A, neste exemplo, ela seria dada pela expres-
são (TA1cm + TA2cm)/2, em unidades de energia por partícula, já que A só tem
duas partículas (o 2 do denominador). E a temperatura do ambiente seria
(TB1cm + TB2cm)/2.
A temperatura de equilíbrio do sistema e seu ambiente seria (TA1cm
+ TA2cm + TB1cm + TB2cm)/4.

75
10. ELETROMAGNETISMO CLÁSSICO

76
11. ONDAS E SOM

77
12. LUZ

78
13. RELATIVIDADE RESTRITA

79
14. COMPORTAMENTO QUÂNTICO

Sabemos que a Filosofia, mesmo centrando seu método na reflexão e


no raciocínio especulativo, não prescinde do conhecimento revelado pelas ciên-
cias experimentais, que procuram explicar a realidade natural, social e cultural.
Nesse sentido a Física destaca-se por ser a ciência fundamental da natureza, da
qual derivam, por particularização do objeto de estudo, as demais ciências na-
turais. E, na Física, o advento da Teria Quântica e da Teria da Relatividade, no
início do século XX, foram os eventos que mais implicações filosóficas provoca-
ram. Assim, é de todo prudente e proveitoso, que aquele que intente dedicar-se
a filosofar, tenha noções corretas sobre o significado e as implicações filosóficas
dessas duas teorias.
Para começar é preciso entender que toda teoria física é um modelo,
um construto intelectual do homem, calcado predominantemente na matemá-
tica, que pretende descrever o comportamento de certo aspecto da realidade fí-
sica. Essa, todavia, existe por conta própria, independentemente de que explica-
ção se tenha para ela. Assim, a validação de qualquer teoria física, dá-se en-
quanto seja ela capaz de descrever o comportamento da natureza, de modo a
que suas previsões sejam acertadas e possibilitem até o controle deliberado dos
fenômenos envolvidos. Mas, diferentemente do que em geral se considera, as
teorias físicas não se atêm, apenas, em descrever “como” a natureza opera, mas
procuram achar também “porquê” assim o faz.
Enquanto as equações levam a resultados quantitativos corroborados
pelas medidas experimentais, pode-se dizer que a teoria tem sucesso em dizer
“como” opera a natureza. Os porquês, contudo, ligam-se às interpretações que
se fazem para ligar a teoria formal à realidade objetiva do mundo. A teoria existe
no contexto das ideias. Sua realidade é conceitual. Os fenômenos existem na re-
alidade física do mundo.

14.1. Sucesso da Física Quântica

Sem dúvida a Física Quântica (ou, se preferir, sua formulação teórica,


a Mecânica Quântica), tem revelado um estrondoso sucesso ao mostrar “como”
a natureza se comporta, especialmente no domínio microscópico, não acessível
diretamente aos sentidos e, portanto, não aquinhoado com as interpretações do
conhecimento empírico ou vulgar. O funcionamento do sem número de disposi-
tivos eletrônicos modernos, todos baseados em fenômenos quânticos, mostra o

80
COMPORTAMENTO QUÂNTICO

quanto a “engenharia” já absorveu do conhecimento científico teórico da Física


Quântica e o colocou na prática cotidiana. Isto é inquestionável e chancela a va-
lidação da Mecânica Quântica como uma teoria que descreve corretamente a na-
tureza.
A interpretação que se faz do que, de fato, acontece na natureza para
que ela se comporte do modo como as equações mostram que faz, é outro pro-
blema que, inclusive, insere-se num contexto filosófico de meta-ciência e não se
trata de ponto pacífico nas comunidades física e filosófica.
Para compreender as questões envolvidas, mister se faz desenhar uma
descrição, mesmo que não aprofundada, do que consiste naquilo que se deno-
mina “Mecânica Quântica” e “Física Quântica”.
Os termos Física e Mecânica diferem, neste contexto, no sentido em
que Mecânica Quântica é a teoria formal do comportamento das entidades físi-
cas nos fenômenos que ocorrem com elas, enquanto a Física Quântica são as cir-
cunstâncias nas quais tais fenômenos ocorrem.

14.2. Mecânica Clássica

A Mecânica Clássica, formulada por Galileu, Descartes, Newton, La-


grange, Laplace, Hamilton e outros grandes físicos e matemáticos do passado,
centra-se no binômio movimento e interação, experimentados por entidades
elementares que são as partículas materiais e seus agrupamentos em corpos ex-
tensos, rígidos, deformáveis, elásticos, plásticos ou fluidos, em um cenário ex-
terno de um espaço e um tempo absolutos. As grandezas que se atribuem a essas
entidades são massa, velocidade, aceleração, energia, momentum e outras, en-
quanto as interações por elas experimentadas são descritas por grandezas como
força, impulso, trabalho, torque etc. Na Mecânica Clássica há uma relação funda-
mental entre esses dois aspectos (movimento e interação) que governa o funci-
onamento do mundo (tudo, até o pensamento), que é a “Segunda Lei de Newton”
que diz que a aceleração de uma partícula é diretamente proporcional à resul-
tante das forças que sobre ela atuam e inversamente proporcional à massa da
partícula.
A Primeira Lei de Newton diz respeito à escolha do referencial correto
(inercial), para que se possa descrever o movimento e a Terceira Lei de Newton
versa sobre a intensidade relativa da interação experimentada por cada partí-
cula. Todo o resto da Mecânica Clássica e até da Termodinâmica Clássica pode
ser obtido a partir dessas leis.

81
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

A Mecânica Clássica é estritamente determinista e, nas palavras de La-


place:
“Nous devons donc envisager l’état présent de l’univers comme l’effet
de son état antérieur et comme la cause de celui qui va suivre. Une intelligence
qui, pour un instant donné, connaîtrait toutes les forces dont la nature est ani-
mée, et la situation respective des êtres qui la composent, si d’ailleurs elle était
assez vaste pour soumettre ces données à l’Analyse, embrasserait dans la même
formule les mouvements des plus grands corps de l’univers et ceux du plus léger
atome: rien ne serait incertain pour elle et l’avenir, comme le passé serait pré-
sent à ses yeux.”.

14.3. Mudança de Concepções.

O importante, aparentemente despercebido no estudo das leis de


Newton, é que elas se aplicam à entidade chamada “partícula”, ou “ponto mate-
rial”. Tal entidade consiste em uma abstração mental de um objeto sem dimen-
são, mas com localização e massa. Esse objeto simplesmente não existe na natu-
reza. Um dos pilares da Física Quântica é a abolição desse conceito. A relativi-
dade, por outro lado, aboliu o conceito de espaço e tempo absolutos. Com a su-
pressão do conceito de partícula, surgiu o problema da indefinição da localiza-
ção e da velocidade do ente que participa do fenômeno, bem como da determi-
nação da medida da intensidade da interação por ele experimentada.
A necessidade da revisão desses conceitos surgiu com o estudo da
emissão de radiação por um corpo aquecido feito por Max Planck na virada do
século XIX para o XX (pelo que ele ganhou o prêmio Nobel). O problema também
surgiu no estudo do denominado “Efeito Foto-Elétrico” feito por Einstein em
1905 (que lhe valeu o prêmio Nobel, e não a relatividade). Ambas os problemas
envolvem o movimento de partículas sob a interação eletromagnética, cuja teo-
ria fora formulada por Maxwell em 1860, com base nos trabalhos experimentais
de Ampére e Faraday, bem como nos trabalhos desenvolvidos por Boltzmann,
ao procurar enquadrar os fenômenos térmicos como fenômenos mecânicos ex-
perimentados por um número muito grande de partículas, tratados por meio de
métodos estatísticos.

82
COMPORTAMENTO QUÂNTICO

14.4. O Conceito de Campo

O novo conceito introduzido por Maxwell nas equações do eletromag-


netismo (mas já vislumbrado por Faraday de um modo intuitivo) é o de
“Campo”. Essa nova entidade, desconhecida por Newton é de natureza comple-
tamente diferente de partícula ou corpo. Trata-se de uma entidade física, real,
natural, mas não material. Possui extensão, localização, intensidade, quantidade,
energia e outros atributos. Pode variar com o tempo, é detectável, mas não é
matéria, nem espírito, nem fantasma. Tal conceito, a princípio, revelou-se mis-
terioso para os físicos que advogavam a “ação à distância”. Atualmente sabe-se
que as interações se dão por intermediação de campos, inclusive a gravidade.
Do que se trata?
As interações entre os corpos materiais (não estou falando de partícu-
las) se dão devido a certos atributos que eles possuem. Por exemplo, a gravita-
cional se dá pela massa do corpo, enquanto a elétrica se dá por algo que ele tem
chamado “carga” (depois vou conceituar o que é carga). A existência de um
corpo que possua carga cria no espaço que o circunda uma modificação nas suas
propriedades de tal forma que, se outro corpo também possuidor de carga esti-
ver ali por perto, sofrerá uma força, que, caso o primeiro não estivesse lá, não
sofreria. Esta modificação no espaço que causa esta força é que consiste no
“Campo”. A realidade do campo como intermediário da interação pode ser veri-
ficada vendo-se que, ao retirar a primeira carga, por certo tempo, a segunda
ainda sofre a força emanada da primeira, que está sendo levada pelo campo, até
que este se extinga. Isto é o que ocorre com as transmissões de rádio, que se dão
por meio de campos elétricos. O atraso é perceptível quando duas TV’s sintoni-
zam o mesmo canal, um direto e outro por satélite.
A partir do campo elétrico, outros tipos de campos foram descobertos,
como o magnético, o gravitacional e outras modalidades. O conceito de campo é
de primordial importância na Mecânica Quântica.

14.5. Radiação e Ondas

Maxwell já havia mostrado que a luz é uma radiação eletromagnética,


isto é, uma composição de campos elétricos e magnéticos que se auto propelem,
a variação de cada um gerando o outro e este conjunto desprendendo-se da
carga fonte original do campo, desde que esta sofra aceleração (como acontece

83
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

nas antenas transmissoras). Se esta aceleração for oscilatória, a radiação emer-


gente consiste em uma “onda eletromagnética”, cujas diversas modalidades se
caracterizam pelas diferentes frequências de vibração (desde os raios cósmicos
e raios X (altas frequências), passando pela luz visível até as ondas de rádio (bai-
xas frequências)). A radiação interage com a matéria em sua emissão, em sua
absorção e em sua transmissão nos meios transparentes. A consideração da luz
como uma onda deu considerável impulso à ciência da Ótica, pelos trabalhos de
Huygens, Fresnel, Young e Fraunhoffer, desbancando a interpretação corpuscu-
lar proposta por Newton. Onda, portanto, é uma perturbação que se propaga. Se
houver perturbação (alteração nas propriedades) apenas localizada, não é onda
e se houver propagação de algo imperturbável, também não é onda (é movi-
mento do sistema, como o fluir de um rio ou um vento, ou o movimento de um
veículo). A onda leva consigo energia, momentum, informação e outros aspectos,
associados a suas características, que são frequência, polarização, amplitude,
fase e recorte (o recorte é o desenho da envoltória da onda, que pode se propa-
gar com velocidade diferente da própria onda, inclusive em sentido oposto). O
livro “Contato” de Carl Sagan, explora a mensagem transmitida por cada um des-
ses itens da onda. Onda é outro conceito importantíssimo na Mecânica Quântica.

14.6. O Surgimento do Quantum

Ao estudar a interação (troca de energia) da radiação existente em


uma cavidade com suas paredes, Planck descobriu, num “insight”, que o espec-
tro (distribuição da intensidade da energia em função da frequência) teórico
correto (coincidente com o experimental) só era obtido se ele, ao invés de inte-
grar as contribuições através de todos os contínuos valores de energia admissí-
veis, fizesse um somatório sobre valores discretos (descontínuos) de energia.
Isto significava que nem todos os valores de energia eram passiveis de serem
cambiados entre a radiação e a cavidade. A cada valor possível de energia ele
denominou “quantum”, que em latim é quantidade (o plural é “quanta”). Na fór-
mula que ele deduziu, os valores das energias eram função não de uma variável
real, mas de um número natural, que ele denominou “número quântico”. Ao es-
tudar a absorção da luz por um condutor elétrico, que acumulava uma energia
elétrica nas chamadas “células fotoelétricas”, Einstein também descobriu que a
luz não carregava energia em um fluxo contínuo, distribuído através da onda,
mas sim como se a onda fosse fragmentada em “pacotes” que eram absorvidos
integralmente ou passavam incólumes. Não havia como absorver parte de cada
pacote. Ele funcionava como um “corpúsculo de onda” a que foi denominado,

84
COMPORTAMENTO QUÂNTICO

depois, de “fóton”. Com essas duas descobertas estava inaugurada a Física Quân-
tica. Elas mostram que o comportamento da natureza, em seu nível mais pro-
fundo, difere daquele que o senso comum costuma considerar. A luz é onda, mas
fragmentada em pacotes infracionáveis e a energia é absorvida ou emitida tam-
bém de um modo descontínuo. Parece, pois, que o conceito de partícula está pre-
valecendo, sendo os campos um enxame de partículas. Não é bem assim, con-
tudo.

14.7. Ondas Materiais

Dois dos fenômenos exibidos pelas ondas são interferência e difração.


O primeiro significa que, se duas ondas coexistem num mesmo instante e lugar,
haverá um efeito de superposição das duas, sendo suas perturbações adiciona-
das algebricamente, o que pode resultar em reforço ou, inclusive, em ausência
de perturbação. O segundo é a propriedade da onda contornar obstáculos, o que
permite a audição da fala de alguém que não está sendo visto. Partículas, toda-
via, não exibem esses fenômenos. No entanto, experiência feitas com elétrons,
do mesmo modo que a de interferência da luz por Young (que provou cabal-
mente seu caráter ondulatório), mostraram que havia interferência de elétrons.
Como explicar? Louis de Broglie propôs que, do mesmo modo que a luz se com-
porta como corpúsculos (os fótons), então as partículas materiais (os elétrons),
por simetria, deveriam se comportar como ondas e, por analogia com os fótons,
propôs, empiricamente, expressões para a frequência e o comprimento de onda
que deveriam ter os elétrons, em função de sua energia e seu momentum, pelo
uso da mesma constante de proporcionalidade usada por Einstein e Planck (a
constante de Planck). Pelas relações de de Broglie, aplicadas às supostas ondas
dos elétrons, se obtinham padrões de interferência exatamente iguais aos mos-
trados nos experimentos. Então, não só as ondas eram corpúsculos, mas as par-
tículas da matéria eram ondas. As relações de de Broglie são o núcleo central
teórico da Mecânica Quântica. Parece que as coisas da natureza, ora se compor-
tam como, ora como partículas, dependendo do fenômeno que envolva a mesma
entidade. Tal comportamento, denominado “dualidade onda-partícula” é que le-
vanta a maior parte dos questionamentos nas interpretações da Mecânica Quân-
tica.

85
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

14.8. A Mecânica Ondulatória

Com base na proposta de de Broglie (de 1924), em 1926, Schrödinger


desenvolveu o modelo matemático conhecido com “Mecânica Ondulatória”, pelo
qual as partículas (no caso os elétrons) comportavam-se, quando ligados ao nú-
cleo de um átomo, como ondas que o circundavam, mais ou menos como a mem-
brana de um tambor. Por um raciocínio indutivo muito bem urdido, desenvolveu
sua famosa equação diferencial, que deveria ser obedecida por uma função “psi”,
que, a princípio, não possuía significado físico (isto é, não correspondia a ne-
nhuma grandeza mensurável existente), mas que funcionava como um artifício
matemático para a obtenção de resultados. Além disso, propôs os seguintes pos-
tulados a serem obedecidos por qualquer sistema físico de partículas, no domí-
nio não relativístico de velocidades e campos gravitacionais:
1) O estado de um sistema físico é descrito pela função ψ (psi). (mate-
maticamente é uma função de variável complexa, definida no espaço e no tempo,
contínua, derivável, suave e normalizada);
2) O valor absoluto quadrado de ψ é proporcional à densidade de pro-
babilidade de que a partícula seja encontrada naquele ponto e momento (densi-
dade de probabilidade é a probabilidade por volume);
3) ψ obedece ao “Princípio de Superposição Linear” segundo o qual a
seu valor para uma combinação de partículas é a soma algébrica (dos números
complexos) do valor de cada uma, naquele ponto e momento, como se a outra
não estivesse presente.
Esta formulação, ao ser aplicada ao átomo de hidrogênio, e a equação
diferencial resolvida no sistema de coordenadas adequado à simetria (coorde-
nadas esféricas), prescrevidas as condições iniciais e de contorno existentes
(nulidade no infinito, por exemplo), fornecia os valores dos níveis de energia de
Bohr, além da configuração espacial da distribuição de probabilidade de ocor-
rência do elétron, conhecida como “orbital”. Um tremendo sucesso. Mas a difi-
culdade computacional para resolver a equação para sistemas mais complexos
do que o átomo de hidrogênio exigiram a introdução aproximações.

14.9. Medida das grandezas.

Uma coisa importante a se notar é que, até o momento, na Equação de


Schrödinger (ES), o elétron continua sendo uma partícula e a função de onda é
um mero artifício matemático sem significado físico. O que tem significado físico

86
COMPORTAMENTO QUÂNTICO

são as grandezas mensuráveis do sistema, como posição, velocidade, momen-


tum, energia, momento angular e outras. Como a ES poderia fornecer esses va-
lores? Com uma matemática um pouco complicada (transformadas de Fourier),
pode-se demonstrar que existe uma função F correspondente a ψ pela transfor-
mada de Fourier, cujo valor absoluto quadrado representa a densidade de pro-
babilidade de a partícula apresentar um certo momentum, num dado instante
(momentum, ou quantidade de movimento é o produto da massa da partícula
por sua velocidade). Também se mostra que a aplicação do operador diferencial
derivada parcial, multiplicado por -ih/2π, (onde i é a unidade imaginária, h é a
constante de Planck e π (pi) é a razão da circunferência pelo diâmetro de um
círculo) equivale, dentro da transformada de Fourier, a multiplicar a função ψ
pelo momentum. Então se prova que, para achar o momentum, deve-se aplicar
esse operador à função de onda ψ. Mas, como esta está ligada à probabilidade, o
que se acha é o valor esperado do momentum. Detalhes matemáticos da opera-
ção ficam para os livros técnicos da bibliografia. Em resumo, cada grandeza, pas-
sível de mensuração em um sistema, possui um operador associado que, apli-
cado à função de onda, permite achar o valor esperado dessa grandeza (com
certa matemática que envolve conjugação e integração em variáveis complexas).
O importante é que não se tem um valor definido da grandeza, mas um “valor
esperado”. O que é isso?

14.10.Valor esperado

Na Física Quântica, cada grandeza possui uma coleção de valores ad-


missíveis para um sistema. Em linguagem matemática, aplicando-se o operador
correspondente à grandeza à função ψ e igualando ao produto da grandeza por
ψ, tem-se uma “Equação de Autovalor”: GΨ= gΨ, em que G é o operador, g é o
valor da grandeza e Ψ é a função de onda psi (note-se que GΨ não é o produto
de G por Ψ nas sim a aplicação do operador à função (derivar ou outra coisa)).
A solução da equação levará ao conjunto de valores admissíveis para a grandeza
g (autovalores) e as correspondentes funções (autofunções ou autovetores). O
conjunto de autofunções de um certo operador (dito Hermiteano, mas, por ora
deixemos isto de lado), constitui uma “base” do espaço de funções, de modo que
qualquer função possa ser uma combinação linear dos elementos da base. Este
espaço vetorial é chamado “Espaço de Hilbert”, de modo que todo e qualquer
estado de um sistema pode ser descrito como uma função que seja uma combi-
nação linear das autofunções de um dado operador (combinação linear e a soma

87
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

das funções da base multiplicadas por algum fator numérico (complexo) ade-
quado). O dito “valor esperado” é uma média ponderada dos autovalores, to-
mando como pesos os valores absolutos quadrados dos coeficientes da combi-
nação linear da função que descreve o estado do sistema.
Mas, o importante é que, ao se fazer uma medida da grandeza, somente
os autovalores podem ser obtidos. O valor esperado é, pois, uma média estatís-
tica dos valores obtidos ao se repetir a medida nas mesmas condições (mesmo
estado) inúmeras vezes. Note-se que não está se falando de erros de medida
(que também podem aparecer) mas de diferenças reais de valores possíveis das
medidas no mesmo estado.

14.11.Princípio da Incerteza

Se calcularmos, além da média, o “desvio padrão”, isto é a raiz qua-


drada da média das diferenças dos quadrados em relação ao quadrado da média,
para vários conjuntos de grandezas de um sistema num dado estado, obtém-se
o resultado que, para grandezas ditas “canonicamente conjugadas” (uma é a
transformada de Fourier da outra) o produto de seus desvios padrões é, no mí-
nimo, igual à constante de Planck dividida por 2π. Assim acontece com a posição
e o momentum, com a ângulo de giro e o momento angular, com a energia e o
tempo de medição e vários outros pares. Este é o chamado “Princípio da Incer-
teza” de Heisemberg. À medida que se procura apurar a medida de uma certa
grandeza, sua conjugada fica mais indefinida. Se se tiver o valor exato do mo-
mentum, por exemplo, não se tem informação alguma sobre a posição e vice-
versa. Tal fato não é apenas teórico, mas experimentalmente verificado. Sua
constatação confirma o fato de que, na Física Quântica (que é a Física, afinal de
contas) existe um caráter eminentemente probabilístico na determinação das
grandezas ditas “observáveis”, isto é, passíveis de medição. Em suma, o fato de
um sistema estar em um dado “estado” (estado é como o sistema “está” em ter-
mos de sua configuração espacial, temporal e sua situação evolutiva, isto é, sua
tendência de modificação), não significa que todos seus atributos e as grandezas
que os medem sejam definidas. Há um leque de possibilidades e, ao se medir
uma delas, podem aparecer diferentes valores, com diferentes probabilidades.
Esse fato, comprovado experimentalmente, é o maior golpe que a Física Quân-
tica deu nas concepções filosóficas deterministas ligadas à Mecânica Clássica.
Isto é: a natureza não é determinista, é probabilista. É com isso que Einstein não
concordava e é isso que Amit Goswani diz ao falar que a Física Quântica é a física
das possibilidades.

88
COMPORTAMENTO QUÂNTICO

14.12.Princípio da Correspondência

Ehrenfest demonstrou que a derivada temporal do valor esperado da


posição é igual à razão do valor esperado do momentum para a massa e que a
derivada temporal do momentum é igual ao simétrico do valor esperado do gra-
diente da energia potencial. Esses dois teoremas, em conjunto, equivalem à se-
gunda lei de Newton da Mecânica Clássica, desde que os sistemas sejam macros-
cópicos, de modo que o comprimento de onda da onda de matéria associada pe-
las equações de de Broglie seja muito menor que o tamanho do corpo e o pacote
de onda que lhe representa seja bem localizado. Isto vem a ser o que se chama
de “Princípio da Correspondência”: “As leis da Mecânica Clássica são casos par-
ticulares das leis da Mecânica Quântica, para sistemas macroscópicos”.

14.13.Equação da Continuidade

De certa forma, a Mecânica Quântica, ao tratar os estados das partícu-


las por meio de uma função, funciona como uma teoria de campo, semelhante ao
eletromagnetismo (inclusive pela existência da superposição linear). Isto fica
patente se se pegar a equação de Schrödinger e somá-la com sua complexa con-
jugada. A equação resultante se torna, então, uma equação obedecida pela den-
sidade de probabilidade, e é exatamente análoga à “equação da continuidade”,
obedecida pelo fluxo de cargas elétricas bem como pelo fluxo de um fluido em
escoamento. Isto é, a derivada temporal da densidade de probabilidade é igual
ao simétrico do gradiente da “corrente de probabilidade”. Se substituirmos pro-
babilidade por carga elétrica, temos a equação da eletrodinâmica para o fluxo de
cargas e se substituirmos por densidade de massa, temos a equação da dinâmica
dos fluidos. Mas o que seria “corrente de probabilidade”? Nada mais que o pro-
duto da densidade de probabilidade pela “velocidade de grupo” da onda de de
Broglie associada à partícula. E a velocidade de grupo de uma onda é a veloci-
dade do recorte da onda, que é a velocidade com que, na onda, caminham a sua
energia e o seu momentum. Assim, neste caso, é a velocidade de “viagem” da
probabilidade e de tudo que a partícula leva consigo, isto é, é a própria veloci-
dade ordinária da partícula, macroscopicamente considerada.

89
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

14.14.Diferença Notável

Apesar do Princípio da Correspondência e da Equação da Continui-


dade mostrarem que a Mecânica Quântica descreve não só o mundo microscó-
pico, mas também o mundo macroscópico ordinário (só que de modo muito
mais complicado e, portanto, ineficiente para tratar dos problemas macroscópi-
cos, mesmo que dê os resultados corretos), há diferenças fundamentais, só ob-
servadas no mundo microscópico, que fazem as duas irreconciliáveis nesse do-
mínio. A chave das diferenças está no caráter de teoria de campo e na obediência
ao princípio de superposição. Duas ondas podem se interferir dando como re-
sultado a aniquilação mútua: isto é: luz mais luz pode dar escuridão. Quem já viu
uma figura de interferência de uma experiência de Young pode constatar a olho.
No mundo macroscópico duas partículas não podem ocupar simultaneamente o
mesmo lugar no espaço, quanto mais se aniquilarem. Na Mecânica Quântica po-
dem. Considerando que a função de onda Ψ é, de fato, um campo real, o “campo
da matéria”, e que ele obedece à superposição linear, pode-se ter lugares em que,
simultaneamente, coexistam os campos de duas partículas e que, em certas cir-
cunstâncias, eles se aniquilem, isto é, a probabilidade de haver partícula lá é
nula, apesar de que, cada uma, separadamente, poderia estar lá. Esse fato é ob-
servado experimentalmente na experiência de interferência (e difração) de elé-
trons e é um dos pontos principais de controvérsia nas diferentes interpretações
da Mecânica Quântica, como veremos. Outro é a questão do emaranhamento
quântico, que também será discutido.

90
15. FÍSICA ATÔMICA E NUCLEAR

15.1. A Estrutura do Átomo

Referências à ideia de átomo já existiam no século 6º AC nas escolas


Nyaya e Vaisheshika, na Índia, e, depois, em 450 AC, com Leucipo e Demócrito,
na Grécia. Boyle, em 1661 já mencionava que a matéria seria composta de cor-
púsculos, mas só Dalton, em 1803, estabeleceu formalmente a Teria Atômica da
Matéria. A comprovação definitiva de sua existência, contudo, só se deu quando
Einstein, em 1905 (seu ano de ouro), provou teoricamente que o Movimento
Browniano de partículas de pó em um fluido (descoberto em 1827) só se expli-
cava admitindo-se a existência de átomos. Em 1897 Thomson descobriu que os
raios catódicos eram partículas negativas emitidas pelo catodo e denominou-as
“elétrons”. Se haviam elétrons negativos nos átomos, o resto devia ser positivo
e Thomson propôs o modelo do “pudim de passas” para o átomo. Em 1909, Ru-
therford mostrou experimentalmente que a carga positiva do átomo não se dis-
tribuía por ele, mas estava concentrada em um núcleo denso, dez mil vezes me-
nor que o átomo todo, mas com praticamente toda a massa e propôs que os elé-
trons orbitassem esse núcleo como planetas em torno do Sol. Mas, como cargas
aceleradas emitem radiação, a aceleração centrípeta dos elétrons os fariam
emiti-la e perderem energia, caindo no núcleo e desestabilizando o átomo em
frações de segundos. Em 1913, Bohr propôs que os elétrons só podiam emitir
energia em “quanta”, como Planck havia proposto, e, quando o fizessem, pula-
riam de órbita e emitiriam fótons com a frequência dada pela fórmula de Eins-
tein do efeito fotoelétrico. Esse modelo teve sucesso em explicar a posição das
raias dos espectros de emissão de gases e Bohr pode escrever uma fórmula “ad
hoc” para os níveis de energia. Mas permanecia inexplicável porque os elétrons
se mantinham nas órbitas sem irradiar.

91
16. MATÉRIA CONDENSADA

92
17. PARTÍCULAS ELEMENTARES

93
18. RELATIVIDADE GERAL

94
19. GRAVITAÇÃO E COSMOLOGIA

95
20. UNIFICAÇÃO DAS INTERAÇÕES

96
21. CIENTIFICIZAÇÃO DA FILOSOFIA

Ao longo da história, a Filosofia foi gradativamente perdendo lugar


para a Ciência. Considero que isso não apenas seja inevitável mas, realmente,
bom. E veja que me considero um filósofo. O método filosófico se centra em con-
ceituação, exame, reflexão e conclusão. Tudo isso feito de forma puramente ra-
cional, isto é, sem apelo a verificações empíricas. Contudo, à medida que a ciên-
cia forneceu meios de se obter tais verificações, as conclusões filosóficas sobre
os temas considerados perderam sentido, pois, se concordassem com a ciência,
seriam científicas e se discordassem, seriam descartadas. Pode ser que haja algo
que resista a toda tentativa científica de abordagem e permaneça estritamente
filosófico, mas o que percebo é que o escopo de abrangência da Filosofia tende a
diminuir. A não ser que se passe a considerar a Filosofia como uma ciência, fa-
zendo uso de métodos científicos e apenas mantendo o nome de Filosofia em
razão dos objetos de estudo a que se dedicar, como ética, epistemologia, metafí-
sica ou outro. Cosmologia, já vimos que é ciência. Psicologia também não é mais
filosófica, depois da introdução das neurociências. A lógica parece não ser cien-
tífica, mas há correntes que consideram que ela decorre do comportamento da
natureza. Esta proposta de uma Filosofia Científica eu já fiz em várias comuni-
dades do Orkut, onde foi discutida.

21.1. Filosofia Científica

Faço, pois, minha proposta de uma nova abordagem da Filosofia, que


denomino Filosofia Científica. Em que consiste? A Filosofia é uma disciplina que
se dedica à busca do saber e à obtenção da sabedoria. A Ciência também é uma
busca do conhecimento, mas os métodos e os objetos não são os mesmos. A Ci-
ência (ou as ciências) busca o conhecimento das entidades e fenômenos de
modo sistematizado e fundamentado em evidências e comprovações, pela for-
mulação e testes de hipóteses, com o uso de metodologias que aferem seus mo-
delos explicativos com a realidade objetiva do mundo, tanto natural quanto das
idéias. Mas se atém aos níveis imediato e mediato das relações entre seus obje-
tos de estudo. A Filosofia, por sua vez, procura as razões fundamentais, as causas
primeiras, as últimas consequências. Não só os “comos”, mas, principalmente, os
“porquês”. Nessa busca, principalmente voltada para tirar lições de vida, a Filo-
sofia se vale principalmente da especulação, que consiste na aplicação do racio-

97
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

cínio ao objeto de estudo, para tirar conclusões racionais. É um processo de re-


flexão sobre a realidade em suas múltiplas facetas, que conduz à formulação de
esquemas interpretativos e explicativos. Nesse mister muito valiosos são os co-
nhecimentos de lógica e linguística (no sentido mais amplo de uma ciência dos
signos) pois que qualquer explicação é uma representação simbólica da reali-
dade. A Filosofia dita analítica, corrente predominante no mundo anglo-saxão
do século XX, envereda por uma abordagem diferente da especulativa, justa-
mente por fazer uso maior dos métodos lógicos e linguísticos. O que eu propo-
nho vai mais adiante. O que estou denominando “Filosofia Científica” é uma
abordagem dos objetos pertinentes à Filosofia por uma perspectiva científica.
Isto evita a existência de “escolas de pensamento”, colocando as explicações
num patamar superior ao de “opiniões” ou “modos de ver”, permitindo que se
chegue a um consenso da comunidade filosófica.
Desta maneira, qualquer tema filosófico, é analisado, não só pela refle-
xão e cotejo de tudo o que já foi dito a respeito com os dados da realidade, mas
que as propostas de explicação sejam consideradas com o status de “hipóteses”
a serem testadas em suas consequências com o uso de toda a metodologia cien-
tífica existente. Este tipo de procedimento permite convergir as explicações para
uma explicação única, evitando-se “interpretações” segundo as diferentes esco-
las. É o tipo de coisa que falta, por exemplo, na Psicologia. A Psicanálise é uma
interpretação, de acordo com uma escola de pensamento. Não é o que ocorre na
Medicina, por exemplo. Quando se descobre uma nova e melhor explicação para
certa doença, por exemplo, as anteriores são abandonadas (o que ocorreu, re-
centemente, com a questão da úlcera gástrica). O mesmo se dá na Física. É esta
forma de ser científica que estou propondo para a Filosofia. Quero que neste tó-
pico sejam apresentadas ponderações e argumentos favoráveis e contrários,
para que possamos ver a questão de um modo mais iluminado. Por outro lado,
também seria interessante que se colocassem de que modo isto poderia (ou não
poderia) ser feito no domínio da Metafísica, da Ética, da Estética, da Epistemo-
logia, da Política, da Lógica, da Psicologia e dos outros temas abordados pela Fi-
losofia.

21.2. O modelo da Física

O positivismo exclui a metafísica e considera inacessível a busca dos


“porquês”, centrando-se na pesquisa científica dos “comos”. O positivismo é uma
anti-filosofia. Não estou propondo que a metafísica e a filosofia sejam extintas e
nem que se desista da investigação das causas primeiras nem dos fins últimos.

98
CIENTIFICIZAÇÃO DA FILOSOFIA

O que proponho é que, nesta investigação, mesmo que se aplique a especulação,


o critério de aferição da veracidade dos juízos que forem estabelecidos seja um
critério científico. As escolas podem existir na escolha das definições, pois estas
são arbitrárias. O ideal é a obtenção de um consenso. No caso das ciências, exis-
tem comitês que se reúnem periodicamente e dão a chancela às definições que
devem ser adotadas pela comunidade. Isto poderia ocorrer com a filosofia. A
existência de escolas na sociologia, na psicologia, na filosofia, na economia e em
outras ciências, principalmente nas sociais, no meu modo de ser, enfraquece es-
sas ciências, pois revela insegurança no conhecimento. Nas ciências naturais, es-
pecialmente nas exatas, a existências de mais de uma explicação alternativa é
sempre uma condição provisória, até que uma delas se estabeleça como o pa-
drão. Novas explicações sempre surgem para novos fenômenos, mas elas per-
manecem como hipóteses até que o consenso geral da comunidade científica as
eleve ao estágio de teorias, no qual permanecem até que novos fatos venham
requerer sua revisão. Este modelo de estrutura de ciência, mais nitidamente ob-
servado na Física, para mim, é um padrão ideal ao qual devem aspirar as demais
ciências para que tenham um grau maior de confiabilidade.

21.3. A permanência das escolas na Filosofia

Na Física e na Química, quando uma teoria é contestada e substituída


por outra, a anterior passa a ser considerada errada ou, no máximo, uma apro-
ximação. Assim ocorreu quando a teoria cinética da matéria sepultou a teoria do
calórico, quando a teoria atômica explicou a estrutura da matéria, quando a te-
oria da relatividade substituiu a mecânica newtoniana, quando a física quântica
suplantou a física clássica, quando a teoria eletromagnética soterrou a teoria
corpuscular da luz e em várias outras situações. Hoje em dia, a cromodinâmica
quântica e a relatividade geral são as teorias estabelecidas para o micro e o ma-
crocosmo. Mas estão sendo contestadas pelas hipóteses (impropriamente deno-
minadas teorias) das supercordas e das p-branas. Estas, contudo, ainda não es-
tão estabelecidas (e pode ser que nem o sejam). Mesmo reconhecendo o grande
valor de Newton, nenhum físico é adepto de suas teorias. Não é o que ocorre na
Filosofia. Novas correntes surgem, mas não substituem as antigas. Ainda exis-
tem platônicos, tomistas e kantianos, ao lado de existencialistas, estruturalistas,
fenomenologistas e outros “istas”. Ora, se uma nova visão da realidade for pro-
posta, penso que deva mostrar cabalmente que as anteriores estavam erradas,
de modo que ninguém mais as adote, exceto como objeto de estudo histórico.
Este também é o problema da psicologia, que admite a coexistência de escolas

99
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

mutuamente exclusivas ao mesmo tempo. Não é possível que a explicação dos


fatos psíquicos possa ser igualmente dada por teorias antagônicas. Ou uma ou
outra ou nenhuma delas. Por isso é que acho que a psicologia tem que ser inte-
grada à medicina, como parte da neurologia. É este tipo de problema que vejo
existir na economia e na sociologia, que me fazem desacreditar de todas as ex-
plicações econômicas. Trata-se da falta de “cientificidade”.

21.4. O “Salto de Fé” científico

As explicações das ciências se dão por raciocínio indutivo (mesmo na


Matemática, como exporei depois). Ao passar do particular para o geral, real-
mente se dá um “salto de fé”. Prefiro usar o termo “crença”, uma vez que reservo
o termo “fé” para uma crença sem fundamento. Ao se estabelecer uma lei física
com base em experimentos, a ciência acredita em sua validade enquanto as con-
sequências advindas dela forem corroboradas experimentalmente. Tão logo um
fenômeno a contrarie, ela é revisada. Não é o que ocorre com a fé religiosa. Esse
mesmo tipo de coisa se dá com os modelos explicativos da origem do Universo.
Com base nas teorias existente e nos dados observacionais, traça-se um quadro
plausível que explique essa origem. Desse quadro, com as mesmas teorias, são
preditas consequências passíveis de verificação. Enquanto tudo permanecer OK
a explicação é mantida. Se outras alternativas forem formuladas, busca-se um
“diagnóstico diferencial” que permita optar por uma delas. Quando novos dados
observacionais exigirem, correções ao modelo são introduzidas, ou mesmo, uma
revisão completa é procedida. É assim que caminha a ciência, que nunca pre-
tende possuir a verdade definitiva.

21.5. Matemática, uma ciência experimental

A Matemática é o exemplo de uma estrutura lógica. Contudo não difere


essencialmente da Física. Tomemos a teoria dos números. Tudo tem por base os
axiomas de Peano. Deles se constroem os números naturais, dos quais saem os
inteiros, os racionais, os reais, os complexos, os quatérnios, as matrizes, os ten-
sores, as funções, os funcionais, os operadores, os limites, as derivadas, as inte-
grais, as formas diferenciais e toda a aritmética, a álgebra e a análise. Tudo segue
um esquema dedutivo, sobre entidades convenientemente definidas (e as defi-
nições são arbitrárias). Poucos axiomas são adicionados. O mesmo se dá na ge-
ometria, inclusive as não euclidianas. Mas estes axiomas, de onde vêm? E as leis

100
CIENTIFICIZAÇÃO DA FILOSOFIA

da lógica, que se usam para deduzir os teoremas? Não é interessante que a Ma-
temática tenha o poder de conseguir prever o comportamento da natureza,
quando as leis que descrevem os fenômenos são matematicamente expressas?
Isto não é coincidência. Os axiomas só levam a teorias que espelhem a realidade
quando são abstrações de ocorrências concretas do mundo real. A operação de
soma dos números naturais, advinda da definição de “sucessor” é uma abstração
da elementar prática de contagem nos dedos, por exemplo. A mente do matemá-
tico não construiu esses axiomas a partir do nada, mas deu uma fundamentação
teórica a conhecimentos empíricos do homem desde a pré-história. Mesmo no-
ções sofisticadas, como a dos números reais e de limites (a partir dos cortes de
Dedekind ou dos intervalos de Cauchy), são teorizações de noções intuitivas.
Todo matemático, ao demonstrar um teorema, em sua mente, constrói imagens
concretas e intuitivas do que está pensando e, então, formaliza, na linguagem
matemática, o que concluiu. Assim digo, com segurança, que os axiomas mate-
máticos não diferem das leis físicas, no que diz respeito ao fato de serem gene-
ralizações induzidas a partir de observações particulares e aceitos por um ato
de “fé”.

21.6. Psicologia

A psicologia, para mim, é uma ciência natural, um ramo da neurologia,


que faz parte da biologia. Até o momento não vi nenhuma comprovação cabal da
existência de uma mente como entidade independente do cérebro. Como em
toda ciência, a psicologia deve se libertar da existência de “escolas” e se fixar em
fatos, de modo a se ter uma única psicologia, baseada em evidências. Interpre-
tações podem e devem ser propostas, mas consideradas como provisórias até
comprovação. Pelo conhecimento que tenho, o cérebro, realmente, não se pro-
grama. Sua programação é algo que se desenvolve desde o embrião e se com-
pleta ao longo da vida, em função dos estímulos sensoriais. Se uma pessoa com-
pletamente desprovida de sentidos pensa ou não, é algo difícil de se estabelecer.
Seria preciso que um caso real ocorresse e, então, fossem desenvolvidos méto-
dos experimentais para se investigar que tipo de evidências externas (como um
eletroencefalograma ou que aspectos de uma imagem de ressonância magnética
nuclear) seriam indicativos do ato de pensar. Não sei se isto já existe. Como um
mero palpite, digo que não. Uma experiência interessante poderia ser feita com
surdo-mudos de nascença, que não tenham adquirido nenhuma linguagem al-
ternativa à fala. Seu pensamento se daria diretamente com imagens visuais, tá-
teis, térmicas, olfativas e outras não auditivas. Seria um “pensar sem palavras”.

101
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

Mas pensar sem imagem sensorial nenhuma, não sei se seria possível ou mesmo
se este ser teria algum tipo de vida psíquica. Pelo menos, para poder fazer fun-
cionar o próprio organismo, os sentidos internos de funcionamento dos órgãos
teriam que existir.

21.7. Exatidão das ciências

É preciso entender o que se pretende dizer com o caráter “exato” de


uma ciência. Em termos de exatidão do valor de uma grandeza, nenhuma ciência
que trata da realidade concreta é exata como a Matemática, que tem por objeto
abstrações (números, figuras). A questão, no meu entender, refere-se ao mode-
lamento da realidade que a ciência pretende desenhar. Nas ciências ditas “exa-
tas” (física, química), o modelamento é aceito como um padrão pela comuni-
dade, até que seja derrubado por novas evidências. Nas demais ciências, mor-
mente nas humanas (e economia, por exemplo, é uma ciência humana), não há
um modelo padrão da realidade, mas sim múltiplas propostas, segundo diferen-
tes “escolas de pensamento”. É o que ocorre na sociologia, na psicologia e na
economia, por exemplo. Neste sentido é que se diz que elas não são exatas, pois
não há modelo preditivo algum que permita, uma vez conhecidas as condições
de entrada de algum fenômeno por elas descrito, estabelecer uma única saída
prevista, mesmo que dentro de certa imprecisão. Na Física e na Química os fe-
nômenos podem ser bem controlados. Mesmo assim há imprecisões, devidas à
falta de controle sobre os dados de entrada, como na meteorologia (que, além
disto, é extremamente complexa). E não se pode esquecer da incerteza intrín-
seca que a própria Mecânica Quântica demonstra existir na natureza. Deste
modo a resposta pode ser sim ou não, dependendo do que se pretende dizer com
esta exatidão.

21.8. Corte epistemológico

O fato das ciências terem para objeto aspectos particulares da reali-


dade enquanto a filosofia cuida do todo, no meu entendimento, não impede a
aplicação do método científico à filosofia. A questão de que, em filosofia, não se
admite o corte epistemológico, segundo o qual as novas explicações superam as
anteriores (no sentido de Bachelar). A aplicação do método científico sempre
levaria a decidir por esta ou aquela concepção. É isto que desejo ver ocorrer na
filosofia, sem renunciar à sua abrangência.

102
CIENTIFICIZAÇÃO DA FILOSOFIA

Além da Filosofia Analítica outra concepção que se aproxima desta


vertente científica é a “Filosofia Concreta ” de Mário Ferreira dos Santos que,
confesso, não conheço em detalhes.
Não gostaria de adjetivar a Filosofia de modo algum. Considero que
filosofia é apenas “Filosofia”. Mas gostaria de ver esta rainha estabelecida de
uma forma inequívoca e independente de concepções particulares.
Neste sentido é que faço esta proposta, não para encarcerar a Filosofia
ou podar qualquer abertura, mas sim para que as discussões sejam levadas a
cabo, no debate entre várias correntes, a fim de que se chegue à aceitação gene-
ralizada de tal ou qual concepção a respeito de cada tema. Esta também é a ma-
neira como gostaria que fosse a psicologia, a sociologia e a economia, por exem-
plo.

21.9. O método científico

A colocação de que a ciência se constrói a partir do teste de hipóteses


a serem verificadas e que elas precisam ser falseáveis para serem científicas é
apenas a metade da história (ou, até mesmo, menos da metade). O mais impor-
tante da ciência não é o teste das hipóteses mas a formulação das hipóteses. E,
para isto, não há método estabelecido. Existem procedimentos, os mais varia-
dos, tanto experimentais quanto mentais, para se elaborar uma hipótese. Isto os
cientistas não publicam em seus trabalhos de pesquisa. Eles não contam o “pulo
do gato”. Não relatam seus palpites frustados. Sim, palpites, opiniões. É assim
que eles elaboram as hipóteses e as testam. Mas só publicam as que passam nos
testes. As outras vão para o lixo, mas constituem uma importante etapa da cons-
trução do conhecimento. O treinamento de um cientista, nos cursos de douto-
rado, não aborda essas coisas. Na formulação da hipótese entra mais a intuição
do que a razão. Entra até o inconsciente. Como se sabe, muitos cientistas obtive-
ram a solução de seus problemas em sonhos. Há que se aplicar a lógica e o mé-
todo no trabalho científico, mas eles padecem de um grande defeito: não são cri-
ativos. O verdadeiro progresso da ciência se dá sem método. É sem método que
as grandes revoluções de mudança de paradigmas ocorrem. São os “insignts” do
inconsciente que levaram Planck a trocar uma integral por um somatório e criar
a mecânica quântica no estudo da radiação de corpo negro ou Einstein a postular
a constância da velocidade da luz ao tentar justificar o sucesso das transforma-
ções de Lorentz em explicar o resultado negativo da experiência de Michelson-
Morley.

103
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

21.10.Ética Científica

Seria possível uma abordagem científica da ética? Distinguindo a ética


da moral eu diria que enquanto a moral é uma disciplina normativa, isto é, trata
das prescrições que devem ser seguidas nas ações humanas, para que sejam con-
formes aos costumes estabelecidos por certa sociedade, a fim de preservar a
convivência, a ética é o estabelecimento dos princípios a que devem se ajustar
as prescrições morais e em que devem eles ser baseados. Assim a moral não se-
ria científica (nem mesmo filosófica), mesmo que se leve em conta que as razões
para o comportamento moral não estão em nenhuma punição, recompensa ou
manutenção da reputação, mas no próprio imperativo do dever, sem recom-
pensa, policiado apenas pela própria consciência. A ética, por outro lado, é filo-
sófica, e inquire a razão e o propósito da conduta moral, o estabelecimento das
noções de bem (ou bom) e mal (ou mau), bem como o escalonamento dos valo-
res das ações humanas. A ética, pois, cuida do fazer humano (ou de outro ser
consciente) e não das coisas e dos seres. Assim caracterizada pode a ética ser
abordada sob uma perspectiva científica e, eu diria até, quantitativa (matemá-
tica). Os conceitos de felicidade e prazer, por exemplo, podem ser perfeitamente
quantificados e eles possuem relevante papel na definição do valor de uma ação.
Não estou fechando questão sobre isto, mas considero possível tal tipo de abor-
dagem. Acho que se pode, inclusive, atribuir o caráter matemático de um “funci-
onal” (próprio do cálculo variacional) e, portanto, considerar como grandeza, o
nível de felicidade, cientificamente estabelecido em alguma espécie de escala,
como se faz na quantificação da percepção do som, da cor, do cheiro, do sabor,
da temperatura, da pressão etc. Tudo medido em termos de níveis de serotonina
ou outros neurotransmissores que se mostrem relevantes na questão. O mesmo
pode ser desenvolvido com relação à quantificação da dor (tanto física como
emocional ou moral). Um aparelho medidor de dor, tipo de pressão arterial ou
de glicose poderia ser desenvolvido.
Quanto a uma equação matemática para a medida do nível de felici-
dade ou do caráter bom ou mal de uma ação, ela ainda não existe. O que eu disse
é que poderia ser desenvolvida, como o há para a percepção de cor, por exemplo.
Um primeira abordagem seria, por exemplo, atribuir uma escala de nível de sa-
tisfação (ou prazer) a partir da medição de algum indicador a ser determinado
(por exemplo, nível de serotonina), ou da amplitude de alguma onda eletroen-
cefalográfica. Pesquisas precisariam ser feitas para determinar a correlação en-
tre vários indicativos de prazer e dor. Isto é trabalho para uma linha de pesquisa

104
CIENTIFICIZAÇÃO DA FILOSOFIA

em alguma (ou várias) universidades, que podem gerar inúmeras teses de dou-
torado ao longo de muitos anos, até que se tenha um índice confiável e incon-
teste. Trata-se de um tema interdisciplinar da neurologia e da psicologia (que,
alíás, tendem a se unir em uma disciplina só).
De posse desse índice, poder-se-ia calcular uma integral da função
desse indíce ao longo do tempo para expressar um valor extensivo, já que o ín-
dice seria intensivo. Possivelmente poderia haver mais de um índice, levando à
criação de uma espécie de tensor, e à definição do parâmetro indicativo da quan-
tidade de felicidade como, por exemplo, a norma ou o traço desse tensor (have-
ria que se devinir um “espaço de felicidade”, como existe o “espaço de cores” ,
tendo que se achar quantas dimensões teria esse espaço (o de cores tem três,
isto é, é póssível descrever qualquer cor como um combinação linear de três ve-
tores de base, e não mais que três)). O caráter ético poderia ser expresso como
um somatório da quantidade de felicidade a ser criada pela ação, tomado sobre
todos os seres que por ela viessem a ser influenciados ao longo do tempo. O mais
importante não é se definir precisamente qual é esse valor, mas se conceber que
é algo passível de ser determinado, colocando, deste modo, a ética num patamar
científico e quantitativo.

105
APÊNDICE 1 – MATEMÁTICA

106
APÊNDICE 2 – SISTEMA INTERNACIONAL

107
APÊNDICE 3 – CONSTANTES

108
APÊNDICE 4 – QUESTÕES

Questões Abertas

109
Questões Fechadas

1. Ao se conectarem as extremidades descascadas de um fio metálico isolado


aos polos opostos de uma bateria eletricamente carregada, pode-se dizer
que:
I. O condutor torna-se positivamente carregado de eletricidade.
II. O condutor torna-se negativamente carregado de eletricidade.
III. O condutor não se torna eletricamente carregado.
IV. Cargas negativas movem-se ao longo de condutor.
V. Cargas positivas movem-se ao longo do condutor.
É (São) CORRETA(S) a(s) afirmativa(s):
a) III e IV.
b) II e IV.
c) I e V.
d) III e VI.
e) II e VI.
2. Para obter-se água gelada, coloca-se um quilo e meio de gelo a zero grau
Celsius em uma chaleira sobre a chama de um fogão, que fornece quatro mil
calorias por minuto. Sabendo que cada grama de gelo consome oitenta calo-
rias para derreter e considerando que só três quintos do calor da chama são
usados para derreter o gelo, em quanto tempo se obterá a água toda gelada?
a) Uma hora.
b) Uma hora e meia.
c) Cinquenta minutos.
d) Meia hora.
e) Vinte minutos.
3. Qual tem que ser o raio de curvatura de uma calota esférica, espelhada
pelo lado côncavo, para poder formar uma imagem aumentada em 50%, de
um rosto colocado a trinta centímetros dela?
a) 45 cm.
b) 60 cm.
c) 90 cm.
d) 120 cm.
e) 180 cm.
4. A resistência aquecedora de um chuveiro elétrico é de oito ohms e ele é
ligado à rede elétrica de 120 volts de tensão. Toda a energia dissipada pela
resistência aquece a água. Como a torneira foi regulada para deixar passar
um litro d’agua por minuto, de quantos graus Celsius a água será aquecida?
(considerar que uma caloria vale quatro joules)
110
APÊNDICE 4 – QUESTÕES

a) 45.
b) 27.
c) 18.
d) 36.
e) 54.
5. Considere que a Terra e a Lua estejam sujeitas apenas à interação gra-
vitacional com o Sol e entre elas e que se movam no vácuo, variando a distân-
cia ao Sol e entre si. A respeito exclusivamente ao sistema Terra-Lua, no re-
ferencial em que o Sol permanece em repouso no centro, pode-se dizer que
permanecem os mesmos, o tempo todo, os totais:
a) da energia cinética.
b) da energia potencial.
c) da energia mecânica.
d) da quantidade de movimento.
e) da energia cinética e da quantidade de movimento.
6. Um carrinho de montanha russa, de 900 kg, corre em um trilho sem
atrito. Na partida, ele é travado, comprimindo de meio metro uma mola de
3,24 × 106 N/m, fixa em seu outro extremo. Ao se soltar a trava, ele dispara
e sobe, parando no ápice do circuito, de onde inicia a primeira descida. Neste
lugar, os corpos em queda livre possuem a aceleração de 9,00 m/s². A altura
desse ponto, onde ele inicia a descida, vale:
a) 72 m.
b) 50 m.
c) 324 m.
d) 100 m
e) 144 m.
7. Para se investigar a existência de um campo magnético em certo lugar,
depois de descartada a existência de campo elétrico, coloca-se um tubo de
televisão funcionando de modo a formar um ponto luminoso no centro da
tela. Varia-se a orientação espacial desse tubo e observa-se o deslocamento
do ponto luminoso. Em relação à direção do feixe de elétrons no tubo, o
campo magnético tem direção:
a) perpendicular ao feixe, quando o ponto se desvia metade do desvio má-
ximo.
b) igual à do feixe, quando o ponto se desvia o máximo observado.
c) igual à do feixe, quando o ponto se desvia metade do desvio máximo.
d) igual à do feixe, quando o ponto continua no centro da tela.
e) perpendicular ao feixe, quando o ponto continua no centro da tela.

111
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

8. Em um jogo de bilhar, o taco de 240 gramas bate na bola de 160 gramas


e 52 milímetros de diâmetro, aplicando-lhe a força de 32,0 N durante 40 mi-
lissegundos. A velocidade com que a bola será lançada será de:
a) 12,0 m/s.
b) 8,0 m/s.
c) 16,0 m/s.
d) 6,4 m/s.
e) 2,4 m/s.
9. Uma locomotiva aproxima-se de uma estação apitando. Com relação ao
som ouvido pelos passageiros, o som ouvido pelas pessoas na estação será:
a) mais audível.
b) mais grave.
c) mais intenso.
d) mais potente.
e) mais agudo.
10. Enche-se uma chaleira de pedras de gelo e coloca-se no fogo, desligando-o
antes que a última pedra se derreta completamente. A água da chaleira, en-
tão, estará...
a) gelada.
b) morna.
c) fervendo.
d) quente.
e) fria.
11. Sabendo-se que o Universo está em expansão e que seu conteúdo se atrai
gravitacionalmente, pode-se concluir que sua temperatura média, enquanto
isto:
a) aumenta sempre.
b) diminui sempre.
c) não muda.
d) aumenta e depois diminui.
e) diminui e depois aumenta.
12. Uma bateria de 12 volts e 40 amperes-hora, sem resistência interna, ali-
menta um circuito de 240 ohms. Em quanto tempo ela se descarregará com-
pletamente?
a) Duas horas.
b) 800 segundos.
c) 72 horas.
d) 33 dias e 8 horas.
e) 480 horas.

112
APÊNDICE 4 – QUESTÕES

13. Um pincel de raios paralelos de luz incide em uma lente biconvexa e emerge
divergindo como se fosse de um ponto antes da lente. Tal comportamento
permite concluir que:
a) A lente é menos refringente que o meio que a cerca.
b) Toda lente biconvexa é convergente.
c) A lente é mais refringente que o meio que a cerca.
d) Toda lente biconvexa é divergente.
e) A lente tem a mesma refringência do meio que a cerca.
14. Em um motor de automóvel o volume total dos quatro cilindros é dois litros
e a explosão se dá em um cilindro de cada vez. Nisso, o volume interno au-
menta dez vezes, enquanto a manivela dá meia volta. A 3.000 rotações por
minuto a potência é de 80 hp (60 kW). Qual a pressão interna no cilindro? (1
atm = 100.000 Pa)
a) 10,0 atm.
b) 8,0 atm.
c) 13,3 atm.
d) 16,6 atm.
e) 6,7 atm.
15. Um automóvel de 800 kg está a 108 km/h em uma estrada reta e horizontal,
quando o motorista vê um trem atravessando a estrada, trezentos metros
adiante. Desprezando a resistência do ar, a mínima força que os freios devem
aplicar ao carro, para que ele pare sem colidir com o trem, em newtons, é
corretamente apresentada na alternativa:
a) 1.200.
b) 4.800.
c) 7.200.
d) 9.600.
e) 15.500.
16. Assinale a opção que apresenta a característica de uma onda sonora que é
responsável pela percepção do “volume” do som que se ouve.
a) Frequência.
b) Fase.
c) Comprimento de onda.
d) Amplitude.
e) Velocidade.
17. Assinale a opção que apresenta o conceito correto de “Calor”.
a) Energia em trânsito entre sistemas em contato a diferentes temperatu-
ras.
b) Total de energia interna possuída por um sistema a certa temperatura.

113
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

c) Temperatura total experimentada por um sistema em equilíbrio.


d) Diferença das temperaturas de dois sistemas em contato térmico.
e) Soma de todos os trabalhos exercidos e sofridos por um sistema sobre
e pelo ambiente externo a ele.
18. O índice de refração da água de uma piscina quadrada de dez metros de lado
e de profundidade, em metros, igual à metade da raiz quadrada de cinco é
três meios. Uma lâmpada acesa em seu fundo, no centro da piscina, emergirá
para o ar a partir de uma porção da superfície lisa da água corretamente des-
crita apenas pela opção:
a) Toda a superfície da água
b) O exterior de um círculo de dois metros de raio.
c) O interior de um círculo de dois metros de diâmetro.
d) O exterior de um círculo de dois metros de diâmetro.
e) O interior de um círculo de dois metros de raio.
19. Assinale a opção que indica a correta amperagem de um disjuntor para pro-
teger o circuito de um chuveiro elétrico de 4.800 watts que funcione ligado a
uma rede de 120 volts.
a) 5 amperes.
b) 10 amperes.
c) 20 amperes.
d) 40 amperes.
e) 50 amperes.
20. Um corpo pende verticalmente oscilando sem atritos preso a uma mola. A
respeito da energia do sistema, assinale a opção verdadeira:
a) A energia mecânica é maior no ponto mais baixo.
b) A energia potencial é maior no ponto mais baixo.
c) A energia cinética é maior no ponto mais alto.
d) A energia mecânica é menor no ponto médio.
e) A energia potencial é maior no ponto médio.
21. Em uma tomada de corrente alternada bifásica, enquanto um polo está posi-
tivo o outro está negativo, esta polaridade invertendo-se 120 vezes por se-
gundo. Considere que os fios que levam a tensão à tomada são paralelos e
próximos. Entre eles haverá uma interação elétrica e uma magnética. A res-
peito dessas duas interações, assinale a alternativa verdadeira:
a) Ambas serão sempre atrativas.
b) Ambas serão sempre repulsivas.
c) A magnética será repulsiva e a elétrica nula.
d) A magnética será atrativa e a elétrica repulsiva.
e) A magnética será repulsiva e a elétrica atrativa.

114
APÊNDICE 4 – QUESTÕES

22. Termodinâmica é a ciência que estuda as transformações de energia nos fe-


nômenos físicos. Isso é descrito pelas “Leis da Termodinâmica”, que podem
se aplicar a transformações cíclicas ou não, em sistemas abertos ou fechados,
isolados ou não, conforme o caso. Assinale a única afirmativa CORRETA, de
acordo com a “Segunda Lei da Termodinâmica”:
a) A energia total de um sistema isolado permanece constante.
b) A energia interna de um sistema isolado só depende da temperatura.
c) Nenhuma máquina térmica pode ter um rendimento de 100%.
d) O trabalho de uma máquina térmica é sempre menor do que a diferença
entre os valores absolutos dos calores recebido e cedido.
e) Nenhum sistema pode receber calor sem rejeitar uma parte dele.
23. O índice de refração da água é de quatro terços. Uma piscina está cheia de
água até uma profundidade de dois metros. No fundo dessa piscina há uma
fonte puntiforme de luz. Assinale a única opção que indica CORRETAMENTE
o diâmetro do círculo iluminado que será visto na superfície da água por um
observador externo.
a) 3,00 m.
b) 0,50 m.
c) 0,75 m.
d) 1,50 m.
e) 4,50 m.
24. Um elevador, subindo a quatro metros por segundo, para, ao fim de uma fre-
nagem ao longo de um metro. Sabe-se que um quilograma pesa dez newtons.
Assinale a única opção que indica CORRETAMENTE de quanto é reduzido o
peso aparente de uma pessoa dentro desse elevador.
a) 20%.
b) 40%.
c) 60%.
d) 75%.
e) 80%.
25. O número de partículas materiais do Universo é constante. Elas se atraem
umas às outras pela gravidade. A energia potencial gravitacional aumenta
com a separação entre as partículas interagentes. Suponha que não há outro
tipo de interação entre as partículas. A temperatura de um sistema é propor-
cional à energia cinética média por partícula. O Universo está se expandindo.
Assinale a única afirmativa que mostra CORRETAMENTE como se dá a evo-
lução temporal da temperatura do Universo como um todo, de acordo com
as considerações apresentadas.
a) Aumenta.

115
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

b) Mantém-se constante.
c) Diminui.
d) É imprevisível.
e) Nunca pode aumentar.
26. No interior de um condutor elétrico estaticamente carregado positiva ou ne-
gativamente, pode se estabelecer um campo elétrico, descrito por sua inten-
sidade e seu potencial elétrico em cada ponto do volume do condutor. Assi-
nale a única afirmativa que indica CORRETAMENTE o comportamento desse
campo elétrico.
a) Sua intensidade decresce da borda para o centro.
b) Seu potencial elétrico é nulo em todos os pontos.
c) Seu potencial elétrico cresce da borda para o centro.
d) Sua intensidade é nula em todos os pontos.
e) Sua intensidade é uniforme e constante, mas não nula.
27. Em um fio metálico reto, homogêneo e de espessura uniforme, que conduza
corrente elétrica contínua e constante, se estabelece um campo elétrico, res-
ponsável pela força tratora, que empurra os portadores de carga e vence a
resistência oferecida pela rede cristalina de átomos. Assinale a única afirma-
tiva que descreve CORRETAMENTE o comportamento desse campo elétrico
ou da corrente elétrica estabelecida.
a) A intensidade do campo é uniforme, constante e não nula.
b) O potencial do campo é uniforme, constante e não nulo.
c) A intensidade da corrente varia linearmente com a posição no fio.
d) O potencial elétrico é inversamente proporcional à posição no fio.
e) A intensidade do campo é nula ao longo de todo o fio.
28. Um vagão de trem maglev de dez toneladas levita magneticamente sobre os
trilhos, a um centímetro de distância deles. Isso é feito por meio de correntes
elétricas contínuas, constantes e de igual valor, estabelecidas nos dois trilhos
da ferrovia e nos dois trilhos de apoio do vagão. Os trilhos do vagão têm vinte
e cinco metros de comprimento. Assinale CORRETAMENTE o valor da inten-
sidade de corrente elétrica necessária para manter a levitação do vagão.
a) 10 kA.
b) 14 kA.
c) 20 kA.
d) 25 kA.
e) 50 kA.
29. Todos os fenômenos da natureza se reduzem fundamentalmente a movi-
mento e interação. As interações envolvendo duas partículas, não importa de
que tipo sejam, têm sua intensidade medida pela grandeza força, que atua em

116
APÊNDICE 4 – QUESTÕES

cada uma delas. A respeito dessa grandeza, em cada uma das partículas inte-
ragentes, NÃO é correto afirmar que:
a) Suas intensidades são iguais.
b) Sua resultante é nula.
c) Seus sentidos são opostos.
d) Suas direções são idênticas.
e) Suas durações são iguais.
30. À extremidade inferior de uma mola verticalmente pendente está preso um
corpo de cinco quilogramas em repouso, que a estende de dez centímetros.
Quando esse corpo é puxado mais dez centímetros para baixo e solto, começa
a oscilar verticalmente. Desprezando os atritos e considerando que a gravi-
dade local dá o peso de dez newtons a cada quilograma, assinale a opção que
apresenta a máxima velocidade que esse corpo atinge em seu movimento:
a) 2,5 m/s.
b) 5,0 m/s.
c) 1,0 m/s.
d) 0,5 m/s.
e) 2,0 m/s.
31. Um cano de cobre se ajusta perfeitamente em torno de um cilindro de aço à
temperatura ambiente, ficando agarrado. O mesmo acontece com um cano de
aço em torno de um cilindro de cobre, de mesmas dimensões. Sabe-se que os
coeficientes de dilatação linear do cobre e do aço estão na razão de nove para
sete.
Assinale o procedimento que deve ser tomado para desagarrar os dois canos dos
cilindros.
a) Aquecer o cano de aço e resfriar o de cobre.
b) Aquecer o cano de cobre e resfriar o de aço.
c) Aquecer tanto o cano de cobre quanto o de aço.
d) Resfriar tanto o cano de cobre quanto o de aço.
e) Nenhum procedimento térmico desgarrará ambos os canos.
32. Sabe-se que a frequência do som fundamental emitido por um tubo de órgão
é proporcional à velocidade de propagação do som no ar que, por sua vez, é
proporcional à raiz quadrada da temperatura absoluta do ar. Certo tubo
emite a nota dó à temperatura de 27ºC. O próximo dó, uma oitava acima, tem
o dobro da frequência.
Assinale a opção que indica a temperatura a que esse mesmo tubo deve ser le-
vado para emitir o dó fundamental, uma oitava acima.
a) 927∘C.
b) 327∘C.

117
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

c) 159∘C.
d) 1200∘C.
e) 600∘C.
33. É possível ferver um litro de água, à pressão atmosférica e sob gravidade
normal, inicialmente a vinte graus Celsius, atritando-se o recipiente sobre
uma superfície horizontal áspera. Considere o coeficiente de atrito igual a
meio, o peso do recipiente desprezível e cada caloria valendo quatro joules.
Assinalar a opção que indica a distância ao longo da qual se tem que empur-
rar o recipiente com velocidade constante, até que a água ferva, se não hou-
ver perda de calor para o ambiente.
a) Trezentos e vinte metros.
b) Mil e duzentos metros.
c) Trinta e dois quilômetros.
d) Quarenta e oito quilômetros.
e) Sessenta e quatro quilômetros.
34. Um condutor maciço de forma irregular está isolado e carregado negativa-
mente. Assinar a opção que diz como seus elétrons ficam nele distribuídos.
a) Há um excesso em todo o volume, concentrado em seu centro.
b) Há um déficit em todo o volume, concentrado em seu centro.
c) Há um excesso apenas superficial, maior nas partes mais pontudas.
d) Há um déficit apenas superficial, maior nas partes menos pontudas.
e) Há um excesso distribuído uniformemente por todo o seu volume.
35. Um fio condutor é disposto horizontalmente perpendicular ao equador e li-
gado aos polos de uma bateria com sua extremidade sul ao polo negativo e a
norte ao positivo. Uma pequena bússola é disposta horizontalmente por
baixo do fio, próxima a ele. Assinale a afirmativa que diz para que orientação,
aproximadamente, passará a apontar a ponta norte agulha da bússola.
a) Nordeste.
b) Sudeste.
c) Noroeste.
d) Sudoeste.
e) Leste.
36. É lançada uma nave da Terra para estudar a Coroa Solar. Seu lança-
mento se faz em sentido oposto ao movimento orbital da Terra, de modo que
ela vá se aproximando elipticamente do Sol até encontrá-lo. Todavia, por um
erro, ela passou por ele para o outro lado, e retornou à Terra. Assinalar a op-
ção que explica a razão desse erro.
a) A energia irradiada do Sol impediu sua aproximação.
b) A velocidade do lançamento foi excessiva.

118
APÊNDICE 4 – QUESTÕES

c) A velocidade do lançamento foi insuficiente.


d) É impossível mandar uma nave para encontrar o Sol.
e) A nave deveria ter sido lançada no mesmo sentido do movimento orbi-
tal.
37. Assinale a opção que descreve o que ocorre com os passageiros no interior
de um elevador quando ele inicia seu movimento de subida.
a) Tornam mais pesados.
b) Tornam mais leves.
c) Comprimem mais o chão.
d) Comprimem menos o chão.
e) Não sentem modificação alguma.
38. Assinale a opção que apresenta o conceito correto de “Temperatura”.
a) Energia em trânsito entre sistemas em contato térmico.
b) Total de energia interna possuída por um sistema.
c) Calor total experimentado por um sistema em equilíbrio.
d) Diferença das energias de dois sistemas em contato térmico.
e) Medida da intensidade da energia capaz de promover a sua transferên-
cia térmica.
39. Uma pessoa possui a deficiência visual chamada hipermetropia. Para corrigi-
la, usa óculos de lentes convergentes com o grau de três dioptrias. Assinale a
opção que diz, quando ela está sem óculos, qual a menor distância da vista
que ela precisa colocar um objeto para enxergá-lo nitidamente, considerando
que, com óculos, essa distância seja de 25 centímetros.
a) Um metro.
b) Meio metro.
c) Um quarto de metro.
d) Três quartos de metro.
e) Um metro e meio.
40. O nobreak de um computador tem uma bateria de 10 A.h. e tensão de saída
de 100 volts. A fonte do computador é de 300 watts. Assinale o máximo
tempo que ele poderá manter o computador ligado.
a) 50 minutos.
b) 100 minutos.
c) 200 minutos.
d) 400 minutos.
e) 500 minutos.
41. Sabe-se que a luz viaja à velocidade constante de 300 mil quilômetros por
segundo desde que o Universo surgiu, há 13 bilhões e 700 milhões de anos.

119
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

Sabe-se, também, que o Universo está se expandindo a uma velocidade pro-


porcional à distância de nós, de modo que ela é igual à velocidade da luz à
distância de 46 bilhões de anos-luz. Assinale a afirmativa que diz qual o valor
da constante de proporcionalidade entre a velocidade de afastamento e a dis-
tância, sabendo que o ano-luz é a distância percorrida pela luz em um ano.
Esta é a chamada “Constante de Hubble”.
a) 4,3 × 10-19 s-1.
b) 1,7 × 10-18 s-1.
c) 8,6 × 10-20 s-1.
d) 2,9 × 10-18 s-1.
e) 6,9 × 10-19 s-1.
42. Assinale a alternativa que apresenta algum tipo de ocorrência que não seja
objeto de estudo da Física.
a) Movimento, vibração e aquecimento.
b) Interação, rotação e iluminação.
c) Aceleração, reprodução e eletrização.
d) Magnetização, ondulação e oscilação.
e) Atração, repulsão e trepidação.
43. Um rio caudaloso, em uma enchente, tem a vazão de dez mil metros cúbicos
por segundo. O fluxo tem uma seção retangular de vinte metros de profundi-
dade por cinquenta metros de largura. Assinalar a opção que indica o valor
correto da velocidade da correnteza.
a) 5,0 m/s.
b) 10,0 m/s.
c) 20,0 m/s.
d) 50,0 m/s.
e) 100 m/s.
44. Considere um corpo em movimento no espaço, sob a ação exclusiva de seu
próprio peso. Assinale a afirmativa correta sobre o valor da aceleração que
ele experimenta.
a) É tanto maior quanto maior for o seu peso.
b) É tanto menor quanto maior for a sua massa.
c) Não depende nem da massa nem do peso.
d) É tanto menor quanto maior for o seu peso.
e) É tanto maior quanto maior for a sua massa.
45. Assinale a opção que apresenta o conceito correto de “Calor”.
a) Energia em trânsito entre sistemas em contato térmico.
b) Total de energia interna possuída por um sistema.
c) Total de temperatura experimentado por um sistema em equilíbrio.

120
APÊNDICE 4 – QUESTÕES

d) Diferença das energias de dois sistemas em contato térmico.


e) Medida da intensidade da energia capaz de promover a sua transferên-
cia térmica.
46. Assinale a opção que indica qual a característica física da onda luminosa que
define a sua “cor”.
a) Comprimento de onda.
b) Amplitude.
c) Intensidade.
d) Energia.
e) Frequência.
47. Uma lâmpada, ligada a uma rede de 120 volts, consome a potência de 120
watts. Duas lâmpadas iguais a essa são ligadas em série na mesma rede. As-
sinale a opção que indica a potência que as duas consumirão.
a) 480 watts.
b) 240 watts.
c) 120 watts.
d) 60 watts.
e) 30 watts.
48.Assinale a opção que mostra a relação correta entre trabalho e energia.
a) O trabalho das forças conservativas vale a variação da energia potencial.
b) O trabalho das forças dissipativas vale a variação da energia mecânica.
c) O trabalho da força resultante vale a variação da energia total.
d) O trabalho das forças externas vale a variação da energia mecânica.
e) O trabalho total vale a variação da energia total.
49. Assinale a afirmativa correta a respeito da força magnética entre dois fios
paralelos que conduzem corrente elétrica.
a) Se as correntes tiverem mesmo sentido, a força será de repulsão.
b) O módulo da força é inversamente proporcional à separação dos fios.
c) O módulo da força é diretamente proporcional à soma das correntes.
d) O módulo da força é inversamente proporcional ao comprimento dos
fios.
e) Se as correntes tiverem sentidos opostos a força será de atração.
50. Assinalar em qual tipo de movimento a velocidade escalar média é igual à
média das velocidades escalares do início e do fim do intervalo de tempo con-
siderado.
a) Movimento harmônico simples.
b) Movimento retilíneo uniformemente acelerado.
c) Movimento de projéteis obliquamente lançados.
d) Movimento orbital de planetas e satélites.

121
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

e) Movimento de queda com resistência do ar.


51. Um ímã de geladeira é mantido parado verticalmente na porta. Assinale a
alternativa que indica a força que impede que seu peso o puxe para baixo.
a) A normal com a porta.
b) A força magnética do ímã.
c) O atrito com a porta.
d) A reação da força magnética do ímã.
e) A reação de própria força do peso.
52. Considere o sistema termodinâmico constituído do Universo inteiro, que
está em expansão. Assinale o tipo de transformação termodinâmica que é
essa expansão.
a) Puramente adiabática.
b) Adiabática e isotérmica.
c) Puramente isobárica.
d) Puramente isotérmica.
e) Isotérmica e isobárica.
53. Assinale a alternativa que indica um fator que NÃO influencia na percepção
de cor que temos de um objeto sólido.
a) A composição química se sua superfície.
b) A iluminação a que está submetido.
c) A temperatura em que se encontra.
d) A cor do fundo contra o qual é visto.
e) O índice de refração do meio em que está imerso.
54. Se se deseja dobrar a potência dissipada por um resistor de um chuveiro elé-
trico, assinala a opção que resolveria a questão.
a) Colocar outro resistor igual em série.
b) Dobrar o comprimento do resistor.
c) Reduzir a um quarto o comprimento do resistor.
d) Colocar outro resistor igual em paralelo.
e) Quadruplicar o comprimento do resistor.
55. Uma força variável em intensidade e orientação atua sobre um móvel em
trajetória curvilínea irregular. Assinale a opção que mostra como se obter o
valor do trabalho dessa força.
a) Pelo produto do módulo médio da força pelo deslocamento escalar total.
b) Pela área sob o gráfico da componente da força na direção do desloca-
mento em função da posição ao longo do percurso.
c) Pelo produto do módulo médio da força pelo percurso total ao longo da
trajetória.

122
APÊNDICE 4 – QUESTÕES

d) Pela área sob o gráfico do valor da força em função da distância percor-


rida ao longo da trajetória.
e) Pelo produto do módulo médio da força pelo cosseno do ângulo médio
entre a força e o deslocamento e o deslocamento escalar efetuado.
56. Assinale a afirmativa que explica a razão do verão ser mais quente do que o
inverno.
a) No verão a Terra está mais próxima do Sol, em sua órbita elíptica.
b) No verão, os raios solares incidem mais perpendicularmente ao solo.
c) No verão, a menor presença de nuvens deixa bater mais sol no solo.
d) No verão, a maior duração dos dias aumenta a insolação total.
e) No verão os raios solares atravessam uma espessura menor de atmos-
fera.

123
BIBLIOGRAFIA (incompleta)

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WEINBERG, S. The first three minutes. New York. Basic Books, 1993.

125
GLOSSÁRIO (em elaboração)

Abóboda Celeste – Superfície esférica Álgebra – Parte da Matemática que


imaginária, centrada em um obser- cuida das operações com os elemen-
vador na superfície da Terra, em que, tos de qualquer sistema numérico e
aparentemente, situa–se o limite do suas propriedades.
espaço exterior observável. Álgebra Linear –
Absoluto – Diz–se de algo cuja exis- Álgebra,
tência não dependa de outrem ou de Algo – Tudo o que possa existir ou ser
nada. Diz–se, também, de um juízo, concebido. Engloba entes, valores,
cuja validade não dependa de ne- ações, qualidades, modos e todas as
nhuma circunstância. categorias.
Abstração – Algo não existente no Ambiente – Conjunto de tudo o que
mundo objetivo, mas que seja ape- seja externo a dado sistema. Comple-
nas concebido por mentes. A concep- mento dele em relação ao Universo.
ção mental de algo. A operação men- Análise – Parte da Matemática que es-
tal de se conceber uma ideia sobre tuda a variação e o efeito cumulativo
algo. de funções.
Ação – Operação que toma a iniciativa Análise – Procedimento lógico de de-
de proceder a uma alteração do es- compor um juízo ou argumento em
tado de um sistema. seus constituintes elementares. De
Acústica – modo geral, processo de decompor
Agnosticismo – Consideração de que um todo em suas partes, identifi-
não se pode saber nada a respeito de cando–as.
algo em particular. Ânion – Íon de carga negativa, devido
Aleatoriedade – Característica de à aquisição de elétrons por um
uma ocorrência que diz que ela não átomo.
se deu por motivo nem causa ne- Anisotropia – Situação em que as
nhuma ou que seu resultado seja im- propriedades de um sistema físico
previsível por não se conhecer os fa- variam com a direção espacial que se
tores que o determinem. considera.
Aleatório – Algo que ocorra sem ser Antimatéria – Matéria composta de
determinado por nada, isto é, ao antipartículas, ao invés de partícu-
acaso. las.
Antipartícula – Partícula cuja carga
elétrica seja oposta à da partícula

126
GLOSSÁRIO (em elaboração)

correspondente, com a mesma Átomo – Sistema de partículas ele-


massa, spin e paridade. mentares básico da estrutura da ma-
Aplicação – Relação que atribui a téria, constistente de um núcleo
cada elemento de um conjunto um composto por prótons e nêutrons e
único elemento, do mesmo ou de ou- de uma camada envolvente de elé-
tro conjunto, de acordo com regras trons de tal modo que a carga posi-
preestabelecidas. tiva do núcleo, devida aos prótons,
Apriorismo – Condição de um juízo seja anulada pela carga negativa dos
admitido como verdadeiro de início, elétrons. O diâmetro do átomo é
sem verificação. cerca de dez mil vezes maior do que
Argumento – Expressão de um racio- o de seu núcleo.
cínio que produz um novo juízo, dito Bárion – Partícula formada por três
conclusão, a partir de outros estabe- ou mais quarks. São os prótons, nêu-
lecidos, ditos premissas. trons e híperons.
Aritmética – Parte da Matemática que Biologia – Ciência que estuda a vida e
estuda as propriedades e operações suas mani–festações.
dos números inteiros e racionais. Bóson – Partícula caracterizada pelo
Arte – Atividade que consiste na ela- fato de ser possuidora de número
boração de imagens, objetos, sons, quântico de momento angular in-
movimentos, palavras, encenações, trínseco (spin) de módulo par. Segue
edificações e o que seja com o propó- a estatística de Bose–Einstein, po-
sito de propiciar prazer em sua apre- dendo ser produzido e aniquilado
ciação, mesmo que também possa em qualquer número, não exibindo
ter outros objetivos, utilitários, por conservação de número. É o caso das
exemplo. O produto dessa atividade. partículas elementares mediadoras
Assertiva – ver Proposição. das interações (fóton, glúon, W, Z e o
Astro – Corpo celeste. Dentre eles, es- hipotético gráviton), bem como dos
trelas, planetas, satélites, nebulosas, mésons.
galáxias e seus aglomerados. Bóson – Partícula elementar cujo spin
Astrofísica – Ciência que estuda a seja um número inteiro de constan-
composição, o surgimento, a estru- tes de Planck (divididas por dois
tura, a dinâmica e a evolução dos pís), podendo existir sem limite de
corpos celestes. número no mesmo estado, capaz de
Astronomia – Ciência que estuda a ser produzida e aniquilada em inte-
posição e o movimento dos astros, rações, não obedecendo à conserva-
bem como a estrutura e distribuição ção de número. É o caso das partícu-
de seus sistemas. las mensageiras das interações e das
partículas materiais formadas por
um número par de quarks, como os

127
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

mésons, feitos de um quark e um an- entidades, os seres, os objetos, as


tiquark. mentes, os valores, os atributos ou
Bóson de Higgs – Partícula que pre- qualidades, as ações, os modos, as
encheria todo o Universo, consti- relações, os eventos, os juízos, as for-
tuindo um “Campo de Higgs” e cuja mas, as extensões, as durações, as
interação com as demais partículas posições, as localizações, as situa-
lhes causaria a oposição à variação ções, as afecções ou outras.
do estado de movimento, medida Cátion – Íon de carga positiva devido
pela “massa inercial”. à perda de elétrons por um átomo.
Brana – Superfície cósmica hipotética Causa – Evento que determina a ocor-
em um espaço multidimensional em rência de outro, chamado “efeito”.
que todas as dimensões, menos Causal – Que tem uma relação de
duas, são mantidas constantes. causa e efeito.
Cálculo Estocástico. Causalidade – Relação entre eventos
Cálculo Infinitesimal que sejam um a causa do outro.
Cálculo Tensorial, Certeza – Consideração a respeito de
Cálculo Variacional, um juízo ou sua proposição pela qual
Cálculo Vetorial se tem o conhecimento garantido de
Campo – Entidade da natureza de que que seja verdadeiro.
tudo é feito e que propaga as intera- Ceticismo – Postura de se considerar
ções. Matéria e radiação são quanti- que nunca se tem certeza sobre a ve-
zações de campo, sendo, pois, racidade de algum conhecimento,
campo, a única entidade substancial mas apenas grande confiança em
básica do Universo. face de todas as informações dispo-
Característica – Propriedade de algo níveis, devidamente verificadas.
que lhe confere o aspecto de ser Ciência – Modalidade de conheci-
como é. mento sistematizada e verificada, de
Carga – Propriedade de um sistema fí- modo a propiciar modelos descriti-
sico que lhe confere a capacidade de vos da realidade, confiáveis e capa-
exercer e sofrer interação elétrica. zes de predições.
Carga Elementar – Carga exibida pe- Circunstância – Situação em que al-
las partículas subatômicas próton gum evento ocorra.
(positivo) e elétron(negativo) e que Coisa – Ente genérico. Algo que exista
é a menor porção de carga elétrica ou possa existir objetivamente, isto é
capaz de ser detectada experimen- não apenas como ideia, abstração ou
talmente. conceito.
Casual – ver Aleatório. Complemento – Conjunto de tudo o
Categoria – Modalidade do que existe que não pertença a um conjunto
ou possa existir. Engloba os entes ou

128
GLOSSÁRIO (em elaboração)

dado no conjunto total de todos os produz e se controla, como se relaci-


elementos da mesma categoria. ona com o resto do que existe e ou-
Composição – Aquilo de que é feita al- tras informações.
guma coisa. Conhecimento Científico – Conheci-
Comprimento – Extensão de uma li- mento verificado e sistematizado.
nha, medida pelo número de vezes Conhecimento Vulgar – Conheci-
que se pode dispor, ao longo dela, de mento não verificado nem sistemati-
modo sequencial e justaposto, uma zado.
linha escolhida como unidade de Conjunto – Coleção do que quer que
comprimento. seja que possa ser listada ou identifi-
Conceito – Significado de uma ideia. cada por alguma propriedade co-
Expressão do que algo venha a ser mum que permita a sua inclusão ou
em termos de conceitos já conheci- exclusão. Em particular, pode não
dos. O conceito não é necessaria- conter nada.
mente preciso como a definição, mas Conservação – Propriedade exibida
tem que dar uma ideia que permita por algum atributo de algo de tal
identificar a coisa e distingui–la de forma que a grandeza que o mede
outras. em algum sistema permaneça com
Conceito Primitivo – Conceito des- valor inalterado ao longo do tempo,
provido de definição, mas apenas mesmo que o sistema passe por al-
compreendido em razão de seu uso guma transformação.
atribuído a alguma ideia. Constância – Fenômeno pelo qual
Concepção – Modo de se considerar certa grandeza permanece com va-
como algo seja. lor invariável em um sistema, à me-
Condição – Conjunto de circunstân- dida que passa o tempo.
cias que possibilitam a realização de Constante de Boltzmann – Valor que
um evento. relaciona a densidade de energia de
Configuração – Disposição estrutural um sistema de partículas com a tem-
espacial das partes de um sistema peratura macroscopicamente obser-
em relação às outras. vada dele. Igual, no SI, a 1,3806503 ×
Conhecimento – Conjunto de infor- 10–23 joules/kelvins.
mações a respeito de algum aspecto Constante de Planck – Valor que re-
da realidade. Inclui o que seja, se laciona a energia de uma partícula
existe, onde e quando, como é, como com a frequência da onda associada
se dá, porque é como é e se dá como a ela. Igual, no SI, a 6,626068 × 10–
dá, que características possui, para 34 joules.segundos.
que existe, o que acarreta, como se Constante Gravitacional – Valor que
relaciona a intensidade da interação
gravitacional entre partículas com

129
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

suas massas e seu afastamento. seja apenas empírico nem apenas ra-
Igual, no SI, a 6,674287× 10–11 new- cional, mas tanto um quanto o outro
tons.m²/kg² e que tem que ser submetido a uma
Contraditórias – Proposições que crítica de sua validade.
não podem ser ambas verdadeiras Cromodinâmica – Teoria – dos
nem falsas. quarks, partículas fermiônicas cons-
Contrárias – Proposições que não po- titutivas dos bárions que formam a
dem ser ambas verdadeiras mas po- matéria e dos glúons, partículas
dem ser ambas falsas. bosônicas responsáveis pela intera-
Corpo – Sistema físico material, ex- ção forte entre quarks.
tenso e limitado. Cultura – Complexo que inclui o co-
Corpo – Sistema matemático constitu- nhecimento, as crenças, a arte, a mo-
ído de um conjunto numérico mu- ral, a lei, os costumes e todos os ou-
nido de duas operações, pelas quais, tros hábitos e aptidões de um povo.
isoladamente, o sistema seria um Definição – Expressão precisa do sig-
grupo abeliano e, conjuntamente, nificado de um conceito em termos
exibam a propriedade distributiva de outros já definidos ou primitivos.
de uma em relação à outra. Dia – Intervalo de tempo decorrido
Corte Epistemológico – Situação em entre a passagem do Sol pelo meridi-
que a confirmação da veracidade de ano zenital e uma passagem imedia-
um modelo teórico explicativo da re- tamente subsequente.
alidade exclui a validade de explica- Dialética – Arte de argumentar e con-
ções alternativas que não sejam ca- vencer com base em raciocínios váli-
sos particulares ou não possam ser dos.
reduzidas à explicação admitida Dialética – Na concepção de Hegel,
como certa. trata–se do processo lógico de obter
Cosmogonia – Teoria sobre a origem uma síntese a partir de uma tese e
do Universo. sua antítese. Na interpretação mar-
Cosmologia – Ciência que estuda a xista da História e da natureza, é o
origem, a estrutura e a evolução do modo pelo qual a evolução natural e
Universo como um todo. histórica se processa.
Cosmovisão – Modo de encarar o Dinâmica – Modo segundo o qual al-
mundo e a vida por uma pessoa ou gum fenômeno se desenrola no
por uma concepção filosófica. tempo com relação às causas que o
Criação – Ato de provocar o surgi- provoquem.
mento de algo. em particular, do Uni- Direção – Propriedade comum ao
verso. conjunto de todas as retas paralelas
Criticismo – Corrente filosófica que a uma dada reta, que representa sua
considera que o conhecimento não orientação espacial.

130
GLOSSÁRIO (em elaboração)

Discussão – Diálogo a respeito de Elétron – A mais leve das partículas


dado tema, com a defesa de opiniões elementares fermiônicas do grupo
diferentes a seu respeito por parte dos léptons e que compõe a eletros-
dos participantes. fera dos átomos.
Distância – medida da separação en- Emaranhamento – Condição de um
tre dois pontos computada pelo sistema pela qual duas ou mais de
comprimento de uma linha geodé- suas partes estejam ligadas por uma
sica cujos extremos neles se localize. condição tal que a alteração em al-
Dominância Orbital – Característica guma propriedade de uma delas al-
de um astro que lhe confere a propri- tere instantaneamente o valor da
edade de aglutinar ou afastar outros propriedade correlata na outra.
que lhe sejam vizinhos, deixando o Emergência – Surgimento de um
espaço que lhe circunda desimpe- comportamento em um estrato su-
dido de detritos. perior da realidade em função do
Efeito – Evento cuja ocorrência tenha comportamento dos estratos inferi-
sido causada por outro. ores que o suportam.
Elasticidade Empírico – Condição de um conheci-
Elemento – Cada um dos participan- mento obtido diretamente pelas in-
tes de um conjunto, com ele admi- formações dos órgãos sensoriais, so-
tindo uma relação de pertinência ou zinhos ou com o auxílio de instru-
não. mentos.
Elemento – Espécie de substância Empirismo – Concepção pela qual o
química incapaz de ser fracionada conhecimento do mundo se dá ape-
em outras substâncias. nas pelas informações fornecidas pe-
Eletricidade – Denominação genérica los órgãos sensoriais à mente, sozi-
ao conjunto de fenômenos em que nhos ou com o auxílio de instrumen-
participam as cargas elétricas ou os tos, bem como do que disso seja logi-
campos elétricos. camente deduzido.
Eletrodinâmica – Parte do Eletro- Energia – Atributo dos sistemas físi-
magnetismo correspondente às inte- cos que lhes capacita a realizar algo,
rações entre cargas em movimento e isto é, a produzir alguma alteração
campos elétricos e magnéticos vari- no estado de si mesmo ou de outros
áveis. sistemas que lhes estejam ligados.
Eletromagnetismo – Parte da Física Ente – Tudo o que substancialmente
que estuda o movimento e a intera- exista, possa existir ou se pense que
ção entre cargas elétricas, bem como exista por si mesmo, isto é indepen-
entre os campos elétricos e magnéti- dentemente de mentes que o conce-
cos que produzem. bam.
Entidade – Ver “Ente”.

131
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

Entropia – Grandeza que mensura a pelos pontos de intercessão do plano


probabilidade do estado macroscó- de sua órbita com o plano do equa-
pico de um sistema, definida pelo lo- dor, o que propicia uma duração
garitmo da probabilidade dele, dado igual para o dia e para a noite.
pela razão entre o número de micro- Erística – Técnica dialética que con-
estados correspondentes a dado ma- siste em convencer não pela lógica
croestado e o total de macroestados argumentativa, mas pelo uso de re-
admissíveis, multiplicado pela Cons- cursos intimidadores, trapaceadores
tante de Boltzmann. Macroscopica- ou escamoteadores da verdade.
mente a variação de entropia é dada Erudição – Característica de uma pes-
pela integral do inverso da tempera- soa ser possuidora de conhecimen-
tura absoluta em que vai ocorrendo tos amplos e profundos a respeito de
uma transformação no sistema em algum assunto, de modo que possa
relação ao calor que ele troca com a argumentar consistentemente sobre
vizinhança. ele.
Epifenômeno – Fenômeno que Escola de Pensamento –
emerge de outro principal, mas não Esoterismo – Concepção de que al-
é fator causal para nada. É como se gum conhecimento deva ser restrito
fosse apenas um indicador da ocor- a um grupo de iniciados, que o man-
rência do fenômeno principal. terão em segredo. Diz–se, principal-
Episteme – Conhecimento justificado mente, de conhecimentos relativos a
e validado por verificação evidencial influências transnaturais nos fenô-
direta ou por comprovação lógica menos naturais.
calcada em evidências indiretas. Espaço – Ver “Espaço Físico”.
Epistemologia – Parte da filosofia Espaço Euclideano – Espaço Geomé-
que cuida da obtenção, validação, trico em que as geodésicas são retas.
sistematização e classificação do co- Espaço Físico – Capacidade de caber
nhecimento. algo. Conjunto dos lugares, isto é, das
Epistemológico – Característica de possibilidades de localização de
algo que se relacione ao conheci- algo.
mento que se tem a respeito dele. Espaço Geométrico – Conjunto de to-
Uma consideração é epistemológica dos os pontos.
quando procura responder à ques- Espaço Riemanniano – Conjunto de
tão “porque?” aquilo ocorre como se pontos para os quais pode–se definir
dá. uma distância entre qualquer par
Equações Diferenciais Parciais, deles que seja dada por uma forma
Equações Integrais, bilinear das coordenadas dos pon-
Equinócio – Momento em que a Terra tos.
passa, em seu movimento orbital, Espaço Vetorial –

132
GLOSSÁRIO (em elaboração)

Espaço–tempo – Entidade física con- Estrutura – Forma com que se confi-


junta que engloba o espaço e o gura espacialmente um sistema.
tempo. Éter – Hipotético meio de propagação
Espectro Eletromagnético – Con- das ondas eletromagnéticas, de den-
junto de possíveis frequências da ra- sidade zero e rigidez infinita que se
diação eletromagnética, agrupadas, revelou inexistente experimental-
em ordem crescente de frequências mente, fato que levou Einstein a pos-
nas ondas longas de rádio, ondas tular o seu “Princípio da Relativi-
curtas, micro–ondas, luz infraverme- dade Restrita”, segundo o qual a ve-
lha, luz visível, luz ultravioleta, raios locidade das ondas eletromagnéti-
X, raios gama e raios cósmicos. cas, no vácuo, é independente do
Essência – Característica de algo pela movimento, tanto da fonte quanto
qual ele seja o que é, sem a qual ele do observador e a mesma para todos
seria outra coisa. os referenciais.
Estado – Situação em que se encontra Eudoxa – Proposição que representa
certo sistema, em termos de sua con- um enunciado não verificado, justifi-
figuração e suas condições dinâmi- cado ou comprovado, mas que, até
cas. prova em contrário, possa ser admi-
Estética – Parte da Filosofia que cuida tido como verdade a respeito de algo
da apreciação do valor beleza dos se- por sua grande plausibilidade e indí-
res, bem como do fazer humano in- cios de veritabilidade.
tentado em provocar prazer em Evento – Acontecimento, isto é, alte-
quem contemplar, ou perceber por ração no estado de um sistema.
qualquer sentido, o produto desse Evidência – Constatação da veraci-
fazer, denominado arte. dade de uma proposição por verifi-
Estrela – Corpo celeste compacto, cação sensorial direta ou assistida
consistente de uma esfera de gás de por instrumentos.
tal dimensão que a pressão e a tem- Existência – Situação de algo que es-
peratura de seu interior, pelo menos teja presente no mundo objetivo.
em alguma fase de sua evolução, seja Exoterismo – Característica do co-
capaz de produzir energia por rea- nhecimento em ser aberto ao acesso
ções nucleares a ponto de conter a de qualquer um.
contração gravitacional de suas par- Falsidade – Inadequação entre um ju-
tes, umas sobre as outras. Exceto ízo ou pro–posição e a realidade em
quando tiverem esgotado total- si mesma.
mente suas fontes de energia, as es- Fenomenológico – Característica de
trelas são fontes de radiação em to- algo que se relacione ao modo como
das as faixas do espectro, especial- se dá a sua ocorrência. Uma conside-
mente de luz visível.

133
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

ração é fenomenológica quando pro- consideram apenas as baixas veloci-


cura responder à questão “como?” dades, em comparação com a da luz,
tal ocorrência se dá. Algo que se ex- dimensões macroscópicas e intera-
plica pela ocorrência de eventos na- ções não muito fortes.
turais. Fisicalismo – Concepção segundo a
Férmion – Partícula elementar cujo qual não existe realidade objetiva
spin é um número semi–inteiro de extrínseca à natureza, como o sobre-
constantes de Planck (dividida por natural. Além da realidade física
dois pís). Obedecem o Princípio de existem apenas os conceitos abstra-
Exclusão de Pauli e a estatística de tos, que não são entidades objetivas.
Fermi–Dirac. Envolve os léptons e os Difere do materialismo por conside-
quarks. rar, além da matéria, a existência das
Filosofia – Componente do saber hu- demais categorias de entidades físi-
mano que concerne ao estabeleci- cas, como os campos e a radiação,
mento dos significados, das razões, além do espaço, tempo, estruturas,
dos propósitos, da validade, dos mo- ocorrências e suas dinâmicas.
dos, das origens, da destinação, da Físico – Característica de algo (ser ou
classificação, do valor e do que mais evento) que pertença ao mundo na-
seja procedente a respeito de tudo o tural.
que puder ser cogitado. Cuida tam- Formas Diferencias
bém de como se obter tudo isso, o Fortuito – Ver Aleatório.
que é feito pela observação, experi- Fóton – Partícula representativa do
mentação, comparação, reflexão, ra- “quantum” de radiação eletromag-
ciocínio, para o que a própria Filoso- nética, quando uma onda eletromag-
fia provê a metodologia de trabalho. nética é absorvida ou emitida.
Física – – Parte da Física cujos mode- Fração – Número que representa
los explicativos consideram fenôme- certa quantidade inteira de parti-
nos num nível de dimensões da or- ções inteiras iguais da unidade.
dem de poucos átomos ou menores. Quando menor que a unidade é dita
Física – Ciência fundamental da natu- própria, caso contrário, imprópria.
reza, que estuda a estrutura e com- Por extensão as frações também in-
posição dos constituintes do Uni- cluem os números inteiros.
verso, seus movimentos e as intera- Função – Relação matemática entre
ções que experimentam, formulando dois conjuntos de forma que cada
modelos explicativos dos fenômenos elemento do primeiro seja relacio-
observados. nado a só um do segundo, mas um do
Física Clássica – Parte da Física cujos segundo pode ser relacionado a mais
modelos explicativos dos fenômenos de um do primeiro.

134
GLOSSÁRIO (em elaboração)

Funcional – Função matemática em a energia de um sistema exercem so-


que os elementos do conjunto de bre outros, de modo a alterar seu
partida são, eles mesmos, funções e movimento ou deformá–lo. Classica-
os do conjunto de chegada são nú- mente e na Relatividade Restrita, a
meros. Gravidade é considerada uma intera-
Galáxia – Grande conglomerado de ção, cuja intensidade é medida por
nebulosas, estrelas, planetas, satéli- uma força, à qual também se associa
tes e campos, unidos pela gravidade uma energia potencial. Pela Relativi-
recíproca e afastados de outras con- dade Geral a Gravidade é apenas
centrações de astros. uma manifestação da Inércia em es-
Geociência – Ciência que estuda o pla- paços com curvatura, provocada
neta Terra em seus aspectos astro- pelo conteúdo de massa e energia
nômicos, físicos, astrofísicos, geoló- que o preenche.
gicos, metereológicos e hidrológicos. Gravitação –,
Geodésica – Linha ao longo da qual se Grupo – Sistema matemático consti-
tem o menor caminho entre dois tuído de um conjunto numérico mu-
pontos. Uma geodésica não precisa nido de uma operação que goze das
manter a mesma direção. propriedades de fechamento, associ-
Geografia – Ciência que estuda as ca- atividade, elemento neutro e ele-
racterísticas do planeta Terra relaci- mento inverso.
onadas com a vida humana. Grupo Abeliano – Grupo que possua
Geologia – Parte das geociências que a propriedade adicional de comuta-
estuda a composição, estrutura e tividade em sua operação.
evolução da crosta terrestre e suas Hidrodinâmica – Parte da Física que
camadas internas. estuda a di–nâmica dos fluidos, em
Geometria especial da água.
Geometria – Parte da Matemática que Hiperlink – Conexão entre documen-
estuda as figuras e as relações entre tos ou partes de um documento com-
elas e entre suas partes. putacional digitalizado que se acessa
Geometria Diferencial, diretamente por um clique do
Geometria Riemanniana, mouse.
Glúon – Partícula bosônica não mas- Híperon – Bárion instável de massa
siva, mensageira da interação forte maior do que o próton e o nêutron.
entre quarks. Hipótese – Proposição explicativa
Gnosticismo – Consideração de que provisória de uma ocorrência que é
se pode saber tudo a respeito de proposta para ser testada. Caso con-
algo. firmada, transforma–se em uma Lei
Gravidade – Ocorrência física que científica.
consiste na influência que a massa e

135
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

Holismo – Concepção ontológica e Interação Fraca – Interação repulsiva


epistemológica pela qual cada ex- experimentada por partículas suba-
trato da realidade possui caracterís- tômicas leptônicas e bariônicas res-
ticas próprias que não podem ser re- ponsável pela desintegração radioa-
duzidas apenas à contribuição dos tiva com a emissão de léptons por
estratos inferiores, mas que advém bárions, a despeito da atração elé-
da ligação de todo sistema com o trica.
resto do Universo. Invariante – Grandeza ou relação en-
Idealismo – Concepção filosófica pela tre grandezas que não se altera com
qual as ideias têm primazia sobre o a mudança do referencial em relação
mundo objetivo, que seria uma re- ao qual é medida.
presentação delas. O idealismo su- Íon – Sistema de partículas elementa-
põe a existência de uma realidade es- res constituído por um átomo que
piritual, na qual as ideias estariam perdeu ou ganhou elétrons de modo
alojadas. que seu número não corresponda ao
Ideia – Concepção mental a respeito dos prótons do núcleo, possuindo,
de algo que exista ou possa existir. assim uma carga elétrica.
Indício – Fato que indica alguma ra- Isotropia – Fato de que as proprieda-
zão para a explicação de algo. Que des de um sistema sejam as mesmas
possa sustentar a veracidade de uma ao longo de qualquer direção que se
assertiva, sem, contudo, ser capaz de considere.
comprová–la. Juízo – Afirmação ou negação que se
Interação – Ação recíproca entre sis- faz de um termo a respeito de outro.
temas que provoque alterações no Juízo Analítico – Juízo necessário,
estado de cada um. contido nas próprias definições dos
Interação Elétrica – Uma das intera- termos envolvidos.
ções fundamentais da natureza, ex- Juízo Sintético – Juízo advindo de
perimentada por partículas subatô- uma verificação fática da relação en-
micas leptônicas, bariônicas e bosô- tre os termos.
nicas que possuam o atributo deno- Juízo Sintético a Priori – Juízo não
minado carga elétrica, podendo ser necessário mas decorrente da estru-
atrativa ou repulsiva. tura intrínseca da mente.
Interação Forte – Interação atrativa Laço Gravitacional – Teoria – hipoté-
experimentada por partículas suba- tica do Espaço–Tempo que se pro-
tômicas, responsável pela união de põe a unificar a Relatividade Geral
quarks a despeito de sua repulsão com a Mecânica –, formando uma te-
elétrica. oria unificada que inclua a gravita-
ção.

136
GLOSSÁRIO (em elaboração)

Lépton – Partícula subatômica fer- massas gravitacionais das partículas


miônica, de carga inteira, sensível às envolvidas.
interações fraca, eletromagnética e Massa Inercial – Atributo das partí-
gravitacional, mas não forte. Con- culas constitutivas da matéria que
siste nos elétrons, müons, táons, mede a intensidade com que se
seus neutrinos e as antipartículas opõem a ter o seu estado de movi-
correspondentes. mento alterado por interações. Pelo
Linha – Conjunto contínuo de pontos Princípio da Equivalência é também
contíguos que se dispõem ao longo a medida da capacidade de exercer e
das posições que podem ser ocupa- sofrer gravitação. A Teoria Unificada
das pelo deslocamento de um ponto. das Interações considera que o seu
Lógica – Disciplina que cuida da valor seja proveniente da interação
forma correta de conduzir o raciocí- das partículas com uma partícula
nio de modo a obter conclusões váli- que preencheria todo o espaço, de-
das a partir de informações disponí- nominada “Bóson de Higgs”.
veis. Massa Invariante – Valor da massa
Lógico – Argumento feito ou conclu- de um sistema em repouso em rela-
são obtida pela aplicação de regras ção ao observador. É, simplesmente,
válidas de raciocínio. a massa.
Luz – Entidade física emitida pelos sis- Massa Relativística – Antiga denomi-
temas que permite à visão enxerga– nação do valor da energia de um sis-
los. Por extensão qualquer tipo de tema dividida pelo quadrado da ve-
radiação eletromagnética. locidade da luz, atualmente em de-
Macroestado – Estado global de um suso.
sistema, identificado por suas pro- Matemática – Ramo do conhecimento
priedades capazes de serem mensu- concernente ao estudo das relações
radas de forma global sobre o sis- entre as propriedades quantitativas,
tema como um todo. posicionais, estruturais e variacio-
Massa – Denominação única para os nais de conjuntos do que quer que
vários conceitos de massa, unifica- seja, bem como da dedução lógica
dos pelo Princípio da Equivalência. das consequências dessas proprie-
Massa de Repouso – Ver Massa Inva- dades.
riante. Matéria – Constituinte substancial do
Massa Gravitacional – Atributo de Universo composto por partículas
uma partícula que lhe capacita a fermiônicas agrupadas em átomos,
exercer e sofrer interação gravitaci- moléculas ou íons, que goza das pro-
onal. O valor da intensidade da inte- priedades de extensão e inércia e
ração é proporcional ao produto das possui o atributo necessário de
massa.

137
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

Matéria Condensada – Sistema físico Mecânica Analítica


material em que os átomos, molécu- Mecânica Clássica,
las ou íons que o compõem estão li- Mecânica dos Meios Contínuos,
gados de modo firme, mantendo–se Mecânica Estatística
unidos nas alterações do estado do Mecânica Estatística –,
sistema em que esse aspecto perma- Mecânica Estatística Clássica,
neça. São os líquidos e os sólidos Mecânica Hamiltoniana
cristalinos e amorfos. Mecânica Lagrangeana
Material – Tipo de matéria de que um Mecânica Matricial
corpo seja feito. Mecânica Ondulatória
Materialismo – Concepção pela qual Mediatriz – Reta de um plano perpen-
o mundo objetivo seja constituído dicular a um segmento de reta que
apenas de matéria, isto é, não exis- una dois pontos, traçada no ponto
tam espíritos, e que, portanto, a médio desse segmento. Por exten-
mente seja apenas o resultado do são, plano que contém todas as me-
funcionamento do cérebro. Atual- diatrizes de um segmento no espaço.
mente, tal concepção foi substituída Méson – Partícula subatômica for-
pela noção de “Fisicalismo”. mada por um quark e um antiquark.
Matriz – Entidade matemática consti- Metafísica – Parte da Filosofia que
tuída por um arranjo de números de cuida da categorização das diversas
qualquer espécie, ao longo de linhas realidades e das características e
e colunas, com o qual se pode proce- propriedades das diferentes catego-
der a operações e ser usado como rias, bem como de sua gênese e das
domínio e imagem de relações e apli- relações existentes entre seus cons-
cações. Por extensão uma matriz tituintes. Em especial dos atributos
pode também possuir elementos das categorias dos entes e dos seres
dispostos ao longo de mais de duas e de suas condições de existência.
dimensões, como linhas, colunas e fi- Microestado – Estado físico de um
las. Também se pode conceber ma- sistema caracterizado pelo conjunto
trizes de matrizes. de suas propriedades em nível atô-
Mecânica – – Parte da Física que se mico e molecular, como posição, mo-
ocupa com os fenômenos que ocor- vimento, nível de energia e momento
rem com a matéria, a radiação e os angular de cada um de seus consti-
campos em nível microscópico. tuintes. O número de microestados
Mecânica – não Relativística, correspondentes a um dado macro-
Mecânica – Parte da Física que estuda estado do sistema é o seu peso esta-
o movimento, ligando–o às intera- tístico. A probabilidade do estado
ções que o modificam. macroscópico é a razão entre seu
Mecânica – Relativística,

138
GLOSSÁRIO (em elaboração)

peso e o número de todos os micro- quão difícil, pela inércia, é se tirar


estados possíveis. O logaritmo dessa esse movimento dele. Medido por
probabilidade é a entropia do sis- uma grandeza calculada pelo pro-
tema. duto da massa do sistema pela velo-
Modo – Como se dá a realização de cidade de seu centro de massa. Co-
uma ocorrência. nhecido como “quantidade de movi-
Modus Ponens – Raciocínio pelo qual mento”, mede o total de movimento
se conclui a afirmação do conse- linear do sistema em termos do
quente pela afirmação do antece- quanto de impulso é preciso para
dente de uma implicação. dar ou retirar do sistema esse movi-
Modus Tollens – Raciocínio pelo qual mento. Grandeza conservada nos
se conclui a negação do antecedente sistemas isolados.
pela negação do consequente de Momentum – Ver “Momento Linear”.
uma implicação. Movimento – Alteração do estado de
Molécula – Grupamento de átomos um sistema, da condição de um ser
unidos por ligações covalentes ou ou mudança da posição espacial de
coordenovalentes. algo.
Molécula Replicante – Molécula ca- Multiverso – Conjunto de vários Uni-
paz de, em um meio, produzir cópias versos.
de si mesma a partir de átomos ou Mundo – Toda a realidade exterior à
moléculas menores disponíveis no mente, incluindo o Universo Físico, a
meio. É o caso do RNA (ácido ribonu- Sociedade e a Cultura.
cleico) e do DNA (ácido desoxirribo- Müon – Lépton mais pesado que o elé-
nucleico). A existência de tais molé- tron, de pequena vida, decaindo no
culas é essencial para haver vida elétron. O tempo de decaimento dos
como a conhecemos. müons formados na alta atmosfera,
Momento Angular –Produto vetorial medidos no referencial deles mes-
da posição do centro de massa de um mos e no da superfície foi uma das
sistema por seu momento linear, em comprovações experimentais da Re-
relação a um ponto. Conhecido como latividade Restrita.
“quantidade de movimento angular”, Nada – Ausência total de qualquer
mede o total de movimento rotacio- coisa: conteúdo material, radiação,
nal do sistema, em termos do Im- campos de força, espaço vazio, trans-
pulso angular requerido para dar ou curso de tempo e qualquer tipo de
retirar essa rotação do sistema. Sig- estrutura, ocorrência, lei física ou re-
nifica o quão difícil, pela inércia, é ti- gra de qualquer espécie. Nada não é
rar a rotação dele. uma entidade, logo não pode ser pre-
Momento Linear – Atributo de um cedido de artigo. Como tal “Nada”
sistema em movimento que revela o não é algo existente, mas apenas a

139
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

palavra designativa da ausência de colocados em correspondência biu-


tudo. Portanto não existe e nem pode nívoca entre si, independentemente
existir “o nada”, mas pode ser que da natureza de seus elementos.
não exista “nada”. Número "e" – Número irracional
Nebulosa – Nuvem de gás intragalác- transcendente, dito de Euler. Base
tico de densidade maior do que a dos logaritmos neperianos, aproxi-
média desse espaço. Muitas vezes lu- madamente igual a 2,718 281 828
minosa por excitação ou reflexão da 459 045 235 360 287...
luz de estrelas próximas. Pode ser di- Número Complexo – Elemento do
fusa ou planetária, caso em que seu sistema numé–rico formado por pa-
gás é proveniente da explosão de res ordenados de números reais. O
uma estrela e fica em torno dela. primeiro elemento do par é a sua
Neutrino – Lépton sem carga elétrica parte real e o segundo a sua parte
que interage com outras partículas imaginária. Pode ser entendido
apenas por meio da interação gravi- como a soma da parte real com a
tacional e da fraca. É centenas de ve- imaginária multiplicada pela uni-
zes mais leve que o elétron, a se- dade imaginária.
gunda partícula mais abundante do Número Imaginário – Número criado
Universo conhecido, depois do fóton para completar o resultado da ope-
e interage com a matéria de forma ração de radiciação, quando aplicada
extremamente débil. 65 bilhões de a números reais. Como não há ne-
neutrinos atravessam cada centíme- nhum número real que seja raiz de
tro quadrado da superfície da Terra índice par de um número negativo,
voltada para o Sol a cada segundo. definiu–se número imaginário como
Nêutron – Nucleon eletricamente aquele que fosse esse resultado.
neutro, constituído por um quark up Trata–se do produto de um número
e dois down. real por uma unidade imaginária –
Norma – O mesmo que o módulo de “i” – cujo quadrado seja (–1).
um vetor. Número Inteiro – Elemento do sis-
Norma – Proposição prescrita a res- tema numérico formado pelos nú-
peito de alguma definição, ação ou meros naturais acrescido de seus si-
operação a ser observada em seu es- métricos negativos.
tabelecimento ou sua execução. Número Irracional – Aquele cujo va-
Nucleon – Partícula subatômica cons- lor não pode ser expresso por ne-
tituinte dos núcleos: prótons e nêu- nhuma fração.
trons. Número Natural – Elemento do sis-
Número – Entidade abstrata repre- tema numérico formado pelos nú-
sentativa da propriedade comum a meros que representam a contagem
todos os conjuntos que possam ser dos elementos de um conjunto de

140
GLOSSÁRIO (em elaboração)

elementos discretos, finito ou infi- acordo com alguma regra estabele-


nito, incluindo o vazio cida.
Número Negativo – Número cujo va- Operação Matemática – Relação en-
lor representa o quanto tem que ser tre elementos de conjuntos numéri-
adicionado a ele para que se obtenha cos que produza um elemento de ou-
o valor nulo (zero). tro conjunto de uma forma estabele-
Número Quatérnio - Numero consti- cida inequivocamente. Em particular
tuído de quadras ordenadas de nú- esses conjuntos podem ser o mesmo.
meros reais em que o primeiro ele- Organização – Modo como se estru-
mento é a parte puramente real e os tura a configuração e o funciona-
três outros são partes imaginárias ti- mento de qualquer sistema.
das como coeficientes de três unida- Ótica – – Parte da ótica que estuda os
des imaginárias distintas, na forma q aspectos quânticos da luz, especial-
=x + yi, + zj + wk. mente na emissão e na absorção,
Número Racional – Elemento do sis- mas, também, na propagação. Ou
tema numérico formado pelos nú- seja, que leva em consideração o fato
meros inteiros e todas as frações po- da luz ser constituída de fótons.
sitivas e negativas. Ótica – Parte da Física que estuda a
Número Real – Número que repre- Luz e os fenômenos ocorridos com
senta o resultado de uma medida de ela, como a emissão, absorção, pro-
uma grandeza continuamente variá- pagação, reflexão, refração, interfe-
vel. Inclui todos os números racio- rência, difração, polarização e ou-
nais e os irracionais. tros, bem como os dispositivos enge-
Objeto – Corpo que se possa, em tese, nhados para interferir nesses fenô-
pegar. menos. Por extensão o estudo desses
Ocorrência – Ver Evento. fenômenos quando ocorrem com ou-
Ontologia – Parte da Metafísica que se tras ondas eletromagnéticas.
ocupa em estudar os atributos e as Ótica Classica – Parte da Ótica que
condições de existência dos entes e não leva em consideração o aspecto
seres. quântico da luz, isto é, os fótons, con-
Ontológico – Característica de algo siderando-a, simplesmente, como
que se relacione ao que ele seja em si onda eletromagnética.
mesmo, a que categoria de realidade Ótica Geométrica – Parte da Ótica
ele pertença. Uma consideração é Clássica que estuda os fenômenos
ontológica quando procura respon- para os quais o aspecto ondulatório
der à questão “o que é?” que aquilo da luz, bem como o quântico, pode
seja. ser desprezado, considerando-a
Operação – Ação de produzir uma como constituídas de raios lumino-
modificação em um sistema de sos puramente geométricos.

141
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

Paridade – Propriedade de uma fun- Pertinência – Relação entre um ele-


ção pela qual o valor da imagem de mento e um conjunto de que faça
uma função permanece o mesmo parte.
(paridade par), ou troca de sinal (pa- Pi – Número irracional transcendente
ridade ímpar) ao se trocar o sinal do que expressa a razão da circunferên-
elemento do domínio. Importante no cia para o diâmetro de um círculo
contexto das funções de onda descri- plano. Aproximadamente igual a
tivas do estado quântico de um sis- 3,14159265358979323846264338
tema e característica conservada em 3279502884…Simbolizado pela le-
muitas interações físicas. tra grega π.
Partícula – Sistema físico indivisível e Planeta – Corpo celestial que orbita
espacialmente pequeno em compa- uma estrela ou um remanescente de
ração ao tamanho da trajetória que estrela, com massa suficiente para se
vá percorrer, como a Terra em rela- tornar esférico pela sua própria gra-
ção a sua órbita em torno do Sol. vidade, mas não a ponto de causar
Partícula elementar – A menor por- fusão termonuclear, e que tenha lim-
ção de matéria ou radiação possível. pado de planetesimais a sua região
Pelo que se sabe até hoje, há dois vizinha (dominância orbital).
grupos: férmions, formados pelos Plano – Superfície sobre a qual é pos-
léptons (elétrons, müons, taons e sível se deslocar sempre em linha
seus neutrinos) e bárions (quarks); e reta, em qualquer direção.
bósons, que são os fótons, os glúons Plasticidade
e as transmissoras da interação Polimatismo – Erudição estendida a
fraca. A radiação é constituída de vários conteúdos distintos.
bósons e a matéria sempre tem fér- Ponto – Entidade geométrica primor-
mions, podendo também ter bósons. dial que possui apenas localização,
Para cada partícula existente há uma mas não dimensão.
correspondente de antimatéria, que Posição – Lugar em que algo se loca-
é igual, mas com a carga oposta. Os lize, especificado por seu afasta-
bósons intermediários das intera- mento em relação a objetos conheci-
ções não possuem antipartícula, ex- damente posicionados.
ceto o bóson W, da interação fraca, Positivismo – Corrente filosófica hu-
que possui carga. manista que considera a observação
Pertinência – Ato de pertencer, isto é, e a experimentação como únicas fon-
de fazer parte de um conjunto, de ser tes válidas do conhecimento, descar-
um elemento dele. tando a busca das razões e concen-
Pertinência – Qualidade de uma as- trando–se na explicação do modo de
sertiva de se referir ao que se esteja ocorrência dos fenômenos, sempre
em discussão. naturais.

142
GLOSSÁRIO (em elaboração)

Premissa – Uma das proposições em Protociência – Conhecimento com


que se baseia um raciocínio. possibilidade de ser científico que
Préon – Suposta partícula elementar ainda não logrou atingir um estágio
constitutiva dos quarks, dos léptons de “corte epistemológico” pelo qual,
e dos bósons. a cada momento, apenas uma versão
Processamento – Atividade de se explicativa de cada fenômeno seja
produzir alguma coisa. aceita como verdadeira. É o caso da
Produto Escalar – Operação binária Psicologia, Sociologia, História, Eco-
que leva dois vetores a um número nomia e outras, caracterizadas por
definido como o produto dos módu- possuírem “Escolas de Pensamento”.
los dos vetores pelo cosseno do ân- Próton – Partícula subatômica consti-
gulo formado entre eles. O produto tuinte dos núcleos (nucleon), for-
escalar é comutativo. mada por dois quarks ups e um
Produto Vetorial – Operação binária down, com uma carga positiva equi-
que leva dois vetores a outro vetor valente à do elétron e massa de 1836
com módulo definido pelo produto elétrons.
dos módulos dos vetores operandos Provedor – Aquilo que mantenha a
pelo seno do ângulo entre eles, dire- existência de algo.
ção perpendicular ao plano deles e Pseudociência – Conhecimento pre-
sentido dado pela “Regra da Mão Di- tensamente científico que, entre-
reita”, pela qual se se apontar o pole- tanto, não é capaz de passar por um
gar da mão direita no sentido do ve- teste de falseabilidade. É o caso da
tor multiplicador e os demais dedos Astrologia, Numerologia, Homeopa-
da mão espalmada no sentido do tia e similares.
multiplicando, o sentido do produto Qualidade – Característica de algo
vetorial será o sentido em que a mão que lhe confira algum valor.
dá um tapa. O produto vetorial é an- Quantidade de Movimento – Ver Mo-
ticomutativo. mento Linear.
Proposição – Expressão linguística de Quark – Partícula elementar fermiô-
um juízo, quer em linguagem verbal nica constitutiva das partículas for-
ou matemática. madoras dos átomos da matéria,
Propriedade – Algo que pertença a al- como os bárions e mésons. Experi-
guém ou a algum grupo de pessoas menta as interações forte, fraca, ele-
ou instituição. tromagnética e gravitacional.
Propriedade – Atributo ou caracte- Química – Ciência que estuda a com-
rística de algo que o caracterize e posição da matéria e os processos
distinga, bem como que possa capa- para se obter diferentes materiais.
citá–lo a exercer alguma ação.

143
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

Raciocínio – Processo mental de infe- Reação – Ação de um sistema (ou do


rência de uma conclusão a partir de ambiente) sobre um sistema em res-
dois ou mais juízos. posta a uma ação deste.
Racionalismo – Corrente filosófica Realidade – Conjunto de tudo o que
que privilegia a razão em detrimento existe, quer perceptível pelos senti-
da experiência do mundo sensível dos quer concluído por considera-
como via de acesso ao conheci- ções científicas ou filosóficas. Inclui,
mento. Considera a dedução como o também, os construtos mentais e so-
método superior de investigação fi- ciais.
losófica. O racionalismo é baseado Realidade Física – Conjunto de tudo
nos princípios da busca da certeza e o que existe de modo natural, que
da demonstração, sustentados por não seja produto da atividade de se-
um conhecimento a priori, ou seja, res inteligentes.
conhecimentos que não vêm da ex- Realismo – Movimento artístico da
periência e são elaborados somente segunda metade do século XIX que
pela razão. passou a considerar a realidade e
Radiação – Constituinte do Universo não a fantasia como o objeto funda-
formado por campos elétricos e mental de uma obra de arte, seja mu-
magnéticos vibrantes auto–prope- sical, coreográfica, pictórica, literá-
lentes, que transporta energia, quan- ria, teatral, escultórica, poética ou
tidade de movimento linear e angu- arquitetônica.
lar, sem possuir massa de repouso. Reducionismo – Concepção segundo
Em função de sua frequência a radi- a qual qualquer fenômeno pode ser
ação pode ser uma onda de rádio, mi- explicado em termos de um conjunto
cro–onda, luz infravermelha, luz vi- de fenômenos num nível mais baixo
sível, luz ultravioleta, raios X e raios da realidade. Assim a realidade de
gama, à medida que a frequência au- nível mais baixo seria a física, acima
menta. Sua emissão e absorção pela da qual vem a química, depois a bio-
matéria só se dá em pacotes quanti- lógica, a psicológica, a sociológica, a
zados, chamados fótons. econômica, a política. Dessa forma,
Raio Cósmico – Partícula elementar em última análise, todo fenômeno
que viaja pelo espaço com veloci- seria físico. O reducionismo é dito
dade próxima à velocidade da luz. “linear”, quando se considera que o
Raio Gama – Radiação eletromagné- todo seja a soma das partes e “não li-
tica cuja frequência seja maior do near” quando se considera que o
que dez quintilhões de Hertz, equi- todo provém das partes, mas não
valente ao comprimento de onda de como a simples soma. Outra concep-
dez trilhonésimos de metro. ção reducionista é a que cada sis-
tema do Universo não é isolado do

144
GLOSSÁRIO (em elaboração)

resto, de modo que ocorrências ex- Sentido – Cada uma das duas possibi-
trínsecas sempre interferem no sis- lidades de orientação do desloca-
tema. Essa concepção, sendo não li- mento de um ponto sobre uma linha.
near, abarca o holismo. Ser – Ente que, de fato, existe, objeti-
Regra – Ver Norma. vamente no mundo. Apesar do subs-
Relação – Associação entre um ele- tantivo “ser” ser a mesma palavra
mento de um conjunto e outro do que o verbo “ser”, que denota per-
mesmo ou de outro conjunto, de manência, o ser não é imutável nem
acordo com regras preestabelecidas. perene. Ele é o que está sendo a cada
Estabelecimento de vínculos entre momento. Mas, para ser o que é, é
elementos de qualquer categoria. necessário que sua essência perma-
Relatividade Especial – Ver “Relati- neça.
vidade Restrita”. Sistema – Sub conjunto do Universo
Relatividade Geral – Teoria que cor- perfeitamente identificado, isto é,
relaciona os valores das grandezas que sempre se possa saber o que faz
físicas medidas por observadores fi- parte e o que não faz parte dele,
xos em referenciais que se movam mesmo que isso seja variável.
entre si de qualquer modo, bem Sistema Internacional (SI) –
como que estejam sob o efeito gravi- Sistema Numérico – Conjunto de nú-
tacional de massas e campos energé- meros ao qual se atribuem algumas
ticos variados. operações que possuem proprieda-
Relatividade Restrita – Teoria que des bem definidas.
correlaciona os valores das grande- Sistemas Dinâmicos,
zas físicas medidas por observado- Situação – Ver Estado.
res fixos em referenciais que se mo- Solstício – Momento em que a Terra
vam com velocidade constante entre passa, em seu movimento orbital,
si. pelos pontos de intercessão do plano
Reologia de sua órbita com o plano mediatriz
Resultado – ver Efeito. dos dois equinócios, o que propicia a
Reta – Linha traçada por um ponto duração máxima do dia ou da noite.
que se desloca continuamente e ili- Solução – Mistura em que as dimen-
mitadamente, sem desvio lateral. sões das par–tículas componentes
RNA – Ácido Ribonucléico – Molé- são todas de ordem molecular.
cula gigante que participa da trans- Solução – Obtenção dos valores de
crição de genes entre moléculas de uma incógnita em uma equação ou
DNA. inequação, bem como o conjunto
Satélite – Astro que se move em uma desses valores.
órbita ao redor de outro.

145
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

Spin – Propriedade de um sistema fí- muitas partículas previstas por essa


sico advinda de seu momento angu- hipótese.
lar (quantidade de movimento rota- Superveniência – Surgimento de al-
cional) intrínseco, isto é, relativo ao guma propriedade em um extrato
centro de massa. No caso quântico, o superior da realidade que não se re-
spin não representa um giro cinemá- duza a uma emergência dos extratos
tico e seu valor é quantizado em ter- inferiores.
mos da Constante de Planck. Supraluminal – Que possua veloci-
Subluminal – Que possua velocidade dade maior do que a da luz, de 299
menor do que a da luz, de 299 792,458 km/s.
792,458 km/s. Surgimento – Ato da passagem da
Substância – Aquilo de que algo seja inexistência para a existência, que
feito. pode ocorrer de modo fortuito ou in-
Substância Química – Espécie de ma- causado ou pelo efeito de uma causa,
terial incapaz de ser separado fisica- quando é dito ser uma “criação”.
mente em outros constituintes. Suspensão – Mistura em que a dimen-
Supercorda – Entidade física que se são das partículas de um dos compo-
propõe seja o constituinte de todas nentes é bem grande, da ordem de
as partículas subatômicas elementa- um micrômetro, em relação aos de-
res. Trata–se de um anel de campo mais, da ordem molecular, isto é, um
de matéria cujos modos e energias nanômetro.
de vibração caracterizariam todas as Táquions – Supostas partículas ele-
partículas com suas diversas carac- mentares capazes de se mover com
terísticas, como, carga, massa, spin, velocidade maior do que a da luz. Ja-
helicidade e outras. Hipótese ainda mais encontradas.
não verificada. Teleológico – Característica de algo
Superfície – Conjunto de pontos con- que se relacione à finalidade dele.
tíguos que se dispõem ao longo das Uma consideração é teleológica
posições que podem ser ocupadas quando procura respondera à ques-
pelo deslocamento lateral contínuo tão “para que” aquilo existe.
de uma linha, que pode se deformar Temperatura – Medida do estado de
enquanto se desloca. “quentura” de um sistema. Proporci-
Supersimetria – Hipotética teoria fí- onal à densidade de energia cinética
sica de partículas elementares que translacional das partículas consti-
considera que, para cada bóson, tuintes do sistema, relativas a seu
existe um férmion correspondente, o centro de massa, em relação a seu
conjunto separado por meia unidade número. Não inclui as energias vi-
de spin entre as partículas. Não se bracionais e rotacionais, bem como
tem confirmação da existência de

146
GLOSSÁRIO (em elaboração)

as energias potenciais intra e inter- recurvadas, às quais são atribuídas


moleculares. outras propriedades, como massa e
Tempo – Entidade física não substan- carga elétrica.
cial que advém das alterações do es- Teorias de Medidas,
tado global do Universo. A marcha Termodinâmica – Parte da Física que
do tempo de um observador em re- faz a ligação entre a Termologia e a
lação a outro pode não coincidir em Mecânica.
razão das velocidades e acelerações Termologia – Parte da Física que es-
relativas, bem como da curvatura do tuda a produção e transmissão do
espaço em que está cada um (campo calor entre sistemas.
gravitacional). Topologia – Parte da Matemática que
Tensor – Entidade matemática que, estuda as relações posicionais entre
além de valor, possui orientações es- figuras, pontos, linhas, superfícies e
paciais múltiplas. O nome provém da volumes.
grandeza tensão, cujo valor sobre a Torque – Medida da intensidade da
superfície de um corpo depende ação requerida para alterar o estado
tanto da orientação da superfície no de rotação de um sistema.
ponto, dada por uma perpendicular Transcendência – Característica de
a ela, quanto da direção que se con- algo que o eleva acima das necessi-
sidere a tensão sobre o ponto em dades prosaicas de sobrevivência e o
questão. reveste de um significado vinculado
Teoria – de Campos, a valores superiores, como verdade,
Teoria – Modelamento explicativo de bondade, beleza, justiça, sabedoria e
um conjunto correlato de fenôme- similares.
nos, devidamente comprovado. Trigonometria – Parte da Matemá-
Teoria Clássica de Campos, tica que estuda as relações entre os
Teoria das Supercordas. ângulos e os lados dos triângulos.
Teoria de Grupos, Tudo – Conjunto total do que existe,
Teoria do Laço Gravitacional, do qual nada seja excluído.
Teoria M – Hipótese que unifica as Uniformidade – Característica de
cinco diferentes teorias das cordas, algo que permanece imutável ao
com a Supersimetria e a Supergravi- longo do espaço.
dade. Essa hipótese diz que tudo, Universo – Conjunto de tudo o que
matéria e campo, é formado por existe, existiu e existirá em todos os
membranas, e que o universo flui possíveis lugares e momentos.
através de onze dimensões. Tería- Universo Fecundo – Teoria cosmoló-
mos então três dimensões espaciais gica que con–sidera que o Universo
(altura, largura, comprimento), uma vive um processo evolutivo do tipo
temporal (tempo) e sete dimensões que ocorre na Biologia.

147
FÍSICA PARA FILÓSOFOS

Vácuo – Espaço não preenchido por Velocidade da Luz – Velocidade com


matéria, mas apenas por radiação e que se propagam as ondas eletro-
campos. Quando não houver maté- magnéticas no vácuo. Aproximada-
ria, nem campo, nem radiação tem– mente igual a 299 792,458 km/s.
se um espaço vazio, o que não é o Verdade Absoluta – Adequação entre
caso do vácuo. a realidade e o que se diz a respeito
Validação – Verificação da validade dela.
de um raciocínio ou da eticidade de Verdade Objetiva – Consenso entre
uma ação. muitas verdades subjetivas tomado
Validade – Propriedade de um racio- como verdade absoluta.
cínio de con–duzir a conclusões cor- Verdade Subjetiva – Adequação en-
retas a partir de suas premissas. tre o que uma pessoa considera que
Valor – Categoria filosófica consis- seja a realidade e o que ela diz a res-
tente em algo a que se possa atribuir peito dela.
uma qualidade de melhor ou pior, Veritação – Processo de aferição do
por exemplo, beleza, bondade, preço. caráter de verdade de uma proposi-
Variáveis Complexas – Estudo da ál- ção.
gebra dos números complexos, bem Vertical – Reta que dá a direção da
como da análise das funções que le- gravidade efetiva de um local, indi-
vem números complexos a números cada pelo fio de prumo.
complexos. Vetor – Ente geométrico que repre-
Variedades Diferenciáveis – Con- senta uma grandeza que, além do va-
junto de espaços de pontos coorde- lor numérico, possui uma orientação
natizados de modo que sejam exclu- espacial, com direção e sentido,
ídas as regiões que apresentem sin- como a velocidade e a força.
gularidades, isto é, número infinito Zênite – Intercessão da vertical de um
de possíveis coordenadas para o lugar com a abóboda celeste
mesmo ponto, por meio de sua subs-
tituição por regiões com outras coor-
denatizações sem singularidades,
com correspondência biunívoca en-
tre as coordenadas dos pontos não
singulares.
Vazio – Espaço que seria não preen-
chido por nada substancial. Nem ma-
téria, nem campo, nem radiação. Não
existe vazio no Universo e nem fora
dele.

148
ÍNDICE REMISSIVO

agir 13 filosofia13
arte 13 filósofo 13
ciência 13 linguagem 13
ciências biológicas 13 matemática 13
ciências exatas 13 metaciência 13
ciências geológicas 13 pensar 13
ciências humana 13 sentir 13
ciências sociais 13 trabalho 13
falar 13 valor 13
fazer 13

149
ÍNDICE ONOMÁSTICO
Outras autoridades
Deleuze 12
Kant 13

150

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