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O CÉREBRO NOSSO DE CADA DIA

Descobertas da Neurociência Sobre a Vida Cotidiana

Bem-vindo!
Aqui você encontra de tudo sobre o cérebro: curiosidades, definições, livros e ensaios
sobre as aplicações da neurociência à vida cotidiana.

O Cérebro Nosso de Cada Dia é elaborado por Suzana Herculano-Houzel,


neurocientista empenhada desde 1999 em trazer ao público não-especializado os
conhecimentos que a neurociência gera sobre o ser humano e examinar como eles se
aplicam ao nosso dia-a-dia.

O site foi reformulado em 2007 para atender à demanda dos usuários. Agora você
encontra, na barra de navegação à esquerda, blocos contendo informações diferentes:

- Últimas novidades, na forma de blog; um fórum de discussão e um livro de visitas


para receber seus comentários e sugestões;

- Cursos e palestras, com datas, horários, local e informações para inscrição;

- Neurociência do Cotidiano, com ensaios sobre descobertas recentes da neurociência


sobre a vida cotidiana;

- Livros publicados por Suzana Herculano-Houzel e onde encontrá-los;

- Recursos variados: perguntas freqüentes sobre o cérebro, dicas de livros, ilustrações


sobre o sistema nervoso, e glossário com termos específicos;

- Links úteis para outros sites; e

- informações sobre o Laboratório de Neuroanatomia Comparada e suas


publicações.

Alunos dos cursos de Psicologia e Medicina da UFRJ têm também acesso no site a
material de apoio para as aulas. O acesso requer login e senha, atualizada a cada
semestre.

Espero que você goste do novo Cérebro Nosso! Seus comentários e sugestões são
sempre bem-vindos, basta deixá-los no Livro de Sugestões do site.

Boa leitura,

Suzana

Copyright © 2007, Suzana Herculano-Houzel. All rights reserved.


QUEM SOMOS

O Cérebro Nosso de Cada Dia foi criado em 2000 por Suzana Herculano-Houzel,
neurocientista formada pela Case Western Reserve University (EUA), Universidade
Paris VI (França) e Instituto Max-Planck para a Pesquisa do Cérebro (Alemanha) e
bióloga graduada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Suzana Herculano-Houzel é professora do Departamento de Anatomia da


Universidade Federal do Rio de Janeiro desde 2002 e Pesquisadora do CNPq desde
2007. Ganhou do CNPq em 2004 a Menção Honrosa do Prêmio José Reis de
Divulgação Científica. É colunista da Folha de São Paulo e autora dos livros O Cérebro
Nosso de Cada Dia - Descobertas da Neurociência sobre a Vida Cotidiana (2002),
Sexo, Drogas, Rock'n'Roll & Chocolate - O Cérebro e os Prazeres da Vida Cotidiana
(2003), O Cérebro em Transformação (2005) e Por que o Bocejo é Contagioso? e
outras Curiosidades da Neurociência do Cotidiano (2007). Seu novo livro, Fique de
Bem com o seu Cérebro, será lançado pela editora Sextante em novembro de 2007.

Fernanda Zacharias é bióloga, monitora do projeto Ciência Móvel do Museu da Vida


(Fiocruz), começará em breve um mestrado em divulgação científica e passou a integrar
a equipe do Cérebro Nosso em outubro de 2007.

Daniela Ramos também é bióloga, formada pela UFRJ, monitora do projeto Ciência
Móvel do Museu da Vida (Fiocruz), também futura mestranda em divulgação científica,
e passou a integrar a equipe do Cérebro Nosso em outubro de 2007.

Este site é mantido com recursos da bolsa de produtividade em ciência do CNPq.

Copyright © 2007, Suzana Herculano-Houzel. All rights reserved.


CURIOSIDADES

O cérebro todo, os neurônios todos, a todo vapor

Numa pesquisa chamada "Você Conhece Seu Cérebro?", perguntei a 2000 cariocas,
entre outras coisas, se eles concordavam que "utilizamos normalmente apenas 10% do
nosso cérebro." A metade concordou. Fiz a mesma pergunta a 35 neurocientistas, e
somente 2 concordaram. O veredicto? Essa estória de usar 10% do cérebro é nada mais
do que um mito.

Vamos deixar claro logo do começo: não há qualquer razão científica para supor que
usemos 10% do nosso cérebro. Nem 10% dos seus neurônios. Nem 10% da sua
capacidade. Todas as evidências sugerem o contrário: usamos nosso cérebro INTEIRO.
Os 10% ficam por conta da imaginação de quem conseguiu convencer quase metade da
população do Rio a aceitar esse mito.

Por que tantas pessoas aceitam essa idéia dos 10% do cérebro? Talvez porque à primeira
vista, essa estória parece muito convidativa. Se usamos 10% do cérebro, então temos
90% de reserva, que se conseguirmos aprender a usar, poderíamos ficar até dez vezes
mais inteligentes, memorizar dez vezes mais fatos, fazer contas dez vezes mais rápido...
Tudo balela.

E o que é pior, com gravíssimas conseqüências. Quem acredita que 90% do seu cérebro
são dispensáveis não tem porquê evitar choques à cabeça usando capacete na
motocicleta ou cinto de segurança no carro. Quem não sabe que usa seu cérebro inteiro
a todos os momentos ainda não pôde realmente apreciar a maravilha que tem dentro da
cabeça, e fica susceptível ao assédio de livros e cursos que se auto-denominam
"científicos" e pretendem ensinar "como usar os outros 90%". Espalhar o mito de que
usamos 10% do cérebro ou da sua capacidade é um dos maiores desfavores que a mídia
já fez ao homem e à ciência.

Quais 10%?

Para entender por que a estória dos 10% é balela, primeiro é necessário esclarecer de
que 10% estamos falando. Se são 10% da massa cerebral, 90% do que temos dentro da
cabeça devem então ser dispensáveis. Se são 10% dos neurônios, os outros 90% devem
ser silenciosos, ou então redundantes, servindo só como "reservas". Ou se são 10% da
capacidade de desenvolvimento intelectual... será que alguém sabe o que seriam os
100%?

Em qualquer dos três casos, toda a evidência científica está do outro lado. Lesões do
cérebro, mesmo pequenas, têm conseqüências graves ao intelecto e ao comportamento.
Também é possível "escutar" as células nervosas em atividade, e em sua grande maioria,
e em quase todo o cérebro, é possível identificar algum aspecto do mundo ou do
comportamento animal relacionado. Quanto às potencialidades, não é simples tentar
estabelecer um limite de o quê o cérebro pode ou não conseguir fazer. Mesmo porque
várias vezes um limite parece ter sido atingido, só para então ser ultrapassado graças a
uma mudança de estratégia - exatamente como no caso de atletas de competição.

O cérebro todo...

É verdade que algumas lesões cerebrais podem não ter consequências... até que alguém
descubra a primeira. Quando os neurofisiologistas do século 19 tentavam descobrir se
cada região do cérebro tinha uma função definida, a prática comum era remover partes
do cérebro de animais de laboratório e observar se havia perturbações do
comportamento, do aprendizado, perda de capacidades sensoriais, ou motoras. Foi
assim que por exemplo o alemão Hermann Munk ( 1839-1912 ) pôde determinar que a
visão está localizada na região mais posterior do cérebro: cachorros que perdiam esta
região ficavam incapazes de reconhecer objetos pela visão. Mas pesquisadores como o
psicólogo americano Karl Lashley (1890-1958) acreditavam que a maior parte do
cérebro podia ser removida sem grandes conseqüências para capacidades como a
memória, já que ratos que tinham perdido grandes partes do cérebro ainda eram
capazes, por exemplo, de tarefas específicas como encontrar a saída de um labirinto.

Lashley usava suas observações para criticar aqueles que defendiam que certas áreas
definidas do cérebro desempenham funções específicas. Para Lashley, funções cerebrais
como a memória e o aprendizado eram desempenhadas por neurônios espalhados nas
mais diversas regiões do cérebro. Na interpretação de seus experimentos, Lashley
esqueceu de considerar que os animais operados poderiam usar por exemplo os sentidos
restantes para compensar um sentido lesado e ainda conseguir deixar o labirinto. De
fato, hoje sabemos que cada um dos sentidos, os movimentos e certos aspectos da
memória têm, sim, localização precisa no cérebro, e a lesão ou remoção dessas regiões
cerebrais em humanos provoca deficiências graves. E como demonstra a neurologia,
lesões afetando muito menos do que 1% do volume do cérebro podem ter conseqüências
devastadoras, provocando parálise, perda da fala, ou vários outros distúrbios
neurológicos graves.

É verdade no entanto que ainda não se conhece a função de cada pedacinho do cérebro.
Pode ser que existam de fato algumas áreas "de reserva", quem sabe? Mas tudo leva a
crer que identificar a função das áreas que faltam será somente uma questão de tempo. E
de encontrar a pergunta certa. Afinal, quando um neurocientista tenta determinar a
função de uma área, ele não começa do nada. Não é possível "perguntar" a um pedaço
do cérebro para quê ele serve; além das opções serem infinitas, não existe um aparelho
que se coloque sobre uma região do cérebro e indique o que ela faz. O que é possível há
uns vinte anos é observar o consumo de energia no cérebro de um voluntário e perguntar
quais regiões trabalham mais quando ele realiza uma determinada tarefa. Depois, é só
prosseguir relacionando cada região a uma tarefa específica. Se uma região não se
tornou mais ativa em nenhum teste, é provavelmente porque ainda não testaram a tarefa
certa... Na verdade, o problema que os neurocientistas encontram é o oposto: por mais
simples que seja a tarefa, nunca é apenas uma pequena porção do cérebro que se ativa;
várias áreas de função ainda indeterminada são ativadas também.

Testando-se uma série de tarefas simples é possível se comprovar que existem regiões
do cérebro que somente identificam cores, ou objetos, ou movimento. Isso quer dizer
que quando vemos um filme, o tratamento da imagem sozinho já mobiliza funções
espalhadas em várias partes do cérebro. Além disso, dificilmente uma única tarefa é
executada por vez. Pular corda, por exemplo, não é simplesmente "pular corda". Para
isso, uma menininha precisa conseguir acompanhar com os olhos o movimento da
corda, pular no momento certo, na altura certa, com o pé certo, e sem parar de cantar a
musiquinha, colocando em ação no seu cérebro áreas visuais, áreas motoras, áreas
auditivas... só aí já temos mais de 10% da massa cerebral em funcionamento num dado
momento. E nem sequer falamos das regiões que cuidam da memória da musiquinha ou
do sentimento de euforia com a brincadeira!

... os neurônios todos...

A unidade funcional do cérebro é o neurônio, uma célula especializada em receber e


transmitir sinais. Como todas as células do corpo, também os neurônios são pequenas
baterias, com uma carga de mais ou menos 0.07 volts (isso mesmo, apenas vinte vezes
menos do que uma pilha comum!). Em todas as células, essa carga se mantém constante
às custas de energia, e não varia ao longo da sua vida. A não ser nas duas exceções
conhecidas: as células musculares e os neurônios, ambos capazes de se descarregarem
ou sobrecarregarem e logo em seguida voltar à carga normal. Nas células musculares, o
descarregamento desencadeia o encurtamento da célula, levanto à contração muscular.
Nos neurônios, o descarregamento provoca a liberação sobre outros neurônios de
substâncias chamadas neurotransmissores que por sua vez provocam o descarregamento
desses, e assim por diante. Como ele é comunicado de uma célula à outra, esse
descarregamento pode ser considerado um sinal que é transmitido pra lá e pra cá no
cérebro.

Foi um fisiologista inglês, Lord Edgar Adrian (1889-1977), quem descobriu, em 1928,
que os neurônios dos sentidos respondem a estímulos como um toque na pele com uma
sequência de descarregamentos e recarregamentos. Quanto mais intenso o estímulo,
mais vezes o neurônio se descarrega; mas a cada vez, o descarregamento é sempre igual.
Isso quer dizer que os neurônios indicam a presença e intensidade do estímulo se
descarregando mais ou menos vezes, e não simplesmente um pouco mais ou um pouco
menos.

Assim, neurônios que estão "fazendo alguma coisa" estão transmitindo sinais - ou seja,
se descarregando e recarregando. Para saber então se um neurônio participa por
exemplo do tato, pode-se determinar se ele é ativado por um toque em alguma parte do
corpo, quer dizer, se ele se descarrega mais vezes com o toque. Uma das maneiras de
fazer isso é colocar um eletrodo ao lado do neurônio e escutá-lo descarregar.
Literalmente. Esse é o procedimento mais usado em laboratórios de neurofisiologia
onde se estuda a relação entre a atividade neuronal e por exemplo a percepção, o
movimento, ou a memória. O eletrodo funciona como um fio cuja minúscula ponta
desencapada fica dentro do cérebro. Quando os neurônios descarregam, parte da
corrente liberada passa para a ponta do eletrodo, que é ligado a um amplificador, que
por sua vez transforma a corrente elétrica em som. Um eletrodo no cérebro funciona
portanto como um microfone que torna audível a atividade dos neurônios. Ligando-se o
amplificador ouve-se o som do cérebro: um chiado semelhante ao som que faz a agulha
da vitrola no fim do disco. É exatamente como se puséssemos um microfone sobre uma
multidão. Chegando no entanto o microfone mais perto de uma só pessoa, ou neurônio,
ouve-se somente a sua voz.
O som dos descarregamentos de um neurônio estimulado no nosso exemplo por um
toque à pele é uma série de pipocadas na caixa de som. E o som desse mesmo neurônio
sem ser estimulado é.. uma série de pipocadas na caixa de som! Bem menos pipocadas,
é verdade; mas ainda assim, pipocadas. É difícil encontrar no cérebro um neurônio que
passe mais de dez segundos sem descarregar. Um neurônio estimulado pode pipocar até
umas 100 vezes por segundo, mas sem o estímulo, é possível ouvir até mesmo 20
pipocados por segundo! Isso quer dizer que mesmo não estimulado, sem "fazer o que
ele faz", um neurônio está sempre fazendo alguma coisa. É o que os neurocientistas
denominam "atividade espontânea".

Usando esse método de ouvir a atividade dos neurônios, é fácil verificar que em todas
as partes do cérebro há neurônios ativos. Em qualquer experimento de eletrofisiologia
cerebral, o pesquisador começa descendo o eletrodo aos poucos no cérebro, até chegar
na região que deseja estudar. Isso pode ser feito sob anestesia geral, ou em um animal
ou em um paciente acordado, porque o próprio cérebro não é sensível - não sente toque,
dor, nada. Ao longo do caminho, o eletrodo vai encontrando uma sequência de
neurônios ativos, pipocando. Quando se afasta de um neurônio e começa a perder seu
som, se aproxima de outro, cujo pipocar logo se faz ouvir. Em qualquer lugar do cérebro
onde haja neurônios, não há buracos na trilha de um eletrodo: todos os neurônios estão
continuamente se descarregando e recarregando, fazendo alguma coisa. Mesmo que
ainda não se entenda o quê.

... e a todo vapor

Acreditar que nós usamos apenas 10% das capacidades do cérebro é considerar que o
sistema trabalha longe do seu máximo. No entanto, basta examinar os limites do cérebro
para ver que o sistema já roda a todo vapor, fazendo tudo o que pode fazer.

Há quatro limitações principais ao funcionamento do cérebro: a velocidade de


transmissão dos sinais; o número de impulsos (descarregamentos) que podem ser
emitidos por segundo; o número de neurônios disponíveis; e o número de conexões que
cada neurônio consegue manter.

A velocidade de transmissão determina o tempo que um sinal leva para chegar de um


neurônio a outro. Esse sinal, como vimos, é um descarregamento, um pulso de
eletricidade que é conduzido ao longo do braço maior do neurônio, o axônio. Um
axônio não trafega sozinho no sistema nervoso, mas junto com outros milhares em
feixes chamados nervos, ou tratos quando dentro da medula espinhal ou do cérebro. A
velocidade de transmissão nos nervos e tratos é altíssima. Pelo nervo ciático, por
exemplo, um sinal do dedão do pé pode ser transmitido até a medula espinhal a uma
velocidade de 100 metros por segundo, o que quer dizer que ele viaja mais ou menos
um metro de perna em 0.01 segundo. Se não parece muito rápido, pense que isso
corresponde a 360 km/h - mais rápido que um carro de Fórmula 1! Ao longo de um
dado axônio, um sinal nunca é transmitido uma hora mais rápido, outra mais devagar: a
velocidade de transmissão é sempre a mesma, no limite da capacidade daquele axônio.

Um outro limite ao funcionamento do cérebro é o número de impulsos, ou


descarregamentos, que um neurônio pode transmitir por segundo. Esse número depende
do tempo necessário para recarregar o neurônio, que varia de uns 0.001 a 0.003
segundos. Isso quer dizer que o número de descarregamentos de um neurônio pode em
princípio chegar a 1000 por segundo! Na prática, os neurônios trabalham em uma faixa
de 10 a 50 ou 100, variando por exemplo de acordo com a presença de um estímulo,
com a intensidade deste, e com outros fatores como o estado de alerta do animal.
Descarregar mais vezes ou por muito tempo sem descanso faz com que o neurônio
esgote sua reserva de neurotransmissor, ficando incapaz de transmitir sinais por alguns
minutos, até se reabastecer. Além disso, atividade além dessa faixa é perigoso: se o
neurotransmissor é necessário para atravessar o sinal para o próximo neurônio, em
quantidades muito grandes ele é tóxico, podendo causar a morte dos neurônios nos
arredores. Sem falar que quando a atividade fica descontrolada, pode iniciar um ataque
epiléptico. Se o número de disparos por segundo de fato fica em aproximadamente 10%
do limite máximo teórico, como se vê, na prática a capacidade é outra - e para não
colocar o sistema em risco, é perto dessa capacidade que os neurônios normalmente
trabalham.

Outra limitação importante é o número de neurônios disponíveis no sistema nervoso.


Embora só no cérebro sejam em torno de cem bilhões, esse número não aumenta
significativamente na vida de um animal adulto [1] . Isso quer dizer que o cérebro
adulto já dispõe de todos os neurônios com os quais poderia contar, e como vimos
acima, deve usá-los todos.

O último fator limitante na lista é o número de conexões que um neurônio pode


estabelecer com outros. Esse número não pode aumentar indefinidamente porque todas
essas conexões devem ser alimentadas pelo neurônio. Mas visto o número de conexões
que um neurônio típico faz, esse limite não deve ser um problema: são mais de dez mil
neurônios diferentes contatados..

100% não são o limite

Se usamos toda a capacidade do cérebro, como é possível então desenvolver nossas


habilidades? A resposta está na propriedade mais maravilhosa e característica
propriedade do sistema nervoso: a capacidade de fazer novas combinações entre seus
elementos. Embora a transmissão não possa ser mais rápida, sua eficiência pode
aumentar (até um certo limite, mais uma vez!), ou diminuir. Quando aumenta, a
conexão entre dois neurônios fica "fortalecida"; quando diminui, a conexão fica
"enfraquecida". Além do mais, cada conexão não é fixa; uma conexão enfraquecida
demais pode ser eliminada, e sempre dentro do que um neurônio pode suportar, uma
nova pode ser feita em outro lugar, com outro neurônio. Fortalecer essas novas
conexões, estabilizando-as, é uma maneira de criar novas associações. Os
neurocientistas hoje estão convencidos de que é esta a base do aprendizado. Como
sempre se pode tirar uma conexão daqui e criar outra ali, será sempre possível fazer
mais uma combinação, mais uma associação entre neurônios, e aprender mais alguma
coisa. Talvez nem sempre fique tudo na lembrança; talvez seja mesmo necessário
esquecer algumas coisas para poder lembrar de outras. Não importa. Aprender, a mais
nobre função do cérebro, não funciona a 10%, nem a 100%, nem a 1% da sua
capacidade. Não há limite. Simplesmente funciona. (SHH)

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Qual é a potência do cérebro?

O cérebro humano, coitado, vive sendo comparado a um computador. Se você ainda não
se convenceu de que o quilo e meio de matéria em sua cabeça é muito mais capaz e
interessante do que a máquina à sua frente, pense no seguinte: você acorda, escolhe o
que vestir, come, trabalha, resolve os problemas do mundo, imagina outros tantos, curte
quem você gosta e ainda descobre várias curiosidades sobre o funcionamento do
cérebro trabalhando a uma potência de apenas... 22 Watts, bem menos do que a lâmpada
que ilumina sua sala.

O consumo de energia pode ser calculado para qualquer tipo de energia, elétrica ou
química, como as calorias dos alimentos que o cérebro consome. Das mais ou menos
duas mil quilocalorias que precisamos ingerir diariamente para manter o corpo
funcionando, 450 kCal são consumidos pelo cérebro sozinho (já dá para ver que dietas
de menos de 500 kCal por dia são perigosas).

Calorias e quilocalorias, ou mil calorias, são medidas de energia. O consumo de energia


do cérebro por segundo se chama "potência", que pode ser medida nos Watts que
medem a potência de lâmpadas e fornos de microondas. Olhe só:

450 kCal por dia = 450.000 calorias/24 h =

= 450.000 calorias/ 24 h * 60 minutos * 60 segundos =

= 450.000 calorias / 86.400 segundos = 5,21 calorias/segundo

Acontece que 0,24 calorias/segundo correspondem a 1 Watt de potência.

1 Watt ----- 0,24 cal/s

x Watt ----- 5,21 cal/s -> x = 5,21/0,24 = 22 Watts

Ou seja: o cérebro tem 22 Watts de potência. Tanto quanto uma lâmpada incandescente
fraquinha, que só ilumina e esquenta!

Para calcular o consumo de energia no final do mês como a Light faz, é só multiplicar a
potência do aparelho pelo número de horas utilizadas. Como o cérebro funciona 24
horas por dia sem interrupção, a conta é simples:

22 Watts * 24 horas * 30 dias = 15.840 Watts.hora, ou 16 kWh (quilowatts.hora).

Para quem quer uma conta mais rápida, é só considerar que 1 kWh equivale a 860 kCal.
Como em trinta dias o cérebro consome 13.500 kCal, esse total dividido por 860 dá os
quase 16 kWh da conta anterior.
Ao preço de R$ 0,50 por kWh, manter seu cérebro funcionando com eletricidade
adquirida do governo custaria módicos R$ 8,00 ao mês.

Agora me diga: qual computador consegue funcionar sem interrupção por oito reais ao
mês - e ainda ter caprichos, desejos e paixões? Hmmm? (SHH)
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Quanto sangue tem no cérebro?

Acordado ou dormindo, pensando ou sonhando, fazendo contas ou pulando amarelinha,


nosso cérebro recebe sempre o mesmo fluxo de sangue: são cerca de 750 ml, ou uma
garrafa de vinho cheia, passando por minuto.

Você se espanta com a quantidade? Pois cada gotinha é necessária. Primeiro, porque o
cérebro, sozinho, consome 20% do oxigênio que usamos, e esse oxigênio chega através
do sangue. É só fazer as contas para ver que bate direitinho: como são quase 5 litros de
sangue no corpo todo, 750 ml são quase 20% do total. E segundo, trata-se de uma
questão de "elegância" cerebral: ao contrário do resto do corpo, o cérebro não guarda
energia em gordurinhas localizadas (embora as células da glia guardem depósitos de
glicogênio, como faz o fígado, que pode ser disponibilizado para os neurônios). Na
prática, no entanto, ainda se acredita que toda a glicose, ou açúcar, que o cérebro
consome, precisa chegar "on-line", quer dizer, no momento em que é necessária. E
como é necessária o tempo todo...

Ou você se espanta da quantidade não mudar com o exercício físico, e nem mesmo com
o esforço mental? Isso tudo parece muito esquisito, porque afinal se o cérebro trabalha
"mais" para fazer uma conta, deve precisar de mais energia, portanto de mais glicose,
portanto de mais sangue para trazer a glicose... e como é então que não muda? A
resposta é que as regiões que se tornam mais ativas a cada instante recebem mais
sangue, às custas das outras, que passam a receber menos sangue, de modo que fica
tudo equilibrado.

Ainda bem. Afinal, imagina a dor-de-cabeça se o cérebro inchasse com mais sangue a
cada conta difícil! (SHH)

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