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CLONAGEM HUMANA
ENFOQUE ÉTICO

1 Coríntios 6.12; 10.23

Objetivo do estudo:
A partir de um conceito prático de ética, levantar perguntas sobre a validade ou não da
clonagem para a bem da humanidade.

INTRODUÇÃO
Para os filósofos, ética é sinônimo de moral. Dizem assim: "Etimologicamente, a moral
(do latim mos = costume) é sinônimo de ética (do grego êthos - costume) e pode se
definir: a ciência que estuda as leis e a natureza dos costumes, públicos ou privados,
enquanto se conformam com a moralidade”. E então definem moral como: "a ciência
que traça normas à vontade na sua direção para o bem"1

Assim, no tema em análise, a ética pergunta sobre os benefícios do feito; sobre os


seus objetivos em favor da vida e da existência; sobre a adequação do feito em
relação às verdadeiras origens da vida; sobre a conveniência do ato; sobre as raízes
genealógicas de cada ser; sobre a possibilidade do novo ser alcançar a plenitude do
bem, da autonomia e da justiça da vida, entre outras indagações.

Nos dois textos bíblicos acima mencionados, Paulo esboça este princípio do
conveniente. O ser humano é livre para fazer ou deixar de fazer alguma coisa, mas ele
precisa avaliar e pesar entre o lícito, o permitido e o conveniente.
Vamos agrupar alguns aspectos do enfoque ético do assunto:

1 - ALGUNS PONTOS DE TENSÃO DO ASSUNTO


Alguns autores modernos falam da trindade da bioética, que seria:

a) A beneficência (do latim: bonum facere - fazer o bem ao paciente). Isto quer dizer:
um ser humano vai atingir o bem da vida? Ou, em outras palavras, o ato de clonagem
fará bem à vida que vai surgir?

b) A autonomia. Este princípio trata da capacidade racional do ser humano de


governar-se a si mesmo. No caso da clonagem, até os elementos fundamentais da
geração da vida, o espermatozoide e o óvulo, não podem percorrer sozinhos o
caminho, mas são manipulados artificialmente por mãos de médicos e cientistas. Aliás,
um deles, o espermatozoide, é substituído diretamente pelo DNA. E que diremos do
futuro, depois do nascimento? Que tipo de ser virá? Será ele autônomo em toda a
amplitude do seu ser?

c) Justiça. Como o conceito de justiça é "dar a cada um o que lhe é devido", está em
foco aqui o direito do indivíduo vir a existir a partir de suas raízes familiares para que
possa habilitar-se no seu contexto social próprio, o que não acontece com a
clonagem2. Neste sentido, notemos que:

(1) De um óvulo de uma doadora que não é sua mãe, que foi alterado por um DNA
que não é do seu pai, um ser será desenvolvido no útero de outra mulher que não tem
nada a ver com o óvulo alterado que o produziu com o DNA que o recompôs;

1
Compêndio de Filosofia, Estevão Cruz, Editora Globo, 6a edição, 1954, p. 485.
2
Problemas Atuais de Bioética, Léo Pessini e Christian de Paul de Barchifontaine, Edições
Loyola, 1996

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(2) Esse ser humano, não terá nenhuma raiz genealógica definida;

(3) Quem é o pai e quem é a mãe? No caso de uma mulher dar células de sua pele e
o trabalho for completado com o seu próprio óvulo, quem é o pai da criança?

(4) Sobretudo, esse ser humano, segundo experiências realizadas em animais,


possivelmente será incapaz de gerar outro ser, pois será naturalmente estéril.

d) Qual a finalidade da clonagem? Por vaidade ou capricho, alguém quer ter uma
cópia sua? Estaria esse pretendente desejando que esse novo ser fosse uma pessoa
livre, autônoma, criativa, realizadora?

Admite-se que o Criador da vida, quando une um casal e dele permite surgir uma vida,
tem planos para o novo ser gerado. Estaria este ser, com seu sistema genético
alterado e manipulado, dentro de algum esquema que lhe garanta o alcance dos
verdadeiros objetivos da vida ou de bons objetivos para si mesmo?

e) A incerteza de que o novo ser terá ou não defeitos genéticos. Os cientistas


interessados em clonagem, admitem, à luz do que já aconteceu em grande escala na
clonagem de animais, que poderão surgir defeitos genéticos graves no ser clonado,
mas acham que se deve tentar até conseguir a perfeição. Seria isso ético? Produzir
um ser que, na maioria dos casos será defeituoso e terá que ser descartado?

f) Identidade. Se o clone é cópia fiel de outra pessoa, qual será sua real identidade?
Sabe-se que cada pessoa neste mundo tem sua identidade própria, que pode ser
atestada até pelas impressões e marcas que estão gravadas nas pontas dos seus
dedos, nas palmas de suas mãos e até nos olhos.

Aliás, estas marcas no olho humano estão sendo consideradas mais seguras do que
qualquer outra. Se é cópia fiel, seriam suas impressões digitais também as mesmas?3
Sabe-se que até os gêmeos não possuem as mesmas marcas digitais. Teria um ser
humano clonado as mesmas marcas da sua cópia?

g) O aborto. Muitos embriões, como já é previsto, não conseguirão se instalar no


útero, e terão que ser abortados. Outros, mesmo instalados, se apresentarão com
problemas genéticos graves e, igualmente, terão que ser abortados.

Neste caso, já se produz um ser que, com grande margem de possibilidade, será
abortado. E, naturalmente, este tipo de aborto ainda não está regulamentado pela Lei
Penal. O ato atenta, portanto, contra os melhores princípios éticos.

h) Eutanásia. Como consequência do exemplo acima, muitos embriões (que já são


seres vivos), terão que ser descartados, mortos, o que configura eutanásia ativa.

Alguns mesmo antes de serem introduzidos no útero, outros já instalados no útero,


terão que ser eliminados por conterem defeitos incontornáveis. Tudo isto atenta contra
os mais elevados princípios éticos, e, igualmente, não há ainda legislação específica
sobre o assunto.

3
Curso Básico de Medicina Legal, 8ª edição, Odon Ramos Maranhão, Malheiros Editores, São
Paulo

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2 - CRITÉRIO DE AVALIAÇÃO E JULGAMENTO DO ENFOQUE


ÉTICO
Ao responder aos diversos questionamentos feitos pela ética, o cientista vai saber se é
válido ou não o feito da clonagem. Lamentavelmente, muitos cientistas querem apenas
se realizar, efetivando o feito almejado, sem indagar da sua conveniência ou não.

Se as perguntas acima levantadas não podem ser respondidas satisfatoriamente, o


feito deve ser rejeitado. O mundo de hoje está bastante esclarecido sobre o que quer e
o que não quer para si.

Um exemplo vivo foi a recente guerra contra o terrorismo. Quando a maioria das
nações concluiu que o terrorismo não favorece a ninguém, todos se uniram contra o
país ou países que abrigavam terroristas famosos e perigosos.

A grande questão para nós hoje, portanto, não é saber se a ciência é capaz,
tecnicamente, de realizar algum feito, nem saber se a lei aprova ou não, mas avaliar
se esse feito é bom para a sociedade em geral, se atende aos seus objetivos maiores.

E é bom lembrar que certos cientistas ou especialistas, nem sempre falam com base
em critérios. Muitas vezes, ao serem entrevistados, inconscientemente deixam seus
conhecimentos de lado e partem para um certo "achismo". É o que temos visto nestes
últimos tempos, principalmente quanto aos enfoques éticos e teológicos do problema.

No nosso caso, esperamos que o critério de avaliação seja altruísta e não egoísta. A
ética é sempre altruísta. O cientista, para ser um autêntico cientista, deve pensar nos
outros e equilibrar o que quer e pode fazer, com o que deve fazer, levando em
consideração o outro, principalmente a sociedade e o bem comum.

CONCLUSÃO
Ao verem a possibilidade científica à frente da concretização da clonagem humana, à
luz de todos os relativos sucessos com animais, os cientistas temem, de certo modo, a
ética e a teologia.

Frequentemente deparamos com o temor de tais cientistas quanto ao que os


especialistas em ética e os teólogos vão dizer. Alguns, já para se encorajarem, dizem
que não estão ligando para a ética e para a religião.

Mas a verdade é que a verdadeira sabedoria da vida vê o mundo como um todo


interdependente, o que nos leva a um equilíbrio entre o poder e o dever. É o que deve
acontecer com o problema da clonagem humana.

PONTOS PARA DISCUTIR


1. Desenvolva a diferença entre o lícito e o conveniente, no conceito de Paulo (1 Co.
6.12).
2. Entendendo que a ética pergunta sobre os elevados fins da vida, seria ético produzir
um clone de alguém?
3. À luz do que acabamos de estudar, como fica a questão da origem e da árvore
genealógica do clone?

AUTOR: DAMY FERREIRA

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