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COLÉGIO NOSSA SENHORA DA BOAVISTA

3.ª Reunião de Grupo 2004/2005


11/11/04
Discussão do conceito – Porque / Por que

FERREIRA, A. Gomes e FIGUEIREDO, J. Nunes de, Compêndio de Gramática Portuguesa, Porto


Editora.

Porque – Advérbio interrogativo de causa.


Porque não estudaste a lição?

Porque – Conjunção subordinativa causal.


As estrelas parecem muito pequenas, porque estão muito distantes.

ESTRELA Edite, SOARES, Maria Almira, LEITÃO, Maria José, Saber Escrever Saber Falar, Dom
Quixote.

Porque – Advérbio interrogativo de causa.


Porque – Conjunção subordinativa causal.
“E então pensei: já não há deuses para criarem e assim o homem, senhor doutor, o homem é
que é deus porque pode matar.”
Vergílio Ferreira, Aparição

 Valores e emprego de alguns pronomes relativos, p. 141


Por que – A sequência por que formada pela preposição por e pelo pronome relativo que introduz
orações relativas: O caminho por que [pelo qual] sigo é muito estreito.

 Valores e emprego de alguns advérbios, p. 147


Porque – O advérbio interrogativo de causa porque introduz orações interrogativas directas e
indirectas: Porque chegaste tão cedo? Não sei porque chegaste tão cedo.

 Emprego de algumas conjunções, p. 148


A conjunção subordinativa causal porque introduz uma oração subordinada causal: Faltei à
reunião, porque estive doente. A conjunção tem como função estabelecer uma relação de
causalidade entre a oração subordinante (Faltei à reunião) e a subordinada (porque estive doente).
A conjunção causal porque distingue-se da sequência por que, constituída pela preposição
por e pelo pronome relativo que: Queria explicar-te a razão por que [pela qual] te telefonei.
Chegou o momento por que [pelo qual] tanto ansiavas.
Porque, conjunção causal, também não deve confundir-se com o advérbio interrogativo de
causa porque nem com a sequência por que seguida de nome, que introduzem orações
interrogativas directas e indirectas:
Porque vieste? Não sei porque vieste. [advérbio interrogativo de causa]
Vim, porque tinha saudades tuas. [conjunção subordinativa causal]
Por que motivo vieste? Não sei por que motivo vieste. [preposição+pronome]
Por que ideias combatem os revolucionários? Não sei por que ideias combatem os
revolucionários. [preposição+pronome]
Os revolucionários combatem porque querem construir um mundo melhor. [conjunção
subordinativa causal]

BERGSTRÖM, Magnus e REIS, Neves, Prontuário Ortográfico e Guia da Língua Portuguesa,


Editorial Notícias.

Porque – Conjunção e advérbio


Porquê – Advérbio e substantivo masculino
Por que – pelo qual, pela qual, pelos quais, pelas quais ou por qual, por quais.

PINTO, José Manuel de Castro, Manual Prático de Ortografia, Plátano Editora.


1. Não me viste porque não saíste de casa. [Conjunção causal com o sentido de por qual motivo.]
2. Não sei por que razão não saíste de casa. [Preposição+pronome relativo (pela qual razão). Um
modo prático de saber se se deve escrever em separado é procurar substituir por pelo qual, pela
qual, pelos quais, pelas quais: se a substituição for possível, devemos escrever separado.]
3. Porque não saíste e casa? [Advérbio interrogativo. Consideramos que deve escrever-se numa
única palavra. No entanto alguns gramáticos, sobretudo no Brasil, preferem que se escreva em
separado.]
4. Não saíste de casa, mas não sei porquê. [Advérbio de causa (= por qual motivo).]
5. Não saíste de casa. Não sei qual o porquê, nem me interessa. [Nome ou substantivo (= motivo,
razão de ser).]

AREAL, Américo, Curso de Português – Questões de Gramática, Noções de Latim, Edições ASA.

 Escreve-se porque:
1.º - Quando esta palavra é uma conjunção causal.
Trabalho muito porque preciso.
És bom porque compartilhas a desgraça alheia.
Os ociosos são inúteis porque nada produzem.

2.º - Quando é advérbio interrogativo.


Porque queres sair?
Porque falaste tão alto?
Percebes porque insisto nestas bagatelas?
Não sei porque saíste tão depressa.

3.º - Quando é uma conjunção final arcaica. Equivale a para que.


“Dai-me agora um som alto e sublimado,
Um estilo grandíloco e corrente,
Porque de vossas águas Febo ordene
Que não tenham inveja às de Hypocrene.”
Luís Vaz de Camões, Os Lusíadas, I, 4

N. B. Segundo Rebelo Gonçalves, em escritores modernos esta conjunção só aparece por imitação da língua antiga. Caso
contrário, escreve-se a locução por que.
Obs. Porque, como conjunção final, tanto do gosto dos nossos clássicos, praticamente caiu em desuso. Leva sempre o verbo
para o conjuntivo:
“Régulo, porque a pátria não perdesse,
Quis mais a liberdade ver perdida”
Luís Vaz de Camões, Os Lusíadas, IV, 53

4.º - Quando é um substantivo:


Esse porque não tem pés nem cabeça.

 Escreve-se por que:


1.º - Quando o que é um pronome relativo (sendo então por que = pelo qual, pela qual, pelos
quais, pelas quais).
É este o motivo por que hoje me sinto obrigado a intervir.
A estrada por que transitaste é boa.
Eis a razão por que cheguei tarde.

2.º - Quando que é um pronome interrogativo.


Por que motivo chegas sempre tarde?
Por que puxaste? (por que coisa puxaste?)
Perguntou por que puxámos. (por qual coisa)

3.º - Quando se trata duma locução conjuncional final a seguir de verbos como lutar, fazer, esforçar-
se, e outras acepções análogas.
Lutamos por que a vitória seja nossa.
Tudo farei por que ela seja muito feliz.
Vou esforçar-me por que ele venha.
Faço votos por que te saias bem.
 Por vezes, há frases que só diferem na grafia conforme o sentido.

1.º -
Porque esperas? (isto é: esperas porquê?) (porque, advérbio interrogativo = porquê) (=
Qual a causa da tua espera?)
Por que esperas? (que, pronome interrogativo = que coisa, qual coisa.) (por que coisa
esperas?)

2.º -
Porque suspiras tanto? (isto é: suspiras porquê?) (porque, advérbio interrogativo) (Qual a
causa do teu suspirar?)
Por que suspiras tanto? (que, pronome interrogativo – que coisa) (Por que coisa suspiras
tanto?)

3.º -
Não sei porque te apaixonaste. (porque – advérbio interrogativo) (= Não sei qual é a causa
da tua paixão.)
Não sei por que te apaixonaste. (que, pronome interrogativo) (= Não sei por qual coisa te
apaixonaste, isto é, qual é o objecto da tua paixão.)

CUNHA, Celso e CINTRA, Luís Filipe Lindley, Nova Gramática do Português Contemporâneo,
Edições Sá da Costa, Lisboa.

Por que – Advérbio interrogativo de causa.


Por que não vieste à festa?
Não sei por que não vieste à festa.

Porque – Conjunção subordinativa causal.


Tenho continuado a poetar, porque decididamente se me renovou o estro.
Antero de Quental, Cartas

MARQUES, António, Tento na Língua 1, Plátano Editora.

Porque, por que, porquê?

“Por que vieste?” ou “Porque vieste?”

1. Grande parte das palavras chamadas invariáveis resultaram da justaposição (aglutinação)


de: preposição e pronome; pronome (ou correspondente determinante) e substantivo; conjunção ou
advérbio e forma verbal; ou outros: porque, porquanto, sequer, embora, etc. … E não há dúvida de
que esse uso nos foi legado profusamente pela língua-mãe latina: quare, propterea, quanvis,
quamodrem, etc.
2. Escrevem-se ligadas como se de uma única palavra se tratasse, isso deriva do processo de
aglutinação ou de pura convenção dos gramáticos, linguistas ou utentes.
3. Convenção que pode tornar-se lei se o poder legislativo a sanciona.
4. Entre nós, muitas grafias convencionais tornaram-se obrigatórias por força da legislação
ortográfica, cujo mais importante referente, ainda vigente com algumas ligeiras alterações
posteriores, é o Decreto n.º 35 228 de 8 de Dez. de 45, o qual sanciona a “Convenção Ortográfica
Luso-Brasileira” do mesmo ano.
5. O advérbio interrogativo causal “porque” (“Porque vieste?”) tem a mesma origem da
conjunção causal homónima “porque” (“Porque me apeteceu.”): “por” (preposição) + “que”
(originalmente com valor de pronome/determinante interrogativo ou indefinido). Com acento
(“quê”) ou sem acento (“que”), é a mesma entidade gramatical. O não ser acentuado depende da
sua posição enclítica ou não enclítica: Porque vieste? (enclítica) Porquê? (não enclítica).
6. Há várias décadas que os alunos de Português, em Portugal, têm vindo a aprender (e os
professores a ensinar…) a grafia ligada do referido advérbio “porque”, em conformidade com as
directivas das gramáticas, vocabulários e prontuários, tendo como referência incontestável o
célebre Vocabulário da Língua Portuguesa de F. Rebelo Gonçalves, Coimbra Editora.
7. O facto de alguns dicionários e vocabulários apresentarem o dito advérbio sob a forma
“porque” ou “por que” sugere apenas a obrigação de o “que” se separar quando assume a função
de determinante ou pronome relativo: Por que razão vieste? (determinante); Eis a razão por que
vieste… (relativo)
8. Que os Brasileiros optem pela grafia separada do advérbio, isso é outra questão que terá
de ser resolvida quando e se um “Novo Acordo” for sancionado…

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