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LAR DE BETÂNIA
Lucas 10.38-42 – João 12.1-8

Contam os Evangelhos que na vila de Betânia, que distava cerca de 4 km de


Jerusalém, ao lado oriental do Monte das Oliveiras, residia uma distinta família a quem
Jesus estimava muito, composta de duas irmãs e um irmão, Marta, Maria e Lázaro, e
talvez do chefe da casa, um certo Simão, que era conhecido como "leproso",
provavelmente curado por Jesus (Mt 26.6-15; Mc 14.3-9; Jo 12.1-8), e que, muitos
julgam, era o marido de Marta e, assim, cunhado de Maria e Lázaro, solteiros, que
viviam com ele e faziam parte de sua família.

As referências diversas que há nos evangelistas sobre esse abençoado lar evidenciam
que Jesus costumava hospedar-se aí de quando em quando, com o seu grupo de
apóstolos, valendo-Ihe a estância desses amigos como que casa de repouso e de paz
nos dias mais agitados de sua vida.

Há quatro incidentes específicos relatados nos Evangelhos referentes a essa ilustre


família: a hospedagem oferecida a Jesus, pela primeira vez (pelo menos foi essa que
ficou relatada), e é Lucas (10.38-42) quem nos conta o caso.

Depois, poucas semanas antes da morte de Jesus, Ele teve de ir a Betânia socorrer
Marta e Maria no duro transe que sofreram de perder o irmão querido, Lázaro, a quem
Jesus, depois, ressuscitou.

E é João (11.1-46) quem insere esta nota. Já nas vésperas da "semana de sua
paixão", Jesus foi para Betânia e aí ficou, pois a ressurreição de Lázaro havia
precipitado os acontecimentos sobre sua vida; e veja-se de Mt 21.1-19; Mc 11.1-18; Lc
19.29-48 e Jo 11.55-57 que dois dias depois Cristo é conduzido triunfalmente à
cidade.

E, finalmente, entre segunda-feira e quarta, dias antes de ser crucificado, o lar de


Betânia ofereceu a Jesus uma ceia de amizade e gratidão. Isto é o que se lê em João
12.1-8.

A característica interessante de cada uma das pessoas da casa de Simão, o leproso, é


que todos eram amigos sinceros de Cristo, e lhe prestavam serviços de valor.

Uns de uma forma, e outros de outra. Simão, o dono da casa, a abria com satisfação a
seu Mestre; Lázaro, corajosamente, dava o seu testemunho de apego e de amizade
ao seu Benfeitor, ficando com Ele no lugar de honra à mesa da ceia; Marta era a
abelha ativa, a hábil dona-de-casa, e, sem dúvida, perita no preparo de um sadio e
saudável banquete, que oferecia ao seu Senhor com alegria; e Maria era a moça
recatada, concentrada e meditativa, religiosa por excelência que, não descurando os
serviços domésticos, servia a Jesus ouvindo-o e indagando dele as coisas eternas e
necessárias, além de, com elegância cativante, ungi-lo com nardo caro e finíssimo.

Todos, assim, serviam a seu Amigo.

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1 - MARTA, MARIA E JESUS


Das referências diretas a essas duas irmãs, infere-se que eram muito unidas e
bondosas, sendo muito estimadas pelos de casa e pelos amigos (Jo 11.19,31,45).

Talvez Marta fosse mais velha do que Maria. Ambas eram piedosas e amavam a
Cristo sincera e ternamente.

Parece que não eram pobres, e, sim, remediadas, pois tinham casa própria e podiam
hospedar Jesus e seus amigos. Maria pôde reunir umas economias bem valiosas e
ofertar ao Mestre um presente caro e precioso.

As qualidades de Marta surgem claras nos Evangelhos. Era ativa, operosa, hábil nos
arranjos do lar, cuidadosa, parecendo mesmo exagerada nos negócios da casa e no
preparo das refeições.

Era crente. Tinha confiança e fé em Jesus, embora não fosse uma fé completa, pois
não cria que Ele pudesse agir só pela vontade, à distância, e, sim, só quando presente
(Jo 11.21-24,39).

Era franca. Não guardava no coração o que sentia. Falava logo. Assim fez no dia em
que Maria a deixou atarefada, para ir atender ao sermão que o Mestre pregava na sala
da casa onde moravam (Lc 10.40). Assim fez com Jesus, quando Lázaro já estava
morto (Jo 11.21).

Não ocultava as as opiniões que tinha sobre assuntos que a preocupavam (Jo
11.22,23,24). Não era de grande percepção espiritual, embora fosse boa e fiel crente.
Achava que os interesses temporais necessários deviam ser cuidados primeiro e antes
das coisas abstratas da religião.

E Maria era, como sua irmã, também ativa no cuidado das coisas domésticas. Ela não
deixava Marta sozinha no serviço. Ajudava-a até ao momento em que os negócios
espirituais solicitavam sua atenção.

Maria sabia preparar um bom vaso de perfume. Tinha gênio retraído. Quando, após a
morte de Lázaro, Marta agia, ela ficava quieta e só, meditando e orando (Jo 11.20,28).
Tinha fé e confiança no seu Mestre, embora participasse, com sua irmã, de uma fé
incompleta (Jo 11.32).

Maria era dotada de profundo senso espiritual. Dava à religião o lugar de primazia na
vida e se interessava muito pela cultura moral (Lc 10.41,42). Não tinha o
temperamento ardoroso de sua irmã. O que fazia era no silêncio e sem alarde. Não
discutia nem entrava em polêmicas (Lc 10.38-40; Jo 12.4-8).

Numa palavra: Marta representa o tipo dos crentes que se ocupam muito com o
aspecto temporal da vida e da religião, que gostam de ver boas igrejas, instituições e
organizações dedicadas ao Mestre, com certa negligência da parte mais espiritual da
vida cristã.

Maria representa o crente idealista, espiritualizado, meditativo, místico e que cuida


primeiro das coisas da alma e da vida eterna, sem esquecer os deveres da vida
temporal. Jesus apreciou tanto uma como a outra dessas ovelhas suas.

Recebeu com agrado e alegria o banquete de Marta, bem como a expressão de fé de


Maria. Tanto o serviço de Marta como o de Maria foram feitos com naturalidade, com
afeto, com boa vontade, com o único desejo de alegrar o Mestre.

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Os atos de amizade da família de Betânia foram prova de fé em Cristo, de gratidão, de


amor e de coragem para com Ele. Todavia, Jesus frisou o tipo ideal do crente no zelo
de Maria: primeiro, as coisas espirituais.

"Há muitas coisas úteis e necessárias. Mas, há uma coisa que é mais útil e mais
necessária, acima de tudo, e que a tudo dá cor e validade: é buscar primeiro o Reino
de Deus e sua justiça, é cultivar a alma e o coração na comunhão com Deus, é
crescer na graça e no conhecimento de Jesus."

O tipo completo, pois, do crente é a união de Marta com Maria; é o consórcio da ação
com a meditação; do pão da terra com o pão do céu (Mt 4.4), da vida que passa com a
que dura para sempre.

2 - MARTA, MARIA E NÓS


Contemplando o lar amável de Betânia, que lições aí brilham, convidando-nos a imitar
o bem que foi e que fez, bem como a aperfeiçoar-nos mais ainda na graça do
Redentor! Vejamos algumas das belezas desse exemplo oportuníssimo para nós:

1. Foi um lar crente. Isto quase se apalpa e se respira em tudo o que ocorreu na boa
e querida família de Marta e Maria. A religião ali tinha lugar respeitável. Se não era um
lar perfeito, era muito bom e cheio de graça.

2. Foi um lar unido. Embora cada um dos componentes da família tivesse o seu
gênio diferente, o seu temperamento, o seu modo de ver as coisas, havia união entre
todos, havia colaboração, havia bondade, havia amizade. Que espetáculo doloroso é o
de um lar em desentendimento e em divisão!

3. Foi um lar serviçal. É preciso ter em mente que não seria coisa fácil e barata à
família de Betânia acolher, alimentar e bem tratar um grupo grande como era o de
Cristo e seus apóstolos, e, talvez, sua mãe e alguns parentes.

Isto representava trabalho, gastos, correrias, cuidados de toda sorte. Mas, o lar de
Betânia era tão serviçal que ainda, de livre vontade, aumentava e requintava a sua
satisfação no trabalho, fazendo banquetes e ceias aos amigos. A amizade não faz
conta de sacrifícios em prol dos que ama.

Imaginemos que o lar de Betânia fosse como são muitos, hoje, nas cidades grandes,
apenas um "quarto alugado", um "apartamento de luxo", lares que "residem" em
hotéis, em que os casais vivem quase que separados, com os filhos internados em
colégios... Poderia aí hospedar-se o Mestre e sua companhia? Mantenhamos o
espírito de família, porque o dia em que isso acabar, lá se vai tudo ao fracasso...

3 - LIÇÕES PRÁTICAS
1. Há dois perigos nos serviços temporais que devemos a Cristo: exagerarmos o
supérfluo e trabalharmos demais, com prejuízo do cultivo espiritual.

2. O trabalho é bom, mas quando trabalhamos tanto que começamos a ficar irritados e
neurastênicos, convém deixar um pouco o serviço e ir assentar-nos aos pés do
Mestre.

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3. Há ocasiões em que devemos trabalhar para Cristo; mas há as ocasiões também


em que é melhor deixarmos oportunidade a Ele de trabalhar para e por nós com a sua
Palavra santa.

4. Marta é o amor ardoroso que se preocupa com muitas coisas boas, mas não
essenciais à causa do Senhor; Maria é o amor tranqüilo, inteligente, que se repousa
aos pés do Mestre, o amor que se preocupa com as guisas necessárias em justa e
harmoniosa medida.

5. Vale a pena ofertar a Cristo tudo o que temos. Ele merece é isso mesmo. Todavia,
o melhor é ofertarmos a Ele tudo o que somos. Quem se dá a si mesmo ao Senhor
leva-lhe o que tem.

6. Cristo aprova e louva o serviço que lhe prestam os amigos. Ele faz mais:
recompensa-os com bênçãos que duram para sempre.

7. Devemos conhecer as oportunidades de servir a Cristo e não perdê-las.

8. O lar cristão é o lar dos cristãos, porque é antes de tudo o lar do Senhor.

9. O pão do corpo faz bem, mas o pão da alma faz melhor — redime!

10. O Reino de Deus precisa das Martas e Marias, dos Lázaros e Simões. Só não
precisa dos Judas Iscariotes!

AUTOR: REV. GALDINO MOREIRA

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