Você está na página 1de 5

Página |1

O CRESCIMENTO DA IGREJA PELA REFORMA


Romanos 1.17

Introdução
É provável que um dos problemas mais sérios da Igreja Cristã de nossos dias, em sua
fragmentação e no vertiginoso aumento de seitas em seu seio, seja sua indiferença e
alienação de suas raízes.

É preciso destruir o falso conceito: “Não precisamos conhecer a história da Igreja;


basta-nos conhecer a Bíblia!” - quando esta é a chave da história - a história nos deu a
Bíblia e Cristo é o centro e Senhor da história.

A Igreja Reformada que sempre está se reformando está, de fato, redescobrindo


novamente a centralidade da Palavra de Deus.

1- A SITUAÇÃO ANTES DA REFORMA PROTESTANTE


Os reformadores surgiram de modo mais marcante quando a Igreja tinha cerca de
1500 anos de existência. O ensino profético e apostólico, conforme as Escrituras já era
bastante escasso.

O mundo havia se tornado a Igreja e a Igreja, o mundo. As grandes doutrinas cristãs


ou haviam sido de todo suprimidas ou haviam sofrido adulteração. Muitas vezes a
experiência de regeneração espiritual e conversão restringiam-se a determinados
pagamentos de promessas ou compra dos favores celestiais.

O que predominava era a idolatria e a superstição pagã. Os deuses pagãos haviam


sido substituídos pelos 'santos', e a virgem Maria havia adquirido igualdade, se não
superioridade, ao Deus Triúno.

A Igreja se tornara uma massa disforme, sujeitando-se ao papa como seu chefe
supremo e à tradição em pé de igualdade com a Bíblia. A própria Escritura se fizera
desconhecida do povo.

O culto cristão cedeu lugar à missa, rezada em latim; a Santa Ceia transformou-se em
corpo e sangue de Cristo, em sentido literal, e o povo não bebia o cálice; Deus não era
mais invocado, e, sim, os santos e anjos; surgiu a doutrina do purgatório associada à
confissão auricular; surgiu a penitência, a venda de indulgência (perdão), a água
benta, a virtude dos mártires, o poder sacerdotal e as imagens nas igrejas.

O poderio romano transformou a Igreja num único organismo bem estruturado, fora do
qual só havia excomunhão e condenação.

A Reforma procurou redescobrir a pureza do cristianismo bíblico como descrito na


Bíblia. A providência e soberania de Deus voltaram a ser consideradas como questões
primordiais para a compreensão da História. E de fato, o momento histórico da
Reforma reúne muitos fatores. Eis alguns:

A. A economia estava em mudança


A Igreja Romana estava muito rica e suas terras na Europa ocidental eram desejadas
por governantes, príncipes e pela classe média emergente das nações-estado. O
clero, que era isento de quaisquer impostos não cessava de tirar mais dinheiro.

www.semeandovida.org
Página |2

Juntando o abuso do sistema de cobrança na venda das indulgências com a inflação


provocada pelos países da península ibérica que esbanjavam o dinheiro pilhado no
novo mundo, o resultado foi uma insatisfação cada vez maior com a pobreza.

B. A política estava encontrando seu caminho


Começava a ser despertada uma consciência de soberania nas nações-estado. Isso
contrastava com a ideia de uma igreja universal que desejava jurisdicionar sobre eles.

C. O humanismo da Renascença e a intelectualidade


O humanismo da Renascença caracterizou-se pelo desejo dos estudiosos em voltar às
fontes do passado. Era simples a equação. Do lado do romanismo estava um sistema
hierárquico muito burocratizado e de outro a desejada liberdade intelectual que parecia
combinar bem com o princípio de liberdade individual da Escritura.

D. A questão moral
Não foi difícil para os humanistas, que passavam a ter contato com o Novo
Testamento grego, perceberem as diferenças gritantes entre a Igreja do Novo
Testamento e a Igreja Católica Romana. O povo começava a se cansar com os
constantes pedidos de dinheiro e não percebiam no horizonte qualquer benefício
espiritual. Ao contrário, somente viam a justiça ser torcida e os fiéis serem
desamparados pelos bispos.

2 – OS GIGANTES DE DEUS
A. Precursores da Reforma
O Senhor Deus disse uma vez a Elias que havia mais 7.000 com ele que também não
dobraram seus joelhos aos ídolos (1 Rs 19.18). Aqui estão apenas alguns nomes, das
centenas que existiram na luta pela mesma fé evangélica (Jd 3). Talvez como Elias
seja difícil saber que estão lá. Mas Deus mesmo os tem guardado.

Thomas Bradwardine (1290-1349) enfatizou a graça de Deus na salvação. Foi um


teólogo e matemático inglês. Foi nomeado Arcebispo de Canterbury (1349).

Gregorio di Rimini e Jerônimo Savonarola eram italianos. Gregório (1358) era filósofo
e tornou-se monge agostiniano. Ele também enfatizou a graça de Deus na salvação.
Savonarola (1452-1498) era um monge dominicano. Foi enforcado e queimado por
heresia em Florença. Ele pregava contra a imoralidade papal.

John Wycliffe (1329-1384) veja seus dados na lição anterior.

John Huss (1373-1415) fez forte oposição à venda de indulgências e à veneração de


imagens tendo também enfatizado a autoridade das Escrituras.

B. Nomes mais diretamente envolvidos com a Reforma


Martinho Lutero (1483-1546) entrou para um monastério agostiniano em 1505. Em
1508 começou a ensinar na Universidade de Wittenberg. Seus estudos eram
principalmente teológicos. Estes estudos serviram para aguçar sua luta interior. Com a
leitura de Romanos 1.17 ficou convencido de que somente pela fé em Cristo era
possível alguém tornar-se justo diante de Deus.

Em 31 de outubro de 1517, data em que comemoramos a Reforma, Lutero afixou as


95 teses nas portas da Igreja de Wittenberg. Em 1520 foi excomungado e no ano
seguinte foi convocado para a Dieta de Worms. No período de 1521 a 1534 traduziu a
Bíblia para o alemão.

www.semeandovida.org
Página |3

Melanchton (1497-1560) chegou a Wittenberg em 1518, aos 21 anos, para ensinar


grego. Melanchton foi o teólogo da Reforma, pois foi ele quem sistematizou e
defendeu a teologia de Lutero. Foi também o primeiro a escrever uma teologia
sistemática protestante.

Ulrich Zwinglio (1484-1531) Ao estudar os escritos de Erasmo passou a interessar- se


pela teologia bíblica. Sua tendência patriótica levou-o a opor-se ao serviço mercenário
pelos suíços. Com o tempo começou a discordar do sistema romano de indulgências e
a ridicularizar a imagem negra da Virgem Maria.

Por volta de 1519 ocorreu sua conversão. Passou a levantar a bandeira da Reforma
combatendo a obrigatoriedade de dízimos a Roma. Combateu também o jejum
quaresmal requerendo a autoridade exclusiva da Bíblia. Após vários incidentes as
autoridades resolveram promover um debate público para que os líderes suíços
escolhessem, após a disputa, qual seria a religião adotada. Foi assim que, com sua
defesa, a Reforma começou na Suíça alemã por iniciativa oficial.

João Calvino (1509-1564) converteu-se ao protestantismo quando estudava em Paris.


Em 1533 foi forçado a fugir de Paris. Em Basiléia, aos 26 anos de idade, Calvino
terminou sua obra conhecida como As Instituías cia Religião Cristã. O livro era dirigido
a Francisco I, da França, na tentativa de defender os protestantes que sofriam por sua
fé, além de pedir que o próprio Francisco aceitasse as ideias da Reforma.

Em um pernoite em Genebra Farei persuadiu Calvino a juntar-se a ele para auxiliar na


reforma naquelas terras. Protestantes refugiados de várias partes da Europa iam a
Genebra e lá aprendiam mais das ideias de Calvino.

Sob a liderança de Calvino Genebra tornou-se inspiração e modelo para os de fé


reformada de outros lugares e um refúgio para os perseguidos. Enfatizava a
educação, a disciplina e acima de tudo a importância da doutrina e a centralidade de
Deus na teologia cristã.

Ao longo de sua vida, comentou quase toda a Bíblia. Escreveu tratados em defesa da
fé cristã. Escreveu centenas de cartas, nas quais expunha a fé bíblica. Pregou
milhares de sermões expositivos, do púlpito e em conferências; procurou fazer a Bíblia
um livro aberto e compreendido pelo povo.

Hoje, esses sermões formam o conteúdo de muitos e volumosos livros. Criou a


Universidade de Genebra. Preparou uma multidão de pregadores, os quais foram para
seus países de origem, levando a fé reformada.

John Knox (1514-1572) foi influenciado por Thomas Gwilliam e George Wishart. Em
1549 foi à Inglaterra pregar contra o catolicismo. Em 1553 refugiou-se em Genebra,
sendo influenciado por Calvino. Em 1559 voltou à Escócia, sua terra natal, conduzindo
a reforma lá.

3 – O CONTEÚDO DA FÉ REFORMADA
A. Solo Christi (Cristo somente). Nosso único Salvador (At 4.12); nosso único
Mediador (1 Tm 2.5); nosso único Fundamento (1 Co 3.11); nosso único Soberano e
Senhor (Jd 4; Ap 19.16); nosso único Caminho, Verdade e Vida (Jo 14.6).

O mais poderoso dos homens, a mais poderosa das mulheres, o mais santo dentre os
santos, o mais glorioso anjo - ninguém substitui nosso bendito Salvador. Ele é único
no céu e na terra.

www.semeandovida.org
Página |4

É o ponto mais elevado de nossa existência (G12.19,20;Fp 1.21). Estafoia mensagem


constante dos reformadores. Esta é ainda a fé realmente evangélica.

B. Sola Scriptura (a Escritura somente). Retomo à Bíblia. O movimento reformador


nasceu no seio de uma igreja que abandonara a Bíblia por amor às tradições
humanas. Sua fé doutrinária não conservou quase nada da Bíblia, e o que restara não
passava de uma triste mescla de fé cristã e superstição pagã.

Aqueles homens tiraram a Bíblia do anonimato e a puseram nas mãos do povo, e


ensinaram: A Bíblia, e somente a Bíblia, é a Palavra autorizada de Deus. Só ela revela
a vontade de Deus ao povo. Só ela serve de base doutrinária e de real edificação para
o cristão.

Só ela faz a Igreja unida e forte, sob o mesmo estandarte da Verdade. Sem a Bíblia
não há Igreja, nem fé genuína, nem esperança no porvir, nem força para lutar e
vencer.

Ela é o referencial máximo do cristão. O que não pode ser provado por ela, deve ser
rejeitado, mesmo que haja sido comunicado por um anjo (G11.8,9). Então cunhou- se
o slogan: "A Bíblia, somente a Bíblia, é a religião dos protestantes." E continua sendo!

C. Sola Fide (a fé somente). Retorno à fé que se apropria da salvação. Ao reconduzir


a Igreja à Bíblia, a salvação mediante a fé surgiu com todo o seu fulgor. A velha
religião tinha mantido até então que "fora da Igreja não há salvação".

A nova Igreja, à luz da Bíblia, abandonou tal engano, e firmou-se na fé que é o veículo
da justificação do pecador diante de Deus. Aliás, foi Lutero quem redescobriu a
gloriosa afirmação paulina: "O justo viverá pela fé " (Rm 1.17).

Então proclamaram: "Fora de Cristo não há salvação" - e ele só pode ser recebido
através da fé que é dom de Deus (Ef 2.8,9). Não é a Igreja que nos salva para Cristo;
é Cristo mesmo que nos salva para a Igreja. A "fé salvadora" é distinta da fé carnal ou
natural. Todos possuem fé, mas nem todos possuem a Fé.

A fé natural ou carnal nos leva a crer em qualquer coisa: a fé espiritual, que é dom de
Deus, nos conduz a Cristo e a tudo o que é dele. Só o renascido pelo Espírito Santo
possui esta fé.

D. Sola Gratia (a graça somente). Retorno à graça que salva. A Igreja de Roma
havia substituído a graça de Deus pelos méritos humanos. Ao abrirem a Bíblia,
descobriram: "A tua graça é melhor que a vida " (SI 63.3). "Pela graça sois salvos,
mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não das obras, para que
ninguém se glorie " (Ef 2.8,9).

Mas esta graça não é algo 'barato', vulgar, que gera a indiferença, a
irresponsabilidade. É a graça que produz: (a) gratidão humilde a Deus; (b) serviço
alegre; (c) responsabilidade consciente; (d) testemunho vivo; (e) amor pelos
pecadores; (f) espírito de oração e louvor; (g) espírito de quebrantamento; (h) profunda
comunhão com Deus; (i) prática da genuína caridade.

E. Sacerdócio Universal dos Crentes.


Retorno à responsabilidade cristã e ao relacionamento direto com Deus. Sob a ideia
de Cristo como o único Sumo Sacerdote dos cristãos, e estes como sacerdotes do
Deus Vivo, a Reforma religiosa explodiu no seio de uma casta sacerdotal, despótica,

www.semeandovida.org
Página |5

orgulhosa, dominadora das consciências através do confessionário, da intimidação, da


superstição, da ignorância.

Os reformadores abriram a Bíblia e ensinaram que o pecador é salvo pela graça


divina, mediante a fé, tendo a Bíblia como a única revelação divina para o seu ensino,
para a plena liberdade no Filho de Deus (Jo 8.32,36).

Cada salvo é um sacerdote no reino de Deus (a) para interceder por todos; (b) ensinar
a todos a verdade divina; (c) interpretar a santa Escritura com humildade, com fé, com
sabedoria, com obediência, para si mesmo e para os demais.

Ele é um sacerdote porque (a) é santuário de Deus pela habitação do Espírito Santo (1
Co 3.16,17). (b) é membro da Igreja que é "raça eleita, sacerdócio real, nação santa,
povo de propriedade exclusiva de Deus" (1 Pe 2.9).

Na genuína Igreja de Cristo não há lugar para displicência, ociosidade, vida profana,
religiosidade irresponsável. O cristão, como sacerdote, (a) é comprometido com sua
família e com a sociedade; (b) é honesto no exercício da profissão; (c) sua linguagem
é sadia e edifica os ouvintes; (c) sua vida transpira o evangelho da graça de Deus na
forma de testemunho pessoal; (d) na Igreja e na sociedade, ele é dinâmico,
participativo, responsável; (e) seu interesse é ser exemplo dos fiéis. Sua vida cristã
não é através da Igreja; é diretamente com Deus.

F. Deus É o Único Soberano Absoluto.


Retorno ao governo direto e absoluto de Deus. Os reformadores abriram a Bíblia ao
povo e mostraram que Deus reina de forma absoluta e pessoal; usando, sim, os anjos
e os homens como instrumentos ao seu serviço, mas não depende deles para
comunicar-se com os homens.

O único Mediador é Jesus Cristo, e o Espírito Santo habita o coração de cada crente.
"Agindo eu, quem o impedirá? " (Is 43.13). A Igreja de Roma assenhoreou-se das
consciências, e o papa tornou-se o soberano da Igreja. Na Igreja do Novo Testamento
não há 'papa', e os ministros são servos de Deus e da Igreja. Só Deus reina! Tudo terá
que concentrar-se na glória de Deus e em sua soberania!

Conclusão
Não é sem motivo que a Reforma tenha produzido cristãos tão vigorosos, sinceros,
dinâmicos, fiéis, santos, justos, corajosos, humildes e cheios de boas obras. Pois que
as boas obras não geram a salvação, senão que são geradas por uma vida salva,
abençoada, reconstruída, direcionada para o altruísmo, para o bem, para a justiça,
para a paz, para o progresso, para a glória de Deus.

Não é sem motivo que a Igreja tenha crescido tanto em tão pouco tempo. Não é sem
motivo que nações tenham se transformado em povo forte e progressista. A Igreja
moderna precisa inspirar-se no exemplo da Reforma Protestante.

www.semeandovida.org

Você também pode gostar