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Curso: Engenharia de Produção

Disciplina: Ergonomia

Conteudista: Nelson Tavares Matias

Meta: COMPREENDENDO O SISTEMA HOMEM X TAREFA X MÁQUINA X


AMBIENTE.

Objetivos: esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja
capaz de:
1. compreender o sistemismo;
2. identificar as relações existentes entre as demandas profissionais, o
homem, os artefatos e o meio;
3. considerar a empatia como método de abordagem para o
estabelecimento ou análise das atividades de um processo
demandado ao usuário.

Pré-requisitos: para se ter um bom aproveitamento desta aula, é importante


você relembrar os conceitos sobre Ergonomia aprendidos na Aula 2.

AULA 3

Sistemas
Dado um agregado de coisas, quais quer que sejam (m) o agregado é
um sistema quando por definição existir um conjunto de relações agindo
entre os elementos agregados de tal forma que, eles passem a partilhar
propriedades novas e comuns (P) Bunge (1979, apud VIEIRA, 1993).
Quando pegamos coisas e as juntamos, e elas interagem podem
surgir, sobre a coletividade, uma propriedade coletiva e nova, que não havia
antes a nível de elementos. Exemplo: uma fábrica é um agregado de
estações e postos de trabalho sendo que cada um dos profissionais tem sua
propriedade fabril, mas somente quando estão juntos e funcionando em
harmonia é que podemos compartilhar uma propriedade comum e coletiva,
que é a função produtiva e não a função da individualidade do posto de
trabalho ou do profissional.
A composição poderá acarretar sitemas homogênios ou heterogênios,
assim, quando semelhantes teremos a homogeneidade e caso a composição
possua elementos diferentes surgirá a diversidade. Na natureza a
biodiversidade, representada pelos corais marinhos, são um sinal de
complexidade e ao mesmo tempo de excencialidade para que o sistema
permaneça no tempo. Considerando um contexto industrial temos como
exemplo a região do ABC ou ABCD1 Paulista, que desde os anos 70 tornou-
se reconhecido por abrigar um grande número de indústrias automotivas, em
função disto, um outro grupo de empresas, as fornecedoras de componentes
e sistemas automotivos também se desenvolveu, e seguindo as demandas
uma nova cadeia de serviços complementou a região. Desde 1990, o Estado
do Rio de Janeiro, especificamente a região Sul Fluminense teve sua
1
Santo André (A), São Bernardo do Campo (B) e São Caetano do Sul (C) - Diadema (D). Disponível em:
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Região_do_Grande_ABC>. Acesso em: 1 jan. 2017.

1
caraterísticas econômicas modificadas a partir da chegada da indústria
automotiva, sendo considerada, atualmente, um cluster (Figura 1) automotivo
aos moldes do ABC paulista.

Figura 1 Cluster representa um agrupamento de negócios que partilham iguais demandas, como
energia, telecomunicação etc.
Fonte: adaptado de Cluster Automotivo Sul Fluminense (2013)2

A partir dos dois exemplos podemos pensar nos aspectos da


homogeneidade e heterogeneidade, no caso dos corais há uma grande
diversidade na fauna marinha. No setor industrial há semelhanças nas áreas
e demandas, mas em ambos os casos pode-se dizer que o agrupamento dos
interesses oportunizaram novas soluções.

Teoria Geral dos Sistemas


O termo Teoria Geral dos Sistemas, foi proposto pelo Biólogo belga
Ludwig Von Bertanlanffy, no fim da década de 40, definindo sistema como:
“[...] um conjunto de unidades reciprocamente relacionadas.” Desta definição
ocorrem dois conceitos (VIEIRA, 1993) (Figura 2):

2
Cluster Automotivo Sul Fluminense. Disponível em: <http://www.rj.gov.br/web/imprensa/exibeconteudo?article-
id=1539285>. Acesso em: 2 jan. 2017.

2
Objetivos do Sistema Globalidade do Sistema
as unidades, bem como os o sistema sempre reagirá
relacionamentos, definem um arranjo globalmente a qualquer estímulo
que visa sempre a um objetivo. produzido em quaisquer das suas
unidades. Isto é,
 há uma relação
de causa-efeito entre as diferentes
partes de um sistema.
Figura 2 na natureza e no cotidiano da vida humana há diversas demonstrações que podem ilustrar o proposto
Bertanlanffy
Figura 3 adaptado de Vieira (1993)

A hipótese diz que a realidade é toda feita de sistemas, ou seja: o


universo como um todo é um imenso sistema (sistema master) e dentro deste
master outros sistemas são gerados ao longo do tempo. Se existe alguma
coisa no universo que não é, ainda, um sistema é aquilo que por definição é
elementar. Seria o átomo3, se é que ele existe. O Atomismo Grego é uma
proposta ontológica que aposta na parte como fundamental diante do todo e,
em oposição, pode-se assim dizer existe o holismo, que trabalha o todo não
destacando a parte. O sistemismo é uma proposta intermediária que
reconhece o valor da parte bem como as entidades que se relacionam.
Assim: os sistemas existem dentro de outros sistemas (formando
subsistemas); os sistemas são abertos; as funções de um sistema dependem
de sua estrutura (VIEIRA, 1993).

Para se desenvolver uma visão sistêmica é necessário que conheça o


conceito e as características dos sistemas.

Mas para entender a visão sistêmica, primeiro precisamos delinear as


principais características de um sistema, dentre as quais podemos citar
(WIKPÉDIA, 2017)4:

um sistema é composto por partes;


todas as partes de um sistema devem se relacionar de forma direta
ou indireta;
 um sistema é limitado pelo ponto de vista do observador ou um
grupo de observadores;
 um sistema pode abrigar outro sistema;
 um sistema é vinculado ao tempo e espaço.
Do ponto de vista ergonômico, uma situação de trabalho é um sistema
complexo dinamicamente inter-relacionado. O ponto de partida de qualquer
Intervenção, Ergonômica é por meio de uma demanda e esta deverá ser
abordada sistemicamente, cujas entradas (as exigências econômicas, sócio-
técnicas e organizacionais de trabalho, caracterizadas na tarefa) determinam
os comportamentos do homem no trabalho (caracterizadas nas atividades em
termos de informações e ações) e, cujas saídas (os resultados do trabalho

3 Embora o significado original do termo átomo correspondesse a uma partícula que não pode ser
dividida em partículas menores, no contexto científico contemporâneo o átomo é constituído por várias
partículas subatómicas: o elétron, o próton e o nêutron. Disponível em:
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Átomo>. Acesso em: 1 jan. 2017. O texto original encontrava-se redigido
em português de Portugal e foi reescrito para a forma usual no Brasil.
4 Pensamento Sistêmico. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Pensamento_sistêmico>. Acesso

em: 1 jan. 2017.

3
em termos de produção e saúde), são as resultantes deste sistema (Figura
3).

Figura 3 as relações que ocorrem num ambiente nem sempre são percebidas pelos ergonomistas
Fonte: adaptado de Santos (1997)

Por isto, quando se realiza um estudo ergonômico de um determinado


posto de trabalho, aplicando-se ferramentas de análise para se quantificar o
número de vezes que um determinado operador manuseou um componente,
por exemplo, pode não ser o suficiente para propor um diagnóstico. Sendo
requerida uma abordagem mais ampla e assim permitir a compreensão do
sistema como um todo.

Vejamos um exemplo mais próximo de nós: a Universidade Aberta do


Brasil (UAB) é um sistema de alta complexidade, que visa permitir que
conteúdos específicos sejam transmitidos aos alunos regularmente
matriculados e tenham atendido aos procedimentos que envolveram,
seleção, aprovação, entre outros aspectos. A UAB não possui uma estrutura
física de prédios, mas é constituída por um conjunto de pessoas: professores,
alunos, funcionários, além é claro de um conjunto de ideias. Considerando a
universidade como um sistema, esta deverá satisfazer um conjunto de coisas
para garantir, parâmetros básicos e sua própria permanência no universo.
Poderíamos avaliar o sistema considerando desde o processo de seleção até
o momento de conclusão do curso ou fragmentando a análise por etapas, ou
seja avaliar as atividades, sob o enfoque dos profissionais no período da
matrícula, ou no momento das provas presenciais.

Acredito que você já percebeu a existência da complexidade quando


se pretende avaliar todas as possíveis relações sistêmicas em um
determinado ambiente profissional. Além de compreender as etapas
envolvidas em uma atividade o ergonomista deverá ser capaz de analisar a
diversidade existente. Segundo Bateson (1980, apud VIEIRA, 1991)
Diversidade pode ser compreendida como diferença e diferença é um tipo de
informação, logo se um sistema possui diferenças é um sistema
informacional, assim “Informação é diferença que faz diferença” (BATESON,
1980 apud VIEIRA, 1991).
Atividade 1
Atende ao Objetivo 1: compreender o sistemismo;

4
Considerando um shopping center qualquer, o que pode ser dito ao
considera-lo um sistema? Leve em conta, sua característica organizativa,
seus objetivos e a globalidade do sistema.

Resposta Comentada:
Um shopping center tem um modelo comercial que mescla a homogeneidade
e a heterogeneidade, lojas de roupas, praça de alimentação, diversão etc.,
entretanto uma área de negócios colabora com a manutenção e
desenvolvimento da outra. Assim, é possível para o potencial cliente utilizar
todas as áreas de serviços, como estacionamento, sanitários, segurança etc.,
mas também, usufruir apenas de um dos segmentos comerciais. Neste
contexto, há uma economia de ganha-ganha, ou seja, é cômodo ao cliente e
aos empresários. O sistema, em sua totalidade aumenta a capacidade de
atrair clientes para diferentes segmentos, atingindo a globalidade do sistema
e consequentemente mantendo funcional na relação tempo espaço.

Relações entre homem, demandas profissionais, artefatos e os meios


Toda atividade profissional requer, em algum nível, a interação com
máquinas ou artefatos, sejam elas a parte principal, secundária ou de menor
importância para a realização da atividade. Por exemplo, você estudante
poderá fazer uso ou não de algum artefato para anotar dúvidas ou destacar
aquilo que considerou importante. Os equipamentos, lápis, marcador, caneta,
etc., poderão variar na sua forma, textura, característica funcional, etc.
Entretanto, você poderá preferir outra forma de realizar a atividade, como
gravar um áudio por meio do celular e depois ouvi-lo quantas vezes desejar,
assim como pode ser feita com a anotação.
Para compreendermos melhor veja o exemplo de um caso de
interferência de aparato menos importante, mas que trazia perdas para o
sistema. Em uma empresa de produtos plásticos, o procedimento adotado
para se remover as rebarbas provocadas pelo processo de injeção 5 , era
semelhante ao que pode ser visto na Figura 4. Utilizavam-se lâminas de
barbear ao invés de estiletes e a bancada de apoio era revestida de
melamina branca6 brilhante. Neste caso, o reflexo provocado pela iluminação,
adicionado aos adesivos que os funcionários fixavam em suas bancadas para
personaliza-las aumentava o cansaço e a confusão visual, além disso o fato
de ser uma lâmina de barbear um equipamento impróprio, por oferecer riscos
e não possuir sistema de manuseio apropriado à tarefa.

5
Injeção é um processo que utiliza o polímero em sua forma plástica e injeta-se o mesmo em um molde,
preenchendo os espaços vazios. O processo permite obter uma série de produtos de várias formas e cores.
Disponível em: <ftp.demec.ufpr.br/.../aulaPROCESSAMENTO%20DE%20PLÁSTICOSThais.ppt>. Acesso em: 4 jan.
2017.
6 Melamina é o nome técnico para o acabamento utilizado em móveis. Fórmica® é a marca comercial para materiais

melamínicos.

5
Realizando-se a Análise Ergonômica no posto de trabalho percebeu-
se que as inadequações, apesar de simples aumentavam os incidentes e
acidentes, além de diminuir a produtividade do setor.

(a) (b) (c) (d)


Figura 4 (a; b) remoção do canal de distribuição e (c; d) remoção das rebarbas
Fonte adaptado de Guarnieri (2016). disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=rlf71KGNBLs>. Acesso em: 4 jan. 2017

Segundo Guérin et al. (2001) “O estado de saúde de um trabalhador não é


independente de sua atividade profissional.” Os autores fazem também uma
reflexão dizendo que sob certas condições o trabalho não é negativo, para a
saúde do trabalhador, mas positivo.
Utilizando o caso relatado sobre remoção de rebarbas, observou-se
que os operadores utilizavam proteções improvisadas nos dedos quando
manuseavam a lâmina de barbear. Isto, já seria um indicativo de que a
operação necessitaria de uma revisão, pois em se mantendo a lâmina de
barbear um equipamento de segurança individual deveria ser indicado. Neste
caso a integridade da saúde do operador era posta em risco, portanto
coerente com a proposta feita por Guérin et al (2001).

Há, entretanto, situações relacionais entre o trabalhador, aparato e o


ambiente em que os indicativos de inadequação não são tão perceptíveis ou
mesmo visíveis. Para ilustrar, relato uma condição encontrada em um posto
de trabalho. O setor tinha por objetivo desmontar máquinas fotocopiadoras de
alta capacidade, para isso, em um determinado momento da atividade, o
operador utilizava aspirador de pó para conseguir promover a remoção do
toner que se depositara internamente ao sistema durante seu uso. Contudo,
para remover o pó de determinadas partes que não seriam desmontadas, e
que não permitia o uso do aspirador, por conta da dimensão do equipamento,
era utilizado um soprador, fazendo com que o toner 7 se espalhasse pelo
ambiente. Como o pó possui uma micro-dimensão não é facilmente visível,
especialmente quando na condição de aerodispersóides, ou seja, em
suspensão no ar. O funcionário não utilizava máscara de qualquer espécie,
portanto subordinado a aspirar partículas em suspensão. Sobre o risco de se
aspirar o toner são inconclusivas as pesquisas, se oferece ou não riscos à
saúde humana, não irei me deter a este aspecto neste momento. Por outro
lado, pode-se imaginar que se o funcionário possuísse algum tipo de alergia
respiratória provavelmente sofreria com as condições expostas.

Existem atividades que desempenhadas colaboram para que o custo


humano se reduza, seja pela qualidade do planejamento, ou pela própria

7
Toner. Disponível em: <http://www.jornaldaorla.com.br/noticias/21153-o-po-do-toner-e-toxico/>. Acesso em: 4 jan.
2017. Primeiramente o toner era simplesmente composto de pó de carbono. Atualmente, o carbono é misturado a
polímeros, aumentando significativamente a qualidade da impressão. O polímero usado varia, podendo ser estireno
acrilato copolímero ou resina de poliéster. O tamanho das partículas de toner variam de 1 a 15 micrômetros.
Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Toner>. Acesso em: 4 jan. 2017.

6
natureza da atividade em si. Um processo operatório que preconize a troca
do operador pelos diferentes setores da empresa poderá permitir que o
trabalhador tenha um aumento em sua autoestima e/ou a redução dos
impactos sobre determinados grupos musculares, quando demasiadamente
empregados em uma mesma atividade.

Obviamente, todas as questões aqui apresentadas estão associadas a


intensidade, e ao tempo de exposição. Como vimos, alguns custos humanos
são dimensionáveis e outros não são perceptíveis. Segundo Guérin et al
(1991) o modo operatório adotado pelo operador é o resultado de um
compromisso que leva em conta:
 objetivos exigidos;
 meio de trabalho;
 resultados produzidos ou informações disponíveis ao
trabalhador sobre eles;
 o seu estado interno.

Guérin et al. (1991) representou os modos operatórios conforme podemos


ver nas Figuras 5 a 8.

Figura 5 sem constrangimentos Figura 6 situação não restritiva. Ação possível


sobre os objetivos e os meios

Figura 7 Desempenho obtido à custa de danos Figura 8 Desempenho não-obtido (sobrecarga)


ao estado interno
Fonte adaptado de Guérin et al. (1991)

Resumidamente Guérin et al. Diz que:


 Nem sempre há relação direta entre o desempenho do operador e o
custo desse desempenho para ele. Essa relação dependerá da
medida a qual a elaboração do modo operatório pode (ou não) levar
em conta modificações do estado interno;
 O fato de os resultados ordenados só poderem ser alcançados ao

7
custo de modificações significativas do estado interno sempre constitui
em um sinal de alerta. Provavelmente variações limitadas da situação
bastarão para que os objetivos não mais possam ser atingidos. Guérin
et al. (1991) Alertam que é nessa “zona de compromisso” que
funcionam diversos sistemas produtivos;
 A noção de “carga de trabalho” segundo Guérin et al. (1991), é
interpretada a partir da compreensão da margem de manobra
disponível ao operador num dado momento para elaborar os modos
operatórios, tendo em vista atingir os objetivos exigidos, sem que haja
efeitos desfavoráveis sobre seu estado (Figura 9).

Figura 9 Quanto menor o custo humano, maiores são as possibilidades de se alcançar os resultados
Fonte adaptado de Guérin et al. (1991)

Custo mental ou psíquico


Recentemente o Brasil foi impactado pelo acidente que matou quase
que em sua totalidade o time da Chapecoense, do Paraná. Durante as
investigações além do piloto, administradores dos aeroportos, entre outras
pessoas foram escutadas pelas autoridades quanto a possíveis falhas.
Também foi investigada a controladora aérea da colômbia, uma vez que foi
ela a última pessoa a falar com o piloto. A atividade de controlador aéreo é
sem dúvidas uma das mais estressantes, seja pelo tipo de equipamento
utilizado, pela dinâmica da atividade e das responsabilidades generalizadas
que recaem sobre o profissional. Portanto, em profissões como essa, há um
maior risco do trabalhador desenvolver psicopatologias. No caso do acidente
envolvendo o time de Chapecó, a controladora, após o evento chegou a ser
ameaçada, ou seja, os problemas ultrapassam os limites da sala de controle
e de seu ambiente de trabalho.
Entretanto, existem situações em que o próprio trabalhador aumenta
sua exposição aos riscos. Por exemplo, um policial que estando em
desvantagem numérica arrisca-se a enfrentar ladrões armados. Ainda que se
sinta mais preparado, sua posição é de exposição, correndo riscos em
demasia. A exposição aos riscos é comum em diversas profissões e as
motivações são diversas, no caso do policial, talvez seja a única chance de

8
se manter vivo diante da situação, mas no caso de um trabalhador industrial
poderá assumir uma postura insegura, simplesmente por estar atrasado em
relação aos objetivos da produção.
A partir do exposto, podemos perceber que os operadores são fontes
de informação sobre as atividades desempenhadas, ainda que, em muitos
casos, não percebam claramente as etapas e os riscos envolvidos em cada
uma delas. Portanto, é fundamental que durante a análise ergonômica seja
dada aos operadores a oportunidade de se manifestarem. Em geral o
processo de abordagem do trabalhador deve ser planejada, ainda que seja
para ser realizada informalmente. Existem situações em que o trabalhador
fazendo mal juízo de si mesmo considera que a tarefa não foi atingida por
sua “fraqueza” como dito por Guérin et ai. (2001).

Atividade 2
Atende ao Objetivo 2: identificar as relações existentes entre as demandas
profissionais, o homem, os artefatos e o meio.

Guérin et al. (2001) disse que “[...] que sob certas condições o trabalho não é
negativo, para a saúde do trabalhador, mas positivo. Explique a afirmação.

Resposta Comentada:
A afirmação de Guérin apoia-se nas atividades bem planejadas,
naquelas que preveem os melhores modos operatórios. Além disso, há certas
atividades que permitem o trabalhador desenvolver uma condição física
desejada, obviamente sem que hajam excessos que possam prejudica-los.
Por exemplo, uma atividade sabidamente estressante deverá ser planejada
de tal forma que permita a reabilitação do trabalhador, para isso, uma
atividade alternativa deverá ser pensada.

Empatia como método de abordagem para o estabelecimento ou análise


das atividades de um processo demandado ao usuário
A empatia pode tornar qualquer profissional mais inovador, uma vez
que, coloca diante de seus interesses os interesses daqueles que demandam
o recurso, produto, serviço ou qualquer coisa que se necessite. A empatia
estabelece uma relação diferente entre desenvolvedores e os seus usuários,
por exemplo os trabalhadores. Canales (2012) disse que empatia sugere uma
relação emocional e nós nos costumamos ao termo emocional de uma
maneira não muito positiva emocional, especialmente quando lidamos com
áreas como a engenharia. Entretanto, Pink ([S.d.], apud CANALES, 2012)
disse “[...] feeling is a way of thinking” e neste caso sentir é a própria empatia,
ou seja, é repensar o problema que estamos tentando resolver. Deste modo,
meus caros estudantes para qualquer desafio profissional que o ergonomista
venha a ter é fundamental que estabeleça uma relação clara com as
demandas, trazidas e que a visão sobre os problemas tenha sempre a

9
oportunidade de se colocar no lugar do outro e assim ter melhor percepção
dos inconvenientes.

Em minhas práticas acadêmicas presenciais tenho levado as turmas


de Engenharia de Produção, bem com as de Design para desenvolverem as
Análises Ergonômicas do Trabalho em lugares reais, claro que isso acontece
após a introdução teórica, permitindo que os discentes consigam perceber
com mais facilidade o que pode ser um risco ergonômico. Posso afirmar que
em muitas de nossas visitas os estudantes enfrentaram problemas tais como
permanecer de pé por 2 ou 3 horas junto as bordas de linhas produtivas,
calçando botas, óculos, capacetes, protetores intra-auriculares. As condições
vivenciadas permitiram que os estudantes sentissem mais próximos de si
mesmos, algumas das variáveis que podem interferir nas atividades
desempenhadas pelos trabalhadores, como temperatura, sanitários distantes,
excessos de deambulações, etc. Desta forma, só a visita já é um processo de
se colocar no lugar do outro, mas em nosso caso, buscamos informações
além destas que puderam ser sentidas e vistas, exigindo observação,
quantificação, comparação, investigação, pesquisa bibliográfica (normas e
referencial teórico) além das entrevistas com os operadores.
A empatia é uma forma de se buscar as informações, é ir além daquilo
que se aprende na teoria, como por exemplo aqui neste documento! Empatia
é estar no lugar, ver com os olhos do outro, sentir o que o outro sente, ouvir
aquilo que há para ser ouvido, ou seja experimentar o que outro vive. Estar
fora da zona de conforto nos move a pensar e questionar os motivos das
coisas serem como são e isso pode colaborar para uma análise muito mais
realista e sistêmica do que simplesmente ver um vídeo as atividades
desenvolvidas, calcular o número de movimentos, posturas assumidas etc.
Obviamente, este processo não é descartado, mas a reflexão é quanto mais
próximo da situação, melhor eu poderei propor respostas, ampliando a
hipótese de se conseguir respostas inovadoras. Além de intensificar a forma
como observo e entendo, a empatia é também uma mola propulsora à
inovação, isso acontece porque vemos o problema de forma diferente e
consequentemente vejo soluções também diferentes.

Mapa da Empatia8 (ME)


O Mapa da Empatia permite estabelecer uma percepção
sistematizada, portanto organizada, da pessoa com quem interagimos. Para
as práticas da ergonomia é fundamental que se estabeleça uma relação de
confidência, bem como de compreensão daquilo que importa ao trabalhador.
O ME prevê 4 áreas principais nas quais o interlocutor poderá registrar as
percepções durante a experiência e contato com o entrevistado. As 4 áreas
atendidas pelo ME são: o que foi dito; o que foi feito; o que foi pensado e o
que foi sentido. Geralmente não é difícil de registrar as duas primeiras
etapas, entretanto o que foi pensado e sentido exigem uma observação e
análise mais determinada do investigador, quando observa o interlocutor
agindo e respondendo determinadas questões ou simplesmente agindo. A
observação para a ergonomia é muito importante, vejamos um exemplo,
observando a Figura 10 o que pode ser dito sobre a postura do animal?
8Interaction
Design. Disponível em: <https://www.interaction-design.org/literature/article/empathy-map-
why-and-how-to-use-it>. Acesso em: 7 jan. 2017.

10
Figura 10 o animal está parado, encilhado, preso pela rédea, cabresto e em posição de descanso
Fonte adaptado de Clasf. Disponível em: <http://www.clasf.com.br/q/cavalo-pe/>. Acesso em: 5 jan.
2017

Ok, vocês devem estar achando o tema da Figura 10, um tanto estranho para
nosso contexto não é mesmo? Mas a título de exercício, o que você poderia
comentar sobre aquilo que pode ser percebido, além do que já foi dito na
legenda? Atenção, o ambiente em si, neste momento, não é o foco, detenha-
se no animal apenas. Perceberam que o mesmo não apoia a pata esquerda
traseira completamente no solo? O motivo para esta postura é que o animal
está economizando energia, assim descansa uma das patas equilibrando-se
nas três restantes.
Nós humanos também demonstramos e expressamos
comportamentos de maneira natural, assim, quando um trabalhador eleva
uma de suas pernas apoiando-a seja em alguma parte do equipamento ou na
própria parede é um sinal de que está reduzindo os impactos exigidos pelo
bombeamento sanguíneo, ou seja, quando se eleva um membro inferior torna
mais fácil, para o sangue, retornar ao coração. Em alguns casos podemos
fazer movimentos como os exemplificados por hábito e precisamos distingui-
los, neste sentido, outras variáveis podem ser consideradas na análise, como
o momento da observação, se foi no início ou no final do turno, se a atividade
requisitou que o operador permanecesse estático ou deambulasse pelos
setores, entre outras possibilidades. Recordo-me de uma experiência quando
estava recém formado e fazia parte de uma equipe de remo no Rio de
Janeiro, em um determinado treino tático o treinador falou com os atletas,
“[...] vocês não estão remando com os músculos do rosto, por quê então
estão fazendo expressões como se o tivesse – soltem a musculatura do
rosto, pois estão consumindo energia desnecessária, além de demonstrar
para as equipes adversarias que estão se esforçando.” Achei esta
observação muito perspicaz por parte do treinador, e de fato os esforços
estavam sendo realizados com outros grupos musculares. Bem, assim,
atenção para as possíveis representações e percepções, isoladas podem
confundir o ergonomista. O importante, durante uma investigação ergonômica
é considerar as diversas possibilidades e identificar o que é prejudicial ou

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não.
É importante destacar que o mapa empático9 também é usado para
outros fins, como elaborar uma persona, ou seja alguém fictício que
representa um grupo real de pessoas, ou seja, são características de um
grupo a ser estudo traduzido numa representação, facilitando a elaboração
de estudos exploratórios. Outra situação em que se aplica o mapa empático é
no contexto de desenvolvimento de novos produtos e serviços. De toda
forma, a sugestão para se explorar o potencial de um mapa empático em
uma análise ergonômica relaciona-se ao permitir conhecer melhor os
envolvidos nas atividades profissionais.

Atividade Final
Atende aos Objetivos 1, 2 e 3: Os custos envolvidos em ambientes
complexos, tanto humano quanto da operação em si, podem se tornar
entraves para a realização das atividades e atingimento dos objetivos.
Considerar os sistemas complexos, mesmo aqueles que parecem simples
pode ser uma estratégia quando se elabora os modos operatórios de um
determinado setor, a partir disso, explique em detalhes os motivos da
afirmativa. Considere, ainda, explicar a abordagem que se deseja realizar
junto ao trabalhador para se conhecer as reais necessidades do mesmo.

Resposta Comentada:
O discente deverá ser capaz de explicar o sistemismo; identificar as
relações existentes entre as demandas profissionais, o homem, os artefatos e
o meio; comentar a abordagem investigativa tendo a empatia como método
para o estabelecimento das análises de uma determinada atividade ou
processo.
Considerando a hipótese de que a realidade é toda feita de sistemas,
ou seja: o universo como um todo é um imenso sistema e dentro deste
grande sistema existem outros sistemas, assim: os sistemas existem dentro
de outros sistemas (formando subsistemas) e assim de maneira praticamente
infinita. Ter o raciocínio sistêmico é muito importante, pois permite o
ergonomista considerar que o problema de um posto de trabalho poderá ter
sua origem em um setor que não esteja exatamente no local estudado.
Em geral busca-se identificar a origem do problema por meio do custo
que ele produziu no sistema, em especial sobre o humano, entretanto nem
sempre há relação direta entre o desempenho do operador e o custo desse
desempenho para ele. Essa relação dependerá da medida a qual a
elaboração do modo operatório pode (ou não) levar em conta modificações
do estado interno. Para isso, as melhorias sejam do próprio operador,
alterando sua maneira de agir diante do sistema já é um indicador de que

9Stanford. Disponível em: <https://dschool.stanford.edu/wp-content/themes/dschool/method-


cards/empathy-map.pdf>. Acesso em: 6 jan. 2017.

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algo não funciona bem ou que poderia ser melhorado para se atingir os
objetivos traçados.
Para se obter informações sobre o estado do sistema pode se
empregar diversas técnicas dentre elas a empatia. A empatia exige do
investigador uma abordagem intensa de se colocar no lugar do operador, ou
o mais próximo que a atividade o permitir. Se podemos dizer dessa maneira,
a empatia tem uma relação forte com aspectos do que se sente diante da
ação e do ambiente, entretanto o investigador deverá conseguir interpretar as
emoções daquelas que representam os aspectos ergonômicos funcionais e
normativos. Desta maneira, outras análises serão bem vindas,
complementando aquilo que se pode identificar como problema e assim
realizar diagnósticos mais precisos.

Resumo
Nesta aula, pode ser percebido que compreender o termo Teoria Geral dos
Sistemas, proposto pelo Biólogo belga Ludwig Von Bertanlanffy, no fim da
década de 40, definindo sistema como: “[...] um conjunto de unidades
reciprocamente relacionadas.” Desta definição ocorreram dois conceitos, i)
Objetivos - as unidades, bem como os relacionamentos, definem um arranjo
que visa sempre a um objetivo; ii) globalidade do sistema - o sistema sempre
reagirá globalmente a qualquer estímulo produzido em quaisquer das suas
unidades. Isto é,
 há uma relação de causa-efeito entre as diferentes partes
de um sistema. O sistema possui as seguintes características: é composto
por partes; todas as partes de um sistema devem se relacionar de forma
direta ou indireta; um sistema é limitado pelo ponto de vista do observador ou
um grupo de observadores; um sistema pode abrigar outro sistema e um
sistema é vinculado ao tempo e espaço. As Relações entre homem,
demandas profissionais, artefatos e os meios são ilustradas pelas atividade
profissionais que requerem, em algum nível, a interação com máquinas ou
artefatos, sejam elas a parte principal, secundária ou de menor importância
para a realização da atividade. Neste sentido, sempre existirão os custos
humanos, que dependerão da intensidade e do tempo de exposição. Alguns
custos humanos são dimensionáveis e outros não são perceptíveis. Segundo
Guérin et al (1991) o modo operatório adotado pelo operador é o resultado de
um compromisso que leva em conta: objetivos exigidos; meio de trabalho;
resultados produzidos ou informações disponíveis ao trabalhador sobre eles
e o seu estado interno. Os custos humanos podem ser psíquicos ou físicos e
dependerão de como o modos operatório foi organizado, quanto mais bem
planejado, mais chances o trabalhador tem para repensar os procedimentos
e minimizar os impactos que impactarão sua saúde. Por fim, foi visto o
procedimento de investigação apoiado na empatia, uma abordagem em que
o ergonomista coloca-se no lugar do investigado e busca compreender a sua
realidade, entretanto não deixa que sua análise seja perturbada por apenas
esta abordagem, complementando com outras ferramentas quantitativas e
analíticas, até que possa elaborar um diagnóstico.

Referências

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GUÉRIN, F. et al. Compreender o trabalho para transformá-lo: a prática da
ergonomia. São Paulo: Edgard Blücher. Fundação Vanzolini, 2001.

VIEIRA, J. de Albuquerque. O Universo Complexo. Rio de Janeiro, v. 7, p. 25-


40, 1993.

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