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Numa perspectiva de fé, essa decisão, perpassa por uma experiência de Deus. Ela
insere-se num contexto de chamado divino e de uma escuta atenta para dar uma resposta
concreta. Nesse sentido, falar de vocação no universo das Sagradas Escrituras é
enveredar pelas sendas da vida de homens e mulheres que, a seu modo e no seu tempo,
sentiram esse apelo de Deus e deram uma reposta concreta a esse chamado.
Nesse sentido, o presente estudo visa apontar como a bíblia registrou o chamado que
Deus fez a homens e mulheres no universo das Sagradas Escrituras. Não se têm a
pretensão de fazer uma leitura histórico-crítico – questionando a existência ou não
desses personagens– mas uma análise narrativa de cada um deles. Olharemos, portanto,
para as grandes figuras bíblicas, situaremos elas universo das Sagradas Escrituras e
pontuaremos os aspectos que fizeram dessas personagens pessoas que ouviram o
chamado de Deus e deram-lhe uma resposta concreta.
Ele é chamado, juntamente com sua mulher Sarai, a uma missão especifica. Neles e a
partir deles todos os povos são Benditos (Gn 12,3). Na certeza da benção e proteção
divina, eles partem rumo a terra prometida por Deus (Gn 12,4ss). Depois de passar pelo
Egito e desentender-se com seu Sobrinho Lot (Gn 13,7ss). Abraão instala-se em
Carvalho de Mambré(Gn 13,18).
Até então percebemos que, de um lado, Abraão atende a palavra de Deus. De outro, fica
a indagação sobre a certeza desse chamado haja vista, que Abraão ainda não tem filhos
tampouco uma descendência numerosa(Gn 15,2ss). Assim surge a questão: como ele
seria chamado pai de uma multidão?( Gn 12,2;15,5-6). Nos capítulos subseqüentes
Abrão tem um filho com Agar (Gn 16, 4ss). Em seguida, após a visita e promessa dos
anjos (Gn 18), Sarai fica Grávida e dá a luz a Isaac(Gn 19,1ss) que continuará a
parentela de Abraão, junto com Rebeca(Gn 24,66).
Em seguida sendo Moisés já um homem formado (os Atos dos apóstolos dizem que ele
tinha quarenta anos, At 7,23) sai pelas ruas de sua cidade e vê um egípcio mutilando um
dos seus irmãos(Ex 2,11). Nesse contexto julgo que Moisés tem um primeiro despertar
para sua vocação. Ele deixa-se interpelar pela realidade e age. Age, contudo, sozinho,
ainda não se trata de um chamado de Deus. Ele apenas se condói com o sofrimento que
afligia seus irmãos e toma uma atitude extrema, mata o Egípcio (Ex 2,12). No dia
seguinte, o crime é jogado diante dele ( Ex 2,14). Moisés teme por sua vida e foge para
Madiã (Ex 2, 15.). Todavia, o texto deixa transparecer que Moisés tem consciência de
que os seus irmãos sofrem e que ele precisa tomar alguma atitude para salvar o seu povo
– povo de Deus.Contudo, não pode agir sozinho. Esse fato porque, como dissemos
acima, uma das características do chamado vocacional é ter uma intima comunhão com
Deus e ser enviado por Ele para servir ao povo.
Uma nota salutar neste ponto é que todas as vezes que Deus lhe envia o que une o povo
é o fato de terem a mesma fé no mesmo Deus: “O Deus de Abraão, Isaac e Jacó(Ex
3,15b.16b).Aquela mesma fé desencadeada em Abraão.
Moisés, por fim, aceita a missão de Deus e liberta o Povo de Israel(Ex 12,37-41),passa
pelo Mar vermelho a pé enxuto(Ex 14,15ss) levando-os até as portas da Terra prometida
– Moab, onde morre (Dt 34,5ss).Isso tudo aconteceu não sem passar por muitos
percalços no serviço que prestava a Deus(Ex 16, 1-3; 17, 2; 32,1-6;).
Samuel é chamado por Deus a uma missão específica. Sua missão, inicialmente, é
anunciar a Eli que sua casa de será destruída (1Sm 3,11-14), tal como o homem de Deus
havia falado ao sacerdote(1Sm 2,27-36) por causa da iniqüidade dos seus filhos. Esse
vaticínio de Samuel faz dele um grande profeta que está profundamente ligado à palavra
do Senhor que , doravante, nutrirá todo o seu trabalho (1Sm 2,19-20). De igual modo,
ele tornou-se um grande juíz aos olhos do povo de Israel e de Deus(1Sm 7,15-17 ).
Samuel, a bem da verdade, foi o último grande juiz de Israel, segundo a leitura narrativa
da Bíblia.Sua missão, no entanto, transcendeu a esfera da profecia e da judiciatura. Ele
foi responsável por dá a Israel um rei, a pedido do próprio povo(1Sm 8,6-8). Ele
unge,assim, Saul(1Sm 10,1-2 ) e mais tarde,pela intransigência deste(1Sm 15,10), unge
um novo Rei, Davi(1Sm 16,13).
Em síntese chamado de Samuel é delineado muito cedo.Desde pequeno sua mãe o
consagrou a Deus. Em sua vivência no templo e no seu contato com a palavra do
Senhor, ele aprende a discernir o chamado de Deus. Uma vez consciente de sua missão,
profetiza e julga com equidade todo o Israel. Todavia, o senhor faz com que ele
ultrapasse essa esfera de seu chamado e dê ao povo um Rei, Saul e, depois, Davi.
O novo rei tem uma missão particular e especifica. Ele é chamado pelo sinal que lhe foi
dado com a unção, a defender o povo de Deus das mãos dos inimigos que estão a
espreitá-los(1Sm 10,1c). Saul atende prontamente esse chamado de Javé, combateu,
entre outros, conta os amonitas e os filisteus. Saul, contudo, inicia um processo no qual
passa a desagradar a Deus(1Sm 15,11.23) o que, mais tarde, gerará seu declínio no
Reinado sobre os Israelitas e a eleição de um novo Rei, Davi(1Sm 16,12-13)
Com certeza a narração do chamado de Samuel e Saul, nos capítulo iniciais do Primeiro
livro de Samuel, são apenas um aporte para chegar-se ao Chamado de Davi. Este fato
confirma-se porque a partir do capitulo 16 do primeiro livro até o final do Segundo de
Samuel narra-se apenas as peripécias de Davi.São, pois, quarenta capítulos.
A vocação de Davi, especificamente, é narrada em 1Sm 16, 1-23. Um pouco antes Deus
havia se contristado com Saul e decretado que, por ele ter rejeitado sua palavra, Deus
também o rejeitara(1Sm 15, 23). Nesse momento, Deus suscita no entristecido coração
de Samuel o propósito de eleger um novo Rei(1Sm 16,1). Ele dirigiu-se a Belém a casa
de Isai(1Sm 16, 4-5). Nesse lugar passa em revista a todos os filhos de Isai até chegar a
Davi - loiro, de belo Aspecto e formoso de rosto 1Sm 16,12b. A este ele ungiu com o
óleo – futuro rei - e o Espírito do Senhor passou acompanhá-lo (1Sm 16,13)
Desse ponto em diante Davi começa a fazer proezas. Vence o Gigante Golias(1Sm
17,49 -51), adentra a corte(1Sm 18, 1-4) e ganha prestígio entre o povo(1Sm 18, 7).
Face ao crescente esplendor de Davi,Saul teme por seu Reinado e busca matá-lo(1Sm
19 ,10-11). Davi, evidentemente, foge. Com a morte de Saul(1Sm 31,3-4) Davi apressa-
se para assumir o Reino de Israel, o que lhe é negado. Vindo a ser rei em Israel Isboet
(2Sm 1,8-11)[12]. Após enorme guerra Davi é finalmente constituído Rei sobre todo o
Israel(2Sm 5, 4-5)
De acordo com as Sagradas Escrituras é precisamente ao reinado sobre todo Israel que
Davi é chamado. Justamente de sua descendência que surgirá o Messias. Davi todavia,
como todo ser humano e plausível de falhas. Ele desejou a mulher de um de seus
oficias, Bertsabéia(2Sm 11, 4-5).Ela concebeu e ele deu cabo da vida de seu marido,
Urias(2Sm, 11, 14-17). Este pecado de Saul é posto diante dele pelo profeta Natã. Davi
chora as amarguras de seu erro, assume Bertsabéia como sua esposa com quem tem
Salomão, que será um memorável rei em Israel- embora não se encontre nenhuma prova
arqueológica de seus grandes feitos. Depois disso, Davi, morre(1Rs 2, 10-11).
Em síntese, Davi tem como traços do seu chamado ter sido escolhido por Deus para
realizar a missão de Reinar sobre Israel. Sua fragilidade, contudo, faz-lhe incorrer no
erro, pecar contra Deus. Uma vez perdoado por Deus, ele tenta redimir-se do seu erro e
assume a mulher de Urias. Davi é, pois, o protótipo de vocação que se constrói sobre a
graça e sobre a fragilidade. Sobre a força e a fraqueza. Sobre o amor e a dor.
Poucos relatos bíblicos são tão prenhes de detalhes e minúcias como o texto da vocação
de Jeremias (Jr 1,4-19).A própria figura de Jeremias é bastante rica. Diferentemente das
outras vocações analisadas, há um livro inteiro que se detêm em refletir sobre a vida e a
missão do profeta. Desde a sua reluta em assumir o ministério de profeta até os seus
vaticínios sobre a destruição de Jerusalém, tudo está registrado no livro que leva o nome
dele.
Jeremias, segundo narra a própria Bíblia, está inserido no Reinado de Josias(Jr 1,3).
Historicamente costuma-se afirmar que esse reino deu-se , aproximadamente, no século
VI a. C. Nesse contexto, Judá está as voltas com o Império Babilônio. Embora sendo
um reino quase que insignificante e tendo sua importância mais por está num corredor
de passagem comercial [13], os Israelitas irão opor-se aos Babilônicos – confiando nos
Assírios - conseqüentemente serão destruídos(Jr 52,12-23). Nesse ambiente é que
ocorre o chamado de Jeremias.
No capitulo primeiro de livro que leva o nome do profeta ele diz: “ A palavra do Senhor
foi-me dirigida nestes termos...”(vv.4). Importante notar que o chamado de Jeremias,
assim, como o e Samuel é fruto da Palavra do Senhor. Em seguida o profeta fala que
Deus o havia chamado deste da terna infância, desde o ventre materno o tinha escolhido
e consagrado (vv 5). Nesta passagem não há um relato histórico-biográfico, antes há um
descrição de uma experiência de Deus. Para Jeremias ter experimentado Deus é um
realidade ontológica , faz parte do seu ser, da sua constituição. Desde sempre e para
sempre Deus lhe chamou para a missão de profeta. Assim, a vocação de Jeremias é algo
visceral que ele descobre mais tarde revisitando a sua própria história e narrando-a.
Jeremias, tal qual grande parte dos profetas do AT, tende naturalmente a apresentar
obstáculos para assumir seu chamado, sua vocação. O argumento que ele usa para não
aceitar o chamado é de que é uma criança(Jr 1,6-7), que é indefeso, que não saberá o
que falar. Deus, contudo, dirime essa fraqueza. Ele assegura a Jeremias que não há
motivo ,nem é momento para temer, pois Deus está ao seu lado(Jr 1, 8).
Mitigada essa aporia, Jeremias é capacitado para seu trabalho. Ele recebe do próprio
Deus, sua palavra (Jr.1,9) e tem como missão “Arrancar e destruir; exterminar e
demolir; construir e plantar”(Jr 1,10 ). Em termos políticos Jeremias tem a missão de
alertar o povo de Israel que sua frágil aliança com os Assírios não lhe garantirá sucesso
e que eles serão dominados pelos Babilônios com a queda dos Assírios. Em termos
religiosos, a destruição de Israel ocorrerá porque eles estavam adorando falsos deuses(Jr
1, 15-16; 2,26-28).
Jeremias é alertado para o desafio do anúncio que têm que fazer em nome de Deus. Ele
tem, diz a sagrada escritura, que dirigir-se ao povo de Judá anunciado que esse reino –
do Sul - está eminentemente ameaçado pelo norte de onde está vindo os babilônicos(Jr
1, 11-16). Essa é a missão clara que Deus lhe confia. Todavia, o Senhor não apenas
garante que estará com o profeta,antes o capacita. Deus cinge o seu rim(Jr 1,17a),
portanto o prepara, o coloca na atitude de seguir, de caminhar. De igual modo, Deus é
que lhe fará profetizar(Jr. 1, 17b). Ele não falará por si mesmo, mas pela força da
palavra Divina[14]. Sua missão de “Arrancar e destruir; exterminar e demolir; construir
e plantar”(Jr 1,10 ) é missão de Deus. Ele é quem vai julgar o infiel reino de Judá(Jr
1,16). Por isso serve-se da mediação de Jeremias, faz dele uma cidade forte, uma
muralha de bronze diante dos grandes da terra(cf. Jr. 1,18). Em poucas palavras, a
vocação de Jeremias consiste em ser um interprete “profético” da Palavra de Deus.
Embora com Jeremias não se encerre todo o cenário vocacional no Antigo Testamento e
que muitos homens e mulheres, nos outros diversos livros da Bíblia, tenham sido
chamados por sua comunhão com Deus para servir ao povo escolhido, estes que foram
apresentados até agora são suficiente para que se vislumbre uma panorâmica a cerca de
como se configura o chamado nos escritos do primeiro Testamento. Sendo assim, pode-
se adentrar no universo Neotestamentário com o escopo de dar visibilidade ao que é
entendido como chamados nesses textos.
3 - VOCAÇÃO NO NOVO TESTAMENTO
Após o longo percurso executado para apresentar alguns relatos de vocação no AT,
segue-se imediatamente necessário adentrarmos na esfera do Novo Testamento, da nova
aliança inaugurada sob a égide do Filho de Deus,Jesus Cristo. De fato, Como diz a
Constituição dogmática Dei Verbum, é no Novo Testamento( subtenda-se Jesus) que se
dá definitivamente a compreensão das Sagradas Escrituras(DV, 17). De Igual modo, os
chamados são agora plenamente compreendidos pelo Evento Jesus. Se, no AT era do
relacionamento indireto do homem com Deus que se desprendia o chamado vocacional,
agora, no NT é o próprio Deus, encarnado, que chama cada homem e mulher.
Dentre os inúmeros chamados do NT, principiamos por um que nos escritos de Lucas é
vital, isto é, João Batista. J. Mckenze, afirma que o NT apresenta João Batista, como o
último grande Profeta do AT e precursor da época messiânica[16].
Os relatos que podem ser entendidos como de cunho vocacional sobre são João foram
resguardados, sobretudo, pela Escola de Lucas no seu primeiro escrito, isto é, no
Evangelho(Lc 1,5-22. 57-80; 3,1-19). Talvez não sejam relatos puramente vocacionais,
pois não há a dimensão de chamado, de convite – exceto em um(3,1-19).Antes, há
menções ao seu nascimento e a suas origens. Contudo, ao menos em germe, podemos
entrever o chamado do Senhor ao futuro grande profeta (1,1-2).
Diz o texto que João Batista é filho de descendentes de uma tribo Sacerdotal, eram da
tribo de Aarão(Lc 1,6). Assim, ele genealogicamente era sacerdote. Seu pai Zacarias era
um piedoso Sacerdote(Lc 1,5) e junto com Isabel formavam um casal de idosos(Lc 1,
7.18b) justo aos olhos de Deus(Lc 1,6).
Reza o Evangelho que Zacarias estava oferecendo o sacrifício ao Senhor quando um
anjo lhe apareceu e lhe anunciou que ele seria Pai(Lc 1, 8-11). Naturalmente o Temor e
o Tremor apoderam-se de Zacarias. Esse fato porque todas as condições humanas eram
adversas a tal anúncio.Ele, por isso, Duvidou e ficou mudo. Curioso é que as
circunstâncias sob a qual João Batista nasce e, conseqüentemente, é chamado para servir
a Deus( Esterilidade, velhice) são marcas da era messiânica(cf Is 35;55;61).Assim, é
possível afirmar que verdadeiramente “o Batista” é chamado a Inaugurar um novo
Tempo cunhado pela nova aliança no Sangue do Cordeiro, do Filho de Deus, Jesus
Cristo.
Jovem, virgem, mãe, discípula e mulher, estes dentre outros adjetivos poderiam ser
facilmente agregados à figura de Maria para buscar descrever a grandeza de seu papel
na História da Salvação. Grandeza essa galgada, sobretudo,por te sido mãe do Filho de
Deus. Não obstante essa profusão de predicativos atribuídos a Virgem de Nazaré,
gostaríamos de apresentá-la sobre a perspectiva vocacional.
Esse anjo saúda Maria com uma saudação que soa estranha aos ouvidos da virgem de
Nazaré. Ele diz a ela que alegre-se pois é cheia de Graça(Lc 1,28).Fabris e
Maggioni[19], refletindo sobre essa afirmação dizem que é um convite a uma alegria
messiânica, não apenas uma simples saudação. Nesta frase, está contido o principio da
vocação, do projeto que Maria iria realizar. Em seguida (Lc 1, 30- 33), desponta o
chamado propriamente dito. Maria é agraciada diante do Senhor. Ela é chamada a ser
mãe do Salvador esperado pelo povo de Israel e preanunciado pelos profetas Antigos(Is
7,14; 9,6). Naturalmente, Maria, como todos os outros vocacionados objeta a esse
chamado que lhe soa humanamente impossível (Lc 1,34). A essa interpelação o anjo
afirma que será por meio da graça do Altíssimo que ela conceberá (Lc 1,35). Com essa
resposta, fica delimitado que Maria é chamada a ser mãe do Filho de Deus , lugar santo
consagrado para o Senhor - De igual modo é claro que a origem de Jesus é divina. Face
a essa condições, A virgem de Nazaré não reluta mais e entrega-se ao senhor(Lc 1,38)
contribuindo para a Salvação do Povo de Deus.
Em poucas palavras Maria é chamada pelo próprio Deus a ser mãe do Seu filho. De
igual modo ela é o viés sob o qual será instaurado uma nova época para o povo de
Israel. Ela é a porta da qual brotou a nova seiva do Povo de Israel, Jesus de Nazaré.
Desde os primeiros momentos de sua vida pública, Jesus, sempre contou com a ajuda de
homens e mulheres( Mc 1, 16-20; 2,13-14; 3,13-19; MT 4, 18-22; 9,9; 10,2-5). Algumas
Figuras emblemáticas e controversas que, mais tarde, terão a incrível missão de
anunciar, com sinais, a presença do Senhor, a chegada do tempo messiânico.(Mc 6, 7-
12; Mt 10,7-8.). Cada um a seu modo e no seu tempo foi agregando-se ao grupo de
Jesus. Diversas formas Jesus usou até constituir seu corpo de discípulos. Alguns viram
ele passar e o seguiram, como é o caso de André(Jo 1,40). Outros, como Pedro , Mateus
Tiago, João, Filipe, Natanael(Mc 1,16-20; Lc 5,1-11 Jo 1,40ss ) foram chamados de seu
trabalho e convidados a deixar tudo para seguir Jesus.
Um pouco mais simbólico e digno de uma reflexão mais ampla é instituição dos doze.
Ela aparece nos Evangelhos sinóticos (MT 10, 1-4; Mc3,13-19; Lc 6,12-16). Nos três
relatos aprecem a mesma imagem, isto é, que sob condições limites do povo, Deus quer
ser presença perene entre eles através de homens e mulheres que ele escolheu para si.
Na esfera desta pesquisa nos serviremos do texto mais antigo dos Evangelhos: Marcos
(não sem fazer, quando necessário, um paralelo com os outros relatos)
O Texto de Mc sobre a instituição dos doze não pode ser compreendido sem o relato
que lhe precede(Mc 3, 7-12). Nesse texto diz que uma “grande multidão” acompanhava
Jesus(Mc 3, 7b.8b.). Essa multidão não é um conglomerado de pessoas comuns, são
homens e mulheres que haviam sido curados ou estavam em busca de um cura(Mc 3,9-
11). Trata-se de pessoas vindo de quase todo o Israel em busca de Jesus.
Diante dessa realidade (através de um conectivo que indica continuidade, mesmo que
construída ) sofrida, carente, injustiçada, doente, espoliada, é que Marcos situa o
chamado dos doze discípulos(Mc 3, 13). Jesus no alto do monte, que significa lugar
reservado para Deus, ( Para Lucas, no texto paralelo, Jesus estava rezando antes desse
chamado / Lc 6,12ss ) chama para si os que ele queria, e eles vão até ele(Mc 3,13).
Concomitantemente, eles são constituídos em autoridade para Pregar e expulsarem
demônios(Mc 3,14-15). Em outras palavras eles são investido da capacidade de tornar
presente em toda parte o Senhor. Essa afirmação ratifica-se no fato de que Jesus não os
chama para um lugar reservado, mas os chama para si(Mc 3,13).Chama cada um para
está junto dele e com isso fazer o Cristo presente entre o povo. Simbólico, de igual
modo, é o número dos discípulos que ele convoca: 12. Evoca, diretamente, a idéia das
doze tribos. Assim, Jesus, com o chamado dos doze discípulos, quer fazer deles o Novo
povo de Deus, Bento XVI em sua singular obra, Jesus de Nazaré, diz que se trata de
nós, a nova família que Jesus congregou por meio de sua pregação[20].
Em seguida, o evangelista pontua o nome dos discípulos (Mc 3, 16-19)São, pois, doze
pessoas de distintas origens e personalidade diversas, escolhidas numa realidade que
precisa corporificar a presença do Senhor. O Cardeal Martini, diz que nesse texto,
Marcos “representa-nos plasticamente o conceito de mediação eclesial: Por meio
daquelas doze pessoas o povo recorre e é conduzido a Jesus”[21]. Eles são, portanto, os
escolhido de Jesus para fazer brotar, nas situações extremas da vida humana(doença,
demônio), figura do Deus presente.
Em poucas palavras, Jesus sempre quis, em seu ministério servir-se de pessoas que
pudessem contribuir em seu Trabalho. Por isso, elegeu os doze discípulos. O chamado
deles surge claramente de um contexto de oração, mas de uma realidade extrema,
sofrida e desgraçada da Humanidade. Numa situação como essa , a vocação do
discípulo consiste em ser presença de Deus. Sob a tutela dessa idéia, dessa experiência
que surgem figuras como Pedro.
A imagem bíblica esculpida acerca de Pedro revela, numa só pessoa, força e fraqueza;
coragem e medo; fé e dúvida; generosidade e mediocridade. Ele, indubitavelmente, é a
figura de toda humanidade. Homens e mulheres que guardam dentro de si uma realidade
dicotômica e, por vezes, conflitiva. Por isso, faz-se mister vislumbrar a figura de Pedro
sobre o prisma vocacional.
Alguns dados sobre Pedro podem ser mencionados. Sabe-se que ele é ou, ao menos,
trabalhava numa cidade às margens do lago de Genesaré, Betsaida (Mt 4,18, Jo 1,44).
Sua profissão é Pescador (Mc 1,16-17); É irmão de André e discípulo de João ( Jo 1,
40.42; 21,15-17)Ele, talvez, foi casado, pois Jesus curou sua Sogra(Mt 8,14-14; Mc
1,29-31; Lc 4,38-39) bem como o texto de Primeira Corintos (1Cor 9,5) denota que
alguns discípulos – inclusive Cefas – tem uma “esposa Cristã”. Para Paulo, Pedro era
uma das colunas da Igreja(Gl 2,9). O local de sua morte, contudo embora não tenha
registros bíblicos, a tradição alocou na cidade Eterna, Roma.
Para ter uma reflexão um pouco mais sistematizada sobre a vocação de Pedro, elegemos
um dos textos evangélicos para esse fim, isto é, o de Lucas (Lc 5,1-1) , pois ele parece
rico em detalhes e dirige grande parte do seu foco ao “Pescador de Genesaré”.
No capítulo anterior Jesus inicia seu ministério público. Ele é rejeitado em Nazaré(Lc
4,28-30) e ovacionado em Cafarnaum a ponto do povo não querer deixá-lo partir(Lc 4,
42)., todavia Jesus sabe da necessidade de sua missão e continua sua peregrinação e
chega às Margens do Lago Genesaré ( Lc 5,1). Com essas atitudes firma-se,
paulatinamente, a missão de Jesus: Ele é o filho de Deus, inaugurador do seu Reino e
um pregador itinerante. No lago de genesaré, mais uma vez cercado pela multidão, Jesus
Cristo sob na barca de Pedro e desse ponto começa a ensinar.
Na seqüencia Jesus deixa de dirigir-se à multidão e volta-se para Pedro(Lc 5,4).O futuro
discípulo esta fatigado pela noite de trabalho.Talvez, querendo refazer as forças para
outro dia de serviço. Jesus,contudo, manda: “faz-te ao Largo”(Duc in altum), adentrar o
Mar e lançar as redes(Lc 5,4b). Pedro, naturalmente, argúi a Cristo pois era
humanamente improvável, haja vista que era dia e a noite anterior havia sido difícil para
Pesca. Neste ponto, Justamente que identificamos o chamado de Pedro:Ele é chamado a
obediência na fé[22], Cristo lhe chama a confiar nas suas palavras. Precisamente
confiando nas palavras de Jesus(Lc 5,5b) ele lança a rede e faz uma pesca milagrosa.
Depois, disso reconhece o Senhor(Lc 5,8)e busca afastar-se dele. Jesus que não veio
para segregar ou extirpar os pecadores, mas para convertê-los ao seu Reino exorta-o a
não temer(Lc 5,10). E lhe confirma no chamado que lhe fizera. Pedro é chamado a,
confiando na palavra de Cristo, fazer-se pescador de Vida, de homens(Lc 5,11).
Poucos personagens bíblicos, no imaginário popular, foram tão injustiçados como Maria
Madalena. Não são raros os que se apressam em associá-la à imagem de uma prostituta.
Outros, contudo, tendem a fazer dela ora uma feroz opositora de Pedro, ora e consorte
de Jesus Cristo. Todavia, para além dessa celeuma construída em torno da figura dessa
mulher de Mágdala, pode-se dizer que ela foi uma judia que, fiel as esperança do seu
povo encontrou em Jesus o Messias prometido e esperado pelo Israel eterno. Desse
ponto, tornou-se discípula do Cristo.
Seu segmento radical e fiel a Cristo fez com que ela estivesse junto dele em momentos
cruciais. Esteve presente na cruz(Mt 27,56; Mc 15,40; Jo 19, 25); No momento do
sepultamento(Mt 27,61; Mc 15,40; Jo 19, 25); foi testemunha ocular do sepulcro de
Cristo vazio(Mt 28,1-10; Mc 16, 1-8; Lc 24, 10). De igual modo sua fidelidade e
perseverança no discipulado ao filho de Deus fez com que ela visse o Cristo
ressuscitado( Jo 20,1-18.).
Numa cidade prospera da Cilicia chamada Tarso, no seio de uma família judia que
gozava, entre outros benefícios, de cidadania Romana – cosmopolita, para época - havia
um jovem chamado Shaul(Saulo, Shaulo). Esse nome era importante porque evocava o
Primeiro Rei bíblico de Israel, da tribo de Benjamin(1Sm 9, 15-16; 10,1). Essa
identidade contudo , como afirma Dodd, era apenas um nome caseiro, para os seu
concidadãos ele era Paulo.[23] Justamente sobre esse jovem que queremos refletir. Ele
foi um fiel judeu(Fl 3, 3-6) que perseguiu vorazmente os seguidores do Caminho(At 9.
1-2), todavia sua conversão mudou completamente seu jeito de ser e viver a ponto de
seguir e anunciar a Jesus sem temer risco algum para sua vida, por que para ele “viver
era Cristo, morrer era lucro”(cf.Fl 1,21).
Antes, contudo, de adentrarmos no chamado que Cristo faz a Paulo devemos conhecer
um pouco mais de sua vida. Duas fontes podem se utilizadas para realizar essa
empresa.Por um lado os Atos dos Apóstolos e, de outro, as Cartas que são comumente
aceitas como paulinas. Seguiremos aqui, assim como O’conor[24], o viés das Cartas
para traçar brevemente um perfil biográfico de Paulo, não sem o devido cotejo com os
Atos dos Apóstolos.
Paulo, como já dissemos, é comumente tido como natural de Tarso. - há quem diga que
ele é Galileu[25]. De próprio punho, ele não diz nada acerca do seu lugar de origem,
somente nos Atos dos Apóstolos encontramos um discurso que Lucas põe na boca de
Paulo, afirmando sua origem(At 21,39; 22,3).A preocupação fundamental do Apóstolo é
afirmar que: Era Judeu, descendente da tribo de Benjamin; Educado na Escola de
Gamaliel; arraigado profundamente nas tradições de seu povo e um veemente
perseguidor dos seguidores de Jesus( Rm 11,1; 1Cor 15,9; 2Cor 11,22; Gl 1,13-14 Fl
3,5-6; Tm 1,13-14).
Justamente por causa desses “qualificativos” que podemos falar de uma vocação de
Paulo. Paulo, como ele mesmo afirma, progredia no Judaísmo mais que qualquer outro
judeu (cf.Gl 1,13-14). Por esse motivo, por seu zelo e por suas convicções farisaicas ele
desencadeou, com a permissão do Sumo Sacerdote, uma voraz caçada aos Judeus-
Cristãos (1Cor 15,9; Gl 1,13.23;Fl 3,61; Tm 1,13-14) que estariam ludibriando os
Judeus com a pseudo-informação de que Jesus havia ressuscitado. Aos seus olhos isso
parecia uma heresia que precisava ser combatida com rigor.[26]
Tal como nos informam os Atos dos Apóstolos (At 9,1-3), Paulo conseguiu uma
autorização dos Sumos Sacerdotes para perseguir as pessoas do “Caminho”.Ele dirige-
se a Damasco. O’Connor, propõe que diferentemente do que costumou-se afirmar,
Paulo estava próximo a Damasco, não para perseguir Judeus-cristãos, mas estava indo
visitar sua cidade natal, Tarso[27] De qualquer modo, é nas proximidades de Tarso que
Paulo tem uma experiência que muda sua vida, nela que julgamos acontecer a sua
vocação.
Em vários trechos de suas cartas Paulo faz alusão a essa experiência, todavia não a
descreve com minúcias. Ele expõe que viu o Senhor(1Cor 9,1. 15, 8;); foi alcançado por
Deus(Fl 3,12) e separado desde o ventre Materno( Gl 1, 15 -17). Contudo na Primeira
cartas aos Corintos Paulo, diz que “viu” o Senhor.Trata-se de um verbo da ressurreição,
tal qual Maria de Magdala( Jo 20,14.). Paulo coloca-se, portanto, em pé de Igualdade
com todos os outros que viveram e conviveram com Jesus. Ele de modo especial foi
digno de Ver o Senhor ressuscitado.(1Cor 15,3-7). A vocação do Apóstolo dos Gentios
é fruto do chamado de Cristo ressuscitado.
Se Paulo é profundamente lacônico quando fala de sua vocação, temos o relato dos Atos
que é um pouco mais lírico para descrever esse chamado(At.9, 3-9). Nesse texto Paulo
está a caminho de Damasco, em pleno dia. Nesse ambiente desponta uma luz que lhe
envolve e faz cair por Terra. Desse ponto ele ouve uma voz. Tal como ela se identifica
,é a voz do Senhor(At 9, 5b). Na seqüencia ele é enviado a Damasco para ser batizado
por um certo Ananias e, depois de algum tempo, iniciar uma fabulosa caminhada
Anunciando Jesus Ressuscitado.
Sobre Paulo, por fim, podemos dizer que ele é um judeu convicto. Que ele, uma vez
ouviu o chamado do Senhor ressuscitado, deixou tudo e guiou-se por essa experiência
mística. Fez tudo para com todos visando ganhar todos para Cristo.
Uma caminho, que julgo colossal, foi percorrido para chegar até este ponto.
Enveredando pelas sendas do Antigo e do Novo Testamento pudemos perceber como o
povo da Bíblia registrou a experiência de homens e mulheres no serviço a Deus.
B - Peculiar em cada chamado é que eles não são designados para uma missão própria.
Eles não são chamados a legislar em causa própria. Antes são convocados a colocarem-
se a serviço de Deus e executar a missão que lhe é confiada.
C - O fato de ser chamado por uma voz, uma pessoa, uma luz, um anjo são metáforas
que os relatores dos Textos Sagrados encontraram para dizer que, ao longo da história e
ainda hoje, Deus suscita homens e mulheres com disposição para testemunharem no
mundo o seu amor.
Por fim, fica o perene apelo para que cada homem e mulher, inspirado pela Sagrada
Escritura, busque ouvir o seu apelo e corporifique nas realidades difíceis da vida, nas
situações limites, a presença do Senhor,
REFERÊNCIAS
Bíblia Sagrada. São Paulo: Paulinas.1988(Tradução da vulgata pelo Pe. Matos Soares)
CARREZ, Maurice a Vida de Paulo. In: CARREZ, M. (et. al)As cartas de Paulo,
Tiago, Pedro e Judas São Paulo: Paulus.1987.
CELSO, Pedro. Entrevista sobre o Ano Paulino. REVISTA ANAIS Jun/2008. n. 06.
São Paulo.p.16-18
CENTRO BIBLICO VERBO. Deus viu que tudo era muito bom: Entendendo o livro
do Genesis 1-11.São Paulo: Paulus. 2007.
DODD, Charles Harold. A mensagem de Paulo Para o homem de Hoje. 2.ed. São
Paulo: Paulinas.1981.
O’CONNOR, Jerome Murphy. Paulo: Biografia Critica. São Paulo: Loyola. 2000.
____ Paulo: história de um Apostolo. São Paulo: Loyola. 2007
[5] EEvito aqui as naturais questões sobre a passagem ou não pelo Mar vermelho.Tal
como já afirmei o cunho deste estudo é narrativo, embora reconheçamos toda discussão
histórico-critica sobre este assunto.
[9]Após o nascimento de Davi Ana entoa um belo canto de louvor a Deus pelas
maravilhas que Deus fez por ela (1Sm 2, 1-10). Muitos Biblistas fazem um paralelo
entre o canto de Ana e o Canto de Maria: KODEL, Jerome. Evangelho de Lucas:
BERGANT, Diane e KARRIS, Robert J.(ORG) Comentário Bíblico.v.III. São Paulo:
Loyola.1999.p.77
[10] RENTAMALES, Santiago Silva. Op. Cit. .18-19
[11] Evito
aqui as naturais questões sobre a existência ou não do Reino de Israel,
Reinado de Saul ou Davi.Tal como já afirmei o cunho deste estudo, embora
reconheçamos toda discussão histórico-critica sobre este assunto, é narrativo.
[13]Cf.:CENTRO BIBLICO VERBO. Deus viu que tudo era muito bom: Entendendo
o livro do Genesis 1-11.São Paulo: Paulus. 2007p. 13
[22] cf:
KODEL, Jerome. Evangelho de Lucas: BERGANT, Diane e KARRIS, Robert
J.(ORG) Comentário Bíblico.v.III. São Paulo: Loyola.1999.p.73.
[25] Cf.
O’CONNOR, Jerome Murphy. Paulo: história de um Apostolo. São Paulo:
Loyola. 2007 p.24
[27] Cf.
O’CONNOR, Jerome Murphy. Paulo: história de um Apostolo. São Paulo:
Loyola. 2007 p.41