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UNIVERSIDADE BANDEIRANTE DE SÃO PAULO - Escola de Engenharia Civil

Notas de aula do curso Teoria das Estruturas – Prof. Dr. Ricardo de C. Alvim

Capítulo 2
Para os casos usuais da engenharia, figura 2.2, é possí-
Método de Cross vel mostrar que o valor do coeficiente de rigidez é
dado por:

2.1. Introdução 4EI


µ AB = µ BA = para viga biengastada (2.2)
L
O Método de Cross é um método que permite calcular
e
estruturas hiperestáticas. Com isso, é possível deter-
3EI
minar os momentos fletores em vigas contínuas e µ BA = viga apoiada-engastada (2.3)
pórticos. L

Este método foi desenvolvido em 1932 por Hardy


Cross, permitindo o cálculo de estruturas hiperestáti- MA MB
cas de forma manual. Com o surgimento dos comp u-
tadores, o método caiu em desuso, contudo ainda é
empregado em disciplinas de graduação por todo A B
mundo, devido a sua facilidade e didática. Desse mo- (a)
do, é possível resolver uma série de pequenos pro-
blemas da engenharia, sem grandes esforços computa-
cionais necessários muitas vezes em outros métodos. MB
A B
O método é iterativo, isto é, se repetem algumas roti-
nas até a convergência, que é obtida quando os resí- L
duos decorrentes do equilíbrio dos momentos nos nós (b)
da estrutura são muito pequenos, o suficiente para Figura 2.2 – Coeficientes de rigidez
serem desprezados.
Nas expressões (2) e (3), EI é o produto de rigidez de
2.2. Rigidez de uma ligação uma viga. Quanto maior EI, menores serão os efeitos
dos momentos fletores na viga, isto é, menores serão
A rigidez de uma ligação entre barras, isto é, a rigidez as suas deformações.
de uma barra em um nó qualquer da estrutura, é igual
ao valor do momento fletor que, aplicado neste nó, 2.3. Coeficiente de transmissão
suposto livre para girar, provoca uma rotação unitária
da barra no nó. Como conseqüência do momento 4EI / L na extremi-
dade da viga biengastada, surge um momento igual a
Com isso, a extremidade apoiada de uma viga simples metade de seu valor na outra extremidade da viga.
associa-se um “coeficiente de rigidez”, µ, que é a
rigidez à rotação que a viga apresenta aos momentos Dizemos, então, que o coeficiente de transmissão α AB
aplicados nos nós. Este coeficiente possui a mesma
na barra biengastada é:
dimensão de momento fletor aplicado, uma vez que a
rotação é unitária. A esta condição de vínculo chama-
MA 1
se mola rotacional, figura 2.1. α BA = = (2.4)
MB 2

M e para a barra engastada-apoiada é igual a:

MB
α BA = =0 (2.5)
ϕ MA

Figura 2.1 – Mola rotacional

Quanto maior a rigidez à rotação da mola, maior terá


que ser o momento fletor aplicado ao nó para produzir
um giro :

M = µ ⋅ϕ (2.1)
se ϕ = 1 , então M = µ é o coeficiente de rigidez da
ligação.

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2.4. Convenção de Grinter ϕ1 = ϕ 2 = ϕ 3 = ϕ (2.8)

Os momentos exercidos pelas barras sobre os nós Então:


serão considerados positivos no sentido horário. Isto
equivale a dizer que devem ser considerados positivos M = ϕ(µ1 + µ 2 + µ 3 ) (2.9)
os momentos anti-horários exercidos pelos nós sobre
as extremidades das barras. e

M
ϕ= (2.10)
+ - ∑ µi

Sabe-se pela expressão (2.6) e (2.10) que:


Figura 2.3 – Momento que a barra aplica no nó
M1 M 2 M3 M i M
ϕ= = = = =
2.5. Problema fundamental de Cross µ1 µ2 µ3 µi ∑ µi

Na figura 2.4 encontra-se ilustrado um nó “0” de pór- Sendo possível determinar em que parcelas o momen-
tico típico onde está aplicado um momento fletor M. to M irá se subdividir entre as barras concorrentes no
nó “0”, obtém-se:

µ1 µ
A M1 = M,⋅ ⋅ ⋅, 4 M (2.11)
µ
∑ i ∑µi
1 M
2 B
0 De uma maneira geral, pode-se dizer que uma barra
µi
genérica i irá receber uma fração do momento
3 ∑ µi
M1 M aplicado no nó, ou seja:
M2
C
M µi
(a) Mi = M (2.12)
∑µi
A M3
M Desta expressão, pode-se dizer que um mo mento apli-
ϕ1 ϕ2
B
cado num nó de uma estrutura totalmente indeslocável
0 irá se distribuir, entre as diversas barras concorrentes
neste nó, segundo parcelas proporcionais à rigidez,
ϕ3 neste nó, de cada uma destas barras.

Denomina-se coeficiente de distribuição de momentos


C para a barra i :
(b)
Figura 2.4 – Estrutura submetida à ação de uma carga mo- µi
mento M βi = (2.13)
∑µi
Cada barra resistirá a uma parcela do momento M, que
será proporcional a sua rigidez a rotação. Que representa a fração do momento atuante no nó
que irá para a barra i. Isto implica que a ∑ β i = 1 de
M1 = µ 1 ⋅ ϕ 1 modo a recompor o momento M.
M 2 = µ 2 ⋅ ϕ2 (2.6)
M 3 = µ3 ⋅ ϕ 3 Exemplo 2.1 ) Determinar a parcela do momento apli-
cado no nó “0” da estrutura na figura 2.5 o que será
distribuído para a barra 1.
Tem-se por equlíbrio do esquema da figura 4-(a) com
o da figura 4-(b):

M1 + M 2 + M3 = M (2.7)
Por compatibilidade de deslocamentos tem-se:

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M=35 kN.m 35 kN.m


EI 3EI B
A 1 0 2 -4,72 -
+ 0
2EI 3
L3 =4 m

C -9,1
L1 =2 m L2 =3 m C
Figura 2.5 – Estrutura submetida à ação de uma carga mo-
mento M Figura 2.6 – Diagrama de momento da barra 1

Os coeficientes de rigidez são calculados pela aplica- 2.6. Procedimentos para aplicação do
ção direta das expressões (2.2) e (2.3): Método de Cross
4EI 4EI Dada uma viga genérica hiperestática, figura 2.7.
µ1 = = = 2EI
L1 2
4EI 4(3EI )
µ2 = = = 4EI
L2 3
3EI 3(2EI ) 6EI 3EI
A B C D
µ3 = = = = t
forma deformada
L3 4 4 2 c
ϕ2 ≈ 0 c
ϕ2 ≠ 0
t
No caso das barras 2 e 3, deve-se levar em conta no
cálculo de µ que a rigidez da barra é 3EI e 2EI, res- Figura 2.7 – Viga contínua típica
pectivamente.
É possível dizer que:
Os coeficientes de distribuição são dados por:
a) nos apoios intermediários ocorre tração na fibra
µ 2EI superior e compressão na fibra inferior e, por isso,
β1 = 1 = = 0,27
∑µ 3 surgem momentos “negativos” nestes pontos;
2EI + 4EI + EI b) nos trechos intermediários dos vãos o oposto
2
ocorre e, portanto, surgem momentos “positivos”;
µ2 4EI
β2 = = = 0,53 c) na extremidade engastada da viga, apoio A, deve
∑µ 7,5EI surgir um momento fletor.
µ3 1,5EI d) na extremidade D (apoio 1º tipo) não aparece
β3 = = = 0, 2 momento.
∑µ 7,5EI
Então, o diagrama de momentos aproximado deve ter
Verifica-se pela soma dos seus valores que ∑ β i = 1 e a forma geral apresentada na figura 2.8.
isto deve ser empregado na aproximação dos valores
de cada coeficiente de distribuição. p P

A parcela do momento que irá para a barra 1 será: A B C D

MA MC
MB
M 1 = β 1 ⋅ M = 0,27 × 35 kN ⋅ m = − 9, 45 kN ⋅ m MD=0
- - -
+ + +
O sinal negativo decorre do fato do momento de re-
equilíbrio ser igual e contrário ao momento aplicado Figura 2.8 – Forma geral do diagrama de mo mentos de uma
ao nó. A parcela do momento que chega no apoio A é viga contínua
dada por:
Onde a carga é distribuída, os momentos têm diagra-
9, 45 ma parabólico. E onde a carga é concentrada, os mo-
α 0A = 0,5 ⇒ M A = − = −4,72 kN ⋅ m mentos têm diagrama linear.
2
As incógnitas do problema no Método de Cross cons-
tituem-se nos momentos fletores MA, M B e M C. A sua
determinação é feita de forma aproximada e iterativa.

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Inicialmente os apoios intermediários são travados e pL2


liberados um a um. A cada apoio liberado ocorre um M A = −M B =
12
desequilíbrio nos momentos daquele nó. Após o re-
equilíbrio (distribuição em função da rigidez das bar- 10 ⋅ 4 2
MA = = 13,3 kN ⋅ m
ras), os momentos são propagados para os apoios 12
vizinhos. MB = − 13,3 kN ⋅ m

Em cada iteração o valor dos momentos residuais vai Tramo 2) Trecho BC da viga, considerando o apoio B
diminuindo até se tornar desprezível, figura 2.9. engastado, figura 2.12.

B 50 kN
2EI EI EI 3m 2m C
β1 β2 β3 β4 MB
Figura 2.12 – Esquema de carregamento - tramo2
M1 M2 M3 M4 M5 0

(L + b) = 50 × 3× 2(25 + 2) =
diminuição α=0 Pab
dos resíduos
α=1/2
MB =
α=1/2 2L 2
2×5
∑ M M T1 M T 2 M T3 M T 4 M T5 300 (7)
= = 6 × 7 = 42 kN ⋅ m
50
β1 +β2 =1 se +
β3 + β 4 = 1 se − Etapa 3) Cálculo dos coeficientes de rigidez, distribu-
Figura 2.9 – Marcha de operação do Método de Cross ição e transmissão.

Exemplo 2.2) Viga contínua de 2 tr amos Coeficientes de Rigidez:

Aplicar o Método de Cross e determinar os diagramas 4EI 4EI


de estudo da viga da figura 2.10: µ BA = = = EI
L 4
10 kN/m
50 kN EI=cte 3EI 3EI
3m 2m µ BC = =
A 1 B 2 C L 5

4m 5m Coeficientes de Distribuição:
Figura 2.10 – Viga contínua com dois tramos
µ BA EI 1
β BA = = =
Etapa 1) Bloqueio dos nós internos. ∑µ 3EI 3
EI + 1+
5 5
• Impedimento à rotação de todos os nós internos
da estrutura, no caso do nó “B”.
3
• Não há necessidade de bloquear os nós de extre-
µ 5 3
midade com apoios articulados. β BC = BC = =
• ∑µ 3 8
Os balanços são substituídos por esforços que são 1+
aplicados ao nó extremo. 5

Etapa 2) Momentos de engastamento perfeito. ∑ β =1

São os momentos reativos nas extremidades (engas- Coeficientes de Transmissão:


tamentos) de cada tramo, mantidos os bloqueios.
α BA = 0, 5
Tramo 1) Trecho AB, considerando o apoio B engas-
tado, figura 2.11.
α BC = 0
10 kN/m
A B Etapa 4 ) Procedimento iterativo de Cross:
MA 4m MB
Figura 2.11 – Esquema de carregamento - tramo1 A) Esquema da estrutura
B) O nó B é bloqueado e após sua liberação, há um
Empregando a tabela A.2.1 desequilíbrio que precisa ser compensado. Por isso,
são introduzidos momentos com sinais contrários.
Para isso, são usados os coeficientes de distribuição.

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C) Propagação dos resíduos (momentos) para os nós


opostos. No cálculo das reações de apoio podem ser emprega-
D) Repetição do procedimento até que o momento das as expressões deduzidas no capítulo 1, e que se
propagado tenha valor desprezível. encontram resumidas na tabela A.1.1.
E) Faz-se a soma algébrica de cada coluna para obte-
rem-se os momentos finais. pL ∆M 10 × 4 M B − M A
VA = + = +
2 L 2 L
A aplicação dessas etapas pode ser vista na figura
pL ∆M 10 × 4 M B − M A
2.13. O processo se inicia pelo nó central B. Verifica- VB = − + =− +
se neste nó o desequilíbrio dos momentos, isto é, a 2 L 2 L
direita comparece um momento de 42 kNm, enquanto
à esquerda um momento de -13,3 kNm. Portanto, para 31, 2 − (− 4,35 )
V A = 20 − = 13,28 kN
encontrar o momento que re-equilibra o nó basta fazer 4
a subtração (42-13,3=28,7 kNm). Este valor será dis- V B = − 20 + 6, 71 = −26,71 kN
tribuído pelas barras AB e BC de acordo com os coe-
ficientes de distribuição em “B”. Em seguida, são
Tramo 2) Para o caso do segundo tramo a viga isostá-
propagados para os nós adjacentes em função dos
tica está apresentada na figura 2.15.
coeficientes de transmissão.
31,2 kN.m 50 kN
10 kN/m
50 kN
A 3m 2m
3m 2m B
A B C 5m
4m 5m Figura 2.15 – Esquema do tramo 2

5/8 3/8
As reações de apoio são dadas por:
A B C

pb ∆M 50 × 2 0 − (− 31,2)
13,3 α=0,5 -13,3 42 α=0 0
-8,95 -17,9 -10,8 0 VA = + = +
+4,35 -31,2 +31,2 L L 5 5
pa ∆M 50 × 3 0 − (− 31,2)
VB = − + =− +
42-13,3=28,7 L L 5 5
-28,7×3/8=-10,8
-28,7×5/8=17,9 VA = 20 + 6, 24 = 26,2
Figura 2.13 – Aplicação do Método de Cross
VB = −30 + 6, 2 = − 23,8
Etapa 5) Traçado dos diagramas:
De posse das reações de apoio para os tramos AB e
Os diagramas devem ser traçados considerando-se o BC, é possível traçar os diagramas de esforços cortan-
valor do momento fletor que é obtido pela aplicação tes e momentos fletores da viga contínua, figura 2.16.
do Método de Cross. O sinal positivo obtido para o
4,3 31,2
momento de +31,2 no nó “B” a direita está represen-
- -
tado por um giro horário. Este é o momento que a M
barra solicita o nó. Por sua vez, o momento que o nó + +
aplica na barra é igual com sentido contrário, por
equilíbrio.
13,3 + 26,2 +
Desse modo, de posse dos valores dos momentos V
- - 23,8
fletores é possível determinar as forças cortantes em 26,7
cada barra. Para isso, basta considerar as vigas isostá-
ticas AB e BC com momentos fletores aplicados nas Figura 2.16 – Diagramas de momentos fletores e forças
extremidades, de acordo com o exposto no capítulo 1. cortantes

Tramo 1) Para o caso do p rimeiro tramo a viga isostá-


tica está apresentada na figura 2.14.

4,35 kN.m 10 kN/m 31,2 kN.m


A B
4m
Figura 2.14 – Esquema do tramo 1

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Anexo A.2

Tabela A.2.1 - Momentos de Engastamento Perfeito – Convenção de Grinter


Casos de carrega- A B A B A B
mento
p
pL2 pL2 pL2
MA = MB − M A = −M B =
L 8 8 12
a c
p
b
MA =
pc
(2b + c ) ⋅ MB = −
pc 2
(2a + c) ⋅ MA =
p
12L2
[( ) (
⋅ 4L b′3 − b3 − 3 b′ 4 − b4 )]
8L2 8L2

a'
L
b (2L 2
− b′ 2 − b 2 ) (2L 2
− a ′b2 − a 2 ) MB =
p
12 L2
[( ) (
⋅ 4L a ′ 3 − a 3 − 3 a ′ 4 − a 4 )]
a P b
MA =
Pab
(L + b) MB =
Pab
(L + a ) MA =
Pab 2
2L2 2L2 L2
L
Pa 2 b
MB = −
L2
L/2 P L/2 3PL 3PL PL
MA = MB = − MA = −M B =
16 16 8
L

δ 3EI 3EI 6EI


MA = ⋅δ MA = − ⋅δ M A = MB = ⋅δ
L2 L2 L2

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