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ESTABELECENDO A VERDADEIRA
BATALHA ESPIRITUAL
Colossenses 1.13-23

Algumas pessoas realmente veem o diabo em tudo. Cíntia, uma senhora que passou
por um aconselhamento, certa vez expulsou demônios de sua torradeira elétrica
porque ela não estava funcionando!

Ela e seu marido André tinham uma habilidade extraordinária de brigar entre si. Nos
primeiros cinco minutos, eles esquentavam a discussão com a normal troca de
ofensas pessoais. Mas depois de certo tempo, quando a briga tinha se tornado feia,
trocavam as armas e partiam para uma tática mais pesada. Passavam a amarrar,
repreender e até expulsar os demônios da ira, do orgulho e da hipocrisia de cada um.

Cintia afirmou: "Eu vi o demônio, faiscante e mortal, por meio do olhar dele. Então
disse: Demônio da ira, eu te amarro em o nome poderoso de Jesus! E depois clamei
pelo poder do sangue de Jesus para me proteger contra toda investida demoníaca
vinda de meu marido".

Resultado: Cíntia e André não só se tornaram mais hostis como também desonraram
o nome de Jesus na lama de suas superstições, hostilidades, medos e confusões.

Nem é preciso dizer que o verdadeiro demônio, que tem por fim desonrar a Deus e
nos submeter a seus caminhos malignos, só poderia se satisfazer com a resultante
destruição pessoal e interpessoal.

Já outras pessoas, concedem tanto poder ao diabo e seus demônios, estabelecendo


uma teologia da maldade humana baseada no fato de que "foi o diabo que nos
mandou fazer isso ou aquilo".

1 - COMPREENDENDO O DILEMA
Algumas pessoas exageram a ponto de encarar todos os problemas de sua vida como
resultantes da ação demoníaca. Raquel, por exemplo, vivia seu "cristianismo" como se
o universo estivesse repleto de agências demoníacas, cujos propósitos e atividades
fossem explicação final para a vida e a tribulação.

Ela considerava situações adversas (saúde precária, dificuldades financeiras,


mesquinhez por parte de colegas de trabalho) como "montes" demoníacos (Mc 11.23)
que "devem ser enfrentados e expulsos com as armas da oração". Raquel também
personificava seus próprios problemas (ira, lascívia, desânimo, gula, solidão) como os
demônios dos respectivos pecados ou problemas que precisavam ser expulsos por
meio de autoexorcismos.

Há ainda o caso de pessoas que veem Satanás como um segundo deus, encarando a
vida como um debate derradeiro entre o bem e o mal.

Jeferson achava que o mundo que povoava sua mente de incessantes e apreensivos
temores era cristão e objetivo. No entanto, na verdade, suas crenças se aproximavam
muito da antiga heresia, conhecida como Maniqueísmo. Ele concedia pesos idênticos
ao bem e ao mal, rejeitando a soberania de Deus sobre Satanás e negando que Deus
usasse o mal para exaltar sua graça.
Jeferson afirmava que "Cristo tinha a vitória" porque lera essa frase em algum livro e a
ouvira de professores. Mas nas trincheiras da vida, Satanás e Deus lutavam por sua

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alma de igual para igual; o resultado era sempre incerto, sua própria vontade é que
daria a palavra final.

Infelizmente, hoje esses casos não são exceções. Em nossos dias, uma grande dose
de ficção, superstição, fantasia, insensatez, loucura, desconhecimento da Escritura e
heresia pura floresce na igreja sob o disfarce de "batalha espiritual".

Para muitas pessoas como Cíntia, André, Raquel e Jéferson, na prática, a visão de
batalha espiritual nada tem a ver com as Escrituras, assemelhando-se a um filme de
horror ou a um conto de ficção. Mas a batalha que realmente precisamos enfrentar
envolve e subtende nossa humanidade, em vez de desviá-la para um domínio
superespiritual e demoníaco.

Por muitas razões, casos como os citados acima estão se multiplicando. E


extremamente evidente que a ocasião exige providências imediatas para restabelecer
a verdadeira batalha espiritual.

2 - ÁREA DE CONSENSO
Precisamos estabelecer áreas de consenso entre os cristãos seguidores da Bíblia
sobre o assunto da batalha espiritual. Nesse sentido, a grande maioria dos cristãos
concorda com quatro afirmações, sejam quais forem nossas outras diferenças.

As primeiras duas afirmações dizem respeito às Escrituras e à visão de mundo cristã.


Já a terceira e a quarta aplicam-se à época em que vivemos.

a) Nós estamos envolvidos em uma batalha espiritual. Os cristãos e todos os seres


humanos tomam partido na batalha travada no mundo. Deus e o povo de Deus
enfrentam adversários nesse mundo sob a direção espiritual do maligno. Essa guerra
teve um começo, tem um meio e terá um fim. Nós estamos agora no meio de um fogo
cruzado. Estamos em ação, atores em cena no campo de batalha.

Nosso adversário, o príncipe das trevas, possui vários nomes e é descrito como
maligno, inimigo, acusador, diabo, Satanás, caluniador, senhor deste mundo,
serpente, dragão, assassino, mentiroso e tentador. Na Bíblia, Satanás raramente
aparece por muito tempo no palco das atenções porque nosso drama moral é mais
importante.

Mas, muitas vezes, apenas um relance de olhar nos bastidores nos revela o diabo
comandando suas hostes humanas e demoníacas. Seu povo é composto de falsos
profetas, assassinos, incrédulos, covardes, fornicadores, bêbados, inimigos,
opressores e todos aqueles que a Bíblia diz que não herdarão o reino de Deus.

Isso inclui os amantes da riqueza, dos prazeres, da aprovação dos homens e de si


mesmos. Essas pessoas lutam contra as regras e o povo de Deus. E os demônios de
Satanás lutam contra todas as pessoas porque seu reino é reino de escravidão,
tirania, torturas e promessas mal-cumpridas.

Devemos entender toda a História como uma batalha espiritual. A Bíblia retrata a
história do homem como um drama de guerra e paz. Os dois primeiros capítulos sobre
a criação de Deus nos falam de um tempo antes do início dessa guerra, um tempo de
paraíso. Nesse curto período de paz, Deus prepara e define os termos do combate
que iria travar: o bem e o mal, a vida e a morte, a autoridade de Deus e a de outrem.
Essa outra pessoa já estava à espreita.

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A guerra começa em Gênesis 3 e o avanço do inimigo continua durante todo o


decorrer do Antigo Testamento até os evangelhos. O mal que a tudo subjugava,
destruía a paz e a vida. Satanás dominava as nações e muitas pessoas se
entregavam à incredulidade total, aos inúmeros pecados e à morte.

Mas o Senhor Deus tirou seu povo do meio do domínio das trevas. Uma linha tênue de
resistência, a fé e a promessa desafiavam o domínio do pecado e da morte. O
verdadeiro Rei disse que viria algum dia. Os "pobres e aflitos" viviam com a esperança
de encontrar um libertador do pecado e da morte.

O Senhor revelou sua face e glória durante o tempo em que o mundo vivia sem
esperança e sem Deus. Mas o sofrimento e o fracasso ameaçavam as almas mais
piedosas.

• Noé, que andava com Deus, envergonhou a si próprio embriagando-se e


morreu.
• Abraão, o amigo de Deus, também arriscou a pureza de sua mulher por medo
e morreu.
• Jacó, a quem Deus amava, também fraudou para receber bens que Deus
graciosamente lhe havia prometido e morreu.
• Moisés, que falou com Deus face a face, também perdeu o direito de entrar na
terra prometida em um acesso de raiva e morreu.
• Jó, o homem que temia a Deus e se desviou do mal como ninguém em toda a
terra, também precisou se arrepender por tentar justificar seu orgulho e morreu.
• Davi, o homem segundo o coração de Deus, também cometeu adultério,
planejou um assassinato e morreu.

A morte pronunciava a palavra final para todos, tanto para o sábio quanto para o
insensato. E enfim, após essa série de promessas ainda não cumpridas e de
murmurações e desapontamentos, esse grupo de pessoas imperfeitas vagando
condenadas à morte, surgiu o homem perfeito.

b) Jesus Cristo é o Libertador e Rei triunfante. Jesus, o autor e consumador da fé,


o Senhor da glória, traz luz e vida. Ele é o homem sobre o qual Satanás não teve
controle. O Filho de Deus amou seu Pai sem nenhum resquício nem indício
pecaminoso, e ele vive.

A vida, a morte, a ressurreição e a ascensão de Jesus Cristo mudaram o curso da


batalha. O Rei surgiu, quebrando sozinho as forças da influência maligna do opressor.

Os cristãos acreditam nas palavras de Jesus de que sua morte e ressurreição irão
expulsar os demônios: "Chegou o momento de ser julgado este mundo, e agora o seu
príncipe será expulso. E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim
mesmo" (Jo 12.31-32).

Jesus fala de sua cruz como um exorcismo cósmico definitivo. Esse acontecimento
rompe o controle de Satanás sobre o mundo. E todos os cristãos acreditam na
libertação: "Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do
Filho do seu amor" (Cl 1.13).

Experimentamos libertação do poder de Satanás quando abandonamos


conscientemente as trevas e nos voltamos para a luz.

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Aquele que nos enganava dizendo que podíamos nos atolar em mentiras, luxúrias e
sofrimentos está condenado às trevas eternas, enquanto nós, que antes vivíamos
receosos da morte, agora voltamos à vida com a esperança da ressurreição. Por
intermédio do Espírito Santo, estamos em Cristo e Cristo está em nós.

Quando o inimigo estava na ofensiva, indícios de luz apareciam nas trevas. Agora
Cristo está na ofensiva, mas sombras do mal ainda subsistem na luz. Ainda vivemos
pela promessa; ainda temos vidas confusas; ainda encaramos o inimigo rondando em
busca de nossas almas; ainda encaramos o último inimigo, a morte. Nem tudo está
ainda sob os pés de Jesus.

Entretanto, a batalha agora é outra, o poder estabelecido mudou. A luz e a glória vão
tomando conta de tudo e prevalecendo sobre as trevas e a maldade. E Deus dá a seu
povo armas eficazes para a luta que devemos enfrentar: devemos ser libertos do
poder do mal por meio da fé, da oração, do arrependimento, da obediência, da súplica
e do serviço. Jesus nos ensinou a orar, com a súplica "livra-nos do mal" feita a Deus.

Deus nos promete um tempo em que finalmente a paz irá reinar para sempre. Nos
dois capítulos no fim da Bíblia vislumbramos o fim das guerras, o paraíso
reconquistado, os inimigos destruídos e Deus morando entre o seu povo. No fim dos
tempos, nosso inimigo e seus servos irão desaparecer no lago de fogo para sempre.

c) A época moderna torna as pessoas insensíveis à realidade da batalha


espiritual. Essa afirmação é aceita por muitos cristãos. Nos últimos 250 anos, a
atividade intelectual no Ocidente tem girado muito em torno da desmistificação de
Deus e do diabo, do bem e do mal.

O ateísmo pragmático da sociedade intelectual moderna baseia-se principalmente no


aspecto material e social, e não no espiritual. A crença no diabo é vista como uma
curiosidade primitiva, como uma válvula de escape para pessoas ignorantes que
desconhecem as forças verdadeiras (químicas, neurológicas, psicológicas,
sociológicas) que corroem a vida humana.

Para os céticos modernos e descrentes, a religião é um ópio confortante ou uma ilusão


egocêntrica; o diabo e Deus estão mortos para aqueles que têm esclarecimento.

A ciência, a tecnologia e a medicina reforçam essa ideologia dominante de que


apenas o mundo "natural" existe. O homem moderno pode acreditar que Deus controla
os raios e trovões se um meteorologista pode usar dados do computador e imagens
de um satélite para prever uma tempestade com uma semana de antecedência?

A fé moderna pode aceitar que demônios possam causar paralisia, epilepsia ou surdez
se um eletro encefalograma e um eletromiograma podem representar padrões de
impulso elétrico no sistema nervoso?

O homem atual pode aceitar que um tentador submeta nossas vontades a um conflito
entre o bem e o mal, caso determinadas características do DNA ou a história da
família esteja relacionada com uma maior incidência de alcoolismo ou perversão
sexual?

A falta de compreensão das características que distinguem Deus e o diabo vai


tornando irrelevante à medida que a própria percepção humana sobre essas
diferenças vai diminuindo.

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O mundo atual não só nos apresenta ideias céticas e práticas agradáveis como
também nos rodeia de estruturas sociais que contestam a Palavra de Deus e o diabo.
Em uma sociedade pluralista que tolera e sustenta pontos de vista tão diversos, quem
pode acreditar que um ser conspira, promovendo e instigando a mentira, para se opor
à única e eterna verdade que deve ser cumprida?

Quando as pessoas arbitram suas próprias verdades e regras morais, tudo é relativo e
toda autoridade é suspeita. Tanto Deus quanto o diabo, como figuras de autoridade,
são absurdos em um contexto que impõe a diversidade como a única verdade e o
absoluto como o único erro. Deus e Satanás são igualmente irrelevantes se a religião
é relegada à vida privada, sem nenhum impacto na política, nos negócios ou nos
estudos.

Subestimar ou desmistificar batalha espiritual geralmente cria um pernicioso efeito


dominó. Oração e culto se tornam formas vazias. Não se procura nem se espera o
poder e auxílio de Deus. O pecado se torna um desajuste psicopatológico ou social. A
Bíblia se torna um objeto distante, não a voz do Deus vivo. O evangelismo se torna
ligeiramente embaraçoso, a morte do ego é um desagradável fanatismo. A vida normal
se torna, digamos, normal: trabalho e desemprego, casamento e divórcio, doença e
saúde, economia e política, engarrafamentos e condições climáticas, guerra e paz.

Como cristãos que creem na Bíblia, entretanto, negamos que esse racionalismo
secular caracterize a fé cristã. Atribui-se importância à vida cotidiana normal. Sabemos
que há uma batalha a ser vencida e não negamos a existência e atuação de nosso
inimigo.

d) Erros e excessos ocorrem no ministério de libertação. Não precisamos ouvir ou


ler muita coisa para encontrar tais práticas, ideias, experiências que beiram o bizarro
— e o sombrio. Os exemplos no início desta lição enfatizam alguns desses problemas.
Se, por um lado, o excessivo racionalismo reduz a vitalidade espiritual, por outro lado,
a mentalidade de exorcismo exacerbado gera espiritualidades mutantes. Mas a fé
bíblica cristã precisa ter personalidade própria e não ser agregada a qualquer outra
visão de mundo.

CONCLUSÃO
Muitos adeptos da "batalha espiritual" têm boa vontade e boas intenções. Eles
percebem claramente um obstáculo (a irracionalidade da época atual) porque
reconhecem que a vida do cristão tem tudo a ver com batalha espiritual. Gostam de
ajudar pessoas com problemas. Porém, frequentemente, se desviam de um obstáculo
e se deparam com outro porque a concepção do ministério de libertação ainda não
está adequadamente delineada segundo o ensino da Escritura. Ao rejeitar a visão de
mundo secular moderna, muitas vezes eles sucumbem comprovadamente diante da
visão de mundo pagã.

APLICAÇÃO
Mantenha-se sempre alerta, pois Satanás é ardiloso e sagaz. Ore ao Senhor para que
você seja liberto tanto das maldades do seu próprio pecado como também da maldade
do diabo que tenazmente nos assedia.

AUTOR: MAURO FILGUEIRAS1

1
Lições adaptadas de O que você precisa saber sobre batalha espiritual, de Augustus
Nicodemos, e Confrontos de Poder, de David Powlisom – ambos livros da Editora Cultura
Cristã.

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